Discursos João Paulo II 1997 - 6 de Maio de 1997

5. Dirijo estas reflexões em particular aos novos recrutas, que estão no início do seu serviço. Quereria, além disso, encorajar os veteranos a contribuírem constantemente com o seu exemplo, para fazer com que os seus companheiros mais jovens, que precisamente hoje iniciam o seu serviço na Guarda Suíça, possam, dia após dia, maturar uma útil experiência tanto no plano humano como espiritual.

Para isto concedo de coração a Bênção Apostólica a todos vós e a quantos vos circundam nesta singular circunstância.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA


8 de Maio de 1997



Caríssimos Jovens da Acção Católica!

Com grande alegria desejaria estar presente no meio de vós para este vosso encontro extraordinário, e sobretudo para compartilhar este momento de fraternidade universal no Estádio Olímpico. A minha missão, porém, chama-me entre os irmãos do Líbano para o encerramento do seu Sínodo especial e, por isso, dirijo-me a vós com esta mensagem. Quando a escutardes, estarei espiritualmente entre vós e estareis unidos a mim na oração: estabelecer-se-á assim uma «ponte» entre Roma, Beirute e o inteiro Líbano. Obrigado de coração por esta vossa participação no ministério petrino universal do Papa. Sabeis quanto conto com os jovens. O Papa ama os jovens, esperança da Igreja e da humanidade! O Papa quer-vos bem, caros jovens e moças da Acção Católica Italiana!

É muito sugestiva a imagem da ponte que, unida à do arco-íris, guiou este ano o caminho dos vossos grupos. São duas imagens simbólicas, que fazem pensar em Cristo: é Ele a verdadeira e única «Ponte» entre Deus e os homens; é ainda Ele o verdadeiro e único «arco-íris», sinal de aliança e de paz para o género humano e para o cosmo inteiro. Construir pontes e arco-íris significa, por isso, aderir a Cristo, acolhê- l’O na própria vida e anunciá-l’O aos outros.

Caríssimos jovens da Acção Católica Italiana, Jesus chama todos nós a tornar-nos «pontes» e «arco-íris». A vós, jovens da Acção Católica, Ele confia a missão de serdes «jovens apóstolos dos jovens», entre os vossos coetâneos. Jovens testemunhas com o estilo do diálogo. Também aqui é Cristo o modelo: a sua Encarnação é o cumprimento supremo do diálogo de Deus com o homem. A sua Páscoa lançou uma ponte de vida sobrenatural, que preenche o abismo do pecado e da morte. Para o cristão, o diálogo não é uma táctica, mas um estilo de vida: significa escutar, acolher, compartilhar, fazer-se próximo. Significa também orar, interceder. Significa propor Cristo, porque só Ele é o Salvador, a esperança para todos os homens.

Caríssimos jovens, deixo-vos um augúrio que é também um empenho: transformai o mote de um ano na opção de toda uma vida, fazei da vossa existência uma ponte rumo a Deus e rumo aos irmãos. Para isto oro e, espiritualmente unido a todos vós, envio de coração a cada um, aos responsáveis nacionais e aos animadores, aos assistentes espirituais e a cada jovem e moça uma especial Bênção.

Vaticano, 8 de Maio de 1997.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


SOBRE AS VOCAÇÕES NO CONTINENTE EUROPEU


Sexta-feira, 9 de Maio de 1997





Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopadoe no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de dirigir as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, que participais no Congresso europeu sobre as vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada, que está a ser realizado nestes dias em Roma. Saúdo o Senhor Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, e agradeço-lhe as amáveis expressões que quis dirigir-me, em nome dos presentes. Com ele saúdo os Senhores Cardeais e os venerados Irmãos no Episcopado aqui presentes.

Dirijo também um particular pensamento a quantos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, estão empenhados em promover nas Comunidades eclesiais uma pastoral atenta às vocações sacerdotais e de especial consagração: exprimo-lhes a minha satisfação e o meu mais vivo encorajamento.

