Discursos João Paulo II 1997 - 18 de Dezembro de 1997

1. É-me grato acolher Vossa Excelência nesta casa em que lhe dou as boas-vindas, por ocasião da apresentação das suas Credenciais como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Benim junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as palavras que Vossa Excelência me dirigiu. Elas testemunham a estima que o seu país tem para com as motivações de ordem espiritual e religiosa na vida nacional. Agradeço-lhe a deferente saudação que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Mathieu Kérékou, Presidente da República do Benim. Peço que se digne transmitir-lhe os meus cordiais votos. Os meus desejos afectuosos cheguem também ao inteiro povo do Benim, nos seus esforços corajosos em vista do crescimento duma nação cada vez mais unida e mais justa. Deus conceda prosperidade e felicidades a todos!

2. No seu discurso, Vossa Excelência sublinhou que o seu país está resolutamente empenhado no processo de edificação duma sociedade democrática. Neste caminho difícil, o estabelecimento dum Estado de direito é uma prioridade que deve permitir a cada um gozar de todas as suas prerrogativas de cidadão, livremente e no respeito dum pluralismo legítimo. Uma das preocupações essenciais é também satisfazer as necessidades fundamentais de cada um e favorecer uma partilha honesta e equitativa dos benefícios e dos ónus. Para isto, é importante que a justiça presida à exploração e distribuição dos recursos nacionais.

3. Sinto-me feliz por saber que no Benim as relações entre a comunidade católica e os crentes do Islão são em geral serenas. Com efeito, «Deus quer que Lhe prestemos testemunho no respeito dos valores e das tradições religiosas próprias de cada um, trabalhando juntos pela promoção humana e pelo desenvolvimento a todos os níveis» (Ecclesia in Africa ). A edificação da nação exige que os crentes e, de modo mais amplo, todos os homens de boa vontade unam os seus esforços em prol do serviço do bem comum, manifestando assim que Deus os criou como membros duma mesma família humana e os selou com igual dignidade. Faço votos vivamente por que estas boas relações contribuam para manter a unidade da nação, que é indispensável para a manutenção e o fortalecimento da paz e da concórdia entre os cidadãos.

4. Num espírito de diálogo e de colaboração fraterna, a Igreja católica no seu país, através do empenhamento dos seus membros, toma uma justa parte na vida da nação. Com efeito, quer participar activamente, no lugar que lhe compete e segundo a sua própria vocação, no desenvolvimento humano e espiritual das pessoas. Ao colocar-se ao serviço de todos nos inúmeros sectores, como a educação, a saúde, a acção social e caritativa, ela contribui para o melhoramento das condições de vida da população e favorece o progresso da justiça e da convivência. Pelo testemunho que dá do Evangelho com palavras e acções, no respeito da liberdade e das convicções de cada um e também das comunidades humanas e religiosas, a Igreja cumpre a missão que recebeu de Cristo e que tem o dever imperioso de realizar. Ao rejeitar todas as divisões e oposições que põem em perigo a perseguição do bem comum, ela sabe que é chamada a trabalhar com ardor pelo estabelecimento duma verdadeira «civilização do amor».

5. Permita-me, Senhor Embaixador, saudar calorosamente por seu intermédio a comunidade católica do Benim e os seus Bispos. A recente erecção de novas dioceses e a constituição duma segunda Província eclesiástica no país atestam o dinamismo evangélico da Igreja no Benim. Convido os fiéis, em profunda união com os Pastores, a viverem com os seus compatriotas o amor universal de Cristo, numa atitude de respeito mútuo e de diálogo com todos. Assim, visto que nos aproximamos do terceiro milénio, eles contribuirão para a realização duma nação solidária e fraterna!

6. No momento em que tem início a sua missão, apresento-lhe os meus votos cordiais para a nobre tarefa que o espera. Esteja certo de que encontrará aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá ter necessidade. Sobre Vossa Excelência, o povo do Benim e os responsáveis da nação, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.




