AUDIÊNCIAS 1997

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 23 de Abril de 1997

«Mulher, eis aí o teu filho!»



Queridos Irmãos e Irmãs

1. Depois de ter recordado a presença de Maria e das outras mulheres junto da cruz do Senhor, São João refere: «Ao ver Sua mãe e junto dela o discípulo que Ele amava, Jesus disse à Sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”» (Jn 19,26-27).

Estas palavras, particularmente comoventes, constituem uma «cena de revelação »: revelam os profundos sentimentos de Cristo moribundo e encerram uma grande riqueza de significados para a fé e a espiritualidade cristã. Com efeito, ao dirigir-Se, no fim da Sua vida terrena, à Mãe e ao discípulo que Ele amava, o Messias crucificado estabelece novas relações de amor entre Maria e os cristãos.

Interpretadas às vezes unicamente como manifestação da piedade filial de Jesus para com a Mãe, confiada para o futuro ao discípulo predilecto, essas expressões vão muito além da necessidade contingente de resolver um problema familiar. De facto, a consideração atenta do texto, confirmada pela interpretação de muitos Padres e pelo comum sentir eclesial, põe-nos diante, na dúplice entrega de Jesus, de um dos factos mais relevantes para compreender o papel da Virgem na economia da salvação.

As palavras de Jesus moribundo, na realidade, revelam que o Seu primeiro intento não é o de confiar a Mãe a João, mas de entregar o discípulo a Maria, atribuindo-lhe uma nova missão materna. O apelativo «mulher», além disso, usado por Jesus também nas bodas de Caná para conduzir Maria a uma nova dimensão do seu ser Mãe, mostra que as palavras do Salvador não são fruto de um simples sentimento de afecto filial, mas têm em vista pôr-se num plano mais elevado.

2. A morte de Jesus, embora tenha causado o máximo sofrimento a Maria, não muda por si mesma as suas habituais condições de vida: com efeito, abandonando Nazaré para iniciar a Sua vida pública, Jesus tinha já deixado sozinha a Mãe. Além disso, a presença junto da cruz da sua parente, Maria de Cléofas, permite supor que a Virgem tivesse boas relações com a família e os parentes, junto dos quais poderia encontrar acolhimento depois da morte do Filho.

As palavras de Jesus, ao contrário, assumem o seu mais autêntico significado no interior da Sua missão salvífica. Pronunciadas no momento do sacrifício redentor, elas haurem precisamente desta circunstância sublime o seu valor mais alto. O Evangelista, com efeito, depois das expressões de Jesus à Mãe, refere um significado incisivo: «Jesus, sabendo que tudo estava consumado...» (Jn 19,28), quase a querer ressaltar que Ele levou a termo o Seu sacrifício com a entrega da Mãe a João e, nele, a todos os homens, dos quais ela se torna Mãe na obra da salvação.

3. A realidade posta em acto pelas palavras de Jesus, isto é, a nova maternidade de Maria em relação ao Discípulo, constitui um ulterior sinal do grande amor, que levou Jesus a oferecer a vida por todos os homens. No Calvário esse amor manifesta-se ao dar uma mãe, a Sua, que se torna assim também a nossa mãe.

É preciso recordar que, segundo a tradição, João é aquele que, de facto, a Virgem reconheceu como o seu filho; mas esse privilégio foi interpretado pelo povo cristão, desde o início, como sinal duma geração espiritual que se refere à humanidade inteira.

A maternidade universal de Maria, a «Mulher» das bodas de Caná e do Calvário, recorda Eva, «mãe de todos os viventes» (Gn 3,20). Contudo, enquanto esta contribuíra para a entrada do pecado no mundo, a nova Eva, Maria, coopera para o evento salvífico da Redenção. Assim na Virgem, a figura da «mulher » é reabilitada e a maternidade assume a tarefa de difundir entre os homens a vida nova em Cristo.

Em vista dessa missão, à Mãe é pedido o sacrifício, para Ela muito doloroso, de aceitar a morte do seu Unigénito. A expressão de Jesus: «Mulher, eis aí o teu filho», permite a Maria intuir a nova relação materna que prolongaria e ampliaria a precedente. O seu «sim» a esse projecto constitui, portanto, um assentimento ao sacrifício de Cristo, que Ela aceita generosamente na adesão à vontade divina. Ainda que no desígnio de Deus a maternidade de Maria se destinasse, desde o início, a estender-se à humanidade inteira, só no Calvário, em virtude do sacrifício de Cristo, ela se manifesta na sua dimensão universal.

