Discursos João Paulo II 1995


(8) N. 11: AAS 29 (1937), 186.

(9) Discurso à Cúria Romana (24 de Dezembro de 1930): AAS 22 (1930), 535-536.

(10) JOÃO PAULO II, Carta aos Bispos da Polónia no 50º aniversário do início da segunda guerra mundial (26 de Agosto de 1989), 3: AAS 82 (1990), 46.

(11) Radiomensagem «Uma hora grave» (24 de Agosto de 1939): AAS 31 (1939), 334.

(12) Exortação aos Chefes das Nações em guerra (1 de Agosto de 1917): AAS 9 (1917), 420.

(13) Apelo depois da oração do «Angelus»: Insegnamenti XIV/1 (1991), 156.

(14) Parte III: AAS 55 (1963), 291.

(15) JOÃO PAULO II, Discurso no «Peace Memorial Park», Hiroxima (25 de Fevereiro de 1981), 4: AAS 73 (1981), 417.

(16) JOÃO PAULO II, Carta enc. Centesimus annus (1 de Maio de 1991), 18: AAS 83 (1991), 816.

(17) Cfr PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ», Documento O comércio internacional das armas (1 de Maio de 1994), Vaticano, 1994.

(18) Cfr JOÃO PAULO II, Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), TMA 50: AAS 87 (1995), 36.

(19) JOÃO PAULO II, Discurso conclusivo da Jornada inter-religiosa mundial de oração pela paz, 6: AAS 79 (1987), 868.

(20) Mensagem televisiva aos participantes no Encontro internacional de oração pela paz, por ocasião do 50º aniversário do início da II guerra mundial (1 de Setembro de 1989): Insegnamenti XII/2 (1989), 421.

(21) Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963), IV parte: AAS 55 (1963), 295.

(22) Discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas (4 de Outubro de 1965), 5: AAS 57 (1965), 882.

(23) JOÃO PAULO II, Carta enc. Evangelium vitae (25 de Março de 1995), 76: L'Osservatore Romano, 31 de Março de 1995, p.10.

(24) Parte V: AAS 55 (1963), 304.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE BISPOS DO BRASIL


DO REGIONAL NORTE-1


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Terça-feira, 30 de Maio de 1995

Caros Irmãos no Episcopado

1. Tenho muita satisfação em vos dar hoje as boas-vindas, Bispos do Regional Norte 1 do Brasil, por ocasião da vossa visita ad Limina. Fonte da minha alegria em vos encontrar é o ministério apostólico que nós compartilhamos e o pensamento da profunda experiência de fé que está a vos exigir nas Igrejas que presidis, para a expansão do Reino de Deus na imensa região amazônica. Saúdo-vos com as palavras de São Paulo: “A vós graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo” (Ph 1,2). Exatamente como São Paulo dividiu com os seus irmãos em Filipos a “parte que tomaram na difusão do Evangelho” (Ph 1,5), também nós, como sucessores dos apóstolos, estamos unidos na chamada maravilhosa e na consagração que nos foi dada pelo Senhor para sermos servidores da Boa Nova de salvação. Com gratidão ao Senhor Bispo D. Antônio Possamai, pelas suas amáveis palavras e pelos sentimentos expressos em vosso nome, asseguro-vos que me lembro de vós quotidianamente nas minhas orações e solicitudes pela Igreja.

2. No passado mês de Abril compartilhei com os Bispos das Províncias Eclesiásticas do Rio de Janeiro e de Niterói, algumas reflexões sobre diversos desafios que encontrais no vosso ministério episcopal. Em particular referi-me ao relevante papel desempenhado pelos missionários – Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas – na aurora da evangelização do Brasil, querendo projetar os ensinamentos de então para o despontar de uma nova evangelização destinada a colocar os fiéis leigos perante as suas responsabilidades no âmbito familiar, profissional e social.

Nesta grande tarefa sois sustentados pela especial consagração recebida mediante o Espírito Santo, no momento da ordenação episcopal. Com esta mesma assistência do Espírito Santo, durante estes quase cinco séculos de história, os vossos predecessores fundaram uma tradição eclesial, que contribuiu para determinar a identidade católica do vosso povo e que não deve ser perdida nem diminuída, pois reflete uma fidelidade fundamental à comunhão apostólica e universal, que tem a sua cabeça visível no Sucessor de Pedro (cf. Lumen Gentium LG 18). Um desenvolvimento concreto deste vigor eclesial é o reconhecimento da grande riqueza da Igreja no Brasil que são os fiéis leigos: homens e mulheres, de coração bom, simples e generoso, que procuram viver plenamente a consagração batismal. Sua presença e atuação na vida da Igreja se reveste de grande importância em todo o mundo, mas de modo especial em vossa pátria, neste final de milênio.

