Discursos João Paulo II 1997 - 13 de Fevereiro de 1997

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


14 de Fevereiro de 1997





Senhor Presidente

1. O singular momento desta Visita Oficial, na qual Vossa Excelência, como supremo mandatário da República Federativa do Brasil, acompanhado por ilustres Personalidades do Séquito, vem a Roma para encontrar-se com o Sucessor de Pedro, é para mim motivo de particular satisfação. Na vossa pessoa, vejo toda a Nação brasileira, de norte a sul e de leste a oeste; neste momento, desejo encontrar-me com ela para expressar minhas mais cordiais saudações, e os votos de paz e de prosperidade em cada canto desse País Continente.

Faço-o com a maior estima, para expressar meus nobres sentimentos pessoais, mas, sobretudo, por ser um reflexo das excelentes relações entre a Santa Sé e o Brasil, mantidas e cimentadas constantemente pela leal colaboração entre a Igreja local e o Estado. Com tais relações, respeitadoras da mútua independência, a Igreja não busca privilégios, mas o suficiente espaço de ação para desempenhar a sua missão, no campo religioso, para o bem comum, ao serviço do homem e da mulher, na plena verdade da sua existência, do seu ser pessoal e, ao mesmo tempo, do seu ser comunitário e social, situado em numerosos ligames, contatos, situações e estruturas que o unem a outros seres da própria terra.

2. Ao motivo das boas relações, junta-se um outro a determinar a alegria por este encontro: o fato de se tratar de um Povo cuja maioria professa a religião católica, com um glorioso passado, de devotamento à causa de Cristo e da Igreja e de benemérita ação evangelizadora. No final deste século, o Brasil comemorará quinhentos anos de história; data, sem dúvida alguma, significativa pois permite afirmar ante a Comunidade das Nações sua acentuada personalidade no campo social, econômico e cultural, de grande destaque, e de alvissareira projeção para o novo milênio que se aproxima. Neste sentido, a presença da Igreja continuará, por Vontade do Altíssimo, a colaborar para a difusão do Evangelho, sempre atenta às exigências da sua missão, não poupando sacrifícios por contribuir sempre mais àquela causa do bem comum, que a irmana com os altos objetivos do Governo brasileiro.

3. Não escondo, Senhor Presidente, que tenho acompanhado com vivo interesse os acontecimentos da vida religiosa e social do seu País. O Brasil atravessa atualmente uma fase de progressivo desenvolvimento em todos os setores da vida nacional, que lhe permitem, graças a uma série de mudanças significativas, projetar-se em adiante com otimismo a respeito do futuro. Após uma fase turbulenta da sua história ainda recente, o Povo brasileiro vem adquirindo um contínuo amadurecimento a respeito dos seus direitos e deveres, que exige dos seus governantes uma diligente dedicação e um respeito plenamente consoante com a dignidade de todo o ser humano, criado à «imagem de Deus» (Gn 1,27).

Por um lado, como já tive ocasião de reafirmar, até bem recentemente, «compete às nações, aos seus dirigentes, aos seus operadores econômicos e a todas as pessoas de boa vontade procurar todas as possibilidades de partilhar, de modo mais eqüitativo, os recursos que não faltam, e os bens de consumo; mediante esta partilha, todos manifestarão assim o seu sentido fraternal» (Discurso na sede da FAO — 13/XI/1996, n. 1). O cenário da vida interna brasileira aponta na direção de um esforço geral, em vias de aperfeiçoamento, para que a justa distribuição da riqueza seja um fato sempre mais abrangente, para cobrir as distâncias entre pobres e ricos, na atenção e solidariedade para com os menos favorecidos e carecidos de ajuda. O respeito pelas populações indígenas, o empenho por uma reforma agrária atuada de acordo com as leis vigentes, a preservação do meio ambiente, entre outras motivações, justificam iniciativas sempre corajosas visando o enobrecimento da causa democrática. Por outro lado, cabe ressaltar também os inegáveis direitos de toda a pessoa humana onde possam cultivar-se os valores culturais, espirituais e morais — patrimônio comum a ser sempre promovido e assegurado. E isso, começando pelos setores vitais para a comunidade, como sejam: a família, a infância e a juventude, a instrução e a previdência social.

