Discursos João Paulo II 1997 - 29 de Março de 1997

O Papa e os seus Colaboradores, além disso, sabem que podem contar com a vossa cooperação no decorrer das visitas pastorais às Paróquias e às Instituições civis e eclesiásticas da Urbe, assim como por ocasião das viagens apostólicas na Itália.

Graças à vossa discreta e eficaz obra de vigilância, os peregrinos, que de todas as partes do mundo vêm visitar o túmulo do apóstolo Pedro, têm a possibilidade de viver em tranquilidade esta importante experiência de fé.

Vós desenvolveis a vossa tarefa quotidiana, alimentando-vos dos ideais civis e humanos, próprios dos membros da Polícia do Estado Italiano. Todavia, o contacto com eventos de notável alcance religioso e cultural e com sacerdotes, religiosos e leigos que colaboram na missão universal do Romano Pontífice, certamente oferece ao vosso trabalho ulteriores motivos de empenho e de dedicação.

A condição especial em que vos encontrais a trabalhar permite-vos, com efeito, revigorar a vossa dedicação profissional, haurindo linfa e vigor da perene verdade do Evangelho. Testemunhando assim na vossa actividade, os valores humanos e espirituais próprios do Cristianismo, podeis oferecer um contributo à missão universal da Igreja.

3. Sede do Sucessor de Pedro, o Vaticano é meta não só de crentes de todas as raças e culturas, mas também de Representantes das diversas Religiões, de Responsáveis dos Estados e de altas Personalidades eclesiásticas e civis, que vêm encontrar-se com o Sumo Pontífice, ou com os Seus colaboradores nos vários Dicastérios da Santa Sé.

A vossa dedicação faz com que estas ocasiões de diálogo e a visita aos preciosos testemunhos de cultura e de fé, conservados na Cidade do Vaticano, ocorram num clima de serenidade e de ordem. Este vosso serviço tornar-se-á cada vez mais importante nos próximos anos, em vista do evento histórico que marcará o início do terceiro Milénio. A vossa competência e os projectos que tendes em mente promover, para tornar mais funcional a vossa actividade, constituem um inegável apoio para a solução dos numerosos problemas organizativos, que comportará a celebração do Grande Jubileu.

4. Ao renovar o apreço sincero pela vossa cooperação, confio cada um de vós e as vossas respectivas famílias à protecção da Mãe de Deus. Ela vos sustente e acolha as vossas intenções, apresentando-as ao seu divino Filho.

Dirijo um particular pensamento aos vossos colegas e aos familiares provados pelo sofrimento, bem como aos vossos filhos, pelos quais elevo ao Senhor uma oração afectuosa. Com estes sentimentos concedo uma especial Bênção Apostólica a cada um de vós e a quantos vos são caros.

                                                                        

                                                                            Abril 1997

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO FINAL DA RECITAÇÃO DO ROSÁRIO


5 de Abril de 1997





Ao concluir este momento de oração, agradeço a todos vós que nele participastes, fazendo extensivo o meu pensamento a quantos se uniram a nós, mediante a rádio e a televisão.

Estamos na oitava da Páscoa, e neste clima de alegria meditámos com Maria Santíssima os mistérios da glória de Cristo e da glorificação de Nossa Senhora, Sua e nossa Mãe. Oxalá a luz do Ressuscitado se irradie nos corações de todos os homens e difunda neles a paz, que só Ele pode dar.

Se Deus quiser, dentro de uma semana encontrar-meei em Sarajevo, para o encontro tão desejado com a população daquela cidade, que se tornou como que símbolo deste nosso século, marcado por conflitos dramáticos e aberto a perspectivas de renovada esperança. Estou certo de que me acompanhareis com a vossa oração e, desde agora, estou-vos grato por isto.

A Virgem Santa obtenha para todos os dons pascais do amor, da alegria e da paz.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS FRANCESES DA REGIÃO APOSTÓLICA


DE «ILLE-DE FRANCE» EM VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


5 de Abril de 1997



Senhor Cardeal
Caros Irmãos no Episcopado

1. Sede bem-vindos, Pastores da Ilha de França. Neste tempo de Páscoa, é-me grato acolher-vos durante a vossa peregrinação ad limina Apostolorum. A vossa visita manifesta a nossa comunhão em Cristo, para servirmos a Igreja fundada sobre as colunas que são os Apóstolos, a Igreja que procura todos os dias ser cada vez mais fiel à missão confiada ao Colégio dos Apóstolos, sob a guia de Pedro.

