Discursos João Paulo II 1997 - Sexta-feira, 3 de Outubro de 1997


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

AO RIO DE JANEIRO - BRASIL POR OCASIÃO

DO II ENCONTRO MUNDIAL COM AS FAMÍLIAS

(2-6 DE OUTUBRO DE 1997)

ENCONTRO COM AS FAMÍLIAS DE TODO O MUNDO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro

Sábado, 4 de Outubro de 1997


1. Amadas famílias que vos reunis aqui no Rio de Janeiro, vindas de todos os povos e nações!
Amadas famílias de todo o mundo, que através do Rádio e da Televisão seguis este Encontro!
Saúdo a todas com especial carinho e a todos vos abençôo.

Muito obrigado por esta calorosa manifestação de fé e de alegria que nos quisestes dar hoje, para ajudar-nos a refletir que a família é realmente dom e compromisso pela pessoa e pela vida, e esperança da humanidade. Também a arte foi colocada como instrumento a serviço da mensagem do amor comprometido e da vida, maravilhoso dom de Deus. Fizestes-nos participar daquilo que o Senhor, Autor do matrimônio e Senhor da vida, realizou em vós. E também testemunhastes o que conseguistes com sua graça. Não é verdade que o Senhor, nas mais distintas situações, inclusive no meio das tribulações e das dificuldades, sempre vos acompanhou? Sim! o Senhor da Aliança, que veio à vossa procura e vos encontrou, sempre vos acompanhou no vosso caminho. Deus Nosso Senhor, o Autor do matrimônio que vos uniu, derramou abundantemente, para vossa felicidade, a riqueza do seu amor.

Eu gostaria de recolher aqui, em breve síntese, aquilo que haveis refletido, após uma intensa preparação catequética conforme o Magistério da Igreja, nas Assembléias Familiares, nas Dioceses, Paróquias, Movimentos e Associações. Foi, sem dúvida, uma formosa preparação, cujos frutos trazeis hoje aqui para proveito e alegria de todos.

2. A família é patrimônio da humanidade, porque é mediante a família que, conforme o desígnio de Deus, deve-se prolongar a presença do homem sobre a terra. Nas famílias cristãs, fundadas no sacramento do matrimônio, a fé nos vislumbra maravilhosamente o rosto de Cristo, esplendor da verdade, que enche de luz e de alegria os lares que inspiram a sua vida no Evangelho.

Hoje, infelizmente, vai-se difundindo pelo mundo uma mensagem enganosa de felicidade impossível e inconsistente, que só arrasta consigo desolação e amargura. A felicidade não se consegue pela via da liberdade sem a verdade, porque esta é a via do egoísmo irresponsável, que divide e corrói a família e a sociedade.

Não é verdade que os esposos, como se fossem escravos condenados à sua própria fragilidade, não possam permanecer fiéis à sua entrega total até à morte! O Senhor, que vos chama a viver na unidade de "uma só carne", unidade de corpo e alma, unidade da vida toda, dá-vos força para uma fidelidade que enobrece e que faz com que a vossa união não corra o risco da traição que rouba a dignidade e a felicidade e introduz, no seio do lar, divisão e amargura cujas maiores vítimas são os filhos. A melhor defesa do lar está na fidelidade que é uma dádiva do Deus fiel e misericordioso, num amor por Ele redimido.

3. Quisiera, una vez más, lanzar aquí un clamor de esperanza y de liberación.

Familias de América Latina y del mundo entero: no os dejéis seducir por ese mensaje de mentira que degrada a los pueblos, atenta contra sus mejores tradiciones y valores, y hace caer sobre los hijos un cúmulo de sufrimientos y de infelicidad. La causa de la familia dignifica al mundo y lo libera en la auténtica verdad del ser humano, del misterio de la vida, don de Dios, del hombre y la mujer, imagenes de Dios. Hay que luchar por esa causa para asegurar vuestra felicidad y el futuro de la familia humana.

