Discursos João Paulo II 1997


Janeiro de 1997

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ALUNOS DO SEMINÁRIO


DE SÃO JOSÉ DE NOVA IORQUE


Sábado, 4 de Janeiro de 2004

Queridos Amigos

É-me grato dar as boas-vindas ao Reitor e aos Alunos do Seminário de São José, da Arquidiocese de Nova Iorque. O nosso encontro hodierno traz-me à mente o caloroso acolhimento que me reservastes durante a minha visita a Dunwoodie, realizada há pouco mais de um ano. Viestes em peregrinação a Roma por ocasião do encerramento das comemorações do centenário do Seminário de São José. Visitareis os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo e seguireis as pegadas de inumeráveis mártires e santos de todas as épocas da vida da Igreja. O seu exemplo vos inspire enquanto vos esforçais por crescer em santidade e caridade pastoral.

Assim como todos os seminários, o vosso deseja ser uma comunidade que revive a experiência original dos Doze, que estavam unidos a Jesus (cf. Pastores dabo vobis PDV 60). Ao aproximar-vos do Mestre divino através da oração e do estudo, rezo para que escuteis o seu chamamento ao serviço da Igreja e respondais com o coração repleto de caridade e generosidade.

Confio cada um de vós, juntamente com as vossas famílias e os vossos amigos, a Maria, Mãe da Igreja, e a São José, Padroeiro do vosso Seminário. Do íntimo do coração, concedo a todos vós a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO SENHOR CARLOS ABELLA Y RAMALLO

NOVO EMBAIXADOR DA ESPANHA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


10 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

1. É-me grato acolhê-lo neste solene acto em que me apresenta as Cartas Credenciais, que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Espanha junto da Santa Sé. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas, tenho o prazer de renovar a expressão do meu reconhecimento e apreço para com a nobre Nação Espanhola, tão próxima do meu coração.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu, assim como as cordiais saudações de Sua Majestade o Rei Dom Juan Carlos I e do Presidente do Governo, os quais, interpretando os sentimentos do povo espanhol, quiseram reiterar-me de novo a sua estima e apreço, aos quais retribuo implorando do Senhor copiosas graças que os ajudem no desempenho da sua missão.

2. A sua Nação tem uma longa e admirável história de fidelidade e de serviço à Igreja, que a torna depositária de um rico património espiritual, que as gerações actuais receberam e estão chamadas a conservar e transmitir às futuras. Toda essa história é digna de admiração e respeito e «deve servir de inspiração e estímulo para descobrir, no momento presente, as raízes profundas do ser de um povo. Não para o fazer viver o passado, mas para lhe oferecer o exemplo ?a ?prosseguir ?e ?melhorar ?o futuro» (Discurso em Barajas, 31.X.1982, 5).

3. Uma peculiaridade do momento actual na Espanha é o fortalecimento das liberdades, reflectindo assim a busca universal de liberdade que caracteriza o nosso tempo (cf. Discurso na ONU, 5.X.95, 2). Este processo teve muitos aspectos positivos com o passar dos anos, embora haja ainda alguns por resolver. Neste sentido, a sociedade deve tomar cada vez mais clara consciência de que a liberdade, se se afasta do respeito devido ao ser humano e aos seus direitos e deveres fundamentais, é só um termo vazio ou inclusive perigosamente ambíguo. Por outro lado, deve-se ter em conta que não se pode simplesmente identificar o estabelecido e autorizado pela lei num sistema democrático de governo com os princípios da moral, como se fossem praticamente equivalentes, pois sabe-se que as liberdades de expressão e de eleição não bastam por si mesmas — por nobres e verdadeiras que sejam — para conseguir uma liberdade autenticamente humana. Por isso, a Igreja, fiel à sua missão, ensina que a liberdade floresce realmente quando afunda as suas raízes na verdade sobre o homem.

Esta mesma verdade sobre o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, deve inspirar todas as acções que se empreendam e, por isso, os Bispos, guias do Povo de Deus, exercem o seu magistério para iluminar a profunda relação da vida social com a moral e a fé, exortando todos a reflectirem seriamente e a actuarem em consequência e consciência, para irem construindo uma sociedade cada vez mais justa e humana, que esteja fundamentada nos valores éticos.

