Discursos João Paulo II 1997 - 18 de Janeiro de 1997

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL


DA CONGREGAÇÃO DAS FILHAS DE SANTA ANA


20 de Janeiro de 1997





Reverenda Madre ANNA VIRGÍNIA SINAGRA
Superiora-Geral das Filhas de Santa Ana

1. Sinto-me feliz por dirigir a minha cordial saudação a Vossa Reverência e às suas Irmãs de hábito, vindas a Roma das várias partes do mundo, onde esta Congregação religiosa está presente, para participar no Capítulo geral electivo, que já chegou à sua fase conclusiva.

Em primeiro lugar, desejo congratular- me com a Reverenda Madre pela sua reeleição ao serviço de Superiora-Geral. Torno a minha saudação extensiva às Religiosas que fazem parte do novo Conselho Geral, às quais formulo cordiais bons votos por um trabalho generoso e fecundo em favor do progresso espiritual e apostólico de todo o Instituto. Por fim, o meu afectuoso pensamento dirige-se a todas as Filhas de Santa Ana, que vivem e trabalham nas diversas comunidades espalhadas nos vários continentes.

2. Durante os encontros destes dias intensos, que coincidiram, em grande parte, com o tempo litúrgico do Advento e do Natal, as Delegadas capitulares reflectiram juntamente com Vossa Reverência acerca do recente caminho da Congregação, aprofundando o valor das suas obras e dos seus empenhos pastorais e caritativos, para que correspondam sempre melhor ao carisma particular do Instituto. Faço votos por que as orientações que brotaram da assembleia capitular infundam um renovado impulso à vida e às actividades da vossa Família religiosa, sobretudo nestes anos de preparação imediata para o Grande Jubileu do Ano 2000.

Na Exortação Apostólica pós-sinodal Vita consecrata ressaltei como no esforço de discernimento e de renovação comunitária é necessário seguir alguns critérios fundamentais, entre os quais, sobretudo, a fidelidade ao carisma original e a atenção às novas necessidades e às novas pobrezas da sociedade contemporânea: «Importa, por exemplo, salvaguardar o sentido do próprio carisma, promover a vida fraterna, estar atentos às necessidades da Igreja tanto universal como particular, ocupar-se daquilo que o mundo transcura, responder generosamente e com audácia — embora com intervenções forçosamente exíguas — às novas pobrezas» (63).

3. Neste empenho de renovação é preciso que cada Religiosa do Instituto saiba haurir inspiração e força da rica herança espiritual deixada pela Madre Fundadora, Rosa Gattorno. No encontro realizado com o Papa Pio IX, ela manifestara a firme intenção de realizar fielmente na própria vida a vontade de Deus: «Sim, Santo Padre, desejo fazer a vontade de Deus». Todas as Filhas de Santa Ana devem fazer suas estas palavras da Fundadora, alimentando com a oração e com uma intensa vida espiritual a obra de caridade, que são chamadas a oferecer aos irmãos e preparando, deste modo, com a sua humilde e fiel actividade, a vinda do Reino de Deus.

O nosso tempo caracteriza-se por uma renovada atenção ao papel peculiar da vocação feminina na Igreja e na sociedade. É preciso que a vida consagrada em geral, e cada Instituto religioso em particular, respondam de maneira adequada aos novos desafios da cultura contemporânea. A este propósito, é-me grato recordar quanto afirmei no recente Documento pós-sinodal: «As mulheres consagradas estão chamadas de modo absolutamente especial a serem, através da sua dedicação vivida em plenitude e com alegria, um sinal da ternura de Deus para com o género humano e um testemunho particular do mistério da Igreja que é virgem, esposa e mãe» (VC 57).

4. Faço votos por que sob a sua iluminada guia, Reverenda Madre, as Religiosas desta Congregação aprofundem com clareza cada vez maior a própria identidade de mulheres consagradas, fazendo frutificar as grandes capacidades do génio feminino e pondo-as ao serviço do bem dos irmãos, sobretudo dos que são mais pobres material e espiritualmente. Desejo que possais viver a vossa vocação de modo intenso, deixando-vos conquistar pelo amor de Deus e testemunhando de modo eficaz a Sua presença misericordiosa ao lado de cada ser humano.

Com estes sentimentos, ao invocar a celeste protecção de Santa Ana e da Virgem Mãe do Salvador, concedo de coração a Vossa Reverência, às Religiosas capitulares, às respectivas Comunidades de proveniência e à inteira Congregação uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 20 de Janeiro de 1997.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CAMINHO NEOCATECUMENAL


24 de Janeiro de 1997



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sede bem-vindos à casa do Papa! Saúdo-vos com afecto, queridos itinerantes leigos e sacerdotes, juntamente com os vossos responsáveis, iniciadores do Caminho Neocatecumenal. A vossa visita de hoje é-me de grande conforto.

Sei que vindes directamente da reunião que tivestes no Monte Sinai e nas margens do Mar Vermelho. Por várias razões, este momento foi para vós histórico. Escolhestes como lugar do vosso retiro espiritual uma localidade altamente significativa na história da salvação, mais do que nunca apropriada para escutar e meditar a palavra de Deus e para compreender melhor o desígnio do Senhor em relação a vós.

