Discursos João Paulo II 1997 - 12 de Setembro de 1997

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PARTICIPANTES


NA PEREGRINAÇÃO DO SENEGAL


Sábado, 13 de Setembro de 1997



Caros peregrinos do Senegal

É com prazer que vos acolho, no termo da vossa peregrinação nacional. Saúdo cordialmente D. T.-A. Sarr, Bispo de Kaolack e Presidente da Conferência Episcopal, que guia a vossa caminhada.

O vosso itinerário conduziu-vos a três lugares importantes. A etapa central do vosso périplo foi a visita à Terra Santa, que permanece uma fonte e uma referência essencial, a terra do povo eleito, a terra onde Se encarnou o Filho de Deus, na qual Ele anunciou o Evangelho e cumpriu o acto fundamental da nossa Redenção. Espero que, ao retorno desta peregrinação seguindo os passos de Jesus, vos apresenteis de novo revigorados na fé no único Mediador entre Deus e os homens, e no Espírito do Pentecostes que, a partir do Cenáculo de Jerusalém, lançou o grande movimento da evangelização.

Em Fátima, honrastes a Mãe do Senhor, Ela que esteve presente nos momentos essenciais da missão messiânica de Cristo e nos acompanha ao longo da história da Igreja. Nela nos é proposto o mais belo modelo da fé e da oração. Oxalá a vossa meditação do rosário seja enriquecida pela vossa peregrinação!

A oração junto dos túmulos de Pedro e de Paulo dá todo o seu alcance da vossa vinda a Roma. O martírio dos Príncipes dos Apóstolos fez desta Cidade o centro da Igreja universal, centro da unidade da fé e da missão. Que a intercessão dos Santos Pedro e Paulo vos ajude a tomar toda a vossa parte na vida das vossas dioceses, em comunhão com a Igreja inteira!

Ao agradecer-vos a vossa visita, uno-me à vossa oração pela Igreja no Senegal, pelas vossas famílias e por todo o vosso povo. De todo o coração, dou-vos a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS BISPOS DO SUDÃO

POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


18 de Setembro de 1997



Caros Irmãos no Episcopado

1. Ao dar-vos as boas-vindas, Bispos do Sudão, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum, recordo a minha visita ao vosso País há quatro anos. Com grande alegria e satisfação fui a Cartum, ainda que não fosse possível visitar outras áreas, pois para mim era importante dirigir a mensagem de reconciliação e de esperança, a mensagem que está no centro do Evangelho, ao inteiro povo sudanês, sem distinções de religião ou de origem étnica. Senti-me particularmente feliz pela oportunidade de oferecer encorajamento aos habitantes do vosso país, que são filhos e filhas da Igreja, e cuja mais profunda aspiração é viver em paz e trabalhar juntamente com os seus concidadãos, para edificar uma sociedade melhor para todos. Ao dar graças a Deus por me ter permitido aquela visita, estou grato também «pela graça que Ele vos concedeu em Jesus Cristo..., o Qual vos confirmará até ao fim» (1Co 1,4 1Co 1,8).

2. Infelizmente, o Sudão ainda se encontra em estado de grande agitação. O tormento de uma guerra civil que causou indizível miséria, sofrimento e morte, sobretudo no Sul, continua a afligir a terra e a tirar a vida e as energias do vosso povo. As vossas comunidades são profundamente atingidas pela ruptura das boas relações que deveriam existir entre cristãos e muçulmanos. Apesar da pobreza do vosso povo e da sua consequente debilidade em relação aos padrões mundiais, o Senhor não vos abandonará. Através do Profeta Isaías, Ele continua a dizer-vos: «Eu nunca vos esquecerei » (Is 49,15).

O Senhor ouve a voz das vítimas inocentes, dos fracos e dos indefesos que O invocam para receber auxílio, justiça e respeito pela dignidade de seres humanos, que Deus lhes conferiu, pelos seus direitos humanos fundamentais, pela liberdade de professarem e praticarem a sua religião, sem temor nem discriminação. A fé cristã ensina-nos que as nossas orações e os nossos sofrimentos se unem aos do próprio Cristo que, como Sumo Sacerdote do povo santo de Deus, entrou no Santuário para interceder por nós (cf. Hb He 9,11-12). Como fez certa vez sobre a terra, assim agora da casa do Pai Ele nos diz: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos e aliviar-vos-ei» (Mt 11,28). Enquanto as palavras do Seu convite ressoam nos nossos ouvidos, Ele acrescenta: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis alívio para as vossas almas» (Mt 11,29).

