Discursos João Paulo II 1997 - 11 de Dezembro de 1997

2. Assim, chegamos ao final desta interessante experiência eclesial, na qual verdadeiramente «caminhamos juntos» (syn-odos). O encontro de hoje nos oferece a possibilidade de fazer um primeiro balanço. Amanhã de manhã, durante a Celebração eucarística que terei a alegria de presidir na Basílica Vaticana, poderemos agradecer ao Senhor os frutos apostólicos obtidos nesta semana em favor do Continente americano, desde o Alasca até a Terra do Fogo, desde o Pacífico até o Atlântico.

No futuro, como se costuma fazer depois de cada Sínodo, tenho a intenção de emanar um Exortação Apostólica, que considerará as Proposições aprovadas pela Assembléia e toda a riqueza das intervenções e das diversas relações, com o objetivo de tornar eficazes as sugestões pastorais surgidas no decorrer dos trabalhos sinodais.

Estas jornadas que passamos juntos foram uma autêntica graça do Senhor. Vivemos um encontro especial com Jesus Cristo vivo, e percorremos unidos um caminho de conversão, comunhão e solidariedade. Sentimo-nos reunidos no nome de Jesus (cf. Mt Mt 18,19-20) graças à ação do Espírito Santo, que ilumina o presente e o futuro do Continente americano com a alegria da esperança que nunca defrauda (cf. Rm Rm 5,5). Através dos numerosos pronunciamentos, que recordaram a grandeza e a beleza da vocação cristã, todos fomos animados a seguir Cristo Pastor, Sacerdote e Profeta, cada qual na sua própria vocação.

O comum chamado para seguir Cristo nos fez sentir a situação preocupante na qual vivem muitos dos nossos irmãos e irmãs. Não poucos deles se encontram em situações contrárias à dignidade de filhos de Deus: pobreza extrema; falta de um mínimo de assistência no caso de enfermidade; analfabetismo ainda difuso; exploração; violência e dependência de droga. E o que dizer das pressões psicológicas exercidas sobre a população nas sociedades desenvolvidas que impedem, de diversas maneiras, seu acesso às fontes vivas do Evangelho: clima de desconfiança em relação à Igreja; campanhas anti-religiosas nos meios de comunicação social; influência perniciosa da permissividade; fascinação pela riqueza fácil, até mesmo aquela de origem ilegal. A denúncia destas lamentáveis situações apareceram em muitos pronunciamentos dos Padres Sinodais.

3. Por fim, junto a estas corajosas tendências, não deixastes de pôr em evidência motivos de esperança e de conforto. Um número sempre maior de jovens optam pela vida sacerdotal e religiosa, e oferecem seu dinamismo e sua criatividade na tarefa da nova evangelização. Muitos e beneméritos sacerdotes e tantas pessoas consagradas, fiéis ao carisma dos seus diversos Institutos, vos acompanham, Veneráveis Irmãos, no vosso apostolado. E como não lembrar tantos milhares de leigos que, em resposta ao vosso apelo, se fazem vossos íntimos colaboradores na ação apostólica? Eles cooperam dos modos mais distintos na obra da evangelização, especialmente no interior das pequenas comunidades de fiéis que, tanto no coração das grandes cidades como no campo e nos centros mais longínquos, se unem para orar e escutar a Palavra de Deus.

Há também leigos — homens e mulheres — que, na esteira da sua vocação laical específica, se esforçam com competência nos diversos campos da vida política, social e econômica para que ali penetre o fermento do Evangelho, a fim de construírem um mundo mais justo, mais fraterno e solidário. Sua ação intrépida e insubstituível é uma componente essencial da evangelização, tornando mais crível o anúncio explícito de Jesus Cristo, num mundo que necessita mais de gestos concretos que de palavras.

Durante este Sínodo, foi-nos dado refletir juntos acerca dos caminhos da nova evangelização, na busca de respostas de vida, de reconciliação e de paz a serem oferecidas a todo o Continente americano. A rica experiência de fraternidade, vivida nestas semanas, deve continuar como testemunho permanente de unidade para um Continente chamado, em seus vários setores, à integração e à solidariedade. Esta é uma prioridade pastoral que convida todos a oferecer a própria colaboração.