Na nossa época, marcada pelo aviltamento da concepção cristã da pessoa devido ao relativismo ético, que abre as portas à negação de Deus e, conseqüentemente, “induz a reorganizar a ordem social prescindindo da dignidade e da responsabilidade da pessoa” Centesimus Annus, 13), e à ânsia gerada pelo consumismo, que inverte o papel prioritário da ética sobre a técnica, o primado da pessoa sobre as coisas e a superioridade do espírito sobre a matéria (cf. Redemptor Hominis RH 16), é indispensável exprimir com clareza os valores morais evangélicos e a finalidade transcendente da vida humana revelados pelo Redentor dos homens. Por outro lado, e com sinal distinto, ocorre insistir naquela justa autonomia das realidades temporais, preconizada pela Constituição conciliar “Gaudium et Spes”, significando que “as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando”(Gaudium et Spes GS 36). Ambas as situações estão a exigir do homem atitudes cheias de responsabilidade, não apenas para uma justa e harmoniosa convivência social, mas para recordar que “Deus o deixou "entregue à sua própria decisão" (Si 15,14), para que procurasse o seu Criador e alcançasse livremente a perfeição” (Veritatis Splendor VS 39).

3. A ação pastoral deve, pois, poder fornecer elementos que confirmem aquela idéia central da Exortação Pós-sinodal Christifideles Laici, ou seja a vocação universal à santidade.

Somos chamados por Deus, desde toda a eternidade, “para sermos santos e irrepreensíveis diante d’Ele no amor” (Ep 1,4). Esta vocação à santidade, que é de todos, realiza-se sobretudo nos fiéis regenerados pelo Batismo e que se tornaram “filhos adotivos por Jesus Cristo” recebendo a “redenção, a remissão dos pecados, segundo a riqueza de sua graça que Ele derramou abundante sobre nós” (Ep 1,5-7).

Desta vocação à santidade decorre a grandeza do sacerdócio real de todos os fiéis leigos. E é precisamente essa condição sacerdotal que lhes confere um lugar próprio no Corpo da Igreja, fundamenta a sua dignidade e os convoca para a missão redentora que permanece atuante na Igreja, por mandato de Cristo, até à consumação dos séculos. O fiel leigo, na sua própria vida cristã e em sua atuação na Igreja, não é um mero auxiliar do Bispo ou do Padre. O Batismo lhe dá direito e, portanto, também o dever de realizar em sua existência a ação sacerdotal de Cristo. Daí a justa autonomia do fiel leigo naquilo que lhe é próprio: em qualquer estado ou condição de vida, cada pessoa na sociedade, independentemente da sua raça e cultura, tem o lugar que lhe é devido e é chamada “a exercer a missão que Deus confiou à Igreja para esta realizar no mundo” (Código de Direito Canônico, cân. 204).

A área específica do fiel leigo é o apostolado no mundo secular, inserido nas realidades temporais, participando, como cristão, das atividades inerentes a seu estado de vida e trabalho social (cf. Código de Direito Canônico CIC 210 cf. Christifideles Laici CL 17). Não há pois possibilidade de confusão, ou se quisermos chamar de conflito, entre a esfera de ação laical e a eclesial; seria, no mínimo, “anacrônico”, como já vos tive ocasião de comentar (cf. Discurso, 10-X-1990). Com efeito, convém sempre recordar o que dizia a respeito o Concílio Vaticano II: “O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas por grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, cada um a seu modo, do único sacerdócio de Cristo” (Lumen Gentium LG 10).

Por um lado, a expressão “sacerdócio ministerial ou hierárquico” designa “o ministério sacro exercitado (na Igreja, pelos Bispos e sacerdotes) para o bem dos irmãos” (Lumen Gentium LG 13); por outro, o “sacerdócio comum dos fiéis” liga-se ao sacramento do Batismo, indicando também que um tal sacerdócio tem, para o cristão, o conteúdo e a finalidade de “oferecer, mediante todas as obras, sacrifícios espirituais” (Lumen Gentium LG 10), ou ainda, que se trata, como já explicava São Paulo, “de oferecer os próprios corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Deste modo a vida cristã é vista como um louvor oferecido a Deus e como um culto realizado pela pessoa, individualmente, e por toda a Igreja. A santa liturgia (cf. Sacrosanctum Concilium SC 7), o testemunho da fé e o anúncio do Evangelho (cf. Lumen Gentium LG 10) partindo do sentido sobrenatural da fé do qual participam os fiéis, constituem a expressão de tal sacerdócio. Este se realiza concretamente na vida quotidiana do batizado, quando a própria existência se torna oferta de si mesmo inserindo-se no mistério pascal de Cristo.

4. Apoiando-nos então nestas premissas, entende-se como o sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial dos Bispos e dos presbíteros, embora distintos, são inseparáveis. O sacerdócio comum atinge a plenitude do próprio valor eclesial graças ao sacerdócio ministerial, enquanto este último existe em vista do sacerdócio comum. Bispos e presbíteros são indispensáveis à vida da Igreja e dos batizados, mas também os Bispos e presbíteros são chamados a viver em plenitude o mesmo sacerdócio comum, e sob este aspecto, precisam do sacerdócio ministerial. “Para vós eu sou bispo, convosco sou cristão” diz S. Agostinho (Serm. 340,1).

