Discursos João Paulo II 1997 - 22 de Março de 1997

DICURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PARLAMENTARES AUSTRÍACOS


22 de Março de 1997



Senhor Presidente do «Bundesrat»
Senhoras e Senhores!

1. Acolho de bom grado o vosso pedido deste encontro e dou-vos as boas-vindas ao Palácio Apostólico.

Este encontro dá-me a oportunidade de vos apresentar algumas reflexões acerca da vocação do político cristão.

2. Os desígnios de Deus para os homens reflectem-se no «Evangelho do amor de Deus pelo homem», no «Evangelho da dignidade da pessoa» e no «Evangelho da vida», que formam «um único e indivisível Evangelho» (Evangelium vitae EV 2). O único Evangelho é também o manual que cada cristão tem para contribuir, segundo a própria vocação, na edificação da «cultura da vida» a fim de que a «cultura da morte» não prevaleça. Esta tarefa não é só própria da Igreja, uma vez que ela é «Povo da vida e pela vida» (cf. Evangelium vitae EV 78-79), mas de todas as pessoas de boa vontade que estão prontas a servir a vida e, desse modo, a contribuir para a transformação cultural.

Isto concerne em particular aos políticos, cuja tarefa consiste em tornarem-se portadores da cultura da vida à sociedade.

3. Preocupamo-nos com a cultura da vida, antes de tudo quando ela concerne ao âmbito pessoal. «De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé se não tiver obras » (Tgo. 2, 14). Entre os mais preciosos contributos desta cultura existe, por isso, o bom exemplo. Quem quer servir a vida, deve ter uma atitude de respeito e de tolerância em relação àqueles com os quais deseja entreter um diálogo. Isto vale também para as relações com quantos a pensam de modo diferente, ainda que isto possa requerer ao indivíduo muito esforço, paciência e sobretudo causar uma grande tensão. Apesar disso, não é suficiente proclamar a verdade se, ao mesmo tempo, não se «põe em prática a palavra» (Tgo. 1, 23). Desse modo, as palavras tornam-se dignas de ser acreditadas e isto deve ser tutelado na vida pela veracidade: «a veracidade nas relações dos governantes com os governados, a transparência na administração pública, a imparcialidade no serviço das Instituições públicas, o respeito dos direitos dos adversários políticos » (Veritatis splendor VS 101). Ancorado solidamente na verdade e sustentado pela atenção para com o outro, o político cristão está ao serviço da vida, quando faz do Evangelho o critério do próprio agir, como Pedro disse à sua comunidade: «Estai sempre prontos a responder, para vossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança. Tende uma consciência recta» (1P 3,15-16).

4. O político deve superar uma particular prova demonstrativa, quando lhe é pedido que contribua para a edificação da cultura da vida, visto que se encontra diante de numerosas vozes de uma democracia pluralista, caracterizada pela oposição. Infelizmente, hoje tende-se a sustentar que o relativismo céptico e o agnosticismo constituem a filosofia e o fundamento próprios das formas políticas democráticas. Todos aqueles que, ao contrário, buscam honestamente o conhecimento da verdade e a ela se atêm, são considerados sob o ponto de vista democrático não dignos de confiança, pois não querem aceitar o facto de que a verdade é aquela determinada pela maioria. Certamente é uma política muito distante do espírito cristão a de afirmar que, se não existe alguma ver

verdade última, as ideias e as convicções de diversos indivíduos e grupos podem ser usadas de modo instrumental para questões de poder. Em um mundo sem verdade a liberdade perde o seu fundamento. «Uma democracia sem valores convertese facilmente num totalitarismo aberto ou dissimulado, como a história demonstra» (Centesimus annus CA 46). Por isso, uma das tarefas mais urgentes do político cristão é levar o Evangelho da vida «em todos os caminhos do mundo» (Christifideles laici CL 44), em particular nos meios de comunicação social, cujo poder não se deve subestimar. O político não representa em primeira linha a si mesmo, mas antes a verdade a que se sente obrigado. Tal como a filosofia clássica se atribuía a tarefa de fazer nascer a verdade, de igual modo o político cristão é chamado a fazer nascer o Evangelho da vida. Retrocede- se quando este último tem a palavra.