Estas são as palavras de Cristo, o único que conhece o Pai e o único a ser conhecido pelo Pai como Filho Unigénito. Repito hoje estas palavras a vós, Bispos do Sudão, e por meio de vós a todos os fiéis confiados à vossa solicitude. Como escrevi no ano passado às Dioceses do Sudão Meridional: «Sabei que o Sucessor de Pedro está próximo de vós e pede a Deus por vós, para que tenhais a força de prosseguir o caminho “enraizados e edificados sobre Jesus Cristo” (cf. Cl Col 2,7)» (Mensagem aos católicos do Sudão Meridional, 24 de Outubro de 1996, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 7 de Dezembro de 1997, pág. 4). Renovo estes sentimentos e encorajo- vos a permanecer firmes e a não desanimar. O Senhor está ao vosso lado! Jamais vos abandonará. A Igreja inteira ora por vós!

3. Apesar das graves dificuldades e sofrimentos que a comunidade cristã está a enfrentar, a Igreja no Sudão continua a crescer, com muitos sinais de vitalidade. Com o salmista exclamamos: «Isto se fez por obra do Senhor, e é um prodígio aos nossos olhos» (Ps 118,23). É verdadeiramente como disse o Senhor: «Basta-te a Minha graça, porque é na fraqueza que a Minha força se revela totalmente» (2Co 12,9). Por esta razão, com São Paulo, vós sois capazes de aceitar as fraquezas, os insultos, as dificuldades, as perseguições e as calamidades, pois quando nos sentimos fracos, então é que somos fortes (cf. 2Co 12,10).

Na actual situação política e social podeis facilmente permanecer isolados uns dos outros. Por este motivo deveis aproveitar todas as ocasiões para dar expressão à responsabilidade colegial e à comunhão que vos unem no serviço da única «família de Deus» (Ep 2,19). Exorto- vos a fazer todo o possível para promover entre vós um autêntico espírito de confiança recíproca e de cooperação, a fim de poderdes desenvolver — conforme permitirem as difíceis circunstâncias — um plano comum de iniciativas pastorais para enfrentar os graves desafios presentes. Essas iniciativas incluem a solicitude pastoral em áreas sem sacerdotes, a evangelização e a oferta de uma catequese e de uma formação cristã adequadas, a promoção da celebração do Sacramento do Matrimónio entre os fiéis e o revigoramento da vida familiar. Quanto mais conseguirdes identificar as necessidades comuns nas vossas Dioceses e coordenar programas conjuntos para satisfazer essas necessidades, tanto mais os vossos ministros, individualmente, como guias e Pastores de almas, se tornarão eficazes. É de igual modo urgente que a Conferência garanta a responsável administração dos recursos, quer internos quer provenientes de doadores ou de benfeitores do estrangeiro.

Não posso deixar de exprimir o meu apreço por tudo o que estais a fazer, para defender e fortalecer a fé dos vossos irmãos e irmãs católicos; em particular desejo encorajar os diversos esforços e programas em vista de satisfazer as necessidades dos muitos refugiados e das pessoas deslocadas. O «Sudanaid», fundo assistencial administrado pela vossa Conferência Episcopal, fornece ajuda e alívio aos que sofrem e já obteve ampla estima. Não obstante os severos limites encontrados, a Igreja, contudo, é capaz de prosseguir de modo corajoso a sua missão de serviço.

4. Os vossos colaboradores imediatos na edificação do Corpo de Cristo são os sacerdotes, tanto diocesanos como religiosos, sudaneses e missionários. Eles consagraram-se a este serviço e por Deus vos foram dados. Todos os sacerdotes receberam um chamado, submetido à prova e discernimento durante os anos de preparação que precedem a ordenação sacerdotal. Depois de terem orado com confiança na graça infalível de Deus, decidiram renunciar à possibilidade de ter uma casa, uma esposa, filhos, uma posição social e riquezas (cf. Mt Mt 19,29). E não o fizeram de má vontade, mas com alegria, para servirem o Reino e se dedicarem aos seus irmãos e irmãs em Cristo. Uno-me a vós ao pedir a Jesus, Sumo Sacerdote, que conceda aos vossos sacerdotes a graça e a perseverança — e a alegria íntima — que provêm da fidelidade às exigências da sua vocação.