Mais ainda, como vos dizia em certa ocasião: “Existe uma cooperação orgânica entre a hierarquia e o povo fiel. Evidentemente esta cooperação não consiste em que o leigo tome o lugar do clérigo para realizar funções clericais, nem que o clérigo assuma o papel do leigo para desempenhar funções laicais; mas que um e outro cooperem entre si a realizarem a função universal da Igreja...; cada cristão, ajudado pela fé e movido pela caridade, procurará pessoalmente (através das estruturas de ordem temporal) atuar com justiça, que para ele vem a ser, com freqüência um grave dever moral” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XIII/2 [1990] 777).

Não raro ouve-se comentar que faltam hoje no Brasil, nos diversos campos da vida secular, nos meios de comunicação social ou na vida artística, literária, política e científica, cristãos autênticos e coerentes, que saibam unir a competência e credibilidade de sua atuação pública com um testemunho explícito de fé e de compromisso com o anúncio do Evangelho. Em outras épocas não faltaram em vossa pátria tais líderes leigos católicos que constituíram a brilhante geração que deu tanto destaque, por exemplo, à Ação Católica no Brasil. Isto não significa que faltem hoje no país leigos católicos, mas, sem sombra de dúvida, a sua atuação pública nem sempre emerge com o destaque que gostaríeis e que seria lícito esperar num país que possui uma tradição cultural tão marcada pela fé cristã.

Quais seriam as causas desta pouca visibilidade do apostolado dos fiéis leigos?

A resposta encontra-se, em primeiro lugar, na mesma valorização dos fiéis leigos inseridos por excelência nas realidades temporais, e na sua legítima autonomia. Estareis certamente de acordo comigo que não basta aglutinar os fiéis para que assumam simplesmente um trabalho pastoral. As grandes urgências da evangelização e o insuficiente número de ministros ordenados certamente pedem tal cooperação dos leigos. Mas reduzir a sua ação à cooperação com os Pastores não esgota nem realiza a plenitude da sua missão própria e específica. Eles não são meros colaboradores e coadjuvantes do ministério ordenado. Atuando sob vossa direção pastoral, e no respeito às legítimas disposições por vós aprovadas (cf. Código de Direito Canônico, cân. 212 § 1), eles são chamados a agir na realidade temporal e no campo das próprias capacidades, na construção de uma sociedade permeada pelos valores evangélicos. A sua ação específica possui, pois, uma feição bem diversa da atuação própria dos bispos. A lei canônica assegura este direito aos leigos, ao qual vai facilitado e apoiado o seu exercício (cf. Código de Direito Canônico, cân. 215-216).

Neste sentido, não há como não reconhecer no florescimento espontâneo de movimentos religiosos antigos e novos um dom especial de Cristo à sua Igreja, um sinal inequívoco de que o Espírito Santo que é a vida do Corpo Místico de Cristo, nele age e “distribui a cada um os seus dons conforme lhe apraz”(1Co 12,11).. Tais movimentos e associações religiosas dos fiéis leigos, a par de uma necessária quanto obsequiosa união com a própria Igreja local e com o seu Bispo, possuem uma dinâmica de vida e, muitas vezes, uma estrutura organizacional que vão além das fronteiras de vossas Igrejas particulares; especificamente, o direito de associação compreende: fundar associações, inscrever-se nas existentes, bem como a autonomia estatutária e de governo das mesmas associações (cf. Apostolicam Actuositatem AA 19).

Há na Igreja uma riqueza e multiplicidade de dons e carismas que nela fazem brotar essa enorme variedade de propostas espirituais nas quais se manifesta a ação do Espírito Santo. A imprescindível formação doutrinária e espiritual do fiel encontra em tais propostas caminhos concretos, definidos, experimentados e aprovados pela competente autoridade eclesiástica.

5. A região onde o Senhor vos constituiu pastores abrange extensa área de terras brasileiras densa de florestas e de uma vasta rede de cursos fluviais, freqüentemente a única via de ligação, além da aérea, entre as várias localidades. Ante a baixa densidade demográfica, em proporção à superfície de cada Diocese, tendes, em contrapartida, necessidade de fazer frente aos desafios das migrações internas, do crescimento da população urbana atraída pelos pólos de desenvolvimento, da ação missionária em remotas regiões da floresta habitadas, por vezes, somente por indígenas.

“Dou graças ao meu Deus, por Jesus Cristo, em nome de todos vós” (Rm 1,8). Apropriando-me das palavras do Apóstolo das Gentes, é meu propósito agradecer-vos o diligente zelo pastoral unido ao sacrifício com que vos dedicais à causa do Evangelho. Ao mesmo tempo, minha ação de graças vai dirigida a todos estes missionários dos tempos modernos, religiosos e religiosas, que, junto à multidão de leigos das inúmeras Comunidades eclesiais, dão vida às vossas metas pastorais. Se não pudésseis contar com eles, ficaríeis de mãos amarradas. Os leigos especificamente, além de constituírem a maioria do Povo de Deus, têm, por maior razão, “parte ativa na vida e ação da Igreja. A sua ação é tão necessária nas comunidades eclesiais que, sem ela, o próprio apostolado dos pastores não consegue atingir plenamente o seu efeito” (Apostolicam Actuositatem AA 10).