5. As nossas reflexões tornam-se urgentes, lá onde um povo, para além dos próprios confins, pensa «no bem de todos e de cada um, porque todos somos responsáveis por todos» (Sollicitudo rei socialis SRS 38).

É para desejar que a solidariedade política hoje queira exprimir-se segundo um horizonte «que, superando uma simples nação ou um simples bloco de nações, assuma uma dimensão mais propriamente continental e mundial» (Christifideles laici CL 42). A Igreja jamais pode deixar-se utilizar instrumentalmente para fins de uma demagogia e de sentimentalismos antieuropeus. Portanto, não há outra alternativa para uma Europa unida.

A contribuição, que o político cristão poderia oferecer a este processo, é a ideia da inviolável dignidade de cada pessoa humana, sobre cuja base se pode edificar uma cultura europeia da vida, que não se preocupa só com o facto de na Europa se viver bem, sob o ponto de vista económico e financeiro, mas também que a Europa seja edificada sobre a base de valores que, no passado, a tornaram grande. O político cristão não renunciará a representar tudo o que aprendeu da sua fé e o que a sua consciência lhe sugere.

6. Senhoras e Senhores!

Com as palavras do Concílio Vaticano II agradeço-vos tudo o que fazeis em favor da vida política na Áustria: «A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, ao serviço dos homens» (Gaudium et spes, GS 75). De igual modo, convido-vos ao «espírito de serviço» que, juntamente com as necessárias competência e eficiência, pode tornar «transparente» e «pura» a actividade dos homens políticos, como aliás o povo justamente exige (cf. Christifideles laici CL 42). A vós pessoalmente e a todos aqueles que colaboram convosco na edificação de uma cultura da vida, concedo de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR JOSÉ QUADRA CHAMORRO


NOVO EMBAIXADOR DA NICARÁGUA


JUNTO DA SANTA SÉ


24 de Março de 1997



Senhor Embaixador

1. Com sumo prazer dou-lhe as minhas cordiais boas-vindas neste acto, no qual me apresenta as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Nicarágua junto da Santa Sé. Retribuo com sincero agradecimento a afectuosa saudação que o Senhor Presidente da República, Dr. Arnaldo Alemán Lacayo, me faz chegar por meio de Vossa Excelência, e peço que lhe transmita os meus melhores votos de prosperidade e bem espiritual para todos os habitantes da querida terra nicaraguense.

2. A sua presença aqui faz-me evocar, com emoção, a jornada de 7 de Fevereiro do ano passado, quando tive a ventura de poder realizar a segunda Visita pastoral a esse amado País. Naquela ocasião, em que os nicaraguenses puderam encontrar-se com o Sucessor do Apóstolo Pedro e manifestar-lhe livremente a sua adesão e afecto, pude comprovar que «se escreveram novas e importantes páginas da história nacional e mudaram muitas circunstâncias» (Discurso de chegada a Manágua, n. 1). Com efeito, é alentador observar como a transição para uma nova ordem conduz progressivamente a uma maior consolidação do Estado de direito, no qual as liberdades dos indivíduos são cada vez mais sólidas e, ao mesmo tempo, contribui para estimular a confiança dos cidadãos nas Instituições públicas para uma mais activa colaboração e participação responsável de todos no bem comum (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 44), mediante um esforço de pacificação e reconciliação, assim como de efectiva, ainda que não fácil, reinserção social dos ex-combatentes, através de programas para eles e para as zonas afectadas pelo conflito.

