Discursos João Paulo II 1982 - Terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010

É sobre a base destas considerações que a Igreja reivindicou para os trabalhadores o direito de se constituírem em associações independentes e autogeridas; foi o que fez na Rerum novarum (cf. rm. Rm 21,22), passando pela Quadragesimo anno (cf. n. 11), até chegar à minha recente carta encíclica Laborem exercens (cf. n. 20). O ensinamento da Igreja não pode ser diferente, porque se trata de um direito inerente ao trabalho humano. A sua doutrina social deve ser em toda a parte igualmente consistente e aceitável: o que ela propõe sobre o trabalho humano, sobre os direitos do homem e em particular do homem ao trabalho, assume a mesma importância e o mesmo valor para todas as situações e para todos os países.

4. Mostra isto toda a significação que revestem os actos pelos quais os sindicatos livres exprimem a própria solidariedade com os trabalhadores polacos, assim como o gesto que realizastes vindo aqui, na vossa qualidade de representantes de sindicatos livres, para exprimir o vosso apoio ao sindicato "Solidarnosc". Convosco, e com muitos outros, eu mesmo vivo a situação actual na Polónia, como acontecimento profundamente triste. Convosco estou convencido de que a restituição do respeito efectivo e total dos direitos dos homens do trabalho, e particularmente do seu direito a um sindicato já criado e legalizado, constitui o caminho único para sair desta situação difícil. Sem este respeito dos direitos do homem, a normalização da vida em sociedade, o desenvolvimento da vida económica e a salvaguarda da cultura em todas as suas expressões ficam impossíveis. Sim, verdadeiramente, o trabalho deve ser reconhecido como a chave da vida em sociedade, o trabalho livremente tomado e não imposto pela força, o trabalho com a sua fadiga, mas também com a sua capacidade de tornar o .homem livre e de fazer dele o verdadeiro construtor da sociedade.

Eis aqui, Senhoras e Senhores, o que a vossa visita hoje me inspirou dizer-vos. Uma vez mais vos apresento agradecimentos e peço ao Senhor abençoe com abundância os vossos esforços, as vossas organizações, as vossas pessoas e as vossas famílias.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CAPELA DO AEROPORTO DE FIUMICINO


ANTES DE INICIAR A SUA VIAGEM


APOSTÓLICA À ÁFRICA


Aeroporto de Fiumicino, Roma

Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1982



Antes de iniciar esta viagem pastoral, que me levará à terra africana, quis deter-me alguns instantes em oração na nova Capela que a Direcção dos Aeroportos de Roma, sob indicação do Ministério dos Transportes e da Aviação Civil, acaba de preparar.

Notei com prazer a digna apresentação do local, destinado a ser lugar de culto e de oração ou ao menos, para quem não tem o dom da fé, lugar de reflexão e de recolhimento, como em tantos outros aeroportos, ponto de encontro da humanidade em caminho.

A realização da Capela, dentro deste como de todos os outros grandes aeroportos, consente o desenvolvimento de uma pastoral que se faz sempre mais actual e ampla, em resposta às exigências e expectativas de quantos frequentam o aeroporto, seja os que partem para as viagens — pilotos, tripulantes e passageiros — seja os que desempenham serviço logístico dos seus encargos. Na Capela a comunidade aeroportuária poderá recolher-se para escutar a palavra de Deus em particulares momentos litúrgicos e reforçar-se na fé, empenhando-se por testemunhá-la nas acções diárias, a ponto de se tornar fermento de valores humanos e cristãos.

A acção pastoral tem a sua figura fundamental no Capelão, cujo primeiro dever é o de formar uma Comunidade integrada na pastoral ida Igreja local, unindo-se, mediante esta, à Igreja universal. Universalidade, característica da Igreja, que a aviação, pelos contactos fáceis e rápidos, parece tornar mais sensível e imediata.

Esta vitalidade religiosa requer constante disponibilidade do Capelão, que é parte viva do aeroporto, inserido na planificação de emergência. Na tensão do ambiente aeroportuário, conseguirá ele oferecer serenidade e sentido de segurança graças a uma dedicação, enriquecida com a sensibilidade humana e especialmente com a credibilidade e o valor da sua mensagem espiritual.

A Nossa Senhora do Loreto, a quem a vossa piedade quis dedicar esta Capela, recomendo a actividade pastoral, que se realiza neste aeroporto. Agradeço à Direcção do aeroporto a diligente e concreta atenção aos valores do espírito; e desejo além disso exprimir o meu apreço e a minha gratidão a quantos, Bispos e Responsáveis de outros aeroportos, sentiram a exigência de se construir aqui uma Capela.

A vós, aqui presentes, às vossas famílias, a todos os Capelães dos aeroportos, a todos os que me acompanham nesta viagem com os bons votos e a oração, e, particularmente aos encarregados do seu êxito feliz, concedo com afectuoso reconhecimento a minha Bênção Apostólica.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE CHEGADA NA NIGÉRIA


Aeroporto de Lagos

Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1982



Senhor Presidente
Eminência Cardeal Ekandem
meus Irmãos no Episcopado
dignos Chefes do Governo
estimados Dignitários e todo o Povo da Nigéria

Tenho a felicidade de pisar a vossa amada terra. Há muito tempo desejava fazer-vos esta visita e agora este desejo do meu coração está a ser satisfeito. Este é para mim um momento de grande alegria; perante mim revela-se uma visão de esperança.