AO NOVO EMBAIXADOR DA ERITREIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS








Senhor Embaixador

É-me grato aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado da Eritreia junto da Santa Sé. É igualmente com alegria que recebo as saudações que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Isaías Afwerki, e pediria a amabilidade de lhe comunicar os meus sinceros bons votos pelo país e pelo bem-estar do seu povo.

Vossa Excelência referiu-se ao compromisso da Eritreia em assegurar a paz e a harmonia dentro das suas próprias fronteiras e em trabalhar com outras nações no processo de fazer da paz uma realidade na sua região. Neste empreendimento, o seu país há-de encontrar um parceiro disponível na Igreja católica que proclama em toda a parte a mensagem evangélica de verdade, justiça e paz. A Igreja e a comunidade política, cada qual no campo que lhe pertence, são independentes e autónomas. Contudo, cada uma delas serve a vocação pessoal e social dos mesmos seres humanos. Embora vivam num determinado período da história, os homens e as mulheres não se limitam ao sector temporal, pois são chamados à transcendência. Esta exaltante vocação e este sublime destino da pessoa humana deveriam constituir um importante elemento nas iniciativas sociais, económicas e políticas das pessoas, dos povos e também das nações.

É por fidelidade ao Evangelho e por solicitude pela pessoa humana que a Igreja na Eritreia se empenha nos campos da educação, na assistência à saúde e nos serviços sociais. Desta forma, ela procura contribuir para o desenvolvimento constante do seu povo, de maneira especial durante este período de reconstrução e de democratização, depois de uma guerra devastadora. A este propósito, é com gratidão que observo as amáveis palavras de reconhecimento de Vossa Excelência por tudo aquilo que a Igreja tem feito e continua a fazer em vista de edificar a sociedade eritreia.

Como Vossa Excelência sabe, no ano passado a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação promoveu aqui em Roma um Encontro Mundial sobre a Alimentação. O tema em debate era a necessidade de garantir a segurança alimentar no mundo inteiro, especialmente diante das trágicas consequências da seca e da penúria em várias partes do planeta. Durante a última década, misérias terríveis provocaram enormes calamidades aos povos nessa região da África, e a carência de alimentos que se tem verificado nos passados anos continua a causar dificuldades e a semear mortes. No mundo inteiro ainda existem milhares de milhões de pessoas que sofrem devido à subalimentação e para isto ainda não se entrevê uma solução imediata. Por este motivo, como eu disse aos participantes no Encontro Mundial sobre a Alimentação, é ainda mais urgente e necessário que todas as pessoas trabalhem juntas para encontrar um modo de resolver esta situação, «a fim de que não haja mais, lado a lado, pessoas famintas e outras que vivem na opulência, pessoas muito pobres e outras muito ricas, pessoas às quais falta o necessário e outras que esbanjam em grande medida» (Discurso dirigido aos participantes no Encontro Mundial sobre a Alimentação, 13 de Novembro de 1996, ed. port. de L'Osservatore Romano de 23.XI.1996, n. 2, pág. 1).

Qualquer esforço despendido no sentido de resolver este problema exige decisões económicas e políticas da parte dos organismos governamentais, tanto nacionais como internacionais, destinados a encorajar e fortalecer a produção agrícola local e, ao mesmo tempo, salvaguardar a vida rural e preservar os recursos naturais. A assistência aos países em vias de desenvolvimento e as decisões que visam estabelecer os termos para o comércio justo e os acordos de crédito deveriam caminhar a par e passo com a estratégia para a partilha efectiva dos progressos tecnológicos e a formação apropriada das pessoas, de forma que os mesmos países sejam os agentes do seu próprio progresso.