3. Na Nicarágua, Senhor Embaixador, o caminho para a afirmação de uma democracia estável, que assegure a promoção harmónica dos direitos humanos em favor de todos, está condicionado, como noutras áreas do continente americano, por desajustes económicos e crises sociais. Isto afecta especialmente as pessoas com escassos recursos materiais, expostas também a um forte desemprego e vítimas, muitas vezes, de corrupções administrativas e de tantas formas de violência. Não se deve esquecer que os desequilíbrios económicos contribuem, de igual modo, para a progressiva deterioração e perda dos valores morais. Entre os seus efeitos estão a desintegração familiar, o permissivismo nos costumes e o pouco respeito pela vida.

Diante disto, é urgente considerar entre os objectivos prioritários do momento presente a recuperação dos mencionados valores, mediante algumas medidas políticas e sociais que fomentem um emprego digno e estável para todos, de modo que se supere a pobreza material em que vivem muitos dos habitantes; que fortaleçam a instituição familiar e favoreçam o acesso de todas as camadas da população ao ensino. Neste sentido, é iniludível dedicar especial cuidado à educação, desenvolvendo uma autêntica política que consolide e difunda esses valores morais e do espírito, que são fundamentais numa sociedade verdadeiramente humana e que, como a sua, está enraizada além disso nos princípios cristãos. Assim se contribuirá para que o povo nicaraguense, tão rico em valores humanos e tradicionais, viva em paz, através do progresso e do conveniente desenvolvimento espiritual, cultural e material, num clima de justiça social e solidariedade. Esta, com efeito, não pode reduzir-se a um vago sentimento emotivo ou a uma palavra vazia de conteúdo real. A solidariedade exige um compromisso moral activo, uma decisão firme e constante de se dedicar ao bem comum, ou seja, ao bem de todos e de cada um, porque todos nós somos responsáveis por todos (cf. Ibid., 39-40).

4. Nas minhas duas Visitas ao seu País pude comprovar que o nobre povo nicaraguense é depositário de um rico património de fé. Este património espiritual, acumulado com as diversas expressões de religiosidade popular através dos séculos, é o que os Bispos, juntamente com o próprio presbitério e as diferentes comunidades religiosas presentes na Nicarágua, querem preservar e aumentar através da nova Evangelização. Ante o Terceiro Milénio da era cristã, toda a Igreja está comprometida em apresentar com novo ardor a salvação, que Jesus Cristo traz a todos os homens. Neste sentido, as Autoridades do seu País podem continuar a contar com a colaboração leal dos Pastores da Igreja e dos fiéis católicos, desde os campos próprios da sua actividade, para que seja mais viva em cada um a responsabilidade por tornar mais favoráveis as condições de vida para todos (cf. Gaudium et spes, GS 57), pois o serviço integral ao homem faz também parte da missão da Igreja.

5. No Istmo centro-americano, a Nicarágua coexiste com os demais Países da área, cujos vínculos de fé, língua, cultura e história são muito profundos, embora não anulem a própria identidade nacional. Neste sentido, a Igreja local, com o seu labor evangelizador, tem procurado promover a reconciliação e favorecer um processo social mais democrático,

democrático, sobretudo depois de alguns períodos que viram contraposições ideológicas e lutas fratricidas, que deixaram tristes sequelas de mortes e ódios. Diante disto, a própria Igreja quer continuar a oferecer a sua colaboração para que os valores, como a justiça e a solidariedade, estejam sempre presentes na vida das Nações dessa área.

Por isso, a Santa Sé considera de igual modo, com apreço e interesse, os esforços realizados para favorecer o processo de integração centro-americana. Num contexto de vínculos político-económicos cada vez mais fortes, torna-se mais vigorosa a necessidade de uma maior solidariedade entre os Países do Istmo, chamados a empreender uma luta comum contra a pobreza, o desemprego e outros males que põem em perigo a sua estabilidade e bem-estar. A Comunidade internacional, por seu lado, como eu tive ocasião de recordar na mencionada visita, deve ajudar oferecendo, como no passado, a sua colaboração para que, mediante eficazes programas de ajuda e intercâmbio, se criem condições mais dignas para todos (cf. Discurso de despedida da Nicarágua, 7/2/96, n. 3).

