Discursos João Paulo II 1997 - Sexta-feira, 13 de Outubro de 1997

Com o seu exemplo e a sua intercessão, ele continua ainda hoje a indicar a via da Cruz como itinerário espiritual para vencer o pecado, acolher os sinais da misericórdia de Deus e proceder com decisão cada vez maior no caminho da santidade, ao qual cada um dos baptizados é chamado.

5. No dia seguinte à beatificação da Madre Maria de Jesus, sinto-me feliz por vos receber, estimados peregrinos, para meditar convosco sobre a sua mensagem. A oração e a adoração diante do Santíssimo Sacramento tiveram um lugar importante na sua existência. Estas ajudaram-na a forjar e a suavizar a sua personalidade.

Segundo o exemplo da Madre Maria de Jesus, encorajo-vos a desenvolver o culto eucarístico. A Eucaristia constitui o âmago da vida cristã e o manancial de todo o impulso missionário. No espírito de Santa Juliana de Cornillon, exorto as religiosas de Maria Reparadora e todos os fiéis a darem continuidade aos seus esforços a fim de que os jovens descubram o valor da adoração, que os há-de introduzir nos mistérios divinos, ajudando- os na sua maturação espiritual e dando- lhes a força do testemunho quotidiano. Assim terão, como dizia a Madre Maria de Jesus, «uma grande generosidade de alma e de coração, bem como um espírito apostólico».

O amor pelo Senhor impeliu a Beata Maria de Jesus a servir os seus irmãos, em primeiro lugar na família e, sucessivamente, mediante a fundação da Sociedade de Maria Reparadora. A sua intensa vida espiritual abriu o seu coração às dimensões do mundo, através da atenção aos pobres e aos pequeninos. Por vossa vez, empenhai-vos em prol da solidariedade e da justiça; e, assim como ela, também vós vos prodigalizai para que Cristo seja anunciado em todas as culturas e em cada um dos continentes!

6. O nosso olhar dirige-se agora para a Beata Maria Teresa Fasce que vós, queridos fiéis da Diocese de Espoleto-Núrsia, bem conheceis e admirais. Com efeito, é-vos conhecido o seu exemplo de austera e radical vida monástica, em conformidade com o estilo da Ordem de Santo Agostinho. Na contemplação do mistério de Cristo e no aprofundamento do conhecimento de Deus, a sua vida encontrou o impulso de uma singular irradiação apostólica.

Do claustro do vosso mosteiro, esta fiel serva de Deus construiu uma grandiosa variedade de obras animadas pelo amor a Deus e ao homem. O lema que muitas vezes repetia — «Desejo-O não obstante custe, desejo-O porque custa, desejo-O custe o que custar» — constitui a síntese mais significativa dos seus dias transcorridos na operosidade, no sofrimento oferecido ao Senhor e na experiência mística.

Caríssimas, possam as suas palavras guiar as opções de vida de cada uma de vós, de tal forma que, a seu exemplo, vos apresenteis perante Deus com as mãos cheias de inúmeros gestos de amor.

7. Estes novos Beatos constituem uma dádiva para todos os crentes. O seu testemunho representa um premente convite a trabalhar incansavelmente pelo Evangelho.

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Faço votos por que, após esta peregrinação a Roma, cada um de vós regresse às próprias actividades reforçado na fé e na comunhão eclesial. Sustentem-vos a materna protecção de Maria, Rainha do Rosário, e a intercessão dos novos Beatos. Acompanhe-vos também a minha Bênção que, com afecto, concedo a vós aqui presentes, às vossas famílias e a todas as vossas Comunidades.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR STEFAN FALEZ NOVO EMBAIXADOR


DA SOBERANA ORDEM MILITAR DE MALTA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


13 de Outubro de 1997



Senhor Embaixador

É com muita alegria que o acolho e saúdo na sua qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Soberana Ordem Militar de Malta junto da Santa Sé. O meu deferente pensamento dirige-se ao Príncipe e Grão-Mestre da Ordem, Fra Andrew Bertie, e peço que lhe transmita a minha cordial saudação, juntamente com a expressão do meu reconhecimento pelos devotos sentimentos de que Vossa Excelência se fez intérprete. De igual modo, estou grato aos Membros do Conselho Soberano e da inteira Ordem, que nesta significativa circunstância quiseram manifestar, por seu intermédio, sentimentos de renovada fidelidade ao Sucessor de Pedro.