4. Alguns problemas do momento presente, e que se arrastam desde há alguns anos, devem ser enfrentados com decisão, para evitar que se convertam em crónicos e deteriorem a convivência pacífica e o progresso integral dos espanhóis. Entre eles são motivo de preocupação o alto nível de desemprego, que impede que os jovens construam uma família e olhem para o futuro com serenidade, e que adquire matizes dramáticos para as famílias já constituídas; o desencanto pela gestão da causa pública, motivado às vezes pelos casos de corrupção; a triste realidade de um terrorismo quase endémico, que tanto ofende quem dele é vítima como quem o pratica. A este propósito, não posso esconder a minha amargura pelos sequestros de pessoas, feitos há já muitos meses, que encheram de tristeza as recentes e muito afectuosas festas natalícias nos seus respectivos lares, provocando a rejeição solidária de tantos espanhóis. Sei que o Governo da Nação está interessado na solução de todos estes problemas, e para isto encontrará nos Pastores e fiéis da Igreja na Espanha a cooperação necessária, pois os católicos sabem que o compromisso cristão os leva a promover tudo o que favorece a consecução do bem comum.

5. A sociedade deve ter entre os seus princípios básicos a defesa da vida, de toda a vida humana, e a promoção da família. Por isso não devem faltar, para que haja um verdadeiro progresso, estes pilares fundamentais, protegendo-os em tudo o que for necessário, a partir dos pontos de vista social, legislativo e fiscal. Perante uma certa deterioração ética da instituição familiar, quereria recordar quanto escrevi na minha Carta às Famílias: «Nenhuma sociedade humana pode correr o risco do permissivismo em questões de fundo relativas à essência do matrimónio e da família. Um tal permissivismo moral só pode causar dano às autênticas exigências da paz e da comunhão entre os homens. Compreende-se assim a razão por que a Igreja defende vigorosamente a identidade da família e incita as instituições competentes, especialmente os responsáveis pela política, bem como as organizações internacionais, a não cederem à tentação de uma aparente e falsa modernização » (n. 17).

6. No panorama internacional é preciso favorecer também a ética da solidariedade, se se quiser que a participação e a justa distribuição dos bens, juntamente com o crescimento económico, caracterizem o futuro da humanidade. A cooperação internacional quando é bem entendida, torna-se um caminho adequado, como assinalei no meu discurso na Sede da Organização das Nações Unidas (cf. 5.X.95, 13).

A Espanha, pela sua posição na Europa e pela história que a une com a América Latina, está chamada a dar uma valiosa contribuição a um futuro de paz, tanto na Europa como no resto dos continentes.

Por isso, formulo os meus melhores votos por que o seu País, fiel aos princípios humanos, espirituais e morais, progrida, como no passado, no empenho em promover relações fraternas entre todas as Nações, sobretudo entre aquelas com as quais está unida pela história e a tradição.

7. São muitos os vínculos que unem a Santa Sé com a Espanha, os quais são fortalecidos, além disso, por uma longa história. Na actualidade, o marco dos Acordos assinados entre a Igreja e o Estado espanhol continua a ser um válido instrumento para trabalhar ao serviço de todos os cidadãos. Por isso, a partir do respeito formal do conteúdo dos Acordos e com uma atitude recíproca de cordialidade e bom entendimento, pode-se progredir no aperfeiçoamento das relações actuais, a fim de chegar a resultados e conclusões comuns em temas tão importantes, que interessam as duas instâncias, como é, entre outras, a legislação em matéria de educação e de ensino. A Igreja católica considera que é inalienável o direito da família de poder escolher, sem obstáculos legais nem restrições económicas, o modelo educativo para os seus filhos. Esse direito, reconhecido também nos tratados internacionais, exige que o sistema educativo seja plenamente respeitoso das convicções de cada indivíduo, tenha em conta o serviço a todos os espanhóis e não esteja sujeito ao vaivém de mudanças políticas. Por isso, formulo os meus melhores votos por que, pelo caminho do diálogo, da negociação e do respeito, se progrida na mútua colaboração entre as Autoridades civis e a Hierarquia eclesiástica neste e noutros sectores.

