Discursos João Paulo II 1997 - 19 de Abril de 1997

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS DA DIOCESE


DE SÃO MARINHO-MONTEFELTRO


19 de Abril de 1997



Caríssimos Irmãos e Irmãs de São Marinho-Montefeltro!

1. Viestes numerosos e alegres para me renovar a expressão da alegria comum pela reorganização da vossa Diocese, depois de anos de incerteza e de carácter provisório, não obstante o cuidado amoroso dos Pastores que governaram contemporaneamente a Diocese de Rimini e a de Montefeltro. A eles dirige- se o meu cordial agradecimento.

Saúdo e agradeço ao vosso Bispo, D. Paolo Rabitti, chegado à vossa Comunidade «toto corde», isto é, com coração grande, para vos ajudar a permanecer uma Igreja unida e fervorosa. Saúdo os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, as autoridades civis que vos acompanham e todos vós aqui presentes.

2. Caros Irmãos e Irmãs! Juntamente com o vosso Bispo, também eu vos digo: «Igreja de São Marinho-Montefeltro, levanta-te e caminha!».

Vós viveis num território complexo e diversificado. Tendes, em parte, uma natureza bastante incontaminada, mas necessitada de atenção ecológica, de regeneração do tecido social e ocupacional, de melhoramento de redes viárias, de restauração dos bens culturais que correm o perigo da degradação. E em parte — especialmente na República de São Marinho — assistis a uma vitalidade urbanística, comercial, turística, hospitaleira, diplomática que reclama uma «alma», isto é, uma sábia gradualidade e harmonia, para ser autêntica e duradoura.

Como cristãos, bem sabeis que deveis ser fermento no mundo e, portanto, não vos podeis subtrair ao empenho numa e noutra situação da Diocese, mostrando-vos tanto em Montefeltro como em São Marinho cristãos presentes, empreendedores e coerentes. O Evangelho é o recurso para qualquer situação. Os crentes são chamados a ser para a sociedade aquilo que a alma é para o corpo: fonte de vitalidade, de verdade e de honestidade. Como os antigos monges tornaram cultiváveis as vossas terras e reanimaram com o seu trabalho os vossos montes, vós, cristãos de hoje, ponde-vos com empenho a cultivar os ânimos, a fim de que todos redescubram o optimismo da esperança e a alegria de colaborar juntos para o bem comum. Retome-se o gosto da vida, da família, do bairro; seja promovida uma modernidade sadia, sem cair na canseira e nos egoísmos daqueles contextos sociais que não têm futuro.

3. A vinda do Bispo residencial encorajou de novo a vossa Comunidade, estimulando- vos a um renovado empenho. Mantende vivo o entusiasmo do momento e aceitai a inevitável fadiga de animar a estrutura diocesana. É necessário, antes de tudo, que vivais na mais cordial e efectiva comunhão eclesial. Amai, ajudai, escutai o vosso Bispo, a fim de que Ele vos possa prestar, com alegria e com fruto, o serviço que d’Ele esperais.

Sacerdotes, Religiosos e Religiosas de São Marinho-Montefeltro, só a vossa união de propósitos e de acção poderá colocar-vos em condição de dar força à Diocese. À idade média bastante elevada e às múltiplas exigências podereis fazer frente se trabalhardes unidos e com grande generosidade missionária. Abençoo e encorajo o empenho que já dedicais a esta vossa missão.

Também na vossa terra se sente a urgência de uma retomada das vocações sacerdotais e de especial consagração. Elas são a verificação mais eloquente da vitalidade duma Igreja. Faço apelo às famílias e aos jovens, para que abram a alma a uma pronta resposta ao chamamento do Senhor. Os Sacerdotes, por sua vez, sabem que o cuidado das vocações é o primeiro dos objectivos da sua acção pastoral.