Vossa Excelência é bem consciente da fisionomia peculiar própria da Soberana Ordem de Malta. Ela, com efeito, distingue- se pelo seu carácter supranacional, religioso e caritativo. Como Vossa Excelência há pouco recordou, ser sujeito de direito internacional consente à Ordem estabelecer relações diplomáticas com numerosos Estados e Organizações, entre os quais a Santa Sé. Esta, aliás, tem com a Ordem vínculos profundos que remontam aos inícios do segundo milénio, quando nasceu em Jerusalém como Ordem Hospitaleira de São João. São vínculos que haurem alimento quer do religioso afecto da Sé Apostólica como da inteira cristandade pela Terra Santa, quer da própria finalidade da Ordem, que é definida de modo expressivo no lema: «Tuitio fidei, obsequium pauperum».

Finalidade verdadeiramente nobre, que encontra admirável confirmação na inteira história da Ordem, que no decurso dos séculos se qualificou pela defesa da fé, impelida não raro até ao supremo testemunho do sangue, e pelo serviço caritativo para com os peregrinos, os doentes e qualquer outra forma de necessidade humana.

Hoje, a defesa da fé exprime-se sobretudo no testemunho das verdades cristãs, dado com a palavra e com a vida. Isto supõe, como condição preliminar, que se seja bem instruído naquelas verdades e bem convicto do dever de professá-las com coragem e firmeza, como é requerido a um «cavaleiro» que honra a palavra dada. Nesta perspectiva, é-me grato confiar idealmente a todos os Membros da Ordem de Malta o «Catecismo da Igreja Católica», do qual há pouco foi publicada a edição típica em língua latina. Defender a fé significa muitas vezes, especialmente no nosso tempo, defender os grandes valores que a razão humana, sem a luz da Revelação, corre o risco de não captar na sua integridade e radicalidade. Tais são, por exemplo, a dignidade do homem, a natureza da família, o fundamental direito da vida.

Encorajo, Senhor Embaixador, a Ordem inteira a continuar a sustentar com generosidade estas batalhas ideais, das quais depende a civilização do terceiro milénio. Estou certo que a secular Instituição que Vossa Excelência aqui representa, não deixará de perseverar em oferecer o seu precioso contributo a todas aquelas iniciativas que a Igreja, fiel ao desígnio de Deus para a humanidade, está a empreender na salvaguarda dos direitos de todos, a partir dos mais débeis.

O típico campo de serviço da Ordem de Malta é o cuidado dos doentes e dos peregrinos, honrados pelos seus Membros como «senhores» aos quais se deve prestar assistência, em atitude de «servos ». «Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também» (Jn 13,15) — disse Jesus aos Seus discípulos, depois de lhes ter lavado os pés. Possa este ícone evangélico do serviço animar sempre a acção de quantos militam na Ordem de Malta!

Escutei com satisfação, Senhor Embaixador, o balanço sintético exposto por Vossa Excelência acerca das múltiplas obras que a Ordem dirige no mundo. Elas constituem, sem dúvida, um válido serviço aos necessitados e um eficaz testemunho de Cristo, Bom Samaritano da humanidade. A Santa Sé apoia estas iniciativas e, da minha parte, oro para que elas correspondam sempre melhor ao espírito evangélico e humanitário do qual têm origem.

Com interesse acolhi a sua referência ao particular empenho, que a Ordem de Malta pretende dedicar por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000. A respeito disso, quereria antes de tudo pôr em evidência a feliz coincidência entre o nono centenário da Ordem, que acontecerá em 1999, e a vigília do Ano Santo. Não são muitas, considerando bem, as Instituições que se podem gloriar de uma origem tão antiga: a sua duração estende-se quase pelo inteiro arco do segundo milénio. Que circunstância mais favorável para mostrar aos homens de hoje que, através das profundas transformações da história, a Ordem de Malta, fiel à originária inspiração evangélica, conserva bem vivos os seus bens mais preciosos: a fé e a caridade

A vossa escolha de estardes presentes e activos nos dois centros focais do Jubileu, Roma e Jerusalém, é bastante apropriada e merece todo o bom êxito. Como Bispo de Roma, enquanto exprimo grato apreço por tudo o que a Ordem fez, apresento os mais ardentes votos para aquilo que ela pretende fazer ao serviço dos peregrinos, sempre mais numerosos na visita aos lugares santos da «Cidade eterna».