6. Antes de concluir este acto desejo formular-lhe, Senhor Embaixador, os meus melhores votos para que a missão que hoje inicia seja fecunda de frutos duradouros. Peço-lhe que se faça intérprete dos meus sentimentos e esperanças junto do Senhor Presidente e das demais Autoridades da República, enquanto invoco abundantes bênçãos do Altíssimo sobre Vossa Excelência, a sua distinta família e os seus colaboradores, assim como sobre todos os filhos da nobre Nação nicaraguense, os quais confio à constante e maternal intercessão da Virgem Maria, tão venerada com o seu título de Puríssima Conceição de Maria.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO


SOBRE «AMBIENTE E SAÚDE»


24 de Março de 1997



Ilustres Senhores e Senhoras!

1. Dirijo uma saudação cordial a todos vós, promotores, organizadores e participantes no Congresso sobre o tema: «Ambiente e Saúde», ao qual a Universidade Católica do Sagrado Coração ofereceu hospitalidade e colaboração científica. Agradeço, em particular, ao Engenheiro Sérgio Giannotti as palavras com que quis ilustrar-me esta importante iniciativa.

A ecologia, surgida como nome e como mensagem cultural há mais de um século, imediatamente impôs-se à atenção dos estudiosos, evocando um interesse interdisciplinar crescente por parte de biólogos, médicos, economistas, filósofos e políticos. Ela configura-se como estudo da relação entre os organismos vivos e o seu ambiente, em especial entre o homem e quanto o circunda. O ambiente, com efeito, animado e não animado, tem uma influência decisiva sobre a saúde do homem, argumento ao qual estais a dedicar as vossas reflexões no decurso do Congresso.

2. A relação entre homem e ambiente tem assinalado as diversas fases da civilização humana, a partir da cultura primitiva: na fase agrícola, na fase industrial e na fase tecnológica. A época moderna registrou uma capacidade crescente de intervenção transformadora por parte do homem.

O aspecto de conquista e de exploração dos recursos tornou-se predominante e invasivo, e hoje chega a ameaçar a própria capacidade acolhedora do ambiente: o ambiente como «recurso» corre o perigo de ameaçar o ambiente como «casa». Por causa dos poderosos meios de transformação, oferecidos pela civilização tecnológica, parece às vezes que o equilíbrio homem-ambiente tenha alcançado um ponto crítico.

3. Na antiguidade o homem situou-se nas relações do ambiente em que vivia, com sentimentos ambivalentes e alternantes, ora de admiração e veneração, ora de medo de um mundo aparentemente ameaçador.

A Revelação bíblica trouxe à concepção do cosmo a iluminadora e pacificante mensagem da criação, da qual resulta que as realidades mundanas são boas porque queridas por Deus por amor do homem.

Ao mesmo tempo, a antropologia bíblica considerou o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, como criatura capaz de transcender a realidade do mundo em virtude da sua espiritualidade, e por isso como guarda responsável pelo ambiente em que é posto para viver. Este é-lhe oferecido pelo Criador, quer como casa quer como recurso.

4. É bem clara a consequência que deriva dessa doutrina: a relação que o homem tem com Deus é que determina a relação do homem com os seus semelhantes e com o seu ambiente. Eis por que a cultura cristã sempre reconheceu nas criaturas, que circundam o homem, outros tantos dons de Deus que devem ser cultivados e conservados, com sentido de gratidão para com o Criador. Em particular, as espiritualidades beneditina e franciscana têm testemunhado esta espécie de parentesco do homem com o ambiente da criação, alimentando nele uma atitude de respeito para com toda a realidade do mundo circunstante.

Na época moderna secularizada assiste- se ao insurgir de uma dúplice tentação: uma concepção do saber entendido não já como sabedoria e contemplação, mas como poder sobre a natureza, que é consequentemente considerada como objecto de conquista. A outra tentação é constituída pela exploração desenfreada dos recursos, sob o impulso da busca do lucro sem limites, segundo a mentalidade própria das sociedades modernas de tipo capitalista.