A vós, Leigos, recomendo que vos empenheis activamente na Comunidade. Ao lado das vossas peculiares tarefas civis, políticas, sociais e culturais, deve-se acentuar a vida pastoral, isto é, a catequese, a liturgia, a formação, os Sacramentos, a vida cristã na família e nos ambientes sociais, a caridade. Quereria imaginar as vossas Paróquias, as Casas dos Religiosos, a Acção Católica, as associações,os grupos, como operosas colmeias de empenho apostólico, missionário e evangelizador.

Caros leigos, sois Igreja: sede Igreja!

4. A República de São Marinho constitui parte conspícua e singular da Diocese. A ela, aos Capitães-Regentes, às Autoridades aqui presentes ou, de qualquer modo, a nós unidas e a todos os cidadãos envio um cordial e grato pensamento. Caríssimos, conheço o empenho por vós posto em acto para levar o vosso País a estar presente e a ser activo no mundo, com o típico sentido de liberdade e de humanidade que deriva do vosso Padroeiro Marinho, ínsito no vosso Povo. E por isto exprimo viva satisfação. Também uma pequena Nação é grande, se estiver apoiada sobre a rocha da verdade e irradiar a luz da justiça.

A vossa República tem em vista transformar-se num País moderno, construir para si um desenvolvimento de nível europeu, responder à sua vocação turística e cultural, renovar a urbanização, tornar-se acolhedora para as exigências internacionais.

Faço votos por que essa transformação ocorra segundo uma recta hierarquia de valores, e recomendo aos habitantes de São Marinho que permaneçam solidamente ancorados nos valores morais, familiares e sociais, característicos da sua história. Trata-se de alcançar a prosperidade económica, sem dilapidar séculos de civilização.

A República de São Marinho sabe que, de tantas partes, se olha para a sua actual experiência como para um significativo «teste» de sadia laicidade, conjugada com um autêntico respeito e promoção dos valores religiosos; de modernização sapiente da vida social, sem aniquilar a herança da tradição; de participação cordial na vida internacional, sem se conformar com dinamismos hegemónicos, mas oferecendo sempre uma contribuição imbuída de democracia e de liberdade.

Alegra-me o facto de que esse espírito tenha permeado também as relações entre Estado e Igreja, de maneira que autorizadas e dignas pessoas (algumas das quais aqui presentes) puderam redigir o recente Acordo entre a Santa Sé e a República de São Marinho, que constitui certamente uma outra página de civilização na mais do que milenária história da República.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Diocese de São Marinho-Montefeltro, obrigado pela visita, obrigado pelos dons!

Peço ao Senhor que o firme propósito de fazer com que a vossa Diocese retome plena vitalidade, receba a chancela da graça do Senhor. Para isto, invocando a intercessão da Bem-aventurada Virgem das Graças e dos Santos Marinho e Leão, concedo a todos vós, de Montefeltro e de São Marinho, presentes e ausentes, a Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


PELO ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ROMA






Senhor Presidente da Câmara Municipal de Roma

No dia em que Roma recorda solenemente o aniversário da sua fundação, desejo dirigir a Vossa Excelência o meu pensamento de felicitações. O significativo evento, que segundo a tradição se coloca há 2.750 anos, não pode deixar indiferente aquele que em Roma tem a sua sede e que, portanto, se encontra a entrelaçar com esta Cidade uma relação quotidiana e vital.

Ao dirigir-me a Vossa Excelência, primeiro Magistrado da Cidade, quero saudar afectuosamente todo o povo de Roma, quantos o governam e todos os que o representam. É a festa

de Roma: da nossa Roma dos milénios e de hoje, da civilização latina e daquela cristã, orientada para o futuro e determinada a permanecer fiel à sua herança de alta tradição civil e espiritual.

A festividade de hoje insere-se no contexto do primeiro ano de preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000. Roma está empenhada em preparar- se para ele, a fim de oferecer ao mundo a imagem concreta de caput mundi que a caracteriza.