Senhor Embaixador, enquanto recebo as Cartas que o acreditam para esta nova missão, faço votos de que seja profícua e rica de satisfações e, ao mesmo tempo, asseguro a Vossa Excelência uma constante lembrança na oração. Com estes sentimentos invoco a protecção materna de Maria Santíssima sobre a Soberana Ordem Militar de Malta, que a venera com o título de Virgem de Filéremo, e de coração concedo ao Príncipe e Grão-Mestre, a Vossa Excelência, aos Capelães e a todos os Membros da Ordem, assim como aos seus familiares a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA


EPISCOPAL DE UGANDA EM VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Segunda-feira, 13 de Outubro de 1997



Eminência
Prezados Irmãos Bispos

1. É com afecto fraternal que vos dou as boas-vindas, Bispos de Uganda, rezando para que «o próprio Senhor da paz vos conceda a paz sempre e de todos os modos» (2Th 3,16). As saudações que hoje vos transmito dirigem-se também aos queridos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos das vossas Dioceses. Há quatro anos tive a imensa alegria de visitar Uganda, e as recordações permanecem vivamente conservadas na minha mente, de forma especial a cordialidade da vossa hospitalidade, o ardor das vossas orações e a firmeza da vossa determinação em ser fiéis filhos e filhas da Igreja. Peço-vos que assegureis o vosso povo da minha proximidade, no momento em que se esforça por crescer em Cristo e por se revestir do «novo homem, criado à imagem de Deus na justiça e na santidade que provêm da verdade » (Ep 4,24).

Desde a vossa última visita ad Limina, a Comunidade católica em Uganda, no meio de contínuas provações e desafios, tem experimentado muitas bênçãos. Uma ulterior dádiva do amor de Deus foi a criação de três novas Jurisdições Eclesiásticas: as Dioceses de Kasana-Luweero, de Lugazi e de Nebbi. Trata-se de um agradável sinal da vitalidade da Igreja na vossa terra, e uno-me a vós em acção de graças ao Senhor que dá este crescimento (cf. 1Co 3,7).

2. Cristo jamais cessa de suscitar Pastores fiéis ao seu povo, e vós fostes chamados a ser sucessores dos Apóstolos no oneroso múnus de ensinar, governar e santificar a porção da Igreja confiada ao vosso cuidado. Foi-vos confiado «o ministério da reconciliação» (2Co 5,18), um elemento extremamente essencial no serviço pastoral que prestais às vossas Igrejas locais. «A Igreja em África pressente a exigência de se tornar lugar de autêntica reconciliação para todos, graças ao testemunho dado pelos seus filhos e filhas. Deste modo, mutuamente perdoados e reconciliados, eles poderão levar ao mundo o perdão e a reconciliação que Cristo, nossa Paz (cf. Ef Ep 2,14), oferece à humanidade, através da sua Igreja» (Ecclesia in Africa ).

Nos vossos relatórios quinquenais, demonstrais uma acentuada consciência desta necessidade de reconciliação. Enquanto justamente salientais que foi alcançado muito progresso no avanço da paz e da segurança da vossa nação em geral, não subestimais o trágico facto de a violência continuar a atingir determinadas partes do vosso país, com novas e frequentes irrupções de agressão. Trata-se de um clarividente sinal de que, não obstante Uganda esteja emergindo da sombra de um passado maculado pelo conflito, pela tensão e pelo derrama

derramamento de sangue, nem todas as ameaças contra a paz passaram, e ainda é forte a tentação de manter vivos e alimentar antigos ressentimentos. Por este motivo, neste momento da história de Uganda cabe à Igreja corresponder, com determinação cada vez maior, à injunção de Deus a que seja uma comunidade reconciliadora.