Quisestes deste modo comemorar os trinta anos de vida do Caminho. Quanta estrada percorrestes com a ajuda do Senhor! O Caminho viu nestes anos um desenvolvimento e uma difusão deveras impressionantes na Igreja. Iniciado entre os favelados de Madrid, como o pequenino grão de mostarda do Evangelho ele tornou-se, após trinta anos, uma grande árvore, que se estende já a mais de 100 países do mundo, com presenças significativas também entre os católicos de Igrejas de rito oriental.

2. Como todo o aniversário, também o vosso, visto à luz da fé, se transforma em ocasião de louvor e de agradecimento pela abundância dos dons, que o Senhor concedeu nestes anos a vós e, por vosso intermédio, à Igreja inteira. Para muitos a experiência neocatecumenal foi um caminho de conversão e de amadurecimento na fé, através da redescoberta do Baptismo, como verdadeira fonte de vida, e da Eucaristia, como momento culminante na existência do cristão: através da redescoberta da palavra de Deus que, repartida na comunhão fraterna, se torna luz e guia da vida, através da redescoberta da Igreja, como autêntica comunidade missionária.

Quantos jovens e moças, graças ao Caminho, descobriram também a própria vocação sacerdotal e religiosa! A vossa visita hodierna oferece uma feliz oportunidade, também a mim, para me unir ao vosso cântico de louvor e de acção de graças pelas «grandes coisas» (magnalia)que Deus está a realizar na experiência do Caminho.

3. A sua história está escrita no contexto daquele florescimento de movimentos e de agregações eclesiais, que constitui um dos frutos mais bonitos da renovação espiritual iniciada pelo Concílio Vaticano II. Esse florescimento foi, e ainda é, um grande dom do Espírito Santo e um luminoso sinal de esperança, no limiar do Terceiro Milénio. Tanto os pastores como os fiéis leigos devem saber acolher este dom com gratidão, mas também com sentido de responsabilidade, tendo em conta que «na Igreja, tanto o aspecto institucional, quanto o carismático, tanto a Hierarquia quanto as Associações e Movimentos de fiéis, são coessenciais e concorrem para a vida, a renovação, a santificação, ainda que de modo diferente» (Aos participantes no Colóquio Internacional dos Movimentos eclesiais: Insegnamenti, vol. X/1, 1987, 478).

No mundo de hoje, profundamente secularizado, a nova evangelização coloca- se como um dos desafios fundamentais. Os movimentos eclesiais, que se caracterizam pelo seu impulso missionário, são chamados a um empenho especial em espírito de comunhão e de colaboração. Na Encíclica Redemptoris missio escrevi a respeito disso: «Quando se inserem humildemente na vida das Igrejas locais e são acolhidos cordialmente por Bispos e sacerdotes, nas estruturas diocesanas e paroquiais, os Movimentos representam um verdadeiro dom de Deus para a nova evangelização e para a actividade missionária propriamente dita. Recomendo, pois, que se difundam e sirvam para dar novo vigor, sobretudo entre os jovens, à vida cristã» (n. 72).

Por este motivo, para o ano de 1998, que no quadro da preparação para o Grande Jubileu é dedicado ao Espírito Santo, formulei votos por um comum testemunho de todos os movimentos eclesiais, sob a guia do Pontifício Conselho para os Leigos. Será um momento de comunhão e de empenho renovado ao serviço da missão da Igreja. Estou certo de que não haveis de faltar a este encontro tão significativo.

4. O Caminho Neocatecumenal completa trinta anos de vida: a idade, diria, de uma certa maturidade. A vossa reunião no Sinai abriu diante de vós, num certo sentido, uma etapa nova. Oportunamente, portanto, procurastes dirigir o vosso olhar, com espírito de fé, não só para o passado mas também para o futuro, interrogando-vos sobre o desígnio de Deus em relação ao Caminho neste momento histórico. O Senhor colocou nas vossas mãos um tesouro precioso. Como vivê-lo em plenitude? Como desenvolvê- lo? Como partilhá-lo ainda melhor com os outros Como defendê-lo de vários perigos presentes ou futuros? Eis algumas das perguntas que levantastes, como responsáveis do Caminho ou como itinerantes da primeira hora.

Para responderdes a estas perguntas num clima de oração e de profunda reflexão, iniciastes no Sinai o processo do estabelecimento de um Estatuto do Caminho. Trata-se dum passo muito importante, que abre caminho para o seu formal reconhecimento jurídico, por parte da Igreja, dando-vos uma ulterior garantia da autenticidade do vosso carisma. Como sabemos, «o juízo acerca da sua autenticidade (dos carismas) e recto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom» (Lumen gentium LG 12). Encorajo-vos a continuar o trabalho iniciado, sob a guia do Pontifício Conselho para os Leigos, e de maneira especial do seu Secretário, D. Stanislaw Rylko, aqui presente convosco. Acompanho-vos neste caminho com a minha particular oração.

Antes de concluir, quereria entregar a algumas irmãs uma cruz, como sinal da sua fidelidade à Igreja e da sua completa dedicação à missão evangelizadora. O Senhor Jesus seja o vosso conforto e o vosso apoio nos momentos de dificuldade. A Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, vos sirva de modelo e guia em todas as circunstâncias.