Desde aquí, en esta tarde, en que familias de todas las partes del mundo estrechan sus manos, como en una inmensa corona de amor y de fidelidad, lanzo esta invitación a cuantos trabajan en la edificación de una nueva sociedad en la que reine la civilización del amor: defended, como don precioso e insustituible, vuestras familias; protegedlas con leyes justas que combatan la miseria y el azote del desempleo, y que, a la vez, permitan a los padres cumplir con su misión. ¿Cómo pueden los jóvenes crear una familia si no tienen con qué mantenerla? La miseria destruye la familia, impide el acceso a la cultura y a la educación básica, corrompe las costumbres, daña en su propia raíz la salud de los jóvenes y los adultos. ¡Ayudadlas! En esto se juega vuestro futuro.

Existen en la historia moderna numerosos fenómenos sociales que nos invitan a hacer un examen de conciencia sobre la familia. En muchos casos hay que reconocer con vergüenza que se han producido errores y desvaríos. ¿Cómo no denunciar aquellos comportamientos, motivados por el desenfreno y la irresponsabilidad, que conducen a tratar a los seres humanos como a simples cosas o instrumentos del placer pasajero y vacío? ¿Cómo no reaccionar ante la falta de respeto, la pornografía y toda clase de explotación, de las que en muchos casos los niños pagan el precio más caro?

As sociedades que se despreocupam da infância são desumanas e irresponsáveis. Os lares que não educam integralmente seus filhos, que os abandonam, cometem uma gravíssima injustiça de que deverão prestar contas diante do tribunal de Deus. Sei que não poucas famílias são, por vezes, vítimas de situações maiores que elas próprias. Em tais casos, ocorre fazer apelo à solidariedade de todos, porque as crianças acabam sofrendo todas as formas de pobreza: a da miséria econômica e, sobre- tudo, da miséria moral que produz o fenômeno a que aludia na Carta às Famílias: Há muitos órfãos de pais vivos! (n. 14).

Como foi lembrado pelo Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para a Família, para servir de símbolo de uma caridade efetiva e fruto do Primeiro Encontro Mundial com as Famílias em Roma, foi concluída uma "Cidade das Crianças" em Ruanda, tendo sido construída com a ajuda de muitas pessoas e algumas generosas instituições; e começam a construir outra em Salvador da Bahia, naqueles mesmos Alagados que visitei e aos quais deixei um apelo à esperança e à promoção humana durante a minha primeira Visita Apostólica ao Brasil em julho de (mil novecentos e oitenta) 1980. Este esforço leva em si uma mensagem e um convite que dirijo ao mundo, através de vós famílias de todo o mundo: acolhei vossos filhos com um amor responsável; defendei-os como um dom de Deus, desde o momento em que são concebidos, em que a vida humana surge no ventre das mães; que o crime abominável do aborto, vergonha para a humanidade, não condene os concebidos à mais injusta das execuções: a dos seres humanos mais inocentes! Esta proclamação sobre o inestimável valor da vida desde o ventre materno e contra qualquer manobra de supressão da vida, quantas vezes a ouvimos dos lábios da Madre Teresa de Calcutá!? Ouvimo-la todos durante o Ato Testemunhal do Primeiro Encontro, em Roma. Aqueles lábios estão agora mudos pela morte. Mas a mensagem de Madre Teresa em favor da vida continua vibrante e convincente como nunca.

4. Neste Estádio, convertido agora pelo jogo de luzes como em vitrais de uma imensa Catedral, a celebração de hoje quer chamar a todos a um grande e nobre compromisso, sobre o qual invocamos a ajuda de Deus Onipotente:

Pelas famílias, para que unidas no amor de Cristo, organizadas pastoralmente, presentes ativamente na sociedade, comprometidas na sua missão de humanização, de libertação, de construção de um mundo segundo o coração de Cristo, sejam realmente a esperança da humanidade!

Pelos filhos, para que cresçam como Jesus, no lar de Nazaré. No seio das mães, dorme a semente da nova humanidade. No rosto das crianças, brilha o futuro, o futuro milênio, o porvir que está nas mãos de Deus.

Pelos jovens, para que se empenhem, com grande entusiasmo, a preparar sua família de amanhã, educando-se a si mesmos para o amor verdadeiro que é abertura ao outro, capacidade de escuta e de resposta, compromisso de doação generosa, inclusive a custo de sacrifício pessoal, e disponibilidade à compreensão recíproca e ao perdão.