É precisamente a promoção de tal cooperação entre os Estados que constitui um dos principais objectivos da actividade da Santa Sé no campo da diplomacia internacional, uma colaboração fundamentada no extremo respeito pela dignidade humana e pela solicitude para com as necessidades dos menos afortunados. É preciso um esforço conjunto da parte de todos os povos e nações. Quanto a isto, o mundo desenvolvido tem uma clarividente responsabilidade pela África, não só por motivos históricos, mas também porque não se pode obter genuinamente a paz se esta não for compartilhada por todos. É necessário um novo sentido de solidariedade para com a África, de maneira especial no cuidado do grande número de pessoas deslocadas e de refugiados, e na luta contra a epidemia da Sida. Todavia, esta assistência deveria respeitar plenamente as específicas estruturas e tradições sociais e culturais da África, uma vez que os africanos devem ser os construtores do próprio futuro.

Senhor Embaixador, ao assumir as suas responsabilidades na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, ofereço-lhe os meus bons votos pelo bom êxito da sua sublime missão. Asseguro-lhe que os vários departamentos da Santa Sé estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Invoco cordialmente sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo da Eritreia as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DA NORUEGA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: 18 de Dezembro de 1997



Excelência

É-me grato dar-lhe hoje as boas-vindas ao Vaticano e receber as Cartas Credenciais mediante as quais Sua Majestade o Rei Harald V o nomeia seu Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Aprecio enormemente a amável mensagem da parte de Sua Majestade e pediria que lhe transmitisse as minhas saudações, assegurando-lhe as minhas orações pela Família real e pelo povo da Noruega.

Durante a minha Visita pastoral de 1989, entrei em contacto com a rica herança cristã do seu país. As celebrações de há dois anos, por ocasião do Milénio da presença do Cristianismo na Noruega, recordou-nos o modo como os valores cristãos deixaram uma marca indelével. Essas celebrações convidaram o povo a reflectir sobre o próprio passado, sobre a tradição cristã que remonta ao regresso do neófito Rei Olavo I à Noruega no ano 995. O povo norueguês permitiu que a sua fé forjasse as suas atitudes recíprocas e manifestou esse património religioso na sua solicitude para com os compatriotas menos afortunados e os pobres de outras terras. Abrindo as próprias portas aos refugiados de várias nações, o seu país chama continuamente a atenção do mundo para o problema daquelas pessoas a quem falta os meios básicos de subsistência ou cujos direitos são espezinhados.

Neste compromisso nos assuntos internacionais, a Santa Sé orienta-se segundo o reconhecimento do valor intrínseco e dos direitos inalienáveis de cada pessoa humana. Esta é a mesma visão em que se encontra assente o compromisso da Igreja em todas as formas de autêntico desenvolvimento humano. Uma interpretação demasiadamente limitada do desenvolvimento, em termos de prosperidade material e económica, levaria a negligenciar uma das questões essenciais no que concerne à natureza e ao destino do homem, uma vez que a mera acumulação de bens não é suficiente para a felicidade humana (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 28). Da mesma forma, o autêntico desenvolvimento humano exige uma compreensão do ser humano, não como um indivíduo isolado, mas como uma pessoa que vive e cresce dentro de uma comunidade. É importante que as pessoas gozem da liberdade de se expressar e de exprimir as suas convicções sociais e religiosas no seio da comunidade a que pertencem. Merecem particular atenção as instituições que, na sociedade, transmitem aos próprios membros um sentido do lugar reservado aos verdadeiros valores da vida e daquilo que conduz ao pleno desenvolvimento pessoal. Refiro-me em especial ao papel primordial da família e à importância do sector educativo. Mediante a sua participação nessas realidades e nas respectivas instituições sociais, os cidadãos desenvolvem um sentido de respeito e solicitude pelo próximo, que se exprime na firme e perseverante determinação de se empenhar em benefício do bem comum, por nós denominado solidariedade (cf. Ibid., 38).