O ambiente tornou-se assim, com frequência, uma presa em vantagem de alguns fortes grupos industriais e em prejuízo da humanidade no seu conjunto, com o consequente dano para os equilíbrios do ecossistema, da saúde dos habitantes e das gerações futuras.

5. Hoje, assistimos não raro ao desenvolvimento de posições opostas exasperadas: de um lado, em nome do depauperamento e da insuficiência dos recursos ambientais, reivindica-se a repressão da natalidade, especialmente em relação aos povos pobres e em vias de desenvolvimento. Doutro lado, em nome de uma concepção inspirada no egocentrismo e no biocentrismo, propõe-se eliminar a diferença ontológica e axiológica entre o homem e os outros seres vivos, considerando a biosfera como uma unidade biótica de valor indiferenciado. Chega-se assim a eliminar a superior responsabilidade do homem, em favor de uma consideração igualitária da «dignidade» de todos os seres vivos.

Mas o equilíbrio do ecossistema e a defesa da salubridade do ambiente têm necessidade precisamente da responsabilidade do homem e de uma responsabilidade que deve estar aberta às novas formas de solidariedade. É preciso uma solidariedade aberta e compreensiva para com todos os homens e todos os povos, uma solidariedade fundada sobre o respeito da vida e sobre a promoção de recursos suficientes para os mais pobres e para as gerações futuras.

A humanidade de hoje, se conseguir conjugar as novas capacidades científicas com uma forte dimensão ética, será certamente capaz de promover o ambiente como casa e como recurso, em favor do homem e de todos os homens; será capaz de eliminar os factores de poluição, de assegurar condições de higiene e de saúde adequadas, tanto para pequenos grupos como para vastos aglomerados humanos.

A tecnologia que polui pode também despoluir, a produção que acumula pode distribuir de modo equitativo, com a condição de que prevaleça a ética do respeito pela vida e a dignidade do homem, pelos direitos das gerações humanas presentes e daquelas vindouras.

6. Tudo isto tem necessidade de sólidos pontos de referência e de inspiração: a consciência clara da criação, como obra da sabedoria providente de Deus, e a consciência da dignidade e responsabilidade do homem no desígnio da criação.

É contemplando o Rosto de Deus, que o homem pode iluminar a face da terra e assegurar, com o empenho ético, a hospitalidade ambiental para o homem de hoje e de amanhã.

Já na Mensagem para o Dia da Paz de 1990, eu recordava que «o sinal mais profundo e mais grave das implicações morais, ínsitas na problemática ecológica, é constituído pela falta de respeito pela vida, como se pode verificar em muitos comportamentos inquinantes» (n. 7).

A defesa da vida e a consequente promoção da saúde, especialmente nas populações mais pobres e em vias de desenvolvimento, serão ao mesmo tempo a medida e o critério de base do horizonte ecológico a nível regional e mundial.

No vosso empenho pela conservação da salubridade do ambiente, vos ilumine e assista o Senhor. À sua bondade de Pai, rico de amor para com cada uma das Suas criaturas, confio os vossos esforços e, no Seu nome, abençoo todos vós.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO

INTERNACIONAL «UNIV»


25 de Março de 1997



Caríssimos Jovens!

1. Tenho a alegria de apresentar cordiais boas-vindas a todos vós, que viestes a Roma de mais de sessenta Países e de quatrocentas Universidades, por ocasião do tradicional encontro do Congresso internacional UNIV, que este ano chegou à trigésima edição. Desejo exprimir a minha satisfação aos organizadores do encontro e a quantos, também no passado, prodigalizaram o seu empenho a fim de oferecer momentos de aprofundamento cultural e de formação integral a estudantes e professores universitários do mundo inteiro.

