Discursos João Paulo II 1997

Unindo-se misticamente à cruz do Senhor e completando na sua carne «aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo» (Col 1,24), ele testemunhou a força do Ressuscitado que vence a morte, e mostrou o poder do Espírito que sustenta o Corpo místico, na luta contra as potências das trevas.

Com o seu gesto heróico, o Mártir afirma que Cristo é o sentido último da vida do homem e a verdade definitiva da história, e que só n’Ele a humanidade se torna capaz de responder plenamente ao projecto divino.

Na esteira do Concílio Ecuménico Vaticano II, que recorda como o martírio, «pelo qual o discípulo se torna semelhante ao Mestre, que livremente aceitou a morte para a salvação do mundo, e a Ele se conformou no derramamento do sangue, é considerado pela Igreja como um dom insigne e prova suprema de amor» (Lumen gentium LG 42), os bergamascos de hoje são convidados a dar graças pelo seu celeste Padroeiro e a assumir o seu testemunho, como referência segura para viverem a fidelidade a Cristo no nosso tempo.

4. Sob a sua iluminada guia pastoral, Venerado Irmão, os fiéis dessa amada Diocese, testemunhas e protagonistas de grandes transformações culturais e de um bem-estar económico amplamente difundido, poderão contrastar de maneira eficaz o subtil secularismo da sociedade actual, que insidia a vida moral e ameaça a sólida relação com a fé cristã, traço característico da identidade bergamasca.

Diante da possibilidade de uma religiosidade motivada por referências culturais, mais do que pela adesão pessoal a Cristo, o glorioso martírio de Santo Alexandre exorta todos a reafirmarem a centralidade da Cruz e da Ressurreição na experiência cristã e a defenderem-se do perigo de empobrecer o Evangelho, adequando-o à lógica do mundo.

No limiar do novo Milénio, como no decurso da primeira evangelização, também para os cristãos dessa terra se renova a urgência de testemunharem com coragem Jesus Cristo, único Salvador do mundo!

5. Essa urgência requer dos indivíduos e das comunidades que se deixem conduzir pelo Espírito do Senhor. Ele reavivará em cada um a consciência de ser amado pelo Pai e dará, com a força de seguir Cristo, a alegria de redescobrir n’Ele o tesouro que dá sentido à vida. Sustentará a fé nos momentos difíceis e, infundindo confiante espera no cumprimento do Reino, guiará o caminho de conversão.

Através da escuta da Palavra de Deus, da obediência aos Pastores, da celebração dos Sacramentos e, de modo especial, da «fracção do pão» eucarístico, o Espírito conduzirá os cristãos bergamascos a projectarem a convivência civil, à luz das Bem-aventuranças, para construírem a civilização do amor.

Também as comunidades cristãs, dóceis à voz do Espírito, se empenharão em proclamar com novo entusiasmo o Evangelho e em elaborar itinerários de fé, que consintam aos próximos e aos distantes, aos jovens e aos adultos encontrar pessoalmente Jesus Cristo e assumi-l’O como referência essencial da existência.

Olhando para Santo Alexandre, dom insigne do Senhor para as populações bergamascas, as diversas comunidades eclesiais, confiadas aos seus cuidados pastorais, são chamadas a valorizar os inúmeros e preciosos carismas com que foram enriquecidas, para continuarem a pô-los ao serviço do crescimento da Igreja local e da Igreja universal. Serão, além disso, solicitadas a viver com dedicação evangélica as actividades educativas e caritativas e a transformar as inúmeras tradições populares em modernas fronteiras de evangelização, dotando-as com novo impulso e motivações mais profundas.

Com estes bons votos, enquanto peço ao Senhor, por intercessão de Santo Alexandre, o dom de uma fé viva, de uma esperança firme e de uma caridade operosa para os fiéis da dilecta Diocese de Bérgamo, de coração concedo-lhe, Venerado Irmão, assim como aos Presbíteros, aos Religiosos, às Religiosas, às Famílias e ao inteiro Povo de Deus uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 7 de Novembro de 1997.

