Discursos João Paulo II 1997 - 10 de Junho de 1997

1. A minha peregrinação na dilecta Pátria chega ao seu termo. Mais uma vez, com o coração e com o pensamento, retorno a cada uma das suas etapas. Às Igrejas locais e às cidades, que me foi dado visitar. Tenho vivas diante dos olhos as multidões de fiéis em oração, que me acompanharam em todos os lugares desta visita. No momento da despedida, caros Compatriotas, desejo mais uma vez saudar-vos a todos. Não quero esquecer ninguém! Saúdo de modo particular a juventude polaca, que em todas as etapas desta visita esteve presente em tão grande número, e em especial em Poznan. Saúdo as famílias polacas, que em Deus sempre encontraram o poder e a força que une. Saúdo aqueles com quem me foi dado encontrar pessoalmente, assim como aqueles que seguiram o desenvolvimento desta visita, por meio da rádio e da televisão, de modo particular os doentes e as pessoas em idade avançada.

Com o coração abraço, mais uma vez, todos vós que vos fadigais — cada um ao seu modo — pelo bem da terra pátria, a fim de que ela se torne uma casa, sempre mais confortável e segura, para todos os Polacos, a fim de que saiba oferecer o seu contributo criativo ao comum tesouro da grande família dos países europeus, à qual pertence há mais de mil anos.

Percorrendo o itinerário desta peregrinação desde a Baixa Silésia, através da Wielkopolska até à Malopolska, até aos Tatra, foi-me de novo dado admirar a beleza desta terra, especialmente a beleza das montanhas polacas, à qual estou tão afeiçoado desde os tempos da minha juventude. Vi as mudanças que ocorrem na minha Pátria. Admirei o espírito empreendedor dos meus Compatriotas, a sua iniciativa e a vontade de trabalhar pelo bem da Pátria. Congratulo-me convosco do mais íntimo do coração por tudo isto! Obviamente, existem numerosos problemas, que exigem uma solução. Estou convicto de que os polacos hão-de encontrar em si mesmos a sabedoria e a perseverança, necessárias para construir uma Polónia justa, que garanta uma vida digna a todos os seus cidadãos — uma Polónia que saiba unir-se em torno dos fins comuns e dos valores fundamentais para cada homem.

2. Agradeço sobretudo à Divina Providência, porque me foi dado servir mais uma vez a Igreja na Polónia, minha Pátria, e todos os meus Compatriotas. Vim aqui para vos servir, caros Compatriotas, no nome de Cristo Redentor do mundo! Esta é a missão da Igreja, à qual ela procura ser fiel.

Ao dar graças a Deus pelo dom desta visita, é necessário exprimir o agradecimento também aos homens, graças aos quais ela pôde ser realizada e teve um desenvolvimento tão bonito. Nas mãos do Senhor Presidente da República da Polónia deponho, mais uma vez, o meu agradecimento pelo convite que me foi dirigido em nome das Autoridades do Estado, e também pelo contributo na realização positiva desta peregrinação. Muito obrigado por todas as manifestações de colaboração benévola e de disponibilidade a ajudar, onde era necessário. Dirijo palavras de gratidão também aos Representantes das Autoridades locais, que não pouparam fadiga nem meios, para que a visita pudesse realizar- se de modo eficiente e digno. Seria necessário aqui citar as Autoridades locais de todas as cidades, atravessadas pelo percurso desta viagem: Wroclaw, Legnica, Gorzów, Wielkopolski, Gniezno, Poznan, Kalisz, Czestochowa, Zakopane, Ludzmierz, Cracóvia, Dukla e Krosno. Agradeço também à Rádio, à Televisão, aos jornalistas e a todos os que colaboraram para transmitir à opinião pública notícias precisas e amplas, referentes à peregrinação papal na Polónia. Estou grato por todos os gestos de boa vontade e pela disponibilidade à cooperação. Deus vos recompense por um acolhimento tão hospitaleiro! Agradeço à polícia, ao exército e a todos aqueles que durante a viagem inteira cumpriram a própria tarefa com dedicação e ardor.