Nestes setores e manifestações da vida humana, como nos outros, surgem multíplices solicitações às que se há de responder em conformidade com as exigências da justiça, da liberdade e da comum solidariedade; por tais solicitações também a Igreja se sente interpelada, em virtude da dimensão de serviço do homem da sua missão. Neste sentido ela atuará sempre na defesa dos mais necessitados, dos pobres e dos marginalizados, sem descuidar de qualquer segmento da sociedade, rico ou pobre, pois todos são filhos de Deus. Porém, é claro que o seu esforço em colaborar na implantação da justiça e da paz, deverá redundar preferentemente na proteção dos menos favorecidos, dos abandonados, dos anciãos e, em geral, de todos aqueles que clamam por um maior respeito pelos seus direitos naturais. Não deixará, de modo especial, de pôr todos os meios para defender a vida, desde a concepção até o seu fim natural. Por isso, ante a introdução de legislações radicalmente injustas como o aborto e a eutanásia, ela permanecerá sendo sempre fiel e firme defensora daqueles cidadãos moralmente retos que aspiram por verem respeitadas suas próprias convicções. A mensagem cristã da Igreja ilumina plenamente o homem e o significado do seu ser e existir; ela buscará sempre no diálogo o empenho a fazer despertar uma nova cultura da vida (cf. Carta encíclica «Evangelium vitae», 69 e 82).

4. As relações do Brasil com os seus países vizinhos encontram-se hoje em fase de acelerada cooperação, visando, através do Mercosul, uma integração que contribua para a prosperidade econômica e social dos países participantes, com possibilidades também de irradiação em outras áreas geográficas do Continente. Mas para a consecução de um progresso que seja verdadeiramente integral, é necessário dedicar atenção à cultura e à educação nos autênticos valores morais e do espírito. É nesta direção que a Igreja, valendo-se do seu rico patrimônio de tradição plurissecular, quer contribuir para a elevação daqueles valores fundamentais enraizados na fé e nos princípios cristãos. De resto, o ensino religioso nas escolas públicas e privadas vai nesta direção, pois está previsto nas diversas constituições que o vosso País já teve desde a década de 30. A extraordinária importância de alicerçar toda estrutura individual e social sobre princípios perenes, não consiste em dar somente informações, permanecendo distante da realidade vital da sociedade. Ao contrário, a Igreja está firmemente decidida a defender em concreto os valores do lar e da reta visão da família cristã. Mais ainda: com um pouco de clarividência, é fácil ver que o bemestar da sociedade e da própria humanidade, nesta soleira do Terceiro Milênio, está em grande parte nas mãos das mulheres. Daquelas que aceitam a missão e tarefa que só elas, e ninguém em seu lugar, podem cumprir: a de mãe de família; educadoras, formadoras das personalidades de seus filhos; responsáveis, em boa parte, pela atmosfera do lar. Ninguém cometeria o erro de negar à mulher o direito/dever de participar da vida da sociedade e de nela influir. No mundo das ciências e das artes, das letras e das comunicações, da política, da atividade sindical, da universidade, a mulher tem o seu lugar — e sabe ocupá-lo muito bem. Mas ninguém tampouco deve ignorar que, servindo à microssociedade familiar com suas características próprias, a mulher-esposa-mãe serve diretamente à sociedade maior e à própria humanidade. Por isso, a Igreja «defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por aquelas que — fiéis ao Evangelho — em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o Povo de Deus» (Carta apostólica Mulieris dignitatem MD 27).