A convicção de que a Universidade é um lugar privilegiado, no qual se plasma o futuro da sociedade, impele-vos a estudar com coragem temáticas decisivas para os destinos da humanidade. Vós sabeis que só o empenho pessoal, inspirado nos valores evangélicos, pode fornecer respostas adequadas aos grandes interrogativos do tempo presente. A cultura autêntica, com efeito, é antes de tudo apelo, que ressoa no profundo da consciência e obriga a pessoa a melhorar a si mesma para aperfeiçoar a sociedade. O cristão sabe que existe um nexo inseparável entre verdade, ética e responsabilidade. Por isso ele sente-se responsável diante da verdade, ao serviço da qual põe em jogo a própria liberdade pessoal.

2. O tema: «Sociedade multicultural: competitividade e cooperação», objecto do vosso Congresso, quer desmentir a tese segundo a qual, tendo caído o mito do colectivismo, não restaria senão seguir o livre mercado. Esta tese, na realidade, mostra sempre mais os seus limites, porque abre a via a uma economia «selvagem», que traz consigo graves fenómenos de marginalização e de desemprego, se não também formas de intolerância e de racismo.

É necessário empreender vias novas, inspiradas em sólidos pressupostos morais. A doutrina social da Igreja ensina que, na base da práxis política, do pensamento jurídico, dos programas económicos e das teorias sociais, é preciso pôr sempre a dignidade da pessoa, criada à imagem de Deus. O ser humano vive e desenvolve-se na interacção com os outros: na família e na sociedade. O património que lhe deriva da pertença a um grupo em virtude do nascimento, da cultura, da língua deve, por isso, tornarse factor de encontro, não de exclusão.

Isto vale ainda mais para quem tem fé! No seguimento do seu Mestre, que «não veio para ser servido, mas para servir» (Mt 20,28), o cristão faz do serviço o seu ideal, na convicção de que a sociedade de amanhã, para ser melhor, deverá apoiar-se na cultura da solidariedade. As iniciativas de voluntariado, que ilustrastes no Fórum do vosso Congresso, testemunham que esta é a vossa escolha. Centenas de obras socialmente úteis em zonas deprimidas sob o ponto de vista económico e numerosos programas de promoção social e de assistência, são outros tantos sinais de um empenho não ocasional, que tem em vista a construção de um modelo de sociedade inspirado no Evangelho.

3. Na Mensagem de preparação para o próximo Dia Mundial da Juventude, ao qual estais convidados, eu quis propor aos jovens a frase do Evangelho de João: «Mestre, onde moras? Vinde ver» (Jn 1,38-39). Entre os «lugares» em que o cristão encontra Jesus, indiquei o sofrimento humano: «Encontrareis Jesus aí onde os homens sofrem... A casa de Jesus está aí em todo o sítio onde um homem sofre pelos seus direitos negados, pelas suas esperanças traídas, pelas suas angústias ignoradas. Aí, entre os homens, está a casa de Cristo, que vos pede para enxugar, em Seu nome, cada lágrima» (Mensagem para o XII Dia Mundial da Juventude — 1997, n. 4).

Seguindo estas indicações, as iniciativas de carácter social que promoveis, confirmam que desejais construir um mundo novo, a partir da chamada de Cristo.

Com efeito, Ele é a meta final do vosso compromisso, que não se baseia na simples filantropia. Não vos contenteis com aliviar as necessidades materiais dos mais desfavorecidos: procurai levar-lhes Cristo, porque só Ele pode verdadeiramente enxugar todas as lágrimas e dar a salvação.

Que grande campo de apostolado se abre diante de vós! Quem encontrou Cristo sente-se partícipe da Sua missão redentora, Seu colaborador na salvação do homem. Ser consciente disto desperta no coração a necessidade de O conhecer melhor, para aprender a olhar o homem com os Seus mesmos olhos de misericórdia. A tudo isto vós sereis levados pela meditação da Palavra, pela oração, pelo sacramento da Reconciliação, pela Eucaristia e por outros meios privilegiados de encontro com o mistério da sua Pessoa.