No campo internacional, a solidariedade conduz à cooperação com as outras nações, consideradas como vizinhos a ajudar, e não como instrumentos destinados ao uso dos mais poderosos (cf. Ibid., 39). A atenção às exigências da solidariedade tem levado o seu país a ser particularmente generoso na partilha dos próprios recursos com os menos afortunados. Nesta área, a Igreja procura chamar a atenção para os valores que precisam de ser respeitados a fim de se obter um desenvolvimento genuíno. Ela procura recordar de modo constante à comunidade internacional que acima e além da assistência económica e técnica, a solicitude pelo desenvolvimento autêntico das outras nações exige o respeito pelos seus valores culturais e espirituais.

Tais valores e tradições representam um manancial do qual jorra a vida da nação. Eles indicam a direcção que se deve tomar a fim de assegurar o progresso harmonioso da sociedade. Contudo, hoje existe a tentação de relegar a dimensão espiritual à área particular. Se a referência ao espiritual e transcendental for eliminada da vida pública, torna-se muito fácil definir a pessoa humana em termos meramente biológicos ou sociológicos. Em tal situação, as pessoas correm o perigo de se renderem às forças que desejam e dispõem dos meios para impor os próprios pontos de vista. A experiência do século XX tornou-nos tristemente conscientes daquilo que pode acontecer a grupos e até mesmo a inteiras nações, quando se rejeita qualquer referência a uma lei superior. As nações tradicionalmente cristãs têm a particular responsabilidade de salvaguardar os valores que as tornaram aquilo que são e de haurir desses valores nos seus esforços por defender os direitos fundamentais, inclusive a liberdade religiosa e a liberdade de as minorias seguirem as próprias tradições dentro dos limites daquilo que serve o bem comum.

Embora conte um exíguo número de fiéis, a Igreja católica na Noruega, juntamente com as outras Comunidades cristãs, procura fortalecer os valores que forjaram a Noruega ao longo do último Milénio. O respeito pelos pobres e marginalizados, pelos idosos e portadores de deficiência, a defesa dos direitos das minorias e a promoção da família são importantes elementos da cooperação ecuménica. De igual modo a Igreja, que tem a peito a vocação transcendente e o bem integral da pessoa humana, não pode deixar de ser forte na sua tutela do carácter sagrado de toda a vida humana. Ela está persuadida de que o bem de cada sociedade humana e da própria comunidade política se funda no reconhecimento deste mesmo direito fundamental.

Senhor Embaixador, no momento em que assume as suas responsabilidades como Representante do Reino da Noruega, formulo-lhe cordiais bons votos. Os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento do seus deveres. Ao renovar a expressão da minha estima por Sua Majestade o Rei e pelo povo do seu país, invoco sobre Vossa Excelência as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.




AO NOVO EMBAIXADOR DO SRI LANKA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS


: 18 de Dezembro de 1997



Senhor Embaixador

É com prazer que hoje lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais com que Sua Excelência o Presidente Chandrika Bandaranaike Kumaratunga o nomeia Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Socialista Democrática do Sri Lanka junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas saudações que me transmitiu da parte do Senhor Presidente e peço-lhe que comunique a Sua Excelência a certeza das minhas orações pela paz e prosperidade da nação inteira. Aproveito esta ocasião para afirma mais uma vez o meu profundo respeito pelo povo do Sri Lanka e pela rica herança espiritual e cultural do seu país.