5. Senhor Presidente, nesta circunstância desejo assegurar-lhe a decidida vontade da Igreja no Brasil, como repetidas vezes manifestaram os Bispos, seus legítimos representantes, de continuar a colaborar com as Autoridades e as diversas instâncias públicas em servir as grandes causas do homem e da mulher, como cidadãos e como filhos de Deus (cf. Gaudium et spes GS 76). Por isso, estou certo de que este nosso encontro hodierno servirá de auspício para que o diálogo construtivo e freqüente entre as Autoridades civis e os Pastores da Igreja, aumente as relações entre as duas Instituições. Por sua parte, o Episcopado, os sacerdotes e as comunidades religiosas continuarão a ser incansáveis no cumprimento do seu trabalho evangelizador, assistencial e educativo para o bem da sociedade. Move-os a isto a sua vocação de serviço a todos, especialmente aos mais necessitados, contribuindo assim para a elevação integral de todo o brasileiro e para a tutela e promoção dos valores supremos.

Nesta grata e solene ocasião, ao confirmar toda a estima e interesse pelo bem do seu País, da parte da Sé Apostólica, renovo os melhores votos de seguro progresso, comungando bem-estar e crescentes prosperidades, em paz serena e concórdia de todos os brasileiros, na edificação de um Brasil cada vez mais humano e fraterno, em que cada um dos seus filhos, à luz de Cristo, possa sentir-se plenamente construtor da própria história comum da Nação.

Com estes meus votos cordiais, peço a Deus para que proteja sempre o querido Povo brasileiro e assista os seus Governantes na sua árdua tarefa de servir o bem comum dos amadíssimos filhos de tão nobre País.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1997






Caríssimos Irmãos e Irmãs em Jesus Cristo
Queridos Brasileiros

1. «Quando Me invocar, Eu o atenderei; Na tribulação estarei com ele; Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória».

Com estas palavras da liturgia da Igreja, do primeiro domingo da Quaresma, vamos dar início à Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema «Cristo liberta de todas as prisões», para que todos os que me escutam pela Rádio ou pela Televisão, unidos ao Papa que lhes fala, possam sentir-se interpelados, como a mesma Conferência Nacional dos Bispos do Brasil vem sugerindo aos católicos de todo o Brasil, a progredir no caminho do perdão, do amor, da bondade, da justiça e do serviço aos outros.

2. Por uma feliz coincidência, 1997, dedicado à reflexão sobre Jesus Cristo, marca o início da fase preparatória do Grande Jubileu da Redenção do Ano 2000. O motivo que me levou a escrever a Carta Apostólica «Tertio millennio adveniente» exortava a suscitar em «cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovamento pessoal, num clima de oração cada vez mais intensa e de solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado» (n. TMA 42).

Neste sentido, a fraternidade iluminada pela «caridade que vem de Deus» (1Jn 4,7), anima-nos a colaborar com o divino propósito de unir o que está dividido, de reconduzir o que se extraviou, de restabelecer a divina concórdia em toda a criação. Todos os nossos irmãos submetidos às mais diversas formas de prisão, especialmente pelo jugo do pecado, aguardam um gesto de paz e solidariedade, mas sobretudo de justiça cristã, que possa reconduzi-los no caminho do bem e da esperança.

3. Faço votos de que Cristo, nossa Páscoa, ilumine sempre mais de paz e compreensão os lares de todo o Brasil, e invoco a proteção e a misericórdia do Redentor dos homens pelos que sofrem no corpo e na alma, pelos jovens e anciãos: o Papa reza por todos e os exorta a confiar em Maria Santíssima, Mãe do Redentor, Nossa Senhora Aparecida, e a todos abençoa em NOME DO PAI + E DO FILHO + E DO ESPÍRITO SANTO +AMÉM!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA III ASSEMBLÉIA PLENÁRIA


DA PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA


14 de Fevereiro de 1997



Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Senhores e Senhoras

1. É-me grato dirigir-vos a minha saudação cordial, gentis Membros da Pontifícia Academia para a Vida, reunidos para a vossa Terceira Assembleia Geral. Agradeço de modo especial ao Presidente, Prof. Juan de Dios Vial Correa, as amáveis expressões que, em vosso nome, há pouco quis dirigir-me.