Os meus agradecimentos dirigem-se em primeiro lugar ao Cardeal Jean-Marie Lustiger, Arcebispo de Paris, pela apresentação da vossa Região apostólica. Quereria saudar D. Olivier de Berranger, que sucede em Saint-Denis, ao saudoso D. Guy Deroubaix, e assegurar-lhe a minha oração pelo seu novo ministério pastoral. Acolho também com prazer, ao mesmo tempo que os Bispos residenciais da Ilha de França, D. Michel Dubost, Bispo Castrense da França e responsável pela preparação do Dia Mundial dos Jovens.

Há mais de trinta anos as antigas dioceses de Paris, de Versalhes e de Meaux foram remodeladas, com a criação de cinco novas dioceses que já assumiram a sua fisionomia própria. Isto não impede uma colaboração orgânica entre vós a diversos níveis, tanto mais oportuna para o dinamismo das comunidades cristãs, uma vez que os recursos dos diferentes sectores são de facto bastante desiguais, sobretudo no que concerne aos agentes pastorais. À semelhança de outras grandes metrópoles do mundo, sois levados à coordenação mais harmoniosa possível da vida eclesial, particularmente exigida para uma população em deslocamentos frequentes dum lugar para o outro do território. Dou-me conta da amplitude das vossas tarefas nesta importante região activa e contrastada, onde se manifestam não só os contributos positivos mas também as dificuldades da sociedade actual.

2. Na perspectiva do grande Jubileu da Redenção, acontecimento para toda a Igreja, quereria hoje pôr em relevo alguns aspectos que marcarão o vosso ministério, fazendo eco das diversas orientações propostas na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente. O primeiro dos três anos preparatórios está em curso. Em Paris e nas outras dioceses da região, o seu ponto culminante será o Dia Mundial dos Jovens, por cujo acolhimento e preparação com entusiasmo vos estou grato. Transmiti a minha gratidão aos sacerdotes, aos religiosos e às religiosas, aos leigos e de modo muito especial aos jovens de todo o vosso país, que se prodigalizam indefessamente pelo bom desenvolvimento deste encontro mundial da juventude; conheço os esforços que eles fazem actualmente para o bom êxito deste forte tempo espiritual. Manifestai-lhes a confiança do Papa, que se alegra por ir a Paris a fim de encorajar aqueles que são chamados a construir a Igreja do próximo milénio.

Esse encontro, como eu disse na Mensagem aos jovens do mundo, por ocasião do XII Dia Mundial, formará «um ícone vivo da Igreja». Sob o sinal da Cruz do Ano Santo, que será recebida pelos jovens das dioceses de toda a França, os olhares hão-de convergir para Cristo. Em resposta aos interrogativos de tantos jovens que, à sua maneira, retomam a pergunta feita pelos dois primeiros discípulos — «Mestre, onde moras? » (Jn 1,38) —, o Senhor renovará intensamente o Seu convite a segui-l’O e a vê-l’O, a permanecer com Ele e a descobri- l'O sempre melhor no Seu Corpo, que é a Igreja. Nesta marcha com Cristo, os jovens verão que só Ele pode satisfazer as suas aspirações e dar-lhes a felicidade verdadeira.

Mediante a organização do Dia Mundial, permitireis aos pastores e aos fiéis da Ilha de França e de todo o vosso país, fazer a experiência viva da comunhão da Igreja, através dos seus membros das gerações mais jovens. De facto, um dos apelos do grande Jubileu para o qual nos preparamos, é justamente o apelo ao diálogo entre os fiéis das diferentes nações, das diferentes espiritualidades e culturas. Neste mundo em que se desenvolvem tantas comunicações, não é porventura necessário que os membros da Igreja universal se conheçam melhor e progridam na coesão, pois «todos os membros do corpo, embora sejam muitos, não constituem um só corpo»? E São Paulo acrescenta: «Assim também Cristo» (1Co 12,12). E nós sabemos que o Apóstolo das nações apoia na diversidade a sua exortação à unidade, mediante a exaltação da caridade, o maior dom de Deus (cf. 1Co 13,13).

3. O Jubileu «pretende ser uma grande oração de louvor e agradecimento sobretudo pelo dom da Encarnação do Filho de Deus e da Redenção por Ele operada» (Tertio millennio adveniente, TMA 32). E o primeiro ano preparatório, centralizado em Jesus Cristo, convida a revigorar a fé no Redentor (cf. ibid., 42). Eis uma ocasião providencial para convidar os fiéis a contemplarem o rosto de Cristo e a redescobrirem os sacramentos e as vias da oração. Interiorizar os vínculos pessoais com Cristo é uma condição necessária para acolher a proposta de vida, que comporta o Evangelho e deve ser apresentada pela Igreja. Trata-se de, dia após dia, tomar consciência mais viva dos dons da graça que comporta o baptismo, de acolher no mais íntimo do ser a presença de Cristo, que santifica aqueles que foram «sepultados com Ele pelo baptismo» (Rm 6,4), a fim de entrarem numa vida nova.