As intensas jornadas do vosso Congresso puseram em evidência como a Igreja, peregrina no continente europeu, é chamada a reavivar, sobretudo nos jovens, uma profunda nostalgia de Deus, criando assim o contexto adequado ao desabrochar de generosas respostas vocacionais. Para isto é necessário que cada um se ponha em renovada e fervorosa escuta do Espírito: é Ele, com efeito, o guia seguro rumo ao pleno conhecimento de Jesus Cristo e ao empenho de O seguir sem reservas.

2. Enviada ao mundo para continuar a missão do Salvador, a Igreja está em contínuo estado de vocação e enriquece- se, dia após dia, com os múltiplos carismas do Espírito. É da íntima união de amor e de fé com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo que ela haure a garantia dum novo florescimento de vocações sacerdotais e de especial consagração.

De facto, este florescimento não é fruto de geração espontânea, nem dum activismo que só conta com os meios humanos. Jesus dá a entendê-lo claramente no Evangelho. Ao chamar os discípulos para os enviar ao mundo, Ele solicita antes de tudo que olhem para o alto: «Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a Sua messe» (Mt 9,38). A pedagogia vocacional, a que o Senhor recorre, deixa entender que uma pastoral desequilibrada sobre a acção e as iniciativas promocionais, corre o perigo de resultar ineficaz e sem perspectivas, porque cada vocação é antes de tudo dom de Deus.

É urgente, portanto, que um grande movimento de oração atravesse as Comunidades eclesiais do continente europeu, contrastando o vento do secularismo que impele a privilegiar os meios humanos, a eficiência e o delineamento pragmático da vida. Uma oração fervorosa deve elevar-se incessantemente das paróquias, das comunidades monásticas e religiosas, das famílias cristãs e dos lugares de sofrimento. É preciso educar especialmente as crianças e os jovens para abrirem o coração ao Senhor, a fim de se disporem a escutar a Sua voz.

Este clima de fé e de escuta da Palavra de Deus tornará as Comunidades cristãs capazes de acolher, acompanhar e formar as vocações que o Espírito suscita no seu interior.

3. É preciso, além disso, promover um salto de qualidade na pastoral vocacional das Igrejas europeias. Muitas vezes se considerou que esta tarefa fundamental da Comunidade cristã fosse delegável a algumas pessoas, dispostas a realizá-la. Sem dúvida, estes encargos prestam, nas diversas realidades eclesiais, um trabalho precioso e muitas vezes oculto ao serviço do chamamento divino. Todavia, as mudadas condições históricas e culturais exigem que a pastoral das vocações seja percebida como um dos objectivos primários da inteira Comunidade cristã.

Todos os que estão empenhados na pastoral vocacional tornarão tanto mais eficaz a sua obra, quanto mais ajudarem cada um dos membros da Comunidade a sentir como próprio o empenho de formar um número de sacerdotes e de consagrados, adequado às exigências do Povo de Deus.

É óbvio, contudo, que os primeiros a deverem sentir-se interessados na pastoral vocacional, são os próprios chamados ao ministério ordenado e à vida consagrada: com a alegria duma existência completamente doada ao Senhor, tornarão concreta e estimuladora a proposta do seguimento radical de Jesus, manifestando o seu surpreendente significado.

Cristo não Se limitou a pedir que se orasse pelos trabalhadores da messe, mas dirigiu-lhes pessoalmente o convite a segui-l’O, com as palavras: «Vem e segue- Me» (Mt 19,21). Venerados Irmãos no Episcopado, caríssimos sacerdotes e religiosos, não tenhais medo de fazer chegar aos jovens, com quem vos encontrais no vosso ministério quotidiano, o convite do Senhor! Seja vosso premente cuidado ir ao encontro deles, para repropor as misteriosas e surpreendentes palavras que marcaram também a vossa vida: «Vem e segue-Me».

