Discursos João Paulo II 1997 - 11 de Janeiro de 1997

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MARGUS LAIDRE


NOVO EMBAIXADOR DA ESTÓNIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

É um prazer para mim dar-lhe as boas-vindas no momento de receber as Cartas Credenciais, mediante as quais o Presidente, Sua Excelência o Senhor Lennart Meri, o designa Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Estónia junto da Santa Sé. Estou profundamente grato pelas suas saudações e retribuo-lhas com a certeza das minhas orações pelo bem-estar de todos os habitantes da Estónia.

Ainda conservo na memória a minha Visita pastoral à Estónia e às outras Repúblicas bálticas em 1993, imediatamente após a lâmpada da liberdade ter sido acesa de novo e a independência ter sido restabelecida. Neste século os habitantes da Estónia sobreviveram e lutaram contra dois sistemas totalitários, hostis aos seus interesses políticos, económicos, culturais e religiosos: o regime inspirado pelo Nazismo, durante a segunda guerra mundial e, depois, no longo período pós-guerra, a ditadura comunista caracterizada pelo ateísmo militante. Como Vossa Excelência observou com perspicácia, a Nação superou estas grandes provas graças aos sacrifícios heróicos de inumeráveis cidadãos, até ao martírio. Quanto a mim, renovo a gratidão a Deus Todo-poderoso por aqueles sofrimentos terem ajudado a criar um novo clima de esperança na Estónia. Verdadeiramente, «a efectiva vontade de independência nacional e o desejo de experimentar o valor da genuína liberdade começam, agora, a produzir os seus frutos na vida dos indivíduos e da comunidade civil inteira do seu País» (Discurso de despedida da Estónia, Tallinn, 10 de Setembro de 1993, ed. port. de L’Osservatore Romano de 26.IX.93, pág. 9).

O itinerário que leva da opressão à liberdade é árduo. Um aspecto essencial de cada uma destas peregrinações de liberdade é a necessidade de suportar o pesado fardo legado pela história. A tirania pode continuar a imprimir a sua marca destruidora na sociedade sob a forma do medo, da suspeita e da divisão — tanto nas famílias e nas comunidades como entre as religiões e os grupos étnicos. Na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997, exortei todos os homens e mulheres de boa vontade a recusarem-se a permanecer prisioneiros do passado e, ao contrário, a olharem para o futuro com esperança. O respeito pela plenitude da verdade incumbe até mesmo sobre aqueles que sofreram graves formas de injustiça, para a «purificação das memórias», que se exprime de maneira concreta na oferta do perdão. Se quisermos que o espírito de reconciliação impregne a vida nacional e internacional — uma condição prévia para a verdadeira paz — os indivíduos e os povos deverão examinar de novo as ofensas do passado «com sentimentos novos », aprendendo «precisamente das experiências sofridas que só o amor constrói, enquanto o ódio produz devastação e ruínas» (loc. cit., n. 3).

O desenvolvimento genuíno duma Nação pode ser medido pelo grau em que os seus cidadãos desejam ser julgados pela verdade e pelas suas exigências éticas. Uma parte da preciosa herança de valores cristãos da Estónia é a convicção de que existe um vínculo inseparável entre liberdade e verdade na vida política, económica e cultural. Somente o reconhecimento da verdade transcendental pode garantir a dignidade e os direitos invioláveis de cada pessoa humana (cf. Veritatis splendor VS 99). O respeito pelo exercício livre destes direitos humanos fundamentais deve constituir a característica principal de cada democracia fundada sobre o imperativo da lei. Quando povos diferentes vivem no mesmo território, como é o caso da Estónia, deve-se ter uma particular preocupação por garantir que os direitos das minorias étnicas e religiosas sejam sempre salvaguardados. Efectivamente, «o respeito para com as minorias (...) deve ser considerado, de algum modo, como a pedra de toque para uma convivência social harmoniosa e como índice da maturidade civil alcançada por um País e pelas suas instituições» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1989, n. 12).

Vossa Excelência mencionou os novos desafios que a Estónia está a enfrentar, enquanto busca um padrão de vida mais digno para todos os seus cidadãos. O ensinamento católico social reconhece o papel positivo desempenhado na vida económica duma Nação, pelo mercado livre, pela propriedade privada e pela criatividade pessoal. Todavia, hoje deve-se considerar também um grande perigo: a chamada «idolatria» do mercado. Isto verifica-se quando um sistema económico, fundamentado sobre um capitalismo licencioso, estabelece políticas que dilapidam os recursos naturais, desrespeitam a dignidade dos trabalhadores, debilitam a família, célula primária da sociedade, e promovem uma cultura consumista, em que o «ter» é mais importante que o «ser». Os governantes que quiserem agir eticamente deverão ter isto em conta e estudar as forças do mercado, assegurando, se for necessário, a correcção das mesmas em nome dos princípios da lei natural, da justiça social, dos direitos humanos e do bem comum. A Igreja oferece o rico património da sua doutrina social como um recurso e uma guia para a sua Nação, Senhor Embaixador, enquanto procura progredir ao longo do caminho da solidariedade e da justiça. Esta doutrina põe em particular evidência a importância da solicitude prática para com os pobres, os marginalizados e os que sofrem.