Várias vezes nesta Sala foi recordado como é importante dar hoje não só o que é supérfluo, mas o que é necessário, a exemplo da viúva citada no Evangelho (cf. Mc Mc 12,42-44). Se é verdade que no Continente americano, como em outras partes do mundo, os desafios são muitos e complexos, e as tarefas parecem superar as energias humanas, eu vos repito hoje a cada um: «Não tenhais medo! Ao contrário, apoiai toda vossa vida sobre a esperança que jamais engana».

4. Veneráveis Irmãos no Episcopado, caros Irmãos e Irmãs! Na medida em que o meu programa diário me permitiu, tive o prazer de acompanhar os trabalhos do Sínodo. Fiquei impressionado pelo chamado constante que emergiu das intervenções e dos intercâmbios: refiro- me ao convite à solidariedade. Sim, a solidariedade deve ser profeticamente encorajada e testemunhada na prática.

A solidariedade, unindo os esforços de cada pessoa e de todos os povos, contribuirá para a superação dos efeitos deletérios de algumas situações submetidas à nossa atenção durante o Sínodo: uma globalização que, não obstante os potenciais benefícios, produziu também formas de injustiça social, o pesadelo da dívida externa de alguns países para a qual urge encontrar soluções adequadas e equilibradas, a praga do desemprego devida, pelo menos em parte, aos desequilíbrios existentes entre os países, os difíceis desafios suscitados pela imigração e pela mobilidade humana, juntamente com os sofrimentos que estão na sua origem.

O processo sinodal nos levou a experimentar quanto são verdadeiras as palavras do Salmo: «Ecce quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unum» (Ps 133,1). A solidariedade nasce do amor fraterno que, quanto mais está radicado na caridade divina, mais é efetivo.

Possa Deus conceder, como fruto melhor deste Sínodo, um aumento da compreensão e do amor entre os povos da América. Recordo, como foi observado, o oposto do amor não é necessariamente o ódio; pode ser também a indiferença, o desinteresse, a falta de atenção. Nós desejamos entrar no novo milênio seguindo o caminho do amor.

Caros amigos, dentro de poucos dias retornareis às vossas Igrejas particulares para unir-vos aos vossos irmãos e às vossas irmãs na fé e levar adiante o trabalho deste Sínodo. Levai a eles a saudação do Papa e o seu abraço.

Eu continuarei a estar junto de vós na oração. Confio-vos à Providência de Deus e invoco sobre vós a luz e a força do Espírito Santo. Iniciamos juntos o ano dedicado especificamente a Ele, um outro significativo passo rumo à celebração do Grande Jubileu do Ano 2000. O Espírito opera a nossa conversão e nos coloca em comunhão com os nossos irmãos e irmãs. É Ele que nos leva a viver o maior dos dons: o amor cristão que hoje se exprime na solidariedade.

Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira de toda a América e Estrela da primeira e da nova evangelização, obtenha para nós a graça de experimentarmos e de vermos crescer os frutos abundantes da Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos!

Concedo a todos vós a minha Bênção!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA LIGA ITALIANA PARA


A LUTA CONTRA OS TUMORES


Sábado, 13 de Dezembro de 1997





Excelentíssimas Senhoras e Senhores!

1. Tenho o prazer de apresentar as minhas cordiais boas-vindas a vós que, de diversas regiões da Itália, viestes a Roma para ressaltar, com uma peregrinação aos túmulos dos Apóstolos, o septuagésimo aniversário de fundação da vossa Associação. Saúdo, em particular, o Presidente da «Liga italiana para a luta contra os tumores» e agradeço-lhe os sentimentos manifestados no seu nobre discurso.

Saúdo os Membros do Conselho directivo central, os Presidentes das Secções provinciais e o Comité científico. Desejo, ao mesmo tempo, estender a minha afectuosa recordação a todos aqueles que se reconhecem nos altos ideais e nas actividades que a vossa Associação promove, ao serviço de quantos são atingidos por este mal, hoje infelizmente bastante difundido.