3. Especiais palavras de reconhecimento dirijo-as neste momento à inteira Igreja na Polónia, depondo o meu agradecimento nas mãos do Episcopado polaco aqui presente, tendo à frente o Cardeal Primaz. Mais uma vez agradeço o convite para vir à Pátria, bem como toda a fadiga pastoral e organizativa, enfrentada na preparação e no desenvolvimento da peregrinação. Em cada etapa desta visita percebeu-se um grande recolhimento e um grande empenho. Na base de todos estes encontros de oração havia, de facto, um concorde esforço pastoral dos Bispos, dos presbíteros, dos religiosos e das religiosas, e também da inteira multidão dos católicos leigos. Congratulo-me por este intenso trabalho e faço votos por que produza frutos duradouros na vida da Igreja e da Polónia.

Penso que esta visita foi, de algum modo, diferente das precedentes, mas que ao mesmo tempo confirmou a continuidade espiritual desta Nação e desta Igreja. Durante a visita, a Igreja na Polónia revelou-se mais uma vez como uma Igreja consciente da própria missão, uma Igreja de grande trabalho evangelizador nas condições novas em que lhe é dado viver.

Entre os agradecimentos não pode faltar uma palavra especial à Igreja de Wroclaw, que foi sede do 46° Congresso Eucarístico Internacional. Nas mãos do Cardeal Arcebispo Metropolitano de Wroc³aw deposito a expressão de um cordial agradecimento pela fadiga da organização deste Congresso, mediante o qual a Igreja na Polónia teve ocasião de prestar serviço à Igreja universal.

4. «Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade» (He 13,8). Estas palavras da Carta aos Hebreus constituíram o fio condutor desta minha visita à Pátria. A Igreja, que se está a preparar para o Grande Jubileu, fixa este ano o olhar da fé na figura de Cristo Redentor do homem. Em cada uma das etapas desta visita, procurámos juntos ler qual é o lugar que Cristo ocupa na vida dos indivíduos e na vida da Nação. Isto foi-nos recordado pelo Congresso Eucarístico de Wroclaw e pelo histórico encontro de Gniezno, junto do túmulo de Santo Adalberto, onde celebrámos o milénio do seu martírio. Adalberto recordou- nos o dever de construir uma Polónia fiel às suas raízes. Isto foi-nos também recordado pelo jubileu da fundação da Universidade Jagelónica de Cracóvia, e de modo especial da sua Faculdade de Teologia.

A fidelidade às raízes não significa uma duplicação mecânica dos modelos do passado. A fidelidade às raízes é sempre criativa, disposta a descer às profundezas, aberta aos novos desafios, sensível aos «sinais dos tempos». Exprime-se também na solicitude pelo desenvolvimento da cultura nativa, na qual o elemento cristão esteve presente desde o início. A fidelidade às raízes significa sobretudo a capacidade de construir uma síntese orgânica entre os valores perenes, que se confirmaram tantas vezes na história, e o desafio do mundo de hoje, entre a fé e a cultura, entre o Evangelho e a vida. Faço votos aos meus compatriotas e à Polónia por que saibam ser, precisamente deste modo, fiéis a si mesmos e às raízes de que cresceram. A Polónia fiel às suas raízes. A Europa fiel às suas raízes. Neste contexto, adquiriu uma importância histórica a participação dos Presidentes da República Tcheca, Alemanha, Hungria, Eslováquia, Lituânia, Ucrânia e Polónia, nas celebrações relativas a Adalberto, e por isto estou-lhes muito grato.

Durante esta peregrinação realizei a canonização e a beatificação de Santos e Beatos Polacos: Santa Rainha Edviges, São João de Dukla, a Beata Maria Bernardina Jab³oñska e a Beata Maria Kar³owska. Os Santos da Igreja são uma revelação particular dos mais altos horizontes da liberdade humana. Dizemnos que o destino definitivo da liberdade humana é a santidade. Por isso é tão incisiva a eloquência da canonização e da beatificação, que realizei no decurso desta visita.

5. No momento da despedida eu quis compartilhar estes pensamentos com todos vós, caros Irmãos e Irmãs. A profundidade do conteúdo espiritual encerrado neste meu encontro convosco, no encontro com a Igreja na Polónia, ultrapassa obviamente o âmbito deste breve discurso. Ao despedir-me de vós, elevo a minha oração para que esta sementeira produza frutos abundantes, segundo a vontade do Senhor da messe. O Senhor da messe é Cristo, e todos nós somos seus «servos inúteis» (cf. Lc Lc 17,10).