Sei que alguns de vós, Membros ordinários, estão presentes pela primeira vez, porque recentemente nomeados, e também pela primeira vez intervêm neste encontro ainda os Membros correspondentes que, na vida da Academia, constituem uma preciosa ligação com a sociedade. Apresento a todos as minhas boas-vindas, acolhendo-vos como ilustre comunidade de intelectuais ao serviço da vida.

Sinto antes de tudo a necessidade de exprimir a minha satisfação pela actividade que a Academia realizou neste breve período de tempo desde a sua fundação: em particular, desejo sublinhar os apreciáveis trabalhos já publicados como comentário à Encíclica Evangelium vitae, e a colaboração activa oferecida aos Dicastérios para cursos e assembleias de estudo sobre os conteúdos, tanto da Encíclica como de outros pronunciamentos do Magistério, no delicado âmbito da vida.

2. Também o tema por vós escolhido para esta Assembleia — «Identidade e Estatuto do embrião humano» — na iminência do décimo aniversário da Instrução Donum vitae, publicada a 22 de Fevereiro de 1987, se coloca nessa linha de empenho e reveste hoje uma peculiar actualidade, não só cultural mas também política.

Com efeito, antes de mais trata-se de reafirmar que «o ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a concepção e, portanto, desde aquele mesmo momento devem ser-lhe reconhecidos os direitos da pessoa humana, entre os quais sobretudo o direito inviolável de todo o ser humano inocente à vida» (Donum vitae, 79). Essas afirmações, retomadas de modo solene na Encíclica «Evangelium vitae», estão já entregues à consciência da humanidade e encontram acolhimento crescente também no âmbito da investigação científica e filosófica.

De modo oportuno nestes dias, procurastes esclarecer ulteriormente os mal-entendidos que derivam, no actual contexto cultural, de preconceitos de ordem filosófica e epistemológica, que põem em dúvida os próprios fundamentos do conhecimento, em particular no campo dos valores morais. É preciso, com efeito, libertar as verdades concernentes ao ser humano de qualquer possível instrumentalização, reducionismo ou ideologia, para garantir o pleno e escrupuloso respeito pela dignidade de cada ser humano, desde os primeiros momentos da sua existência.

3. Como não recordar que a nossa época está a constatar, infelizmente, um inédito e quase inimaginável extermínio de seres humanos inocentes, ao qual muitos Estados deram o aval da lei? Quantas vezes a voz da Igreja se ergueu em defesa destes seres humanos, sem ser ouvida! E, infelizmente, quantas vezes outros apresentaram como direito e sinal de civilização aquele que, ao contrário, é crime aberrante em relação ao mais indefeso dos seres humanos!

Mas chegou a hora histórica e premente de dar um passo decisivo para a civilização e o autêntico bem-estar dos povos: o passo necessário para reivindicar a plena dignidade humana e o direito à vida de cada ser humano, desde o seu primeiro instante de vida e durante toda a fase pré-natal. Este objectivo, a recuperação da vida pré-natal à dignidade humana, postula um concorde e imparcial esforço de reflexão interdisciplinar, unido a uma renovação indispensável do direito e da política. Quando este caminho começar, terá início uma nova etapa de civilização para a humanidade futura, a humanidade do terceiro milénio.

4. Ilustres Senhores e Senhoras, aparece com clara evidência como é relevante a responsabilidade dos intelectuais na sua tarefa de pesquisa neste campo. Trata-se de reconquistar específicos espaços de humanidade à esfera da tutela do direito, sendo o primeiro entre todos o da vida pré-natal.