Este final de século que estamos a viver, com as suas luzes e as suas sombras, certamente constitui uma providencial ocasião para Roma se renovar na própria missão de paz e de solidariedade, consciente da sua vocação de encruzilhada de cultura e de fé.

Durante milénios, a Cidade manteve- se sempre aberta e acolhedora a todos. Mesmo quando teve de experimentar tempos difíceis, soube recorrer às suas energias seculares e aos valores mais nobres da sua história, para renascer e continuar assim a prodigalizar dons de civilidade e de espiritualidade aos visitantes provenientes de todas as partes do mundo.

Os numerosos problemas que agora ela está a enfrentar, constituem desafios inéditos, que não deixarão de estimular- lhe o empenho rumo às mais altas metas de humanidade e de fraternidade solidária. Isto acontecerá, sobretudo, graças ao paciente e corajoso serviço dos seus administradores, chamados a trabalhar, com sentido de responsabilidade, para tornar a Cidade sempre mais acolhedora àqueles que batem às suas portas, especialmente àqueles que não têm trabalho, digna habitação e adequada assistência. É missão empenhativa que, se for sustentada pela colaboração de todos os cidadãos, se tornará vantajosa para as jovens gerações, às quais será assegurado um património civil, moral e espiritual capaz de as sustentar no seu caminho. A Comunidade diocesana, por sua vez, não deixará faltar a sua especial contribuição, continuando a oferecer, como no passado, toda a ajuda possível para o progresso da Cidade e o bem-estar humano e espiritual de todos os seus habitantes.

Senhor Presidente da Câmara Municipal, ao fazer votos por que a data estimule um ulterior crescimento da inteira comunidade romana, a mim tão querida, invoco sobre ela a intercessão de Maria Santíssima, Salus Populi Romani, e a dos Apóstolos Pedro e Paulo, seus celestes Padroeiros. Na esperança de poder subir pessoalmente a essa histórica Colina para homenagear a Cidade, envio a Vossa Excelência e aos Colaboradores a minha saudação de bênção.

Vaticano, 21 de Abril de 1997.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS NOVOS EMBAIXADORES JUNTO À SANTA SÉ


24 de Abril de 1997



Senhores Embaixadores!

1. É com satisfação que recebo das mãos de Vossas Excelências as Cartas que vos acreditam junto da Santa Sé como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários das vossas respectivas nações. No início da vossa nova missão, formulo-vos os votos cordiais e apresento-vos as boas-vindas a Roma, a esta cidade em que uma civilização antiga deixou a sua marca, não só nas pedras, mas também na cultura e na expressão dos valores morais e espirituais que os homens têm vivido ao longo dos tempos.

2. A minha recente viagem a Sarajevo convida-me a lançar de novo, por vosso intermédio, um vibrante apelo em favor da paz entre as comunidades humanas, dentro de cada país e entre as nações. Vós conheceis o valor que a Igreja dá ao bom entendimento entre os povos, a fim de permitir a cada um viver na serenidade e de edificar em conjunto a cidade terrestre. Os fenómenos de mundialização que se desenvolvem estão, por vezes, na origem de tensões sociais. Entretanto, eles podem ser uma fonte de dinamismo para os países e para os intercâmbios amistosos entre os homens. Isto supõe que, sem cessar, sejam aprofundadas as regras da vida internacional, inspirando-se em princípios éticos.

Convém em primeiro lugar evocar o lugar primordial do homem, feito para viver em sociedade, mas que não pode ser reduzido a esta dimensão comunitária da sua existência. Em razão das suas prerrogativas e das suas funções, o Estado é o primeiro garante das liberdades e dos direitos da pessoa humana, isto é, do respeito por toda a pessoa, em virtude da sua dignidade própria; com efeito, porque é um ser espiritual, o homem é o valor fundamental e vale mais do que todas as estruturas sociais em que participa. «Toda a ameaça contra os direitos do homem, quer seja no âmbito dos seus bens espirituais ou no dos seus bens materiais, faz violência a esta dimensão fundamental» (Discurso à UNESCO, 2/6/1980, ed. port. de L'Osservatore Romano de 15 de Junho de 1980, n. 4, pág. 13). Esta atenção aos direitos dos homens por parte das Autoridades dá a todos os cidadãos confiança nas instituições nacionais, encarregadas de assegurar a sua protecção.