A presença simultânea do Budismo, Hinduísmo, Islão e Cristianismo tem constituído uma fonte de enriquecimento para a sociedade cingalesa. A contribuição dos vários grupos religiosos no Sri Lanka é um valor inestimável para o desenvolvimento da nação no seu sentido mais pleno. Nos seus relacionamentos com outras nações, a Igreja católica segue o caminho do diálogo, e por ocasião da minha visita ao seu país em 1995, Senhor Embaixador, tive a alegria de experimentar pessoalmente a atmosfera de harmonia religiosa que o seu povo forjou ao longo dos séculos. Ao cumprir a sua missão espiritual, a Igreja trabalha no seio da sociedade civil para promover a justiça, a compaixão e o respeito pelo próximo. Uma sociedade que ignora ou negligencia a dimensão espiritual da vida torna-se demasiadamente condicionada pelas considerações materiais, enquanto diminui o seu respeito pelos valores superiores que derivam da dignidade da pessoa humana. Isto leva inevitavelmente à injustiça contra os mais vulneráveis: os pobres, os idosos e as pessoas frágeis. Por este motivo, o tradicional respeito cingalês pela religião é uma dádiva a valorizar e tutelar. Os líderes espirituais devem enfrentar o desafio de assegurar que a religião permaneça uma força em benefício da compreensão e da paz. A sociedade civil deve garantir e assegurar a liberdade religiosa necessária para a coexistência harmoniosa dos vários grupos que formam a nação.

A Santa Sé tem consciência de que o Governo do Sri Lanka se está a empenhar num projecto de Reforma constitucional e aprecia a solicitude do Governo em salvaguardar a longa tradição nacional de liberdade religiosa e de cooperação. Deve desejar que a nova Constituição ajude de maneira concreta a resolver o conflito étnico que tem deteriorado de forma tão grave o tecido da sociedade cingalesa, causando inúmeras vítimas. Vossa Excelência mencionou a complexa estratégia de paz do seu Governo, que inclui a «caravana da paz», destinada a familiarizar o povo com o problema. Qualquer estratégia semelhante só pode esperar no bom êxito se tornar possível um diálogo entre todas as pessoas em conflito. É essencial que todas as partes tenham uma atitude de abertura e, se for necessário, desejem assumir os compromissos que são precisos para equilibrar os interesses opostos. Uma paz justa deve promover a garantia do respeito pelos direitos legítimos de cada um, independentemente da origem étnica, da convicção política ou do credo religioso. Hoje, inúmeras ameaças à paz mundial derivam do contraste estridente entre a riqueza de alguns e a pobreza de muitos. Em inumeráveis ocasiões, a Santa Sé exortou a uma distribuição mais equitativa dos recursos, encorajando as nações mais abastadas a ser mais sensíveis às verdadeiras necessidades das nações em vias de desenvolvimento. As tentativas de resolver as principais dificuldades que se apresentam ao mundo na área do desenvolvimento devem inspirar-se no apreço do mistério transcendente da pessoa humana. Por este motivo, são inaceitáveis os programas de assistência que impõem condições degradantes para a dignidade e a liberdade humanas, ou destróem os valores importantes na cultura de uma nação.

Vossa Excelência mencionou a contribuição da Igreja católica para o progresso social do seu país. No campo da educação, é importante ter em mente a importância crucial da formação integral dos jovens, que são o futuro da nação. Os valores que eles aprendem hoje serão os mesmos que hão-de forjar o tecido social do seu país amanhã. É essencial que eles se tornem conscientes da dimensão espiritual da vida humana e sejam auxiliados a superar as tentações que a cultura materialista lhes pode apresentar. O apreço dos valores morais e a atitude de respeito pelo próximo são tão importantes quanto qualquer habilidade técnica que eles possam adquirir.

Quando os Bispos católicos do Sri Lanka vieram a Roma no ano passado, para a sua Visita ad Limina, falei sobre o facto de que «a contribuição da Igreja para o desenvolvimento integral da sociedade do Sri Lanka consiste em propor uma visão, na qual o progresso económico, político e social caminhe a par e passo com o desenvolvimento religioso, cultural e moral» (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 7 de Setembro de 1996, n. 5, pág. 6). No mais íntimo da pessoa existe a sede de algo que a prosperidade material não pode satisfazer. A presença da Igreja em vários tipos de actividade social e na área da saúde fundamenta-se em primeiro lugar e sobretudo no mandamento do seu divino Fundador, que consiste em amarmos o nosso próximo como a nós mesmos. Ela possui uma missão diferente daquela das Autoridades políticas mas, no serviço da família humana, procura a cooperação activa com todos os homens e mulheres de boa vontade, e com as instituições sociais que mantêm uma justa hierarquia de valores e um entendimento genuíno do bem comum.