Nas vossas relações quinqüenais este tema foi objeto de particular atenção, e, acertadamente, chamastes a atenção à questão do protagonismo dos leigos, ou ainda ao protagonismo dos leigos na evangelização urbana. Este protagonismo, tal como proposto pelo Documento de Santo Domingo (cf. n. 97 ss.) deve ser entendido no quadro da sua vocação específica. Como conscientizá-los da própria missão eclesial? De que modo poderão inserir-se na sociedade como “fermento na massa”?

Vós, caríssimos irmãos, em virtude do sacerdócio hierárquico, no qual agis na pessoa de Cristo-Cabeça, tendes como grave dever santificar, formar e dirigir o povo sacerdotal, como nos ensina o Concílio Vaticano II (cf. Presbyterorum Ordinis PO 7). A eficácia do trabalho apostólico do fiel leigo está intimamente associada à sua base espiritual, à sua vida de oração pessoal e comunitária, à freqüência na recepção dos Sacramentos, sobretudo a Eucaristia e a Penitência e à sua reta formação doutrinária. A comunidade eclesial se reúne em torno ao seu Bispo, e, em seu nome, em torno ao presbítero, não para uma simples troca de experiências ou para estabelecer um clima de reivindicação social, mas para escutar a Palavra da Verdade, o Evangelho de Cristo, transmitida sem distorções e com fidelidade ao Magistério da Igreja.

Dentro da ampla liberdade de iniciativa que cabe ao leigo agir, quer individual quer comunitariamente, há um denominador comum, o da própria fé conscientemente assumida e diligentemente divulgada, que não é possível eludir sem pôr em risco a autenticidade da crença professada. Aos fiéis leigos pertence-lhes, em particular e tendo em vista a sua participação no múnus profético de Cristo, “dar testemunho de como a fé cristã... seja a única resposta plenamente válida para as esperanças que a vida põe a cada homem” (Christifideles Laici CL 34). Por isso, foi também com grande esperança que, recentemente, quis acentuar “o papel [profético] que a mulher é chamada a desempenhar na edificação da Igreja” (cf. Carta aos Sacerdotes, Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVIII/1 [1995] 593). Como não recordar o heróico e perseverante testemunho dado por tantas mulheres – simultaneamente a homens de grande valor –, como primeiras transmissoras da fé no âmbito familiar? Nem poderia deixar de referir aqui, com imensa gratidão, a dedicação paciente e sacrificada de inúmeras religiosas ou leigas empenhadas na catequese das crianças em âmbito paroquial. Elevo fervorosas preces a Deus-Pai, para que as abençoe e as recompense!

6. Por outro lado, tenho conhecimento de várias iniciativas promovidas em algumas Igrejas locais do Brasil e destinadas à formação específica dos leigos. Conheço também quanto se dedicam nesse sentido alguns movimentos religiosos e associações que trabalham na mesma direção dos seus Bispos, trazendo inclusive de volta para a Igreja uma multidão desorientada, tanto pelo progressivo esvaziamento espiritual causado pelos males da sociedade moderna a que antes me referia, quanto pela proliferação das seitas.

Gostaria, porém, de chamar a vossa atenção para outro campo, de não menor importância e que, pelas dimensões continentais do vosso país, adquire um significado capital. Já tive ocasião de ressaltar a responsabilidade que cabe aos agentes pastorais no campo das Comunicações Sociais, tendo em vista a reta divulgação de valores éticos (cf. Discurso, Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVIII/1 [1995] 894 ss.). Hoje, minha atenção vai dirigida a alguns dos protagonistas deste fenômeno de massa.

Todos sabemos que a mentalidade das pessoas sofre uma influência decisiva destes veículos de comunicação. Neles se acha a chave do mundo de valores que vai reger as gerações de amanhã. Já o destacara o Concílio Vaticano II no Decreto Inter Mirifica: “Visto que a opinião pública exerce uma poderosa influência em todas as ordens da vida social... é necessário que todos os membros da sociedade cumpram os seus deveres de justiça e de caridade... e procurem formar e divulgar uma reta opinião pública”(n. 8).