A proximidade do Terceiro Milénio impele os crentes no seu País a um compromisso cada vez mais intenso na «comunhão plena e visível» (Ut unum sint UUS 95) de todos os cristãos. Desejo confirmar a convicção que manifestei no meu discurso na igreja luterana de São Nicolau, em Tallinn: «A busca da unidade constitui, portanto, um autêntico serviço ao mundo actual. Alcançar a almejada comunhão entre todos os crentes em Cristo poderá constituir, e certamente constituirá, um dos principais eventos da história humana» (loc. cit., ed. port. de L’Osservatore Romano de 26.IX.93, pág. 5). Estou persuadido de que, com a graça de Deus, uma Primavera ecuménica na Estónia dará frutos na constante oração comum, na caridade fraterna e nos empreendimentos conjuntos, em vista da promoção da vida social e cultural. Os fiéis católicos no seu País, embora sejam numericamente exíguos, estão sempre prontos a contribuir para a tarefa da edificação do futuro da Estónia.

Senhor Embaixador, exprimo a ardente esperança de que sejam fortalecidos os vínculos de amizade, que caracterizam os relacionamentos cordiais entre a Santa Sé e a República da Estónia. No momento em que inicia a sua missão, asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a auxiliá-lo no cumprimento das suas responsabilidades. Sobre Vossa Excelência e sobre todo o querido Povo estoniano invoco as abundantes bênçãos do Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ANDREW MHANDO DARAJA


NOVO EMBAIXADOR DA TANZÂNIA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de janeiro de 1997



Senhor Embaixador

Sinto-me feliz por lhe dar as cordiais boas-vindas no momento em que Vossa Excelência chega ao Vaticano para apresentar as Cartas Credenciais, que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Unida da Tanzânia junto da Santa Sé. A visita do Presidente, Sua Excelência o Senhor Benjamin Mkapa, no passado mês de Novembro, e a sua própria presença aqui hoje evocam as alegres recordações da minha Visita pastoral ao seu País em 1990, quando fui calorosa e entusiasticamente recebido. Peço-lhe que transmita os meus bons votos ao Senhor Presidente e aos Membros do Governo, e que os assegure das minhas orações pelo bem-estar de todos os seus concidadãos.

Ao mencionar o empenho do seu País por trabalhar em benefício da causa da paz, Vossa Excelência reconheceu também os esforços da Santa Sé neste mesmo campo. Efectivamente, a Igreja recebeu do seu Fundador divino uma missão religiosa e humanitária, cuja natureza é diversa daquela da comunidade política, mas está contudo aberta a muitas formas de cooperação mútua e de entreajuda. Em conformidade com esta missão, a presença da Santa Sé na Comunidade internacional tem em vista exclusivamente a busca do bem da família humana: trabalhar em benefício da causa da paz, pela defesa da dignidade humana e dos direitos do homem, e pelo desenvolvimento integral dos povos. Trata-se de um dever que deriva necessária e perenemente do Evangelho de Jesus Cristo, e constitui uma responsabilidade compartilhada por todos os cristãos.

Enquanto os povos e as nações colaboram na tarefa de promover a compreensão e o desenvolvimento da causa da paz e da justiça, subsiste contudo um problema que, apesar das proporções planetárias, exerce relativamente pouca influência sobre a opinião pública mundial: a trágica situação de milhões de refugiados e de pessoas deslocadas. Algumas destas pessoas são vítimas de calamidades naturais, mas inumeráveis outras continuam a sofrer as consequências do conflito étnico, das lutas pelo poder ou do desenvolvimento social e económico impróprio. Não se pode negar que muito está a ser feito, especialmente por organizações de assistência voluntária e pela própria Comunidade internacional, mas muito ainda deve ser realizado. O seu próprio País, Senhor Embaixador, tem sido exemplar no acolhimento de refugiados e na oferta de assistência aos mesmos, utilizando até os próprios recursos, já de per si precários. A actividade da Tanzânia neste campo é digna de louvor e espera-se que seja correspondida por uma resposta generosa e pronta da parte de outras nações.

