Discursos João Paulo II 1997 - Sábado, 15 de Março de 1997

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS OFICIAIS E À EQUIPAGEM DO NAVIO FRANCÊS


«JEANNE D'ARC»


Sábado, 15 de Março de 1997





Senhores Oficiais Prezados amigos!

Vós quisestes vir saudar o Bispo de Roma, por ocasião da escala em Nápoles do porta-helicópteros Jeanne d’Arc. É-me grato acolher-vos nesta Cidade, centro da Igreja da qual muitos de vós fazem parte. Sabeis que o ministério do Papa o leva a trabalhar pela unidade e a paz dos homens, em nome de Cristo que veio reconciliar a humanidade com o Pai. A carreira que escolhestes vos faz percorrer este mundo, muitas vezes dividido e ferido: oxalá possais agir sempre como servidores da paz, no amor pelos homens!

O próximo Dia Mundial dos Jovens, em Paris, tem por tema o diálogo dos discípulos com Jesus: «Mestre, onde moras?». A resposta de Cristo é: «Vinde ver!» (cf. Jo Jn 1,38-39). Dirijo-vos também eu este convite. Quer este seja em Paris, em Agosto, ou nos mares do globo, ide ao encontro d’Aquele que é a luz do mundo, aprendei a ver o rosto de Cristo, que revela o esplendor de Deus e Se deixa também reconhecer no mais humilde dos Seus irmãos.

Nestes dias, preparamos as festas pascais. Faço votos por que as vivais no seguimento de Cristo, que ama os seus até ao fim (cf. Jo Jn 13,1), e que é o primeiro a ressuscitar dentre os mortos na glória da Páscoa. Seja Ele para vós «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jn 14,6)!

Obrigado pela vossa visita. De todo o coração, dou-vos, a vós e a todos os vossos entes queridos, a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS FRANCESES DA REGIÃO APOSTÓLICA


MIDI-PYRÉNÉES EM VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


15 de Março de 1997



Caros Irmãos no Episcopado!

1. Por ocasião da vossa peregrinação aos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e da vossa visita «ad Limina», conjuntura que manifesta a comunhão das Igrejas locais, espalhadas pelo mundo, com o Sucessor de Pedro e a colaboração confiante com os diferentes serviços da Santa Sé, é com alegria que vos acolho hoje. Agradeço em primeiro lugar a D. Maurice Gaidon, vosso Presidente, ter-me apresentado os aspectos importantes do vosso ministério: as alegrias e os motivos de acção de graças, pois percebeis a obra do Espírito no coração dos homens, e as questões que enfrentais quotidianamente na missão. Os nossos encontros permitem-me estar próximo do clero e dos fiéis das dioceses, das quais sois os pastores. Entre os elementos de renovamento e as atenções que demonstrais nos vossos relatórios quinquenais, considero hoje o que concerne à catequese e aos jovens. São precisamente estes dois aspectos que eu quereria evocar convosco; no espírito que animou a Assembleia da Primavera dos Bispos da França em 1996, encorajo-vos a prosseguir e intensificar a vossa acção junto da juventude, pois é especialmente por ela que se deve exprimir a solicitude da Igreja.

2. Antes de tudo, vós ressaltais o desejo de numerosas famílias serem acompanhadas no despertar para a fé dos mais pequeninos. Ante os interrogativos dos filhos, os pais sentem-se por vezes desamparados; experimentam então a necessidade de apelar aos pastores. Com frequência, é para eles uma ocasião de reavivar a sua fé pessoal e de retornar a uma prática sacramental mais intensa. Em casa, desde a sua mais tenra idade, as crianças interrogam-se sobre Deus; podem ali receber as primeiras respostas às suas perguntas e ser iniciadas no diálogo com o Senhor e na confiança na Sua bondade de Pai. Mas uma pedagogia muito simples da oração cristã supõe também que os adultos dêem o exemplo da oração pessoal e da meditação da Palavra de Deus. Devemos, então, encorajar os pais a tomarem consciência da sua missão de educadores da fé e a pedirem o apoio dos sacerdotes e dos leigos formados para este aspecto da pastoral.