5. Famílias de todo o mundo, quero concluir renovando um apelo: Sede testemunhos vivos de Cristo, que é «o caminho, a verdade e a vida» (cf. Carta às Famílias LF 23)! Deixai que entrem no próprio coração os frutos do Congresso Teológico-Pastoral recém concluído. E que a graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo, estejam convosco! (cf. 2Co 1,2)

Maria, Rainha da Família,
Sede da Sabedoria, Serva do Senhor,
rogai por nós. Amém.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

AO RIO DE JANEIRO - BRASIL POR OCASIÃO

DO II ENCONTRO MUNDIAL COM AS FAMÍLIAS

(2-6 DE OUTUBRO DE 1997)

ENCONTRO COM AS COMISSÕES ORGANIZADORAS

DA VISITA PASTORAL E AOS BISPOS

DA "REDE VIDA" DE TELEVISÃO


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Residência do Sumaré, Rio de Janeiro

Domingo, 5 de Outubro de 1997

: Senhores Cardeais,
Diletos Irmãos no episcopado,
Caríssimos Irmãos e Irmãs,

Antes de regressar a Roma, quis ter este encontro de despedida para agradecer aos membros da Comissão Organizadora eclesiástica e do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que com tanta diligência prepararam a celebração da Jornada Mundial das Famílias. Minhas felicitações e gratidão, vão também dirigidas a todos amigos e benfeitores que colaboraram generosamente com o próprio tempo e meios, para o pleno êxito deste grande acontecimento, de modo particular, o pessoal que esteve de serviço na Residência do Sumaré. Que Deus lhes pague!

Faço votos que se perpetuem os ideais e os frutos do Congresso Teológico-Pastoral sobre a Família. Peço a Deus que a vivência responsável deste «santuário da vida» (Evangelium Vitae EV 6), que é precisamente a família, do dinamismo que dele deriva e das exigências que impõe de "totalidade, unicidade, fidelidade e fecundidade" (Enc. Humanae vitae HV 9), constitua um estímulo e uma força constante que façam eclodir uma nova aurora de santidade no âmbito da família cristã.

Desejo saudar também aos senhores Bispos aqui presentes, representantes da «Rede Vida de Televisão» e encorajá-los a prosseguir nesta obra de apostolado a serviço da vida e do homem. Congratulo-me com o senhor Arcebispo de Botucatu, D. Antônio Maria Mucciolo, por esta arrojada iniciativa, conhecida como o «canal da família», já no segundo ano de vida, e com os seus mais diretos colaboradores, fazendo votos de que essa emissora católica de televisão sirva como um válido instrumento de evangelização, e um testemunho eficaz da presença da Igreja no Brasil. Que Deus abençoe a todos, os dirigentes e funcionários do Instituto Brasileiro para a Comunicação Cristã.

A todos, enfim, desejo encorajar a prosseguir com empenho no esforço pela evangelização da sociedade e da família, e que vos alentem os resultados até hoje obtidos a Bênção Apostólica que de todo o coração vos concedo.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

AO RIO DE JANEIRO - BRASIL POR OCASIÃO

DO II ENCONTRO MUNDIAL COM AS FAMÍLIAS

(2-6 DE OUTUBRO DE 1997)

CERIMÓNIA DE DESPEDIDA

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Aeroporto da Base Aérea do Galeão, Rio de Janeiro


Domingo, 5 de Outubro de 1997



Senhor Vice-Presidente

Ao deixar esta terra abençoada do Brasil, eleva-se na minha alma um hino de ação de graças ao Altíssimo, que me permitiu viver aqui horas intensas e inesquecíveis, com o olhar fixo no Cristo Redentor, que domina a Baía de Guanabara, e na certeza do amparo maternal de Nossa Senhora da Penha, a proteger esta cidade querida desde o seu Santuário situado não longe daqui.