8. Senhor Embaixador, no momento em que Vossa excelência se dispõe a iniciar a sua importante missão junto desta Sé Apostólica, é-me grato expressar-lhe os meus melhores votos pelo desempenho do seu cargo. Peço-lhe que se faça intérprete junto de Sua Majestade o Rei, assim como do Governo e do povo da Espanha, dos meus melhores votos de paz, prosperidade espiritual e material e de solidária convivência entre todos os espanhóis, sobre os quais invoco com afecto as bênçãos do Senhor, pela mediação da sua Padroeira, a Imaculada Conceição, tão venerada nessa terra.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A NOVE NOVOS EMBAIXADORES


ACREDITADOS JUNTO DA SANTA SÉ


11 de Janeiro de 1997



Excelências

É-me grato dar-vos as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que vos acreditam como Embaixadores dos vossos respectivos Países junto da Santa Sé. A vossa presença aqui, hoje, testemunha tanto a unidade como a diversidade da família humana; uma unidade na diversidade que constitui o fundamento de um premente imperativo moral de respeito recíproco, cooperação e solidariedade entre todas as nações do mundo. Através de vós saúdo os amados povos dos Países que representais: Austrália, Burkina Fasso, Eritreia, Estónia, Gana, Quirguistão, Paquistão, Singapura e Tanzânia.

A presença e a participação da Santa Sé na vida da Comunidade internacional são uma expressão concreta da convicção da Igreja de que o diálogo é o instrumento principal e mais eficaz, para a promoção de uma coexistência pacífica no mundo e a eliminação do flagelo da violência, da guerra e da opressão. A Igreja aprecia profundamente o contributo que, como diplomáticos, ofereceis à edificação de um mundo mais justo e humano. A urgência deste serviço à humanidade é evidente, sobretudo à luz de tragédias como as que actualmente afligem os povos da região dos Grandes Lagos, na África. Todas as vezes que o tecido da harmonia é lacerado e as justas relações entre povos estão ameaçadas, a nossa comum humanidade sofre.

No âmbito da Comunidade internacional, a Santa Sé sustenta todos os esforços por criar estruturas jurídicas eficientes, para salvaguardar a dignidade e os direitos fundamentais de indivíduos e comunidades. Essas estruturas, contudo, jamais podem por si mesmas ser suficientes; elas são apenas mecanismos, que devem ser inspirados por um empenho moral firme e perseverante, em ordem ao bem da família humana na sua integridade. Tanto para as comunidades como para os indivíduos, o empenho pela solidariedade, a reconciliação e a paz requer uma autêntica conversão do coração e uma abertura à verdade transcendente, que é a garantia última da liberdade e da dignidade humanas.

Asseguro-vos da disponibilidade dos católicos dos vossos Países a servirem o bem comum, através dos serviços educativos e sociais prestados pela Igreja. Ao mesmo tempo, exprimo o seu desejo de professarem a própria fé livremente e de compartilharem de modo pleno a vida da sociedade.

Excelências, apresento-vos os meus votos mais cordiais no momento em que assumis a vossa missão junto da Santa Sé. Sobre vós e as vossas famílias, sobre os responsáveis e os cidadãos dos vossos Países, invoco abundantes bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR GOYTOM WELDE-MARIAM


PRIMEIRO EMBAIXADOR DO ESTADO DA ERITREIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: 11 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano, no momento em que Vossa Excelência começa a sua missão como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado da Eritreia junto da Santa Sé, e é de bom grado que recebo as Cartas Credenciais, mediante as quais Vossa Excelência é nomeado. O estabelecimento das relações diplomáticas entre nós e o intercâmbio de Representantes constituem o mais recente desenvolvimento nos relacionamentos constantes entre o Povo da Eritreia e a Igreja católica; estou persuadido de que este novo nível de contacto há-de levar a cada vez maiores compreensão, estima e cooperação. Aprecio os bons votos que me transmitiu da parte do Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Isaías Afwerki e, em contrapartida, pediria que lhe transmitisse as minhas saudações e a certeza das minhas orações pela paz e pelo bem-estar do seu País e do seu Povo.