Nas orientações traçadas para preparar o grande Jubileu, indiquei o baptismo como o primeiro dos sacramentos a ser redescoberto, pois ele é o «fundamento da existência cristã» (Tertio millennio adveniente, TMA 41). Constitui então uma felicidade o facto de jovens receberem o baptismo durante o Dia Mundial. Eles representarão, de algum modo, os seus irmãos e irmãs que, no mundo inteiro, seguem o catecumenato dos adultos, graças ao apoio das paróquias, das capelanias e dos movimentos de juventude. A sua presença e o seu testemunho incitarão o grande número daqueles que entraram na Igreja desde a sua infância, a valorizar melhor os dons recebidos e a sua condição de cristãos.

4. Não poupeis os vossos esforços para que o acolhimento da Palavra de Deus seja constantemente renovado: é preciso que os fiéis penetrem melhor a Escritura, que se tornem familiares a ela e se apropriem da sua mensagem na lectio divina. Neste sentido, as iniciativas tomadas, a diversos níveis, para superar uma leitura da Bíblia muito fragmentária ou demasiadamente superficial, devem ser encorajadas. Elas permitem aos baptizados entrar, de maneira reflectida e meditada, na Tradição da Igreja que nos dá a Palavra e nos faz conhecer a figura de Cristo.

No vosso ministério de ensino, velai por que a Pessoa de Cristo seja conhecida em toda a riqueza do Seu mistério: o Filho consubstancial ao Pai, que Se fez homem para salvar a humanidade, reconciliá- la com Deus (cf. 2Co 5,20) e congregá-la (cf. Jo Jn 11,52). Como noutras épocas, a figura de Cristo é o objecto de apresentações redutivas, traçadas em função de correntes e de tendências que não têm em consideração senão uma parte da Revelação autêntica, recebida e transmitida pela Igreja. Por vezes, a divindade do Verbo encarnado é desconhecida, e isto caminha a par e passo com o fechamento do homem em si mesmo; noutros casos, a própria realidade da Encarnação, da entrada do Filho de Deus na condição humana histórica, é subestimada, o que leva a desequilibrar a cristologia e o sentido mesmo da Redenção.

Este apelo em grandes traços leva a ressaltar a importância da catequese, como o fiz na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente (cf. n. TMA 42). Desejaria encorajar de novo todos aqueles que estão empenhados, com uma generosa disponibilidade, na concepção e na animação da catequese das crianças, dos jovens e também dos adultos. De modo mais geral, é toda uma pastoral da inteligência, da cultura iluminada pela fé, que é indispensável desenvolver. Os vossos relatórios contam com múltiplas organizações de formação, como a Escola catedral em Paris ou os diferentes centros diocesanos activos nos mesmos sectores. A aproximação do grande Jubileu deveria intensificar estes esforços, para que muitos dos baptizados estejam prontos a testemunhar a riqueza do mistério cristão. É aliás neste espírito que é proposto aos participantes no Dia Mundial da Juventude que sigam uma catequese confiada a Bispos dos cinco continentes. Isto dar-lhes-á o gosto de prosseguirem ulteriormente a sua pesquisa nas próprias dioceses, a fim de adquirirem uma formação espiritual de acordo com as questões suscitadas pelos seus conhecimentos científicos e técnicos (cf. Vaticano II, Gaudium et spes GS 14-16).

5. O Evangelho não terá toda a sua força de experiência vivida, se a Igreja não for vivificada pelo Espírito Santo, e é por isso que Ele está no centro dos temas propostos para o segundo ano preparatório do Ano 2000. O Espírito da verdade, que procede do Pai, dá testemunho de Cristo; e o quarto Evangelho imediatamente acrescenta: «Mas também vós deveis dar testemunho» (cf. Jo Jn 15,26-27). Tanto aos jovens como ao conjunto dos fiéis, convém que assumam a missão universal confiada por Cristo aos Seus discípulos: missão árdua, sob o aspecto humano, mas possível graças aos dons do Espírito difundido em todo o corpo eclesial solidário. Evocais de bom grado o facto que os jovens, no momento de pedir o sacramento da Confirmação, demonstram um real empenho na fé e na missão da Igreja. Possam eles receber, dos seus pastores e das suas comunidades, os apoios necessários para fazer frutificar os dons recebidos e perseverar na sua resolução! O Dia Mundial, de igual modo como a preparação para o Jubileu, poderão ser verdadeiras pedras miliárias no caminho dos jovens que se substituem na missão eclesial.