1. Vim para reunir os fiéis de diferentes crenças religiosas — indivíduos e comunidades — e espero sinceramente que a minha presença entre vós exprima o amor e o respeito que tenho por todos, assim como a minha estima pelos apreciáveis valores religiosos que alimentais no espírito. Desejo manifestar solidariedade fraternal com todas as pessoas desta nação, que, mediante a sua Constituição, resolveram viver firme e solenemente, sob a protecção de Deus, na unidade e harmonia, e trabalhar para o bem-estar de todos. É meu desejo prestar homenagem ao contributo da Nigéria em favor da justiça, da paz e do desenvolvimento na África e para além dela, e apoiar todos os esforços para a construção de uma sociedade cada vez mais fraternal e humana.

2. Aos Católicos digo: venho para junto de vós em nome de Jesus Cristo, em visita que por natureza é pastoral. Venho para me encontrar convosco, para vos ouvir, para celebrar a Sagrada Eucaristia convosco e para vós. Venho para proclamar Jesus Cristo no meio de vós e para vos confirmar na fé e no amor para com Deus e para com todos os vossos irmãos e irmãs. Venho para encorajar os meus irmãos no Episcopado e os sacerdotes no trabalho de evangelização e no seu serviço generoso para com a humanidade.

3. Dirijo as minhas palavras de fraternidade a todos os sectores da comunidade nacional. O meu pensamento e afecto vão de maneira particular para os doentes, os anciãos e os deficientes, e para todos aqueles que experimentam o peso do sofrimento e das aflições. Espero poder unir-me a vós, para vos confortar. Aguardo com prazer antecipado a oportunidade de encorajar e estimular a juventude, e honrar todos os cidadãos da Nigéria.

Estou-vos profundamente grato por me terdes convidado a ser vosso hóspede, e peço a Deus que vos recompense por esta calorosa recepção. Deus nos conceda, a todos, dias de alegre encontro, celebração e oração.

Deus Todo-Poderoso e Misericordioso conceda à Nigéria todas as bênçãos de verdadeira prosperidade e paz. Deus abençoe a Nigéria!



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE O ENCONTRO COM O PRESIDENTE


DA REPÚBLICA DA NIGÉRIA


Lagos, Nigéria

Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1982



Senhor Presidente

1. Estou profundamente agradecido pelas amáveis palavras que me dirigiu e por meio das quais me apresenta, em nome de todos os cidadãos da Nigéria, calorosas boas-vindas ao vosso país. Permitir-me-á que expresse os sentimentos, que enchem o meu coração neste momento, com uma citação do vosso poema "Wakar Nigeriya": "E agradeçamos a Deus ter-nos colocado entre o povo da Nigéria"! Estas palavras, que tantos dos vossos compatriotas recitaram, podem agora adequadamente descrever o firme laço entre a nação inteira e a minha própria pessoa. Como vós, desejo agradecer a Deus Todo-Poderoso permitir-me estar na Nigéria hoje e proporcionar-me esta suspirada visita ao povo desta grande nação.

Agradeço-lhe também, Senhor Presidente, o amável convite que me dirigiu. Pois, dirigindo-o, falou segundo o que a Nigéria já manifestou com as entusiásticas boas-vindas que estou a receber do povo. Quereria pedir-lhe, hoje mais que antes, para me considerarem como um dos vossos compatriotas, porque na verdade eu venho a este país como amigo e irmão, ter com todos os seus habitantes.

2. Nesta minha segunda visita à África, desejo sublinhar o carácter essencialmente religioso da minha viagem, que principia muito a propósito na Nigéria. Os meus irmãos Bispos — que também me enviaram um cordial convite — venho eu confirmá-los nos seus esforços pastorais; e venho compartilhar com os meus irmãos católicos momentos de oração e de celebração comum. Venho professar, com os outros cristãos e com os meus irmãos e irmãs de outras crenças, a nossa fé comum na bondade e na misericórdia de Deus Todo-Poderoso. A minha mensagem é de paz e amor, de fraternidade e de fé. De fé em Deus, certamente, mas também de fé na humanidade, de confiança nas maravilhosas possibilidades de cada homem, mulher e criança.

Assim, o meu encontro aqui convosco, Senhor Presidente e Membros do Governo, é mais do que a observância de uma simples cerimónia de cortesia que torna possível agradecer aos donos de casa, como eles merecem, a sua generosa hospitalidade e a sua boa vontade, mostradas perante as exigentes necessidades da organização desta visita por todos os que têm autoridade. Atribuo também grande importância à oportunidade, que me é oferecida, de trocar pontos de vista com os que detêm o poder civil, nas nossas comuns preocupações com a humanidade. Nos seus respectivos campos, a comunidade politica e a Igreja são autónomas e independentes, mas o seu comum interesse pelo homem une-as e convida-as à colaboração para o bem-estar de todos.