No caso da África, deve-se encorajar um empenhamento concreto na contínua democratização da sociedade. O desafio consiste em aumentar a participação de todos os grupos numa ordem da vida pública que seja representativa e juridicamente tutelada. Isto exige um melhoramento contínuo da qualidade da educação a todos os níveis, fazendo com que cada vez mais pessoas desempenhem um papel responsável no progresso económico, social e cultural do próprio País. Requer também a promoção de uma consciência mais clarividente dos direitos do homem e da dignidade humana. O diálogo e a negociação devem substituir-se ao conflito na resolução das tensões. Esta necessidade é particularmente urgente na região dos Grandes Lagos, onde a violência e o derramamento de sangue continuam a causar sofrimentos inauditos e a ceifar inúmeras vítimas: nem a África nem a mais vasta família das nações podem

deixar de escutar os brados dos homens, mulheres e crianças, cujas vidas estão a ser destruídas nos conflitos fratricidas. A este propósito, espera-se que o Secretariado para a Cooperação no Leste da África, recentemente instituído, consiga ser um veículo eficaz na resolução das dificuldades e dos problemas enfrentados pela sua região e, ao mesmo tempo, possa oferecer a infra-estrutura para uma mais efectiva colaboração e assistência recíprocas em todos os sectores do desenvolvimento social.

Naturalmente, a Igreja católica será sempre um parceiro disponível na promoção do progresso humano, e continuará a oferecer o próprio contributo para a edificação da sociedade tanzaniana. A este propósito, a tutela do direito à liberdade religiosa no seu País, como pedra de toque da harmonia e da estabilidade em qualquer sistema democrático de governo, permite aos católicos trabalhar em prol do progresso espiritual e material da sociedade. Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão há-de fortalecer os vínculos de amizade e cooperação já existentes entre a Tanzânia e a Santa Sé. No momento em que assume as suas novas responsabilidades, apresento-lhe os meus sinceros bons votos, assegurando- lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos a ajudá- lo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido Povo da Tanzânia, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À SENHORA AGNES YAHAN AGGREY-ORLEANS


NOVA EMBAIXADORA DA REPÚBLICA DE GANA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro 1997



Excelência

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas no momento em que Vossa Excelência apresenta as Credenciais, que a nomeiam Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República de Gana junto da Santa Sé. A minha primeira Visita pastoral à África como Sucessor de Pedro levou-me ao seu País, e a hospitalidade do Povo ganense, bem como a rica variedade das suas culturas e tradições, permanecem uma lembrança viva. Agradeço ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Jerry John Rawlings, as suas saudações e renovo a certeza das minhas orações pelo bem-estar e também pela prosperidade da sua Nação.

Os seus comentários focalizaram dois importantes desafios que o nosso mundo contemporâneo está a enfrentar — o desenvolvimento e a paz. Apesar da grande atenção que tem sido dada, nas últimas décadas, a estes temas interdependentes, ainda há muito a fazer se se quiser alcançar o desenvolvimento autêntico e a paz verdadeira. As relações políticas e económicas entre as nações e os povos devem ser edificadas sobre um novo fundamento. Deve-se resistir ao interesse egoísta e aos esforços despendidos com a finalidade de revigorar as posições de domínio, para que as nações em vias de desenvolvimento não sejam consideradas simples fontes de matéria-prima ou mercados para produtos fabricados, mas verdadeiros parceiros numa ordem internacional renovada e mais justa, como cooperadores que têm uma contribuição a oferecer para o bem de toda a família humana.

A todos os níveis do desenvolvimento — social, económico e político — é necessário um vigoroso e estável empenho a favor dos direitos e da dignidade da pessoa humana. É precisamente este empenhamento que a Santa Sé procura promover e fortalecer, mediante a sua presença activa no campo da diplomacia. Efectivamente, a salvaguarda dos direitos fundamentais e o respeito pela dignidade humana constituem os requisitos prévios para o desenvolvimento intregral. A pessoa humana deve ser sempre o ponto focal de todo o progresso.

Na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1981 afirmei que «a paz deve realizar-se sobre a base da verdade; tem de ser construída sobre a justiça; há-de ser animada pelo amor; e, enfim, deve ser efectuada na liberdade. Sem um respeito profundo e generalizado pela liberdade, a paz não será alcançada pelo homem» (loc. cit., n. 2). A liberdade da qual estamos a falar aqui, a liberdade humana que constitui o fundamento da paz verdadeira e duradoura, mais não é do que a liberdade de fazer o que é correcto e justo. É por este motivo que os valores morais e espirituais ocupam um lugar essencial na política. Com efeito, as estruturas políticas são eficazes, quando correspondem genuinamente às necessidades da pessoa humana e da comunidade. Se tais estruturas desrespeitam este objectivo primordial e se tornam finalidades em si próprias, correm o risco de polarizar a sociedade, alienando os diferentes segmentos da população.