6. O Jubileu será um tempo privilegiado de conversão. Devemos fazer com que cada vez mais os nossos irmãos e irmãs cristãos, assim como todos os nossos contemporâneos, compreendam que a mensagem cristã é uma Boa Nova de libertação do pecado e do mal, ao mesmo tempo que um apelo forte a retornar à escolha do bem. É preciso dar graças pelo amor misericordioso do Pai, sempre pronto ao perdão. Parece que, no espírito de muitos, o caminho da penitência é muitas vezes mal compreendido, porque se isola de algum modo da dúplice e inseparável lei positiva do amor a Deus e ao próximo, e igualmente porque depende muito do esforço humano para progredir e porque, aliás, nem sempre se está disposto a reconhecer o alcance real da própria responsabilidade nos actos praticados. A verdadeira conversão é dom gratuito de Deus, acolhido na alegria e na acção de graças, e com a decisão de conformar a sua existência à condição de filhos de Deus, a qual nos foi adquirida pelo Redentor. Se o sentido cristão da penitência fosse compreendido melhor, o sacramento da reconciliação não conheceria a desafeição que constatamos, e os nossos contemporâneos afirmar-se-iam na esperança.

A redescoberta do amor benevolente de Deus, no mais íntimo da consciência, assumirá todo o seu sentido se o Jubileu for também o tempo do amor aos pobres e dos mais desfavorecidos, de um profundo renovamento dos laços sociais. O sentido tradicional do ano jubilar comporta como que uma retomada das relações entre as pessoas na sociedade inteira; será preciso fazer com que todos compreendam que esta etapa na nossa história é uma ocasião privilegiada de reconciliação e nos volta para um futuro mais convival. A memória comum deve ser esclarecida e purificada, isto é, reconhecendo as debilidades e as faltas de uns e dos outros com lucidez, libertados de antigos gérmens de divisão ou até de rancores, poderemos responder melhor aos desafios do nosso tempo. Pois, no mundo actual, muito deve ser feito para construir a paz, para promover a partilha dos bens da criação, para assegurar o respeito pela vida e pela dignidade da pessoa! Estes desafios deverão ser apresentados com clareza, ao aproximar-se o novo milénio.

7. Pastores e fiéis, animados pelo amor à humanidade, devem decifrar as expectativas do mundo deste tempo, com as suas dúvidas e os seus sofrimentos. Não se pode anunciar a Boa Nova sem compreender as profundas necessidades das pessoas, sem reagir às rupturas que afligem a sociedade. Numa palavra, diante de uma civilização em crise, que a secularização afasta das suas raízes espirituais, é preciso responder com a edificação da civilização do amor (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 52). Temos o dever de propor especialmente este objectivo aos jovens que assumem o seu lugar na Igreja e na sociedade; confirmados na esperança, eles estarão prontos a caminhar com Cristo ao lado do homem de hoje, fazendo com que a Sua presença seja conhecida mediante o seu próprio testemunho.

Estas intenções essenciais supõem que o diálogo permaneça aberto às diversas correntes da sociedade. Nos intercâmbios sinceros, para além das polémicas, poder-se-ão discernir os sinais de esperança da época. E para que estes intercâmbios produzam todos os seus frutos, convém preparar os cristãos para os realizar de maneira esclarecida, ao mesmo tempo firmes na sua fé e animados de simpatia mútua para com aqueles que não a partilham ou a contestam. Deverão oferecer as explicações necessárias diante das apresentações redutivas do cristianismo, facto que se constata com frequência. Terão o cuidado constante de exprimir de maneira positiva o sentido cristão do homem na criação, a mensagem da esperança, as exigências morais que derivam da fé; e farão penetrar o espírito evangélico na ordem temporal (cf. Vaticano II, Apostolicam actuositatem, AA 5). Pastores e leigos devem prosseguir os seus esforços por ir ao fundo dos problemas, em diálogo com as pessoas, e também com a opinião sobre a qual os mass media influem. Nesta ordem de ideias, a carta dos Bispos aos católicos da França, Propor a fé na sociedade actual, será uma guia particularmente útil.