As palavras de Jesus: «Eis aí o teu filho », realizam aquilo que exprimem, constituindo Maria mãe de João e de todos os discípulos destinados a receber o dom da Graça divina.

4. Na Cruz Jesus não proclamou de modo formal a maternidade universal de Maria, mas instaurou uma concreta relação materna entre Ela e o discípulo predilecto. Nesta escolha do Senhor pode- se divisar a preocupação de que essa maternidade não seja interpretada em sentido vago, mas indique a intensa e pessoal relação de Maria com cada um dos cristãos.

Possa cada um de nós, precisamente devido a esta concretitude da maternidade universal de Maria, reconhecer plenamente n’Ela a própria Mãe, entregando- se com confiança ao seu amor materno.

Apelo do Santo Padre em favor da Paz no Zaire

Dirijo de novo o meu afectuoso e, ao mesmo tempo, doloroso pensamento ao Zaire e à inteira população, a qual continua a sofrer também neste tempo de Páscoa, que deveria ser tempo de alegria.

Peço insistentemente a todas as partes envolvidas no conflito que aceitem um diálogo leal e uma verdadeira negociação, colaborando com os esforços da Comunidade internacional, a fim de que se chegue quanto antes à cessação das hostilidades e à retomada do caminho rumo a uma autêntica democracia. Só assim serão poupadas a tantos inocentes ulteriores e mais graves sofrimentos!

Desejo chamar a atenção de todos para a tragédia dos refugiados ruandeses, que parece nunca ter fim: suplico que se lhes assegure o socorro de que têm necessidade! Peço que se favoreça o seu retorno à pátria, na dignidade, na segurança e na justiça, sem pôr obstáculos ou entraves aos planos predispostos para essas finalidades!

A Cristo ressuscitado, vencedor do ódio e da morte, elevemos a nossa unânime oração a fim de que a paz, da qual Ele quer fazer dom pascal ao Zaire e também à inteira humanidade, possa encontrar acolhimento em corações renovados e reconciliados

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs!

Aos grupos, vindos de Portugal e do Brasil, e aos restantes peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação fraterna e agradecida pela presença amiga, com uma lembrança junto de Deus da vossa vida e de quantos vos estão confiados. Sabeis que estais incluídos naquelas palavras de Jesus à Virgem Maria: «Mulher, eis aí o teu filho», e que tais palavras realizam aquilo que exprimem. Por isso, «recebei-a na vossa casa ». Deixai que a maior e a melhor das Mães vele por vós, ao longo de todos os vossos dias até à eternidade!

Desejo saudar agora, com muito afecto, os peregrinos de língua espanhola, em particular o grupo da Polícia Nacional da Espanha, assim como as Associações valencianas de aposentados e pensionistas do Reino de Valença e do Banco Central Hispano. Saúdo também o grupo de delegados de «Telecom», provenientes de diversos países da América. A todas as pessoas e grupos vindos da Espanha e da América Latina concedo com afecto a Bênção Apostólica.

Saúdo agora os peregrinos de língua italiana; em particular, as Irmãs da Ordem da Companhia de Maria Nossa Senhora, acompanhadas da sua Superiora- Geral, Madre Margarita Maria Pedraz Garcia que, por ocasião do seu Capítulo, quiseram renovar ao Sucessor de Pedro os seus sentimentos de afecto e de comunhão eclesial.

E agora a vós, caríssimos Jovens, Doentes e jovens Casais, dirige-se a minha particular recordação com profundo afecto.

Como sabeis, no final desta semana irei à República Tcheca para recordar o milénio do martírio de Santo Adalberto Bispo, cuja memória litúrgica é hoje celebrada. O exemplo deste heróico pregador do Evangelho e fundador de Comunidades cristãs seja para vós, caros jovens, modelo de generoso testemunho cristão; para vós, queridos doentes, apoio na oferta quotidiana do vosso sofrimento; e para vós, prezados jovens esposos, ajuda e sustento na santificação do vosso amor conjugal.