Na minha memória ficarão para sempre gravadas as manifestações de entusiasmo e de profunda piedade deste povo generoso da Terra da Santa Cruz que, junto à multidão de peregrinos provindos dos quatro cantos do mundo, soube dar uma pujante demonstração de fé em Cristo e de amor pelo Sucessor de Pedro. Peço a Deus que proteja e abençoe todas as nações do globo, com abundantes graças de conforto espiritual, e ajude a dar passo seguro àquelas iniciativas, que todos esperam, pelo bem comum da grande Família humana e de cada povo que a compõe.

A minha saudação final, repassada de gratidão, vai para o Senhor Presidente da República, para o Governo da Nação e do Estado do Rio de Janeiro, e todas as demais Autoridades brasileiras que tantas provas de delicadeza quiseram-me dispensar nestes dias.

Estou também agradecido aos Membros do Corpo Diplomático, cuja diligente atuação facilitou sobremaneira a participação das próprias Nações nestes dias de reflexão, oração e compromisso pela Família.

Um particular pensamento de estima fraterna dirijo-o, com profundo reconhecimento, aos Senhores Cardeais, aos meus Irmãos no Episcopado, aos Sacerdotes e Diáconos, Religiosos e Religiosas, aos Organizadores do Congresso. Todos contribuíram para abrilhantar estas jornadas do Segundo Encontro Mundial com as Famílias, deixando a quantos nelas tomaram parte cheios de consolação e de esperança - gaudium et spes! - na família cristã e na sua missão no meio da sociedade.

Tende a certeza de que levo a todos no meu coração, donde brota a Bênção que vos concedo e que faço extensiva a todos os Povos da América Latina e do Mundo.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FILHOS DA DIVINA PROVIDÊNCIA (ORIONITAS)






Ao Reverendíssimo Padre ROBERTO SIMIONATO
Director-Geral dos Filhos da Divina Providência

1. «Queríamos ver a Jesus» (Jn 12,21). Com estas palavras um grupo de gregos, atraído pelo fascínio do divino Mestre, dirigiu-se certa vez a alguns discípulos, exprimindo o desejo de encontrar o Senhor. No decurso dos séculos muitas outras pessoas, por toda a parte da terra, continuaram a manifestar este mesmo desejo que aproxima homens e mulheres, marcados por uma particular relação com a pessoa de Jesus.

Entre as testemunhas de Cristo do nosso século, ocupa um lugar privilegiado o Beato Luís Orione, Fundador dessa Família religiosa. O seu fascínio espiritual sensibilizou tanta gente durante a sua vida e continua ainda agora a suscitar admiração e interesse. Assim aconteceu que, entre os leigos próximos da Pequena Obra da Divina Providência, se veio a afirmar o desejo de conhecer em profundidade o Beato Fundador, para seguir com mais fidelidade os seus passos. Deste modo nasceu o Movimento Laical Orionita, com a finalidade de oferecer às diversificadas componentes do associacionismo laical nascido à volta das instituições da Obra a possibilidade de viver o seguimento de Cristo, compartilhando o carisma orionita com os Filhos da Divina Providência e com as Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade.

2. Após os primeiros anos do Movimento, percebeu-se a oportunidade de proceder a uma verificação do caminho percorrido, em vista dos seus ulteriores desenvolvimentos. Para isto foi promovido esse Congresso internacional, que tem o lema paulino: «Instaurare omnia in Christo», escolhido pelo Beato para a Família religiosa por ele fundada. Querse deste modo oferecer aos leigos a oportunidade de aprofundar o conhecimento do carisma orionita, para elaborar uma peculiar «carta de comunhão» e projectar ulteriores metas de empenho e de partilha, ao serviço da nova evangelização em vista do Grande Jubileu do Ano 2000.