Desta reconquista, que é vitória da verdade, do bem moral e do direito, depende o sucesso da tutela da vida humana, nos outros momentos mais frágeis da sua existência, tais como a fase terminal, a doença e a deficiência. Nem deve ser esquecido que a preservação da paz e a própria tutela do meio ambiente pressupõem, por coerência lógica, o respeito e a defesa da vida desde o primeiro momento até ao seu ocaso natural.

5. A Pontifícia Academia para a Vida, à qual agradeço de coração o serviço que está a prestar à vida, tem a tarefa de contribuir para o aprofundamento do valor deste bem fundamental, sobretudo mediante o diálogo com os cultores das ciências biomédicas, jurídicas e morais. Para alcançar esse objectivo, o trabalho da vossa comunidade de estudo e de pesquisa deverá contar com uma intensa vida ad intra, marcada pelo intercâmbio e pela colaboração científica multidisciplinar. Ela será assim capaz de oferecer também ad extra, no mundo da cultura e da sociedade, estímulos salutares e contributos válidos para uma autêntica renovação da sociedade.

Ilustres Senhores e Senhoras, o generoso começo da vossa actividade conforta nesta esperança. Desejo aqui encorajar- vos a prosseguir no caminho empreendido, na recordação da intuição benemérita do vosso primeiro Presidente, o Prof. Lejeune, denodado e incansável defensor da vida humana.

A Igreja, hoje, sente a necessidade histórica de tutelar a vida para a salvação do homem e da civilização. Estou persuadido de que as gerações futuras lhe estarão gratas por se ter oposto, com toda a firmeza, às múltiplas manifestações da cultura de morte e a toda a forma de desvalorização da vida humana.

Deus abençoe todos os vossos esforços e a Virgem Santa, Mãe de Cristo, Caminho, Verdade e Vida, torne fecundas as vossas investigações. Como testemunho da simpatia com que acompanho a vossa actividade, concedo de bom grado a todos vós uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PRESIDENTES DA JUNTA REGIONAL


E DO CONSELHO REGIONAL DO LÁCIO (ITÁLIA)


Sábado, 15 de Fevereiro de 1997





Senhor Presidente da Junta Regional
Senhor Presidente do Conselho Regional
Ilustres Membros da Junta e do Conselho
Excelentíssimas Senhoras e Senhores

1. Tenho a alegria de me encontrar convosco e de vos apresentar os melhores votos de um ano de 1997 rico de realizações e frutos. De bom grado, faço- os extensivos às famílias e a todos os cidadãos da Região do Lácio. Saúdo cordialmente cada um de vós, a partir do Senhor Presidente da Junta, a quem agradeço as expressões com que me apresentou os vossos sentimentos cordiais e expôs os projectos da Administração regional.

O olhar da Igreja, como o próprio Presidente bem ressaltou, está dirigido para o Ano 2000, que para grande parte dos homens contemporâneos representa uma etapa altamente significativa, um Ano santo de singular importância. De facto, como eu escrevia na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, «os dois mil anos do nascimento de Cristo... representam um Jubileu extraordinariamente grande não somente para os cristãos, mas indirectamente para a humanidade inteira, dado o papel de primeiro plano que o cristianismo exerceu nestes dois milénios» (n. TMA 15).

Em preparação para o Ano santo, a Diocese de Roma proclamou uma «Missão da Cidade» que prevê, precisamente nestes dias, o início da distribuição do Evangelho de Marcos a todas as famílias da Cidade. É-me grato, portanto, oferecê-lo hoje também a vós, como testemunho da «Boa Nova» de Jesus Cristo, Filho de Deus, único Salvador do mundo.

2. O encontro hodierno oferece uma renovada oportunidade para confrontar e harmonizar os objectivos da Comunidade eclesial e da Administração regional do Lácio, na perspectiva desse evento.