4. A constante e paciente atenção da Comunidade cristã ao mistério do chamamento divino promoverá, assim, uma nova cultura vocacional nos jovens e nas famílias. A dificuldade por que o mundo juvenil está a atravessar revela, também nas novas gerações, prementes interrogativos sobre o significado da existência, como confirmação de que nada e ninguém pode sufocar no homem a exigência de sentido e o desejo de verdade. Para muitos este é o terreno no qual se põe a busca vocacional.

É preciso ajudar os jovens a não se resignarem à mediocridade, propondo-lhes grandes ideais, para que possam, também eles, perguntar ao Senhor: «Mestre, onde moras» (Jn 1,38), «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna» (Mc 10,17), e abrir o coração ao seguimento generoso de Cristo.

Esta foi a experiência de inúmeros homens e mulheres, que souberam fazer- se fiéis testemunhas de Cristo, apóstolos do Evangelho no nosso continente. Compartilhando as fadigas e as dificuldades dos homens do seu tempo, acreditaram na vocação universal à santidade e subiram ao ápice, através da vereda particular que lhes foi indicada pelo Espírito. As suas opções e os seus carismas traçaram profundos sulcos de bem, que devem ser aprofundados, para que as Igrejas europeias possam continuar a desempenhar a sua missão de evangelização, de santificação e de promoção humana também no próximo milénio.

A Virgem Maria, Mãe das vocações, acompanhe este generoso empenho, obtendo do Senhor novas e copiosas vocações ao serviço do anúncio do Evangelho em todas as Nações da Europa.

Com estes votos, concedo a cada um de vós e às vossas Comunidades uma especial Bênção Apostólica.



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II AO LÍBANO

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA CERIMÓNIA DE ACOLHIMENTO


Beirute, 10 de Maio de 1997



Senhor Presidente
Senhor Cardeal
Beatitudes, Excelências
Senhoras e Senhores!

1. Agradeço, antes de tudo, ao Senhor Presidente da República as cordiais palavras de boas-vindas, que há pouco me dirigiu em nome de todos os Libaneses, e sinto-me particularmente sensível ao acolhimento que me é reservado nesta circunstância memorável.

Exprimo, além disso, a minha gratidão às máximas Autoridades do Estado, em particular a Sua Excelência o Senhor Presidente do Parlamento e a Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho dos Ministros. Estou grato aos Patriarcas e aos Bispos católicos, assim como aos outros Chefes religiosos cristãos, muçulmanos e drusos, às Autoridades civis e militares e a todos os amigos libaneses, pelo acolhimento caloroso. Saúdo os filhos e as filhas desta terra que quiseram participar nesta cerimónia através da rádio ou da televisão. Allah iuberekum! (Deus vos abençoe!).

2. Como não recordar, antes de tudo, a escala que o Papa Paulo VI quis fazer em Beirute, a 2 de Dezembro de 1964, enquanto se dirigia a Bombaim? Ele manifestava desse modo a sua particular atenção para com o Líbano, mostrando que a Santa Sé estima e ama esta terra e os seus habitantes. Hoje, com grande emoção, beijo a terra libanesa, em sinal de amizade e de respeito. Venho à vossa terra, caros Libaneses, como um amigo que vem visitar um povo e quer apoiá-lo no seu caminho quotidiano. Como amigo do Líbano, venho encorajar os filhos e as filhas desta terra acolhedora, este País de antiga tradição espiritual e cultural, desejoso de independência e de liberdade. No limiar do terceiro milénio, o Líbano, embora conservando as suas riquezas específicas e a própria identidade, deve estar pronto para se abrir às novas realidades da sociedade moderna e para ocupar o seu lugar no concerto das Nações.

3. Durante os anos de guerra, com toda a Igreja segui com atenção os momentos difíceis atravessados pelo povo libanês e associei-me, com a oração, aos sofrimentos que ele suportava. Em numerosas circunstâncias, desde o início do meu pontificado, convidei a Comunidade internacional a ajudar os Libaneses a reencontrarem a paz, no interior dum território nacional reconhecido e respeitado por todos, e a favorecer a reconstrução duma sociedade de justiça e de fraternidade. Segundo o juízo humano, numerosas pessoas morreram em vão por causa do conflito. Algumas famílias foram separadas. Alguns Libaneses tiveram de exilar, longe da sua pátria. Pessoas de cultura e de religião diferentes, que viviam relações de entendimento e de boa vizinhança, encontraram-se separadas e até mesmo duramente contrapostas.