3. Para satisfazer as exigências específicas de educação religiosa das crianças, tendes o cuidado de propor um ensinamento catequético que desenvolve, de maneira orgânica, o mistério cristão. Com efeito, a catequese tem necessidade de programas bem articulados, inspirados no Catecismo da Igreja Católica, apresentando os diferentes elementos do Credo. Por outro lado, ao percorrer a história sagrada, as crianças aprendem a conhecer as grandes figuras bíblicas, para tomarem como exemplos aqueles que prepararam a vinda do Salvador, conhecerem Cristo e, por sua vez, se tornarem seus discípulos. Numa época em que a formação passa pela proposição de modelos de vida cristã, a identificação aos homens e às mulheres do Antigo e do Novo Testamento e aos santos da nossa história, é um aspecto válido na educação espiritual. Constatais também que cada vez mais crianças em idade escolar pedem o baptismo; não se pode senão alegrar-se por esta Primavera, à qual convém dedicar grande atenção, pois isto constitui um sinal de que as crianças sabem descobrir o valor dos sacramentos: ajudemo-las a frequentá-los regularmente.

4. A catequese especializada conhece, ela também, um novo desenvolvimento. Congratulo-me com as pessoas que aceitam empenhar-se por que as crianças, atingidas por uma deficiência, possam receber uma catequese adaptada e beneficiar- se duma assistência espiritual conveniente. Com todo o seu coração e apesar dos seus sofrimentos, estes jovens sabem maravilhar-se com a grandeza e a beleza de Deus, que Se revela não aos sábios, mas aos pobres e aos mais pequeninos (cf. Lc Lc 10,21); elas têm também um sentido profundo da oração filial e da confiança no Senhor. Os adultos recebem muito da proximidade destes jovens. Convido as comunidades cristãs ?a dedicar o seu justo lugar àqueles que são os mais débeis e mais fragéis.

5. Numa sociedade que tende a dar relevo à rentabilidade, convém recordar que o desenvolvimento e a maturação humana dos jovens não podem ser feitos unicamente graças à aquisição de conhecimentos científicos e técnicos. Seria isto desconhecer a necessidade de interioridade da pessoa. Da experiência interior deriva o dinamismo vital. Para o necessário desenvolvimento espiritual dos jovens, numerosos pais têm a preocupação de dar aos seus filhos uma educação religiosa, que não se confunde com o ensinamento de conhecimentos religiosos, ministrados numa grande parte das instituições escolares. Noções sobre a religião são oportunas, pois permitem aos jovens descobrir as raízes espirituais e morais da própria cultura. Entretanto, elas não constituem ainda a transmissão da fé, que abre à prática da vida cristã. Conservar a possibilidade duma catequese é não só uma questão de liberdade religiosa ou de abertura de espírito, mas corresponde à solicitude de fazer com que os jovens acedam ao esplendor da verdade e se tornem discípulos do Senhor, assumindo as suas responsabilidades na comunidade cristã. Uma formação catequética que não convida as crianças a reconhecer o Senhor, na oração pessoal e pela prática regular dos sacramentos, em particular da Eucaristia, corre o perigo de conduzir rapidamente os jovens a abandonarem a fé e as exigências da vida moral.

Nesta perspectiva, é importante que as Autoridades e todos os que têm responsabilidades no mundo da educação tenham o cuidado de criar e manter, nas semanas do período escolar, faixas horárias convenientes, para que as famílias que o desejarem possam oferecer aos seus filhos uma formação cristã e espiritual, sem que isto seja para os jovens uma sobrecarga exagerada no emprego do seu tempo nem os ponha de parte nas actividades paraescolares. A propósito disso, louvo os importantes esforços envidados pelos responsáveis da catequese e pelas paróquias, a fim de se adaptarem aos horários dos jovens.

