Discursos João Paulo II 1995 - Terça-feira, 13 de Junho de 1995

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DO BRASIL - REGIONAL OESTE 1 E 2


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 24 de Junho de 1995



Venerados Irmãos no episcopado

1. Sinto-me feliz em vos acolher por ocasião da vossa visita quinquenal aos Túmulos dos Santos Pedro e Paulo. Como sucessores dos Apóstolos, cujo testemunho do Senhor Ressuscitado é o fundamento seguro da proclamação do Evangelho por parte da Igreja, em todos os tempos e lugares, vós viestes a Roma para reconfirmar a vossa comunhão na fé e na caridade com o Sucessor de Pedro. Saúdo a vós Bispos dos Regionais Oeste 1 e 2, e abraço de coração todos os sacerdotes, os religiosos e os fiéis leigos das Dioceses das Províncias eclesiásticas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Agradeço ao Senhor Arcebispo de Cuiabá, Dom Bonifácio Piccinini, as cordiais palavras de saudação. Juntamente com S. Paulo, “dou graças incessantemente por vós ao meu Deus, pela graça que Ele vos concedeu em Jesus Cristo... o Qual vos confirmará até o fim” (1Co 1,4 1Co 1,8).

No reino da fé, a vossa peregrinação a esta Santa Sé representa um encontro com as origens mesmas da Igreja: a missão dos Apóstolos e a sua confissão de Jesus como Filho de Deus e Salvador do mundo. Segundo o plano do Pai, foi em Roma que Pedro e Paulo selaram a própria pregação com o mais eloquente dos testemunhos, a imitação da livre abnegação de Cristo: Pedro, aqui junto da Colina Vaticana, e Paulo, fora dos muros da cidade, ao longo do caminho para Óstia. Nós, que somos os sucessores dos Apóstolos, escutamos Cristo que nos dá o mesmo mandato que lhes deu: “Ide, pois, ensinai todas as nações”(Mt 28,19). Peço a Deus para que a vossa visita ad Limina vos encoraje na vossa confissão do Senhor e no empenho ao Seu serviço.

2. “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito”(Mt 28,19).

Aproveitando o encontro de hoje, quereria considerar juntamente convosco, caros Irmãos no episcopado, o mandato em que Cristo não manifesta apenas um desejo, nem fórmula ou conselho; pelo contrário, utiliza a forma verbal “sede” que indica um mandato imperativo, sem limitações, dirigido a todos: quando pronunciou estas palavras no meio do campo, estariam a escutá-l’O agricultores e donas de casa, artesãos, mendigos, pequenos comerciantes, doutores da lei, crianças, sacerdotes, doentes... E detrás deles o Senhor veria todos os homens de todas as épocas, nacionalidades e profissões. Ver-nos-ia a nós!

O mundo em que vivemos está atravessando uma grande mudança histórica. Transformam-se os rostos dos Países, o progresso tecnológico faz passos gigantescos na difusão do bem-estar e da aproximação entre os povos, as sociedades se adaptam às novas exigências condizentes com os direitos inalienáveis de todo o ser humano, mas não muda nem perde de atualidade aquele mandato imperativo de Cristo: “Sede perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito”. Hoje, a Igreja sente-se solicitada pela força do Espírito Consolador a difundir com mais força esta mensagem do Redentor dos homens.

Não obstante as vozes dos profetas do pessimismo, quereria recordar mais uma vez o que o Concílio Vaticano II declarou solenemente: “Todos os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano”(Lumen Gentium LG 40). A santidade, já presente e atuante na fase terrena do caminho eclesial, não é um privilégio de uns poucos ou de uma determinada porção da Igreja, mas uma chamada dirigida a todos os membros do povo de Deus, sem exceção: bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos.

3. Cada visita “ad Limina” é sempre um momento especial de reflexão acerca dos principais temas que considerei oportuno abordar, e muitas vezes para retomar a consideração de outras mensagens destinadas a cada Igreja particular na sua especificidade, pois “o amor de Cristo nos constrange”(2Co 5,14). Por isso, foi com muita esperança que concluía a minha homilia em Florianópolis, por ocasião da Beatificação da Madre Paulina: “O Brasil precisa de muitos santos! A santidade é a prova mais clara, mais convincente da vitalidade da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares”(Homilia em Florianópolis, 5, 18 de outubro de 1991).

Como não lembrar aqui a figura do “Apóstolo do Brasil”, o Beato José de Anchieta, que tive, com a graça de Deus, a feliz oportunidade de beatificar na ocasião da minha primeira viagem à vossa terra? A que serviu sua incansável atividade apostólica? “Havia uma visão e um espírito: a visão do homem resgatado pelo sangue de Cristo; o espírito do missionário que tudo faz para que os seres humanos... atinjam a plenitude da vida cristã” (Homilia em honra do Beato José Anchieta, 3, 3 de julho de 1980) .

O que queria Jesus de Pedro quando o chamou para ser o Príncipe dos Apóstolos?