Visto que a configuração sacramental a Cristo, Pastor e Cabeça da Igreja, não pode estar separada do seguimento quotidiano do Seu exemplo de amoroso dom de Si, todos os sacerdotes são chamados a cultivar um autêntico ascetismo. Para permanecerem fiéis ao dom do celibato em perfeita continência, é essencial — como afirma o Concílio Vaticano II — que orem com humildade, recorram constantemente a todas as ajudas de que dispõem para este fim e observem as prudentes normas de autodisciplina recomendadas pela longa experiência da Igreja (cf. Presbyterorum ordinis PO 16). A respeito da solidão que às vezes pode acompanhar o ministério pastoral, os vossos sacerdotes deveriam ser encorajados, na medida em que consente a situação local, a viver em comum e a dirigir os seus esforços inteiramente ao sagrado ministério. Deveriam reunir-se, o mais frequentemente possível, para um intercâmbio fraterno de ideias, conselhos e experiências (cf. Pastores dabo vobis, PDV 74).

Também os seminaristas continuam a ser uma das vossas principais prioridades. É fundamental que os futuros ministros do Evangelho sejam não só bem instruídos academicamente, mas também, a nível mais profundo, totalmente dedicados ao cuidado das almas, desejosos de guiar os próprios irmãos e irmãs ao longo das vias da salvação. Aqueles que se empenham na formação devem ser capazes de assistir os candidatos no seu crescimento para a nova «identidade », conferida no momento da Ordenação. Eles mesmos deveriam ser modelos exemplares de conduta sacerdotal. Devem ser claros acerca do comportamento que se espera dos candidatos ao sacerdócio, uma vez que seria uma injustiça permitir aos seminaristas encaminhar- se para a Ordenação se não tivessem, interior e conscientemente, assimilado as exigências objectivas do múnus que deverão exercer.

5. Na obra de edificação do Reino de Deus, as religiosas e os religiosos desempenham um papel vital nas vossas Igrejas locais. Os sacerdotes missionários, as religiosas e os religiosos que compartilham convosco o peso da obra pastoral das vossas Dioceses, são contemporaneamente servidores corajosos do Evangelho e, com a sua presença e generosa dedicação, são uma grande fonte de encorajamento para os fiéis. Neles se percebem efectivamente a universalidade da Igreja e a solidariedade que caracteriza a comunhão entre as Igrejas particulares.

No Sudão, onde simplesmente não há bastantes sacerdotes para anunciar o Evangelho e exercer o ministério pastoral, os catequistas desempenham um papel essencial para satisfazer as necessidades espirituais das vossas comunidades. Portanto, eles têm necessidade de uma profunda consciência da própria função e deveriam ser ajudados de todos os modos, a fim de assumirem a própria responsabilidade e as obrigações para com as suas famílias.

6. Não obstante as numerosas dificuldades que deve enfrentar, a Igreja no Sudão empenha-se de maneira activa no sector da educação. As escolas católicas gozam de uma boa reputação e oferecem um alto nível de ensino, razão por que muitos procuram matricular nelas os próprios filhos. A solicitude da Igreja pela formação moral e cívica dos jovens e dos adultos, ministrada durante cursos nocturnos organizados em muitas das vossas escolas paroquiais, constitui um contributo ainda mais importante para o futuro da comunidade cristã e da sociedade em geral. Esta actividade educativa pode contribuir de maneira determinante para superar as tensões étnicas, pois reúne pessoas de diferentes formações tribal e social.

Dado que a lei local torna obrigatória a educação nas escolas públicas, a Igreja do Sudão tem necessidade de assegurar que os estudantes católicos possam valer-se desta oportunidade e, portanto, deve designar professores católicos adequadamente formados para apresentar a fé aos estudantes católicos. Os vossos Sacerdotes e membros das Comunidades religiosas são particularmente idóneos para esta tarefa e deveriam receber o encorajamento e a preparação necessária para empreender este importante apostolado.

Durante a minha visita a Cartum, em 1993, expressei a esperança de que chegue uma nova era de diálogo construtivo e de boa vontade entre os cristãos e os muçulmanos. O diálogo inter-religioso não é uma tarefa fácil nem sequer nos melhores períodos. No vosso País ele é um acto corajoso de esperança para um Sudão melhor e para um futuro melhor para os seus povos. Como fiz notar na minha Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa, um conceito essencial do diálogo entre cristãos e muçulmanos deveria ser o princípio da liberdade religiosa, com tudo aquilo que ela implica, inclusive as manifestações exteriores e públicas de fé (cf. n. 66). Exorto-vos a continuar os vossos esforços para instaurar e desenvolver esse diálogo a todos os níveis.