As recentes transformações políticas e sociais no mundo põem em evidência a convicção cada vez maior de que determinados ideais deveriam forjar as relações humanas a todos os níveis. Alguns deles são a aspiração à verdadeira paz, a determinação em trabalhar pela liberdade e justiça, e o compromisso da solidariedade para com os pobres. Os povos e as nações desejam que a hostilidade e o conflito sejam substituídos pelo diálogo e pela cooperação. Geralmente se reconhece, pelo menos a nível de princípio, a necessidade das regiões mais abastadas e desenvolvidas do mundo auxiliarem os povos que lutam por uma distribuição mais equitativa dos recursos mundiais, encorajando-os nos seus esforços por promover o próprio desenvolvimento integral.

Contudo, estes desenvolvimentos positivos são contemporaneamente ameaçados por novos e trágicos desafios que estão a surgir em várias áreas, e pela persistência da intolerância assente nos preconceitos racial, étnico ou religioso. É precisamente no contexto destas dolorosas situações que todas as pessoas de boa vontade e, em particular, os governantes das nações devem renovar os próprios esforços, no sentido de buscar a resolução pacífica destas tensões. Isto exige, sobretudo, um compromisso cada vez maior na defesa da dignidade inalienável e na protecção dos direitos humanos basilares de cada indivíduo.

Um dos principais direitos que o mundo contemporâneo deve procurar garantir é a liberdade de consciência. Como tive a ocasião de observar na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1991, a consciência dá testemunho da «transcendência da pessoa — relativamente também à sociedade — e, como tal, é inviolável (...). Negar a uma pessoa a plena liberdade de consciência e, especialmente, a liberdade de procurar a verdade ou tentar impor-lhe um modo particular de compreender a verdade, vai contra os seus direitos mais profundos. Isto vai, depois, provocar um agravamento dos ressentimentos e tensões, que correm o risco de degenerar em relações difícies e hostis, no seio da sociedade, ou até num conflito aberto. Em suma, é ao nível da consciência que se põe e pode encontrar solução mais eficaz o problema de assegurar uma paz sólida e duradoura» (loc. cit., n. 1).

É precisamente a este respeito que a Igreja insiste sobre o direito que os indivíduos e as comunidades religiosas organizadas têm de professar e praticar livremente a sua própria fé. O respeito da liberdade religiosa é como que indicação e penhor do autêntico progresso social. Portanto, faço votos por que a liberdade religiosa, como expressão fundamental da liberdade de consciência, goze da tutela constitucional e seja valorizada nas instituições democráticas que a Eritreia está a edificar para si própria, no momento em que inaugura uma nova era da sua história.

Aprecio o seu reconhecimento da contribuição oferecida pela Igreja católica, tanto na assistência prática concedida ao seu povo que sofre as devastações da miséria e da guerra, como no apoio moral à sua Nação que desempenha a tarefa de reconstrução. Os católicos da Eritreia estão empenhados em trabalhar ao lado dos seus concidadãos, como participantes activos no progresso político, social e cultural do seu País, que acaba de conquistar a independência. Com esta finalidade, inúmeros missionários, membros de comunidades religiosas, bem como leigos e leigas, foram à sua terra, Senhor Embaixador, para oferecer os próprios serviços nos sectores da educação e da assistência à saúde. O trabalho que eles realizam não beneficia unicamente os católicos, mas destina-se ao bem de todo o povo. A minha esperança é de que o Governo da Eritreia e as Autoridades públicas acolham este serviço da Igreja e assistam os missionários e os outros, enquanto se procura dar continuidade aos esforços que visam a edificação da sociedade eritreia.

Senhor Embaixador, ao iniciar a sua missão diplomática junto da Santa Sé, tenha a certeza da disponibilidade dos vários departamentos e secções da Cúria Romana em assisti-lo no cumprimento das suas responsabilidades. Assegurando- lhe os meus votos pelo bom êxito do seu trabalho, invoco cordialmente sobre Vossa Excelência e sobre os líderes e o povo do Estado da Eritreia as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR PANG ENG FONG


NOVO EMBAIXADOR DE SINGAPURA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

Dou-lhe as boas-vindas ao Vaticano e sinto-me feliz por receber as Cartas Credenciais, que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Singapura junto da Santa Sé. A sua presença aqui hoje e as amáveis saudações que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Ong Teng Cheong, evocam vívidas memórias da minha visita ao seu País, há dez anos. A cordialidade e a hospitalidade dos seus concidadãos permanecem gravadas na minha mente. Peço-lhe que assegure o Senhor Presidente, o Governo e o Povo das minhas orações pelo seu bem-estar e prosperidade.