Com estes votos, concedo a minha afectuosa Bênção a vós aqui presentes e a quantos estão empenhados no Caminho Neocatecumenal.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À XIII ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA


24 de Janeiro de 1997



Senhores Cardeais
Amados Irmãos no Episcopado
Caros Irmãos e Irmãs

1. Apraz-me acolher-vos e saudar-vos por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Família. Agradeço ao Cardeal Presidente, Alfonso López Trujillo, as amáveis palavras, com as quais quis introduzir este encontro, que reveste uma grande importância. Com efeito, o tema das vossas reflexões — «A pastoral dos divorciados novamente casados» — está hoje no centro das atenções e preocupações da Igreja e dos Pastores que cuidam das almas, os quais não cessam de prodigalizar as suas atenções pastorais em relação a quantos sofrem por situações de dificuldade na própria família.

A Igreja não pode ficar indiferente diante deste problema doloroso, no qual estão implicados tantos dos seus filhos. Já na Exortação Apostólica Familiaris consortio eu reconhecia que, tratando-se duma chaga que afecta sempre mais largamente os ambientes católicos, «o problema deve ser enfrentado com urgência inadiável» (n. 84). A Igreja, Mãe e Mestra, procura o bem e a felicidade dos lares domésticos e quando estes, por algum motivo, são desagregados, ela sofre por esta causa e procura dar-lhe remédio, acompanhando pastoralmente estas pessoas, em plena fidelidade aos ensinamentos de Cristo.

2. O Sínodo dos Bispos de 1980 sobre a família tomou em consideração esta penosa situação, e indicou as linhas pastorais, oportunas para tais circunstâncias. Na Exortação Apostólica Familiaris consortio, referindo-me às reflexões dos Padres Sinodais, eu escrevia: «A Igreja, com efeito, instituída para conduzir à salvação todos os homens e sobretudo os baptizados, não pode abandonar aqueles que — unidos já pelo vínculo matrimonial sacramental — procuraram passar a novas núpcias. Por isso, esforçar-se-á infatigavelmente por oferecer- lhes os meios de salvação» (n. 84).

É neste âmbito claramente pastoral, como bem esclarecestes na apresentação dos trabalhos desta Assembleia Plenária, que se enquadram as reflexões do vosso encontro, em ordem a ajudar as famílias a descobrirem a grandeza da sua vocação baptismal e a viverem as obras de piedade, caridade e penitência. A ajuda pastoral, porém, pressupõe que seja reconhecida a doutrina da Igreja expressa claramente no Catecismo: «Não cabe ao poder da Igreja pronunciar- se contra esta disposição da sabedoria divina» (n. 1640).

Saibam, contudo, estes homens e estas mulheres que a Igreja os ama, não está longe deles e sofre pela sua situação. Os divorciados novamente casados são e permanecem seus membros, porque receberam o baptismo e conservam a fé cristã. Certamente, uma nova união depois do divórcio constitui uma desordem moral, que contrasta com precisas exigências derivantes da fé, mas isto não deve impedir o empenho da oração nem o testemunho operoso da caridade.

3. Como eu tive ocasião de escrever na Exortação Apostólica Familiaris consortio, os divorciados que contraíram nova união, não podem ser admitidos à comunhão eucarística, «do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e actuada na Eucaristia» (n. 84). E isto, em virtude da própria autoridade do Senhor, Pastor dos Pastores, que procura sempre as suas ovelhas. Isto vale também para a Penitência, cujo dúplice e unitário significado de conversão e de reconciliação resulta contradito pela condição de vida de divorciados, que contraem uma nova união e permanecem como tais.

Todavia, não faltam vias pastorais oportunas para ir ao encontro destas pessoas. A Igreja considera os sofrimentos delas e as graves dificuldades em que se encontram, e na sua caridade materna preocupa-se por elas não menos do que pelos filhos do seu matrimónio precedente: privados do direito nativo à presença de ambos os genitores, são eles as primeiras vítimas de semelhantes vicissitudes dolorosas.

É preciso, antes de mais, pôr em prática, com urgência, uma pastoral de preparação e de apoio tempestivo aos casais nos momentos de crise. Está em questão o anúncio do dom e do mandamento de Cristo sobre o matrimónio. Os Pastores, especialmente os párocos, devem, com abertura de coração, acompanhar e sustentar estes homens e mulheres, fazendo com que compreendam que, mesmo quando houver ruptura do vínculo matrimonial, não devem desesperar da graça de Deus, que vela sobre o seu caminho. A Igreja não cessa de «convidar os seus filhos, que se encontram nessas situações dolorosas, a aproximarem- se da misericórdia divina por outras vias... até que não tenham podido alcançar as condições requeridas» (Exort. Apost. Reconciliatio et paenitentia RP 34). Os Pastores «são chamados a fazer sentir a caridade de Cristo e a solicitude materna da Igreja, acolhendo-os com amor, exortando-os a confiar na misericórdia de Deus e, com prudência e respeito, sugerindo-lhes caminhos concretos de conversão e de participação na vida da comunidade eclesial» (Carta da Congregação para a Doutrina da Fé acerca da recepção da comunhão eucarística, por parte dos fiéis divorciados novamente casados, 14 de Setembro de 1994, n. 2). O Senhor, movido pela misericórdia, vem ao encontro de todos os necessitados, ao mesmo tempo com a exigência da verdade e com o óleo da caridade.

4. Como não seguir, depois, com preocupação a situação de tantos que, de modo especial nas nações economicamente desenvolvidas, por causa da separação vivem uma condição de abandono, em particular quando se trata de pessoas às quais não pode ser imputado o fracasso do matrimónio?