7. Caros Irmãos no Episcopado, sem dúvida as circunstâncias em que vos encontrais a exercer o vosso ministério pastoral são extremamente difíceis. Os pensamentos que compartilho convosco hoje querem ser uma fonte de encorajamento, enquanto procurais «confirmar muitos na fé, fortalecer os que vacilam e chamar de novo aqueles que se desviaram no caminho» (Carta Pastoral dos Bispos sudaneses, He Should Be Supreme in Every Way, Outubro de 1995). Os cristãos do Sudão estão todos os dias nos meus pensamentos e nas minhas orações. A Igreja inteira sente uma profunda solidariedade com as vítimas da injustiça, do conflito e da carestia, com o flagelo dos refugiados e das pessoas deslocadas, com os sofrimentos dos doentes e dos feridos. Cada um de nós, Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, é chamado a ser um só com o mistério pascal da Morte e da Ressurreição de Nosso Senhor, a passar da morte à vida, a aceitar os sofrimentos que nos purificam e nos ajudam a viver aquilo que é deveras essencial: a mensagem evangélica de Jesus Cristo que nos assegura: «Eu venci o mundo» (Jn 16,33).

Confio-vos, assim como a Igreja no Sudão, à intercessão da Beata Josefina Bakhita e do Beato Daniel Comboni, Padroeiros celestes, cuja vida e testemunho do Evangelho estão de modo tão íntimo ligados à vossa terra, e invoco sobre todos vós os dons divinos de esperança e de fé. Em penhor de paz e de força no Senhor, concedo de coração a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES DE UM SEMINÁRIO


PROMOVIDO PELA CONGREGAÇÃO


PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS


Sexta-feira, 19 de Setembro de 1997





Senhor Cardeal
Estimados Irmãos no Episcopado

1. No termo de uma sessão intensa, destinada à informação e à reflexão sobre os múltiplos aspectos do vosso múnus episcopal, estou feliz por vos receber. A minha gratidão dirige-se ao Senhor Cardeal Jozef Tomko e aos colaboradores da Congregação para a Evangelização dos Povos que organizaram estas semanas de reflexão. Saúdo cordialmente todos vós, na maioria Bispos da África, mas de igual modo da América Latina e da Oceânia. O meu pensamento dirige-se também aos vossos coirmãos do Vietnã que esperávamos, mas que infelizmente não puderam reunir-se connosco.

2. Sinto-me feliz por este encontro, pois manifesta o affectus collegialis que une os Pastores da Igreja universal à volta do Bispo de Roma. Durante as vossas jornadas de estudo, pudestes renovar a vossa consideração acerca dos diversificados aspectos do ministério que vos é próprio. É verdade que às vezes ele pode parecer-vos árduo de suportar na sua complexidade. Quereria encorajar-vos a enfrentá-lo, em nome do Espírito Santo que vos foi concedido aquando da vossa Ordenação episcopal. O Bispo que vos conferiu a plenitude do sacramento da Ordem rezou ao Senhor da seguinte forma: «Derramai sobre aquele que escolhestes a força que provém de Vós, Espírito soberano que Vós destes ao Vosso Filho bem-amado» (Ritual das Ordenações, n. 47).

A missão episcopal possui uma grande amplitude; sob o ponto de vista humano, é praticamente impossível. Todavia, se requer um investimento total da vossa pessoa, vós não sois deixados sem apoio. É no Espírito de Cristo que vos tornais servos do seu Corpo que é a Igreja, a Igreja particular confiada a cada um, e a Igreja universal, com o Sucessor de Pedro, «fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e de comunhão » (Lumen gentium LG 18).