Ao dirigir a minha saudação aos participantes no encontro, não posso deixar de lhes recordar as apaixonadas palavras do Beato Orione: «Instaurare omnia in Christo! Renovar-nos-emos, a nós e ao mundo inteiro em Cristo, quando formos realmente transformados em Jesus Cristo». Era, pois, clara convicção do Fundador de que a alma de toda a renovação autêntica é a novidade de Cristo, que Se torna presente em cada pessoa, nas famílias, nas estruturas civis e nas relações entre os povos. O seu anélito era fazer de Cristo o coração do mundo e servir Cristo em cada homem, especialmente nos pobres. Para dar conveniente actuação a esta sua intuição, ele queria envolver cada vez mais os leigos na actividade apostólica, chamando-os a sintonizar-se com o seu coração sem confins, porque era dilatado pela caridade de Cristo crucificado. Com efeito, de Buenos Aires escrevia a alguns amigos da Obra, em 1935: «Todos vós, certamente, sentireis comigo vivíssimo o desejo de cooperar, na medida em que vos for possível, naquela renovação de vida cristã — em «instaurare omnia in Christo» — do Qual o indivíduo, a família e a sociedade podem esperar a restauração social. Tende a coragem do bem!» (Cartas II, 291).

Conscientes deste projecto já presente no coração do Beato Fundador, os responsáveis da Família orionita promoveram há alguns anos o Movimento laical, que neste Congresso se quer ulteriormente definir e fortalecer, a fim de cooperar validamente, como ele gostava de repetir, para «fazer o bem sempre, o bem a todos, e jamais o mal a ninguém».

3. É-me grato aproveitar esta significativa circunstância para o encorajar, Venerado Irmão no sacerdócio, assim como os Religiosos e as Religiosas orionitas a tornardes-vos «guias experientes de vida espiritual, a cultivardes nos leigos “o talento mais precioso: o espírito!” » (Vita consecrata VC 55). E convido os leigos, que escolheram compartilhar o carisma orionita vivendo no mundo, a serem zelosos e generosos a fim de oferecer à Pequena Obra da Divina Providência «o precioso contributo» da sua secularidade e do seu serviço específico. O Movimento Laical Orionita favorecerá assim a irradiação espiritual da vossa Família religiosa para além das fronteiras do próprio Instituto, aprofundando os seus traços carismáticos para uma actuação, cada vez mais eficaz, da sua missão específica na Igreja e no mundo.

Dirijo um pensamento particular aos membros do Instituto Secular Orionita, ao qual foi recentemente concedida a aprovação canónica como Instituto de vida consagrada. Bem sabendo que nestes dias eles realizam a sua Assembleia geral para a eleição das próprias Autoridades, exorto-os a viver com fidelidade e alegria a própria consagração no mundo e com os meios do mundo. Saibam tornar-se agentes de novas sínteses entre o máximo possível de adesão a Deus e à Sua vontade, e a máxima participação possível nas alegrias e nas esperanças, nas angústias e nos sofrimentos dos irmãos, a fim de os orientar para o projecto de salvação integral, manifestado pelo Pai em Cristo. A sua laicidade consagrada os ajude a viver com coerência o Evangelho, no empenho quotidiano de tornar operativo, na esteira do testemunho e dos ensinamentos do Beato Orione, o programa paulino «Instaurare omnia in Christo».

Invoco, para isto, a protecção de Maria, «Mãe e celeste Fundadora» da Pequena Obra da Divina Providência, e a intercessão do Beato Luís Orione, enquanto, em penhor dos favores celestes, lhe concedo uma especial Bênção Apostólica, assim como aos membros do Movimento Laical e do Instituto Secular, e também a quantos fazem parte, a vários títulos, da Família orionita.

Vaticano, 7 de Outubro de 1997.



JOÃO PAULO II


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO COLÓQUIO INTERNACIONAL


SOBRE TOXICOMANIA PROMOVIDO


PELO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA A PASTORAL NO CAMPO DA SAÚDE


Sábado, 11 de Outubro de 1997





Estimados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos Amigos

1. Estou feliz de vos receber por ocasião do Colóquio internacional sobre a toxicomania. Agradeço a D. Javier Lozano Barragán, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, as suas palavras de boas-vindas e a organização deste encontro de trabalho. Com efeito, é particularmente oportuno reflectir sobre a gravidade das problemáticas apresentadas pelo fenómeno da droga e sobre a urgência das investigações que ajudam os responsáveis políticos e económicos, os educadores e as famílias provadas pelo drama da toxicomania.