6. Cada vez mais pessoas participam na catequese. Regozijo-me pelo facto de os pais e as mães de família, em ligação com religiosos, religiosas e sacerdotes, aceitarem dedicar algum tempo para assegurar esta missão primordial da Igreja. Naquilo que vos concerne, estais atentos a formá-los com solicitude, no plano teológico, espiritual e pedagógico, a fim de poderem acompanhar pacientemente os filhos no seu crescimento humano e espiritual, e transmitir-lhes a mensagem cristã. O catecismo é mais do que um ensino: é um testemunho da fé da Igreja e um exemplo de vida moral. Leva os jovens a descobrirem Cristo e ajuda-os a encontrar o lugar a que aspiram nas comunidades cristãs, que devem estar atentas e acolhê-los, integrando-os nas diferentes actividades eclesiais.

Louvo os esforços feitos pelos serviços diocesanos de catequese, que se empenham em instituir centros onde os adultos se podem formar e encontrar livros e dispor de informações necessárias; graças às múltiplas colaborações, as pessoas encarregadas da catequese têm assim ao seu alcance instrumentos indispensáveis, para as ajudar na sua tarefa educativa, nos planos doutrinal e pedagógico.

7. As escolas católicas têm um papel específico a desempenhar na educação religiosa, como no-lo recordam em particular os estatutos do Ensino católico, recentemente modificados, e as reflexões aprofundadas durante as diferentes jornadas nacionais dos Organismos de Gestão do Ensino católico. No seio das instituições, através do ensino escolar, dos cursos de cultura religiosa, da catequese e da vida quotidiana, compete à comunidade educativa fazer aparecer o sentido cristão do homem e, de modo cada vez mais claro, ter em consideração os valores espirituais e morais essenciais, de que é portadora a mensagem cristã. Os dirigentes e os professores terão o cuidado de ser durante a vida inteira modelos de vida cristã; certamente, isto é exigente, mas os jovens descobrem a fé que faz viver e agir, mais graças à maneira de ser daqueles que os circundam, do que através das suas palavras.

8. Levai os meus encorajamentos calorosos a todos os homens e a todas as mulheres que, nos diferentes percursos de formação catequética, se devotam totalmente a que Cristo seja conhecido e amado, e o mistério cristão seja apresentado com clareza aos jovens de hoje. Sustentados pela oração pessoal, pela vida sacramental e pelo conjunto dos membros das comunidades cristãs, que eles desenvolvam, sem cessar, novas iniciativas pedagógicas, apesar dos meios por vezes escassos. Convido também as comunidades eclesiais a proporem liturgias da Palavra e, no domingo, onde for possível, celebrações da Eucaristia, nas quais as crianças e os jovens sejam realmente integrados e estejam ao seu alcance.

9. No sector das actividades paraescolares, a Igreja goza de uma longa tradição e sempre teve um papel a desempenhar, pois os momentos de descanso são também tempos preciosos para a educação. A recordação permaneceu viva e fiel, em numerosos movimentos de jovens, de sacerdotes, de pessoas consagradas e de leigos que, durante os dias de despedida e os períodos de férias escolares, reuniam as crianças e propunham- lhes jogos, actividades destinadas a despertar as suas capacidades intelectuais, uma vida comunitária entre jovens e adultos; estes são elementos benéficos para o crescimento integral dos jovens e para a sua abertura social. Numerosos jovens, tendo participado nestas actividades, assumiram depois responsabilidades consideráveis na Igreja ou na sociedade. Ainda hoje, convém procurar os meios mais oportunos para responder à exigência dos jovens que, ao lado da vida escolar onde os ritmos e os horários são períodos às vezes pesados, aspiram legitimamente ao tempo de lazer, pois a verdadeira educação não pode ser vista apenas como uma formação intelectual. Por uma atenção ao espírito e ao corpo, trata-se antes de tudo de edificar em cada jovem o homem ou a mulher que ele será amanhã, responsável por si mesmo e pelos seus irmãos, ajudando-os a alcançar um equilíbrio espiritual, humano e afectivo.