Vossa Excelência referiu-se à rica diversidade dos povos e culturas presentes na sua República. Com efeito, Singapura está notavelmente consciente da necessidade, no seio duma sociedade pluralista, de se respeitar plenamente as legítimas aspirações, tradições e crenças populares de diferentes formações culturais. Somente a aceitação mútua e o diálogo sincero entre todos os sectores da sociedade podem sustentar o trabalho da manutenção da paz e da harmonia. A harmonia genuína exige o reconhecimento e a salvaguarda efectivos da dignidade e dos direitos de todos os membros da sociedade, como critério fundamental da política e da acção, com especial abertura e assistência aos mais necessitados: os pobres, os enfermos, os jovens, os idosos, os trabalhadores e os imigrantes.

O seu País, com a sua economia bem desenvolvida, encontra-se em óptimas condições de assistir as outras nações no Sudeste da Ásia, cooperando com elas, ajudando-as no seu próprio desenvolvimento social e chamando para esta tarefa também outras nações economicamente avançadas, cujas amizade e tradições comuns as dispõe a trabalhar, tendo em vista esta finalidade. Trata-se da crescente consciência da interdependência entre indivíduos e nações. Esta consciência, por sua vez, leva as pessoas a melhorar as atitudes que definem as relações de cada indivíduo consigo mesmo, com o próximo, com a mais remota condição humana e com a própria natureza (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 38). É neste espírito que os acordos e os pactos regionais promovem o bem comum, encorajando a iniciativa e a clarividência que podem contribuir para resolver as tensões; é neste espírito que a partilha da tecnologia e da informação realmente ajuda a melhorar a qualidade de vida de todos.

Os povos e as nações lutam pelo progresso como algo desejável e deveras necessário. Contudo, o desenvolvimento jamais deve ser medido segundo parâmetros meramente materiais. A Igreja, ao cumprir a sua missão universal, recorda sempre às pessoas que não pode existir um autêntico progresso humano, sem a promoção do respeito pelos imperativos éticos que derivam da dignidade humana de cada indivíduo, imperativos estes que se encontram na própria natureza humana e precedem as considerações económicas, culturais e políticas. De facto, são estes princípios morais que constituem o único fundamento viável para a edificação de um mundo verdadeiramente digno da pessoa humana, um mundo de justiça e paz. A este propósito, a busca efectiva da paz consiste, de maneira deveras específica, em educar as gerações mais jovens a agirem com justiça e em ajudá-las a encontrar a própria felicidade em actos de misericórdia e solicitude pelo próximo.

Estou-lhe grato, Senhor Embaixador, pelas suas palavras acerca do papel desempenhado pelos membros da Comunidade católica no sector da educação em Singapura. A Igreja considera o próprio apostolado educativo como um elemento essencial da sua missão religiosa. Naturalmente, ela deseja realizar esta tarefa em harmonia com as outras pessoas que actuam no mesmo campo. A cooperação entre a Igreja e o Estado é de suprema importância para o progresso da formação intelectual e moral dos cidadãos, que deste modo serão mais capazes de construir uma sociedade verdadeiramente humana.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a sua missão junto da Santa Sé há-de fortalecer os vínculos de compreensão e amizade entre nós. Excelência, pode estar certo de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assistilo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido Povo de Singapura, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR FILIPPE SAVADOGO


NOVO EMBAIXADOR DO BURKINA FASSO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro de 1997

Senhor Embaixador

É com prazer que dou as boas-vindas a Vossa Excelência, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Burkina Fasso junto da Santa Sé.

As palavras que Vossa Excelência acaba de pronunciar, as quais agradeço vivamente, testemunham o interesse atribuído pelas autoridades do seu país ao desenvolvimento de relações de estima e respeito entre o Burkina Fasso e a Sé Apostólica. Por seu intermédio, é-me grato apresentar a Sua Excelência o Senhor Presidente Blaise Campaoré os votos que formulo pela sua pessoa e pelo cumprimento do seu alto cargo ao serviço da nação. Saúdo de igual modo com cordialidade o povo do Burkina Fasso, e peço a Deus que o assista nos seus esforços em vista da edificação duma sociedade cada vez mais justa e fraterna.