Esse período, que finalmente passou, continua presente na recordação de todos e deixa numerosas feridas nos corações. Contudo, o Líbano é chamado a voltar-se para o futuro com decisão, livremente determinado pela opção dos seus habitantes. Neste espírito, quereria prestar homenagem aos filhos e às filhas desta terra que, nos períodos conturbados que acabo de evocar, deram o exemplo da solidariedade, da fraternidade, do perdão e da caridade, até com o risco da própria vida. Elogio em particular a atitude de numerosas mulheres, entre as quais também mães de família, que foram fermentos de unidade, educadoras para a paz e para a convivência, indómitas defensoras do diálogo entre os grupos humanos e entre as gerações.

4. A partir deste momento, cada um é convidado a empenhar-se pela paz, pela reconciliação e pela vida fraterna, realizando, por sua parte, gestos de perdão e trabalhando ao serviço da comunidade nacional, a fim de que jamais a violência prevaleça sobre o diálogo, o medo e o desânimo sobre a confiança, o rancor sobre o amor fraterno.

Neste novo Líbano que pouco a pouco estais a reconstruir, é preciso dar um lugar a cada cidadão, em particular àqueles que, animados por um legítimo sentimento patriótico, desejam empenhar- se na acção política ou na vida económica. Sob este ponto de vista, a condição prévia para toda a acção realmente democrática é o justo equilíbrio entre as forças vivas da nação, segundo o princípio de subsidiariedade que exige participação e responsabilidade de cada um nas decisões. Por outro lado, a administração da res publica apoia-se no diálogo e no compromisso, não para fazer prevalecer interesses particulares ou ainda para manter privilégios, mas para que a acção esteja ao serviço dos irmãos, independentemente das diferenças culturais ou religiosas.

5. No dia 12 de Junho de 1991, eu anunciava a convocação da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Líbano. Após numerosas etapas de reflexão no seio da Igreja católica no Líbano, ela reuniu-se em Novembro e Dezembro de 1995. Hoje, vim até vós para celebrar solenemente a fase conclusiva da Assembleia sinodal. Apresento aos católicos, aos cristãos das outras Igrejas e Comunidades eclesiais e a todos os homens de boa vontade, os frutos dos trabalhos dos Bispos, enriquecidos pelos diálogos cordiais com os delegados fraternos: a Exortação Apostólica pós-sinodal «Uma esperança nova para o Líbano». Este documento, que assinarei hoje à tarde na presença dos jovens, não é uma conclusão nem um ponto final no caminho empreendido. Ao contrário, é um convite a todos os Libaneses, para que abram com confiança uma página nova da sua história. É a contribuição da Igreja universal para uma maior unidade da Igreja católica no Líbano, para a superação das divisões entre as diferentes Igrejas e para o desenvolvimento do país, no qual todos os Libaneses são chamados a participar.

6. Ao chegar pela primeira vez ao solo do Líbano, desejo reiterar-lhe, Senhor Presidente da República, quanto estou reconhecido pelo seu acolhimento. Formulo votos calorosos pela sua pessoa e pela sua missão junto dos compatriotas. Através de Vossa Excelência, dirijo as minhas saudações cordiais a todos os cidadãos libaneses. Com todos eles oro pelo Líbano, a fim de que seja como o quer o Altíssimo.

Allah iuberekum! (Deus vos abençoe!).



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II AO LÍBANO


ENCONTRO DO SANTO PADRE


COM OS PATRIARCAS


11 de Maio de 1997



Evocámos muitas pessoas. Quereria salientar que a actual conclusão da Assembleia sinodal para o Líbano assinalará um ulterior passo no caminho sinodal deste Sínodo, não só tradicional, se se pode dizer, mas também regional.