3. Parece-me pois oportuno expressar-lhe, Senhor Presidente, aos membros do Governo, e mesmo a todo o povo desta grande nação, o meu profundo apreço por aquilo que o povo nigeriano tem realizado, não sempre sem sofrimento e sacrifício, desde a sua independência há mais de duas décadas. Sinto profunda alegria vendo como a Nigéria, juntamente com numerosas outras nações africanas, atingiu a plena soberania nacional e se encontra capaz de tomar o seu futuro nas mãos, em conformidade com a riqueza do seu génio, dentro do respeito pela sua cultura e em concordância com o seu próprio sentimento de Deus e dos valores espirituais. É convicção minha que toda a África, uma vez admitida a tomar o cargo dos seus próprios assuntos, sem estar sujeita à interferência e a pressão vindas de quaisquer poderes ou grupos de fora, não só encherá de admiração o resto do mundo com as suas realizações, mas será capaz de repartir a sua sabedoria, o seu sentido da vida e a sua reverência para com Deus comunicando tudo isto a outros continentes e outras nações, estabelecendo essa troca e essa associação, dentro do mútuo respeito que é necessário para o verdadeiro progresso de toda a humanidade.

4. Desejo portanto prestar homenagem à contribuição significativa que a nação nigeriana prestou e está prestando, em primeiro lugar, ao continente africano. Defendeis forçosamente a liberdade política e o direito de todos os povos à autodeterminação. Não poupais esforços para ajudar a remover toda a discriminação contra pessoas por causa da cor, raça, língua ou estado social. Oferecestes ajuda a países em maior necessidade e promoveis fraternalmente relações e colaboração económica entre nações africanas. Conta-se com a Nigéria para ir à frente em promover uma política magnânima de receber e auxiliar refugiados e ajudá-los a obter dignamente a repatriação ou a realizar programas que lhes melhorem a sorte. E tendes dado a outros países um exemplo do modo de conseguir a reconciliação, depois de irmãos terem sofrido sérias incompreensões. Consolidando a unidade dentro da vossa própria nação, estais reforçando a unidade da África; por sua vez esta actividade constitui a pedra angular da obrigação da Nigéria para com a África e o mundo. Trabalhando colectivamente em organizar uma colaboração de toda a África, estais não só a contribuir para que a voz da África seja ouvida cada vez mais na comunidade das nações, mas estais efectivamente a promover a solidariedade internacional entre todos os povos do mundo.

5. A Nigéria tem sido abençoada pelo Criador com rico potencial humano e com riqueza natural. Estes dons, recebidos com humilde reconhecimento, são também constante desafio, porque os bens deste mundo são dados pelo Criador para beneficio de todos. As autoridades públicas estão comprometidas pela solene nomeação a encaminhar estas riquezas para os melhores interesses do povo, quer dizer, para a melhoria de todos e para o futuro de todos. Há também necessidade de proteger a terra, o mar, a água e o ar da poluição e das devastações do progresso industrial, precisamente com o fim de proteger a dignidade e as conquistas do homem. Fui também informado, Senhor Presidente, que o seu Governo Federal e as autoridades do Estado dão alta prioridade aos problemas da habitação, da agricultura, da educação e dos serviços sociais.

Oxalá estes esplêndidos objectivos revertam verdadeiramente para o bem de inúmeros indivíduos e da sociedade em geral. Todos quantos estão empenhados no bem-estar dos seus compatriotas, animo-os eu de todo o coração a tomarem a pessoa humana o verdadeiro critério de todos os esforços no sentido do progresso. Os projectos de desenvolvimento devem sempre ter um aspecto humano. Não podem ficar reduzidos a diligência puramente materialista ou económica. A pessoa humana deve ser sempre a última medida da possibilidade e do bom êxito de qualquer programa económico ou social. O progresso não pode portanto separar-se da dignidade da pessoa humana nem do respeito pelos direitos fundamentais dela. Na busca do progresso, do progresso total, deve ser excluído tudo o que seja indigno da liberdade e dos direitos humanos do indivíduo e da colectividade em geral. Assim são rejeitados tais elementos como a corrupção, o suborno, o desfalque de fundos públicos, a exploração dos fracos e a insensibilidade para com os pobres e deficientes. A participação na vida politica do país, a liberdade de religião, de palavra e de associação, a protecção do sistema judiciário bem organizado, o respeito e a promoção das actividades espirituais e culturais, o amor da verdade: são os elementos para o progresso que seja verdadeira e integralmente humano. Não tenho dúvidas que as autoridades e o povo da Nigéria estão plenamente informados destes objectivos e valores. Confio que sempre queiram trabalhar juntamente na realização do verdadeiro progresso económico e social do país, intimamente ligado à questão da dignidade humana.