3. Os fiéis leigos católicos têm um especial papel a desempenhar neste sector, pois é em particular a eles que estão confiadas as questões da ordem temporal: a política, a economia e a liderança na sociedade (cf. Lumen gentium LG 31 cf. também Christifideles laici, CL 15). Nestes sectores, são chamados a «empenhar-se directamente no diálogo em vista da reconciliação» (Reconciliatio et paenitentia RP 25). Por esta razão, é deveras importante que vós — como Pastores de almas e guias do Povo de Deus — assegureis que os programas diocesanos e paroquiais possam prover à formação adequada dos leigos. Agora que foi publicado o Directório Catequético Geral, um Directório Catequético Nacional poderia ser extremamente útil para assegurar que o vosso povo assimile cada vez mais o ensinamento da Igreja.

A catequese é uma parte tão importante da missão da Igreja, que exige a constante e concertada acção da vossa Conferência Episcopal no acto de corresponder às necessidades de formação dos fiéis, com especial atenção aos jovens e às crianças desprovidas de qualquer educação formal. Os catequistas deveriam ser o objecto da vossa particular solicitude pastoral. Graças à sua profunda fé e devoção, eles têm desempenhado um papel preeminente desde o nascimento da Igreja em Uganda, e ainda hoje são chamados a oferecer uma contribuição exemplar e abnegada à educação religiosa das suas comunidades. Os vários Centros de Formação Catequética deveriam fazer crescer e enriquecer os programas oferecidos, de forma que os catequistas adquiram cada vez mais as capacidades de que têm necessidade para corresponder efectivamente às exigências que se lhes apresentam.

4. Em geral, os leigos ugandenses estão a assumir uma parte cada vez mais activa e responsável na vida das suas Igrejas locais. Nas pequenas comunidades cristãs e nas associações e movimentos, crescem na fé e na santidade cristãs. Através dos Conselhos pastorais paroquiais e diocesanos e de outros Organismos no seio da comunidade, ajudam a edificar a Igreja como comunhão de todos os seus membros. Esta riqueza de empenho e entusiasmo está confiada à vossa liderança pastoral como uma graça e um dever. Esta constitui a base sobre a qual podeis preparar o inteiro Povo de Deus em Uganda para a celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, já iminente, como uma alegre e transformadora renovação da fé em Jesus Cristo, «o único Salvador do mundo ontem, hoje e sempre» (cf. Hb He 13,8).

Naturalmente, em tudo isto a paróquia permanece no próprio âmago da Comunidade cristã e de todas as actividades pastorais. Pois é a paróquia que «tem um papel essencial na formação mais imediata e pessoal dos leigos... permitindo uma maior compreensão e vivência das imensas e extraordinárias riquezas e da responsabilidade do Baptismo recebido» (Christifideles laici, CL 61). Por este motivo, devem-se fazer esforços no sentido de criar novas paróquias, de modo especial lá onde as já existentes são extremamente vastas em termos de população, ou demasiado extensas sob o ponto de vista do território. Aumentar o número das paróquias e reduzir o tamanho e a área das maiores de entre elas ajudará a dedicar maior atenção às necessidades pastorais das pessoas em geral e das famílias, facilitando o ministério efectivo dos párocos.

5. Mediante os vossos esforços, tanto individuais como conjuntos, a Igreja que está em Uganda desempenha um papel muito activo na criação e no sustento de estruturas e de instituições, que tornam a sociedade capaz de corresponder às necessidades e às aspirações do povo. Há uma acentuada presença católica nos campos da educação, da assistência médica e dos serviços sociais, e a vossa liderança revigora os fiéis no acto de enfrentarem alguns problemas muito difíceis. Entre estes, conta-se o flagelo da Sida, que tem atingido arduamente o vosso país. Na vossa Carta pastoral Let Your Light Shine («Brilhe a Tua luz»), pusestes em evidência o facto de esta trágica situação «precisar de ser enfrentada na solidariedade, com muito amor e cuidado das vítimas, com grande generosidade para com os órfãos e com profundo empenhamento num renovado estilo de vida moral cristã» (n. 28). Assim, lançastes um apelo a que se reflicta sobre as problemáticas morais e sociais mais profundas, associadas a esta enfermidade, e convidastes todos a permanecerem firmes perante uma insidiosa crise de valores, que já está induzindo muitas pessoas ao esmorecimento espiritual, indiferentes à virtude e ao que constitui o genuíno progresso da sociedade.