O Sínodo para o Líbano e o Sínodo regional, não só para o país mas um pouco para a Ásia Menor. E aqui devo recordar a personalidade do meu compatriota W. Rubin, que foi o primeiro predecessor do Cardeal Schotte. Recordo-o ainda mais porque era muito ligado a ele. Estudou aqui, na Universidade de São José, e sempre permaneceu muito ligado, muito apegado ao Líbano.

Espero que tenha servido bem o Sínodo dos Bispos nesse período decisivo, porque se tratou do primeiro e porque a ideia sinodal há de adquirir cada vez maior sentido e fará grande progresso. Significa que se a Igreja de Roma não é uma Igreja sinodal atribui todavia uma importância cada vez maior, um valor cada vez maior ao Sínodo dos Bispos. Então, trata-se de uma Igreja sinodal num sentido diferente mas de qualquer forma de uma Igreja sinodal em que o Sínodo dos Bispos desempenha um papel importante.

Isto impele-nos a aproximarmo-nos dos nossos irmãos ortodoxos. Neste espírito espero Vossas Beatitudes esta tarde. Encontrar-nos-emos e falaremos com os Patriarcas ortodoxos que quiseram participar nesta solenidade e também no Sínodo, pelo menos através dos seus representantes.

Sinto-me particularmente feliz por este encontro.

Obrigado por tudo.



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II AO LÍBANO



NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA DO LÍBANO


Beirute, 11 de maio de 1997



Senhor Presidente da República

1. No final da minha visita pastoral ao seu país, Vossa Excelência dignou-se vir saudar-me, com a delicadeza e o sentido de acolhimento que fazem parte da tradição libanesa. Desejo renovar-lhe a minha gratidão pela recepção que me reservou, pelas disposições tomadas, que facilitaram o desenvolvimento dos diferentes encontros que me foram dados viver.

Os meus agradecimentos estendem-se às Autoridades civis e militares, aos responsáveis das diferentes Igrejas e Comunidades eclesiais, pelas solicitudes que me demonstraram durante os dois dias passados neste bonito país, tão caro ao meu coração. Exprimo a minha viva gratidão e o meu reconhecimento aos membros dos serviços de segurança e a todos os voluntários que, com generosidade, eficiência e discrição, contribuíram para o bom êxito da minha visita.

2. Durante as celebrações e os diferentes encontros que pude ter, constatei o amor profundo que os católicos libaneses e todos os seus compatriotas nutrem pela sua pátria e o apego à própria cultura e às suas tradições. Eles permaneceram fiéis à sua terra e ao seu património em numerosas circunstâncias, e continuam a manifestar a mesma fidelidade hoje. Exorto-os a prosseguir neste caminho, dando na região e no mundo um exemplo de convivência entre as culturas e entre as religiões, numa sociedade em que todas as pessoas e as diversas comunidades são consideradas de modo igual.

3. Antes de deixar o seu país, renovo o meu apelo às Autoridades e ao povo libanês inteiro, para que se desenvolva uma nova ordem social, fundada sobre os valores morais essenciais, com a preocupação de garantir o lugar primordial da pessoa e dos grupos humanos na vida nacional e nas decisões comunitárias; essa atenção ao homem que, por natureza, pertence à alma libanesa, produzirá frutos de paz no país e na região. Exorto os Dirigentes das Nações ao respeito do direito internacional, de modo particular no Médio Oriente, a fim de que sejam garantidas a soberania, a autonomia legítima e a segurança dos Estados e que sejam respeitados o direito e as aspirações compreensíveis dos povos. Ao saudar os esforços da Comunidade internacional na região, faço votos por que o processo para procurar uma paz justa e duradoura continue a ser sustentado com determinação, coragem e coerência. Desejo também que os esforços sejam prosseguidos e intensificados, a fim de sustentar o crescimento do País, o caminho dos Libaneses rumo a uma sociedade cada vez mais democrática, numa total independência das suas instituições e no reconhecimento das suas fronteiras, condições indispensáveis para garantir a sua integridade. Mas nada poderá ser feito se todos os cidadãos do País não se empenharem, cada um naquilo que lhe concerne, na via da justiça, da equidade e da paz, na vida política, económica e civil, assim como na partilha das responsabilidades no seio da vida social.