3. Tanto na vida pública como nos diferentes sectores da vida social, todos os homens devem também favorecer o diálogo. Isto permite a cada pessoa, a cada grupo ser reconhecido na sua diversidade e, ao mesmo tempo, sentir-se chamado a servir a sua pátria. Compete àqueles que, por um ou outro título, exercem uma responsabilidade pública, velar pela integração das pessoas que vivem num mesmo território, para fazer concorrer a sua acção em benefício de todos. Quando membros da comunidade nacional não participam no destino dos seus países, a sua marginalização progressiva abre o caminho a múltiplas formas de violência. Em contrapartida, o reconhecimento das diferenças religiosas e culturais, a valorização das mesmas por parte do Estado, assim como o apelo para que cada um trabalhe em vista do bem comum, são elementos que fortalecem no conjunto dos cidadãos o amor pela pátria, o desejo de se dedicar em prol da sua unidade e do seu crescimento, e de igual modo a abertura aos outros, que vai até ao acolhimento fraterno de pessoas deslocadas e de estrangeiros.

4. A nível de cada país e da comunidade internacional, as Autoridades e os parceiros sociais têm o cuidado de desenvolver uma solidariedade efectiva entre os cidadãos e entre os povos. Ante as dificuldades crescentes por que passam numerosos países, uma solidariedade aumentada traduz-se em primeiro lugar pelas ajudas de urgência. A respeito disso, louvo os esforços da comunidade internacional e de numerosos organismos em favor da ajuda humanitária, para assistir os países mais pobres do planeta, para levar socorro às populações civis das zonas de conflitos, para acolher pessoas obrigadas a fugir da sua terra e para oferecer uma assistência às regiões atingidas por diferentes catástrofes naturais.

Mas esta solidariedade manifesta-se também de outro modo. Com efeito, mediante uma assistência técnica e uma formação apropriada, convém encorajar os países que saem de períodos difíceis, a favorecerem instituições democráticas estáveis, a valorizarem as suas próprias riquezas para o bem de todos os habitantes e a assegurarem às populações uma educação moral, civil e intelectual. É à custa da promoção integral das pessoas que se ajudará realmente os países a desenvolverem-se, a serem fautores do seu progresso e parceiros da vida internacional, e a enfrentarem o futuro com confiança. Por sua parte, graças às finalidades do decénio para a erradicação da pobreza, determinadas na Reunião de cúpula de Copenhaga, a ONU lança um apelo particularmente oportuno a todos os países, a fim de duplicar os seus esforços neste sector.

5. Os vossos concidadãos católicos, clero e leigos, têm o cuidado de se empenhar na sociedade nacional, apoiando- se nos princípios morais que a Santa Sé não cessa de ensinar e de desenvolver. Em particular, eles assumem uma parte activa nos sectores da educação, da saúde e da acção caritativa, que são três formas de serviço, graças aos quais eles querem ajudar os jovens a construir a sua personalidade e acompanhar as pessoas que sofrem. Manifestam assim àqueles que os circundam, no respeito pelas crenças específicas e sem espírito de proselitismo, a visão do amor de Deus. A liberdade religiosa e a liberdade de consciência que devem gozar, assim como todos os seus compatriotas, em virtude da equidade entre todos os cidadãos duma nação, dão-lhes a possibilidade de desenvolver a sua vida espiritual, encontrando na oração pessoal e nas celebrações comunitárias a fonte do seu dinamismo no mundo.