Quando o casal em situação irregular volta à prática cristã, é necessário acolhê-lo com caridade e benevolência, ajudando-o a esclarecer o estado concreto da sua condição, através dum trabalho pastoral iluminado e iluminante. Esta pastoral de acolhimento fraterno e evangélico, para aqueles que tinham perdido o contacto com a Igreja, é de grande importância: é o primeiro passo imprescindível para os inserir na prática cristã. É preciso aproximá-los da escuta da palavra de Deus e da oração, inseri-los nas obras de caridade que a Comunidade cristã realiza em favor dos pobres e necessitados, e estimular neles o espírito de arrependimento, com obras de penitência que preparem os seus corações para acolher a graça de Deus.

Um capítulo muito importante é o que se refere à formação humana e cristã dos filhos da nova união. Torná-los partícipes de todo o conteúdo da sabedoria do Evangelho, segundo o ensinamento da Igreja, é uma obra que prepara maravilhosamente os corações dos pais para receber a força e a clareza necessárias para superarem as dificuldades reais, que existem no seu caminho, e para readquirirem a plena transparência do mistério de Cristo, que o matrimónio cristão significa e realiza. Uma tarefa especial, difícil mas necessária, refere-se também aos outros membros que, de igual modo, fazem parte, em medida mais ou menos estreita, da família. Esses, com uma proximidade que não pode ser confundida com a condescendência, venham em auxílio dos seus entes queridos e, de modo particular, dos filhos que, devido à tenra idade, ressentem maiormente os contragolpes das vicissitudes dos pais.

Caros Irmãos e Irmãs, a recomendação que brota hoje do meu coração é que tenhais confiança em todos aqueles que vivem em situações tão dramáticas e dolorosas. Não se deve cessar de «esperar contra toda a esperança» (Rm 4,18), que também os que se encontram numa situação não de acordo com a vontade do Senhor possam obter de Deus a salvação, se souberem perseverar na oração, na penitência e no amor verdadeiro.

5. Por fim, agradeço-vos a vossa colaboração na preparação do segundo Encontro Mundial das Famílias, que se realizará no Rio de Janeiro, nos dias 4 e 5 do próximo mês de Outubro. Às famílias do mundo dirijo o meu convite paterno a prepararem, na oração e na reflexão, este Encontro. Para as famílias que não puderem ir a esse encontro, sei que foi preparado um instrumento útil para todos: trata-se de catequeses que servirão para iluminar os grupos paroquiais, as associações, os movimentos familiares, favorecendo uma digna interiorização dos grandes temas concernentes à família.

Asseguro-vos a lembrança na minha oração, a fim de que os vossos trabalhos contribuam para restituir ao sacramento do matrimónio toda aquela carga de alegria e de perene vigor, que lhe conferiu o Senhor elevando-o à dignidade de sacramento.

Ao desejar-vos que sejais testemunhas generosas e atentas da solicitude da Igreja para com as famílias, de coração vos concedo a minha Bênção, que faço extensiva a todas as pessoas que vos são queridas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A SUA SANTIDADE ARAM I KESHISHIAN


CATHOLICOS DA CILÍCIA DOS ARMÉNIOS


25 de Janeiro de 1997



Caríssimo Irmão

Durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Vossa Santidade vem visitar o Bispo de Roma, no lugar do martírio dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo; nós vivemos este encontro na acção de graças e na alegria da esperança. Ao acolher o Pastor arménio da Grande Casa da Cilícia, como não evocar Paulo de Tarso, que se tornou o Apóstolo por excelência da comunhão entre as Igrejas, São Nersés IV, o Gracioso, o primeiro Catholicos da Cilícia que empreendeu de modo sistemático o diálogo ecuménico, e, alguns anos mais tarde, São Nersés de Lambron, Bispo de Tarso, cognominado «segundo Paulo de Tarso», em razão do seu zelo ardente pela unidade? Deste modo, depois de o Concílio Vaticano II ter empenhado de maneira irrevogável a Igreja católica no movimento ecuménico, os dois Catholicos, de venerável memória, Khoren I e Vasken I, tiveram a peito restabelecer relações fraternas com o meu predecessor, Papa Paulo VI. Por fim, eu mesmo tive a alegria de receber aqui, em 1983, o seu predecessor na Sede de Antélias, Sua Santidade Karekin II que, no mês de Dezembro passado, como Catholicos de Etchmiadzine, veio de novo visitar o Sucessor de Pedro, confirmando assim os nossos laços fraternos.

A sua visita, Santidade, inscreve-se então na nossa vontade comum de progredir no caminho rumo à comunhão perfeita entre a Igreja arménia apostólica e a Igreja católica. Sei com que determinação Vossa Santidade trabalhou na criação do Conselho das Igrejas do Médio Oriente, desde o seu desenvolvimento durante os dezassete anos em que Vossa Santidade era Prelado da sua Igreja para o Líbano. A sua experiência ao serviço da unidade cristã enriqueceuse depois de o Conselho Ecuménico das Igrejas o ter escolhido como Presidente da sua Comissão central. E agora Vossa Santidade é o Catholicos da Grande Casa da Cilícia.