“Jesus, fixando nele o seu olhar, disse: "Tu és Pedro, filho de João; chamar-te-ás Cefas, que quer dizer Pedra"(Jn 1,42). O Evangelho não nos dá a conhecer os pensamentos íntimos do futuro Apóstolo, que, aliás, seriam muito menos úteis, do que as palavras de Cristo. Uma alma apresenta-se diante de Jesus, e Jesus atravessa-a de lado a lado, advinha-a, dá-lhe um nome, consagra-a e, de certo modo, toma posse dela. De maneira análoga, Deus tem os seus planos sobre cada um de nós, porque todos nós somos, da parte d’Ele, objeto de uma vocação especial. Ao chamar-nos para uma missão, Deus não suprime a nossa atividade; estimula-a. Chama-nos, sem dúvida, mas nós temos que corresponder. Pelo nosso batismo, todos nós somos “designados” santos, como São Paulo chamava os seus irmãos. Não “feitos” santos naquele instante, mas chamados à santidade e capacitados para chegar a ela O Senhor pergunta-nos: “Queres entrar na vida?” Queres participar do plano concebido pelo Autor da Vida? Queres realizar a tua parte na obra divina da vida?

Queres compreender e dirigir a tua vida, levá-la à plenitude e receber em troca a plenitude da Vida?

Caríssimos Irmãos no episcopado, que outro objetivo pode querer o cristão, quando está totalmente possuído do espírito de Cristo?

4. É evidente que os religiosos e religiosas são chamados à santidade de uma maneira premente. A via dos conselhos evangélicos, com efeito, é muitas vezes chamada “via de perfeição”, e o estado de vida consagrada “estado de perfeição”. A vocação religiosa é o grande problema da Igreja no nosso tempo. Precisamente por isso é necessário reafirmar com força que ela pertence àquela plenitude espiritual que o mesmo Espírito – o espírito de Cristo – suscita e plasma no Povo de Deus. Sem as ordens religiosas, sem a vida “consagrada”, mediante os votos de castidade, pobreza e obediência, a Igreja não seria plenamente ela mesma. Os religiosos, com efeito, dizia o Papa Paulo VI, “pelo mais profundo do seu ser, situam-se no dinamismo da Igreja, sequiosa do Absoluto de Deus e chamada à santidade” (Evangelii Nuntiandi EN 69). De resto, em distintos modos, o recente “Sínodo sobre a Vida Consagrada” quis reafirmar que a vida consagrada é o testemunho público da vocação à santidade, vivendo na Igreja a Comunhão para a Missão, através do anúncio constante e alegre das verdades do Reino, reveladas por Jesus.

É preciso, porém, chamar a vossa atenção sobre a santificação das pessoas comuns que compõem o Povo de Deus. A antiquíssima tradição eclesial – com profundas raízes evangélicas – de considerar a santidade como um direito e um dever de todos os fiéis, foi aprofundada na primeira metade deste século e retomada, significativamente, pelo Concílio Vaticano II, até o ponto de se poder dizer que o chamado universal à santidade constitui como que o eixo central de todos os seus ensinamentos. “Todos na Igreja, tanto os que pertencem à hierarquia como os que são apascentados por ela, estão chamados à santidade, conforme o que diz o Apóstolo: "Porque esta é a vontade de Deus, vossa santificação" ”. (1Th 4,3) (Lumen Gentium LG 39).

Vós, como Pastores, deveis inculcar esta verdade em todos os vossos fiéis: na Igreja há uma gradação hierárquica e diferentes estados, mas há também uma unidade radical: o direito e o dever de procurar ser santo, de amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças; porque a todos nós – sacerdotes, religiosos e leigos – nos foi dito: “sede santos como o meu Pai celestial é Santo”.

Recentemente tive ocasião de reafirmar, que nós sacerdotes temos “a obrigação de tender para a santidade, a fim de sermos "ministros de santidade" para os homens e mulheres confiados ao nosso serviço pastoral” (Carta aos Sacerdotes, 8, 25 de Março de 1995). Igualmente, manifestei o desejo que todos os anos, se possível, na festividade do Sagrado Coração de Jesus, meditem sobre esse comovente apelo que Jesus lhes faz para a mais exímia santidade, em uma “Jornada pela Santificação do Clero” (Carta aos Sacerdotes, 8, 25 de Março de 1995). No que tange a vida religiosa, dada a sua importância, desejo reservar um espaço maior por ocasião da visita “ad Limina” do próximo grupo de Bispos. Hoje cabe aos leigos uma consideração apropriada, tendo presente que pertencem à grande maioria do Povo de Deus.

5. Os leigos se santificam no meio do mundo.

É o que afirma o Concílio Vaticano II: “A índole secular é própria e peculiar dos leigos... Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus.Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência” (Lumen Gentium LG 31).