6. Senhores Embaixadores, o nosso encontro é a ocasião de vos apresentar estas poucas reflexões. No termo desta cerimónia, o meu pensamento volta-se para os Estados que representais junto do Sucessor de Pedro e para os dirigentes dos mesmos. Estar-vos-ei grato por lhes exprimir os sentimentos profundos que nutro por eles e a atenção que lhes dedico. Na oração, formulo para os vossos compatriotas votos de paz e de prosperidade. Sobre as vossas pessoas, as vossas famílias e os vossos colaboradores, assim como sobre os vossos compatriotas, invoco a abundância das bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR SATCAM BOOLELL NOVO EMBAIXADOR


DAS ILHAS MAURÍCIO JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


24 de Abril de 1997



Senhor Embaixador

Dou-lhe as calorosas boas-vindas no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário das Ilhas Maurício junto da Santa Sé. Aprecio profundamente os sentimentos que Vossa Excelência expressou, bem como os bons votos que transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Cassam Uteem, e do Governo. É de bom grado que lhos retribuo, com a certeza das minhas orações pelo bem-estar do povo do seu país.

Vossa Excelência referiu-se amavelmente às cordiais relações existentes entre as Ilhas Maurício e a Santa Sé, e estou convicto que a sua missão há-de revigorar os vínculos que nos unem na busca do progresso da família humana. Com profundo respeito pelas diferentes culturas e civilizações, a Igreja procura promover a compreensão e encorajar a solidariedade efectiva entre os povos e as nações. Fá-lo sobretudo contribuindo para a formação e o desenvolvimento do espírito humano, e esforçando-se por despertar nas pessoas um zelo em trabalhar altruística e responsavelmente em prol do bem comum.

Cada nação tem um contributo específico a oferecer na edificação e no fortalecimento de uma civilização pacífica. Dado que vivem numa das encruzilhadas do mundo, os habitantes de Maurício incorporam valores e tradições tanto do Oriente como do Ocidente, e têm demonstrado de forma admirável que pessoas de diferentes raças e culturas podem de facto viver juntas pacífica e proficuamente. Os católicos mauricianos desempenham também um papel activo na vida da própria nação. Inspirados pelo dinamismo da própria fé, um dinamismo que tive o privilégio de testemunhar pessoalmente há sete anos, quando a divina Providência me concedeu visitar Maurício, eles estão largamente empenhados na educação e nos serviços caritativos em benefício dos necessitados. Em todas as suas actividades, a Igreja procura promover o entendimento e a harmonia entre os diversos grupos étnicos e religiosos, convicta de que somente a paz e a cooperação podem trazer o desenvolvimento e o progresso ao qual o povo aspira.

Esta é também a motivação subjacente à presença da Igreja na comunidade internacional, onde a sua actividade tem como finalidade promover o diálogo entre as nações, em vista da obtenção da verdadeira e duradoura paz mundial. O compromisso estável em favor do desenvolvimento humano integral permanece um dos elementos essenciais desta paz, pois não pode haver paz senão quando todos partilham os benefícios do progresso. Há uma conexão intrínseca entre o desenvolvimento e o respeito pela dignidade humana e pelos direitos do homem. De facto, o desenvolvimento não se pode limitar unicamente ao campo material, mas deve centrar-se na realização genuína da pessoa. Um sistema económico que transformasse as pessoas em meros instrumentos de produção e lucro, jamais poderia satisfazer as suas mais profundas aspirações a uma vida melhor. Observamos aqui que existe uma dimensão moral do desenvolvimento, que requer o pleno respeito de todas às exigências derivantes da ordem da verdade e do bem, próprios da pessoa humana (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 33).

Além disso, o desenvolvimento legítimo a que todos os países aspiram não se pode buscar irresponsavelmente, em desvantagem do meio ambiente natural. Regiões inteiras do planeta são ameaçadas pela excessiva exploração dos recursos naturais e pela poluição inadequadamente controlada. Nações e indivíduos têm o dever moral de proteger o património comum da fauna e da flora, evitando a contaminação da terra, do mar e do ar. Ao evocar a grande beleza da sua Ilha pátria, exprimo a esperança de que toda a comunidade internacional aperfeiçoe sem demora as políticas necessárias em ordem a assegurar que a herança de um meio ambiente natural puro seja legada às gerações futuras.