O nosso encontro não é apenas o de dois irmãos, felizes por se conhecerem e rezarem juntos. Ele significa também a nossa responsabilidade de caminharmos avante juntos, para manifestar de modo mais visível a realidade espiritual da comunhão, que deve ligar os cristãos na unidade. Aos votos que lhe dirigi na minha mensagem, por ocasião da sua entronização, Vossa Santidade respondeu imediatamente: «O Catholicos da Cilícia aprofundará e ampliará o seu empenho ecuménico. Posso assegurar-lhe que as relações, existentes há muito tempo entre o Catholicossado da Cilícia e a Igreja católica, hão-de prosseguir num espírito ecuménico crescente e numa visão de unidade cristã».

Antes de abordar os âmbitos concretos da nossa colaboração, há um evento, caríssimo Irmão, que não posso evocar sem emoção e que nos une na acção de graças: a terra da nação arménia é finalmente livre e independente! Vossa Santidade informou-me fraternalmente do desenvolvimento dos eventos e, na sua resposta depois da entronização, comunicou- me com precisão a sua primeira solicitude: «Uma colaboração mais estreita será estabelecida entre o Catholicossado de Etchmiadzine, na Arménia, e o Catholicossado da Cilícia, em Antélias. Empenho-me nisto firmemente. O mesmo compromisso tinha sido assumido por Sua Santidade Karekin I, Catholicos de todos os Arménios». Com efeito, é neste contexto e no respeito das duas jurisdições que procuramos aqui aprofundar as nossas actuais relações.

O primeiro vínculo da nossa comunhão é o da fé que recebemos dos Apóstolos. A este nível, estou feliz por chegarmos a declarar explicitamente a nossa fé comum no único Verbo encarnado, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. A respeito dessas declarações entre a Igreja católica e as Igrejas copta, etiópica e síria já se tornou significativamente aberta a unidade destas Igrejas na fé em Cristo Senhor, para além das incompreensões seculares. Nós podemos dar graças a Deus, pois a Igreja arménia apostólica pôde, na sua unidade e na sua liberdade reencontrada, unir a sua voz a esta linguagem de fé.

Nesta perspectiva, dois momentos importantes dos anos vindouros serão para nós a ocasião duma cooperação fraterna, tanto na sua preparação como na sua celebração: o grande Jubileu do Mistério da Encarnação e, no ano seguinte, o décimo sétimo centenário do Baptismo da Nação arménia. Por ocasião desta segunda celebração, todas as Igrejas poderão descobrir as riquezas espirituais da Igreja arménia e nelas inspirar-se.

Quanto ao grande Jubileu do Ano 2000, que conduzirá a celebrações marcantes, ele exige a conversão do coração de cada cristão, para o bem da própria comunidade e o das relações entre as Igrejas. Somos chamados a fazer com que o Mistério da Encarnação, fonte da salvação, suscite comportamentos fraternos e solidários em todos. As Igrejas não podem responder senão juntas à missão do Salvador, que vem «anunciar a Boa Nova aos pobres», com palavras e actos. A Igreja arménia compreendeu no sofrimento o sentido duma solidariedade eficaz. Santidade, um campo imenso abre-se aqui à colaboração entre as nossas duas Igrejas. Nesta diaconia, o Senhor da vinha faz ressoar em cada momento: pastores e teólogos, homens e mulheres de todas as condições, todos podem trabalhar nela.

No plano da colaboração pastoral, muitos sinais convidam-nos a prosseguir com entusiasmo os nossos esforços comuns. Durante a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Líbano, o Arcebispo Ardavatz Tertérian era o Delegado fraterno do Catholicossado, e tive a alegria de falar com ele a respeito desta perspectiva. Vossa Santidade participou recentemente numa reunião dos Patriarcas católicos do Oriente e dos Patriarcas sírio-ortodoxo e greco-ortodoxo de Antioquia e, juntos, puderam tomar decisões concernentes a problemas pastorais comuns, com confiança e determinação. É uma alegria que tais encontros se realizem periodicamente. Regozijo-me também por se revigorarem as relações fraternas entre o Catholicossado da Cilícia e o Patriarcado arménio católico. Todos estes esforços produzirão frutos para a unidade.

Há, por fim, um sector que nos interessa de modo especial, a Vossa Santidade, caríssimo Irmão, e a mim: é o da cultura. Há várias décadas, o Catholicossado da Cilícia é o centro criativo e radiante da cultura arménia, através do Seminário de Teologia, dos seus diversos institutos e das suas múltiplas publicações, graças a um grande número de sacerdotes e de leigos especializados. Vossa Santidade sabe que existe, em vista duma colaboração mais fecunda, uma comissão católica de cooperação cultural, destinada a sustentar a formação de especialistas. Por fim, permita-me acrescentar um voto: por que o intercâmbio dos dons espirituais fortaleça a fé de cada um e, o que é essencial para a comunhão entre as Igrejas, por que a tradução dos ricos escritos da tradição arménia noutras línguas possa ser útil a inúmeros cristãos. Sei que textos de mariologia já foram traduzidos, e faço ardentes votos por que este precioso trabalho se estenda a outros sectores da expressão espiritual própria da alma arménia.

É em comunhão com a Santíssima Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, que peço com Vossa Santidade ao nosso grande Deus e Salvador que abençoe o nosso encontro, e dele faça produzir os seus frutos, para a sua Glória e para que venha o seu Reino.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA FRANÇA (REGIÃO SUDOESTE)


POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


25 de Janeiro de 1997

Senhor Cardeal
Estimados Irmãos no Episcopado!