É necessária uma compreensão correcta da pessoa humana, se se quiser que os esforços destinados a encorajar o desenvolvimento e a promover a paz sejam fecundos. A Igreja tem uma importante contribuição a oferecer neste mesmo sector: através da sua doutrina social, procura despertar a consciência moral das exigências da justiça e da solidariedade, exigências que são asseveradas em virtude dos valores incomparáveis e da centralidade da pessoa humana. Ao compartilhar com as pessoas do nosso tempo o profundo e ardente desejo de uma vida justa em todas as suas formas, ela não deixa de examinar os vários aspectos do género de justiça que a vida das pessoas e da sociedade exige (cf. Dives in misericordia DM 12). Assim, em conformidade com a sua própria natureza e missão, a Igreja está empenhada nos esforços práticos, destinados a fazer com que a sociedade progrida, e na resposta concreta às necessidades humanas. Esta é a motivação que está por detrás do seu trabalho nas áreas da educação, da assistência à saúde e dos serviços sociais, desempenhado em plena fidelidade ao seu Fundador divino, que «não veio para ser servido, mas para servir» (Mt 20,28). Desejo manifestar aqui a minha gratidão pelas suas palavras de apreço pela contribuição positiva que a Igreja oferece à sociedade ganense.

Excelência, durante o seu trabalho como Representante de Gana junto da Santa Sé os vários departamentos da Cúria Romana hão-de fazer todo o possível para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Apresento os meus melhores votos pelo bom êxito dos seus esforços por incrementar as relações positivas que já existem entre nós, e rezo para que Deus Omnipotente cumule Vossa Excelência e os seus compatriotas de abundantes bênçãos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR OMAR A. SULTANOV PRIMEIRO EMBAIXADOR


DA REPÚBLICA DO QUIRGUISTÃO JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

É-me grato acolhê-lo hoje no Vaticano, para receber as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Quirguistão junto da Santa Sé. Peço-lhe que transmita as minhas cordiais saudações ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Askar Akayev, assegurando a sua pessoa e os seus compatriotas dos meus bons votos pela prosperidade e pelo bem-estar do seu País. Rezo de modo especial por que os vínculos de amizade e estima, que agora estão a ser forjados entre nós, sejam cada vez mais íntimos e sirvam a causa da paz, da justiça e da solidariedade. O dia de hoje representa um ulterior passo em frente no caminho de liberdade da sua Nação. Congratulo-me sinceramente com Vossa Excelência e com os seus compatriotas pelo progresso que está a ser realizado em vista do revigoramento das estruturas democráticas e da ordem constitucional, bem como pela sua crescente participação na comunidade das nações.

A diversidade étnica e cultural da sua Nação reflecte-se nas línguas, raças e religiões dos seus concidadãos, destinados a viver e trabalhar juntos pelo bem comum. A diversidade jamais deve constituir um obstáculo para a unidade da Nação; pelo contrário, ela enriquece o património de um povo, incutindo-lhe o respeito pela maneira de cada pessoa e cada grupo enfrentar os problemas fundamentais da existência humana. As diferenças que distinguem os indivíduos e os povos não cancelam a sua profunda unidade, dado que «todas as culturas são um esforço de reflexão sobre o mistério do mundo e, em particular, sobre o mistério do homem: é uma maneira de dar expressão à dimensão transcendente da vida humana» (Discurso à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, 5 de Outubro de 1995, n. 9, ed. port. de L'Osservatore Romano de 14.X.1995, pág. 4). Todos nós devemos estar convencidos de que «o desenvolvimento de uma cultura baseada no respeito pelos outros é essencial para a construção de uma sociedade pacífica » (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1989, n. 9).

Dado que o seu povo continua a melhorar as próprias condições económicas e sociais, são necessários esforços conscientes no sentido de assegurar que novas formas de alienação — relativismo ético e empobrecimento espiritual — não venham a debilitar o tecido da vida social (cf. Centesimus annus CA 19). As sociedades que recentemente adoptaram uma economia de mercado podem sentir- se tentadas a identificar a liberdade com o interesse egoísta de determinados sectores, em prejuízo do bem comum. As vantagens do progresso tecnológico e das possibilidades oferecidas pelos intercâmbios intelectuais e culturais não deveriam suscitar uma nova afirmação da mentalidade materialista que aceita a primazia das coisas sobre as pessoas. Não se adquire nada de valor duradouro quando os elementos mais frágeis da sociedade são negligenciados, ou quando a busca do lucro e a competição descontrolada obstam o caminho da solidariedade e da cooperação. Os líderes sábios respeitam as normas morais universais, inscritas por Deus no coração humano, e agem em conformidade com as mesmas, convictos de que elas constituem a guia mais crível para a renovação autêntica da vida social e política.

Como Vossa Excelência observou, as crenças e as práticas religiosas também têm uma contribuição decisiva a oferecer à vida nacional. A sociedade é fortalecida com a presença de fiéis que, esforçando- se por agir em conformidade com as suas próprias convicções, procuram promover tudo aquilo que é verdadeiro e justo. Só é possível construir uma sociedade renovada e enfrentar os problemas complexos e onerosos que gravam sobre ela se a verdade acerca de Deus e da dignidade transcendental do homem for reconhecida (cf. Veritatis splendor VS 99). Quando homens e mulheres inspirados pelas suas próprias tradições religiosas trabalham juntos, tendo em vista o cuidado da vida humana e a promoção da justiça social, confirmam mediante as próprias acções que os derradeiros fundamentos de cada sociedade digna do homem são éticos e religiosos. Efectivamente, as convicções religiosas do seu povo constituem uma força que revigora o seu sentido de responsabilidade em relação ao bem-estar do próprio País e encoraja a solidariedade mútua.