4. Desejo exprimir de novo a minha viva gratidão aos Patriarcas, aos Bispos libaneses, ao clero, aos religiosos e às religiosas, assim como aos leigos da Igreja católica que prepararam intensamente a minha vinda. A todos eles entreguei a Exortação Apostólica pós-sinodal, para que os guie e os sustente no seu caminho espiritual e nos seus empenhos ao lado dos irmãos. Sensível ao acolhimento dos católicos libaneses, cuja vitalidade pastoral pude apreciar, quereria assegurar-lhes o meu afecto e a minha profunda comunhão espiritual, convidando-os a ser testemunhas misericordiosas do amor de Deus e mensageiros de paz e de fraternidade.

A minha saudação respeitosa dirige-se também aos Chefes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, a todos os cristãos das outras Confissões, aos crentes do Islão, desejando que todos prossigam o diálogo religioso e a colaboração, para manifestarem que as convicções religiosas são fontes de fraternidade, e testemunharem que uma vida de convivência é possível, por amor de Deus, dos seus irmãos e da sua pátria. Através da sua pessoa, Senhor Presidente, saúdo e agradeço a todos os Libaneses, apresentando-lhes os meus ardentes votos de paz e de prosperidade. Que a sua nação, cujas montanhas são como um farol à margem do mar, ofereça aos países da região um testemunho de coesão social e de bom entendimento entre todos os seus componentes culturais e religiosos.

Ao renovar-lhe a minha gratidão, invoco sobre todos os seus compatriotas a abundância das Bênçãos divinas.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO 80°°ANIVERSÁRIO


DA PRIMEIRA APARIÇÃO


DE NOSSA SENHORA EM FÁTIMA






Ao Venerável Irmão D. SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA
Bispo de Leiria-Fátima

«Apareceu um grande sinal no Céu: uma mulher revestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça» (Ap 12,1).

Estas palavras do Apocalipse voltam à minha memória ao cumprir-se oitenta anos da Aparição da Virgem Maria na Cova da Iria, aos três pastorinhos. A mensagem que naquela ocasião a Virgem Santíssima dirigiu à humanidade, continua a ressoar com toda a sua força profética, convidando a todos à constante oração, à conversão interior e a um generoso empenho de reparação dos próprios pecados e daqueles de todo o mundo.

Pensando nos numerosos peregrinos que, nesta ocasião, se encontram no Santuário de Fátima, para exprimir a Maria a sua devoção e a firme decisão de corresponder às suas solicitudes maternas, desejo unir-me às orações de todos, para implorar a intercessão d’Aquela que deu ao mundo o Verbo Encarnado, e participou muito estreitamente da Sua obra redentora. Aquela que «avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz (...) padecendo acerbamente com seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício» (Lumen gentium LG 58), queira permanecer junto aos seus filhos neste final de milênio, para manter o caminho em direção à meta histórica do Grande Jubileu.

Nas dificuldades da hora presente, a Ela nos dirigimos confiadamente, pedindo-Lhe que conserve os nossos passos sobre as pegadas de Cristo. Maria, Mãe do Redentor, continue a mostrar-se Mãe para todos. «A humilde Jovem de Nazaré que, dois mil anos atrás, ofereceu ao mundo inteiro o Verbo Encarnado, oriente a humanidade do novo milênio para Aquele que é “a luz verdadeira, que a todo o homem ilumina” (Jn 1,9)» (Tertio millennio adveniente, TMA 59).

Com este auspício, dirijo-lhe, Venerável Irmão, a minha saudação afetuosa, pedindo-lhe que se faça intérprete da mesma aos que devotamente se dirigirem em peregrinação ao Santuário de Fátima, e nomeadamente a todos os que sofrem no corpo e no espírito. Ao confiar à intercessão da Virgem Santíssima as necessidades da Igreja nessa abençoada terra e em todas as partes do mundo, envio a todos, em penhor de abundantes dons do Alto, uma propiciadora Bênção Apostólica.