A vossa obra de pesquisa científica e de sensibilização da opinião pública acerca do «mal do século» é particular- mente meritória, porque se faz acompanhar de uma presença concreta ao lado de quem se encontra, de vários modos, atingido pelas dificuldades, sofrimentos e distúrbios causados por esta enfermidade.

Na experiência de cada dia, vós sentis concretamente como são complexas as situações que se criam quando a doença, em especial este tipo de doença, bate à porta de uma pessoa ou de uma família. Além das consultas médicas, é preciso um suporte psicológico e espiritual, pronto e fraterno: é necessário um apoio de solidariedade concreta. Neste âmbito muito já faz e pode fazer ainda mais a vossa benemérita Associação.

2. No decurso dos últimos anos, numerosos estudos epidemiológicos consentiram delinear uma ampla panorâmica sobre a incidência dos tumores no mundo e sobre os melhoramentos que se verificaram no campo da assistência médico-sanitária, graças aos progressos alcançados na pesquisa biomédica e nos cuidados sanitários. Isto levou a um considerável prolongamento da expectativa de vida destes doentes, e a um melhoramento da sua qualidade de vida. É necessário potenciar ulteriormente, com o contributo de todas as instituições interessadas, os vários tipos de cuidado que se demonstraram particularmente eficazes. Isto oferece a possibilidade de administrar de maneira válida as intervenções médico-assistenciais, em ordem ao maior bem do paciente. Em todo o caso, é preciso evitar intervenções inadequadas à real situação ou desproporcionadas aos resultados médicos, bem como acções ou omissões destinadas a provocar a morte, a fim de eliminar a dor.

3. Nunca como no caso dos doentes de tumor a medicina é chamada à sua tarefa mais difícil e delicada: ajudar o doente a viver a doença de modo humano e, para os crentes, a vivê-la segundo os recursos e as exigências próprias da fé cristã.

Nesta importante obra, que não se pode limitar apenas ao aspecto médico, mas deve necessariamente dilatar-se à consideração da inteira pessoa humana, a Igreja, sempre atenta a esta, de maneira especial quando está em dificuldade, oferece a sua contribuição. Precisamente porque considera o homem como a sua via privilegiada, ela olha de modo especial para quantos experimentam na sua carne as dores da doença. Iluminado pela fé, o sofrimento pode tornar-se participação no mistério da redenção (cf. Cl Col 1,24): em Cristo o sofrimento recebe uma nova luz, que o eleva de simples e negativa passividade à colaboração positiva na obra da salvação, realizada pelo Filho de Deus, que para isto Se fez homem e veio habitar no meio de nós (cf. Jo Jn 1,4). À luz do Evangelho o sofrer adquire assim um sentido e um valor peculiar: não é energia desperdiçada, porque é transformado pelo amor divino e, como tal, oferecido em comunhão com os sofrimentos de Cristo.

4. Excelentíssimas Senhoras e Senhores! Nesta perspectiva, grande importância reveste a dimensão ética e religiosa da vossa profissão, que não é arriscado qualificar como uma verdadeira missão. Dirigis-vos a pacientes que, afligidos pela angústia acerca do seu futuro, sentem esmorecer a esperança. Oferecendo a vossa contribuição para restabelecer a saúde física do ser humano, jamais deveis perder de vista a pessoa e o seu desejo de reencontrar a paz interior e a dimensão espiritual, que a podem revigorar no quotidiano caminho da vida. O vosso serviço não poderá, então, deixar de ser caracterizado por um amor autêntico a cada criatura humana, isto é, por aquele amor que o Verbo encarnado nos revelou e comunicou, de maneira extraordinária, no mistério da sua Encarnação.

Ao convidar-vos a perseverar, unindo as vossas energias no serviço de quem sofre, invoco a abundância dos favores celestes sobre vós e sobre as pessoas com as quais a vossa Associação entra em contacto, e apresento a cada um os melhores votos para o próximo Natal.

A todos concedo de coração a Bênção Apostólica.




AOS REDENTORISTAS POR OCASIÃO


DO TERCEIRO CENTENÁRIO DO SANTO FUNDADOR


: 15 de dezembro de 1997



Caros Padres da Congregação do Santíssimo Redentor!