3. Convido-vos a meditar com frequência a mensagem do Novo Testamento sobre o Espírito Santo, particularmente o que os Apóstolos João e Paulo dizem acerca d'Ele. Servir-vos-á sempre de conforto voltar a descobrir a riqueza das dádivas do Espírito. É de bom grado que vos dirijo as palavras de São Paulo: «Mantende entre vós laços de paz, para conservar a unidade do Espírito. Há um só corpo e um só Espírito » (Ep 4,3-4). Com efeito, é graças ao Espírito que constituís o fundamento da unidade na comunidade diocesana, da unidade do presbitério e da unidade de todos os baptizados: «Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo» (Ibid. 4, 5). Discernindo a presença do Espírito na diversidade das pessoas e das situações, procurai sempre confirmar a unidade da diocese, começando por mostrar uma solicitude constante para com os sacerdotes, vossos imediatos colaboradores. Disponíveis à acção de Deus neles (cf. Fl Ph 2,13), todos se consagrem inteiramente à missão comum, cada um no seu papel de ministro, de pessoa consagrada ou de fiel leigo!

4. No diálogo de Jesus com os Apóstolos após a Ceia, é grande a insistência sobre a promessa do Espírito: «Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos encaminhará para toda a verdade» (Jn 16,13). É n'Ele que se funda o seu ministério de anúncio da Boa Nova, de ensinamento da doutrina da salvação. Como sucessores dos Apóstolos, vós deveis promover, e às vezes defender, a autenticidade da mensagem cristã. Na realidade, a verdadeira referência, através de toda a Tradição da Igreja e do seu Magistério, é o Espírito que nos abre à compreensão da verdade revelada de modo integral no Filho encarnado. Ao pordes-vos pessoalmente à Sua escuta, tanto na oração como mediante o estudo, estareis ainda mais certos e convencidos de ser dóceis ao Espírito

5. «O amor de Deus — é o que nos diz São Paulo — foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5). Habitados pelo Espírito, consagrai todo o vosso ministério à prática do mandamento novo que coroa o ensinamento do Senhor (cf. Jo Jn 13,34). Arrebatados pelo amor indissolúvel por Deus e pelos homens, animai incansavelmente o serviço da caridade, a partilha em favor dos mais desvantajados, o socorro aos marginalizados ou aos desesperados, o apoio aos lares que devem amadurecer o próprio amor reconhecendo nele o dom de Deus, uma pastoral repleta de afecto pelos jovens a educar, os progressos de reconciliação quando se manifestam oposições, bem como o diálogo com os irmãos e as irmãs de outras tradições religiosas. Assim a presença do Espírito, manancial de esperança, tornar-se-á evidente através da vossa acção.

6. Estimados Irmãos que viveis os primeiros anos do vosso episcopado, mediante estas breves reflexões, desejo antes de mais encorajar-vos a servir «sob o regime novo do Espírito» (Rm 7,6) o povo de Deus que tendes o encargo de guiar e ensinar, e que conta convosco «como bons administradores da graça que Deus vos concedeu» (1P 4,10). Apoiai-vos incessantemente no Paráclito, consolador e defensor. Ele há-de vos sustentar, transmitindo todo o seu dinamismo à vossa missão de evangelizadores. Nas vossas Igrejas particulares, no meio das vossas greis, a tarefa é imensa. O Papa confia em vós para continuardes com o vigor do Espírito de verdade e de amor.

Invocando para vós e para todos os fiéis das vossas dioceses a intercessão da Virgem Maria e dos Santos Apóstolos, concedo-vos do íntimo do coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS OFICIAIS E SUBOFICIAIS


DO 31° ESQUADRÃO DA AERONÁUTICA


MILITAR ITALIANA


Domingo, 21 de Setembro de 1997



Caríssimos Oficiais e Suboficiais
do 31° Esquadrão da Aeronáutica Militar!

1. Sinto-me particularmente feliz de vos acolher neste dia, juntamente com os vossos familiares. A tradicional e cordial saudação, que nesta circunstância costumais apresentar-me, oferece-me o ensejo para vos manifestar gratidão pelo atento e pontual serviço que garantis ao Papa, nos seus deslocamentos aéreos em todo o território italiano.

Em particular agradeço-lhe, Senhor Coronel, o significativo dom e as amáveis expressões com que quis fazer-se intérprete dos sentimentos dos presentes. Pelas suas palavras tomo conhecimento que é iminente a conclusão do seu serviço de Comandante do 31° Esquadrão. Enquanto lhe manifesto vivo apreço pela obra realizada e pela cortês disponibilidade constantemente demonstrada, formulo ardentes votos para as novas responsabilidades que lhe serão confiadas.

2. Como gesto de reconhecimento para com o inteiro Esquadrão, desejo agora condecorar alguns de vós com Honorificências Pontifícias, em sinal de apreço e de estima.