Os momentos do adeus são sempre difíceis. Despeço-me de vós, dilectos Compatriotas, com a profunda consciência de que esta despedida não significa a ruptura do ligame que me une a vós — que me une à minha dilecta Pátria. Retornando ao Vaticano levo no meu coração todos vós, as vossas alegrias e as vossas preocupações, levo comigo toda a minha Pátria. Quereria que recordásseis que na «geografia da oração do Papa » pela Igreja universal e pelo mundo inteiro, a Polónia ocupa um lugar particular. Ao mesmo tempo peço-vos, segundo o exemplo do Apóstolo São Paulo, que me reserveis um pouco de espaço nos vossos corações (cf. 2Co 6,11-13) e nas vossas orações, a fim de que eu possa servir a Igreja de Deus, até quando Cristo mo pedir.

Deus vos recompense pela hospitalidade! Abençoe a minha Pátria e todos os meus Compatriotas!









DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES DE UM ENCONTRO


PROMOVIDO PELO PONTIFÍCIO


CONSELHO PARA A FAMÍLIA


13 de Junho de 1997



Senhor Cardeal
Amadíssimos Irmãos no Episcopado
Ilustres Senhoras e Senhores

É-me muito grato receber-vos, distintos participantes no Encontro destes dias sobre «A família ante as alterações cerebrais dos seus filhos». Em primeiro lugar, desejo agradecer as amáveis palavras do Senhor Cardeal Alfonso López Trujillo, Presidente do Pontifício Conselho para a Família, que juntamente com a benemérita Instituição CEFAES (Centro de Educação Familiar Especial) promoveu tão louvável iniciativa, em união também com o Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, cujo Presidente, D. Javier Lozano Barragán, participa também nesta Audiência.

A família, como âmbito integrante de todos os seus membros, é uma comunidade solidária onde o amor se torna mais responsável e solícito, mesmo diante daqueles que, pela sua especial situação, necessitam de uma atenção mais próxima, paciente e carinhosa, por parte de todos os membros e, de modo mais concreto, dos pais. No seio da sociedade há todo um conjunto de tarefas ou de mediações sociais, que a família pode e deve desenvolver com particular competência e eficácia, em união com outras instituições. Com frequência a participação da família como sujeito social abre muitas portas e cria fundadas esperanças para a recuperação dos próprios filhos. Este é o âmbito preciso que vós estais a enfrentar, com a colaboração de investigadores, peritos e pessoas comprometidas neste campo. Por isso me é grato encorajar o vosso trabalho e preocupação, que vos anima a ajudar as famílias nessas necessidades.

A família, lugar do amor e da solicitude pelos membros mais necessitados, pode e deve ser a melhor colaboradora da ciência e da técnica, ao serviço da saúde. Às vezes algumas famílias se vêm postas à prova — à dura prova — quando nascem filhos com alterações cerebrais. Estas são situações que requerem dos pais e dos demais membros da família uma fortaleza e uma solidariedade especial.

O Senhor da vida acompanha as famílias que acolhem e amam os seus filhos com alterações cerebrais sérias, e que sabem como é grande a dignidade deles. Reconhecem também que a origem da sua dignidade de pessoas humanas está em ser filhos predilectos de Deus, que os ama pessoalmente e com amor eterno. Sustentada e protegida pelo amor divino, a família converte-se em lugar de entrega e esperança, na qual todos os membros fazem convergir as suas energias e cuidados para o bem dos filhos necessitados. Com efeito, vós sois testemunhas privilegiadas e, ao mesmo tempo, testemunho de tudo o que pode alcançar o verdadeiro amor.

Como mostram os programas que estão a ser levados a cabo em diversas nações — por exemplo o «Programa Leopoldo » —, depois de uma atenção paciente, laboriosa e bem disposta às possibilidades que oferece a ciência no seio mesmo das famílias, obtêm-se conquistas surpreendentes de recuperação de crianças nascidas cegas, surdas e mudas. É como um milagre do amor que não só permite o desenvolvimento cerebral progressivo, mas situa o filho no centro das suas atenções. Com essa ajuda e com a colaboração de todos cresce a comunidade de amor e de vida que é a família, formada na presença e sob o olhar paterno de Deus. D’Ele chegam a muitos lares novas energias na dor e serenidade no sofrimento, para acolherem a enfermidade e, em não poucos casos, buscarem os remédios e recursos mais adequados.