1. No decurso da vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos, apraz-me acolher-vos, a vós que sois os Pastores das dez dioceses da Região apostólica do Sudoeste da França. Convosco, invoco Pedro e Paulo, colunas da Igreja. Que o primeiro dos Apóstolos e o Apóstolo das gentes vos obtenham levar a bom termo o vosso ministério pastoral, com a luz e a força que são dadas pelo Espírito do Senhor.

Agradeço ao Cardeal Pierre Eyt, Arcebispo de Bordéus e Presidente da vossa Região apostólica, as suas reflexões esclarecedoras sobre a situação da Igreja nas vossas dioceses. As dificuldades e as limitações que experimentais são postas em evidência, mas pode-se também dar graças pelas inúmeras manifestações do dinamismo muito concreto das vossas comunidades.

2. Neste momento, muitas dioceses são levadas a reorganizar-se, e sobretudo a reagrupar ou e remodelar as suas estruturas territoriais. Com efeito, mudanças importantes verificaram-se e continuam a ser realizadas no povoamento e na actividade económica. As maneiras de viver modificam-se. É preciso também notar uma maior mobilidade das pessoas, cujos centros de interesse e cuja cultura evoluem. A fisionomia da sociedade muda de modo muito sensível.

Para a Igreja, os factos mais evidentes são a diminuição do número dos sacerdotes e, muitas vezes, a diminuição do número dos praticantes. As causas destas evoluções inquietantes são complexas, e não se pode ignorar a influência das transformações da sociedade sobre a prática dos fiéis e das comunidades cristãs, desde há muito tempo implantadas nestas terras; assim, as modificações institucionais estão longe de ser levadas avante unicamente pelas evoluções dos efectivos do clero. Costumes e hábitos respeitáveis, hoje abandonados, podem ser lamentados por alguns, mas não se trata de cultivar a memória nostálgica de um passado aliás por vezes idealizado, nem de censurar ninguém. Nos relatórios quinquenais, as vossas análises mostram que estais conscientes da situação e sois activos em continuar a construir condições novas.

Verificaram-se também mudanças, de maneira positiva, no comportamento dos católicos. Tomastes conhecimento de percursos espirituais, de conversões, de empenhos no âmbito da Igreja, que manifestam uma rica renovação qualitativa da fé e da acção cristã. É uma verdadeira fonte de esperança que um número considerável de leigos esteja disponível para desempenhar um papel mais activo e mais diversificado na vida eclesial, e que faça o possível por se formarem com seriedade para essa finalidade.

Neste contexto, a vossa missão essencial de Pastores impele-vos a renovar a organização das comunidades. Mostrastes que as evoluções são conduzidas graças a amplas consultas, que não se referem apenas às condições práticas dos reagrupamentos de paróquias ou da criação de unidades pastorais novas. Trata-se, para os sacerdotes e os fiéis, de determinarem as condições em que a Boa Nova possa ser anunciada e o Povo de Deus guiado e congregado pela presença sacramental de Cristo. Os sínodos diocesanos têm muitas vezes sido o quadro duma maturação marcante dos baptizados, descobrindo melhor as suas inalienáveis responsabilidades e a sua complementaridade na vida eclesial. Em função das situações actuais e das estruturas renovadas, que sois levados a estabelecer, desejo simplesmente partilhar convosco algumas reflexões sobre a vida dos conjuntos pastorais. A minha intenção é encorajar-vos, com o clero e os fiéis das dioceses do vosso país, a fundar cada vez melhor, sobre a rocha de Cristo e na comunhão de toda a Igreja, o cumprimento quotidiano da missão comum.

3. As forças vivas de muitas das vossas dioceses, pondo em prática as mudanças que acabo de evocar, têm compreendido bem a importância da implantação territorial da Igreja: numa boa coordenação com os outros conjuntos pastorais, é essencialmente a paróquia que faz existir de maneira concreta a Igreja, de forma que ela esteja aberta a todos. Qualquer que seja a sua dimensão, ela não é uma simples associação. Ela deve ser um lar onde se reúnem os membros do Corpo de Cristo, abertos ao encontro de Deus, Pai repleto de amor e Salvador em seu Filho, incorporados pelo Espírito Santo na Igreja, no momento do seu baptismo, e dispostos, no amor fraterno, ao acolhimento dos seus irmãos e irmãs, quaisquer que sejam as suas condições ou origens.

A instituição paroquial está destinada a assegurar as grandes funções da Igreja: a oração comum e a leitura da Palavra de Deus, as celebrações e sobretudo a da Eucaristia, a catequese das crianças e o catecumenato dos adultos, a formação contínua dos fiéis, a comunicação apropriada para fazer conhecer a mensagem cristã, os serviços caritativos e de solidariedade, a actividade local dos movimentos. Em resumo, à imagem do santuário que lhe é o sinal visível, um edifício que devemos construir juntos, um corpo a fazer viver e crescer juntos, uma comunidade onde se recebem os dons de Deus e na qual os baptizados dão generosamente a sua resposta de fé, de esperança e de amor aos apelos evangélicos. Neste tempo em que as estruturas pastorais são levadas a renovar- se, será bom retomar em profundidade o ensinamento eclesiológico do Concílio Vaticano II, na constituição Lumen gentium sobre a Igreja, e nos diversos documentos de orientações concernentes sobretudo aos sacerdotes e aos leigos.