Uma resposta adequada a este desafio exige a inculturação efectiva da mensagem cristã, uma tarefa delicada e difícil que põe «em causa a fidelidade da Igreja ao Evangelho e à Tradição apostólica, na evolução constante das culturas» ((Ecclesia in Africa ). A esta inculturação apresenta-se um determinado número de desafios específicos em Uganda, especialmente nas áreas do matrimónio e da vida familiar. Os incansáveis esforços, em vista de orientar os casais rumo à descoberta da verdade e da beleza das exigências da sua nova vida comum em Cristo, constituem uma parte indispensável do vosso ministério. A célula da vida eclesial, conhecida como «igreja doméstica», deve ocupar sempre um lugar singular na solicitude pastoral da Igreja. A Exortação Apostólica Familiaris consortio oferece um contexto para a catequese prática, em particular na área vital da preparação para o matrimónio. Os fiéis devem ser auxiliados a compreender o significado e a dignidade sacramental do matrimónio, e receber um vigoroso apoio da parte de toda a Comunidade católica para a plena vivência do seu compromisso.

No processo da transformação da vida familiar mediante a graça do Evangelho, o conceito da paternidade e maternidade responsáveis exige uma atenção especial (cf. Familiaris consortio FC 22 ss.). Ser pai ou mãe significa participar na obra de Deus como Autor da vida. O contexto adequado para a procriação é a união permanente e exclusiva que os cônjuges estabelecem através do dom completo, constante e recíproco de si mesmos. A insistência da Igreja acerca do matrimónio monógamo não constitui a imposição de um ideal alheio, em desvantagem das tradições locais. Pelo contrário, em fidelidade ao seu Senhor, a Igreja proclama que «Cristo renova o desígnio primitivo que o Criador inscreveu no coração do homem e da mulher... os cônjuges cristãos são chamados a uma participação na indissolubilidade irrevogável que liga Cristo à Igreja, sua Esposa, por Ele amada até ao fim» (Ibidem, 20). O mesmo documento exorta cada Bispo a «fazer com que a sua diocese se torne sempre mais uma verdadeira “família diocesana”, modelo e fonte de esperança para tantas famílias que a integram» (Ibidem, 73).

6. Um auxílio inestimável aos fiéis leigos que se esforçam por viver em conformidade com a vontade de Deus, é a fidelidade dos sacerdotes e dos religiosos ao seu compromisso no celibato e na virgindade: «O matrimónio e a virgindade [ou o celibato] são dois modos de exprimir e de viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu Povo» (Ibidem, 16). O que se requer em qualquer aliança é a fidelidade. Na nossa época, que tem muita necessidade de uma profunda mudança do coração no que concerne à moralidade sexual e ao amor esponsal, devemos confiar em que o Senhor ainda chama muitos dos seus seguidores ao celibato, «por amor do Reino do Céu» (Mt 19,12). Devemos estar também convencidos de que Ele é ainda mais generoso no revigoramento dos eleitos que procuram responder a esta chamada, com todos os sacrifícios que comporta uma resposta sincera à vocação ao celibato ou à virgindade. O exemplo de sacerdotes e religiosos, que verdadeiramente vivem segundo a própria vocação, ajudará os leigos a suportarem a abnegação exigida pela obediência ao desígnio de Deus para a sexualidade humana. Desta forma, todo o povo santo de Deus há-de levar uma vida deveras fecunda e encontrar a felicidade duradoura (cf. Familiaris consortio FC 16).

A formação sacerdotal deve constituir sempre uma das vossas mais eminentes prioridades. Encorajo-vos a assegurar que os vossos seminários continuem a exigir um alto grau académico e que se pretenda e alcance uma qualidade igualmente elevada na formação espiritual e pastoral dos vossos seminaristas. É essencial que a formação sacerdotal consolide com firmeza os candidatos em um relacionamento de profunda comunhão e amizade com Jesus, o Bom Pastor (cf. Pastores dabo vobis PDV 42). Os sacerdotes e os religiosos exigem o vosso apoio e guia paternais, e podem beneficiar enormemente de programas de formação permanente que, com efeito, «reanimam a dádiva de Deus que neles reside» (cf. 2Tm 1,6). É particularmente importante que as religiosas disponham de directores e confessores em número suficiente e bem preparados, sacerdotes que tenham familiaridade com a vida consagrada e sejam capazes de fortalecê-las no seu empenhamento.