2. Há vários anos, a Santa Sé teve ocasião de se expressar a este respeito, apresentando propostas pastorais educativas e sociais. Infelizmente, devemos constatar que hoje em dia este fenómeno atinge todos os ambientes e todas as regiões do mundo. Cada vez mais crianças e adolescentes se tornam consumidores de produtos tóxicos, com frequência em virtude de uma primeira experiência realizada com leviandade ou por desafio. Os pais e os educadores são frequentemente despreparados e desencorajados. Os médicos e os serviços sanitários e sociais encontram graves dificuldades quando se trata de ajudar quem neles buscam auxílio para sair do círculo da droga. Deve-se reconhecer que a repressão contra os consumidores de produtos ilícitos não é suficiente para conter o flagelo; com efeito, uma importante delinquência mercantil e financeira organizou-se a nível internacional. Na maioria das vezes, o poder económico vinculado à produção e à comercialização destes produtos escapa à lei e à justiça.

Por conseguinte, não se deve surpreender com o facto de uma grande confusão e um sentimento de impotência invadirem a sociedade. Determinadas correntes de opinião propõem legalizar a produção e o comércio de certas drogas. Algumas autoridades estão prontas a deixar que isto se faça, procurando simplesmente enquadrar o consumo da droga para tentar controlar os seus efeitos. O resultado disto é que desde o período escolar se banaliza o uso de determinadas drogas; tal situação é favorecida pela proposta que procura minimizar os seus perigos, especialmente graças à distinção entre drogas leves e pesadas, o que conduz a propostas de liberalização do uso de certas substâncias. Tal distinção negligencia e atenua os riscos inerentes a qualquer uso de produtos tóxicos, em especial os comportamentos de dependência, que tem como base as mesmas estruturas psíquicas, a atenuação da consciência e a alienação da vontade e da liberdade pessoais, qualquer que seja a droga em questão.

3. O fenómeno da droga constitui um mal de particular gravidade. Por causa desta, numerosos jovens e adultos morrem ou hão-de morrer, enquanto outros se encontram diminuídos no seu íntimo e nas suas capacidades. O recurso à droga por parte dos jovens reveste-se de multíplices significados. Nos momentos delicados do seu crescimento, a toxicomania deve considerar-se como sintoma de um mal existencial, de uma dificuldade em encontrar o próprio lugar na sociedade, de um medo do futuro e de uma fuga na vida ilusória e fictícia. O tempo da juventude é um período de provações e interrogações, de busca de um sentido para a existência e de opção que compromete o porvir. O crescimento do mercado e do consumo de drogas manifesta que vivemos em um mundo necessitado de esperança, ao qual faltam propostas humanas e espirituais sólidas. Desta forma, numerosos jovens pensam que todos os comportamentos são equivalentes, sem conseguirem diferenciar o bem do mal, nem possuirem o sentido dos limites morais.

Entretanto, penso nos esforços dos pais e dos educadores para inculcar nos seus filhos os valores espirituais e morais, a fim de que se tornem pessoas responsáveis. Fazem-no frequentemente com coragem, mas nem sempre se sentem sustentados, sobretudo quando os mass media difundem mensagens moralmente inaceitáveis, que servem de referências culturais no conjunto dos países do mundo, preconizando como exemplo a multiplicidade dos modelos familiares que destroem a imagem normal do casal e depreciam os valores da família, ou ainda consideram a violência e às vezes a própria droga como sinais de libertação pessoal.

4. O medo do futuro e do compromisso na vida adulta, observável nos jovens, torna-os particularmente frágeis. Com frequência, não são encorajados a lutar por uma existência recta e bela, e tendem a fechar-se em si mesmos. Não se deveria também minimizar o efeito devastador exercido pelo desemprego, do qual os jovens são vítimas em proporções indignas de uma sociedade que pretende respeitar a dignidade humana. Então, forças de morte impelem-nos a abandonar-se à droga e à violência, e por vezes a ir até mesmo ao suicídio. Por detrás daquilo que se pode manifestar como fascínio por um género de autodestruição, temos que perceber nos jovens um apelo à ajuda e uma profunda sede de viver, que é necessário ter em consideração para que o mundo saiba modificar radicalmente as suas propostas e os seus estilos de vida. Muitos jovens são abandonados a si próprios e não beneficiam de uma presença atenta, de um lar estável, de uma escolarização normal, nem sequer de um contexto sócio- educativo que os desperte para o esforço intelectual e moral, auxiliando-os a forjar a sua vontade e a dominar a própria afectividade.