Sob a guia dos seus Bispos, os membros da Igreja católica no Sri Lanka estão sempre prontos a cooperar com os seus concidadãos budistas, hindus e muçulmanos no serviço do bem comum. Alguns deles sofreram muito devido ao conflito étnico, mas a sua esperança consiste em ajudar e cooperar nas iniciativas destinadas a garantir uma paz justa e duradoura. Eles continuarão a oferecer o seu contributo específico nas várias áreas do desenvolvimento social, da salvaguarda da vida e do progresso moral e religioso da nação.

Senhor Embaixador, no momento em que assume as suas responsabilidades, faço votos por que os vínculos de amizade existentes entre a Santa Sé e o Sri Lanka sejam fortalecidos ulteriormente. Asseguro-lhe que pode contar com a assistência dos diversos departamentos da Cúria Romana no cumprimento da sua missão. Torno extensivos os meus sinceros bons votos a Vossa Excelência, à sua família e aos seus colegas, e invoco sobre o Senhor Embaixador e sobre o povo cingalês abundantes bênçãos divinas.




AO NOVO EMBAIXADOR DO TOGO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Dezembro de 1997





Senhor Embaixador

1. Seja bem-vindo a esta casa na qual tenho a honra de receber Vossa Excelência, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário do Togo junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as saudações que me dirigiu em nome de Sua Excelência o Senhor Gnassingbé Eyadéma, Presidente da República do Togo. Ficar-lhe-ia grato se se dignasse transmitir-lhe as minhas deferentes saudações. Faço votos por que todo o povo togolês, sempre presente nos meus pensamentos e no meu coração, conheça a prosperidade e a felicidade, numa sociedade cada vez mais fraterna, fundada na justiça e na solidariedade.

2. Alegro-me com o que Vossa Excelência acaba de dizer acerca do empenho do Togo pelo fortalecimento das relações de cooperação e amizade entre os povos. Dado que a África ainda conhece muitos focos de tensão e de graves conflitos fratricidas, é necessário perseverar com convicção nos esforços comuns já empreendidos, a fim de que se estabeleça tanto no interior das nações como entre elas mesmas, uma verdadeira cultura da solidariedade. A busca de soluções apropriadas para os problemas vitais das populações, para que cada uma possa usufruir de condições de vida serenas e decentes, é uma prioridade para estabelecer uma paz duradoura.

3. No seu discurso, Vossa Excelência ressaltou também o objectivo perseguido pelo seu país para estabelecer um Estado de direito. De facto, a sua instauração é indispensável para permitir o afirmar-se duma democracia autêntica. Por conseguinte, a fim de trabalhar de maneira eficaz pelo progresso e desenvolvimento da nação, é dever dos responsáveis do Estado vigiar por que, na vida política e social, todos os cidadãos possam exercer os seus legítimos direitos e, mediante eles, beneficiar das liberdades indispensáveis. Dar a todos a possibilidade de eleger livremente os seus dirigentes e participar nas decisões políticas que orientam a vida comum, é uma prerrogativa essencial que permite conceder não apenas a alguns o que é direito de todos.

A própria liberdade está ordenada para a verdade, de modo particular quando diz respeito à compreensão do que é o homem e à percepção correcta do seu papel na vida social. Com efeito, a dignidade transcendente da pessoa humana deve guiar a acção política para garantir o futuro da liberdade. Como ressaltei em várias ocasiões, «a liberdade só é plenamente valorizada pela aceitação da verdade: num mundo sem verdade, a li- berdade perde a sua consistência e o homem acaba exposto à violência das paixões e a condicionalismos visíveis ou ocultos» (Centesimus annus CA 46).