A todos a minha Bênção.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 30 de Abril de 1997

No «itinerarium» terreno de Santo Adalberto

a história espiritual do inteiro continente europeu

Caríssimos Irmãos e Irmãs:


1. «Santo Adalberto, nosso Padroeiro, Protector da nossa pátria, rogai por nós!». Estas palavras e a melodia com que são cantadas acompanharam-me durante a visita à República Tcheca, por ocasião do milénio da morte de Santo Adalberto. Santo Adalberto, originário da estirpe principesca dos Slavník, nasceu em 956, em Libice, no território da actual diocese de Hradec Králové. Ainda jovem tornou- se Bispo e foi o primeiro Tcheco que ocupou a sede episcopal de Praga. O seu ministério pastoral, contudo, demonstrou- se não fácil, tanto que em breve tempo, teve de abandonar a cidade. Veio a Roma e aqui, no Aventino, tornou-se beneditino. O Bispo-monge, obediente à Sede Apostólica, manifestou- se sempre pronto a retornar a Praga, se o Papa lhe tivesse pedido. Quando a situação em Praga se tornou um pouco melhor, o Sucessor de Pedro pediu- lhe que retornasse à pátria. Ele obedeceu. Mas tratava-se de um melhoramento passageiro. O Bispo Adalberto foi de novo expulso. Partiu então como missionário, para anunciar Cristo aos povos que ainda não O conheciam.

Transcorreu em primeiro lugar um período nas planícies da Panónia, território da Hungria de hoje; depois, a convite do rei Boleslau, o Intrépido, permaneceu na sua corte. Através da Porta da Morávia, dirigiu-se para Gniezno, não só para usufruir da hospitalidade do rei, mas para empreender um ulterior trabalho missionário. Desta vez a missão conduziu- o para as costas do Mar Báltico, na perspectiva de anunciar Cristo à Prússia pagã. E foi precisamente no Báltico que encontrou a morte por martírio, como é bem ressaltado por Giovanni Canapario na celebração da sua memória litúrgica. O rei Boleslau, o Intrépido, resgatou a alto preço o corpo do Mártir e fez com que as relíquias fossem levadas para Gniezno.

Naquele tempo, na Idade Média cristã, as relíquias dos mártires revestiam um alto valor também para a comunidade civil. Assim foi para Santo Adalberto. Graças às suas relíquias, no ano 1000 surgiu em Gniezno a primeira metrópole polaca e a Polónia dos Piast entrou na família das nações e dos Estados europeus. O martírio de Santo Adalberto tornou-se o fundamento da Igreja e do Estado nas terras dos Piast. Hoje, as relíquias deste santo Mártir encontram-se não só em Gniezno, mas também em Praga, na catedral dos Santos Vito, Venceslau e Adalberto.

2. Era justo que, antes de responder positivamente ao convite que me foi dirigido pelos Bispos polacos para ir a Gniezno, eu fosse à República Tcheca. «Santo Adalberto, nosso Padroeiro, Protector da nossa pátria, rogai por nós!».

Sem dúvida, a primeira pátria de Santo Adalberto é a Boémia, e de modo especial a pequena cidade de Libice, onde ele nasceu e ainda hoje existe a sede da família dos príncipes Slavník. Esta primeira pátria de Santo Adalberto, a sua terra natal e o lugar onde recebeu o baptismo por obra dos seus pais, foi, como era lógico, a primeira meta da minha Visita pastoral por ocasião do milénio. Pode-se dizer que a Polónia foi a sua segunda pátria, a terra onde ele recebeu o segundo baptismo, o do martírio, por meio do qual nasceu para a pátria celeste, rumo à qual peregrinou de modo heróico ao longo dos quarenta anos da existência terrena. Tornou-se Bispo quando ainda era jovem, e nessa idade maturou para o Reino dos céus.

Este seu itinerário pessoal, o caminho de um Mártir, Padroeiro da Boémia e da Polónia, após mil anos, tem também para nós crentes e para a humanidade inteira, peregrinos sobre a terra, uma grande importância. Através do itinerarium terreno de Santo Adalberto, através do seu martírio, podemos reler a história espiritual do inteiro continente europeu e, de modo especial, da Europa Central. Esta foi a finalidade das celebrações do milénio, que testemunhara episcopado de todas as nações europeias, todos conscientes do peso que Adalberto teve na história espiritual da Europa. Agradeço de coração, mais uma vez, às Autoridades do Estado e ao Episcopado da República Tcheca o convite que me dirigiram para participar nas celebrações do milénio de Santo Adalberto.

Agradeço ao Senhor Presidente, Václav Havel, as suas palavras, que bem interpretaram o significado da missão do grande Bispo. Estou grato ao Senhor Cardeal Miloslav Vlk e a todos os Bispos da República Tcheca pela organização das celebrações milenárias.

Como não recordar a esta altura, de modo particular o saudoso Cardeal František Tomášek, cujo túmulo pude visitar na Catedral de Praga Com efeito, deve-se a ele a iniciativa do «Decénio de renovação espiritual», em vista do milénio da morte de Santo Adalberto. Quero, além disso, agradecer ao Bispo Karel Otcenášek, decano do Episcopado tcheco, que organizou as celebrações na sua diocese de Hradec Králové, onde nasceu Santo Adalberto. Mais que nunca oportuno foi o facto de, precisamente no lugar ligado à juventude do Santo, se terem encontrado para a Santa Missa os jovens da Boémia e da Morávia, e os dos Países confinantes, representando num certo sentido a juventude de toda a Europa.