7. Em Cristo tudo se renova; no Baptismo, os fiéis abandonaram a velha natureza que pertencia ao seu antigo estilo de vida (cf. Ef Ep 4,22), e assim já não são «judeus ou gregos, escravos ou libertos, homens ou mulheres, mas todos são um só em Jesus Cristo» (Ga 3,28). As rivalidades tribais e a hostilidade étnica não podem ocupar um lugar na Igreja de Deus, nem no meio do Seu povo santo. Pelo contrário, a Igreja que está em Uganda tem a importante tarefa de ajudar o vosso país a edificar um futuro cada vez mais promissor, no qual a sociedade civil há-de crescer em maturidade no contexto do respeito e da harmonia. Esta é a vossa mensagem, ao anunciardes o Reino de Deus e convidardes homens e mulheres ao esplendor daquela verdade que «brilha em todas as obras do Criador e (...) ilumina a inteligência [do homem] e modela a [sua] liberdade que, deste modo, é levado a conhecer e a amar o Senhor» (Veritatis splendor, Proémio).

Queridos Irmãos no Episcopado, é minha esperança de que estes pensamentos, sugeridos pela vossa visita, vos revigorem no ministério de serviço às pessoas confiadas ao vosso cuidado. Evocando o exemplo heróico de São Carlos Lwanga e dos seus Companheiros, rezo para que os Santos Mártires de Uganda constituam sempre um manancial de inspiração e de renovação, enquanto vós e o vosso Povo procurais crescer na santidade, na verdade e na liberdade genuínas dos filhos de Deus (cf. Rm Rm 8,21). Ao confiar a Igreja de Uganda à protecção de Maria, Mãe de todos os fiéis e Rainha da África, concedo-vos do íntimo do coração a minha Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO ARCEBISPO DE MINSK-MOHILEV (BIELO-RÚSSIA)


POR OCASIÃO DA RECONSAGRAÇÃO DA CATEDRAL






Ao Venerado Irmão Senhor Cardeal KAZIMIERZ SWIATEK
Arcebispo de Minsk-Mohilev

É-me grato poder estar presente, mediante o Senhor Cardeal Edmund C. Szoka, na cerimónia de reconsagração da Catedral de Minsk e participar assim na alegria dos fiéis da Bielo-Rússia. Este templo, dedicado a Jesus, Maria e Santa Bárbara, cuja construção foi iniciada em 1700 por obra dos Padres Jesuítas, após a dissolução da Companhia de Jesus tornou-se igreja paroquial e foi escolhida, em 1798, com a erecção da diocese de Minsk, como Catedral da nova circunscrição, cujo primeiro Bispo foi D. Jakub Daderka.

Em 1951, o regime comunista fechou-a, confiscou-a e transformou-a, entre outras coisas, em Centro de educação física. Ela conheceu, como tantos outros templos dessa amada Nação, um período de profanação, durante o qual, segundo os misteriosos desígnios da Providência, não cessou de ser apelo simbólico para o povo de Deus nos longos anos de perseguição.

Finalmente, em 1994 a antiga Catedral foi restituída à Comunidade católica, e Vossa Eminência, Senhor Cardeal, deu imediatamente início aos trabalhos de restauração. Foram necessárias intervenções profundas e onerosas, para restituir a obra, na medida do possível, ao primitivo esplendor. O cuidado apaixonado que Vossa Eminência lhe dedicou, com o apoio dos fiéis e dos benfeitores, fez com que o intento fosse felizmente alcançado. Como não pensar, recordando tais vicissitudes, nas provas dos nossos Pais da Antiga Aliança: exilados de Sião, privados do culto do templo, depois com muita alegria regressaram à cidade santa e edificaram ali o santuário? Ressoaram mais que nunca actuais, também para as componentes dessa Comunidade, as palavras do profeta: «Coragem, povo todo do país! Mãos à obra! Porque Eu estou convosco — diz o Senhor... O esplendor futuro deste Templo será maior do que o primeiro... e neste lugar Eu darei a paz» (Ag 2,4 Ag 2,9).

A glória da Igreja, Venerado Irmão, é Cristo Senhor: Sacerdote, Sacrifício e Templo da Nova Aliança. Possa este evento constituir para os fiéis desse amado País, encaminhados para o terceiro milénio cristão, uma providencial ocasião para renovarem o empenho de ser «pedras vivas para a construção dum edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1P 2,5).