Enquanto o Governo e o Povo do Quirguistão exigem as reformas necessárias, a Igreja católica há-de oferecer toda a assistência e apoio que lhe for possível para o desenvolvimento moral da sociedade. E fá-lo-á através do seu testemunho de fé, do seu ensinamento, da sua experiência, e também mediante a sua actividade humanitária, segundo a sua própria missão religiosa. A Igreja católica nunca impõe sobre uma nação ou povo visões particulares da sociedade e das suas estruturas, mas oferece o testemunho de um conceito sublime do homem e do seu destino transcendente.

Senhor Embaixador, a sua presença aqui confirma que realmente iniciou uma nova era para a República do Quirguistão. Estou persuadido de que, como resultado da missão que Vossa Excelência assume hoje, os vínculos de amizade e cooperação entre a sua Nação e a Santa Sé hão-de crescer e consolidar-se. Garanto-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Ao renovar os meus votos pelo bom êxito da sua missão, invoco as bênçãos do Altíssimo sobre Vossa Excelência, sobre o Governo e sobre o querido Povo do Quirguistão.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR EDWARD JOHN STEVENS


NOVO EMBAIXADOR DA AUSTRÁLIA JUNTO


DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Janeiro de 1997



Senhor Embaixador

É com grande prazer que o acolho no Vaticano e recebo as Cartas Credenciais, mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Austrália junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelos bons votos que me transmitiu da parte do Governo e do Povo australianos. Estas saudações cordiais fazem-me recordar o caloroso acolhimento que me foi reservado, por ocasião da minha segunda Visita ao seu País, no início de 1995, quando tive a felicidade de beatificar aquela distinta mulher australiana, Madre Maria MacKillop. Naquela ocasião pude sentir de novo a abertura e a hospitalidade aos estrangeiros, pelas quais os seus compatriotas são justamente estimados.

A sua presença aqui oferece-me a oportunidade de reconhecer o papel activo que a Austrália desempenha na oferta de auxílio às nações em vias de desenvolvimento e de assistência às pessoas que sofrem devido aos efeitos da guerra e das agitações políticas. Nos últimos anos deste século, situações calamitosas, em particular a ingente tragédia que se está a verificar na região africana dos Grandes Lagos, desafiam todas as pessoas, empenhadas na justiça e na paz, a multiplicarem os próprios esforços no sentido de aliviar tanta dor e sofrimento. A destituição de inúmeros milhões de pessoas constitui uma ofensa para a dignidade humana e uma ameaça contínua à paz mundial.

Vossa Excelência observou que entre os problemas urgentes que se apresentam à Comunidade internacional está a tragédia constante da fome e da subnutrição. O recente Encontro Mundial sobre a Alimentação, realizado em Roma, chamou a atenção para a grave situação dos mais de oitocentos milhões de pessoas que, nos países em vias de desenvolvimento, são atingidas pela subalimentação ou pelas consequências da insegurança alimentar. Infelizmente, o espectro da fome persiste, apesar dos progressos científicos e tecnológicos capazes de aumentar a produção agrícola e de oferecer alimentos suficientes a todos. Dado que os motivos desta situação são demasiados e complexos, não podemos ignorar o facto de que qualquer resposta efectiva deve estar vinculada às problemáticas mais vastas do desenvolvimento, inclusive à necessidade de assegurar que os países em vias de desenvolvimento tenham o acesso justo aos recursos, à tecnologia e à educação que podem tornar possível o progresso. O desenvolvimento autêntico requer não só medidas económicas prudentes, mas também um empenhamento na solidariedade, para a promoção do bem integral dos indivíduos e dos povos, com o devido respeito pelos imperativos éticos, que são os únicos a garantir relacionamentos recíprocos justos e equitativos. A este propósito, as nações desenvolvidas devem examinar seriamente a sua gestão dos recursos mundiais e fazer cada vez mais esforços para tutelar o direito universal à nutrição.

Sem dúvida, um dos sinais mais prometedores dos nossos tempos tem sido o desejo crescente da Comunidade internacional de cooperar para encontrar modos de erradicar a pobreza da família humana. Contudo, soluções para este problema não poderão ser encontradas em políticas e programas que, promovendo e até mesmo impondo um modelo de vida que não está em harmonia com a cultura e as tradições das pessoas, debilitam os direitos humanos fundamentais (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 25). O facto de a terra ser uma casa para todos exige um espírito de colaboração e partilha, que respeite as diferenças legítimas dos indivíduos e dos povos. O progresso da dignidade humana requer também um claro sentido das verdades morais transcendentais, que oriente as opções políticas e integre os interesses particulares no contexto de uma visão coerente do bem comum (cf. Centesimus annus CA 47).