Sabe-se como a cidade de Roma, em feliz correlação com Jerusalém, constitui, por assim dizer, o pólo de atracção do Ano santo. Contudo, sob vários pontos de vista, adquire grande relevância também o papel que, na preparação e no desenvolvimento dele, é chamada a desempenhar a Administração regional. A peregrinação é, por sua natureza, uma experiência dúplice: espiritual, na perspectiva de profundas e fortes motivações religiosas, e prática, em dependência de concretas realizações, tais como o caminho, as paragens, as visitas, as deslocações, os encontros. A Região do Lácio constitui o contexto imediato, dentro do qual está situado o centro da peregrinação, a cidade de Roma; um contexto rico de localidades de altíssimo valor espiritual e cultural, bem ligadas a outros centros de forte evocação para os peregrinos, no Lácio ou noutras regiões da Itália.

Tudo isto convida os administradores a porem em prática, com criatividade e tempestividade, oportunidades legislativas e energias empresariais, a fim de valorizar do melhor modo os vários recursos presentes no território regional. Trata-se de recursos verdadeiramente conspícuos: basta pensar na notável riqueza de energias físicas e intelectuais, de que dispõem os habitantes da região; no excepcional património cultural nela distribuído de diversas maneiras; no desenvolvimento das estruturas de acolhimento, tanto laicas como religiosas. Faço ardentes votos por que a Administração regional e a Comunidade eclesial actuem no respeito das competências e em espírito de grande colaboração, para criarem em torno de Roma um contexto acolhedor e eficiente.

3. O «carácter extraordinário» da perspectiva jubilar não deve, contudo, fazer esquecer os problemas «ordinários » do território e do povo que nele habita. O impacto social do jubileu exige que sejam enfrentadas com empenho essas problemáticas, para «o ano de graça do Senhor» que então será celebrado.

Entre as questões sociais que não podem deixar de chamar a atenção quotidiana, merece evidência especial o trabalho, ligado à crise de emprego, que mortifica sobretudo as jovens gerações. Nesse âmbito, a Administração regional está investida de específicas competências e responsabilidades, que a tornam capaz de projectar e pôr em prática intervenções que visam, em particular, apoiar as instituições educativas que preparam os jovens para se inserirem de maneira eficaz no mercado do trabalho.

Enquanto evoco a gravidade do fenómeno do desemprego, quereria contudo dirigir a todos um caloroso convite a não desanimarem, diante do seu preocupante perdurar, mas antes a renovarem todos os esforços para preparar as condições duma sua adequada solução. Essa solução depende, certamente, da cooperação de todos e de políticas em grande escala. Por isso, é necessário que a este amplo compromisso da inteira sociedade não falte o vosso empenho de Administradores regionais. Oro ao Senhor para que a vossa contribuição nesse sentido seja eficaz, de maneira a permitir aos jovens e às famílias do Lácio olhar para o futuro com esperança renovada.

4. Ilustres Senhoras e Senhores, do trabalho o olhar alarga-se para outras grandes tarefas próprias da Administração regional, tais como a política sanitária ou a do território e do meio ambiente. Bem sabeis como a Igreja tem a peito esses âmbitos, que incidem directamente sobre a qualidade da vida das pessoas! Eles merecem uma consideração sempre mais atenta e corajosa, da parte dos administradores públicos, e uma forte capacidade de projectação numa relação de estreita colaboração com todas as forças presentes no território.

Muito já está a ser feito nessa direcção; contudo, há ainda muito a realizar, com o esforço conjunto de todos. Em particular, não pode faltar, no empenho pelo progresso social das várias comunidades do Lácio, um firme fundamento ético, uma vez que só sobre a base dos valores humanos essenciais é possível construir um sociedade fraterna e solidária.

Peço ao Senhor que sustente o esforço de cada pessoa animada pelo desejo de servir o bem comum e, enquanto renovo a todos vós os votos por que contribuais de modo eficaz para o bom governo desta ilustre Região, concedo a cada um a minha Bênção, que de bom grado faço extensiva às vossas famílias e à inteira comunidade do Lácio.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE FIÉIS DA DIOCESE DE PROVIDENCE


(ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA)


Sábado, 15 de Fevereiro de 1997





Estimados D. Gelineau e D. Mulvee
Queridos Amigos em Cristo

Estou feliz por me encontrar com esta peregrinação da Diocese de Providence, por ocasião do 125º aniversário da sua fundação.