A família é uma comunidade insubstituível para estas situações, e não unicamente pelos custos ingentes que certos cuidados requerem das Instituições de saúde, mas pela qualidade, disposição e ternura dos cuidados solícitos, que só os pais sabem oferecer de maneira abnegada aos seus filhos. Estas famílias, sem serem substituídas na atenção para com os filhos, deveriam receber da comunidade que as circunda e de toda a sociedade as ajudas necessárias para tornar mais efectiva essa atenção. Neste sentido, deve-se destacar a importância das associações de pais, que têm em vista pôr em comum experiências, ajudas e meios técnicos ao serviço das famílias com tais necessidades.

Programas e acções como os que desenvolveis, contando com o apoio da Igreja, são um prolongamento do Evangelho da vida, a partir da própria família. Continuai, portanto, a fixar a vossa atenção no lar de Nazaré, cujo centro era o Deus Menino. Com efeito, na Sagrada Família de modo algum esteve ausente a espada da dor (cf. Lc Lc 2,35), iluminada pela esperança que vem do alto. Como Maria, que com alma contemplativa conservava e ponderava tudo no seu coração (cf. Lc Lc 2,19 Lc Lc 2,51), obediente à vontade de Deus, também vós, com fé e caridade ardentes, levai a esperança a tantas outras famílias, com o vosso compromisso e experiência.

Com estes vivos sentimentos e invocando abundantes dons do Senhor sobre as vossas pessoas e as vossas actividades neste âmbito importante da vida familiar, concedo-vos com afecto a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA NAMÍBIA NA SUA PRIMEIRA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


COMO CONFERÊNCIA EPISCOPAL


Sábado, 14 de Junho de 1997



Queridos Irmãos em Cristo!

1. No amor do Salvador, saúdo cordialmente toda a Igreja de Deus na Namíbia, e dou-vos as boas-vindas, Pastores da Arquidiocese de Windhoek, da Diocese de Keetmanshoop e do Vicariato Apostólico de Rundu. Como Conferência Episcopal, é a primeira vez que vindes a Roma em visita «ad limina Apostolorum»: para venerar os túmulos dos Bem-aventurados mártires Pedro e Paulo, cujo sangue selou o serviço singular desta «grandíssima e antiquíssima Igreja» (Santo Ireneu, Adv. Haer.3.3.2), para «ver Pedro» (cf. Gl Ga 1,18) na pessoa do seu Sucessor e para prestar contas da vossa administração (cf. Lc Lc 16,2). Podemos de novo alegrar-nos juntos, porque a boa semente do Evangelho está a produzir uma abundante colheita no vosso País, tão promissora no seu vigor juvenil. A reordenação da sua hierarquia em 1994, a instauração das relações diplomáticas entre a Namíbia e a Santa Sé em 1996, e a recente formação da Conferência dos Bispos Católicos da Namíbia são sinais positivos de que o Senhor iniciou a Sua boa obra em vós e haverá de completá-la (cf. Fl Ph 1,6).

Como Pastores da Igreja, sois os guardiães e os construtores da comunhão eclesial, cuja fonte mais profunda é a co-participação dos crentes na vida íntima da Trindade. Um forte sentido de comunhão eclesial permitir-vos-á realizar o vosso ministério pastoral, num espírito de amorosa cooperação com os sacerdotes, os religiosos e os leigos. Como Pastores sábios tendes o dever de promover os diferentes dons e carismas, vocações e responsabilidades que o Espírito confia aos membros do Corpo de Cristo. Ao mesmo tempo, deveis discernir com fervor e prudência a autenticidade das acções do Espírito (cf. Christifideles laici CL 24) e actuar em prol da comunhão e da cooperação afectiva e efectiva de todos. O vosso ministério tem em vista reunir o Povo de Deus numa fraternidade inspirada pela caridade, solidamente ancorada no seu único fundamento, a presença viva de Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb He 13,8).

2. A respeito disso, é particularmente importante promover entre todos os católicos na Namíbia um vivo sentido de responsabilidade comum pela missão e pelo apostolado da Igreja. Sede sempre desejosos de escutar os vossos sacerdotes e o vosso povo, de dar conselhos prudentes e, em relação aos leigos, de os sustentar na sua vocação a fim de que «procurem o Reino de Deus, tratando das realidades temporais e ordenando- as segundo Deus» (Lumen gentium LG 31). Tenho confiança em que, para o bem da Igreja, fareis todos os esforços para formar um laicado amadurecido e responsável, em «apropriados centros e escolas de formação bíblica e pastoral», onde se presta a devida atenção a uma «sólida formação na doutrina social da Igreja» (Ecclesia in Africa ). Encorajai os fiéis leigos no testemunho que desejam oferecer, de honestidade na administração pública, de respeito pela lei, de solidariedade com os pobres, de promoção da igual dignidade das mulheres e de defesa da vida humana, desde a concepção até à morte natural.