Senhor Embaixador, no início da missão como Representante do seu país junto da Santa Sé, exprimo-lhe os meus bons votos, assegurando-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Ao exprimir uma vez mais a minha estima pelo povo de Maurício, invoco abundantes bênçãos sobre Vossa Excelência e sobre toda a nação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR OLLI MENNANDER NOVO EMBAIXADOR


DA FINLÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


24 de Abril de 1997



Senhor Embaixador

1. É com grande prazer que apresento as boas-vindas a Vossa Excelência, no momento em que apresenta as Cartas que o acreditam junto da Santa Sé, na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Finlândia.

Peço-lhe que se digne transmitir a Sua Excelência o Senhor Martti Ahtisaari, Presidente da República da Finlândia, os meus agradecimentos cordiais pela amável mensagem, da qual Vossa Excelência se fez intérprete. Da minha parte, formulo os votos cordiais para o feliz desempenho da sua missão ao serviço de todos os seus compatriotas. Agradeço- lhe as gentis palavras que reservou à minha pessoa. Elas testemunham nobres sentimentos que muito apreciei; manifestam também a sua atenção e compreensão pela acção e missão espirituais e morais da Sé Apostólica em favor da paz, da solidariedade entre os povos, dos direitos do homem e da dignidade de todo o ser.

2. Senhor Embaixador, Vossa Excelência evocou alguns aspectos da vida internacional, recordando oportunamente o papel desempenhado pelo seu país no desenvolvimento das relações na Europa, em particular no seio da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, cuja fundação está ligada à sua terra devido à assinatura do Acto final, em Helsínquia, no dia 1 de Agosto de 1975. Todos os países do continente são convidados a empenhar-se na construção duma Europa de paz e de solidariedade, para que as instituições estabelecidas estejam realmente ao serviço dos povos. A respeito disso, estou reconhecido ao seu Governo e aos seus compatriotas por terem participado nos esforços de paz na Bósnia-Herzegovina, mediante o diálogo com as forças antagónicas e uma assistência técnica sustentada, a fim de que os homens dessa terra possam dispor de instituições democráticas, indispensáveis à vida pública, e relançar a sua economia, para o bem de todos.

Para o futuro do continente europeu, no qual ainda existem inquietantes focos de tensão, assim como para a paz e a amizade entre os povos, é mais que nunca importante que as nações disponham juntas de meios institucionais sólidos; isto assegurará a colaboração confiante entre as diferentes Autoridades governamentais, assim como entre os homens que vivem no continente. Esse passo será benéfico para todos os europeus e favorecerá o crescimento espiritual, moral e económico, essencial num período em que a crise atinge inúmeras pessoas e famílias.

3. Senhor Embaixador, Vossa Excelência evocou a questão dos direitos do homem, na qual a Santa Sé está fortemente empenhada, pois ela é a expressão da grandeza e da dignidade inalienável de todo o ser humano, do sentido moral e da atenção ao lugar de cada um na sociedade. Com efeito, há um vínculo estreito entre o valor da pessoa e o serviço que ela é chamada a prestar em vista do bem comum. Como se pode constatar num certo número de conflitos, a rejeição a garantir a inviolabilidade do ser humano não pode senão ter consequências nefastas sobre a vida social. Pois, como membro duma nação, o homem deve trabalhar com e para os seus irmãos mas, criado à imagem de Deus, o seu ser e a sua vida não se limitam ao seu aspecto comunitário. O homem espiritual está ao serviço da humanidade, mas a sociedade é ordenada à promoção do homem.