1. Com alegria apresento as minhas boas-vindas a vós que representais a inteira família espiritual, fundada por Santo Afonso de Ligório, e que, após o recente Capítulo Geral, quisestes encontrar-vos com o Sucessor de Pedro para lhe renovar a expressão da vossa adesão e dos vossos sentimentos de plena comunhão.

Saúdo o Padre Joseph William Tobin, novo Superior-Geral, e apresento-lhe os meus bons votos para a empenhativa missão a que foi chamado. Agradeço ao Padre Juan Maria Lasso de la Vega, que durante os anos de serviço como Moderador Supremo dos Redentoristas se prodigalizou por conduzir o Instituto para uma sempre mais consciente adesão ao carisma do Fundador, do qual recentemente comemorastes o terceiro centenário do nascimento.

Ao saudar com afecto cada um de vós, desejo fazer chegar o meu pensamento cordial a todos os Redentoristas que trabalham na Igreja com generosidade, competência e fiel adesão ao Evangelho.

2. A celebração do aniversário do nascimento de Santo Afonso foi para o vosso Instituto uma ocasião propícia para fazer ressaltar como a opção radical pelo Evangelho, a fidelidade à Palavra de Deus, a comunhão profunda e sincera com a Igreja e a solidária proximidade aos pobres levaram o grande Doutor da Igreja a criar, na sua época, um novo estilo de evangelização. Ao mesmo tempo, o seu exemplo e o seu ensinamento confirmam a original actualidade da sua mensagem na comunidade cristã contemporânea, iluminando a via a seguir também hoje, enquanto estamos a caminho rumo ao terceiro milénio.

Ele não cessou de sublinhar como era necessário ser fiel às opções, às palavras e ao estilo com que o Redentor foi entre os homens o evangelho de Deus. Com efeito, na sua Regra sempre recomendou «seguir o exemplo de Jesus Cristo, pregando a Palavra de Deus aos pobres» e tornando-se, ele mesmo, exemplo e modelo de quantos se encontravam a exercer um ministério apostólico ou pastoral.

O «zelo pela casa do Senhor» (cf. Sl Ps 68,10) tornou-o mestre e testemunha para tantos dos seus contemporâneos e o seu ensinamento continua, ainda hoje, a alimentar o pensamento e a acção da Igreja.

O empenho pastoral despendido com generosidade e competência tirava a linfa vital da ardente e constante oração, que caracterizaram a sua existência. Do íntimo diálogo com a Fonte da Sabedoria hauria as respostas com que ilumi- nar, encorajar e confortar quantos a ele se dirigiam em busca de orientação e apoio.

3. Caríssimos Irmãos, a figura do vosso Fundador, sempre tão actual, constitui um dom para a Igreja e um precioso estímulo para a vossa Congregação, chamada a uma renovada e entusiasmante adesão a Cristo. Olhando para Ele, podeis trabalhar com maior generosidade ao serviço da nova evangelização, na qual a Igreja inteira está hoje empenhada. Sem dúvida, as formas do anúncio do Evangelho devem ser corajosa e constantemente adequadas às situações concretas dos diferentes contextos em que a Igreja vive, mas isto comporta ainda um maior esforço de fidelidade às origens, a fim de que o estilo apostólico, que é próprio da vossa família, possa continuar a responder às expectativas do povo de Deus. Sei que este é o empenho que vos anima e exorto-vos a caminhar com coragem nessa direcção.

Estai prontos, caríssimos, a cumprir com renovado vigor a vossa missão entre os pobres de Cristo, anunciando- lhes o Evangelho da esperança e da caridade.

A Virgem Santa, Mãe do Redentor, que vós amais com afecto particular, vos sustente sempre e obtenha para vós abundantes frutos apostólicos.

Com estes sentimentos e renovando, em nome da Igreja, o agradecimento mais profundo pela vossa acção ao serviço do Evangelho, de coração concedo-vos a minha Bênção e de bom grado faço-a extensiva ao vosso inteiro Instituto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO DEFINITÓRIO GERAL


DOS FRADES MENORES FRANCISCANOS


16 de Dezembro de 1997





Caríssimos Frades Menores!