Quereria chamar a atenção sobre algo extremamente significativo que pouco depois se acrescenta: “Todos os fiéis nas diferentes condições de sua vida, nas ocupações e circunstâncias, e precisamente através de todas estas coisas, podem santificar-se dia a dia cada vez mais” (Lumen Gentium LG 41). Os religiosos que vivem no mundo mas com uma especial consagração a Deus, nunca poderão pensar que os leigos podem aspirar à santidade apesar das difíceis condições que encontram no mundo, mas, pelo contrário, deverão considerar que precisamente através dessas dificuldades é que eles vão se santificar.

Como toda a realidade terrestre é assumida em Cristo dentro da economia da salvação, assim, de maneira específica, o trabalho é uma forma muito valiosa de participação na Cruz redentora de Cristo. “Todo trabalho, seja ele manual ou intelectual, anda inevitavelmente unido à fadiga”(Laborem Exercens LE 27).

Representa para mim uma alegria imensa evocar com frequência a todos os homens, mulheres, anciãos e jovens espalhados pelo Brasil afora, abertos em leque nas mais diversas profissões, santificando-se nos trabalhos mais variados: as donas de casa que se dedicam com amor às tarefas estafantes e aparentemente monótonas do lar, tão pouco reconhecidas nos dias de hoje; os estudantes que alegremente se enfronham nas diuturnas atividades escolares, às vezes tão desprovidas de estímulo; os mineiros respirando o ar poluído no fundo dos túneis ou a céu aberto, levando com garbo a sua cruz de cada dia; os pescadores que, com esperança, afrontam os perigos do mar; os agricultores, os pequenos lavradores, os criadores de gado e, por exemplo, os peões das vossas imensas extensões do Planalto Central e da Planície do Pantanal; os operários de fábrica, os homens que fazem um trabalho braçal, executado com intenção reparadora, por vezes em condições excepcionalmente difíceis; enfim, os que se desgastam agarrados ao banco do trabalho intelectual, pensando em colocar Cristo no cimo do saber humano; e os doentes que se debatem contra a dor - isso é também trabalho – em hospitais às vezes tão carentes de calor humano, oferecendo o seu sofrimento pela Igreja. A todos quero lembrar que o trabalho humano leva em si “uma parcela da Cruz de Cristo”, e, se realizado com amor, há como “um vislumbrar da vida nova, do novo bem, um como que anúncio dos céus novos e da nova terra, os quais são participados pelo homem e pelo mundo precisamente mediante o que há de penoso no trabalho”(Laborem Exercens LE 27).

Não poderia deixar de recordar aqui que o valor intrínseco do trabalho humano deve ser reconhecido pela sociedade e pelos Estados, que se esforçarão por transformar em leis justas a centralidade do homem com relação ao capital e ao lucro, garantindo assim uma justa remuneração, que assegure a estababilidade da família constituída, a possibilidade da educação da prole e o gozo do legítimo lazer. Justamente porque o trabalho dignifica o homem, ele não pode ser considerado mero meio de produção, sujeitando o trabalhador à condição de simples mão-de-obra. Também aqui, é fundamental retomar, no âmbito da evangelização e do testemunho da Igreja, os valiosos ensinamentos da Doutrina Social da Igreja, já repetidas vezes enunciados por meus Predecessores e por mim mesmo desenvolvidos em algumas de minhas Encíclicas.

6. Aqui aparece numa luz clara e numa perspectiva muito ampla a tarefa do Bispo como pai espiritual do Povo de Deus. O Concílio Vaticano II falava do auxílio que a Igreja se esforça por prestar à atividade humana, através dos cristãos: se a Igreja em todos os seus membros é autêntica, então “só pela sua simples presença, com todos os dons que possui é uma fonte inesgotável daquelas virtudes de que o mundo de hoje tanto precisa” (Gaudium et Spes GS 43).

Para que isto aconteça, há duas exigências: o testemunho, primeiramente dos pastores, e o seu ensinamento claro e explícito. “Todos os pastores (Bispos, presbíteros) estejam lembrados de que, com o seu comportamento cotidiano e sua solicitude, apresentam ao mundo a face da Igreja, por onde os homens julgam a força da verdade da mensagem cristã”(Gaudium et Spes GS 43).

Mas tudo isto depende duma doutrina sem meias-verdades. Os Bispos, aos quais foi confiada a missão de dirigir a Igreja de Deus, “juntamente com os seus presbíteros, preguem a mensagem de Cristo de tal modo que todas as atividades terrestres dos fiéis sejam banhadas pela luz do Evangelho”(Gaudium et Spes GS 43).

Não escapa aqui, como certamente compreenderão, o imenso panorama que, deste modo, assumirá a tarefa evangelizadora. Vale a pena reafirmar o fato de que “sem santidade de vida todos os talentos e empreendimentos devotados à propagação do Reino de Deus serão pouco eficazes”(cf. Discurso aos Bispos do Oceano Pacífico em visita "ad Limina Apostolorum", 3, 29 de Outubro de 1993). Mas quando a fé, a esperança e o amor estão bem arraigados no coração humano, quando se tornam uma vivência coerente, transmitem-se facilmente, com a mesma naturalidade e eficácia com que a seiva brota da fibra lenhosa.