Deveis, portanto, empenhar vossos fiéis leigos na evangelização dos meios de comunicação social e difusão cultural, incentivando também programas de promoção humana, adaptados às exigências de cada segmento social, e que sirvam de estímulo à solidariedade cristã. Como jornalistas, cronistas, articulistas, produtores de filmes para o cinema e a televisão, atores, músicos ou artistas plásticos, deverão unir seu talento pessoal, sua arte e seu prestígio no meio em que trabalham a um testemunho inequívoco de sua fé em Jesus Cristo. Cabe-vos, como Pastores, incentivar, apoiar e orientar a ação apostólica inserida nas realidades deste mundo tão complexo em que atuam estes vossos fiéis, a fim de que estes, mediante a força do Evangelho, possam se tornar verdadeiramente sal da terra e luz do mundo (cf. Mt Mt 5,13-14).

7. Gostaria de concluir este nosso encontro, estimados Irmãos, renovando-vos o meu agradecimento e o meu apreço. Quando regressardes às vossas dioceses, peço-vos que saudeis cordialmente os vossos sacerdotes, os religiosos e os fiéis. Já na perspectiva da festa de Pentecostes, na qual se comemora o dom do Espírito Santo aos Apóstolos, os primórdios da Igreja e o início da missão desta a todas as línguas, povos e nações, convido-vos a dirigir, uma vez mais, vossos olhares ao Círio pascal no qual brilha a luz, símbolo do Cristo Ressuscitado. Ante a imensidade da missão que vos é confiada, jamais vos deixeis subjugar pelo cansaço ou pelo desânimo. Jesus, o Redentor dos homens, caminha convosco e torna fecundos todos os vossos esforços. Compartilham as vossas ânsias apostólicas muitos colaboradores generosos, tanto entre o Clero e os Religiosos como entre os leigos.

A vós, venerados irmãos no Episcopado, a tarefa de conduzir este Povo de Deus à plenitude da resposta fiel ao desígnio divino. Acompanhe-vos neste árduo mas exaltante caminho, Maria, a Rainha do Céu, que, “como trouxe Cristo no seio”(cf. Regina Coeli), prossegue sua missão materna em relação aos fiéis, obtendo-lhes com a sua intercessão a vida divina do Ressuscitado.

A cada um de vós, bem como aos Sacerdotes, aos Religiosos e às Religiosas e a todos os leigos das vossas Comunidades, concedo com afeto a minha Bênção Apostólica.



                                                                   Junho de 1995

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DO BRASIL - REGIONAL LESTE 2 EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Terça-feira, 13 de Junho de 1995



Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. Acolho-vos fraternalmente neste momento de vossa Visita ad Limina Apostolorum e, em vós, saúdo cordialmente toda a Igreja de Deus que está no Brasil, em especial, nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A vossa visita traz-vos a procurar apoio nestas colunas da Igreja que são os Apóstolos Pedro e Paulo para um renovado impulso do vosso ministério pastoral. Os nossos encontros permitem-me conhecer melhor as vossas inquietudes e os vossos motivos de esperança, e confirmar os fortes laços que unem os Bispos com o Sucessor de Pedro e que põem as Igrejas particulares em comunhão com a Igreja universal.

Dou graças a Deus, por meio de Jesus Cristo, por todos vós que anunciais a Boa Nova na imensa “Terra de Santa Cruz”, aberta ao acolhimento fraterno de pessoas de todas as proveniências.
As distâncias e as dificuldades de comunicação não vos impedem de chegar até às mais afastadas comunidades de vossas dioceses para conhecer as ovelhas do rebanho, revelando vossas almas de pastores com o testemunho de vida simples e muitas vezes de pobreza pessoal, idêntica à de grande parte do vosso povo.

Escutando-vos, avalio o peso da vossa tarefa, mas ao mesmo tempo entrevejo o vosso ardor, a vitalidade das vossas comunidades na fé e a coragem desinteressada dos operários que trabalham na vinha do Senhor. Agradeço as palavras do Senhor Bispo de Guaxupé, Dom Geraldo Oliveira do Valle, que fazendo-se intérprete dos vossos pensamentos, me tornou partícipe dos projetos e das esperanças que animam o vosso trabalho apostólico.

2. A ocorrência da celebração dos trinta anos de publicação do documento conciliar Presbyterorum Ordinis, fruto da reflexão do Concílio Ecumênico Vaticano II, apresenta-se como oportuna ocasião para retomar o seu ensinamento sobre o sacerdócio ministerial. Convosco, desejo abordar hoje a importante questão da formação dos futuros presbíteros, tanto mais necessária quanto maiores e mais urgentes são as exigências da nova evangelização.

Nossos sentimentos devem ser os mesmos do Senhor que “vendo a multidão, comoveu-se de compaixão” e disse: “A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe”(Mt 9,37-38). A fraqueza humana, pela oração, se transforma com a graça divina em força, pois tudo podemos naquele que nos conforta (cf. Fl Ph 4,13).

É digno de louvor e de incentivo ainda maior tanto o esforço de vossa Conferência Episcopal que, através de organismos e comissões do clero, proporciona meios e instrumentos para que os vossos sacerdotes sejam dotados da melhor preparação, como também o sacrifício de bispos que não temem ficar privados temporariamente de alguns de seus colaboradores enquanto estes recebem capacitação acadêmica nas várias universidades, e de modo particular, nas de Roma.