De igual modo rico de significado foi o encontro com os religiosos e as religiosas, juntamente com os doentes, na histórica Arquiabadia beneditina de Brevnov, em Praga, que deve a própria fundação a Santo Adalberto. A vida consagrada, depois da longa e dura prova da ditadura comunista, vive agora a sua primavera, como de modo eloquente pôs em evidência a presença de jovens vocações ao lado de religiosos e religiosas idosos. A abadia de Brevnov, e especialmente o Arquiabade Anastásio, muito conhecido, continuam a sua obra no sulco da tradição da grande Família beneditina, rica de méritos em toda a Europa, não só no que se refere à vida litúrgica e religiosa, mas também à cultura nacional.

No domingo, 27 de Abril, uma grande multidão de fiéis esteve reunida para a Santa Missa em Praga, no mesmo lugar onde, há sete anos, imediatamente depois da derrocada do comunismo, me foi dado celebrar, pela primeira vez, a Eucaristia em terra tcheca. À tarde, realizou- se depois o último encontro, a comum oração ecuménica na Catedral, seguida pela visita às relíquias de Santo Adalberto, que ali repousam ao lado das de São Venceslau. A Catedral é o grande santuário nacional de toda a Boémia. Na oração ecuménica tomaram parte as confissões cristãs que vivem em terra tcheca. Todos, juntamente com o Papa, sentiram a urgência da unidade cristã, da qual Santo Adalberto foi convicto e operoso defensor. Dou graças a Deus por este encontro e pelas palavras pronunciadas pelo Doutor Smetana, Presidente do Conselho das Igrejas da República Tcheca, representante da tradição dos Irmãos da Boémia.

O Presidente Václav Havel, ao dar-me em 1990 as boas-vindas no aeroporto de Praga, pronunciou estas memoráveis palavras: «Não sei o que é um milagre, mas o facto de poder receber hoje aqui o Papa, é certamente um milagre». Falava de milagre em sentido moral, aludindo à derrocada do sistema totalitário comunista, que durante longo tempo tinha oprimido diversas nações do Leste europeu. Pode-se dizer que esta minha visita, ligada ao milénio de Santo Adalberto, foi quase a continuação daquele milagre moral. Por isso, com o Salmista, digo ao Senhor: «Sempre Vos hei-de louvar porque Vós agistes» (Sl. 52[51], 11).



Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua portuguesa aqui presentes, em particular os grupos de visitantes brasileiros das Arquidioceses de São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória; e os grupos de portugueses das paróquias da Estela de Braga, de Serreleis e de Santa Marta, de Portuzelo de Viana do Castelo; um grupo de estudantes de Sátão e, enfim, visitantes de Viseu e os membros da Ordem Terceira de São Francisco, de Guimarães. Sede bem-vindos! E que leveis desta visita a Roma mais viva a certeza que é apelo: Jesus Cristo morreu por mim, para a minha salvação! Que vos iluminem os testemunhos de São Pedro e São Paulo e vos assista a graça de Deus, que imploro para vós e vossas famílias, com a Bênção Apostólica.

Estou feliz de acolher os peregrinos de língua francesa. Saúdo de modo muito particular os jovens que vieram de muitos colégios, e entre eles os alunos dum Centro «Madeleine Daniélou», assim como os catequistas da dioceses de Baiona. Que a vossa permanência em Roma vos ajude a aumentar a vossa fé em Cristo ressuscitado! A todos, concedo do íntimo do coração a Bênção Apostólica.

Apresento as cordiais boas-vindas aos visitantes de língua inglesa, especialmente aos peregrinos da Irlanda, Austrália, Indonésia, Japão, Filipinas e Estados Unidos. Sobre todos vós invoco de coração a alegria e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

É-me grato saudar agora os peregrinos de língua espanhola, presentes em Roma, de modo especial os dirigentes e os jogadores do Clube de futebol Atlético de Madrid, os membros da Adoração Nocturna de Vitória, assim como os diversos colégios, paróquias e grupos da Espanha, Argentina e México. Sobre todos invoco a protecção do santo Bispo de Praga, Adalberto, que faz parte do património espiritual comum da língua universal, e concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.