Inculturar também significa falar de coração a coração, do cerne da alma ao fundo cultural que os homens levam gravados no íntimo do seu ser. A comunicação da verdade – constata-se todos os dias – é o melhor método de inculturação, porque a verdade está nas raízes mais profundas de cada ser humano, independentemente de raça, língua ou nação.

Por esta razão “a síntese vital que os fiéis souberem fazer entre o Evangelho e os deveres quotidianos da vida, será o testemunho evangelizador mais maravilhoso e convincente”, e o apostolado individual mais rico e eficaz (Christifideles Laici CL 34).

Meu pensamento vai dirigido à família cristã brasileira, que apesar dos vossos esforços através da Pastoral da Família, está submetida a todo o tipo de pressão laicista, que mais não visa senão a desagregação daquele núcleo fundamental da sociedade. Não poderia deixar, portanto, de mencionar aqui o papel das Universidades no Brasil, especialmente das Universidades Católicas na promoção do diálogo entre o Evangelho e a sociedade de hoje. Por isso, volto a reafirmar agora a missão de transcendental importância que sobretudo as Universidades Católicas têm na difusão do valor da cultura moderna na medida em que zelam, com estudos apropriados, pelo respeito da família, “célula primária de toda a cultura humana”(cf. Ex corde Ecclesiae, 45). Reconheço, como de resto já tive ocasião de declarar em Salvador da Bahia (cf. Discurso aos homens de cultura em Salvador da Bahia, 5, 20 de Outubro de 1991), o esforço do Episcopado brasileiro na promoção de uma pastoral universitária séria e um diálogo consistente entre fé e cultura. Porém, ante o fenômeno inquietante dos atentados contra a unidade familiar e, especialmente, contra a vida, torna-se urgente uma atenta evangelização que faça “florescer e desenvolver-se uma convicta e responsável participação e "pertença" à Igreja enquanto "comunidade de fé"” (Veritatis Splendor VS 109).

7. Queridos Irmãos Bispos, antes de concluir quero agradecer-vos muito calorosamente a vossa fidelidade a nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e o vosso profundo sentido de comunhão com a Igreja universal. Passaram-se quase quatro anos desde a minha segunda visita ao vosso País. Aquela viagem ainda permanece viva na minha mente. E não é raro que ainda receba cartas do Brasil, recordando aqueles dias de encontro de oração. Permiti-me que hoje evoque de novo o afeto com que os vossos Bispos me expressaram – em nome de todo o Episcopado brasileiro – “o vivo desejo de comunhão com o Sucessor de Pedro”. Eu vos agradeço esta manifestação de fé e de adesão à Sé de Pedro e peço a Deus que a faça florescer mais e mais em realidades fecundas. Confirme-vos o Espírito neste pensamento estimulante! Com a minha Bênção Apostólica.



                                                             Julho de 1995

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO BRASIL


DO REGIONAL NORDESTE 2


EM VISITA "AD LIMINA APOSTÓLICA"


Terça-feira, 11 de Julho de 1995



Estimados Irmãos no Episcopado

1. E com muito prazer que vos dou as boas-vindas, como Pastores do Regional Nordeste 2, por ocasião da vossa visita “ad Limina”. Agradeço vossa visita, que é visita aos túmulos dos apóstolos. Com alegria quero saudar cada um dos Bispos aqui presentes, em sua qualidade de sucessores dos apóstolos que “estão obrigados, por instituição e preceito de Cristo, à solicitude sobre toda a Igreja” (Lumen Gentium LG 23). Por vosso intermédio, posso também dirigir-me aos queridos sacerdotes, religiosos e leigos das Províncias eclesiásticas de Maceió, Natal, Paraíba, Olinda e Recife, com o fim de assegurar a minha proximidade espiritual e o meu afeto: “Que o Deus da constância e da consolação vos conceda que tenhais uns para com os outros os mesmos sentimentos segundo Jesus Cristo, para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”(Rm 15,5-6). Agradeço de coração as palavras que Dom Edvaldo Gonçalves Amaral quis dirigir-me: nelas vejo refletidos vossos sentimentos de afeto e de união com o Vigário de Cristo. De novo, muito obrigado!

2. Graças ao Espírito que “santifica e governa todo o corpo da Igreja”, vejo-vos como “Mestres da perfeição” em cada uma das vossas Igrejas particulares, aplicando-vos a “promover a santidade de seus clérigos, religiosos e leigos, segundo a vocação peculiar de cada um” (Christus Dominus CD 15).