No cumprimento da sua missão, a Igreja esforça-se por elevar a consciência da dignidade inalienável e da inviolabilidade de cada ser humano, inclusive dos nascituros, dos portadores de deficiências, dos idosos e dos doentes terminais. Absolutamente essencial para qualquer sistema digno do homem é o direito fundamental à própria vida. Qualquer acção ou omissão, que causa directa e deliberadamente a morte de uma pessoa inocente, constitui uma grave violação da lei inscrita no coração humano. A Igreja católica na Austrália procura defender esta verdade fundamental, quando fala de maneira directa contra as tentativas de tornar legítimos os pedidos de eutanásia ou de os autorizar (cf. Evangelium vitae EV 72). Rezo para que, na proximidade do ano 2000, a Austrália fortaleça cada vez mais a sua herança cristã, defendendo a vida humana e agindo generosa e corajosamente ao serviço dos pobres, dos estrangeiros e dos indefesos.

Ao apresentar-lhe os meus melhores votos, aproveito a oportunidade para assegurar que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a oferecer-lhe a própria assistência no cumprimento da sua missão. Sobre Vossa Excelência e sobre todos os australianos, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO GRUPO DE BISPOS DA FRANÇA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


10 de Janeiro de 1997



Caros Irmãos no Episcopado

1. Depois de alguns meses da minha última visita pastoral à França, da qual conservo uma vivíssima recordação, é-me grato começar hoje os encontros que terei com os Bispos das diferentes Regiões apostólicas, por ocasião da peregrinação aos túmulos dos Apóstolos, sentido primeiro da visita ad Limina. Os vossos encontros com o Sucessor de Pedro e os seus colaboradores, constituem um gesto de comunhão eclesial e uma expressão do espírito colegial que nos une. Estes contactos são também a ocasião duma reflexão aprofundada sobre os diversos aspectos da vossa missão.

Agradeço a Dom Michel Moutel, Bispo de Nevers e Presidente da Região apostólica do Centro, os sentimentos de afecto que acaba de me manifestar, em vosso nome, e a visão panorâmica da situação eclesial das vossas Dioceses. Saúdo cordialmente cada um de vós e, em particular, D. Jean Honoré, Arcebispo de Tours, que me acolheu com muita delicadeza na sua cidade episcopal, em Setembro passado, fazendo da minha peregrinação ao túmulo de S. Martinho um grande momento, que não posso deixar de recordar ao encontrar-vos aqui.

Nós saudamos neste dia a memória de D. Jean Cuminal, Bispo de Blois, que prematuramente nos deixou, antes de poder celebrar o terceiro centenário da fundação da sua Diocese. Pedimos ao Senhor que conceda a este servidor fiel a sua recompensa na paz.

2. D. Moutel recordou muitas características das vossas dioceses, que estão associadas no quadro duma Região extensa e de grande diversidade. Apesar da relativa dispersão, é bom que possais colaborar mediante diversas iniciativas. Penso em particular no Seminário de Orleães, que concerne a quase todas as vossas Dioceses e ao qual destes recentemente melhores condições de vida.

Numerosos fiéis demonstram muita generosidade e participam de maneira activa e lúcida na vida eclesial. Isto constitui verdadeiros motivos de esperança e sinais da presença activa do Espírito Santo no coração dos baptizados e nas suas comunidades. Peço-vos que leveis aos vossos diocesanos a saudação cordial e os encorajamentos do Bispo de Roma. De modo especial, quereria exprimir aos sacerdotes, aos diáconos, às pessoas consagradas, aos responsáveis leigos, a minha estima e confiança, pois, à custa de grande dedicação, todos juntos compartilham, ao vosso lado, a missão confiada por Jesus aos seus discípulos.

Com os diferentes grupos de Bispos da França que virão para a visita ad Limina nas próximas semanas, tenho a intenção de abordar muitos temas significativos para a Igreja hoje, desejando dar-vos alguns elementos de reflexão, no espírito daquilo que o Senhor pediu a Pedro: «Confirma os teus irmãos» (Lc 22,31). Hoje, deter-me-ei mais em alguns aspectos do vosso ministério episcopal, sem contudo querer apresentar um panorama completo.

3. D. Moutel ressaltou as principais dificuldades que encontrais. Menciono dois aspectos, que se referem ao conjunto da Igreja no vosso País: em primeiro lugar, o facto de que uma parte importante da população permanece distante da Igreja e não recebe facilmente a sua mensagem; em segundo lugar, a diminuição do número dos sacerdotes condiciona as actividades pastorais, que se tornam mais difíceis de ser asseguradas, ainda que numerosos leigos assumam responsabilidades crescentes.