Quisestes vir a Roma, Cidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, para revigorar os vínculos de fé e amor entre a vossa Igreja local e a Sé de Pedro, à qual foi confiada, segundo as palavras do Concílio Vaticano II, a missão de «promover o bem comum da Igreja universal e o bem de cada uma das Igrejas particulares » (Christus Dominus CD 2).

Faço votos por que a vossa visita verdadeiramente vos confirme na fé una, santa, católica e apostólica. O vosso compromisso, nas proximidades do Terceiro Milénio, deve ser a vivência mais plena e profunda da nossa herança católica, e a sua transmissão íntegra e inteira às gerações mais jovens. Com esta intenção, confio todos vós à intercessão de Maria, Mãe do Redentor. Deus Omnipotente derrame as suas graças sobre vós e sobre as vossas famílias. Oxalá Ele abençoe a vossa Diocese e o vosso País.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO XIX CONGRESSO


DA UNIÃO CATÓLICA ITALIANA


DOS PROFESSORES DE ESCOLA MÉDIA


18 de Fevereiro de 1997



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Vindos de todas as partes da Itália para celebrar o XIX Congresso nacional da vossa Associação, vós tendes em vista reflectir sobre o modo como a escola italiana, num contexto de notáveis transformações, deve preparar-se para viver momentos de grande valor para o seu futuro.

O tema por vós escolhido, «Qual é o projecto cultural e educativo no limiar do terceiro milénio », bem manifesta a vossa intenção de enfrentar um «novo advento», atentos aos «sinais dos tempos» e corajosamente abertos às inovações.

O cristão sabe bem que o futuro do mundo não deve somente ser esperado, mas projectado e construído mediante os elementos positivos do presente. Nesta fase de amplas mudanças que investem o mundo da escola, a UCIIM, fiel às próprias finalidades originárias, é chamada a intervir com pontualidade e competência nos vários projectos de reforma. Trata-se de actuar com sentido de responsabilidade nesse âmbito, aprofundando os aspectos pedagógicos e didácticos da vossa peculiar missão e, sobretudo, tendo sempre presentes as reais exigências daqueles que a Providência confiou ao vosso empenho profissional, isto é, os jovens.

2. A escola, particularmente a secundária, encontra-se na encruzilhada das muitas vias que a sociedade e a cultura abrem aos jovens. Ela exige de vós, caros Professores, acentuada sensibilidade, interesse e espírito de serviço inspirado e generoso. Desde o seu nascimento, a UCIIM teve o cuidado de pôr o aluno no centro da acção didáctica, ressaltando que qualquer intervenção educativa deve referir-se sempre à pessoa do aluno, na sua originalidade e globalidade. A relação pedagógica deve, portanto, ser vivida em espírito de amor. Isto comporta oferta da confiança recíproca e empenho à colaboração entre professor e aluno.

Nos jovens de hoje verificam-se com frequência atitudes contraditórias, sinal da procura confusa de uma realização pessoal plenamente satisfatória. Para os jovens é preciso olhar com confiança; é necessário dialogar com eles mediante uma linguagem aberta e directa, acreditada pela coerência da vida; abrir-lhes os «arquivos» da história, envolvendo-os em projectos culturais animados pela sabedoria do Evangelho.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs, a relação entre fé e cultura representa um âmbito vital para o destino da Igreja e o futuro da sociedade. Mais do que nunca é necessário, neste particular contexto histórico, que o crente, empenhado no singular laboratório de cultura, que é a escola, efectue um sério discernimento das várias formas culturais presentes na sociedade, julgando-as à luz dos valores cristãos.