No seu discurso, Senhor Embaixador, Vossa Excelência evocou a contribuição da Santa Sé em favor da promoção do bem-estar da humanidade. Estou-lhe grato por este apreço. De facto, para a Igreja católica, o desenvolvimento humano integral situa-se no centro mesmo da sua missão de proclamar o mandamento divino do amor fraterno. Por isso, ela deseja promover o autêntico crescimento da pessoa humana, na justiça e na paz. Trata-se dum imperativo essencial que todo o homem e toda a mulher, assim como todos os componentes da sociedade, se possam consagrar juntos ao desenvolvimento do seu povo. E regozijo-me com o que Vossa Excelência disse a respeito do empenho comum dos filhos do Burkina Fasso no combate contra todas as formas de miséria e de marginalização.

Conscientes da interdependência que existe entre as pessoas, é ao colocar em prática uma verdadeira solidariedade que eles poderão contribuir para uma melhor organização da sociedade, num justo respeito das particularidades sociais e religiosas, que constituem a riqueza da nação. Como Vossa Excelência evocou, Senhor Embaixador, o respeito pelas convicções religiosas de cada um é um valor fundamental, que deve ser preservado. Este é também o princípio e o fundamento duma convivência pacífica (cf. Mensagem para o XXV Dia Mundial da Paz, 1992, n. 7). É motivo de alegria que os crentes das diferentes tradições religiosas, presentes no seu país, possam trabalhar juntos pela promoção do bem comum, num clima de confiança e estima recíprocas.

É meu desejo também que todos os povos fortaleçam a sua solidariedade, para que cada um deles possa ter acesso ao desenvolvimento integral, material e espiritual. É nesta perspectiva que a Santa Sé, em colaboração com as Igrejas locais, sobretudo através da Fundação para o Sahel, quer contribuir para a realização de acções de ajuda mútua, de formação e de desenvolvimento em benefício dos povos da sua região, vítimas da seca e da desertificação. As nações devem tomar uma consciência cada vez mais forte dos deveres que têm, umas para com as outras e em relação à humanidade inteira. Como declarei por ocasião do quinquagésimo aniversário das Nações Unidas, «é necessário que, no cenário económico internacional, se imponha uma ética da solidariedade, se quisermos que a participação, o crescimento económico e uma equitativa distribuição dos bens possam caracterizar o futuro da humanidade» (Discurso à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, n. 13).

A sua presença nestes lugares, Senhor Embaixador, é um sinal de que o seu país está aberto aos valores espirituais e religiosos, e que os considera profundamente necessários para a edificação duma sociedade realmente humana. Estou certo de que a missão que Vossa Excelência inicia hoje há-de fortalecer ainda mais os laços de compreensão e amizade entre o Burkina Fasso e a Sé Apostólica.

Nesta circunstância solene, através da sua pessoa, Senhor Embaixador, quereria dirigir uma saudação afectuosa aos membros da comunidade católica do Burkina Fasso e aos seus Pastores. Encorajo- os a viver o testemunho do amor universal de Cristo, entre si e com todos, sem distinção. Estimulo-os a prosseguir com ardor, numa cooperação fraterna com todos os seus compatriotas, o seu empenho pela edificação duma sociedade solidária e próspera, na qual cada um poderá encontrar o seu lugar, no respeito mútuo.

No momento em que inicia a sua missão, apresento-lhe os meus melhores votos para a nobre tarefa que o espera. Esteja certo de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, sobre o povo do Burkina Fasso e sobre os que presidem ao seu destino, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR S. M. INAMULLAH


NOVO EMBAIXADOR DO PAQUISTÃO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

É de bom grado que o recebo no Vaticano e que aceito as Cartas Credenciais com as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Islâmica do Paquistão junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Farooq Ahmad Khan Leghari e do Senhor Prmeiro-Ministro, e peço que lhes transmita a certeza das minhas orações pela sua Nação e pelo seu Povo.