Os senhores trazem para o encontro com o Papa vossa rica experiência, “relatando tudo o que Deus fez junto com cada um” (cf. At Ac 15,4) em seu pastoreio. Este nosso encontro, além de dar testemunho da vitalidade de cada Igreja particular, dos desafios a serem enfrentados e das dificuldades na ação pastoral, acontece num momento significativo. De fato, ainda permanece viva em nossa memória o IX Sínodo dos Bispos, subordinado ao tema “A Vida Consagrada e sua Função na Igreja e no Mundo”. Todos vós certamente lembrar-vos-eis da Mensagem Final dos padres sinodais, para que a vida consagrada continue manifestando-se como “presença viva do Espírito... espaço privilegiado de amor absoluto a Deus e ao próximo, testemunho do projeto divino de fazer de toda a humanidade, dentro da civilização do amor, a grande família dos filhos de Deus”. É pois minha intenção apropriar-me destes auspícios, para refletir convosco alguns dos aspectos mais importantes deste dom que a Vida Consagrada constitui para a Igreja.

3. Antes de mais, é digno de ser mencionado o marco representado pela presença no Sínodo de Bispos e Superiores de Congregações religiosas, masculinas e femininas, de todos os Continentes, a expressar seu apreço para com a Vida Consagrada, dom singular do amor de Deus à sua Igreja. Afloraram ali não poucas preocupações diante dos tempos atuais com seu secularismo, com sua fé tantas vezes enfraquecida, e, às vezes, de uma busca de maior clareza quanto à identidade da Vida Consagrada.

Por outro lado, pude constatar em muitos dos participantes a experiência comovedora dos percalços sofridos, e que continuam sofrendo, devida à opressão e toda forma de violência com seus atrozes sofrimentos psíquicos e físicos, até mesmo com a doação da própria vida de inúmeros coirmãos. Como não lembrar então aquela experiência dos apóstolos que, ao saírem do Sinédrio e do cárcere, “se regozijavam por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo Nome (de Jesus)” (Ac 5,41)? Possa este testemunho servir de estímulo para os países que não conheceram perseguição e onde não raro, mesmo entre muitos consagrados, a alegria e o vigor da fé, sob muitos aspectos, correm o risco de definhar.

Não há dúvida que o Sínodo enviou a toda a Igreja uma mensagem de otimismo e de confiança. Eu mesmo tive a ocasião de comprová-lo na solene concelebração eucarística quando do encerramento daquela Assembléia sinodal. A lembrança dos Fundadores e Fundadoras de Congregações religiosas do passado, dos séculos mais recentes e do presente, muitos deles elevados à glória dos altares, atestam a perene vitalidade da Igreja Católica, e nos certificam a presença inefável do Espírito do Senhor a fecundar continuamente os caminhos da redenção humana. “Que seria o mundo, antigo e moderno, sem estas figuras – e aquelas de tantos outros? Eles aprenderam de Cristo que "o seu jugo é suave e o seu peso leve" – e ensinaram-no aos outros”(cf. Mt Mt 11,30) (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVII/2 [1994] 572).

Precisamente por isto é que, com o espírito de quem se alegra com os que estão alegres (cf. Rm Rm 12,15), desejo convidar-vos a vós, e convosco toda a Igreja no Brasil, a repensar com viva esperança nas perspectivas que nos foram abertas, e a empreender as iniciativas para renovar em vosso país tão incalculável dom de Deus, como é o da Vida Consagrada.

4. Para robustecer a Igreja de seu Filho, o Pai chama alguns de entre os fiéis, para participarem mais de perto da santidade e da missão salvadora de Cristo. Os que abraçam a Vida Consagrada, atraídos por Jesus Cristo, procuram responder a esse singular chamamento do Pai eterno. Por seus votos, recebidos e confirmados pela Igreja, ligam-se mais intimamente a Jesus, e por seu testemunho querem atrair seus irmãos para que adiram mais facilmente à pessoa de Jesus e vivam a alegria do Evangelho. Nosso Venerável predecessor, Papa Paulo VI, dizia que a castidade consagrada testemunha “o amor preferencial para com o Senhor e simboliza, de maneira mais eminente e absoluta, o mistério da união de Corpo Místico com a sua Cabeça, da Esposa (a Igreja) com o seu eterno Esposo”(cf. Evangelica Testificatio, 13); desta forma, por uma entrega total e incondicional do seu coração e do seu ser, os religiosos revelam que Cristo, amado por eles sobre todas as coisas, é o eterno Esposo da Igreja, o único capaz de dar significado absoluto ao amor e ao afeto. Pela pobreza, livremente assumida, testemunha sua amorosa solidariedade com os pobres e deserdados; mas, antes de ser uma condição de vida, é opção de fé. Jesus foi o autêntico modelo do pobre, porque entregou de maneira radical a sua vida nas mãos do Pai. Só assim a sua pobreza se tornou um espaço desimpedido, no qual Deus pôde agir livremente. Opção por amor, a pobreza torna-se um sinal muito apreciado pelos “nossos contemporâneos, que interrogam os Religiosos com particular insistência” (Evangelica Testificatio, 16). Enfim, a obediência é sinal de renúncia aos projetos individuais; é liberdade para aderir a Cristo na busca exclusiva dos interesses que dizem respeito às obras do Pai (cf. Jo Jn 10,25), e sobretudo, é “entrar nos planos do Pai e capacidade de cumpri-los. Aceitando morrer ao próprio arbítrio, participa-se dos horizontes da mesma liberdade de Deus... Quem faz seus os interesses de Cristo tem necessariamente de se entregar, o mais possível, pela instauração do seu Reino. Neste contexto, uma obediência que significasse passividade ou falta de responsabilidade seria simplesmente um contra-senso”(cf. Instrumentum laboris, 54).