8. Como eu já disse no ano passado ao Comité que prepara o grande Jubileu, «o renovamento apostólico que a Igreja quer realizar em vista do Jubileu passa através da redescoberta autêntica do Concílio Vaticano II» (4/6/1996, n. 5), na fidelidade e abertura, numa atitude constante de escuta e de discernimento em relação aos sinais dos tempos. Pois o Concílio ofereceu um «contributo significativo à preparação daquela nova primavera de vida cristã, que deverá ser revelada pelo Grande Jubileu» (Tertio millennio adveniente, TMA 18). Ele deu-nos o exemplo duma atitude humilde e lúcida. Manifestou também a grandiosidade da herança que recebemos e que a Igreja nos transmite, sobretudo graças ao exemplo de tantos santos e mártires que marcam o ritmo da nossa história até à época em que vivemos.

Estamos no tempo do diálogo ecuménico fraterno com os cristãos que aspiram à plena unidade. O desejo de dar de novo passos determinantes no caminho da unidade torna-se legitimamente mais forte; será um bonito fruto do Jubileu o facto de interessar o conjunto dos fiéis no movimento ecuménico. Inspirai e desenvolvei o que já se faz na vossa terra neste sentido. O diálogo com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais não pode dar verdadeiro resultado se os fiéis não partilham este diálogo nas dioceses, nas paróquias e nos movimentos.

O Concílio tinha também aberto os caminhos do diálogo inter-religioso, com os crentes de outras tradições espirituais: no respeito mútuo e no reconhecimento do que cada um tem de verdadeiro e de bom, sem confusões prematuras e numa busca exigente da verdade, as relações interpessoais confiantes permitirão progredir rumo à harmonia da família humana querida por Deus.

9. Caros Irmãos no Episcopado, no limiar do terceiro milénio, conduzi o povo de Deus na sua peregrinação pelo mundo, no seguimento de Cristo que leva para o Pai, mediante o Seu Espírito. Honraremos de modo muito especial o sacramento da Eucaristia, memorial autêntico do Sacrifício redentor e presença real de Cristo na Igreja até ao fim dos tempos. Oxalá o vosso ministério de administradores dos mistérios de Deus envolva os vossos diocesanos na celebração do Jubileu como um grande hino de louvor à Santíssima Trindade, que chama o mundo a deixar-se penetrar pelo Seu amor!

Ao longo do caminho, Maria acompanha a Igreja, Ela que é para todos modelo de fé vivida, de escuta do Espírito na esperança, de amor perfeito a Deus e ao próximo. «A sua maternidade, iniciada em Nazaré e sumamente vivida em Jerusalém ao pé da Cruz, será sentida [...] como convite a todos os filhos de Deus, para que regressem à casa do Pai, escutando a sua voz materna: “Fazei aquilo que Cristo vos disser” (cf. Jo Jn 2,5)» (Tertio millennio adveniente, TMA 54).

À espera do nosso grande encontro de Paris no mês de Agosto, para a Jornada Mundial da Juventude, confio ao Senhor, a Nossa Senhora e aos Santos padroeiros das vossas dioceses o vosso ministério e as vossas comunidades. De todo o coração, dou-vos a Bênção Apostólica, a vós e a todos os vossos diocesanos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA BIELO-RÚSSIA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


7 de Abril de 2004





Venerado Senhor Cardeal
Caríssimo Senhor Bispo de Grodno

1. «A paz seja convosco» (Mt 28,9). Ao encontrar-vos, faço minha, com alegria, a saudação de Cristo ressuscitado. Dirijo-a, por meio de vós, às Comunidades eclesiais do vosso amado País, que estão a viver uma providencial época primaveril, depois do inverno da perseguição violenta que se prolongou durante longos decénios, exprimindo-se na ateização sistemática das populações e, de modo especial, dos jovens, na destruição quase total das estruturas eclesiásticas, bem como no fechamento forçado dos lugares de formação cristã.

Diante do presente renascimento espiritual, como não dar graças, antes de tudo ao Senhor, que abriu para vós as portas da liberdade de culto, embora ainda relativa, e moveu os corações a fim de permitir a entrada no vosso País de jovens forças sacerdotais e religiosas, juntamente com a construção ou a restauração de numerosas igrejas e capelas? Isto foi realizado, também graças à ajuda solidária de numerosos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo, para os quais se dirige o meu grato pensamento. A Deus, Pai de bondade, que finalmente escutou o brado do seu povo oprimido, e a não poucos homens e mulheres de boa vontade, que se fizeram instrumentos da Sua solicitude, dirige-se portanto o nosso cordial agradecimento pelo progressivo reconstruir-se na Bielo-Rússia, embora entre dificuldades gravíssimas, do tecido comunitário eclesial.