10. Vós estais preocupados pela pouco numerosa presença dos jovens nas comunidades eclesiais. E comunicastes-me o número bastante grande de jovens que estão em situação de revés escolar, preocupados pelas dificuldades pessoais e familiares. Constatais também que muitos dentre eles estão profundamente feridos pelas crises por que passa a sociedade actual. Outros são seduzidos e fascinados pelos movimentos de toda a espécie, que prometem felicidades ilusórias, dificultando a liberdade das pessoas e comprometendo, por vezes, o equilíbrio psicológico dos indivíduos. Para cumprirdes a vossa missão de maneira mais apropriada lançastes, no ano passado, uma grande sondagem dedicada aos jovens; recebestes mais de 1.200 respostas, entre as quais numerosos testemunhos significativos. Isto é sinal encorajador e um apelo a elaborar propostas cada vez mais fortes para a juventude.

Graças às análises e à síntese que a vossa Conferência Episcopal fez a partir das sondagens, ajudareis agora as comunidades locais a encararem perspectivas pastorais novas, para responder às expectativas dos jovens e fazer deles parceiros da vida eclesial. Todas as forças vivas das dioceses são chamadas a trabalhar juntas e a intensificar a sua acção em prol da juventude: os organismos diocesanos correspondentes, as paróquias, os movimentos de jovens, como a Acção Católica, o escutismo, o MEJ ou as comunidades carismáticas.

11. Percebeis também nos jovens uma sede nova de conhecer Deus, de desenvolver a própria vida interior e de levar uma vida comunitária, a fim de responder com coragem ao apelo de Deus e fazer opções de qualidade na sua existência. À sua maneira, como os discípulos, eles querem repetir a Cristo: «Senhor, para quem havemos nós de ir Tu tens palavras de vida eterna» (Jn 6,68). Durante os anos de formação, as capelanias no Ensino público ou privado constituem comunidades crentes incomparáveis, que permitem aos jovens fazer uma experiência de Igreja e devem ajudá- los a inserir-se mais facilmente na Igreja diocesana. Os jovens estão também, cada vez mais numerosos, a participar em grandes assembleias que incluem celebrações litúrgicas num espírito festivo. E, paradoxalmente, são estas grandes assembleias cristãs, onde o silêncio é também possível, que lhes oferecem a possibilidade de tomar consciência de que Deus está perto deles, em particular nos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, e que lhes fala ao coração nas Escrituras; eles fazem também a experiência da catolicidade e da diversidade na Igreja. Deste modo, numerosos jovens das vossas dioceses se têm empenhado na preparação dos Dias Mundiais da Juventude. Trata-se dum sinal evidente de que aspiram a uma vida cristã mais forte, com outros jovens da sua idade, e desejam empenhar-se ainda mais no seguimento de Cristo, na Igreja, para serem «profetas da vida e do amor», como recordei recentemente (Mensagem para o Dia Mundial da Juventude, n. 8). Neste sentido, muitos de vós falaram-me da alegria de ver numerosos jovens percorrer um autêntico caminho de fé, para receber o sacramento da Confirmação. Tudo isto mostra que é oportuno favorecer a inserção dos jovens na comunidade cristã, como o desejastes na mensagem que dirigistes, em 1996, aos jovens católicos da França.

12. Os jovens esperam, em primeiro lugar, ser escutados, amados e guiados, para poderem edificar a sua personalidade de maneira serena. Eles também têm necessidade de adultos, capazes de lhes recordar os pontos de referências e as exigências que comporta toda a existência que quer ser bela; capazes também de encontrar as maneiras positivas de lhes apresentar a mensagem cristã, em particular no campo moral. Nesta perspectiva, como o ressaltais, os sacerdotes jovens são com frequência os mais aptos para estar perto dos jovens e dar um impulso novo à pastoral da juventude. De igual modo, seria bom que, eventualmente dispensados de outras funções ministeriais, estivessem mais disponíveis para a missão junto dos jovens, fossem apoiados pelos seus irmãos no sacerdócio e ocupassem o seu lugar nas comunidades paroquiais. Encorajo, então, os jovens sacerdotes, os jovens religiosos e religiosas, a estarem junto dos jovens, de modo particular nos períodos- chave do seu crescimento. No meio deles, serão testemunhas qualificadas e manifestar-lhes-ão que cada um tem valor aos olhos de Deus e da Igreja.