4. A Igreja católica, no que lhe diz respeito, deseja colaborar com lealdade na busca do interesse comum. Sem dúvida, a sua vocação não é gerir os assuntos públicos. Ela reconhece a legítima autonomia das instituições políticas, bem como a própria liberdade a seu respeito, a fim de poder anunciar sem impedimentos a Boa Nova do Evangelho e recordar as suas exigências. Ela dá um contributo específico à promoção do bem da comunidade nacional, ao discernir e encorajar tudo quanto permite ao homem viver e crescer em conformidade com a sua vocação, bem como combater tudo o que é contrário aos valores evangélicos e o que, por conseguinte em certas circunstâncias, se torna inaceitável.

De facto, para ser fiel à sua missão de serviço do Evangelho, a Igreja não pode deixar de se interessar pelos problemas concretos dos homens. Ao participar através dos seus membros na vida da sociedade, ela não é indiferente ao destino das pessoas e das comunidades humanas nem aos perigos que as ameaçam. É seu dever, então, propor de modo claro os valores que deveriam ser garantidos para que a dignidade e os direitos individuais e colectivos das pessoas sejam respeitados. Em numerosas situações, ela deve fazer-se a voz dos que não se podem exprimir. Pois a sua vocação é contribuir para a edificação duma sociedade justa e reconciliada, na qual todos possam encontrar o seu pleno desenvolvimento humano e espiritual.

Senhor Embaixador, aproveito esta ocasião solene para saudar com afecto todos os Bispos e os membros da comunidade católica do Togo, dos quais conheço o dinamismo evangélico. Encorajo-os vivamente a trabalhar, em união com todos os homens de boa vontade do seu país, para a edificação duma sociedade renovada e fraterna, na qual cada um encontre o seu lugar e possa fazer frutificar os dons que recebeu de Deus. Ao prepararmo-nos para celebrar o grande Jubileu do Ano 2000, convido- os a reanimar a sua esperança e a dar testemunho dela entre os seus irmãos.

5. Senhor Embaixador, no momento em que inicia a sua missão, apresento-lhe os meus melhores votos pela nobre tarefa que o aguarda. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo do qual poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, o povo togolês e quantos presidem ao seu destino, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.



PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PROMOTORES DO CONCERTO


"NATAL NO VATICANO"


: 18 de Dezembro de 1997





Ilustres Senhores e Senhoras

Sinto-me feliz por vos receber neste encontro, que me permite manifestar-vos o meu apreço pela participação no tradicional Concerto «Natal no Vaticano», que já se realiza há cinco anos.

Saúdo e agradeço a todos de coração: aos membros da Orquestra Filarmónica de Montecarlo e aos maestros que a dirigirão, aos coros e aos grupos musicais que se exibirão, bem como a quantos organizaram a noite de gala. Desejo a todos satisfação e alegria, tanto nesta exibição como em qualquer outra iniciativa de carácter artístico e cultural.

Com a vossa participação no concerto de amanhã, manifestais sensibilidade por uma exigência muito sentida pela comunidade cristã de Roma: todos sabem que a iniciativa à qual aderistes generosamente está destinada a sensibilizar a opinião pública para o projecto de construir, até ao ano 2000, cinquenta igrejas para as comunidades paroquiais que ainda não dispõem de uma igreja. Trata-se de realizar, sobretudo nos bairros periféricos, onde recentemente se verificaram novas construções residenciais, lugares acolhedores para o culto, a catequese e as várias actividades sociais, culturais e desportivas. Tudo isto se insere no caminho da nova evangelização, na qual está empenhada de modo activo a Comunidade eclesial de Roma, em vista do Grande Jubileu do Ano 2000.