1. É-me grato acolher-vos neste dia e apresento a todos uma saudação cordial, com as palavras familiares a São Francisco: «O Senhor vos dê a paz». Agradeço-vos a vossa visita: viestes para renovar aqueles vínculos de íntima comunhão com o Sucessor de Pedro, que o Pai Seráfico, na sua regra, quis que fossem o carácter distintivo da vossa Ordem.

Saúdo de modo particular o neo-eleito Ministro-Geral, Frei Giacomo Bini, e apresento-lhe os meus bons votos para a tarefa empenhativa que lhe foi confiada. O meu pensamento dirige-se, além disso, ao Frei Hermann Schalück que, com espírito de serviço, exerceu o seu mandato como guia da Ordem.

A vossa presença oferece-me, nesta manhã, a grata ocasião para fazer chegar aos vossos Confrades espalhados pelo mundo os sentimentos do meu reconhecimento pelo generoso e profícuo empenho de fidelidade a Cristo e de activa evangelização. O vosso trabalho apostólico, bastante apreciado, está orientado de vários modos para o cuidado especial dos pobres e dos menos afortunados, seguindo as pegadas do vosso santo Fundador.

2. Em Maio passado celebrastes o Capítulo Geral junto do Santuário da Porciúncula, lugar tão caro a Francisco, no qual ele foi iluminado acerca da sua vocação e onde teve início a sua fecunda obra espiritual e missionária, que assinalou uma grande renovação na Igreja e na sociedade de então. O gesto de vos reunirdes lá, para um acto de fundamental importância na vida de um Instituto religioso, assume um significado especial como expressão da vontade de remontardes às raízes do carisma que vos é próprio. A Porciúncula, esse lugar sagrado conhecido no mundo inteiro, voltou às crónicas por causa dos trágicos eventos do recente terremoto, que abalou a Úmbria e as Marcas, deixando no povo e nas estruturas profundas feridas que ainda devem ser curadas.

Ao falar da Porciúncula, como não recordar o famoso convite ali dirigido a Francisco: «Vai e repara a minha Igreja»? Atentos aos sinais dos tempos, quisestes apreender todos os apelos para intensificar o entusiasmo e a generosidade do vosso serviço à Igreja, com grande e imutável fidelidade ao espírito das origens. Acolhendo as sugestões do Espírito do Senhor quisestes abrir-vos, numa linha de dinâmica continuidade com a vossa autêntica tradição, às expectativas e aos desafios do presente, a fim de cooperardes na guia dos homens ao encontro com o Senhor que vem.

Se graves são os terremotos que atingem as estruturas materiais, não devem ser esquecidos outros fenómenos, talvez ainda mais preocupantes, que transtornam a existência das pessoas e põem em evidência a ausência e o vazio de humanidade e do sentido de Deus. Quero referir-me aqui à diminuição do respeito pela dignidade do homem e pela intangibilidade da sua vida, à indiferença religiosa e ao ateísmo prático, que afastam o pensamento de Deus do horizonte da vida, abrindo a via a um perigoso vazio de valores e de ideais.

São os desafios do nosso tempo que, se por um lado induzem a olhar com preocupação para o futuro, por outro, interpelam com vigor a comunidade dos crentes para que os recolha e os enfrente com urgência. O tempo é breve, adverte-nos a liturgia do Advento, e é necessário preparar o caminho para o Senhor que vem. Este espírito, típico do tempo litúrgico que estamos a viver, deve animar a inteira actividade de qualquer Instituto religioso.

Os meus mais ardentes votos são por que ele penetre sempre mais intensamente também a vossa Família religiosa, chamada a levar o Evangelho da alegria e do amor aos homens do nosso tempo. A missão que vos compete, portanto, em vista do terceiro milénio, é partir de novo das origens para intensificar a atenção aos irmãos, promovendo uma acção pastoral actualizada segundo o vosso carisma. No centro desta empenhativa renovação apostólica está a escuta de Deus, no estilo de vida contemplativa típica de São Francisco. Ele gostava de repetir que «o pregador deve antes haurir no segredo da oração aquilo que depois efundirá nos discursos». Ao desejar-vos que sigais com fidelidade os passos do vosso Pai Seráfico, invoco sobre vós e sobre a Ordem inteira a renovada efusão dos dons do Espírito Santo, para que vos sustentem e vos guiem no vosso serviço a Cristo e à Igreja.