4. Assim como já escrevi na Encíclica Evangelium vitae, regozijo-me pela «consolidação de uma sensibilidade moral mais diligente em reconhecer o valor e a dignidade de cada ser humano enquanto tal, sem qualquer distinção de raça, nacionalidade, religião, opinião política, estrato social» (n. 18). Mais do que nunca, os nossos contemporâneos são então chamados a lutar para que o direito primordial à vida e a dignidade humana de todo o ser já concebido sejam protegidos, e que as sociedades desenvolvam uma cultura da vida. Neste espírito, é importante que se prossiga a formação da consciência moral dos nossos contemporâneos, a fim de que de maneira incansável possam reagir quando a dignidade humana é injuriada. Isto deve poder incluir, em particular para o pessoal da saúde, até a possibilidade, livremente reconhecida, de exercer o seu dever de objecção de consciência, para não cometer actos que as suas convicções filosóficas e a sua fé reprovam. Com efeito, aqueles que estão encarregados de cuidar dos seus irmãos definem, antes de tudo, a sua profissão como um «sim» apaixonado e tenaz à vida e à sua beleza, qualquer que seja a percepção que os outros possam ter delas. Este consentimento à vida dará aos jovens uma esperança renovada e permitir- lhes-á ter coragem em si mesmos.

5. A sua vinda à casa do Sucessor de Pedro permite-me evocar a presença dos fiéis católicos no seu país. Eles são pouco numerosos, mas apreciam a liberdade que lhes é concedida no exercício da sua vida cristã; promovendo os valores morais primordiais, que fundam a dignidade do homem e abrem à vida fraterna, eles têm, antes de tudo, o desejo de participar activamente na vida social da sua terra, num diálogo cordial e construtivo com todas as componentes da nação, sobretudo, num espírito ecuménico, com as diferentes comunidades religiosas que se encontram na Finlândia.

O meu pensamento volta-se também para o conjunto dos seus compatriotas, dos quais um grande número sofre hoje os efeitos da crise económica que aflige o continente. Espero que, num impulso constante de solidariedade nacional, cada um possa encontrar o lugar que lhe compete no seio da sociedade, e ter os meios para viver na dignidade com os membros da sua família. Graças ao seu sentido convivial e aos valores do acolhimento e da partilha que os caracterizam, os seus concidadãos são também convidados a oferecer a sua contribuição específica à construção da Europa dos povos. Descobrirão de igual modo que os intercâmbios entre as nações do continente são fontes de benefícios para todos os homens e farão com que a causa da justiça e da paz progrida, para se sentirem felizes de viver na própria terra.

6. No momento em que tem início a sua missão de Representante da República da Finlândia, desejo-lhe, Senhor Embaixador, uma feliz permanência em Roma. Posso assegurar-lhe que encontrará sempre junto dos meus colaboradores um apoio atencioso e um acolhimento cordial.

Sobre Vossa Excelência, sobre o povo finlandês e sobre aqueles que estão encarregados dos seus destinos no limiar do terceiro milénio, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR THEOPILOS V. THEOPILOU


NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE CHIPRE


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


24 de Abril de 1997



Senhor Embaixador

Nesta fausta ocasião, dou-lhe as cordiais boas-vindas e aceito as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Chipre junto da Santa Sé. Com sincera gratidão pelas saudações que me dirigiu da parte do seu Governo e Povo, peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir à Sua Excelência o Senhor Presidente Glafcos Clerides, a certeza dos meus bons votos e das minhas orações.

A sua presença aqui no Vaticano como Representante de um povo orgulhoso da sua antiga civilização e valores culturais, serve para nos recordar que os povos e as culturas florescem quando, à dimensão espiritual da pessoa, é atribuído o justo lugar no seio da sociedade. A consideração da dignidade humana e dos direitos do homem caminha a par e passo com a visão trascendental do destino do homem que, desde os primeiros tempos cristãos, está profundamente gravada na mente e no coração dos cipriotas. Com efeito, o conhecimento da dignidade singular do homem, feito à imagem do Criador (cf. Gén Gn 1,26-27), oferece o fundamento sólido para a edificação de uma sociedade assente sobre a liberdade, a justiça e a paz. Neste sentido, o autêntico progresso material e moral depende da observância dos «direitos humanos universais, arraigados na natureza da pessoa, nos quais se reflectem as exigências objectivas e imprescindíveis de uma lei moral universal» (Discurso à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, 5 de Outubro de 1995; ed. port. de L’Osservatore Romano de 14.X.1995, n. 3, pág. 3).