5. A luta contra o flagelo da toxicomania é a problemática de todos os homens, cada qual segundo a responsabilidade que lhe compete. Exorto em primeiro lugar os casais a desenvolverem relacionamentos conjugais e familiares estáveis, fundamentados sobre um amor único, duradouro e fiel. Assim, hão-de criar melhores condições para uma vida serena no próprio lar, oferecendo aos seus filhos a segurança afectiva e a confiança em si mesmos, das quais têm necessidade para o seu crescimento espiritual e psicológico. É também importante que os pais, que têm a responsabilidade primordial no que concerne aos seus filhos e, juntamente com esses, o conjunto da comunidade adulta tenham o cuidado constante da educação da juventude. Portanto, convido todos aqueles que desempenham um papel educativo a intensificarem os seus esforços a favor dos jovens, que têm necessidade de formar a própria consciência, desenvolver a sua vida interior e entretecer com os seus irmãos relacionamentos positivos e um diálogo construtivo; eles ajudá-los-ão a tornar-se os fautores livres e responsáveis da sua própria existência. Os jovens que possuem uma personalidade estruturada, uma sólida formação humana e moral, vivendo relações harmoniosas e confiantes com os seus coetâneos e com os adultos, serão mais capazes de resistir às tentações de quem difunde a droga.

6. Exorto as Autoridades civis, os responsáveis pela economia e todas as pessoas que têm uma responsabilidade social, a perseguirem e a intensificarem os próprios esforços, a fim de aperfeiçoarem a todos os níveis as legislações de combate contra a toxicomania e de se oporem a todas as formas de cultura da droga e de tráfico, mananciais de riqueza escandalosamente adquirida, mediante a exploração da fragilidade de pessoas inermes. Encorajo os poderes públicos, os pais, os educadores, os profissionais da saúde e as comunidades cristãs a empenharem- se cada vez mais e de maneira concertada em favor dos jovens e dos adultos, em um trabalho de prevenção. É importante que se dêem informações médicas inteligentes e exactas, em particular aos jovens, sublinhando os efeitos perniciosos da droga nos planos tanto somático, como intelectual, psicológico, social e moral. São do meu conhecimento o devotamento e a paciência indefessos daqueles que cuidam e acompanham tanto as pessoas aprisionadas pelas redes da droga como as suas famílias. Convido os pais que tem um filho toxicómano a jamais se desesperarem, a manterem diálogo com ele, a prodigalizarem-lhe o seu afecto e a favorecerem contactos com estruturas capazes de se ocupar dele. A atenção calorosa de uma família constitui um grande apoio para o combate interior e para o progresso de um tratamento de desintoxicação.

7. Elogio o incansável e paciente empenhamento pastoral de sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos nos ambientes da droga; eles auxiliam os pais, dedicando- se a acolher e a escutar os jovens para responder às suas interrogações radicais, a fim de os ajudar a sair da espiral da droga e a tornar-se adultos livres e felizes. A Igreja tem como missão transmitir a palavra do Evangelho que abre à vida de Deus, e de fazer descobrir Cristo, Verbo de Vida que oferece um caminho de crescimento humano e espiritual. A exemplo do seu Senhor e solidária com os seus irmãos em humanidade, a Igreja vai em socorro dos mais pequeninos e dos mais frágeis, cuidando de quem está ferido, revigorando quem está doente e buscando a promoção pessoal de cada um.

No termo do nosso encontro, elogio a missão que o Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde está a realizar, seguindo com cuidado todas as problemáticas médicas e sociais a fim de propor soluções a situações que ferem gravemente os homens, nossos irmãos. Ao mesmo tempo, em relação com os pastores das Igrejas particulares, com os fiéis e os serviços competentes, empenhados no apoio aos toxicómanos e às suas famílias, o Conselho é chamado a oferecer a sua contribuição para as iniciativas locais.