3. É com alegre esperança que noto, em vosso País, um discreto mas constante aumento do número das vocações ao presbiterato. Embora ainda não se estenda de maneira uniforme a todas as regiões da vossa Nação, o fenômeno exige de todos os Pastores uma especial atenção, já que poderá fornecer elementos para uma reflexão pastoral, uma minuciosa revisão de opções já assumidas, bem como para a elaboração de novas estratégias e diretrizes.

Poderíamos perguntar-nos em que regiões aumentam as vocações, e quais as causas de tal aumento? Que conformação assume a pastoral vocacional local? A mesma interrogação pode ser formulada em modo inverso: lá onde ainda faltam as vocações, o porquê de tal fenômeno? A vocação sacerdotal é um dom de Deus, mediante o qual “participando, a seu modo, do múnus dos apóstolos, os presbíteros recebem de Deus a graça de serem ministros de Jesus Cristo no meio dos povos”(Presbyterorum Ordinis PO 2). Sabemos, porém, que tal dom deve ser acolhido por um coração atento e sensível ao apelo. Só uma pastoral vocacional que apresente claramente a figura do sacerdócio católico em toda a radicalidade das suas exigências, e que auxilie os jovens a ouvirem o apelo do Senhor e a responder-lhe livre e corajosamente, em plena fidelidade ao Magistério da Igreja e ao Sucessor de Pedro, tornará concreto o grande projeto da “nova evangelização, nova em seu ardor, em seus métodos e em sua expressão”(Discurso aos Bispos do CELAM, III, 9 de Março de 1983).

Para se enfrentar tão grande tarefa, será necessário dar a mais viva atenção a todas as fases que a pedagogia da Igreja prevê para o acompanhamento dos vocacionados, tanto na seleção dos candidatos e na formação e recepção das Ordens Sagradas, quanto na assim chamada formação permanente. Todo esse cuidado se torna indispensável para garantir a constante eficácia do ministério e para evitar os tristes fenômenos de defecção que ferem profundamente o coração de Cristo e da Igreja.

4. Ao dar novo impulso ao primeiro dever de vossa solicitude pastoral no cultivo e formação dos vocacionados, faz-se necessária uma especial atenção às motivações profundas que levam um jovem a bater à porta do Seminário.

Como não considerar a crise da família, ambiente no qual o jovem cresce e se desenvolve, e que deixa por vezes traços profundos e nem sempre positivos na sua personalidade? Ou ainda os conceitos de vida e de valores produzidos por uma cultura do permissivismo e do hedonismo, que formam como que uma mentalidade difusa, alheia quando não hostil ao espírito de renúncia, e de doação sem reservas que o sacerdócio exige?

Não seriam também objeto de atenta análise, os fáceis e frágeis entusiasmos de quantos fossem movidos ou por uma ilusória perspectiva de melhoria de vida social e econômica para o próprio futuro, ou por errônea interpretação do estado clerical e do exercício do ministério, entendido prevalecentemente sob o aspecto sociológico, com alinhamento político-partidário e seus conseqüentes conflitos?

É preciso um discernimento constante acerca da capacitação do jovem; discernimento que se transforma necessariamente em um permanente processo de formação psicológica, humana e espiritual, que se inicia com uma primeira seleção muito acurada. A Igreja tem um dever não só de caridade, mas de justiça, de não aceitar aqueles que, com sinais evidentes, demonstrem possuir distúrbios de personalidade que, se considerados de modo superficial durante a formação, poderão ter conseqüências funestas e transtornar a futura vida do ministro sagrado. A superação das dificuldades próprias do impacto ministerial com a multíplice dimensão do apostolado se fará com a humilde e sábia partilha da experiência de outros e com a dócil e confidencial comunhão com as próprias autoridades hierárquicas.

Não tenhais receio de serdes rigorosos na seleção: é o bem da Igreja e dos próprios jovens que o exige. É melhor ter poucos candidatos, mas com os quais se poderá iniciar um caminho formativo sério, do que ver cheios os seminários com candidatos que, na sua deficiência pessoal, tornam inviável a própria formação e dificultam a dos demais.

Em um País vasto como o vosso, é preciso estabelecer canais de comunicação entre os responsáveis pela seleção vocacional, os diretores dos seminários, e os próprios Bispos, de maneira a evitar que um candidato excluído de uma casa de formação por válidos e sérios motivos não seja aceito em outra, sem as devidas informações e um conhecimento detalhado das suas circunstâncias pessoais e das causas da exclusão anterior. Especial atenção deve ser dada à admissão de candidatos provenientes de outra região ou de um território não pertencente à própria diocese. Maior rigor ainda quando se trata de candidatos próximos à ordenação diaconal ou presbiteral.

5. Ao reconhecer os novos desafios a enfrentar, na preparação dos homens que se tornarão os sacerdotes do Terceiro Milênio da Cristandade, quis que fosse publicada a Exortação Pastores dabo vobis com a finalidade de orientar os pastores e todos os interessados na sua tarefa de revitalizar a preparação humana, espiritual, intelectual e pastoral dos seminaristas (cf. n. 42).