A nova dedicação da Catedral de Santa Maria em Minsk recorde a todos esta vocação e missão, e a Virgem Mãe de Deus, imagem e modelo da Igreja, estrela da evangelização, seja guia para o povo fiel, para que possa corresponder aos desígnios divinos com fervor de fé, esperança e caridade, para a edificação e o conforto de todas as pessoas de boa vontade.

A Vossa Eminência, Venerado Irmão, que nessa solene circunstância recordará também o seu 83° aniversário de nascimento, chegue a expressão das minhas vivas felicitações e dos mais sentidos bons votos. Acompanhoos de coração com uma especial Bênção Apostólica, que faço extensiva aos sacerdotes, aos religiosos e aos fiéis da inteira arquidiocese.

Vaticano, 15 de Outubro de 1997.

IOANNES PAULUS PP. II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS POLACOS OUVINTES


DA «RÁDIO MARIA» REUNIDOS


NA PRAÇA DE SÃO PEDRO


16 de Outubro de 1997



1. Sinto-me feliz por que os ouvintes da Rádio Maria vieram em peregrinação à Cidade Eterna, para visitar os túmulos dos Apóstolos e encontrar-se com o Papa, desta vez no aniversário da sua eleição à Sede de São Pedro. Saúdo-vos cordialmente. Saúdo também D. Andrzej Suski que, como representante da Conferência Episcopal Polaca, vos acompanha nesta peregrinação. No território da sua Diocese, em Toruñ, tem sede a redacção da Rádio Maria. A sua presença neste dia constitui a expressão da solicitude do Episcopado pelos meios de comunicação social na Polónia. Saúdo o Padre Director da Rádio Maria e os seus Colaboradores. Agradeço a fadiga desta peregrinação e este encontro, as vossas orações e, de modo especial, os dons espirituais que são um eficaz apoio ao Papa no seu ministerium petrinum. Estou grato, de modo particular, àquelas nossas irmãs e irmãos que oferecem os seus sofrimentos pela Igreja. Deus lhes recompense! Transmiti, além disso, o meu agradecimento àqueles que não puderam vir hoje à Praça de São Pedro: saudai as vossas famílias, os vossos entes queridos, os doentes e as pessoas anciãs. Saudai todos os ouvintes da Rádio Maria na Polónia e no estrangeiro.

2. O Concílio Ecuménico Vaticano II, no Decreto sobre os meios de comunicação social, ensina: «A Igreja católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para levar a salvação a todos os homens, e por isso mesmo obrigada a evangelizar, considera seu dever pregar a mensagem de salvação, servindo-se dos meios de comunicação social, e ensina os homens a usar rectamente estes meios» (n. 3).

A Igreja não teme os meios de comunicação social, ao contrário, tem necessidade deles para a sua missão salvífica, isto é, para a evangelização. E o que é a evangelização É anunciar à humanidade a Boa Nova de Cristo que, com a Sua morte e a Sua ressurreição, redimiu todos os homens. Os meios de comunicação usados de modo correcto prestam um grande serviço aos homens. Devem, todavia, transmitir uma informação precisa e honesta, de acordo com a verdade, e devem também enriquecer o espírito, cuidando da formação religiosa e moral dos seus destinatários. Ao aperfeiçoarem as consciências humanas, contribuem desse modo para o bem comum, para o desenvolvimento de toda a sociedade e da nação inteira.

A rádio é um dos meios de comunicação social de mais larga difusão. É motivo de alegria, portanto, o facto que na Polónia, nos últimos anos, tenham surgido numerosos centros de radiodifusão católica dirigidos pelas Dioceses, Paróquias, Ordens religiosas e Associações. Desejo exprimir o meu grande reconhecimento aos leigos e aos membros do clero que põem à disposição muitos talentos, muita fadiga e muito tempo a fim de criarem os programas para a rádio e os transmitirem.

Entre estas emissoras na Polónia, a Rádio Maria é muito popular. É grande a contribuição que a vossa emissora oferece à obra evangelizadora. Graças às suas transmissões o pensamento sobre Deus atinge muitas pessoas e muitos ambientes na Polónia, e também fora dos seus confins e noutros continentes.