4. No título do vosso Congresso aparece a palavra «competitividade». Para o cristão esta é, antes de tudo, luta interior para melhorar e crescer nas virtudes até se identificar com Cristo. Esse é o modo como cada um de vós pode tornar fecundo o serviço aos outros, como recordava o Beato Josemaria Escrivá: «Pedi-Lhe que ponha os Seus desígnios na nossa vida; não só na cabeça, mas nas entranhas do coração e em toda a nossa actividade externa» (Amigos de Deus, 249), porque a salvação da humanidade passa através do combate de cada um para ser santo.

Caros jovens de língua inglesa, confiai- vos cada vez mais plenamente ao Senhor. Fazei d’Ele o centro das vossas vidas e a inspiração do vosso apostolado. Dirigi-vos a outros jovens como vós, a fim de os empenhar na grande tarefa de construir uma sociedade mais verdadeira, justa e genuinamente livre. A Bem-aventurada Virgem Maria, que esteve aos pés da Cruz de Jesus, vos sustente em tudo o que fazeis pela Igreja e pelo mundo.

Queridos jovens de língua francesa, convido-vos para o XII Dia Mundial dos Jovens, em Paris: encontrareis lá jovens de múltiplas culturas, mas todos unidos para progredir na vida, no seguimento de Cristo, morto e ressuscitado para a salvação do mundo. Deus vos abençoe!

Saúdo todos os jovens de língua portuguesa! Neste ano em preparação para o Jubileu do Ano 2000, o Papa pede-vos que vivais em «coerência com a vossa fé, testemunhando com solicitude a vossa palavra para que, na família e na sociedade, resplandeça a luz vivificante do Evangelho». Deus vos abençoe!

5. Caros jovens, obrigado pela vossa presença, obrigado pelo vosso empenho! Levai ao mundo a alegria que nasce do estar em comunhão com Cristo. Sede testemunhas da novidade do Evangelho, para colaborar generosamente na construção da civilização do amor.

Com estes votos, que vos apresento na perspectiva da Páscoa iminente, confio- vos à protecção materna de Maria e concedo-vos com afecto a minha Bênção.



DISCURSO DO SANTO PADRE NO FIM DA «VIA-SACRA»


"Christus factus est pro nobis oboediens usque ad mortem - mortem autem crucis" (Ph 2,8).

1. "Por nossa causa, Cristo fez-se obediente até a morte, e morte de cruz" (cf. Fil Ph 2,8-9). Estas palavras de São Paulo resumem a mensagem que a Sexta-feira Santa nos quer comunicar. Neste dia, a Igreja não celebra a Eucaristia, como se quisesse sublinhar que, no dia em que se consumou o Sacrifício cruento de Cristo na cruz, não é possível torná-lo presente de modo incruento no Sacramento.

Hoje, a Liturgia Eucarística é substituída pelo sugestivo rito da adoração da Cruz, que, há pouco, presidi na Basílica de São Pedro. Quem nele participou, conserva ainda vivos no coração os sentimentos despertados pela escuta dos textos litúrgicos relativos à Paixão do Senhor.

Como não ficar impressionados com a pungente descrição, feita por Isaías, do "homem das dores", desprezado e rejeitado pelos homens, que carregou sobre si o peso do nosso sofrimento, e foi ferido por Deus por causa dos nossos pecados (cf. Is Is 53,3 ss)?

E como permanecer insensíveis diante do "grande clamor e das lágrimas" de Cristo, evocados pelo autor da Carta aos Hebreus (cf. Hb He 5,7)?

2. Faz pouco, seguindo as estações da Via-Sacra, contemplamos as etapas dramáticas da Paixão: Cristo que carrega a Cruz, que cai sob o seu peso e agoniza sobre ela, que no derradeiro momento da agonia, reza: "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito" (Lc 23,46), para exprimir o Seu abandono total e confiado.

Hoje, é sobre a Cruz que se concentra mais vivamente a nossa atenção. Meditamos sobre o mistério da Cruz, que se perpetua pelos séculos no sacrifício de tantos crentes, de tantos homens e mulheres associados pelo martírio à morte de Jesus. Contemplamos o mistério da agonia e da morte do Senhor, que continua, ainda em nossos dias, na dor e no sofrimento de indivíduos e povos duramente provados pela violência e pela guerra.