Os jovens educadores têm um papel precioso; eles recordar-se-ão de que «o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres» (cf. Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, EN 41). Pela sua maneira de ser e pela fidelidade às suas promessas, mostrarão a via da felicidade e serão reconhecidos como os verdadeiros guias espirituais, de que o povo tem necessidade. Terão também a peito propor aos jovens um acompanhamento pessoal e a participação numa vida de grupo; estes dois aspectos conjuntos da vida pastoral oferecerão aos jovens elementos necessários para a unificação da sua vida, ajudando-os a discernir com clareza a própria vocação.

13. O Concílio Ecuménico Vaticano II concluiu com uma mensagem aos jovens, um apelo para que eles possam «recolher o facho das mãos dos [seus] antepassados [...] o melhor do exemplo e do ensinamento dos [seus] pais e dos [seus] mestres» (Mensagem do Concílio, 8 de Dezembro de 1965). A Igreja olha sempre para os jovens com confiança e amor. Alegra-se com o seu entusiasmo e o seu desejo de se doarem incondicionalmente. Para os ajudar a encontrar o sentido da própria vida, ela deve apresentar- lhes «o Cristo eternamente jovem », «o verdadeiro herói, humilde e sábio, o profeta da verdade e do amor, o companheiro e o amigo dos jovens» (Ibid.).

Que os pais e os educadores jamais se desesperem e saibam, oportuna e inoportunamente, dar testemunho da fé, esperança e felicidade que os fazem viver e que os guiam nas suas opções, mesmo que, aparentemente, os jovens não dêem de imediato o seu consentimento. Como poderão os jovens ter o gosto de Deus e querer ser discípulos do Senhor, se nunca ouvirem falar d’Ele, se não seguirem de perto as pessoas felizes de ser cristãs e de se empenhar na via da justiça, da solidariedade e da caridade Ao virem que os adultos crêem e vivem a própria fé, eles descobrirão que só o amor faz agir os membros da Igreja (cf. Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito B, f. 3).

14. No final da vossa visita «ad Limina», encorajo-vos, com todas as forças vivas das vossas dioceses, a prosseguir os vossos esforços na pastoral da juventude, que é uma das vossas prioridades. Que as comunidades cristãs confiem cada vez mais nos jovens, lhes dêem responsabilidades e os apoiem com paciência. Levai as saudações do Papa aos sacerdotes, aos diáconos, às pessoas consagradas, assim como aos leigos das vossas dioceses e, de maneira particular, transmiti às crianças e aos jovens o meu afecto. A vós, aos Bispos Eméritos e a todos os vossos diocesanos concedo do íntimo do coração a Bênção Apostólica.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO GRUPO DO PIO SODALÍCIO DOS «PICENI»


DA REGIÃO DAS MARCAS (ITÁLIA)


16 de Março de 1997



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de me encontrar convosco, sócios do Pio Sodalício dos «Piceni» e representantes da numerosa e activa Comunidade dos fiéis originários da Região das Marcas, residentes em Roma, que estais justamente orgulhosos da esplêndida igreja de São Salvador «in Lauro», com o anexo conjunto monumental.

Dirijo uma saudação cordial ao vosso Presidente, Engenheiro Franco Santolini, a quem agradeço as amáveis palavras com que, há pouco, traçou um interessante quadro da vida e das actividades da associação. Saúdo também o Assistente eclesiástico, Mons. Carlo Liberati, e todos vós que, com a vossa presença, testemunhais a devoção e o afecto da inteira população da Região das Marcas para com o Papa.

2. Este nosso encontro oferece-me a grata oportunidade de exprimir vivo apreço pelo empenho do vosso benemérito Sodalício, na conservação e difusão dos tradicionais valores de fé, laboriosidade e solidariedade tão arraigados na vossa terra de origem. Nos quase quatro séculos de presença na Cidade eterna, os fiéis originários da Região das Marcas distinguiram-se, de facto, pela constante fidelidade à Igreja, pela promoção dum melhor conhecimento da história e da vida das Províncias das Marcas, pelas múltiplas iniciativas sustentadas no campo da formação, da assistência e do culto.