6. Senhor Presidente, a vossa é terra de promessas, terra de esperança. Nos seus esforços para desenvolver-se, está sujeita também a sofrer as pressões que tantas vezes surgem de exigências em conflito e da simples grandeza da tarefa. Entre os problemas que são obstáculo no mundo em desenvolvimento está a urbanização desproporcionada que pode criar condições de favelas, colocar os deserdados e os menos favorecidos à margem da sociedade, e ligar a carência e a pobreza ao crime e à perda dos valores morais. Só os esforços unidos de todos os cidadãos, sob esclarecida chefia, podem vencer dificuldades como esta. Só a concatenação de todas as forças para o bem comum, dentro do verdadeiro respeito dos supremos valores do espírito, fará um país grande e o tornará feliz lugar e morada para o seu povo. A glória do Governo é o bem-estar, a paz e a alegria dos governados. Esta é a visão de esperança, que eu partilho convosco hoje. Este é o meu desejo quanto a si, Senhor Presidente, e quanto a vós, respeitados Membros do Governo. Isto o que peço para todos vós, caros habitantes da Nigéria. Esta é a minha oração a Deus Omnipotente e Misericordioso.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE O ENCONTRO


COM A JUVENTUDE NIGERIANA


Campos Desportivo de Onitsha, Nigéria

Sábado, 13 de Fevereiro de 1982



Queridos jovens e queridas jovens da Nigéria

Esta tarde o Papa é vosso!

Estou verdadeiramente muito contente por ver-vos aqui aos milhares, vindos de todas as partes do vosso vasto país. Por mim destes mostras da vossa juvenil agilidade, das vossas fascinadoras acrobacias, da vossa alegria e do vosso optimismo. Estou-vos muito grato; e sinto-me muito feliz por me encontrar convosco. Muito antes de nos encontrarmos já vos tinha presentes nos meus pensamentos e nas minhas orações. E agora chegou o momento do nosso encontro pessoal. Quereria compartilhar convosco algumas das minhas reflexões.

1. A juventude é a idade da esperança, da promessa, do entusiasmo, dos projectos e dos ideais. A juventude não se recusa a enfrentar as dificuldades. A juventude recusa-se a resignar-se aos defeitos e às dificuldades do status quo. A juventude crê num mundo melhor, e está decidida a colaborar para a sua realização.

Deveis fazer-vos conhecer pela vossa generosidade e a vossa abertura aos outros. Sede gratos aos vossos pais; deveis respeitá-los, ajudá-los e obedecer-lhes. Aceitai os vossos professores, respeitai-os e segui as suas instruções. Deveis fazer-vos conhecer pelo vosso espírito de sacrifício, a vossa diligência no estudo ou no trabalho, a vossa eficiência nas tarefas que vos são confiadas. Empenhai-vos totalmente nas Organizações católicas de apostolado dos leigos para testemunhar Cristo. Sede um laicado que prossegue assiduamente a sua missão de comunicar a palavra de Cristo. Alguns de vós serão chamados a tornarem-se sacerdotes, religiosos ou religiosas, com uma tarefa especial de serviço no Reino de Deus.

2. Caríssimos jovens da Nigéria, sede notáveis pela disciplina, a força de carácter e a confiança. Estas qualidades manifestar-se-ão em diversas maneiras. Sede castos. Resisti a todas as tentações que assaltam a santidade do vosso corpo. Levai a vossa castidade para o sacerdócio, a vida religiosa ou o matrimónio. Tereis muitas ocasiões para exprimir disciplina mediante a temperança cristã. As atracções e as solicitações do mundo não raro levam os jovens à intemperança ou à evasão. As tentações do álcool e da droga estão em redor de vós. É necessária força de vontade; e recorrer à oração em toda a humildade para aquele que procura agir verdadeiramente como homem.

3. A grande decisão que vos diz respeito consiste em escolher um estado de vida permanente. Para a maior parte de vós a resposta será o matrimónio. Mas para muitos outros poderá ser o sacerdócio ou a vida religiosa. Tereis necessidade do conselho dos vossos sacerdotes, dos vossos pais e dos vossos professores. Tereis necessidade da guia de Deus. Rezai. Confiai-vos a Cristo. Abri-Lhe os vossos corações. Abri-os sem temor, sem reticências. Não tenhais medo. Sede generosos. Quem dá pouco colherá poucos frutos. Quem dá com generosidade colhe frutos abundantes. Podeis contar com a graça de Deus.

4. Um bom cristão é um bom cidadão. Amai o vosso pais, obedecei às suas leis; respeitai os seus chefes, e pagai as vossas contribuições. Sois chamados a assumir as vossas responsabilidades nas actividades políticas, sociais, económicas e culturais. Quando chegardes à maioridade, votai e deixai que votem por vós nas eleições politicas.

Desejo aproveitar esta ocasião para prestar homenagem ao programa nacional de serviço da juventude, para manifestar o meu louvor aos jovens que se dedicam tão generosamente a este serviço distante do próprio estado de origem, formando novos laços de amizade e reforçando a solidariedade fraterna e a unidade nacional. Estou grato também pela consideração dada aos sacerdotes e aos religiosos, cujas tarefas não devem contrastar com o estado deles de sacerdotes ou de religiosos.