Tendo em vista que o sacerdote “tomado dentre os homens, é constituído em favor dos homens nas coisas que dizem respeito a Deus”(He 5,1), é necessário que o futuro ministro modele a sua personalidade humana “de modo a torná-la ponte e não obstáculo para os outros, no encontro com Jesus Cristo Redentor dos homens”(Pastores dabo vobis PDV 43): o sentido de urbanidade, de respeito pelos outros, de disponibilidade generosa e de boa educação social, tudo, enfim, deve ser orientado de maneira que ele possa atuar in persona Christi Capitis e no nome da Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica CEC 1548-1553).

Por sua vez, para que a nova evangelização dê frutos, a Igreja precisará de sacerdotes, cuja vida espiritual tenha sido forjada pela ascese e pela disciplina interior que lhes permita “viver intimamente unidos” a Jesus Cristo (cf. Decreto sobre a formação sacerdotal Optatam Totius OT 8). Por isso, o Concílio indicava aos formadores que ensinassem aos seminaristas “a procurar Cristo por meio da fiel meditação da Palavra de Deus; pela participação ativa nos mistérios sacrossantos da Igreja, sobretudo na Eucaristia, e na Liturgia das Horas” (Optatam Totius OT 8). Na verdade, toda a vida do sacerdote está voltada para a Liturgia, “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte donde emana toda a sua força”(Constituição Sacrosanctum Concilium SC 10); por isso, “nos seminários e casas religiosas de formação, a disciplina da Sagrada Liturgia deve ser tida entre as disciplinas necessárias e nas faculdades de teologia entre as principais” (Constituição Sacrosanctum Concilium SC 16).

Por outro lado, o Concílio ressaltava que “no rito sagrado da ordenação, os presbíteros são admoestados pelo Bispo que "sejam amadurecidos na ciência". ...A ciência, porém, deve ser sagrada, porque é tomada de uma fonte sagrada e se orienta a um fim sagrado” (Presbyterorum Ordinis PO 19). Esta é a grande importância da formação intelectual, destinada a favorecer a compreensão da Fé. A Filosofia ensinada seja verdadeiramente base para o estudo teológico (cf. Optatam Totius OT 15). Os professores de teologia, escolhidos cuidadosamente, não ensinem simplesmente correntes de opinião, mas tenham o cuidado de inseri-las na Doutrina da Igreja. Os futuros sacerdotes não são chamados a ser divulgadores de opiniões teológicas, mas testemunhas qualificadas da fé que recebemos do Depósito da Igreja, e que devemos transmitir fielmente. “Proceda-se – como já foi dito – de modo que nos encontros sacerdotais (e, isto vale também na preparação dos futuros sacerdotes) os documentos do Magistério sejam estudados comunitariamente, sob a guia de uma autoridade competente, de maneira a conseguir, na pastoral diocesana, a unidade de interpretação e de praxe que tanto ajuda à obra de evangelização” (Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, n. 77).

Permiti-me recordar-vos, enfim, que no período seminarístico, o estudo tem a predominância sobre a iniludível necessidade de prática pastoral. Esta, porém, deverá ser praticada como conseqüência dos estudos, e integrada nestes, como estágio dirigido, e visando preparar a futura atividade do ministro ordenado. Ela nunca poderá ser desculpa para não se dedicar em profundidade aos estudos (Pastores Dabo Vobis PDV 51).

6. Uma vez, pois, feita com todo o cuidado a autêntica seleção dos vocacionados, será necessário, com não menor zelo, cuidar da seleção e preparação dos educadores e formadores nos seminários e noviciados em vista daquela serena mas previdente, sólida e vigorosa formação humana, cultural, espiritual e ascética. Para a boa formação ao ministério pastoral exigem-se formadores bem preparados cultural e disciplinarmente, que sejam estáveis e não improvisados ou ocasionais e temporâneos. Por isso, convém que eles sejam escolhidos entre os melhores do nosso clero, mesmo se, para isso, tenhamos que reduzir outros campos da pastoral diocesana.

Grande cuidado se impõe, também, na escolha dos formadores espirituais. Sejam também psicologicamente capazes de conquistar a confiança e a abertura de ânimo dos candidatos, para orientá-los com prudência e equilíbrio. Ainda que os superiores disciplinares não devam invadir o campo do fórum interno, têm, no entanto, o dever de contribuir para formar os candidatos espiritual e asceticamente desenvolvendo uma metódica ação de iluminação sobre as reais implicações morais e espirituais ligadas ao desempenho do ministério sacerdotal.