Parece-me que o cuidado que preside às reorganizações que se tornaram necessárias, é permitir que a paróquia exerça efectivamente as funções que acabo de recordar. Convém, então, que ela não seja muito pequena e que esteja também, na medida do possível, próxima dos fiéis praticantes e de todos os seus irmãos. Mesmo quando um conjunto novo reúne os membros da Igreja de muitas localidades, é preciso fazer o máximo para salvaguardar o património histórico, material e também humano, fazendo tudo o que for possível para que os cristãos tenham o apoio espiritual necessário, ou ainda, para que os santuários permaneçam lugares de oração frequentados e os costumes de devoção popular não caiam no esquecimento.

4. Uma questão primordial é evidentemente a dos responsáveis. Para guiar e animar as unidades pastorais, impõe-se, e deve ser desenvolvida, a colaboração dos sacerdotes e dos leigos. Ao redor do pastor, os conselhos pastorais, as equipas de animação e os suplentes pastorais desempenham um papel indispensável. Eles permitem sobretudo articular, do melhor modo possível, os diversos graus da vida eclesial: a comunidade local por vezes pequena, mas que é um suplente vivo e activo, a própria paróquia, depois o sector ou a zona pastoral mais ampla, e por fim toda a diocese. É importante cuidar de que os intercâmbios sejam alimentados nos dois sentidos: que os responsáveis ouçam os apelos que vêm da base, e que todos sejam agregados pelas orientações dadas por estes mesmos responsáveis, a começar pelas do Bispo.

Tudo isto supõe que os sacerdotes e os leigos coordenem de modo claro, sem confusão, aquilo que depende do sacerdócio ministerial e do sacerdócio universal, segundo o ensinamento do Concílio na constituição sobre a Igreja, assim como ressaltei em Reims (Discurso na catedral, n. 4). Os fiéis leigos que exercem cargos eclesiais, saibam que não substituem o sacerdote, mas que cooperam numa obra comum, a da Igreja inteira.

Um dos primeiros cuidados dos pastores e dos fiéis que têm responsabilidades, é promover a unidade harmoniosa da comunidade. É esta uma condição essencial para que a Igreja local seja um sinal transparente da presença de Cristo, tanto em relação aos baptizados que não participam na sua vida quotidiana, como ao conjunto da sociedade. Entre os cristãos, as diversidades são grandes, de ambientes sociais, de culturas ou de centros de interesse, e de igual modo de carismas. A vocação dos paroquianos consiste precisamente em permitir que cada um se exprima e entre na unidade do corpo formado por membros diferentes, mas complementares. Não cessemos de meditar as lições de São Paulo a respeito disso (cf. 1Co 12).

Em particular, não se deve renunciar a que a comunidade eclesial seja um lugar de encontro das gerações, apesar das distâncias muitas vezes constatadas. Sem esperar de modo passivo, os adultos devem conservar o contacto com os jovens, saber acolhê-los, escutar as suas exigências, compreender as suas dificuldades e as suas inquietudes quanto ao futuro, dar-lhes um lugar de pleno direito e associá-los nas responsabilidades. Os sínodos diocesanos tiveram muitas vezes essa preocupação; convém fazer o máximo para permitir que os jovens prossigam a sua formação cristã entre si, como com frequência desejam, mas também para os ajudar a integrar-se no mundo dos adultos, ao qual eles têm muito a oferecer. Retornarei a falar sobre a pastoral dos jovens, mas devo ressaltar desde agora que é preciso permanecer atentos, a fim de não a isolar do conjunto da vida pastoral.

5. A vitalidade da comunidade eclesial mostra-se na sua fidelidade à missão confiada pelo Senhor aos seus discípulos: a evangelização. Somos depositários e portadores da Boa Nova. Sob todas as suas formas, o apostolado consiste, antes de mais, em transmitir e propor a Palavra da salvação e o conhecimento do Verbo que é Caminho, Verdade e Vida. Só a Palavra de Deus pode iluminar verdadeiramente o caminho de cada um, dar um sentido pleno à vida familiar, à actividade profissional e às mil tarefas da vida social e dar esperança.

A Palavra que aclamamos na liturgia, e pela qual damos glória a Deus, dirige-se directamente aos fiéis presentes. A comunidade reunida deve, ela mesma, ser evangelizada sem cessar: cada fiel tem sempre necessidade de se deixar interpelar por Cristo, de se converter à escuta da Palavra que comporta grandes exigências, mas que é também um dom inestimável, pois é o anúncio da salvação, da reconciliação, da vitória da vida sobre a morte.

Dispor as crianças e os jovens para o acolhimento da Palavra de vida, constitui uma missão capital de evangelização para as comunidades. «O que ouvimos, [...] o que contemplamos e as nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida » (1Jn 1,1), devemos anunciá-lo de geração em geração. O despertar para a fé dos pequeninos, a catequese e a iniciação cristã devem mobilizar o máximo de devotamento de pessoas que aceitam consagrar-se a isto e adquirir competências, contudo, sem que os outros paroquianos se desinteressem daquela que continua a ser uma missão de todos.

Os católicos, porventura, não se deveriam interrogar sobre o que fazem para propor a mensagem de Cristo àqueles que, só ocasionalmente, vêm à igreja, e aos baptizados que se esquecem da graça recebida na sua infância? Que estes encontrem junto daqueles testemunhas convictas, acolhedoras, respeitosas do itinerário de cada um, mas prontas a dar a razão da esperança que está neles (cf. 1P 3,15)! É uma felicidade crer e é preciso saber compartilhá-la.