2. Esta obra de reconstrução «física» e espiritual da vossa Pátria foi seguida, há três anos, pelo reconhecimento estatal da personalidade jurídica da Arquidiocese de Minsk-Mohilev e da diocese de Pinsk, enquanto, aos poucos, se tornaram visíveis os vínculos com a Sé Apostólica, com a nomeação e a presença «in loco» de um Representante Pontifício, sinal da minha particular solicitude e do meu amor pela vossa Igreja local e pela Bielo-Rússia inteira.

Estou confiante em que no caminho empreendido se continuará a proceder, de acordo com quanto foi estabelecido e prometido nos acordos bilaterais, nos reconhecimentos jurídicos e nos regulamentos administrativos, em favor quer de quantos, não cidadãos bielo-russos, prestam actualmente a sua generosa obra apostólica no País, quer de Institutos de religiosos e de religiosas que desejam abrir casas no território.

A Igreja católica quer ser, também na Bielo-Rússia, um sinal de esperança para quantos despendem as suas energias, em vista de um melhor futuro de paz e de reconciliação para todos. O esforço de estruturação pastoral da diocese de Grodno e o empenho do Sínodo diocesano de Minsk-Mohilev e de Pinsk merecem encorajamento e apoio.

3. Venerados Irmãos no Episcopado, contemplando o vosso fervor e o dos sacerdotes, dos religiosos, das religiosas e dos leigos, não se pode deixar de olhar com responsável confiança para o futuro. Sustente-vos a consciência do amor de Deus, que conduz as sortes dos homens e tem nas Suas mãos os destinos da história. Guie-vos a Virgem Maria, venerada e amada pelo vosso povo, especialmente no santuário de Budslav.

É com a alma confortada por estas certezas que quereria deter-me agora a considerar, juntamente convosco, algumas graves questões sociais e religiosas, que nos vossos relatórios quinquenais, em ordem a esta Visita «ad limina Apostolorum» quisestes submeter ao Bispo de Roma.

Preocupa-vos a situação cultural, social, económica e política do vosso País, que parece difícil e instável; além disso, angustia-vos o empobrecimento progressivo de amplos estratos da sociedade, o que faz nascer em alguns perigosas nostalgias do passado.

A estes problemas vós prestais constante atenção, prontos a oferecer todo o contributo útil para a sua solução. Os vossos cuidados dirigem-se, todavia, especialmente às «emergências» religiosas, bem evidenciadas nos colóquios destes dias. Antes de tudo, tendes em grande consideração o cuidado e a formação dos sacerdotes, que animam os leigos e as comunidades cristãs no seu despertar espiritual. A eles dirige-se o meu pensamento reconhecido, porque o seu ministério é particularmente duro e disto estou bem consciente.

Depois de tantos anos de abandono, o ambiente em que trabalham é, de facto, muitas vezes hostil, e o campo a lavrar está repleto de abrolhos e de silvas. Os fiéis estão em geral dispersos em zonas muito vastas e ainda têm medo. A solidão dos sacerdotes é por vezes difícil de ser suportada, dado que não raro, por exigências pastorais, vivem distantes uns dos outros. Há também entre eles escassa homogeneidade de origem, de formação, de experiência de vida e de mentalidade.

Bem consciente destas vossas dificuldades, caríssimos sacerdotes, dirijo-me a vós com afecto, abraço-vos e repito-vos o encorajamento que dirigi, no início do meu Pontificado romano, à Igreja inteira: «Não tenhais medo!», «Abri as portas a Cristo» (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. I, pág. 38). O Senhor Jesus venceu o mundo (cf. Jo Jn 16,33) e com Ele já sois vitoriosos.

Amados Irmãos no Episcopado, não é necessário recomendar que ameis os vossos sacerdotes, os sustenteis com a oração e a proximidade, com a palavra e também com a ajuda material, porque já o fazeis com generosa dedicação. Não me resta senão exortar-vos a perseverar. Continuai na boa tradição das reuniões mensais do Clero. O encontro do Bispo com os sacerdotes é sempre uma providencial ocasião de fraternidade e de crescimento espiritual. Continuai a seguir os presbíteros no empenho ascético pessoal e na sua formação permanente, inspirando-vos nas indicações do Concílio Vaticano II para a necessária actualização. Nenhuma dificuldade vos desanime nem detenha o vosso entusiasmo apostólico.