Esta igreja de São Salvador «in Lauro », com as anexas obras paroquiais, representa um testemunho eloquente da vossa colaboração nas actividades pastorais da Diocese e, sobretudo, do vosso empenho na difusão, entre os romanos e os peregrinos provenientes das diversas partes do globo, da devoção à Bem-aventurada Virgem de Loreto, de cuja venerada imagem conservais com amor neste lugar uma das cópias mais antigas e renomadas.

3. Esta minha Visita realiza-se a mais de um século de distância daquela que foi feita pelo meu venerado predecessor, o Papa Pio IX, depois de ter cuidado das restaurações do templo. Como tantas outras antigas igrejas da Urbe, este conjunto monumental testemunha a capacidade dos cidadãos de Roma de se integrarem com outros povos — neste caso com o nobre povo das Marcas — e o modo como, ao mesmo tempo, têm vivido e traduzido a mensagem evangélica em sugestivos testemunhos de arte e de cultura.

Ao agradecer-vos o vosso acolhimento extraordinário, faço votos por que continueis com sempre maior zelo apostólico a cooperar activamente para a difusão do Evangelho, de modo especial em vista do Grande Jubileu do Ano 2000. Exorto-vos a oferecer, como indivíduos e como associação, a vossa específica contribuição de vida espiritual e de iniciativas concretas, em sintonia com a Diocese de Roma, a fim de que os numerosos peregrinos possam encontrar no centro da Cidade comunidades cristãs hospitaleiras e dedicadas ao anúncio do Evangelho.

Com estes sentimentos, enquanto invoco sobre cada um dos presentes, sobre todos os sócios do Pio Sodalício dos «Piceni» e sobre a inteira Comunidade dos fiéis originários da Região das Marcas de Roma a protecção materna da Bem-aventurada Virgem de Loreto, concedo de coração a cada um de vós e às vossas famílias uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NUM CURSO PROMOVIDO


PELA PENITENCIARIA APOSTÓLICA


E AOS OFICIAIS DESSE DICASTÉRIO


17 de Março de 1997



1. O Senhor concede-nos, mais uma vez, a graça e a alegria de um encontro que é solene e ao mesmo tempo familiar. Saúdo com afecto o Senhor Cardeal William Wakefield Baum, a quem agradeço o caloroso discurso que me dirigiu. Com ele saúdo os Prelados e os Oficiais da Penitenciaria Apostólica, órgão ordinário do ministério de caridade confiado, com o poder das Chaves, ao Sucessor de Pedro, para dispensar com liberalidade os dons da misericórdia divina.

Acolho de todo o coração os Reverendos Padres Penitencieiros das Basílicas Patriarcais da Urbe: a eles expresso o meu agradecimento pela generosidade, constância e humildade com que se dedicam ao serviço do confessionário, mediante o qual derramam nas almas o perdão de Deus e a abundância das Suas graças.

Dirijo, por fim, as minhas boas-vindas aos jovens sacerdotes e aos aspirantes próximos ao sacerdócio, os quais, aproveitando uma próvida disponibilidade da Penitenciaria Apostólica, quiseram aprofundar a temática moral e canonista acerca dos comportamentos humanos, que maiormente necessitam de graça saneadora e devem, por isso, ser objecto especial da solicitude materna da Igreja. Eles, assim, preparam-se de modo adequado para o futuro ministério, ao qual os encorajo, exortando-os a nutrir constante confiança na ajuda do Senhor.

2. Este nosso encontro realiza-se, não sem um preciso significado, na iminência da Páscoa. É circunstância, esta, que leva naturalmente o nosso pensamento ao sacrifício de Jesus, unicamente do Qual deriva a nossa salvação e no Qual, por isso, haurem valor os sacramentos. Merece também ser recordado que o presente ano de 1997 é, entre aqueles de preparação imediata para o Jubileu do novo milénio, caracterizado como o ano do Filho de Deus encarnado. Jesus, Filho de Deus, veio ao mundo «para dar testemunho da verdade» (Jn 18,37). Ele é o Cordeiro de Deus, «que tira o pecado do mundo» (Jn 1,29).