Saúdo-vos de coração, caros peregrinos húngaros. Durante a minha viagem apostólica na República Tcheca festejámos o milénio do martírio de Santo Adalberto, Bispo de Praga e Mártir. O culto de Santo Adalberto é mantido também em Estergom. Peçamos a sua intercessão para a nova evangelização de toda a sociedade na Hungria. Com a minha Bênção Apostólica. Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo o coro dos jovens de Begunje na Gorenjskem, na Eslovénia; os peregrinos da diocese de Maribon de Starže, Ljutomer e Veršej, e os seminaristas de Liubliana. Particularmente bem-vindos os fiéis de Matenja vas junto de Postojna, onde os jovens eslovenos me acolheram com entusiasmo em Maio do ano passado e, de certo modo, retribuem a visita. Possa a visita a Roma consolidar a vossa fé, e que Nossa Senhora Auxiliadora vos assista na vida quotidiana. A todos concedo a minha Bênção Apostólica.

Com grande afecto saúdo os grupos de peregrinos de Espálato, Vinkovci e Sraèince, e os outros peregrinos croatas. Bem-vindos!

A preparação para o Grande Jubileu requer o empenho de todas as energias da Igreja para atingir a finalidade proposta para esse evento, que nos recorda a «plenitude dos tempos» (cf. Gál Ga 4,4), ocorrida com a Encarnação do Verbo, Filho consubstancial ao Pai, e com o mistério da Redenção do mundo. É necessário, portanto, que cada cristão trabalhe, actue e dê testemunho em conformidade com a fé, a fim de que aconteça uma nova primavera de vida cristã a nível dos indivíduos, das famílias e da sociedade inteira.

A cada um de vós aqui presentes e às vossas famílias, de bom grado concedo a Bênção Apostólica.

Louvados sejam Jesus e Maria!

Tenho a alegria, depois, de vos acolher, caros Jovens, Doentes e jovens Casais. O calendário da piedade cristã recorda que amanhã inicia o mês, tradicionalmente ligado à devoção mariana. Convido-vos a todos a perseverar no caminho da oração a Maria, redescobrindo com maior intensidade o quotidiano diálogo com Aquela que nos deu o Príncipe da vida.

Isto ajudar-vos-á, caros jovens, a procurar constantemente a Cristo e a seguil’O com alegria; sustentar-vos-á, queridos doentes, no quotidiano e empenhativo esforço de unir os vossos sofrimentos aos do Redentor do homem; guiar-vos-á, prezados jovens esposos, a edificar o amor mútuo na fidelidade a Deus e no generoso serviço à vida.

A todos a minha Bênção!



                                                                              Maio de 1997

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 7 de Maio de 1997

«Eis aí a tua mãe!»



1. Depois de ter confiado João a Maria com as palavras: «Mulher, eis aí o teu filho!», Jesus, do alto da cruz, dirige- se ao discípulo predilecto, dizendolhe: «Eis aí a tua mãe!» (Jn 19,26-27). Com esta expressão, Ele revela a Maria o vértice da sua maternidade: enquanto mãe do Salvador, Ela é a mãe também dos remidos, de todos os membros do Corpo Místico do Filho.

A Virgem acolhe no silêncio a elevação a este máximo grau da sua maternidade de graça, tendo já dado uma resposta de fé com o seu «sim» na Anunciação.

Jesus não só recomenda a João que cuide de Maria com particular amor, mas confia-lhe para que a reconheça como a própria mãe.

Durante a última Ceia, «o discípulo a quem Jesus amava» escutou o mandamento do Mestre: «Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei» (Jn 15,12) e, reclinando a cabeça no peito do Senhor, recebeu d’Ele um singular sinal de amor. Essas experiências prepararam- no para perceber melhor, nas palavras de Jesus, o convite a acolher Aquela que lhe é dada como mãe e a amá-la como Ele com ardor filial.

Oxalá todos descubram nas palavras de Jesus: «Eis aí a tua mãe!», o convite a aceitar Maria como mãe, respondendo como verdadeiros filhos ao seu amor materno.

2. À luz dessa entrega ao discípulo predilecto, pode-se compreender o sentido autêntico do culto mariano na comunidade eclesial. Este, de facto, põe os cristãos na relação filial de Jesus com a Sua mãe, colocando-os na condição de crescerem na intimidade com ambos.

O culto que a Igreja presta à Virgem não é apenas fruto duma iniciativa espontânea dos crentes, diante do valor excepcional da sua pessoa e da importância do seu papel na obra da salvação, mas baseia-se na vontade de Cristo.

As palavras «Eis aí a tua mãe!» exprimem a intenção de Jesus de suscitar nos discípulos uma atitude de amor e confiança para com Maria, conduzindo-os a reconhecer n’Ela a própria mãe, a mãe de todos os crentes.