5. Na vossa condição de jovens, deveis procurar continuamente identificar os males da vossa sociedade como a corrupção, a apropriação indevida dos fundos do governo ou das sociedades, as despesas exageradas e improdutivas, a exibição da riqueza, a negligência para com os pobres e os marginalizados, o nepotismo, o tribalismo, o antagonismo politico, a negação dos direitos dos pobres, o aborto, a contracepção e outros males que afligem outros países. Como jovens autênticos deveis observar, avaliar e depois agir em conformidade com as orientações do Evangelho de Jesus Cristo.

Em tudo, deveis irradiar alegria, paz, amor pelos irmãos, optimismo e esperança por uma Nigéria melhor. Este é o vosso contributo de cristãos: isto é o que aprendeis do Senhor. Este é o desafio do mundo, que deve tomar raízes na vossa vida e frutificar. Recordai como Jesus vos desafia continuamente nos Evangelhos: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus..." (Mt 5,7-9).

Desejo manifestar-vos o meu apreço pelas muitas formas de apostolado dos jovens organizado em vários níveis (nacional, diocesano; paroquial e de aldeia); pelas tantas associações mediante as quais realizais a vossa tarefa de apostolado dos leigos e reafirmais o vosso desejo de servir os homens no nome de Cristo. Quero também exprimir o meu reconhecimento aos vossos capelães que vos ajudam tão validamente, e também aos religiosos e às religiosas, e aos leigos que contribuem para fazer das vossas organizações uma expressão vital da vida da Igreja.

7. Jovens da Nigéria, vim para vos encorajar na vossa grande missão que é a de construir um mundo melhor, propagar o Reino de Cristo, Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz. é para Ele que desejo dirijais o vosso olhar. Como foi dito aos primeiros cristãos: "com os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé" (He 12,2). No Seu nome — no santo nome de Jesus, Salvador do mundo, Redentor do homem, amigo dos jovens — quero exprimir-vos os sentimentos que partilhei com os jovens de todo o mundo: Jovens da Nigéria, tendes uma dignidade incomparável como filhos de Deus, como irmãos e irmãs de Cristo.

Jovens da Nigéria, Cristo morreu por vós, pela vossa redenção. Cristo ama-vos e também eu vos amo.

Jovens da Nigéria, "amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus" (Jn 4,7).



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE A VISITA AOS DOENTES E ANCIÃOS


DO HOSPITAL SÃO CARLOS BORROMEU


Onitsha, Nigéria

Sábado, 13 de Fevereiro de 1982



Caros amigos

Sinto-me feliz, doentes e anciãos, de estar convosco esta tarde. Vós sois preciosos aos olhos de Deus. As vossas vidas têm um profundo significado para a sociedade e para mim.

A minha alegria é ainda maior porque vos encontro neste famoso hospital dedicado a São Carlos Borromeu, cujo nome me foi dado no Baptismo pelos meus pais. O meu predecessor, Paulo VI, aqui esteve em 1962 quando ainda estava a ser edificado, e contribuiu para a sua construção. Admiro o amável gesto da Igreja de Onitsha ao dedicar este hospital a São Carlos Borromeu, apóstolo de Milão e patrono do vosso primeiro Arcebispo de Onitsha, D. Carlos Haerey, C.S.Sp., falecido em 1967.

1. Enquanto estivermos na nossa peregrinação terrena, haverá sempre sofrimento e doença. Elas fazem parte da nossa condição humana, são os resultados do pecado original, mas não são necessariamente por culpa do homem. Há tanta gente de diferentes idades que sofre, não por culpa própria. As crianças, de modo particular, são vulneráveis ao sofrimento, muitas vezes causado pelo descuido ou negligência dos adultos. A realidade da doença e desnutrição na vida de milhões de crianças é um facto que reclama a atenção e acção. E a condição da criança deficiente faz-nos reflectir sobre o sentido da vida humana.

A velhice também comporta as suas próprias dificuldades e debilidades físicas.

2. Embora Deus permita a existência do sofrimento no mundo, certamente não se alegra com isto. De facto, nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, amava os doentes, dedicou grande parte do seu ministério na terra à cura dos doentes e ao consolo dos aflitos. O nosso Deus é um Deus de compaixão e de consolação. E espera de nós que usemos todos os meios ordinários para impedir, aliviar e eliminar o sofrimento e a doença. Por isso temos os programas preventivos de cuidado sanitário; temos médicos, enfermeiros, instituições de medicina e auxiliares de todas as espécies.

A ciência médica tem feito grande progresso. Devemos aproveitar de tudo isto.

3. Contudo, ainda depois de todos estes esforços, o sofrimento e a doença existem. O cristão vê um significado no sofrimento. Suporta este sofrimento com paciência, amor de Deus, e generosidade. A Deus tudo oferece, por Cristo, especialmente durante o Sacrifício da Missa. Quando o doente recebe a Comunhão, une-se a Cristo Vítima. Quando o sofrimento está unido à Paixão de Cristo e à sua morte redentora, então adquire grande valor para a pessoa, para a Igreja e para a sociedade.

Este é o sentido daquelas maravilhosas palavras de São Paulo nas quais devemos sempre meditar: "Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo Seu Corpo, que é a Igreja" (Col 1,24).