Oração e catequese são os dois elementos essenciais que distinguem uma rádio católica das outras. Alegro-me pela sua presença na Rádio Maria. Hoje, quereria pôr em evidência de modo particular a oração. A oração, com efeito, está no início da evangelização. É uma silenciosa mas eficaz fonte, da qual brota a força para dar testemunho. A vossa presença tão numerosa aqui é, entre outras coisas, fruto desse apostolado. Através das ondas da Rádio Maria são transmitidas a Santa Missa e também muitas orações profundamente arraigadas na nossa piedade polaca. Poder-se-iam mencionar aqui a recitação do Rosário, a pequena coroa em honra da Misericórdia divina, o «Angelus», o Pequeno Ofício em honra da Imaculada Conceição de Maria Santíssima, assim como a oração litúrgica das horas. É louvável que na Rádio Maria se ore e se ensine a oração aos ouvintes, mostrando como é grande a necessidade que dela têm o homem contemporâneo, a família, a Igreja e o mundo. Na vida de piedade, na vida moral e no apostolado, a oração é insubstituível. São Paulo escreve: «Orai incessantemente» (1Th 5,17), «Perseverai na oração» (Col 4,2).

Alguns dias após a eleição à sede de São Pedro, fui ao Santuário mariano de Mentorella, nos arredores de Roma, e ali falei aos peregrinos sobre a necessidade da oração na vida cristã. Disse, então, que «a Igreja ora, a Igreja quer orar, deseja estar ao serviço do dom mais simples e ao mesmo tempo esplêndido do espírito humano, que se exprime na oração. A oração é, de facto, a primeira expressão da verdade interior do homem, a primeira condição da autêntica liberdade do espírito... A oração dá sentido à vida inteira, em cada momento seu e em qualquer circunstância» (29 de Outubro de 1978, L’Osserv. Rom 5/11/1978, pág. Rm 12).

Estou contente porque hoje, após dezanove anos de serviço — no ministério petrino — à Igreja e ao mundo, posso compartilhar convosco esta recordação. Exorto-vos a perseverar na oração e no apostolado animado pela oração.

Hoje, na vida de piedade e na vida social, na vida de muitas pessoas e nações há uma particular necessidade deste apostolado. A oração torna sensível a consciência do homem aos essenciais valores da verdade, da justiça, do amor e da paz. Estes valores estão nas vicissitudes de uma nação, como o sal e a luz: só eles podem dar sabor à «terra» dos corações e iluminar a mente, tornando o mundo mais humano e mais divino. Agradeço à Rádio Maria este apostolado da oração, e também a oração segundo as intenções do Papa. Ao mesmo tempo peço: alimentai este espírito de oração. Por isto estou grato também a todas as outras emissoras de rádio católicas da Polónia.

Vós cumpris a grande missão de anunciar o Evangelho «a todas as criaturas ». Sede semelhantes ao semeador evangélico, que saiu para semear. E enquanto semeava, uma parte caiu ao longo do caminho, uma outra entre as pedras, outra ainda entre os espinhos, e outra, por fim, caiu na terra boa e deu fruto (cf. Mc Mc 4,2-8). Esta semente é a Palavra de Deus, anunciada também através das ondas da rádio a todos aqueles que a querem escutar e haurir dela a força. A catequese que realizais é um serviço à Igreja e à sociedade.

3. Meus caros, a vossa actividade é um serviço à Igreja. Este comporta para vós a grande responsabilidade de colaborar fielmente com os Bispos, em espírito de comunhão eclesial e de amor cristão, para fazer com que cresça o Corpo de Cristo, isto é, a Igreja. Possa o Evangelho na Polónia ser anunciado, em uníssono com a voz da Igreja, edificada sobre o fundamento dos Apóstolos, e esta unidade de acção seja ao mesmo tempo o testemunho da vossa dedicação e fidelidade a Cristo.

Suplico ao Espírito Santo, por intercessão da Santíssima Mãe, as graças necessárias para esta grande obra de evangelização. De todo o coração abençoo- vos, a vós aqui presentes, às vossas famílias e aos vossos entes queridos, aos colaboradores sacerdotes e leigos da Rádio Maria, aos voluntários e a todos os que anunciam através das ondas da rádio, «até aos confins do mundo» (Ac 1,8), a mensagem evangélica da verdade e do amor.




Discursos João Paulo II 1997 - Sexta-feira, 13 de Outubro de 1997