A Igreja que recebe os votos, ou a promessa da virgindade, vê na consagração algo que pertence à sua íntima natureza. Podem mudar as formas externas. Mas a Igreja, Esposa do Verbo divino, jamais pode deixar de cultivar em si a radicalidade da fé e do amor que se expressam na consagração. Pela vivência dos Religiosos e outros consagrados, a Igreja é diante do mundo, mais claramente sinal e certeza da futura bem-aventurança e da vitória sobre todas as formas de engano e escravidão.

5. Por outro lado, a oportunidade daquele encontro sinodal ajuda-nos a evocar também o transcendental significado da liturgia da ordenação episcopal. O texto sagrado, após a solene invocação do Espírito Santo, exorta o candidato a respeito de seus futuros deveres pastorais. E então a liturgia indica a fonte de onde vem a autoridade dos apóstolos, a fortaleza dos mártires, a fidelidade dos santos: tudo provém do Pai eterno! Assim conclui o texto citado: “em nome do Pai, de quem és imagem entre os fiéis; em nome do Filho, cuja missão de mestre, sacerdote e pastor exerces; e em nome do Espírito Santo que dá vida à Igreja de Cristo e fortalece nossa fraqueza”.

Com Jesus, e como Jesus, o Bispo deve ser imagem do Pai, no meio dos fiéis; ele, certamente, saberá sempre respeitar os assuntos internos de cada Congregação religiosa naquilo que é da competência dos Superiores Maiores ou naquilo que, pela isenção, está diretamente sob a vigilância do Papa. No entanto, o Bispo é, por ordem divina o pai espiritual de todo o Povo de Deus. “Mestres da perfeição, os Bispos apliquem-se a promover a santidade de seus clérigos, religiosos e leigos, segundo a vocação peculiar de cada um, lembrando-se da obrigação que têm de dar exemplo de santidade pela caridade, humildade e simplicidade de vida. Santifiquem de tal modo as Igrejas que lhes estão confiadas, que nelas brilhe plenamente o modo de sentir de toda a Igreja de Cristo”(Christus Dominus CD 15).

Com estas premissas, é necessário que nos interroguemos, com toda a perspicácia e sentido sobrenatural, como a vocação religiosa deva ser hoje ajudada a tomar consciência de si própria e a amadurecer; como deve “funcionar” a vida religiosa no conjunto da vida da Igreja contemporânea.

Já tive ocasião de mencionar a necessidade de estreitar sempre mais as relações entre as Ordens e Congregações religiosas com o Colégio episcopal, com os Bispos de cada Diocese e com as Conferências Episcopais (cf. Insegnamenti di Giovanni Paolo II, I [1978] 204). Por um lado, “o Bispo que preside a Igreja particular exerça seu regime pastoral sobre (toda) a porção do Povo de Deus a ele confiada... Devem, pois, todos os Bispos promover e guardar a unidade da fé e a disciplina comum a toda a Igreja, instruir os fiéis no amor de todo o Corpo Místico de Cristo” (Lumen Gentium LG 23). Por outro lado, os religiosos, onde quer que se encontrem, são com sua vocação, “para a Igreja universal”, através da sua vocação “numa determinada Igreja local”. Por isso, a vocação para a Igreja universal realiza-se no âmbito das estruturas da Igreja local.

Não é esta a doutrina do Concílio Vaticano II? Não foi naquela Magna Assembléia onde se assentou solenemente a doutrina segundo a qual as Igrejas particulares são formadas à imagem da Igreja universal, e “é nelas e por elas que a Igreja católica una e única existe”(Lumen Gentium LG 23)? Mas então os Religiosos devem ter uma consciência cada vez mais clara de que sua “isenção” os orienta de tal modo para a Igreja universal, que se constituam, também em nome da Igreja universal, exímios instrumentos da renovação constante e da santidade e unidade das Igrejas particulares; desta forma, evitarão cair na tentação de criar um clima de “igreja paralela”, à margem ou, pior, contra o Bispo, legítimo Pastor e Mestre da Igreja particular, na qual os religiosos se devem inserir, afetiva e efetivamente. Faço votos de que os Bispos e os Superiores Maiores retomem as orientações de “Mutuae Relationes” para favorecer a riqueza dos carismas e antepor a todos os interesses individuais e grupais o verdadeiro bem da Igreja particular e universal. A unidade com a Igreja universal, através da Igreja local: eis a vossa via!