3. Vós construís uma comunidade de Igrejas particulares sobretudo com a ajuda daqueles a quem São Paulo chama «colaboradores de Deus» (1Co 3,9 cf. 1Th 3,2), ou seja, os sacerdotes, com os quais tendes vínculos de irmandade fraterna e apostólica, forjada pela graça das Ordens sagradas. Ainda que sejam muito poucos para satisfazer todas as vossas exigências, eles estão a levar avante a obra de Deus com empenho generoso, lutando com honestidade para oferecer uma imagem nítida de Cristo, o Sumo Sacerdote (cf. Pastores dabo vobis PDV 12). Os sacerdotes chamados Fidei donum continuam a evidenciar «de modo singular o vínculo de comunhão entre as Igrejas» (Redemptoris missio, RMi 68), e oro para que o seu empenho pela Namíbia se revigore. Mais numerosos são os sacerdotes religiosos, cuja presença é uma grande fonte de enriquecimento. As tradições espirituais e apostólicas dos seus Institutos oferecem uma inestimável contribuição à vossa vida eclesial. Sempre fiéis aos seus carismas de fundação, homens e mulheres consagrados demonstram o seu amor autêntico para com a Igreja, trabalhando «em plena comunhão com o Bispo no âmbito da evangelização, da catequese, da vida das paróquias» (Vita consecrata VC 49).

A insuficiência numérica de sacerdotes e de religiosos, que significa também que muitas comunidades estão privadas da regular celebração da Missa dominical e dos outros sacramentos, deveria suscitar nas famílias, nas paróquias e noutros Institutos de Vida Consagrada uma ardente oração ao Senhor da messe (cf. Mt Mt 9,38) por um aumento das vocações. O facto de a Arquidiocese de Windhoek estar a fundar um Seminário, é um sinal certo de crescimento da maturidade eclesial. As minhas orações unem-se às da Igreja na Namíbia, a fim de poderdes contar com sacerdotes mais numerosos que, com fidelidade, imitem a Cristo, Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja, de maneira a poderdes ser agentes de evangelização sempre mais eficientes. De igual modo uno-me a vós ao pedir ao Senhor da messe que envie em maior número religiosos, homens e mulheres, para satisfazer as necessidades dos irmãos.

4. Sei que procurais promover uma fecunda cooperação ecuménica e encorajo- vos, nesta nova fase da vossa vida nacional, a escutar com atenção a voz do Espírito (cf. Ap Ap 2,7), que está a promover novas iniciativas ecuménicas. A acção conjunta dos cristãos da Namíbia, em prol da reconciliação e da promoção de sólidos valores familiares e de sadios princípios éticos, é uma forma poderosa de proclamação que revela o rosto de Cristo na vossa nação (cf. Mt Mt 25,40). Ela tem «o valor transparente de um testemunho prestado unanimemente ao nome do Senhor» (Ut unum sint UUS 75).

Convido-vos a unir-vos à Igreja inteira que se prepara para cruzar o limiar do terceiro milénio cristão. Exorto-vos a «elevar ao Senhor instantes preces para obter as luzes e auxílios necessários para a preparação e a celebração do Jubileu, já próximo... (o Espírito) não deixará de mover os ânimos para se disporem a celebrar com renovada fé e generosa participação o grande evento jubilar » (Tertio millennio adveniente, TMA 59). Agradeço-vos os esforços incansáveis que realizais em nome do Evangelho, e oro para que vós, assim como todos os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os catequistas, as famílias, os jovens e os leigos nas vossas Igrejas particulares, sejais por Deus confirmados na fé, na esperança e na caridade (cf. Lc Lc 22,32). Ao confiar-vos a Maria, Mãe do Redentor, oro para que, pela sua intercessão, o Espírito Santo reavive «o dom de Deus que está em vós» (cf. 2Tm 1,6) e vos cumule de alegria e de paz.