Desejo a todos um santo Natal, com os bons votos de um novo ano repleto de paz e de alegria. Com estes sentimentos, abençoo-vos a todos.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS DIRECTORES DA COMPANHIA AÉREA


"ALITALIA"


16 de Dezembro de 1997



Senhor Presidente da Alitália
Ilustres Senhores

É-me grato dar-vos as cordiais boas-vindas na circunstância desta visita, que ocorre tão próxima do Natal do Senhor depois de termos celebrado, há uma semana, a festa de Nossa Senhora de Loreto, padroeira dos Aviadores. A ocasião oferece-me portanto a grata oportunidade de vos apresentar para essas festividades uma dúplice felicitação, que desejo fazer extensiva a quantos, a vários títulos, colaboram nas actividades e no bom funcionamento do vosso trabalho, e às respectivas famílias. Saúdo o Presidente, Engenheiro Fausto Cereti, o Administrador Delegado, o Director-Geral, o Responsável das Relações com a Santa Sé e quantos se uniram a este encontro.

A minha gratidão para com a Alitália está ligada à cortesia e às gentilezas que sempre demonstrou para com o Papa, quando se aprestava como peregrino para visitar Países e Nações, a fim de confirmar os irmãos na fé e ali levar uma palavra de conforto e de esperança. Exprimo, pois, a todos os trabalhadores da vossa companhia o meu vivo apreço pela actividade que exercem, bem consciente de quanto é delicada e cansativa. Eles são um recurso indispensável, com o qual a vossa Sociedade enfrenta cada dia as tarefas para as quais foi instituída.

Ao desejar que as vossas fadigas sejam coroadas pelos sucessos esperados, invoco a protecção da Virgem de Loreto e concedo a cada um a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva às pessoas que vos são caras.



DISCURSO DO SANTO PADRE À NOVA EMBAIXADORA


DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA JUNTO


DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


16 de Dezembro de 1997





À Sua Excelência Senhora Corinne Clairborne

É-me imensamente grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano para a apresentação das Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária dos Estados Unidos da América junto da Santa Sé. Estou reconhecido pelas saudações que Vossa Excelência me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Clinton, e retribuo-lhe com bons votos tanto para ele como para o povo estadunidense.

Vossa Excelência representa uma nação que actualmente desempenha um papel crucial nos eventos mundiais. Os Estados Unidos da América têm uma onerosa e clarividente responsabilidade, não só pelo bem-estar do seu próprio povo, mas também pelo desenvolvimento e destino das populações do mundo inteiro. Com um profundo sentido de participação nas alegrias, esperanças, sofrimentos, ansiedades e aspirações de toda a família humana, a Santa Sé participa de boa vontade em todos os empreendimentos destinados à construção da paz e da justiça genuínas para todos. Estou persuadido de que, ao dar continuidade ao louvável trabalho dos seus predecessores, Vossa Excelência dedicará os seus inumeráveis talentos pessoais e a sua prolongada experiência na vida pública para revigorar a compreensão e a cooperação entre nós.

Os Fundadores dos Estados Unidos da América afirmaram a sua reivindicação à liberdade e independência, tendo como fundamento determinadas verdades – «evidentes por si sós» – acerca da pessoa humana: verdades que poderiam discernir-se na natureza humana, edificadas sobre esta pelo «Deus da natureza». Desta forma, quiseram dar origem não só a um território independente, mas a uma grande experiência daquilo que Jorge Washington denominou «liberdade ordenada»: uma experiência em que homens e mulheres pudessem gozar equitativamente de direitos e oportunidades, na busca da felicidade e no serviço do bem comum. Quando se lêem os documentos da fundação dos Estados Unidos da América, surpreende-se pelo conceito de liberdade neles contido: uma liberdade destinada a tornar as pessoas capazes de cumprir os próprios deveres e responsabilidades para com a família e o bem geral da comunidade. Os seus autores compreenderam claramente que não pode haver verdadeira liberdade sem a responsabilidade e a credibilidade morais, e que não pode existir felicidade sem o respeito e o apoio às unidades ou comunidades naturais em que as pessoas vivem, se desenvolvem e aspiram a melhores padrões de vida, em harmonia com os outros.