Vossa Excelência teve a amabilidade de evocar os esforços da Santa Sé no âmbito da Comunidade internacional, em vista da obtenção da paz e da justiça nas questões humanas e nas relações internacionais. Este serviço inspira-se na solicitude constante pelo bem-estar dos povos no mundo inteiro. Neste planeta, a única família humana, em toda a sua vasta diversidade, tem um destino e uma responsabilidade comuns no desenvolvimento dos recursos mundiais, para o bem de todos. Infelizmente, o mundo e as sociedades que o compõem caracterizam- se não raro por uma notável falta de equidade e justiça na partilha dos benefícios do progresso económico, social e cultural. Ao mesmo tempo, como testemunham inumeráveis encontros internacionais que abordam estes temas, há uma crescente consciência de que a dignidade inata de cada ser humano, independentemente das circunstâncias da vida, constitui um impulso moral de enorme intensidade na promoção de um desenvolvimento que deve ter plenamente em conta os direitos inalienáveis, mediante os quais a dignidade humana se exprime (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 26). A Santa Sé procura promover esta visão do desenvolvimento humano integral, também em relação à salvaguarda da liberdade religiosa, liberdade esta que é uma expressão essencial da singular dignidade da pessoa humana. Apraz-me observar que Vossa Excelência mencionou os direitos das minorias, os quais necessariamente incluem o direito à liberdade religiosa.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada e proclamada pela Organização das Nações Unidas há quase cinquenta anos, faz referência evidente ao «direito à liberdade de pensamento, consciência e religião» (Artigo 18). É esta liberdade que constitui o fundamento de todas as outras, dado que torna as pessoas capazes de assumir a obrigação moral de buscar e aderir à verdade, especialmente à verdade religiosa. Esta obrigação deriva da própria natureza da pessoa humana, que o Criador dotou de inteligência e livre arbítrio. Por conseguinte, devemos almejar que todos os Estados garantam juridicamente a liberdade que cada indivíduo e grupo tem de professar as próprias convicções religiosas.

O reconhecimento civil do direito à liberdade religiosa pode ser definido como o parâmetro do respeito de uma sociedade pelos outros direitos fundamentais. No caso em que o Estado atribua uma posição jurídica especial a uma religião em particular, é especialmente importante assegurar que o direito à liberdade de consciência de cada um seja legalmente reconhecido e respeitado de maneira efectiva. Qualquer lei concernente às questões religiosas que seja susceptível de abuso e de interpretação errónea, contrária ao parecer do legislador, deverá ser esclarecida de tal modo que a justiça seja sempre tutelada, de maneira especial no que se refere aos sectores mais frágeis da sociedade. Todas as vezes que surgirem problemas de discriminação que atingem as minorias, o diálogo assente no respeito e na solicitude mútuos pelo bem comum constituirá o primeiro e fundamental dever de todas as partes.

Neste espírito, os católicos do Paquistão estão empenhados em trabalhar com os seus concidadãos, tendo em vista o desenvolvimento político, social e cultural do seu País. A Igreja católica tem oferecido uma importante contribuição no sector da educação a todos os níveis da sociedade paquistanesa e está também presente nas áreas do cuidado à saúde e da assistência social. Ao oferecer estes serviços, a Igreja não busca privilégios especiais, mas deseja apenas exercer os seus direitos de maneira livre e fazer com que tais direitos sejam devidamente respeitados. Deste modo, procura realizar a sua missão espiritual e humanitária para o bem da sociedade em geral.

Senhor Embaixador, estou convicto de que compartilhamos uma grande solicitude para com a estabilidade e a paz de toda a sua região. Manifesto a esperança de que, no fórum internacional, o Paquistão use a sua própria influência para privilegiar iniciativas que levem as partes em conflito nas áreas circunvizinhas à mesa das negociações, a fim de que uma solução justa e duradoura assegure o reconhecimento e o respeito dos direitos e do bem-estar das pessoas que, há já demasiado tempo, padecem enormes sofrimentos.

Formulo cordiais bons votos no momento em que inicia a sua missão como Representante do seu País junto da Santa Sé, assegurando-lhe a disponibilidade dos departamentos da Cúria Romana em assisti-lo na sua tarefa. Sobre Vossa Excelência e sobre o Povo paquistanês, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.




Discursos João Paulo II 1997