Com a minha Bênção Apostólica.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO


DO PONTIFÍCIO COLÉGIO SÃO PEDRO APÓSTOLO


14 de Junho de 1997





Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio!

1. Tenho o prazer de vos acolher, por ocasião do quinquagésimo aniversário da fundação do Pontifício Colégio São Pedro Apóstolo, ocorrência celebrada a 22 de Fevereiro passado, festa da Cátedra de São Pedro.

Dirijo uma saudação muito particular aos Senhores Cardeais Bernardin Gantin e Francis Arinze, que foram alunos do Colégio. Saúdo, além disso, o Cardeal Jozef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, da qual o Colégio depende. O meu pensamento dirige-se depois ao Reitor, Padre Manfred Müller, e na sua pessoa desejo exprimir um caloroso agradecimento a todos os Padres e Irmãos Verbitas, que nestas décadas cooperaram na gestão do Instituto; assim como agradeço às Religiosas a sua preciosa contribuição.

2. No início dos anos quarenta D. Celso Costantini, Presidente da Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo, promoveu a construção de um Colégio urbano para os sacerdotes provenientes dos Países de missão, enviados a Roma para aperfeiçoar os estudos eclesiásticos. O novo Instituto foi erigido canonicamente pela Sagrada Congregação «de Propaganda Fide» no dia 18 de Janeiro de 1947. No ano sucessivo, na vigília da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, o Papa Pio XII, precisamente por ocasião da inauguração do Colégio, dirigiu aos sacerdotes indígenas de todos os territórios de missão uma especial Exortação Apostólica. Três anos mais tarde, na Encíclica Evangelii praecones , ao falar dos desenvolvimentos do apostolado missionário, o meu venerado Predecessor mencionou também o «Colégio São Pedro no Janículo », «no qual — escrevia — os sacerdotes indígenas se formam de modo mais aprofundado e mais adequado nas disciplinas sagradas, na virtude e no apostolado» (Pio XII, Carta Enc. Evangelii praecones sobre o desenvolvimento do apostolado missionário, 2 de Junho de 1951, AAS XLIII [1951], 500).

3. Não me foi possível, caríssimos, ir encontrar-vos no Colégio, como seria o meu vivo desejo e como fez o Papa Paulo VI, por ocasião do vigésimo quinto aniversário de fundação, quando ali celebrou uma memorável Missa de Pentecostes. Naquela singular circunstância, ele assim se dirigiu aos estudantes: «Nós vemos em vós, Irmãos e Filhos caríssimos, candidatos ao ministério missionário, representado o coro dos Povos, na realidade e na promessa, que de modo uníssono e cada um com a própria voz, anuncia a salvação em Cristo Senhor» (Insegnamenti di Paolo VI, X [1972], 538). No clima do Pentecostes, o Colégio São Pedro Apóstolo mostrava-se na plenitude da sua vocação «católica»: «casa cheia de caridade e de verdade, construída para o anúncio da nossa Fé ao mundo inteiro... Fé... actual e viva, única e universal, dinâmica e apostólica » (ibid.).

4. Hoje, olhando para estes cinquenta anos que constituem a segunda metade do vigésimo século, é espontâneo pensar: quantas mudanças no mundo e na Igreja! Ao mesmo tempo, no limiar do terceiro milénio, enquanto a humanidade parece mais que nunca necessitada de verdade, de justiça e de esperança, a Igreja renova a sua mensagem imutável: «Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade!» (He 13,8). Eis, então, mais que nunca válidas e actuais as motivações que impeliram a criar este Instituto. Ele apresenta-se hoje como instrumento precioso ao serviço da nova evangelização, daquela Redemptoris missio que, «confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento », antes, «está ainda no começo» e pede que «nos empenhemos com todas as forças no seu serviço» (Redemptoris missio RMi 1).

Para responder de modo fiel e adequado ao mandato de Cristo, os ministros do Evangelho têm necessidade de ambientes adaptados à formação, como o Cenáculo foi indispensável para o grupo dos Doze. O Colégio São Pedro Apóstolo é um autêntico cenáculo de formação apostólica, no qual sacerdotes de todas as partes do mundo se empenham a fundo na oração, no estudo e na vida fraterna, para que o seu ministério seja plenamente conforme às exigências da missão da Igreja e o Evangelho prossiga a sua caminhada até aos extremos confins da terra.