A experiência democrática estadunidense obteve bom êxito de muitas formas. Milhões de pessoas do mundo inteiro consideram os Estados Unidos da América como um modelo na sua busca de liberdade, dignidade e prosperidade. Todavia, o sucesso constante da democracia estadunidense depende da medida em que a nova geração, autóctone e imigrante, tornar sua as verdades morais a partir das quais os Fundadores traçaram o futuro da própria República. O seu compromisso em edificar uma sociedade aberta, com liberdade e justiça para todos, deve ser constantemente renovado se os Estados Unidos da América quiserem concretizar o destino ao qual os Fundadores consagraram a sua própria «vida... riquezas... e honra sagrada».

Estou feliz por observar que as suas palavras, Senhora Embaixadora, confirmam a importância que o Governo, nas suas relações com os países do mundo inteiro, atribui à promoção dos direitos do homem e especialmente do fundamental direito humano à liberdade religiosa, que constitui a salvaguarda de todos os outros direitos humanos. O respeito pela convicção religiosa desempenhou um papel essencial no nascimento e no primeiro período de desenvolvimento dos Estados Unidos da América. Em 1776 John Dickinson, Presidente da Comissão para a Declaração da Independência, fez a seguinte declaração: «As nossas liberdades não derivam das nossas Cartas, pois estas são apenas a declaração de direitos que já existem precedentemente. Não dependem de documentos nem de selos, pois provêm do Rei dos Reis e do Senhor da terra inteira» (cf. C. Herman Pritchett, The American Constitution, McGraw-Hill, 1977, pág. 2). Com efeito, pode-se perguntar se a experiência democrática dos Estados Unidos da América teria sido possível, ou qual seria o seu êxito no futuro, sem uma visão profundamente arraigada da providência divina, no que concerne às pessoas e ao destino das nações.

Enquanto se aproxima o Ano 2000 e os cristãos se preparam para celebrar o bimilenário do nascimento de Cristo, tenho exortado a um sério exame de consciência no que diz respeito às sombras que obscurecem o nosso tempo (cf. Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, TMA 36). Também as Nações e os Estados podem fazer deste tempo um período de reflexão sobre as condições espirituais e morais do seu bom êxito na promoção do bem integral do próprio povo. Seria verdadeiramente triste se agora as convicções religiosas e morais, sobre as quais a experiência estadunidense lançou as próprias bases, fossem consideradas como que um perigo para a sociedade livre, de maneira a negar às pessoas que com tais convicções sustentam a vida pública da nação, uma voz activa na resolução das questões políticas. Sem dúvida, a separação original da Igreja e do Estado nos Estados Unidos da América não constituiu uma tentativa de banir todas as convicções religiosas da área pública, como se Deus fosse expulso da sociedade civil. Com efeito, a vasta maioria dos estadunidenses, independentemente da sua persuasão religiosa, estão convencidos de que a profissão religiosa e a temática moral fundamentada na religião têm um papel vital a desempenhar na vida pública.

Nenhuma expressão do compromisso da sociedade em favor da liberdade e da justiça de todos pode ser mais elementar que a salvaguarda oferecida aos membros mais vulneráveis da sociedade. Os Estados Unidos da América fundaram-se sobre a convicção de que o direito inalienável à vida é uma verdade moral «evidente por si só», cuja fidelidade constitui um critério primário da justiça social. A história moral do seu país é a história dos esforços do seu povo por alargar o círculo de inclusão na sociedade, de tal forma que todos os cidadãos dos Estados Unidos da América possam gozar da tutela da lei, participar nas responsabilidades da cidadania e ter a oportunidade de oferecer a própria contribuição ao bem comum. Quando se exclui uma determinada categoria de pessoas – os nascituros, os enfermos ou os idosos – desta tutela, uma anarquia mortal subverte a compreensão originária da justiça. A credibilidade dos Estados Unidos da América dependerá cada vez mais da promoção de uma genuína cultura da vida e de um renovado empenhamento na edificação de um mundo em que os mais frágeis e vulneráveis são acolhidos e protegidos.