Ao fazer votos por que a manifestação tenha pleno bom êxito, desejo a cada um de vós serenas festas de Natal, ricas de alegria e paz. Corroboro estes votos com uma especial Bênção Apostólica que, de bom grado, torno extensiva às vossas famílias e entes queridos.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO ARCEBISPO DE LUXEMBURGO EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"








1. No momento em que Vossa Excelência efectua a sua Visita ad Limina, tenho a alegria de o acolher na Casa do Sucessor de Pedro. Para cada Bispo, trata-se de uma ocasião incomparável para confirmar o próprio ministério, orando junto dos túmulos dos Santos Pedro e Paulo, e viver tempos fortes de comunhão eclesial, graças aos diferentes encontros com os membros dos Dicastérios da Cúria. Que os Apóstolos lhe concedam a graça de continuar a sua missão pastoral na alegria, com a força e a luz dadas pelo Espírito Santo!

2. No seu relatório quinquenal, Vossa Excelência fez-me partícipe da vitalidade espiritual da Arquidiocese de Luxemburgo. Na perspectiva do Grande Jubileu e da nova evangelização que a Igreja tem de cumprir no decurso do terceiro milénio, Vossa Excelência empenhou a comunidade diocesana num caminho sinodal, intitulado Igreja 2005: a caminho com Jesus Cristo, juntos em favor dos homens. Assim, de modo oportuno, os pastores e os fiéis foram convidados a contemplar Cristo e o mistério cristão, através de propostas de formação, de um acolhimento constantemente renovado da Palavra de Deus, de um aprofundamento da liturgia e de uma vida comunitária mais intensa. Com efeito, é através de um caminho espiritual e intelectual, que todos os membros do povo de Deus fazem aumentar a sua fé e se empenham mais deliberadamente na missão, cada um segundo o próprio carisma e o serviço que lhe compete na Igreja e na sociedade.

3. Quero prestar homenagem ao trabalho realizado pelos sacerdotes, que se dedicam a transmitir de maneira fiel o Evangelho, o ensinamento da Igreja, em particular a mensagem conciliar, a guiar e santificar o povo cristão, a fim de que todos os homens se tornem discípulos de Cristo. Tenho conhecimento da importância e da multiplicidade das suas tarefas, em especial numa época em que a falta de sacerdotes começa a fazer-se sentir duramente. Exorto-os a não desanimar, a permanecer vigilantes na oração e na vida espiritual. Eles reavivarão assim o dom que Deus neles depositou pela imposição das mãos (cf. 2Tm 1,6), para exercerem plenamente o ministério que lhes é confiado.

4. Os pastores são chamados a realizar a sua missão juntamente com os leigos, de maneira coordenada e sem confusão entre o que compete ao ministério ordenado e o que pertence ao sacerdócio universal dos baptizados. «Cada um, na sua unicidade e irrepetibilidade», deve oferecer-se «para o crescimento da comunhão eclesial como, por sua vez, recebe singularmente e faz sua a riqueza comum de toda a Igreja» (Exort. Apost. Christifideles laici CL 28). Nesta perspectiva em que a riqueza e a diversidade devem ser postas ao serviço de todos, os sacerdotes são convidados «a reconhecer e promover sinceramente a dignidade e a participação própria dos leigos na missão da Igreja» (Conc. Ecum. Vaticano II, Presbyterorum ordinis PO 9). Nas tarefas eclesiais que lhes podem ser confiadas em virtude do seu Baptismo e da sua Confirmação, ou nas associações de leigos em que participam, tendo-se em consideração os critérios de eclesialidade que tive ocasião de recordar (cf. Exort. Apost. Christifideles laici CL 30), os fiéis sabem que não substituem o sacerdote ou o diácono, mas colaboram numa obra comum, a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja, «a evangelização e a santificação dos homens» (Conc. Ecum. Vaticano II, Decreto sobre o apostolado dos leigos, Apostolicam actuositatem AA 20).


Discursos João Paulo II 1997 - 18 de Dezembro de 1997