Como em muitas outras nações, também vós deveis fazer frente a diferentes formas de empobrecimento ou enfraquecimento da Igreja, as quais tornam árdua a missão episcopal. Como apóstolos de Cristo, sois os primeiros a experimentar a cruz da indiferença, da incompreensão e por vezes da hostilidade. Numa sociedade que muitas vezes duvida de si mesma e sofre uma crise económica e social prolongada, vedes muitas pessoas, e muitos baptizados, afastarem-se da comunidade eclesial, através duma espécie de rejeição da instituição, em benefício dum fechamento individualista: cada um se sente árbitro das suas regras de vida e, se conserva um sentido religioso e se considera a Igreja um longínquo ponto de referência, ele não vive uma fé pessoal em Jesus Cristo e desconhece a sua dimensão eclesial.

4. Esta situação, cuja análise deve evidentemente variar segundo os lugares, marca o Pastor, que não pode ficar passivo. No seguimento de São Paulo, vós dissestes, «não desanimamos neste mistério, que nos foi concedido misericordiosamente, [...] pois, nós, não nos pregamos a nós próprios, mas a Cristo Jesus, o Senhor» (2Co 4,1 2Co 4,5). O Bispo deposita a sua certeza nas promessas de Cristo e no dom do seu Espírito, pois «fiel é Deus, por Quem fostes chamados à comunhão com Seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor» (1Co 1,9).

O múnus episcopal, convém repetir, é antes de tudo de ordem espiritual. Como guardião e sentinela, o pastor dirige aos fiéis e a toda a sociedade um olhar, iluminado pela perspectiva evangélica e pela experiência eclesial. É na escuta daquilo que «o Espírito diz às Igrejas» (Ap 2,7), que ele pode exercer as suas responsabilidades, a começar por um discernimento aberto e benévolo sobre o bom êxito ou sobre os revezes, sobre as iniciativas dinâmicas ou sobre as passividades lamentáveis que marcam o ritmo da caminhada do povo de Deus.

O Concílio Vaticano II enunciou de modo claro as funções mais importantes dos sucessores dos Apóstolos, na Constituição Lumen gentium sobre a Igreja e no decreto Christus Dominus acerca da missão pastoral dos Bispos. Convém retomar a meditação destes importantes textos do magistério eclesial; uma semelhante reflexão vale certamente para aquele que está investido duma missão constitutiva ao serviço do povo que lhe está confiado, mas de igual modo ela deve interessar os fiéis.

5. Quereria confirmar-vos fraternalmente na vossa missão de ensinar, de anunciar aos homens o Evangelho de Cristo (cf. Christus Dominus, CD 11). Como profeta que proclama a Boa Nova, o Bispo propõe-na de modo incansável, procurando a linguagem que esclarece o sentido das Escrituras, como fez o Senhor com os discípulos de Emaús. O Concílio diz sobretudo: «(Os Bispos) expliquem a doutrina cristã com métodos apropriados às necessidades dos tempos, isto é, que respondam às dificuldades e problemas que mais preocupam e angustiam os homens» (Ibid., n.13). Estas palavras são suficientes para demonstrar que o vosso ministério apostólico se dirige aos homens do tempo presente, em função das necessidades expressas ou latentes tanto dos fiéis visivelmente presentes na comunidade diocesana, como das pessoas que permanecem no limiar e têm dificuldade de encontrar o sentido da própria vida.

Em particular, o Bispo é o primeiro a empenhar-se em favor dos pobres e dos excluídos da sociedade. Ele exprime-se como defensor da dignidade da pessoa, do respeito pela vida de cada um, da justiça na caridade, da solidariedade. É aquele que chama a servir as pessoas, a quem tendes denominado os «deserdados », que sofrem por causa de doenças, de deficiências físicas, de problemas sociais ou devido à falta de fé e de esperança espiritual. À imagem do Senhor que veio como Servo, o pastor abre as vias do serviço a todos os que ele é chamado a guiar.

Na caridade, o ministério apostólico é o da unidade do povo, em colaboração estreita com os membros do presbitério, que partilham das suas funções. Retornarei ulteriormente sobre as exigências presentes do sacerdócio presbiteral, que constitui a vossa principal preocupação. É suficiente que hoje eu ressalte que os sacerdotes e, com eles, os responsáveis pelos serviços ou movimentos, contam com o Bispo para coordenar o conjunto das missões, a fim de que todos contribuam para a unidade e o dinamismo da Igreja diocesana.

O conjunto das vossas responsabilidades pode parecer muito pesado. Só o Espírito do Senhor, na comunhão de toda a Igreja, pode dar-vos a força e a luz de que tendes necessidade. Tenhamos confiança no único Espírito «que é Senhor e dá a vida». Meditemos incessantemente sobre a promessa de Jesus: «Quando vier o Consolador, que vos hei-de enviar da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim. E vós também testificais, pois estivestes Comigo desde o princípio » (Jn 15,26-27).