A delicada tarefa que sois chamados a exercer oferece-vos muitas vezes a possibilidade de vos afastardes fisicamente da terra e de voardes nos céus abertos, onde o olhar vagueia longe e onde é dado imergir-se numa atmosfera límpida e pura. Essa experiência ajuda a olhar as coisas com olhos diferentes e a libertar-se de uma visão estreita das vicissitudes quotidianas. Ela convida, além disso, a considerar a grandeza de Deus, que a fé localiza simbolicamente no céu, ainda que afirme que o universo inteiro é incapaz de conter a Sua imensidade.

Indicando o céu, a Igreja exorta cada homem a considerar com respeitoso desprendimento, embora no cuidado amoroso, as coisas do mundo que passa, tendo sempre presente, na mente e no coração, a comum e definitiva pátria celeste, onde se encontra Cristo, sentado à direita do Pai.

Caríssimos, ao abraçardes os amplos horizontes do céu, cultivai em vós estes sentimentos de fé que sugerem a atitude justa, com que devem ser enfrentadas as realidades terrenas. Deus vos ilumine sempre e vos proteja em todas as vossas intervenções.

Ao confiar-vos e aos vossos entes queridos à materna protecção da Bem-aventurada Virgem de Loreto, Padroeira dos Aviadores, de coração concedo a vós e às vossas famílias a Bênção Apostólica.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA «PALESTINIAN AUTHORITY»


22 de Setembro de1997



Distintos Membros da «Palestinian Authority»

É para mim uma alegria particular receber- vos neste dia e saudar, por meio de vós, as vossas Autoridades e o inteiro Povo palestino.

Pensar neste querido povo é sempre, infelizmente, pensar numa triste realidade: a injustiça, a violência e o medo do futuro ainda constituem o pão quotidiano dos vossos irmãos e irmãs.

A Santa Sé e o Papa jamais deixaram de elevar a própria voz a fim de que ninguém se esqueça das tragédias, que marcaram a vossa história e os vossos sofrimentos. Ninguém pode desinteressar- se do destino de tantos irmãos e irmãs em humanidade, cujos direitos com muita frequência não são reconhecidos, antes, tantas vezes são violados. A Santa Sé em várias ocasiões invocou também a segurança para o Estado de Israel, profundamente convicta de que segurança, justiça e paz caminham a par e passo.

Quereria, mais uma vez, recordar a todos os que vivem no Médio Oriente e a todos os que ali exercem qualquer responsabilidade política, social ou religiosa, que um processo de paz foi posto em acto, que a via da reconciliação foi traçada, que povos expressaram o seu desejo de justiça e que famílias inteiras esperam um futuro de paz para os seus filhos.

Mais do que a simples razão humana ou os interesses políticos, é Deus mesmo que pede a cada um a coragem da fraternidade, do diálogo, da perseverança e da paz!

A Ele imploro que abençoe todos aqueles que vós representais e a todos os que vivem sobre aquela terra que, para nós, continua a ser «Terra Santa».



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO XXII CAPÍTULO GERAL


DOS MISSIONÁRIOS «CLARETIANOS»






Ao Superior-Geral
e aos Padres Capitulares dos Missionários
Filhos do Imaculado Coração de Maria

1. É-me muito grato ter este encontro convosco, que estais a concluir o XXII Capítulo Geral, no qual estudastes a vossa participação na missão evangelizadora da Igreja, olhando para o futuro com grande esperança, a fim de viverdes o vosso carisma para o bem das comunidades eclesiais e da humanidade.

Antes de tudo, saúdo com afecto o Padre Aquilino Bocos, reeleito Superior-Geral, aos novos Conselheiros e também a vós, religiosos, que representais todas as Províncias da Congregação, actualmente presente na Europa, na América, na Ásia e em África. Através de vós quero fazer chegar o meu apreço e estima aos demais religiosos que, com as suas orações, pedem pelo feliz e frutuoso resultado dos trabalhos capitulares.

2. A vossa Congregação, mais do que centenária, nasceu por inspiração de Santo António Maria Claret, o qual, depois de ter percorrido durante anos a Catalunha pregando missões populares, foi nomeado Arcebispo de Santiago de Cuba, ministério ao qual se entregou plenamente para a salvação das almas. Quando regressou à Espanha, teve de enfrentar muitos sofrimentos pelo bem da Igreja, até morrer no exílio de Fontfroide (França), em 1870. Apesar disto, a sua vida esteve sempre marcada pela peremptória exortação paulina «O amor de Cristo é que nos impulsiona » (2Co 5,14).