Vaticano, 12 de Maio de 1997.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCERRAMENTO DA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS


15 de Maio de 1997





Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Directores Nacionais Colaboradores e
Colaboradoras das Pontifícias Obras Missionárias

1. Estou feliz por dirigir a cada um de vós as minhas cordiais boas-vindas. Saúdo e agradeço, em particular, a D. Charles Schleck, Secretário Adjunto da Congregação para a Evangelização dos Povos e Presidente das Pontifícias Obras Missionárias, as cordiais expressões com que quis fazer-se intérprete dos sentimentos de todos vós. Saúdo, além disso, os Secretários-Gerais e os Directores Nacionais, vindos a Roma para a anual Assembleia geral de tão beneméritas Instituições.

Este ano o vosso encontro coincide com dois importantes aniversários: o 175° aniversário de fundação da Pontifícia Obra da Propagação da Fé e o 75° aniversário do Motu Proprio Romanorum Pontificum, com o qual o meu venerado predecessor, Papa Pio XI, concedeu o título de «Pontifícias» às Obras da Propagação da Fé, da Infância Missionária e de São Pedro Apóstolo. E estou certo de que a celebração destas duas singulares datas contribuirá para incrementar no Povo de Deus o empenho missionário.

2. É tradição já consolidada o facto de cada ano se realizar, durante o mês de Maio, a vossa Assembleia geral. Este ano, em recordação da fundação da Obra da Propagação da Fé, quisestes realizar uma especial sessão pastoral, detendo-vos na figura e na obra de duas mulheres extraordinárias: a Venerável Maria Paulina Jaricot e a Padroeira das Missões, Santa Teresa do Menino Jesus.

A primeira, jovem leiga nascida em Lião em 1799, teve particularmente a peito os problemas das missões católicas do seu tempo. Pertencente a uma associação fundada pelos Padres das Missões Estrangeiras de Paris, foi pioneira da cooperação missionária organizada. Com efeito, com as operárias da fábrica de seda, administrada pela sua irmã e pelo seu cunhado, propôs-se a ajudar as Missões por meio da oração e de um pequeno óbolo semanal.

Inspirando-se nessa iniciativa, que mereceu à Venerável Maria Paulina o título de fundadora da Obra da Propagação da Fé, no dia 3 de Maio de 1822 um grupo de leigos conferiu à associação para a Propagação da Fé um carácter mais universal. Animados por uma caridade sem confins, afirmavam: «Somos católicos, por conseguinte não devemos sustentar esta ou aquela missão em particular, mas todas as missões do mundo ». Precisamente por isto escolheram como mote: «Ubique per Orbem», mais tarde assumido pela Obra da Propagação da Fé e pelas outras Obras Missionárias.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Maria Paulina, jovem atenta à voz do Espírito, antecipou profeticamente quanto o Magistério pontifício e o Concílio Ecuménico Vaticano II ressaltariam em seguida, evidenciando o carácter missionário do inteiro Povo de Deus e a contribuição específica que os leigos são chamados a oferecer à actividade evangelizadora da Igreja.

A exemplo desta mulher corajosa, hoje sois chamados a promover uma colaboração cada vez mais fraterna entre as Igrejas, suscitando e formando numerosos colaboradores para a causa missionária. Sabei infundir neles a paixão pelo anúncio do Evangelho e o desejo de sustentar o empenho das jovens Igrejas. Esta cooperação será eficaz, se for incessantemente sustentada pela oração, pelos sacrifícios e pelo anélito constante à santidade. Só neste clima de tensão espiritual e apostólica, ela poderá pôr as condições para o desenvolvimento de numerosas vocações missionárias e para o apoio generoso às actividades missionárias.