Sei também pessoalmente o que significa estar doente e permanecer tanto tempo no hospital, e como é possível confortar e apoiar aquele que compartilha a mesma sorte de limitação e sofrimento, e quanto é necessário rezar pelos doentes e demonstrar-lhes amoroso interesse. A propósito disto, é-me grato ver que neste hospital tendes uma bonita Capela com o Santíssimo Sacramento e que há capelão fixo.

Jesus mesmo quer ser a vossa força e consolação mediante a sua presença Eucarística e o ministério dos seus sacerdotes.

4. Vós que estais em idade avançada sois cidadãos mais velhos. Suportastes o calor do dia na luta da vida e adquiristes tanto conhecimento, sabedoria e experiência. Peço-vos que partilheis tudo isto generosamente com as gerações mais jovens. Tendes algo de muito importante a oferecer ao mundo; e o vosso contributo é purificado e enriquecido mediante a paciência e o amor que são vossos, quando estais unidos com Cristo. A velhice debilita o corpo e traz consigo fraqueza e, às vezes, doença. A nossa resposta compreende atenção médica e paciência cristã. Em união com Cristo sois chamados a agradecer a Deus Pai por vos ter dado a vida humana e vos ter chamado a viver neste mundo e para sempre em união com Cristo.

5. Na Nigéria tendes o nobre valor cultural do amplo sistema familiar. Os doentes e os anciãos não são abandonados pelos seus filhos, sobrinhos e sobrinhas, ou outros parentes. A ampla protecção da caridade atinge a todos. Esta é preciosa herança que deve ser mantida. Este ideal é urgente, especialmente nas grandes e pequenas cidades em que os anciãos às vezes estão excluídos do amplo sistema familiar. O abandono e a solidão das pessoas idosas ocorrem quando um grande valor cultural é destruído ou substituído por algo totalmente não africano.

6. Aos médicos, às enfermeiras, aos auxiliares e a todos aqueles que cuidam dos doentes na Nigéria, sem esquecer os diversos conselhos de medicina e de enfermagem, profissionais e administrativos, exprimo a minha estima e gratidão. A vossa solicitude humanitária é digna de louvor. A vossa caridade cristã merece a vida eterna. Jesus mesmo preocupou-se com os doentes e disto dependerá o nosso juízo final e a nossa recompensa: "Vinde, benditos de Meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo; porque... adoeci e visitastes-Me" ().



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO ENCONTRO COM OS SACERDOTES E SEMINARISTAS


Enugu, Nigéria

Sábado, 13 de Fevereiro de 1982



Caros irmãos sacerdotes, meus queridos seminaristas

"Resida nos vossos corações a paz de Cristo" (Col 3,15).

Estou particularmente feliz de hoje me encontrar convosco, sacerdotes e seminaristas da Nigéria. Vós sois chamados a ser os imediatos colaboradores dos vossos Bispos. De vós depende, em grande parte, o trabalho de evangelização nesta terra. Permiti-me partilhar convosco alguns pensamentos sobre o sagrado ministério do sacerdócio.

1. O sacerdote é enviado por Cristo e pela sua Igreja para anunciar o Evangelho de salvação, sobretudo na celebração da Eucaristia. O sacerdote é ordenado para oferecer o Sacrifício da Missa, e renovar assim o Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como ministro de Cristo, o sacerdote é chamado a santificar o Povo de Deus, mediante a palavra e os sacramentos. Compartilha a solicitude pastoral do Bom Pastor, a qual é frequentemente expressa na oração pelo rebanho. Como sacerdotes, vós e eu somos chamados a proclamar e ensinar a Palavra de Deus com clareza, fé ardente e empenho pessoal, com ortodoxia e amor. Somos todos chamados a reunir o Povo de Deus, a edificar o Corpo da Igreja.

De acordo com a vontade de Cristo, o sacerdote realiza o seu apostolado sob a orientação do próprio Bispo e em união com os seus irmãos sacerdotes.

2. A vossa jovem Igreja na Nigéria está em plena vitalidade e vigor. Com verdadeiro dinamismo apostólico os vossos sacerdotes missionários colocaram sólidos fundamentos mediante a oração, a diligência, a castidade e a dedicação na caridade. Os sacerdotes e os Bispos locais assumiram o compromisso da missão e consolidaram-na. Neste momento tendes tantas iniciativas de vanguarda no sentido de fazer com que a Igreja se sinta sempre mais encarnada na vossa cultura.

Congratulo-me convosco pela harmonia com que os sacerdotes diocesanos, os sacerdotes missionários e os sacerdotes religiosos nigerianos trabalham juntos para a expansão do Reino de Cristo.

3. Bem sei que muitos de vós estão excessivamente sobrecarregados. Alguns de vós, párocos, têm o cuidado pastoral de dez mil católicos; outros talvez tenham muito mais. Pode até haver quinze povoados para um só sacerdote. Muitos de vós celebram duas ou três Missas, cada domingo, em lugares distantes, ensinam a doutrina cristã e dão a Bênção Eucarística.