Estas afirmações do Evangelho de João servem-nos de guia para continuarmos a reflexão sobre a verdade libertadora, que foi objecto da mensagem por mim enviada, no ano passado, ao Cardeal Penitenciário-Mor, na conclusão do curso sobre o foro interno. Pois bem, a verdade libertadora é, sob diversos aspectos, em virtude da graça, premissa e fruto do sacramento da Reconciliação.

Com efeito, só se pode livrar do mal se se tem consciência dele enquanto mal. Infelizmente, sobre alguns temas fundamentais da ordem moral as hodiernas condições sócio-culturais não são favoráveis a uma nítida tomada de consciência, pois foram abatidos limites e defesas que, num tempo não muito distante, eram usuais. Como consequência, muitos sofrem um enfraquecimento do sentido pessoal do pecado. Até mesmo se chega a teorizar a irrelevância moral e, de igual modo, o valor positivo de comportamentos que ofendem objectivamente a ordem essencial das coisas, estabelecida por Deus.

3. Esta tendência está a ganhar terreno em todo o vasto campo do livre agir do homem. Não é possível neste momento uma análise aprofundada do fenómeno e das suas causas. Quero, porém, aproveitar esta ocasião para recordar que, em ordem especialmente à recepção frutuosa do sacramento da Penitência, o Pontifício Conselho para a Família publicou, há poucos dias, um «Vade-mécum para os confessores». O documento tem em vista oferecer um contributo de clareza «sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal».

Ele traduz, na linguagem própria de um subsídio operativo, a doutrina imutável da Igreja sobre a ordem moral objectiva, como foi constantemente ensinada nos precedentes documentos sobre esta matéria. Pela finalidade pastoral que o distingue, o «Vade-mécum» põe em relevo a atitude de compreensão caridosa, que deve ser usada para com aqueles que erram pela falta ou insuficiente percepção da norma moral ou, se conscientes dela, por fragilidade humana caem e, contudo, tocados pela misericórdia do Senhor, querem reerguer- se.

O texto merece ser acolhido com confiança e disponibilidade interior. Ele ajuda os confessores no seu empenhativo mandato de esclarecer, corrigir se necessário, encorajar os fiéis casados, ou que se preparam para o matrimónio. No Sacramento da Penitência realiza-se, assim, uma tarefa que, longe de se reduzir à reprovação dos comportamentos opostos à vontade do Senhor, Autor da vida, se abre a um positivo magistério e ministério de promoção do amor autêntico, do qual brota a vida.

4. A situação de desorientação moral, que investe tão grande parte da sociedade, atinge também não poucos fiéis, mas ao encontro de todos vem, através do ministério da Igreja, o poder salvífico do Filho de Deus feito homem. A dificuldade da situação não deve, por isso, desencorajar, mas antes estimular todas as inventivas da nossa caridade pastoral.

Na verdade, o ministério da confissão não deve ser concebido como um momento separado do conjunto da vida cristã, mas sim como um momento privilegiado, no qual confluem a catequese, a oração da Igreja, o sentido da penitência e a aceitação confiante do Magistério e do poder das Chaves.

Portanto, a formação da consciência dos fiéis, a fim de que se apresentem com a plenitude das disposições devidas para receber o perdão de Deus, mediante a absolvição do sacerdote, não se pode exaurir nas advertências, nas explicações e nos conselhos que o sacerdote costuma e deve dar ao penitente no acto da confissão. Para além deste momento estritamente sacramental, é preciso uma guia contínua, que se exprime através das clássicas e insubstituíveis formas da actividade pastoral e da pedagogia cristã: o catecismo, adequado às várias idades e aos vários níveis culturais, a pregação, os encontros de oração, as lições de cultura religiosa nas associações católicas e nas escolas, a presença incisiva nos meios da comunicação social.