Assim como têm feito ao longo da história do seu próprio país, os católicos dos Estados Unidos da América continuarão a dar uma importante contribuição ao desenvolvimento da cultura e da sociedade estadunidenses. A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, que há pouco se concluiu, pôs em evidência a diversificação e variedade de actividades que os católicos, em virtude do compromisso em prol de Cristo, empreendem em vista do aperfeiçoamento da sociedade. Este trabalho de formação e promoção continue a florescer para o bem das pessoas, o fortalecimento das famílias e o benefício do povo estadunidense como comunidade.

Excelência, estes são alguns dos pensamentos suscitados pela sua presença aqui, como Representante diplomática do seu país. Estas reflexões evocam uma oração: que o seu país experimente um renascimento da liberdade, uma liberdade assente na verdade orientada para o bem. Assim, o povo dos Estados Unidos da América há-de consagrar a sua ilimitável energia espiritual ao serviço do bem genuíno de toda a humanidade. Tenha a certeza, Senhora Embaixadora, de que os vários Departamentos da Santa Sé estarão prontos a auxiliá-la no cumprimento da sua missão. Sobre Vossa Excelência e o povo dos Estados Unidos da América, invoco cordialmente as abundantes bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A CINCO NOVOS EMBAIXADORES


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 18 de Dezembro de 1997





Excelências

1. É-me grato apresentar-vos as boas-vindas à Cidade eterna, por ocasião da entrega das Cartas que vos acreditam junto da Santa Sé como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos respectivos Países: Benim, Eritreia, Noruega, Sri Lanka e Togo. Nesta circunstância, renovo de bom grado a expressão da minha estima e amizade às Autoridades das vossas nações e a todos os vossos compatriotas. Sensibilizado pelas mensagens cordiais que Vossas Excelências me transmitiram da parte dos vossos Chefes de Estado, ficar-vos-ia grato se vos dignasseis retribuir as minhas deferentes saudações e os meus calorosos votos para as suas pessoas e para a sua sublime missão ao serviço dos seus concidadãos.

2. A fim de responder às esperanças e às aspirações legítimas dos povos à paz e ao bem-estar material e espiritual, convém evocar a importância do diálogo no seio das comunidades nacionais e também entre os países, diálogo que é a via da razão e um aspecto essencial da vida diplomática. Neste espírito, é necessário apoiar as nações que ainda devem desenvolver a sua vida democrática, a fim de permitir a participação do maior número de pessoas na vida pública. De igual modo, convido aqueles que exercem um papel no concerto das nações a fazerem tudo para favorecer a comunicação entre os povos e exortar os responsáveis da vida política e económica a prosseguirem na via da cooperação internacional. É óbvio – e a história tem demonstrado com frequência – que a violência ou a força jamais resolvem a longo termo as situações de conflito. Ao contrário, elas não fazem senão reforçar os particularismos de todos os tipos.

3. Na conclusão da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, que acaba de se realizar em Roma, os Pastores fizeram-se eco da voz dos pobres em numerosas ocasiões; com eles, não posso deixar de formular os meus votos por um empenhamento renovado da Comunidade internacional em favor dos países que ainda devem lutar de maneira mais intensa contra a pobreza, fonte de muitos males para as pessoas e os povos, em particular contra os flagelos da droga e da delinquência, sob todas as suas formas. Ao aproximar-se o terceiro milénio, é preciso desejar também uma tomada de consciência mais forte em favor do respeito de toda a pessoa, especialmente das crianças, que nem sempre podem receber a educação à qual têm direito, e que são objecto de múltiplas explorações, obrigadas a trabalhar por vezes em condições degradantes. Como diplomatas, estou certo de que Vossas Excelências são particularmente sensíveis a estes aspectos da vida na sociedade.

4. No momento em que iniciais a vossa missão, que vos permitirá conhecer ainda mais a vida e a acção da Sé Apostólica, apresento-vos os meus melhores votos e invoco a abundância das Bênçãos divinas sobre as vossas pessoas, famílias e colaboradores, bem como sobre as nações que representais.




AO NOVO EMBAIXADOR DO BENIM


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Dezembro de 1997



Senhor Embaixador


Discursos João Paulo II 1997 - 11 de Dezembro de 1997