7. Antes, pois, de decidir-se pela admissão às Ordens Sagradas, ocorre certificar-se, para ter certeza moral, de que o candidato tenha consciência clara daquela que será sua vida futura e que tenha sido formado para uma escolha livre e pessoal em base à própria capacidade natural e ao auxílio da graça. Importa, pois, uma especial atenção ao exame completo do candidato, sobretudo antes de admiti-lo às Ordens, com a escrupulosa e religiosa observância dos assim chamados “escrutínios”(Código de Direito Canônico, cân. 1051) para se comprovar a idoneidade canônica para o ministério sagrado (Código de Direito Canônico, cân. 1029).

A gradualidade na formação supõe um aumento nas exigências, à medida em que se aproximam as etapas de decisão definitiva. O diaconato deve ser ponto-chave, como ingresso nas fileiras clericais, momento de empenho definitivo pela escolha do celibato eclesiástico. Neste sentido especial atenção seja dada à virtude da castidade e ao amadurecimento em plenitude da personalidade dos formandos. A constatação das virtudes e dotes requeridos se fará na superação das previsíveis dificuldades pessoais ligadas à solidão, com a exemplar observância da vida celibatária, sustentada e alimentada com a oração, a freqüência aos sacramentos, a comunhão presbiteral e a dedicação ao trabalho pastoral.

Não posso não chamar a vossa atenção para a responsabilidade pessoal do Bispo, ao impor as mãos sobre o candidato, ordenando-o diácono ou presbítero. Nós responderemos diante de Deus, e diante da Igreja, pelas ordenações que realizamos. Neste contexto, é importante reafirmar uma vez mais a necessidade do Seminário Maior como lugar de formação sacerdotal, casa própria de formação “ambiente normal, inclusive materialmente, de uma vida comunitária e hierárquica”(Pastores dabo vobis PDV 60), superados outros tipos de experiência formativa, que já se demonstraram insuficientes e insatisfatórios.

8. Tendo, pois, em justa consideração as dificuldades acima elencadas que mudam de alcance e de gravidade não só em relação ao ambiente do ministério, mas também em relação às características específicas do “ministro sagrado”, será necessário que a vossa providente atenção, veneráveis Irmãos, considere, além daquela que temos definido como formação inicial, também a assim chamada formação permanente dos mesmos ministros sagrados.

Em 1992, os Padres sinodais justificaram a sua necessidade, “designando-a como "fidelidade" ao ministério sacerdotal e como "processo de contínua conversão"”(Pastores dabo vobis PDV 70). Sei que muitas dioceses promovem encontros regulares do Bispo com os sacerdotes jovens, que são acompanhados de perto, de várias maneiras, durante os primeiros anos de sacerdócio, e desejo manifestar minha palavra de incentivo e de apoio. O mesmo se diga da formação dos sacerdotes com anos de experiência ministerial, inclusive dos anciãos: acompanhá-los é um dever de justiça e de fina caridade, pois trata-se de ajudá-los a redescobrir continuamente “a veia donde nasce a espiritualidade sacerdotal” (Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros,, n. 94) e o sentido da própria consagração a Deus. Um sacerdote santo, santificará o rebanho que lhe foi confiado; um sacerdote incumpridor dos seus deveres, arrasta-lo-á, com o seu mau exemplo, primeiro ao abandono religioso e, depois, – Deus não o permita! – ao indiferentismo religioso, possível prelúdio da perda da fé.

A Declaração Final do primeiro Congresso Latino-Americano de Vocações realizado em 1994, reafirmou a convicção de que toda vocação é primeiramente obra do Espírito de Jesus Cristo. Isto exige da Igreja, e dos agentes da Pastoral Vocacional uma atitude orante. Maria Santíssima, em sua escuta, vivência e resposta dada a Deus é modelo tanto do vocacionado, como do agente de Pastoral Vocacional. A Igreja e o mundo têm necessidade de sacerdotes que ardam de zelo e se dediquem de corpo e alma à causa do Reino: “Eu vim trazer fogo à terra e como gostaria que estivesse aceso!”(Lc 12,49).

Estamos às portas do Terceiro Milênio cristão. Serão os sacerdotes a carregar à frente a “tocha” da luz, da vida e do calor que emanam do coração de Deus. A ordem do Senhor – “sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, na Samaria e por toda a parte até os confins da terra” (Ac 1,8) – ainda está longe da realização completa. Por isso é urgente que os cristãos sejam imbuídos pelo espírito da nova evangelização para a transformação do ambiente em que vivem, levados pelo entusiasmo de nossos ministros sagrados.

9. Queridos Irmãos no Episcopado, retornai à vossa amada Pátria com a certeza da minha estima e do meu afeto pelo vosso povo inteiro. Recordai aos vossos sacerdotes, aos seminaristas, aos religiosos e aos leigos o meu amor em Jesus Cristo, e dizei-lhes que em Roma “damos sempre graças a Deus por todos eles, lembrando-nos sem cessar deles nas nossas orações”(1Th 1,2). Ao confiar os católicos do Brasil à amorosa intercessão da Virgem de Aparecida, concedo de bom grado a minha Bênção Apostólica como penhor da unidade e da paz no seu Divino Filho.




Discursos João Paulo II 1995