6. Na Constituição dogmática sobre a Igreja, o Concílio Vaticano II declara que a vida consagrada, nas suas múltiplas formas, manifesta “a potência infinita com que o Espírito Santo maravilhosamente atua na Igreja” (Lumen Gentium LG 44). De igual modo, o Decreto do Concílio sobre a renovação da vida religiosa sublinha que foi “o impulso do Espírito Santo” que deu origem tanto à vida eremítica quanto à fundação das “famílias religiosas, que a Igreja de boa vontade escolheu e aprovou com a sua autoridade” (Perfectae Caritatis PC 1).

Quando na sua Igreja Jesus Cristo chama os homens e as mulheres a segui-Lo, faz sentir a sua voz e a sua atração por meio da ação interior do Espírito Santo, ao qual confia a tarefa de fazer entender o chamamento e de suscitar o desejo de Lhe responder, com uma vida completamente dedicada a Cristo e ao seu Reino. É Ele que desenvolve, no segredo da alma, a graça da vocação, abrindo o caminho requerido para que esta graça atinja o seu objetivo. É Ele o principal educador das vocações. É Ele o guia das almas consagradas no caminho da perfeição.

Foi assim no passado, assim é também hoje. Desde sempre na Igreja o Espírito Santo concede a alguns o carisma de Fundadores. Desde sempre faz com que, ao redor do Fundador ou da Fundadora, se reúnam pessoas que compartilham a orientação da sua forma de vida consagrada, o seu ensinamento, o seu ideal, a sua atração de caridade, de apostolado pastoral e de magistério.

Desde sempre o Espírito Santo cria e faz crescer a harmonia das pessoas congregadas, e as ajuda a desenvolver uma vida em comum animada pela caridade segundo a orientação particular do carisma do Fundador e dos seus fiéis seguidores. Foi sob esta perspectiva que o Concílio constatou que a variedade dos Institutos religiosos é como “uma árvore que se ramifica, esplêndida e múltipla, no campo do Senhor” (Lumen Gentium LG 43).

Por isso, a diversidade de carismas deve ser vivida pelos seus discípulos e discípulas, conservados zelosamente, aprofundados e desenvolvidos, em homogênea continuidade, ao longo dos tempos, seja qual for a circunstância histórica. Cada Instituto, com efeito, tem “seus fins e seu caráter próprios” (CIC 598), não somente no que concerne à observância dos conselhos evangélicos, mas também em tudo que se relaciona com o estilo de vida de seus membros (cf. CIC, CIC 598 § 2).

Como vos lembrareis certamente, este foi um dos temas que tive a oportunidade de considerar na minha segunda Viagem Pastoral por vossas terras. “Levando-se em conta – eu dizia naquela ocasião – que a formação inicial e permanente segundo o próprio carisma, está nas mãos do Instituto, a formação intercongregacional não pode suprir inteiramente a tarefa da formação permanente dos seus membros. Esta deve estar impregnada, em muitos aspectos, das características próprias do carisma de cada um dos institutos” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XIV/2 [1991] 928).

A conservação desta linha de fundamentação da vida religiosa, e as consequências que dela decorrem, motivam a necessidade de tornar a alertar acerca de certas iniciativas, no que diz respeito à formação intercongregacional, que estão a exigir uma correção de rumo. Há casos, não de fraqueza individual, mas de certa institucionalização de critérios que podem causar muito prejuízo à formação dos jovens e das jovens consagradas. Pode-se falar em “Cursos intercongregacionais para noviços” ou para noviças, separados entre si, mas não se pode falar de “Noviciado intercongregacional”. Além do mais, nenhum Superior Maior, nenhuma Superiora Maior, pode jamais abdicar de seu dever de ser o primeiro responsável pela introdução das gerações novas na maravilhosa experiência de Deus, concedida aos próprios fundadores. Não é possível admitir que hajam organizações intermédias para orientar de modo diverso os santos ideais da Vida Consagrada.

A prática recente, sancionada pelo Código de Direito Canônico nos cânones 708 e 709, reconhece a grande utilidade das Conferências de Superiores Maiores, que se associam para, em unidade de esforços, alcançarem mais facilmente o fim de cada Instituto e estabelecerem idôneos meios de coordenação e cooperação entre os mesmos, e destes com as Conferências Episcopais e com cada Bispo em particular. Note-se, porém, que tais Conferências regionais, nacionais ou internacionais, não podem constituir uma instância superior de governo da vida consagrada, já que, não dotadas de poder jurídico, devem servir à autonomia de cada Instituto e respeitar as funções próprias e indelegáveis dos seus respectivos Superiores.