4. A propósito de formação, penso não só naquela permanente, destinada aos presbíteros, mas também na preparação dos candidatos ao sacerdócio. Não é este porventura o problema mais urgente? Individualizar os chamados, cultivar a sua vocação, seguir o seu caminho formativo é empenho de que depende o futuro da Igreja no País. É necessário preparar sacerdotes que gradualmente assumam o lugar de quem veio de outras regiões e está a prodigalizar- se nestes anos com tanta generosidade entre vós. Esforço análogo deverá ser feito em prol do Seminário Interdiocesano de Grodno, agora renovado, que poderá assim ser guiado, pouco a pouco, por Superiores e Professores originários do País. Certamente não é fácil, no momento actual, a formação dos sacerdotes chamados a ser «homines Dei et hominum », quando ainda se sentem fortemente as consequências do «homo sovieticus », plasmado durante decénios de regime ateísta. Quanto a isto, não vos desencorajeis. Contai antes com a graça saneadora de Cristo, com a generosidade que desabrocha de uma vocação de amor total e oblativo e com a obra espiritual e pluridisciplinar dos educadores.

«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos» (Mt 9,37), recorda-nos Jesus no Evangelho. À espera dos frutos do actual empenho formativo, olhai ao redor e batei com insistência à obter sacerdotes, religiosos e religiosas de proveniência diversificada, considerando também a atitude do Governo a respeito disto.

No campo, depois, da vida religiosa, seja vossa luz para o caminho e consolo nas dificuldades a Exortação Apostólica Vita consecrata, que manifesta de maneira muito precisa a estima da Igreja pela vida consagrada, por aquilo que ela é em si e pelo sentido eclesial que deve possuir quem segue Cristo mais de perto.

5. Outro aspecto do trabalho pastoral, que quereria pôr em evidência, é o apostolado em relação à «intelligentzia», isto é, de quem actua nos diversos campos da cultura. É empenho a não ser descuidado, embora eu saiba que a prioridade, por vós mesmos estabelecida, é o cuidado da juventude e da família. Com efeito, tudo parece ser prioritário se se considera, por um lado, o colapso ético da sociedade e, por outro, a mentalidade «soviética» ainda presente no homem comum.

É preciso programar uma acção de nova evangelização, corajosa e adaptada às mudadas situações históricas e sociais do momento presente. Dedicai-vos a esta acção evangelizadora sem cessar, tendo em conta especialmente a grande data histórica do Jubileu do Ano 2000.

A nova evangelização não pode prescindir de uma corajosa acção de promoção humana, contanto que esta seja orientada para o serviço de todo o homem e do homem todo. A respeito disso, pode oferecer um contributo significativo a actividade realizada pela «Cáritas ». Enquanto me alegro convosco por ela ter surgido, pelo menos como estrutura central, nas três dioceses bielo-russas, faço votos por que se possa desenvolver em organizações e obras, servindo- se sobretudo da ajuda de leigos honestos e fervorosos, competentes e sensíveis às necessidades dos pequeninos, dos doentes, dos pobres, dos idosos e de quem procura uma preparação adequada à vida.

6. Não posso concluir este encontro sem recordar que na Bielo-Rússia o diálogo com os nossos irmãos e irmãs ortodoxos não poderá deixar de ser facilitado, porque inclusive os católicos podem dizer com eles: «Também nós somos daqui! ». É evidente que a presença e o apostolado da Igreja não são de «proselitismo », nem «missionários», na conotação negativa que por vezes é data a este termo em ambiente ortodoxo. Os sacerdotes estão presentes como Pastores do rebanho, para responder às exigências de assistência espiritual à qual cada crente tem direito.

Procurai, então, por vossa parte, entretecer sobretudo o diálogo da caridade, com quantos têm outras religiões ou não têm nenhuma. Cuidai em primeiro lugar de estabelecer relações fraternas com aqueles aos quais nos ligam, embora numa comunhão ainda não perfeita, os valores do Evangelho, as Bem-aventuranças, o Pai Nosso, a piedade mariana, os mesmos sacramentos, a mesma sucessão apostólica, o amor à Igreja, que encontra o seu ícone no mistério da Santíssima Trindade.

Com eles, com os seus Pastores, é legítima a colaboração em iniciativas humanas, culturais, caritativas e religiosas, contanto que não a impeçam razões de fidelidade ao «depositum fidei», sempre conjugando prudência e coragem.