São estes, caríssimos, o meu pensamento e os meus votos, ao olhar hoje para vós. É esta a minha oração, por intercessão da Rainha e do Príncipe dos Apóstolos. E enquanto confio ao Senhor os quase dois mil sacerdotes que nestes cinquenta anos se formaram entre as paredes hospitaleiras do Colégio São Pedro Apóstolo, de coração concedo-vos, formadores e estudantes de hoje, e a todos os presentes a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES DAS REUNIÕES DAS OBRAS


PARA A AJUDA ÀS IGREJAS ORIENTAIS (ROACO)


19 de Junho de 1997





Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caros Membros e Amigos da ROACO!

1. Dirijo a todos vós as minhas cordiais boas-vindas, por ocasião da vossa reunião anual entre membros da ROACO e Oficiais da Congregação para as Igrejas Orientais. Saúdo, antes de tudo, o Senhor Cardeal Achille Silvestrini, a quem agradeço as cordiais palavras com que interpretou os comuns sentimentos de afectuosa devoção e mencionou as múltiplas actividades em que estais empenhados. Além disso, saúdo o Secretário da Congregação, D. Miroslav Marusyn, e o Subsecretário, Pe. Marco Brogi. É-me também grato saudar o Arcebispo Datev Sarkissian, que veio em representação de Sua Santidade Karekin I, Catholicos de todos os Arménios, ao qual envio por seu intermédio uma saudação fraterna, na recordação sempre viva dos encontros cordiais de Dezembro passado. Saúdo, por fim, todos vós aqui presentes, e exprimo a cada um satisfação e gratidão pelo trabalho realizado.

Estou contente por me encontrar convosco hoje, na conclusão da vossa Assembleia, porque me é dado fazer notar que, apesar das actuais dificuldades económicas, não diminuiu o empenho de generosidade que anima as Obras que vós representais. Como eu recordava na Carta Apostólica Orientale lumen, «as comunidades do Ocidente estão prontas para favorecer em tudo (...) a intensificação deste ministério de diaconia, pondo à disposição de tais Igrejas a experiência adquirida em anos de exercício mais livre da caridade. Ai de nós, se a vantagem de um fosse causa da humilhação do outro ou de estéreis e escandalosas competições! Da sua parte as comunidades do Ocidente considerarão, antes de mais, um dever de partilhar, onde for possível, projectos de serviço com os irmãos das Igrejas do Oriente, ou de contribuir para a realização de tudo aquilo que elas empreenderão ao serviço dos seus povos» (n. 23).

Ainda tenho muito viva na alma a recordação da minha recente visita às Igrejas do Líbano, às quais entreguei a Exortação pós-Sinodal «Uma esperança nova para o Líbano». Nela recordei que a missão eclesial pressupõe o empenho de todos e a firme vontade de valorizar os carismas de cada pessoa e as riquezas espirituais de cada comunidade, para ser fermento de unidade e de fraternidade. Isto realiza-se também através «de um intercâmbio de dons entre todos, com particular atenção pelos mais pobres, o que constitui um serviço característico da Igreja católica para com todos» (n. 118).

2. No futuro a ROACO inserir-se-á, de modo cada vez mais activo, na obra que a Congregação para as Igrejas Orientais, impelida pelas recentes mudanças políticas, iniciou: a ampliação da perspectiva geral de serviço às Igrejas Orientais católicas, através duma obra de apoio e promoção no seu caminho, em condições bastante diversas. Elas, com efeito, restituídas à nova liberdade, interrogam-se de maneira cada vez mais sistemática sobre o modo de viver a sua específica identidade oriental, no contexto da Igreja católica. Neste processo tão importante, a Congregação para as Igrejas Orientais sente que é seu dever mostrar a solicitude da Igreja universal, inspirando e promovendo, juntamente com elas, novas iniciativas no sector dos estudos, do aprofundamento da liturgia, da espiritualidade e da história, no empenho formativo e na projectação pastoral prática. Paralelamente, e de modo complementar, a Congregação com razão empenha-se a fim de que também a Igreja no Ocidente valorize, com sensibilidade sempre maior, o contributo das Igrejas Orientais católicas, favorecendo assim uma expressão cada vez mais completa da própria catolicidade. Peço-vos que sustenteis e ajudeis a Congregação nesta sua actividade crescente, que se tornará sempre mais exigente no tempo.