Na escola da Virgem os discípulos aprendem, como João, a conhecer profundamente o Senhor e a realizar uma íntima e perseverante relação de amor com Ele. Descobrem, além disso, a alegria de se confiarem ao amor materno da Mãe, vivendo como filhos afectuosos e dóceis.

A história da piedade cristã ensina que Maria é a via que leva a Cristo, e que a devoção filial para com Ela nada tira à intimidade com Jesus, antes, a aumenta e a conduz a altíssimos níveis de perfeição.

Os inúmeros santuários marianos espalhados pelo mundo estão a testemunhar as maravilhas operadas pela Graça, por intercessão de Maria, mãe do Senhor e nossa mãe.

Recorrendo a Ela, atraídos pela sua ternura, também os homens e as mulheres do nosso tempo encontram Jesus, Salvador e Senhor da vida deles.

Sobretudo os pobres, provados no íntimo, nos afectos e nos bens, ao encontrarem refúgio e paz junto da Mãe de Deus, redescobrem que a verdadeira riqueza consiste para todos na graça da conversão e do seguimento de Cristo.

3. O texto evangélico, segundo o original grego, prossegue: «Desde aquela hora o discípulo acolheu-a entre os seus bens» (Jn 19,27) pondo, assim, em realce a pronta e generosa adesão de João às palavras de Jesus e informando-nos acerca do comportamento, por ele mantido durante a vida toda, como fiel guardião e dócil filho da Virgem.

A hora do acolhimento é a da realização da obra de salvação. Precisamente nesse contexto, têm início a maternidade espiritual de Maria e a primeira manifestação do novo ligame entre Ela e os discípulos do Senhor.

João acolheu a Mãe «entre os seus bens». Esta expressão bastante genérica parece evidenciar a sua iniciativa, cheia de respeito e de amor, não só de hospedar Maria em sua casa, mas sobretudo de viver a vida espiritual em comunhão com Ela.

Com efeito, a expressão grega, literalmente traduzida «entre os seus bens», não indica tanto os bens materiais pois João — como observa Santo Agostinho (In Ioan. Evang. tract. 119, 3) — «não possuía nada», quanto os bens espirituais ou dons recebidos de Cristo: a graça (Jn 1,16), a Palavra (Jn 12,48 Jn 17,8) o Espírito (Jn 7,39 Jn 14,17), a Eucaristia (Jn 6,32-58)... Entre estes dons, que lhe derivam do facto de ser amado por Jesus, o discípulo acolhe Maria como mãe, estabelecendo com Ela uma profunda comunhão de vida (cf. RM Rm 45, nota 130).

Possa cada cristão, a exemplo do discípulo predilecto, «receber Maria em sua casa», dar-lhe espaço na própria existência quotidiana, reconhecendo o seu papel providencial no caminho da salvação.

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, dou as boas-vindas a todos, nomeadamente aos alunos e professores do Instituto Santa Terezinha de São Paulo. Esta semana trouxe-vos até Roma e leva-vos até à Festa da Ascensão de Jesus ao Céu. São metas de ordem e nível diversos, mas cruzam-se no coração de um romeiro cristão: sabendo ele que não possui aqui cidade permanente, orienta os seus passos para aquela Cidade futura onde Cristo Se encontra sentado à direita de Deus Pai. O Espírito Santo abençoe, com os seus dons, as etapas da vossa vida e quantos se encontrarem por bem no vosso caminho!

Acolho com prazer os peregrinos de língua francesa, presentes nesta audiência. A minha gratidão dirige-se à fanfarra do Corps des Gardes-Fortifications, que, com a sua presença, honrou as festividades da apresentação do juramento dos Guardas suíços. Saúdo com afecto todos os jovens francófonos, em particular os alunos do Centro Madeleine Daniélou e os jovens surdos do Centro de reeducação de Breteville-sur-Odon e os seus educadores. Caros jovens, convido- vos a acolher Maria como guia e modelo, para vos tornardes disponíveis aos apelos de Cristo e realizardes a vossa vocação. A todos dou a Bênção Apostólica.

Apresento calorosas boas-vindas a todos os visitantes de língua inglesa, de modo especial aos peregrinos da Inglaterra, da Indonésia, do Japão e dos Estados Unidos. Sobre todos vós e sobre as vossas famílias invoco, do íntimo do coração, a alegria e a paz de Jesus Cristo, nosso Salvador.