E se se é penetrado pela graça da fé, vivificada pela esperança e animada pela caridade, nenhum aspecto feliz ou infeliz da vida do bairro ou da cidade pode passar insensível. Então, a evangelização tomará formas diversas na solidariedade social, na vida familiar, no trabalho, nas relações de vizinhança. Uma testemunha isolada conhece os seus limites, mas testemunhas estimuladas pela comunidade saberão partilhar melhor «a esperança, que não nos deixa confundidos porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido» (Rm 5,5).

No âmbito das paróquias ou dos sectores pastorais, recordo-o brevemente, os movimentos e associações de fiéis oferecem um precioso estímulo à missão, permanecendo atentos a uma boa coordenação e integração no conjunto. Eles ajudam a nutrir a vida espiritual, a formar os jovens, a partilhar a solicitude apostólica nos diferentes ambientes de vida, a tornar eficazes e contínuos o acolhimento e o serviço dos mais desprotegidos (cf. Apostolicam actuositatem AA 24 Exort. Christifideles laici CL 30).

Também hoje, quereria encorajar os fiéis das vossas dioceses a renovar os seus empenhos na evangelização, pessoalmente, em família e nos grupos constituídos. Eles serão felizmente estimulados pela «Carta aos católicos da França», recentemente adoptada pela vossa Conferência Episcopal.

6. Tendo abordado a questão da animação responsável das comunidades pelos sacerdotes e os leigos, e a das missões de evangelização, convém agora evocar brevemente o centro da vida eclesial: pois a paróquia é o lugar principal da celebração dos sacramentos e, em particular, da Eucaristia, fonte da santificação de todos os estados de vida. A vocação duma paróquia não pode ser definida senão em função da estrutura sacramental da Igreja. É nela que nos é visivelmente manifestada a presença de Cristo no mistério pascal. Na Missa, convergem as oferendas de todos, as dos momentos felizes e dos sofrimentos, dos esforços do apostolado, dos serviços fraternos de toda a espécie. O Senhor associa ao Seu próprio sacrifício os de todos os Seus irmãos. Ele nos reúne no seu Espírito Santo, confirma a fé e a caridade, escuta a nossa súplica para pedir ao Pai que conceda ao mundo inteiro a reconciliação, a salvação e a paz, une-nos com os Santos de todos os tempos na expectativa da comunhão plena no seu Reino.

É verdade que muitos fiéis sofrem pelo facto de a Missa já não poder ser celebrada perto deles e com a frequência de outrora; os sacerdotes são menos numerosos e estão mais distantes. Nada é mais importante do que dar o seu pleno valor à Eucaristia. Uma comunidade empobrece-se se não encontra com fervor este vínculo vital com o Senhor, fonte de toda a vida cristã e de todo o apostolado. A assembleia eucarística é o lugar onde esta realidade fundamental da fé se reconhece de maneira tangível.

Nenhum esforço deve ser poupado para que se tornem acessíveis, em todas as etapas da existência, os maiores dons que são os sacramentos. A vida cristã tem início com a graça santificante do baptismo; a entrada dos jovens na maturidade cristã é afirmada pela confirmação; a constituição do casal e a fundação da família são consagradas pela participação na Aliança no matrimónio; para enfrentar o mal e o pecado, a graça do perdão e da reconciliação é concedida e significada explicitamente pelo sacramento da penitência; o sofrimento é unido à Cruz no sacramento dos enfermos. No centro da missão das comunidades cristãs, a preparação para os sacramentos é evidentemente primordial.

Sem dúvida, uma consciência mais viva dos dons confiados pelo Senhor à sua Igreja convidará a valorizar as vocações ao ministério sacerdotal, para que a palavra de Deus seja dada, Cristo se torne sacramentalmente presente e o povo de Deus seja guiado. Que as vossas comunidades pastorais não cessem de suplicar ao Senhor que chame jovens a consagrarem-se inteiramente, a fim de O servirem junto dos seus irmãos!

7. É verdade que a amplitude da missão pode parecer superar as possibilidades de comunidades que têm consciência dos seus limites e das suas pobrezas. É na fé que elas devem redescobrir que são à imagem do Filho do Homem, e do seu grupo restrito de discípulos que tinham as suas fragilidades; portanto, eles estabeleceram os fundamentos da Igreja, que recebeu a promessa da fidelidade de Cristo Bom Pastor.

A pobreza do número, dos meios e das capacidades deve convidar a apoiar-se verdadeiramente sobre o Senhor. A Igreja sabe que é vulnerável, mas os sinais da graça aparecem no dinamismo apostólico, do qual vós sois testemunhas e pelo qual damos graças a Cristo, que não abandona o seu rebanho, mas o guia mediante o Espírito Santo.

Que o encontro com o Bispo de Roma vos fortaleça no vosso ministério! Levai a minha saudação afectuosa e os meus encorajamentos aos sacerdotes diocesanos, aos diáconos, aos religiosos e às religiosas, aos leigos que se empenham nos conselhos pastorais e nos grupos de animação ou nas funções de orientação pastoral, ao conjunto dos fiéis, a fim de que progridam nas suas diversas missões de baptizados, na unidade orgânica da Igreja, Corpo de Cristo.

Invoco sobre todos vós e sobre as vossas comunidades diocesanas a intercessão materna de Nossa Senhora e a graça das Bênçãos divinas.




Discursos João Paulo II 1997 - 18 de Janeiro de 1997