Confio as vossas pessoas e a vossa acção à intercessão da Virgem Maria; imploro- a também para os jovens que dependem da droga e para os seus entes queridos. Que Ela os envolva com a sua solicitude maternal! Guie os jovens do mundo rumo a uma vida cada vez mais harmoniosa! O Espírito Santo vos acompanhe e dê a coragem necessária para a vossa obra em favor da juventude! A todos vós, aos vossos colaboradores e aos membros das vossas famílias, concedo a Bênção Apostólica!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS VINDOS


A ROMA PARA A BEATIFICAÇÃO


DE CINCO SERVOS DE DEUS


Sexta-feira, 13 de Outubro de 1997





Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Religiosos e Religiosas Irmãos e Irmãs

1. Estou feliz por renovar a cada um de vós a minha cordial saudação, no dia seguinte à proclamação dos cinco novos Beatos, aos quais viestes honrar. Ainda está vivo em nós o eco da celebração de ontem e, com o ânimo agradecido, damos glória ao Senhor pelas grandes obras que realizou neles e através das suas pessoas.

Sentimo-los próximos de nós na comunhão dos Santos. Com o seu exemplo e a sua intercessão, somos encorajados a uma fidelidade mais perseverante no seguimento de Jesus Cristo, tornando-nos como eles corajosas testemunhas do Seu Evangelho.

2. O Padre Elias do Socorro Nieves, mártir agostiniano mexicano, fala-nos hoje a partir do exemplo da sua vida, do seu ministério e da sua entrega até à morte por amor de Deus e dos irmãos. Ele respondeu às dificuldades que encontrou na própria vida, com a sua inquebrantável fé na divina Providência. No seu ministério sacerdotal, serviu com humildade as pessoas simples, compartilhando as suas preocupações e a sua sorte, em vez de sonhar com grandes obras. Durante a perseguição não abandonou os seus paroquianos porque — dizia ele — «cada sacerdote que anuncia a Palavra de Deus em tempos de perseguição, não tem escapatória: morrerá como Cristo!»; à semelhança de Jesus, morreu perdoando e abençoando os próprios algozes.

O seu exemplo e a sua intercessão impelem hoje a Igreja que está no México a continuar a proclamar o Evangelho a todos com humildade, constância, fidelidade e espírito de sacrifício. A Ordem de Santo Agostinho, que na Madre Fasce, igualmente beatificada ontem, conta com um novo modelo de vida contemplativa, possui no Padre Nieves uma testemunha de fecundidade apostólica, nascida de uma profunda vida espiritual.

3. E um testemunho de singular eficácia evangélica tendes também vós, queridos peregrinos da Diocese de Bréscia, que sentis próximo de vós o Beato João Baptista Piamarta, filho da vossa terra. Ele pertence ao número daqueles servos bons e fiéis que, no século passado, souberam animar a caridade social com autêntico espírito de fé. O projecto divino manifestou-se-lhe gradualmente e o vasto ministério pastoral, por ele levado a cabo, encontrou a sua plena realização na fundação da Congregação masculina da Sagrada Família de Nazaré e na determinante contribuição para o nascimento da família feminina das Humildes Servas do Senhor.

João Baptista Piamarta pôde realizar obras tão exigentes, graças a uma intensa e perseverante oração e a uma inabalável confiança na Providência. Oxalá ressoe inclusivamente no vosso coração quanto ele gostava de repetir: a oração será sempre atendida, se tiver estas duas qualidades, que são a glória de Deus e a salvação das almas.

4. E vós, prezados fiéis da Diocese de Tursi-Lagonegro, exultais justamente pelo Beato Domingos Lentini, oriundo da vossa região. Pregador itinerante, ele foi um exemplar ministro do perdão de Deus, atento educador da juventude e incansável testemunha da caridade para com os pobres. O vosso povo recorda-o como pastor solidário com as almas a ele confiadas nas vicissitudes tanto felizes como tristes da sua época.

O fulcro vital da sua espiritualidade foi a Cruz, considerada como o caminho do amor que se dá e se sacrifica pelos irmãos, à imitação de Jesus, que Se ofereceu a Si mesmo pela salvação do mundo.


Discursos João Paulo II 1997 - Sexta-feira, 3 de Outubro de 1997