Desejo saudar agora cordialmente os peregrinos de língua espanhola, em particular o Senhor Cardeal Juan Sandoval Íñiguez, Arcebispo de Guadalajara, com os seus companheiros sacerdotes vindos a Roma para celebrar o quadragésimo aniversário de ordenação. Saúdo também os componentes do Segundo Curso da Escola de Estado-Maior do Exército Espanhol, que quiseram peregrinar até ao túmulo de Pedro na sua viagem de fim de curso. A todos vós, pessoas e grupos vindos da Espanha e da América Latina, desejo que descubrais nas palavras de Jesus o convite a acolher Maria como mãe, correspondendo ao seu amor materno como verdadeiros filhos. Com afecto vos concedo a Bênção Apostólica.

Dou as boas-vindas aos peregrinos provenientes do Instituto fisiológico de Praga. Ontem celebrastes a festa de São João Sarkander. Este Sacerdote soube viver do Mistério pascal: o Salvador foi para ele força também no martírio. Possais também vós sempre haurir força da Cruz de Cristo e da sua Ressurreição.

Abençoo de coração todos vós e os vossos entes queridos na pátria.

Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo de coração os peregrinos provenientes da Lituânia. Caros Irmãos e Irmãs, no início do mês de Maio, dedicado à devoção mariana, quero confiar todos vós e a vossa Pátria à Virgem Maria a esperança da Igreja e da humanidade. O seu Coração Imaculado vos guie sempre na busca constante da verdade e da paz autêntica. Com estes votos concedo de bom grado a vós aqui presentes e aos vossos familiares a Bênção Apostólica. Louvado seja Jesus Cristo!

Com afecto dou as boas-vindas aos peregrinos eslovacos de Levice e Pleš , de Ocová e Slovenská Lupca.

Amanhã celebra-se a solenidade litúrgica da Ascensão do Senhor. O eterno Filho de Deus, o Qual viveu trinta e três anos sobre a terra para ser nosso Mestre e Redentor, subiu ao céu para preparar um lugar para nós.

Caros Irmãos e Irmãs, quando na vossa peregrinação, que estais a realizar, chegastes à meta — Roma — alegrastes- vos com isto. Toda a vossa vida deve ser uma peregrinação rumo à pátria eterna, o céu. Lá, a alegria eterna está à vossa espera. Acompanhem-vos rumo a esta meta a protecção materna da Virgem Maria e a minha Bênção Apostólica.

Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo agora os peregrinos de língua italiana e desejo recordar, em particular, o grupo de Oficiais e Alunos da Academia da Guarda Fiscal italiana, vindos visitar-me juntamente com alguns Oficiais da Guarda Fiscal da Roménia.

Caríssimos, agradeço-vos a vossa presença e invoco sobre vós e sobre os vossos familiares, as bênçãos do Senhor, para um empenho cristão sempre coerente nas diversas funções que a Providência reserva a cada um.

Dirijo, depois, um pensamento especial aos Jovens, aos Doentes e aos jovens Casais. Aos jovens, desejo que conservem sempre o entusiasmo e a alegria de viverem olhando para Cristo, que a liturgia de amanhã nos mostra enquanto sobe ao céu.

Aos doentes, recomendo que jamais desanimem, conservando a certeza de que o Senhor está junto deles e que os seus sofrimentos são preciosos aos Seus olhos.

Aos jovens esposos, dirijo o convite a prosseguirem com confiança, esforçando- se por crescer no amor, cultivando um intenso espírito de oração e uma activa participação na vida da comunidade cristã. A todos a minha Bênção.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 14 de Maio de 1997

A paz é a missão fundamental do Líbano

no seu interior e na grande família das Nações



Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. A visita ao Líbano, longamente esperada, enfim se realizou nos dias 10 e 11 de Maio, no período em que a Igreja, depois da Ascensão do Senhor ao céu, se prepara para a solenidade do Pentecostes. Ela revive aquela que foi como que a primeira grande novena da Comunidade cristã ao Espírito Santo. Jesus, antes de subir ao céu, ordenou de facto aos Apóstolos que retornassem a Jerusalém e esperassem a vinda do Espírito Santo: «Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo» (Ac 1,8). Os Apóstolos, obedecendo ao mandato do Senhor, retornaram a Jerusalém e, como está escrito nos Actos dos Apóstolos, «entregavam-se assiduamente à oração, em companhia de algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus e de Seus irmãos» (Ac 1,14). Permaneceram reunidos no mesmo Cenáculo onde tinha sido instituída a Eucaristia; onde, depois da ressurreição, lhes aparecera Cristo, mostrando as chagas, sinais da Sua paixão, e onde soprara sobre eles dizendo: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jn 20,22-23). O Cenáculo, testemunha da instituição da Eucaristia e do sacramento da reconciliação, é o lugar aonde a Igreja retorna espiritualmente, convidada pela Liturgia destes dias após a Ascensão ao céu. E como não dar graças a Deus porque, precisamente neste período, se pôde realizar o encontro com a Nação libanesa, encontro que eu desejava havia tanto tempo.