E dado que para os fiéis de rito greco- católico no território bielo-russo não há actualmente uma hierarquia constituída, desejo aproveitar esta circunstância para saudar e abençoar também eles e assegurar-lhes que as suas alegrias e tristezas, as suas angústias e esperanças, juntamente com aquelas dos caríssimos fiéis de rito latino, são do mesmo modo as minhas, como o são as da humanidade inteira (cf. Gaudium et spes, GS 1).

A vós e às populações confiadas à vossa solicitude pastoral, a minha afectuosa Bênção.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA "PAPAL FOUNDATION"


8 de Abril de 1997



Excelências Prezados Amigos em Cristo

É sempre um prazer para mim saudar os membros da Fundação Papal, nesta que já se tornou uma tradicional visita anual a Roma. Junto do túmulo do Apóstolo Pedro, estamos unidos a toda a Igreja no grande hino de louvor que elevamos ao Pai durante este período pascal, em acção de graças pela ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Através da Fundação, exprimis uma especial união com o Sucessor de Pedro, fundamento visível da unidade e da paz. Estais verdadeiramente próximos do meu coração e presentes nas minhas orações.

Este ano, em preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, toda a Igreja é chamada a reflectir sobre Cristo, Verbo de Deus, que Se fez homem pelo poder do Espírito Santo (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 40). Como cristãos, as nossas acções deveriam manifestar sempre na nossa vida a presença do mistério da Salvação em que fomos incorporados mediante o Baptismo. Em união de mente e de coração com o Senhor, devemos procurar viver um estilo de vida cristão: «Todos vós, que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo» (Ga 3,27). Não existe maior graça do que esta, que eu possa invocar sobre vós: para que a vossa fé se fortaleça e o vosso amor se renove.

A Fundação Papal é uma obra de fé e de amor. Tem em vista sustentar o ministério do Papa e os trabalhos que a Sé Apostólica deseja promover em diferentes partes do mundo, ao serviço do Evangelho. Agradeço-vos a vossa generosidade e os incansáveis esforços que prodigalizais para vos aproximardes cada vez mais da realização dos objectivos da Fundação.

Maria, Mãe do Redentor, interceda por vós, pelas vossas famílias e por todas as pessoas que apoiam a Fundação. Como penhor da graça que flui da fidelidade a Cristo e à sua Igreja, concedo de todo o coração a minha Bênção apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO SENHOR AHARON LOPEZ

NOVO EMBAIXADOR DE ISRAEL JUNTO


DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


10 de Abril de 1997



Senhor Embaixador

Sinto-me feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e receber as Cartas que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado de Israel junto da Santa Sé. Nesta fausta ocasião, expresso a minha gratidão pelas saudações que Vossa Excelência me apresentou da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Ezer Weizman, as quais lhe retribuo cordialmente. Peço que lhe transmita os meus bons votos e o assegure das minhas orações pelo seu país e por todas as populações da Terra Santa.

As relações diplomáticas estabelecidas entre a Santa Sé e o Estado de Israel em 1994 representam um importante passo no processo contínuo de normalização que empreendemos. Todavia, estes vínculos diplomáticos não podem considerar-se um fim em si mesmos, dado que a sua finalidade consiste em ajudar a alcançar os objectivos ainda mais elevados, contidos no Acordo Fundamental, assinado no final de 1993. O espírito desse Acordo, a boa fé e o empenhamento nele expressos devem ocupar constantemente um lugar de vanguarda no contexto de todos os esforços, enquanto continuamos a percorrer juntos o caminho da compreensão, amizade e cooperação recíprocas.

Já se fez muito para implementar os vários Artigos do Acordo Fundamental, e é com prazer que reconheço a referência que Vossa Excelência fez a propósito do «Acordo Legal», que em breve será apresentado ao Governo de Israel para a respectiva aprovação e implementação. Devemos estar gratos a todas as pessoas, de ambas as partes, cujos esforços indefessos nos deram a possibilidade de chegar a este ponto. É minha esperança de que se assine e ratifique quanto antes o «Acordo Legal», dado que representa um dos mais significativos instrumentos jurídicos para a vida da Igreja católica em Israel e para os fiéis católicos que são cidadãos israelianos. Além disso, estamos a falar aqui de um importante passo no processo de assistir todas as populações de Israel, independentemente da sua crença religiosa ou das suas diferenças culturais, a trabalharem juntas como parceiros igualitários na edificação da sociedade israeliana. Isto requer, nada menos, que depositemos firmemente a nossa esperança no Criador e na capacidade que Ele deu ao homem de corresponder ao que se lhe pede: «O que Javé exige de ti: praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente com o teu Deus» (Mi 6,8).


Discursos João Paulo II 1997 - 29 de Março de 1997