6. A experiência destes últimos decénios permitiu que os Bispos não se encontrassem sem apoio para cumprir a sua missão. Afirmaram-se importantes instâncias de colaboração, a nível regional e nacional. Já me referi a isto diante de vós, em Reims. O Concílio recomenda que os Bispos se reúnam «para que, da comunicação de pareceres e experiências, e da troca de opiniões, resulte uma santa colaboração de esforços para o bem comum das Igrejas» (Christus Dominus CD 37). Com efeito, para além duma simples harmonia, as assembleias episcopais permitem traçar orientações comuns, fazer ouvir mensagens que são válidas para o país, pôr em comum, no plano regional ou nacional, meios de aprofundamento e de acção de que uma só diocese não pode dispor.

Tomo como exemplo disto o trabalho importante, conduzido por muitos de vós, com a ajuda de peritos, de representantes dos movimentos leigos e de numerosos fiéis, que vos levou a dirigir aos Católicos da França a Carta, intitulada Propor a fé na sociedade actual. Faço votos por que este acto dos Bispos contribua para avaliar, com lucidez, a situação dos católicos na sociedade actual, estimulando-os a ir ao âmago do mistério da fé, a fim de formarem uma Igreja que saiba, cada vez melhor, propor e partilhar os dons recebidos pela graça.

Juntos, sereis em maior medida capazes de seguir a evolução e a animação das diferentes comunidades ou grupos, que compõem o panorama actual da Igreja no vosso País. Conferireis assim dinamismo às principais instituições de serviço em que a Igreja sempre se empenhou, sobretudo no ensino, no cuidado dos doentes, na mútua ajuda concreta e prudente ao interior do País e também aos vossos irmãos das regiões mais desfavorecidas.

Juntos, sereis também melhor escutados quando agirdes como defensores da solidariedade social para com todos os habitantes da vossa terra, quaisquer que sejam as suas origens.

7. A vossa presença em Roma põe em evidência também a vossa comunhão com a Igreja universal. Estou-vos grato pela atenção que atribuís ao Magistério e à acção do Bispo de Roma, tornados por vós conhecidos e explicados. E penso também na solicitude por todas as Igrejas, a respeito da qual o Concílio Vaticano II indicou com vigor que ela compete a cada um dos sucessores dos Apóstolos (cf. Lumen gentium Christus Dominus, 6).

Sei que as vossas dioceses se dedicam à sua grande tradição missionária, e que estabelecem, em virtude dos laços antigos ou mais recentes, relações vivas com outras Igrejas particulares, sobretudo com as jovens Igrejas muitas vezes fundadas pelos missionários vindos das vossas regiões, ou com Igrejas antigas, que renascem após tempos de prova e desejam o intercâmbio efectivo dos dons, o qual com frequência tenho almejado. Isto já foi expresso na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa, do qual anunciei uma nova sessão.

A vossa comunhão com o conjunto da Igreja manifesta-se também nos Sínodos gerais, tal como o que se prepara precisamente sobre o ministério episcopal, após as reflexões feitas sobre os leigos, os sacerdotes e a vida consagrada.

8. Para os meses e os anos vindouros, competem-vos tarefas importantes. Dentro em pouco o Dia Mundial da Juventude terá lugar em Paris, depois de todas as dioceses da França terem acolhido jovens provenientes do mundo inteiro. Estou reconhecido a todos aqueles que trabalham para o bom êxito deste encontro, pois tais encontros suscitam uma grande esperança: os jovens confrontam o modo de se aproximarem à fé em Cristo, que os chamou a seguil’O: «Vinde ver» (Jn 1,39).

Este acontecimento do mês de Agosto próximo insere-se na preparação directa do grande Jubileu do Ano 2000, iniciada por uma reflexão renovada sobre «Jesus Cristo, único Salvador do mundo, ontem, hoje e sempre» (cf. Heb He 13,8). Ajudai os fiéis a redescobrirem o baptismo e a vocação universal à santidade, a revigorarem a sua fé e o seu testemunho, a intensificarem a catequese em benefício de todas as gerações, a orarem com confiança à Virgem santa, com a qual «a Igreja penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação (Lumen gentium LG 65)» (cf. Tertio millennio adveniente, nn. TMA 40-43). E o Jubileu deve ser caracterizado por um novo impulso na evangelização (cf. ibid., nn. 21.40).

9. Caros Irmãos, no momento em que começam as visitas ad Limina dos Bispos da França, asseguro-vos da minha profunda comunhão na oração, numa firme esperança quanto ao futuro das vossas Dioceses, onde, apesar das provas, se manifesta uma generosidade muito viva. O Senhor Jesus Cristo vos dê a alegria de O servir, conduzindo no Seu nome as Igrejas diocesanas que vos estão confiadas! A Virgem santa e todos os Santos da França intercedam por vós!

A vós, pastores da Região apostólica do Centro, a todos os que fazem viver a Igreja convosco e aos vossos compatriotas, dou de todo o coração a Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1997 - 11 de Janeiro de 1997