A Igreja tem em grande estima o serviço da Palavra que realizais na missão «ad gentes», em sectores populares e entre marginalizados; na formação de novos evangelizadores, tanto religiosos como seculares; na promoção da vida religiosa; nas tarefas educativas e na renovação de comunidades cristãs; fomentando o diálogo de fé com aqueles que buscam a Deus.

Com isto procurais ser fiéis ao vosso Fundador e Pai, o qual, sentindo que devia doar-se inteiramente aos demais, vos propunha utilizar todos os meios possíveis ao vosso alcance — pastoral, paroquial, publicações, missões populares, pregação de exercícios e retiros espirituais —, no anúncio do Evangelho a todos os povos (cf. Const. CMF, nn. 6 e 48).

Deste modo, com espírito de entrega a Deus, à Igreja e à humanidade, desenvolveis a vossa vocação, dando testemunho de amor a Cristo através da proclamação da Boa Nova e da solidariedade sincera e eficaz, especialmente com os mais pobres, os doentes, as pessoas idosas e os marginalizados.

3. Nestes anos, a proximidade à experiência espiritual de Claret missionário levou-vos a pôr a Palavra de Deus no centro da vossa vida pessoal e comunitária. Como Maria, desejais acolher esta Palavra salvífica no vosso coração, para a meditar e comunicar depois aos ou outros. Certamente, queridos missionários, esta Palavra, viva e eficaz (cf. Hb He 4,12). vos confirmará na vossa vocação, vos consolará e vos dará esperança nas fadigas e sofrimentos (cf. Rm Rm 15,4) e, ao mesmo tempo, fará frutificar o vosso trabalho pastoral. Ante as dificuldades do vosso ministério, recordai o que vos dizia o Fundador: «Não sereis vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai e da vossa Mãe é que falará em vós» (Aut. 687).

4. É para mim motivo de especial satisfação constatar que, no limiar do Terceiro Milénio, o vosso Capítulo se propôs aprofundar na dimensão profética do Serviço da Palavra. Com isto, ao mesmo tempo que reflectis sobre as orientações e linhas directrizes dos Capítulos anteriores, tendo como centro a figura de Jesus, ungido e enviado pelo Pai para anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Lc Lc 4,18 Aut. Lc 687), quisestes responder ao apelo que dirigi a todos os consagrados na Exortação Apostólica Vita consecrata (cf. nn. 84-95). O que se espera da Igreja, nesta hora de profundas transformações sociais e culturais, é que a palavra clara e oportuna do enviado seja acompanhada da transparência de vida do «homem de Deus». Quando o sofrimento, a solidão e as exclusões assediam o coração humano, espera-se dos consagrados uma nova e luminosa proposta de amor, através de uma castidade que engrandece o coração, de uma pobreza que elimina barreiras e de uma obediência que constrói comunhão na comunidade, na Igreja e no mundo. Desta maneira a atitude profética levará esperança a todos, porque por meio de vós Deus continuará a visitar o seu povo (cf. Lc Lc 7,16).

Estais chamados também a ser — em comunhão com os Bispos de cada lugar — «fermento evangélico e evangelizador das culturas do terceiro milénio e dos ordenamentos sociais dos povos» (Homilia na festa da Apresentação do Senhor, 2-II-1992, n. 5). Para isto deveis cultivar uma profunda intimidade com Cristo, mediante a oração, a assídua escuta da sua Palavra e a Eucaristia. Fomentai a formação permanente com o estudo e o discernimento dos desafios da hora presente, e fazei com que o vosso coração seja cada vez mais generoso, para irdes ao encontro do próximo que necessita de amor e de esperança.

O vosso exemplo e a vossa entrega hão-de ser igualmente um convite e estímulo para outros, sobretudo os jovens que, apesar da actual escassez de vocações nalgumas partes, queiram unir-se à comunidade fraterna e missionária, que sois chamados a formar, para deste modo seguirem a Jesus e serem enviados a pregar (cf. Mc Mc 3,14). Os vossos irmãos, os 51 Beatos Mártires de Barbastro, como tantos outros mártires, «neste mesmo século deram testemunho de Cristo, o Senhor, com a entrega da própria vida» (cf. Vita consecrata VC 86). Por isso, peço ao Senhor que o sangue derramado faça germinar a semente de muitas vocações missionárias para a vossa Congregação, as quais deverão contar com bons e santos formadores.