O vosso povo acorre ao Sacramento da Reconciliação. E vós, com paciência e amor, desempenhais este ministério. Sei que em alguns lugares todos os sacerdotes de paróquias vizinhas se unem num esforço comum para tornar este Sacramento mais acessível. Assim fazeis indo, em grupos de dez ou vinte, às diversas paróquias vizinhas durante as épocas de maior número de Confissões, como o Natal e a Páscoa. Este, meus caros irmãos no sacerdócio, é um excelente modo de cumprir a vontade de Cristo no serviço ao seu povo. Deste modo dais aos vossos paroquianos uma boa escolha de confessores, e demonstrais silencioso testemunho do único sacerdócio de Cristo e da vossa fraterna solidariedade. O Papa alegra-se com a vossa fidelidade a este ministério sacramental extremamente importante, no qual a força de Cristo, ao perdoar e curar, atinge os corações humanos.

4. Aplicais também muita atenção à preparação dos candidatos aos outros sacramentos e à promoção geral da catequese.Encorajais e coordenais o trabalho dos catequistas, professores católicos e outros professores de religião. A vossa Conferência Episcopal enfatizou recentemente a importância do catecumenato e emitiu directrizes e cartas para a adequada administração dos sacramentos de iniciação. Louvado seja Jesus Cristo, que por meio de vós e dos vossos catequistas continua a prover para a afirmação mais profunda da Igreja na força da Palavra de Deus.

5. Desejo exprimir o meu apreço pelo apostolado dos sacerdotes que, em colaboração com os seus Bispos, trabalham nos centros diocesanos, centros de pastoral e catequese, seminários menores e maiores, nos serviços sociais, o Secretariado Católico de Lagos, escolas, colégios, universidades, meios de comunicação social, nas atribuições confiadas fora da diocese, tanto dentro como fora da Nigéria, e em outros semelhantes serviços. Estes sacerdotes estão servindo a Cristo também em áreas importantíssimas. A Igreja necessita deste particular contributo para a sua missão pastoral; o objectivo de todas estas actividades é evangelizar, comunicar Cristo.

6. Deus abençoou a Nigéria com tantos seminaristas menores e maiores. De facto, o vosso "Bigard Memorial Seminary" em Enugu e Ikot Ekpene é um dos maiores do mundo. Os professores dos vossos seminários têm-se distinguido pelo seu profundo desejo de ensinar a Palavra de Deus e pelo seu árduo e simples trabalho. Que o Senhor recompense todos os que — leigos, religiosos, sacerdotes e Bispos — tornam este facto possível! Abençoe a Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos que vos dá apoio moral, financeiro e técnico.

O elevado número dos vossos seminaristas não deve nunca ser motivo para se admitir um tipo de formação menos exigente.

De primordial importância no seminário deve ser a amizade com Cristo, centralizada na Eucaristia e alimentada especialmente pela oração e a meditação da Palavra de Deus. Esta amizade com Cristo é autenticamente expressa no sacrifício, no amor ao próximo, na castidade e no zelo apostólico. Exige, além disso, fidelidade aos estudos e um certo afastamento das coisas deste mundo. É necessário que haja grande número de directores espirituais para os vossos seminaristas. Um sacerdote indicado para trabalhar no seminário deveria alegrar-se se lhe fosse dada esta especial atribuição. Deveria esforçar-se, com palavras e exemplos, por apresentar aos seminaristas os ideais mais sublimes do sacerdócio. Como é grande o privilégio de ajudar na orientação os jovens para um maior conhecimento e amor de Jesus Cristo, o Bom Pastor! Seminaristas realmente inaptos para a ordenação deveriam ser aconselhados, com firmeza e caridade, a seguir outra vocação.

7. Nenhum sacerdote pode desempenhar bem o seu ministério se não vive em união com Cristo. A sua vida, como a de Cristo, precisa ser caracterizada pela abnegação, zelo pela expansão do Reino de Deus, perfeita castidade e ilimitada caridade. Tudo isto é possível só quando o sacerdote é uma pessoa de oração e de piedade eucarística. Recitando a Liturgia das Horas em união com a Igreja, ele encontrará força e alegria para o apostolado. Na silenciosa oração diante do Santíssimo Sacramento será constantemente renovado na sua consagração a Jesus Cristo e confirmado no seu permanente compromisso do celibato sacerdotal. Ao invocar Maria, Mãe de Jesus, o sacerdote sentir-se-á apoiado no seu generoso serviço a todos os irmãos e irmãs de Cristo no mundo. Sim, o sacerdote não deve permitir que as transitórias necessidades do activo apostolado impeçam ou destruam a sua vida de oração. Não deve ele estar completamente absorvido no trabalho para Deus de modo que venha a correr o perigo de esquecer o mesmo Deus. Deverá lembrar-se que o nosso Salvador nos advertiu que sem Ele nada podemos fazer. Sem Ele, poderemos lançar as redes durante toda a noite mas nada recolheremos.