Portanto, em quaisquer empreendimentos da Conferência Nacional dos Religiosos, os Superiores Maiores não podem se eximir de sua primeira e plena responsabilidade de vigias e mestres. Só assim, a CRB nacional – que, segundo as normas diretivas Mutuae Relationes, tem como fim principal “a promoção da vida religiosa no conjunto da missão eclesial” (Mutuae Relationes, 21) – pode se constituir numa grande ajuda nesta abençoada tarefa da formação contínua.

Esta ajuda não poderá desconhecer a doutrina conciliar sobre a vida consagrada, nem o constante ensinamento do Magistério da Igreja. Ao contrário, as atividades e programas da Conferência dos religiosos devem primar pelo reverente acatamento e pela especial obediência ao Sucessor de Pedro e às suas diretrizes, mais ainda por serem todos os consagrados a ele ligados de maneira especial por seu voto de obediência. Ademais, os programas devem levar em conta os carismas específicos de cada Instituto, respeitando-os integralmente. Afastar-se-ia de sua finalidade original uma Conferência de religiosos que se tornasse um mecanismo de pressão para a introdução de elementos contrários às sãs tradições e à legítima identidade dos diversos Institutos, subtraindo dos seus legítimos superiores o efetivo governo de suas Comunidades religiosas. As iniciativas tomadas em comum devem contribuir para fomentar a fidelidade e a santidade da vida consagrada. Só assim serão fecundas, porque abençoadas pelo Senhor, fonte de todo o bem e única razão de ser da variedade de carismas.

Neste contexto, é meu dever apostólico recordar que todas as iniciativas neste importante setor, tanto as que são promovidas pela Conferência nacional, como as demais, empreendidas pelas outras estruturas de coordenação regional ou local, devem estar sob a supervisão e a responsabilidade concreta dos Superiores Maiores e do Bispo diocesano – ou do Bispo delegado pelos Bispos da região. Estes têm uma responsabilidade objetiva e devem ter a possibilidade de um controle e de um efetivo acompanhamento.

Na formação das novas gerações de Religiosos ou outras pessoas consagradas, trata-se de algo sublime, onde acontece o sagrado diálogo entre a misteriosa graça de Deus e a consciência que, guiada pelo Espírito, se abre aos apelos de Deus.

A vossa autoridade, como pastores de um “pequeno rebanho”, está a serviço do amor e da vida em Deus. Não vos deixeis conduzir por um falso respeito, para não usar da própria autoridade, onde o bem espiritual o exija. Os Bispos amem sempre os Religiosos e Consagrados como expressão privilegiada da Igreja Santa, Esposa do Verbo eterno. Mas “como vigários e legados de Cristo, os Bispos governam as Igrejas particulares que lhe foram confiadas, com conselhos, exortações e exemplos, mas também com autoridade e com sacro poder... Este poder que eles pessoalmente exercem em nome de Cristo é próprio, ordinário e imediato” (Lumen Gentium LG 27), e serve para edificar a grei de Deus na verdade e santidade.

7. É meu propósito recordar, enfim, que os carismas religiosos “são peculiares dons do Espírito para o povo de Deus” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVI/2 [1993] 1362).

A Relação Final do Sínodo Extraordinário de 1985 afirmava que “a eclesiologia de comunhão é a idéia central e fundamental dos documentos do Concílio”. Favorecer uma comunhão eclesial mais intensa entre Religiosos, Clero e leigos, intensificando um específico e pluriforme intercâmbio de valores espirituais e apostólicos, ajudará não pouco essa eclesiologia da comunhão. Mas, de modo particular, vinculará os carismas religiosos a cada uma das Igrejas, onde se exprime a vocação e a missão dos leigos e do Clero diocesano, produzindo nelas o dinamismo e os valores com que os Religiosos respiram a universalidade da Igreja.

Não é esta precisamente uma das aspirações do V Congresso Missionário Latino-Americano que está para ter início em Belo Horizonte, e que quer vir a ser um estimulante acontecimento de animação missionária, destinado a pôr em evidência a Igreja particular como sujeito da Missão universal, favorecendo a participação tanto do Clero diocesano como de leigos missionários?

8. Gostaria de concluir este nosso encontro, estimados Irmãos, renovando-vos o meu agradecimento e o meu apreço. Quando regressardes às vossas dioceses, peço-vos que saudeis cordialmente os vossos sacerdotes, os religiosos e os fiéis. Dizei-lhes que o Papa reza por todos, e especialmente pelos mais necessitados: os pobres, os anciãos, os encarcerados, os doentes; ao mesmo tempo, o Papa reza pelas autoridades dos vossos Estados para que saibam zelar sempre pelo comum do povo que anseia pela paz e pelo bem-estar de cada Comunidade, e de modo particular na defesa da vida desde a sua concepção. Peço a Deus, enfim, que vos chamou a ser Pastores do seu rebanho, para que vos sustente na vossa tarefa em benefício do seu Povo. Confio todos vós e a Igreja inteira deste grande Regional à Virgem Aparecida, e concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.

                                                                  Setembro de 1995


Discursos João Paulo II 1995 - Terça-feira, 13 de Junho de 1995