5. Recomendo o vosso Capítulo e a Congregação inteira à Virgem Maria, Mãe de Cristo e da Igreja. Que o seu Coração materno seja para todos escola de íntima adesão a Jesus, de escuta da sua Palavra e de cordial amor a todos os homens. Neste mesmo Coração deveis continuar a inspirar-vos, para anunciardes ao mundo a misericórdia do Senhor e O amardes como Ela O amou. Que a sua intercessão vos sustente também nas diversas obras de apostolado, nas quais estais empenhados. Com estes vivos sentimentos, concedo-vos com afecto, a vós e a todos os Missionários Claretianos, Filhos do Imaculado Coração de Maria, a Bênção Apostólica.

Vaticano, 22 de Setembro de 1997.



JOÃO PAULO II


MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO XV CAPÍTULO GERAL


DOS MISSIONÁRIOS COMBONIANOS


DO CORAÇÃO DE JESUS




Ao Reverendíssimo Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira
Superior-Geral dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus

1. Com alegria me dirijo a Vossa Reverência por ocasião do Capítulo Geral, que constitui um momento privilegiado de aprofundamento e crescimento da vida dessa Família religiosa, e de bom grado aproveito o ensejo para lhe exprimir felicitações e bons votos para a tarefa empenhativa a que foi chamado pela confiança dos Coirmãos. O Senhor o assista no desempenho do novo cargo, no qual o acompanha a minha oração.

Saúdo, além disso, os Membros do Conselho Geral e os participantes na assembleia capitular. De coração faço votos por que os intensos trabalhos destes dias produzam abundantes frutos de bem na Comunidade comboniana, a favor da actividade missionária da Igreja. Estendo a minha afectuosa saudação a todos os Missionários combonianos que trabalham, muitas vezes em condições difíceis, em quatro continentes, e encorajo- os a prosseguir com generosa fidelidade no seu empenho de missão «ad gentes».

O XV Capítulo Geral realiza-se entre dois momentos significativos da vida do vosso Instituto: o primeiro é a beatificação do Fundador, D. Daniel Comboni, que tive a alegria de elevar à glória dos altares no ano passado; o segundo é a celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, cuja preparação envolve todos os componentes do Povo de Deus. Estes dois eventos estimulam a vossa Congregação religiosa a aprofundar o próprio carisma, para se projectar com renovado impulso na obra da evangelização, na perspectiva do terceiro milénio cristão.

2. Enquanto com alegria louvo o Senhor pelo bem que vós, Missionários combonianos, estais a realizar no mundo, quereria exortar-vos a efectuar um atento discernimento acerca da situação dos povos, no meio dos quais realizais a vossa acção pastoral. Deus chama- vos a levar conforto a populações que muitas vezes estão marcadas por grande pobreza e por sofrimento prolongado e intenso, como por exemplo no Sudão, em Uganda, no Congo-Quinxassa, na República Centro-Africana e em diversas outras partes do globo. Deixaivos continuamente interrogar pelas difíceis situações com que entrais em contacto, e procurai oferecer, de modos adequados, o testemunho da caridade que o Espírito infunde nos vossos corações (cf. Rm Rm 5,5).

A vida dos Missionários combonianos, repleta de alegrias e sofrimentos, de luzes e sombras, foi marcada e tornou- se fecunda também nestes últimos anos pela Cruz de Cristo. Como não recordar aqui os Coirmãos que coroaram o serviço missionário com o supremo sacrifício da vida?

A sua opção evangélica radical ilumine o vosso empenho missionário e sirva de encorajamento para prosseguirdes, com renovada generosidade, na vossa típica missão na Igreja.

3. Para levar avante esta não fácil missão, é preciso uma sólida e qualificada formação, quer na fase inicial da maturação vocacional dos candidatos, quer nos anos sucessivos.

Para esse objectivo, é necessário ter presente que cresce o número das Nações de onde provêm os jovens Missionários e, ao mesmo tempo, não deve ser subestimada a urgência de uma adequada preparação destas novas gerações, para que sejam capazes de enfrentar as passagens interculturais características da missão comboniana. Deve-se considerar, além disso, a necessidade de um acompanhamento deles nos primeiros anos de serviço no campo missionário, baseando-se no apoio que vem do exemplo e do testemunho de Combonianos experimentados.


Discursos João Paulo II 1997 - 12 de Setembro de 1997