A paz, denominada «a tranquilidade da ordem» (Santo Agostinho, De Civitate Dei, XIX, 13), não é um estado passivo, mas uma conquista dos conscientes e industriosos esforços daqueles que, com a ajuda de Deus, têm em vista a sua criação. Não basta — embora seja o primeiro e indispensável passo — limitar as guerras, impedir as hostilidades e garantir a segurança. É também necessário promover iniciativas concretas que levem à reconciliação dos corações. Só se pode enfrentar o enorme desafio da obra de reconciliação, se as partes em conflito estiverem determinadas a libertar- se dos condicionamentos passados. Dado que o Terceiro Milénio cristão, já se aproxima, exortei a uma nova análise da história, com uma renovada atitude de abertura e o desejo de «purificar as memórias» (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 1997, n. 3). Se quiserem que o novo Milénio desponte na paz, os povos e as nações deverão persuadir-se da necessidade de oferecer e aceitar o perdão — «a premissa indispensável para se caminhar rumo a uma paz autêntica e estável» (Ibid., n. 1).

Senhor Embaixador, a contínua divisão de Chipre recorda-nos que ainda não se alcançou uma solução para este doloroso problema. A este propósito, reitero o que disse em 1996, ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé: «Uma semelhante situação, que impede às populações, separadas ou privadas dos seus bens, construir o seu futuro, não pode ser mantida de modo indefinido. As negociações entre as partes em causa se intensifiquem e sejam animadas por uma sincera vontade de se obter bom êxito!» (Discurso, 13 de Janeiro de 1996; ed. port. de L’Osservatore Romano de 20.I.1996, n. 4, pág. 2). Devemos convencer-nos de que só será possível progredir no caminho se prevalecerem o respeito mútuo, a boa vontade, a disponibilidade a admitir os erros do passado, bem como um compromisso decidido pela paz. Os esforços corajosos de líderes clarividentes pode levar a soluções justas, até mesmo no caso de prolongados conflitos e divisões.

Os fiéis católicos de Chipre estão ansiosos por cooperar com os seus irmãos e irmãs ortodoxos, oferecendo o testemunho de vidas inspiradas pelos valores da sua fé cristã. No momento em que católicos e ortodoxos se preparam para celebrar o Grande Jubileu do Ano 2000, rezem juntos a fim de que o Espírito Santo os oriente para uma cooperação mais efectiva ao serviço do Evangelho da Paz. Além disso, no espírito das Bem-aventuranças, deveriam procurar criar um clima de diálogo inter-religioso com os seguidores de outras religiões, a fim de abrirem o caminho para todo o povo de Chipre superar as feridas da divisão e empenhar-se nos gestos práticos da reconciliação.

Nesta solene ocasião, Senhor Embaixador, formulo-lhe os meus melhores votos pela nobre tarefa que Vossa Excelência se prepara para empreender, convicto de que fará todo o possível para fortalecer os laços de amizade entre a Santa Sé e a República de Chipre. Esteja certo de que, no cumprimento da sua missão, encontrará sempre uma cordial solicitude da parte dos vários Dicastérios da Cúria Romana. Sobre Vossa Excelência e sobre os seus compatriotas, invoco cordialmente as bênçãos de Deus Todo-poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR DANIEL MICALLEF


NOVO EMBAIXADOR DE MALTA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


24 de Abril de 1997



Senhor Embaixador


Discursos João Paulo II 1997 - 19 de Abril de 1997