2. A causa imediata desta visita foi a solene conclusão do Sínodo dos Bispos para o Líbano, cujos trabalhos se realizaram em Roma, em Novembro e Dezembro de 1995. Os frutos dessa Assembleia foram recolhidos numa Exortação Apostólica pós-sinodal, documento que tive a alegria de assinar durante a peregrinação no Líbano. E isto aconteceu numa circunstância bastante significativa, isto é, durante o encontro com os jovens, na tarde de sábado 10 de Maio. Na presença dos jovens foi assinado o documento que representa como que a Magna Charta da Igreja que está no Líbano. O facto de ele ter sido assinado precisamente naquela ocasião reveste uma eloquência particular. A presença dos jovens faz pensar sempre no futuro. Entregando precisamente a eles o documento pós-sinodal, eu desejava pôr em evidência o facto que a realização das tarefas indicadas pelo Sínodo dos Bispos dependerá, em grande medida, da juventude libanesa. Dos jovens depende o amanhã da Igreja e da Nação libanesas. São os jovens que devem cruzar o limiar do terceiro milénio e introduzir a sua pátria e a Igreja nessa nova época da fé.

3. O Líbano é um País bíblico, com um passado que se estende ao longo de alguns milénios. O seu símbolo é a árvore do cedro, que faz referência aos cedros que o rei Salomão fez chegar a Jerusalém para a construção do Templo. O Líbano é terra sobre a qual se pousaram os pés de Jesus de Nazaré. O Evangelho fala da permanência de Jesus nos arredores de Tiro e de Sidónia e dentro dos confins da chamada Decápole. Ali Cristo ensinou e realizou não poucos milagres. Memorável é, dentre todos, o da cura da filha da cananeia, quando Jesus atendeu ao pedido da mãe, admirado com a sua profunda fé (cf. Mt Mt 15,21-28). Os libaneses estão bem conscientes do facto que os seus antepassados escutaram a Boa Nova dos lábios do próprio Jesus.

Ao longo dos séculos o Evangelho foi depois anunciado de vários modos. Quanto a isto, decisiva foi a missão do santo monge Maron, do qual toma o nome a Igreja Maronita, a Igreja oriental mais estreitamente unida à tradição cristã do Líbano. Os Maronitas, todavia, não representam a única comunidade. O Líbano e, em particular, a sua capital Beirute, é lugar onde residem também os fiéis de outras Igrejas Patriarcais católicas: os greco-melquitas, os arménio-católicos, os sírio-católicos, os caldeus e os latinos. Isto enriquece a vida cristã naquele País. Em certo sentido, a vocação do Líbano é precisamente esta abertura universal e, dado que ali estão presentes Igrejas ortodoxas, a sua vocação é o ecumenismo. Tendo tido no passado ocasião de me encontrar, em Roma, com os representantes destas Igrejas e Comunidades cristãs, a minha visita a Beirute serviu para renovar estes ligames de recíprocos conhecimento e amizade.

Isto emergiu de modo especial na solene Celebração eucarística de domingo, 11 de Maio, que reuniu espiritualmente o inteiro Líbano e toda a Igreja desse País. Diz-se que nela participaram não só os cristãos católicos e ortodoxos, mas também muitos muçulmanos. O Líbano, com efeito, é ao mesmo tempo pátria das diversas expressões da comunidade muçulmana: Sunitas, Xiitas e Drusos. Todos sabem como os muçulmanos libaneses, desde há séculos, vivem em profunda harmonia com os cristãos, e durante a minha visita sublinhou-se muito a necessidade dessa convivência, para conservar a identidade nacional e cultural da Nação libanesa.

4. Finalidade desta minha peregrinação foi também sustentar o empenho dessa «convivência», orando ao mesmo tempo pela paz. Durante os últimos anos o Líbano foi cenário duma terrível guerra, da qual seria difícil explicar todo o mecanismo: uma guerra entre irmãos libaneses, na qual pesaram de modo decisivo forças e influências externas. O facto de a guerra ter enfim terminado e de o tempo da reconciliação e da reconstrução ter iniciado é extremamente importante, não só no que se refere ao próprio Líbano, mas também na perspectiva mais geral da situação no Próximo Oriente.


AUDIÊNCIAS 1997