4. Outra figura, sobre a qual quisestes reflectir durante a vossa Assembleia, é Santa Teresa do Menino Jesus, proclamada «Padroeira das Missões» pelo meu venerado predecessor, Papa Pio XI, a 14 de Dezembro de 1927, e da qual este ano celebramos o centenário da morte. Embora tenha sido chamada à vida contemplativa, Teresa do Menino Jesus viveu em plena sintonia com a realidade missionária da Igreja universal. O seu desejo supremo era amar e fazer amar o Senhor, trabalhando pela glorificação da Igreja e a salvação das almas, como afirmava na oração em que se oferecia a si mesma como vítima de holocausto ao amor misericordioso.

A experiência da pequenina Teresa representa uma singular via de dedicação à causa da evangelização, que se enraíza no caminho de santidade, pressuposto indispensável de toda a vocação missionária. Como eu recordava na Encíclica Redemptoris missio, «a universal vocação à santidade está estritamente ligada à universal vocação à missão: todo o fiel é chamado à santidade e à missão. Este foi o voto ardente do Concílio ao desejar, “com a luz de Cristo, reflectida no rosto da Igreja, iluminar todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura”. A espiritualidade missionária da Igreja é um caminho orientado para a santidade» (n. 90).

5. Caros Directores Nacionais, esta é a vossa tarefa: procurar favorecer com todos os meios na inteira Comunidade cristã um renovado ardor missionário. A partir desse ímpeto apostólico, cada uma das Obras — a Propagação da Fé, a Infância Missionária, São Pedro Apóstolo e a União Missionária — é chamada a realizar o seu empenho específico e insubstituível, «quer para infundir nos católicos, desde a infância, um espírito verdadeiramente universal e missionário, quer para favorecer uma adequada recolha de fundos em favor de todas as missões... e suscitar vocações “ad gentes”, por total consagração de vida, tanto nas Igrejas antigas como nas mais jovens » (Redemptoris missio, RMi 84).

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Enquanto faço votos por que a preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000 constitua para todos vós uma ulterior ocasião de renovado empenho ao serviço da causa do Evangelho, confio-vos, bem como os vossos Colaboradores, à protecção materna de Maria, Estrela da evangelização, e concedo-vos de coração uma especial Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SUPERIOR-GERAL DOS PADRES ROGACIONISTAS


DO CORAÇÃO DE JESUS


16 de Maio de 1997





Reverendíssimo Padre PIETRO CIFUNI
Superior-Geral dos Padres Rogacionistas do Coração de Jesus

1. A festiva celebração do primeiro Centenário do nascimento da Congregação dos Rogacionistas do Coração de Jesus [16 de Maio de 1897], oferece-me a grata oportunidade de lhe dirigir, bem como a todos os filhos do Beato Aníbal Maria Di Francia, e de igual modo às Filhas do Divino Zelo e a quantos compartilham o mesmo ideal, uma palavra de felicitação e de bons votos, mas sobretudo de acção de graças a Deus pelo dom que Ele quis fazer à Sua Igreja, enriquecendo-a com o carisma religioso «rogacionista». A perspectiva do já próximo terceiro milénio cristão oferece ulterior motivação para uma celebração, que suscite em todos os componentes da Família rogacionista renovada determinação a um generoso e qualificado serviço de anúncio e de testemunho do Evangelho de Cristo, nos vários Países em que se difundiu.

2. «Novum fecit Dominus» (Escritos, vol. I, pág. 96; cf. Is Is 43,19 Ap 21,5). Estas palavras da Sagrada Escritura, que o Padre Fundador gostava de repetir, repleto de grata admiração pela obra realizada pelo Senhor mediante o seu humilde ministério, ressoam hoje na alma dos seus filhos e das suas filhas, levando- os a reviver aquela inesperada e luminosa intuição, que inflamou o seu coração, dando-lhe a certeza de «ter encontrado o segredo de todas as boas obras e da salvação de todas as almas» (Antologia Rogacionista, pág. 382).


Discursos João Paulo II 1997 - 6 de Maio de 1997