Um exemplo prático dessas iniciativas é constituído pelo próximo encontro dos Bispos e dos Superiores Religiosos das Igrejas Orientais católicas da Europa, que se realizará em Hajdúdorog, na Hungria, de 30 de Junho a 6 de Julho próximos, e terá como tema a identidade dos Orientais católicos. Trata-se de um evento deveras importante, que une no encontro, na reflexão e na escuta comum todos os que trabalham no Dicastério para as Igrejas Orientais e os responsáveis daquelas Igrejas, que pagaram um preço tão elevado pela sua fidelidade a Cristo e à Sé romana e que, pela primeira vez, se encontram todas juntas, após décadas de separação e de perseguição. O encontro, querido pela Congregação, exprime bem aquele estilo pastoral que sempre em maior medida, é requerido dos Dicastérios da Cúria Romana, e se apresenta como ocasião providencial para que os Orientais católicos possam reavivar a herança dos seus mártires, crescer na consciência das novas exigências pastorais e enfrentar com fé e generosidade a não fácil situação do ecumenismo, no qual o seu papel é constantemente recordado. Desejo à iniciativa, que abençoo de coração, todo o sucesso e abundância de frutos espirituais.

3. Desejo confirmar também quanto a Congregação para as Igrejas Orientais está a fazer para os Seminaristas e os Sacerdotes, para os Religiosos e as Religiosas, que são enviados a Roma pelos seus Bispos e Superiores para completar a sua formação e levar a bom termo os estudos eclesiásticos. É necessário que eles sejam ajudados a encontrar, nos seus ambientes educativos e de estudo, um forte clima de fé, o hábito da oração bíblica, a atenção à qualidade da vida espiritual, o testemunho de comunhão e de estima entre todos os que, a vários níveis, os acompanham, a paixão apostólica ao serviço do Reino de Deus e das suas Igrejas de proveniência.

Para outro aspecto é-me grato chamar a atenção da ROACO e da Congregação para as Igrejas Orientais. Na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, em várias ocasiões em ordem às diversas etapas do Grande Jubileu, recordei a Terra Santa. Ela tem sido sempre objecto de predilecção singular na Igreja inteira.

Desde o início da fé cristã a comunidade de Corinto e as Igrejas da Galácia, animadas pelo zelo do apóstolo Paulo, punham à parte «o que conseguiam poupar» e enviavam «o dom da sua liberalidade a Jerusalém» (cf. 1Co 16,1-4). O costume de ajuda solidificou-se em várias iniciativas, entre as quais particular relevo reveste hoje a «Colecta para a Terra Santa».

Se a terra de Jesus está no coração de todos os fiéis, não pode acontecer que aquela comunidade cristã viva situações de dificuldade social e que, por causa de algumas formas de indigência, aqueles irmãos cheguem a abandonar o seu País em busca de condições mais dignas de vida.

Convido, pois, de modo caloroso a Igreja inteira a recordar que tudo o que em geral se faz por ocasião da Sexta- Feira Santa em favor da Terra Santa, é um gesto de extraordinária e imperiosa fraternidade, que exprime de maneira real o que significa a terra de Jesus para todos os cristãos.

4. Caros membros da ROACO, o Papa sabe que vos dedicais tanto à formação das pessoas como ao bom funcionamento das estruturas, que tendes a peito não só a solidariedade entre os cristãos mas também os projectos de humanização em prol das populações indigentes ou provadas pelo subdesenvolvimento, que favoreceis as obras das comunidades católicas e de igual modo o diálogo entre os cristãos e entre as diferentes religiões. Exprimo-vos a minha satisfação pelas respostas que dais aos pedidos que vos chegam, mas manifesto também o reconhecimento destes povos e dessas comunidades que, graças à obra da Congregação para as Igrejas Orientais e da ROACO, vêem ajudados os seus esforços para uma mais intensa retomada da iniciativa apostólica e sentem estes gestos de participação provenientes de um amor genuíno e mais universal.

A Virgem de Nazaré, Mãe do Redentor, vos confirme nos vossos propósitos e vos mantenha em constante escuta da Sua voz materna: «Fazei o que Ele vos disser» (Jn 2,5).

Em penhor da assistência divina, de coração concedo-vos a minha Bênção, que de muito bom grado faço extensiva a todas as Igrejas e aos Organismos que representais e a favor das realidades tão diversas pelas quais trabalhais.




Discursos João Paulo II 1997 - 10 de Junho de 1997