Sempre que o homem é ferido e morto, é o Cristo mesmo que fica ofendido e crucificado. Mistério de dor, mistério de amor infinito!

Permaneçamos em silencioso recolhimento diante deste mistério insondável.

3. "Ecce lignum crucis...", "Eis o madeiro da Cruz, no qual esteve suspenso Cristo, o Salvador do mundo. Vinde, adoremos!"

Esta noite, a Cruz brilha com uma força extraordinária, no termo da Via-Sacra aqui no Coliseu . Este lugar da antiga Roma está ligado, na memória popular, ao martírio dos primeiros cristãos. É, por isso, lugar particularmente apropriado para reviver, ano após ano, a paixão e a morte de Cristo. "Ecce lignum Crucis"! Quantos irmãos e irmãs na fé se tornaram participantes da Cruz de Cristo, no período das perseguições romanas!

O texto das meditações, que nos guiaram ao longo desta Via-Sacra, foi preparado pelo venerado irmão Karekin I Sarkissian, Patriarca Catholicos supremo de todos os Arménios. Agradeço-lhe cordialmente e, mais uma vez grato pela visita que me quis fazer recentemente, saúdo-o juntamente com todos os cristãos da Arménia. Desta minha saudação peço que se faça portador, ao mesmo tempo que nela o incluo também, o Arcebispo Nerses Bozabalian, que participou connosco nesta Via-Sacra, como representante do Catholicos da Arménia. Muitos irmãos e irmãs desta Igreja e desta nação participaram, com o sacrifício da sua vida, na Cruz de Cristo! Hoje, em união com eles e com todos aqueles que, nos vários ângulos da terra, em cada continente e nos diversos países do globo, participam com o seu sofrimento e com a morte, da Cruz de Cristo, desejamos repetir: "Ecce lignum crucis...", "Eis o madeiro da Cruz, no qual esteve suspenso Cristo, o Salvador do mundo. Vinde, adoremos!"

4. Quando as trevas da noite já desceram sobre nós, significativa imagem do mistério que envolve a nossa existência, bradamos a nossa fé em Ti, Cruz da nossa salvação!

Senhor, um feixe de luz se desprende da vossa Cruz. Na vossa morte, é vencida a nossa morte e é-nos oferecida a esperança da ressurreição. Abraçados à vossa Cruz; permanecemos em confiante expectativa do vosso regresso, Senhor Jesus, nosso Redentor!

"Anunciamos, Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus".

Amen!

Sexta-Feira, 28 de março de 1997



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO INSPECTORADO DE SEGURANÇA PÚBLICA


JUNTO DO VATICANO


29 de Março de 1997



Senhor Inspector-Geral
Senhores Funcionários e Agentes
do Inspectorado de Segurança Pública
junto do Vaticano,
da Polícia Rodoviária
e da Polícia de Roma!

1. Bem-vindos a este encontro tradicional, que me oferece a ocasião para vos manifestar gratidão pelo serviço que prestais à minha pessoa e à Sé Apostólica.

Exprimo, em particular, o meu reconhecimento ao Doutor Enrico Marinelli pelas amáveis expressões de bons votos, que quis dirigir-me em vosso nome. Com ele saúdo cada um de vós, agradecendo-vos os dons que quisestes oferecer-me e formulando vivíssimos votos de uma Páscoa iluminada pela fé e tornada alegre pelos afectos e pelos valores mais belos e mais verdadeiros.

2. Este Inspectorado de Segurança Pública e as Forças de Polícia a ele ligadas oferecem uma preciosa colaboração ao ministério pastoral do Bispo de Roma. Estou-vos grato pela vossa presença vigilante e pela assistência que prestais durante a celebração dos ritos litúrgicos e as numerosas manifestações, que interessam à Basílica de São Pedro e à inteira Cidade do Vaticano.


Discursos João Paulo II 1997 - 22 de Março de 1997