5. Através desta contínua formação religiosa e moral, será mais fácil para os fiéis captarem as motivações profundas do magistério moral, dando-se conta de que lá onde a Igreja, no seu ensinamento, defende a vida, condenando o homicídio, o suicídio, a eutanásia e o aborto, lá onde ela tutela a santidade da relação conjugal e da procriação, reconduzindo-os ao desígnio de Deus sobre o matrimónio, reafirma e esclarece a lei divina, tanto natural como revelada. Precisamente daqui deriva a sua firmeza ao denunciar os desvios da ordem moral.

A fim de que compreendam este critério objectivo, os fiéis devem ser educados para a aceitação do magistério da Igreja, mesmo quando ele não se pronuncia nas formas solenes: a respeito disso, convém recordar quanto o Concílio Vaticano I declarou e o Vaticano II reafirmou, isto é, que também o magistério ordinário e universal da Igreja, quando propõe uma doutrina como revelada divinamente, é regra de fé divina e católica (cf. Denzinger-Schönmetzer, 3011; Const. dogm. Lumen gentium LG 25).

À luz destes critérios, aparece como é evasivo contrapor os direitos da consciência ao vigor objectivo da lei interpretada pela Igreja; com efeito, se é verdade que o acto realizado com consciência invencivelmente errónea não é culpável, é também verdade que ele permanece objectivamente uma desordem. Portanto, cada um tem o direito de formar de maneira recta a própria consciência.

6. A nossa tarefa pastoral exige o anúncio da verdade, sem compromissos nem subtracções. São Paulo, contudo, adverte que devemos viver «segundo a verdade na caridade» (Ep 4,15). Deus é caridade infinita e não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez Ez 18,23). Nós sacerdotes, seus ministros, à força devastadora do pecado devemos opor o anúncio tanto consolador quanto exigente do perdão. Por isto Jesus morreu e ressuscitou. Meditando, neste ano consagrado a Cristo Redentor, as insondáveis riquezas da Redenção, obteremos o dom de fazer, antes de tudo nós mesmos, experiência viva da misericórdia divina que salva, e poderemos assim ser sempre mais, segundo o exemplo de Cristo, mestres que iluminam e pais que acolhem em nome e por autoridade de Deus. Com efeito, somos chamados a dizer com São Paulo: «Somos embaixadores de Cristo... Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo: Reconciliai- vos com Deus» (2Co 5,20).

Em penhor de copiosas graças para o exercício frutuoso deste ministério de reconciliação, concedo a vós, sacerdotes e candidatos ao sacerdócio aqui presentes, que representais no meu coração de Pastor universal os sacerdotes e os candidatos ao sacerdócio do mundo inteiro, uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS NO ENCONTRO DE PREPARAÇÃO


PARA O DOMINGO DE RAMOS


Quinta-feira 20 de Março de 1997



1. «Non sum dignus, non sum dignus ». Pois bem, queridos jovens, ultimamente li um livro francês: «Jean Paul II le resistant». O Papa é resistente. Hoje, vejo que adquiri outro título: «transtornante », porque transtornei o vosso programa. Mas é preciso passar «ad rem». Sabeis o que significa passar «ad rem»? Não vos quero fazer um exame de latim. Passar «ad rem» quer dizer passar à coisa, ao tema, a quanto está escrito aqui, nas folhas que tenho nas mãos. Depois veremos.

«Missão quer dizer: passa a Palavra!».

Caríssimos jovens de Roma, este é o lema que ressoou várias vezes no encontro hodierno e que sintetiza bem o significado de quanto está a celebrar a Igreja de Roma: a Missão da Cidade. O que é, de facto, a Missão da Cidade senão um empenhar-nos juntos em acolher e em transmitir a todos, no nosso viver quotidiano, a Palavra de Deus que penetra no coração do homem? A Palavra de Deus, como lemos na Carta aos Hebreus, «é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes, penetra até dividir a alma e o corpo, as junturas e as medulas e discerne os pensamentos e intenções do coração» (He 4,12).


Discursos João Paulo II 1997 - Sábado, 15 de Março de 1997