A UCIIM, fiel à própria identidade originária e aberta profeticamente ao futuro, é chamada a exprimir e a sustentar professores profissionalmente preparados e actualizados, com uma espiritualidade límpida e forte, capazes de testemunhar diante de todos aqueles com os quais eles se encontram na escola — alunos, colegas e pais — o amor de Jesus Mestre, no intento de realizar uma presença cristã eficaz nos ambientes em que se elabora a cultura e se forma a opinião pública.

Para cumprir uma tarefa tão empenhativa, a Associação não pode deixar de recordar aos seus membros que, a exemplo de Gesualdo Nosengo e dos pioneiros das suas origens, é preciso cada dia haurir da lógica luminosa da fé e da fonte inexaurível da oração. Além disso, é preciso alimentar a certeza de que jamais estamos sozinhos na escola e pelas estradas do mundo, porque Jesus Mestre está sempre no meio de nós ontem, hoje e sempre, até ao fim do mundo.

Ao desejar um trabalho profícuo, confio cada um de vós à protecção de Maria, Sede da Sabedoria, enquanto de coração abençoo todos vós.

Vaticano, 18 de Fevereiro de 1997.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCERRAMENTO DO RETIRO ESPIRITUAL


NO VATICANO


Sábado, 22 de Fevereiro de 1997





Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio

Juntamente convosco dou graças ao Senhor por estes Exercícios Espirituais, que foram uma prolongada experiência de intimidade com o Espírito Santo: Ele fala-nos ao coração no silêncio.

Foram um precioso dom de Deus, no início do tempo quaresmal. Assim como Jesus se retirou quarenta dias no deserto em solidão e jejum, também nós penetramos mais intensamente no «deserto», para meditarmos sobre a finalidade da vida e renovarmos, com filial disponibilidade, o nosso «amém» ao Pai, com Cristo, «testemunha fiel e verdadeira » (Ap 3,14).

Agradeço ao caríssimo Cardeal Roger Etchegaray, que nos guiou neste itinerário com doutrina profunda e inspiração espiritual, oferecendo- nos a sua rica experiência pastoral e as variadas sugestões humanísticas de autores contemporâneos. Ajudou-nos a apressar o passo no caminho que nos conduz rumo ao Grande Jubileu. Escolhi-o como pregador, porque é o Presidente da Comissão instituída para preparar essa circunstância histórica. O ano de 1997 é a primeira etapa do triénio de preparação imediata para o Grande Jubileu do Ano 2000. É o ano dedicado a Jesus Cristo e, muito oportunamente, o Cardeal Etchegaray centrou n'Ele as suas meditações, tomando como motivo condutor as palavras de Pascal: «Fora de Jesus Cristo não sabemos quem é Deus, nem quem somos nós».

Esta semana de Retiro espiritual foi uma verdadeira graça também para a Cúria Romana. Nestes dias, ela estreitou-se ainda mais à nossa volta em Exercícios e reavivou, no Espírito Santo, a própria consciência de ser não só uma comunidade de serviço eclesial, mas também, e sobretudo, uma comunidade de fé e de oração, animada pelo amor generoso e fiel a Cristo e à Igreja.

Agora chegamos ao fim desta extraordinária experiência do Espírito, e o pensamento dirige-se espontaneamente a Nossa Senhora, tantas vezes evocada e invocada durante estes dias. A Ela, «Causa nostrae laetitiae », confiamos as intenções e os frutos destes Exercícios.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, guiados por Maria, Mãe da Igreja, agora descemos da «montanha», para o alto da qual fomos atraídos pela inefável beleza de Cristo. Desçamos à vida de cada dia e retomemos o caminho, levando em nós a luz e a alegria hauridas da fonte inexaurível da verdade, que é Cristo.

A todos concedo de coração a minha Benção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA JUNTA


E DO CONSELHO PROVINCIAL DE ROMA


22 de Fevereiro de 1997





Senhor Presidente da Junta Provincial
Senhor Presidente do Conselho Provincial

Discursos João Paulo II 1997 - 13 de Fevereiro de 1997