8. Nenhum sacerdote pode fazer tudo sozinho. Ele trabalha com os seus irmãos sacerdotes e sob a orientação do Bispo, que deles é pai, irmão, colaborador e amigo. O autêntico sacerdote manterá o amor e a unidade do presbitério. Prestará respeito e obediência ao seu Bispo como prometeu solenemente no dia da sua ordenação. O presbitério do Bispo com todos os seus sacerdotes, diocesanos e religiosos, deverá funcionar como uma família, como um grupo apostólico marcado pela alegria, mútua compreensão e amor fraterno. O sacerdócio existe para que, mediante a renovação do Sacrifício de Cristo, o mistério do amor salvífico de Cristo possa penetrar na vida do Povo de Deus. Os sacerdotes não devem esquecer-se de ajudar os seus irmãos sacerdotes que se encontram em dificuldade: moral, espiritual, financeira ou outra. E os sacerdotes doentes e idosos devem encontrar no vosso ardor de fraterna caridade consolo e apoio.

9.. Nenhum estado de vida está isento de tentações, e vós devereis procurar identificar as vossas. Com a graça de Deus e perseverante esforço, deveis empenhar-vos por resistir a qualquer tentação que se apresente na vossa vida: como, por exemplo, a fraqueza na disciplina, a indolência, a instabilidade, a indisponibilidade, a demasiada frequência de viagens ou a dissipação de energia apostólica. Confiando na graça, rejeitareis as tentações contra o celibato mediante a vigilância, a oração e a mortificação. Refutareis de ser capturados pela atracção dos bens materiais e não colocareis a vossa alegria no dinheiro, grandes automóveis e elevada posição na sociedade. Os partidos políticos não são para vós. Este é o campo próprio do apostolado leigo. Vós sois antes capelães dos leigos, que nos assuntos políticos devem assumir o seu específico papel (cf. Gaudium et spes GS 43). Para vos revigorar contra a tentação, é de grande importância para cada sacerdote o Sacramento da Penitência. Nós, ministros da reconciliação, nele encontramos para a nossa própria vida a eficácia corroborante e salutar de Cristo e o seu amor clemente e misericordioso.

10. Os nigerianos amam o estudo. Isto é um bem. Precisamos de sacerdotes sábios que possam corresponder às necessidades da Igreja e da sociedade. Cada sacerdote deveria procurar aperfeiçoar-se mediante o estudo pessoal de teologia, catequese e outras tantas ciências sagradas. Procurai encontrar frequentemente um tempo para tal estudo. Depois da ordenação, quando se trata de ir para universidades ou institutos similares, dentro ou fora da Nigéria, serão enviados alguns sacerdotes segundo as necessidades e o planejamento diocesanos, pelo que os Bispos assumem definitiva responsabilidade. Nada façais sem o vosso Bispo, ou pior ainda, contra ele especialmente neste ponto. Os sacerdotes, que tenham já determinado por si mesmos tais atitudes irregulares, podem agora voltar atrás e encontrar a paz de consciência. Do mesmo modo resistireis à tentação de procurar trabalho em qualquer lugar, sem ou contra a vontade do vosso Bispo. Compartilhamos todos em Cristo o único sacerdócio. Mantenhamos a sua unidade e amor!

11. O sacerdote deve ser o fermento na comunidade nigeriana de hoje. Num país em que tantas pessoas estão demais preocupadas em acumular dinheiro, o sacerdote com a palavra e o exemplo deve chamar a atenção para os valores superiores. O homem não vive só de pão. O sacerdote deve identificar-se com os pobres, de tal modo que seja capaz de lhes levar o edificante Evangelho de Cristo. Recordai-vos de que Jesus aplicou a si mesmo estas palavras: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres" (Lc 4,18).

Dado que "a evangelização não seria completa se ela não tomasse em consideração a interpelação recíproca que se fazem constantemente o Evangelho e a vida concreta dos homens" (Evangelii nuntiandi EN 29), o sacerdote preocupar-se-á por levar a luz do Evangelho e a força da Palavra de Deus para atingir os mais variados problemas relativos à vida familiar, os direitos e deveres humanos fundamentais, a justiça e a paz, o desenvolvimento e a libertação, a cultura e a ciência. Esforçar-se-á por tornar presente Cristo e a Igreja no campo das artes e da ciência, da cultura e das profissões. Sinto-me particularmente feliz com a inauguração do Instituto Católico da África ocidental, em Port Harcourt, por obra dos Bispos da Nigéria, Gana, Serra Leoa, Libéria e Gâmbia, com a finalidade de estudos superiores eclesiásticos.

Os sacerdotes que trabalham nos meios de comunicação social têm esplêndida oportunidade de compartilhar Cristo com os outros, como fazem os directores espirituais com os religiosos e os leigos, os capelães de todas as organizações de apostolado leigo, e os sacerdotes recrutadores de vocações para o sacerdócio e a vida religiosa. A todos vós digo: "Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai" (Col 3,17).

Caríssimos sacerdotes e futuros sacerdotes da Nigéria, como Bispo de Roma e vosso irmão Sacerdote, abençoo-vos de coração. Abraço cada um de vós com profundo afecto em Cristo Jesus — o Único vosso Mestre e vosso mais intimo amigo, que amou a cada um de vós com um amor eterno. Confio-vos todos a Maria, a Mãe de Jesus, nosso Sumo Sacerdote.



Discursos João Paulo II 1982 - Terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010