JOÃO PAULO II


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS SUPERIORES E ALUNOS PRESBÍTEROS


DO PONTIFÍCIO COLÉGIO MEXICANO DE ROMA


5 de Dezembro de 1997

: Queridos Irmãos no Episcopado
Estimados Superiores e Alunos presbíteros
do Pontifício Colégio Mexicano de Roma

1. É-me grato dar-vos as boas-vindas a este encontro com a Comunidade dessa instituição e com o pessoal colaborador, acompanhados pelo Senhor Cardeal Juan Sandoval Íñiguez, Arcebispo de Guadalajara, e por outros Pastores diocesanos da vossa nação, que participam actualmente na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América.

A vossa presença aqui, com a qual desejais renovar o afecto e a adesão ao Sucessor de Pedro, coincide com o XXX aniversário de fundação do vosso Colégio, na qual intervieram de maneira muito directa o Papa Paulo VI — cujo centenário de nascimento celebrámos recentemente — e o primeiro Cardeal mexicano, José Garibi Rivera, Arcebispo de Guadalajara. De igual modo quero recordar as duas visitas que fiz à vossa casa, a primeira em Dezembro de 1979 e a segunda em Novembro de 1992, por ocasião do XXV aniversário. Estar convosco faz-me sentir perto das vossas dioceses e lugares de origem e, ao mesmo tempo, faz-me reviver as inesquecíveis viagens pastorais efectuadas ao vosso querido País.

2. Durante estes anos o Colégio favoreceu um ambiente adequado, que permite aprofundar e ampliar a formação académica e espiritual, tão necessária para o ministério sacerdotal no futuro, que é o objectivo concreto da vossa permanência aqui. Ao mesmo tempo, estar alguns anos em Roma facilita perceber de perto a dimensão universal da Igreja, ao mesmo tempo que se vive a comunhão eclesial que ajuda a acolher melhor os ensinamentos do seu Magistério; também vos proporciona conhecer outras realidades eclesiais e culturais, graças à convivência com sacerdotes de diversos países, o que é, sem dúvida, um enriquecimento para o vasto campo da pastoral.

3. Embora distantes fisicamente, sei que no vosso coração tendes presentes as pessoas que atendíeis no vosso ministério; o verdadeiro pastor não pode esquecer os seus fiéis, impelido pela caridade pastoral ao estilo de Cristo. A respeito disso, «a mesma caridade pastoral impele o presbítero a conhecer cada vez mais as esperanças, as necessidades, os problemas, as sensibilidades dos destinatários do seu ministério: destinatários envolvidos nas suas concretas situações pessoais, familiares e sociais» (Pastores dabo vobis PDV 70).

No domingo passado iniciámos o segundo ano de preparação para o grande Jubileu do Ano 2000, dedicado ao Espírito Santo. Ele deve estar presente na nossa vida, já que é a alma da verdadeira caridade pastoral e da santificação pessoal. O Espírito de Cristo, que recebemos na ordenação sacerdotal, configura- nos com Ele, modelo de pastores, para que possamos actuar no Seu nome e viver intimamente os Seus mesmos sentimentos. Imitando a Cristo, pobre, casto e humilde, é o modo como o sacerdote se pode entregar sem reservas aos demais, amando a Igreja que é santa e que nos quer santos, para podermos ajudar assim a santificação das pessoas que nos foram confiadas.

4. Antes de terminar, desejo expressar o meu reconhecimento à Comissão Episcopal para o Colégio Mexicano, por seguir de perto a programação de iniciativas e o seu desenvolvimento. De igual modo, quero agradecer aos padres Superiores o seu trabalho de orientação e guia espiritual dos presbíteros estudantes, assim como às religiosas Irmãs dos Pobres, Servas do Sagrado Coração de Jesus, as quais, de maneira silenciosa, juntamente com o pessoal leigo, fazem com que esta comunidade sacerdotal viva como em família e a sua convivência esteja presidida por um sadio e alegre clima de fraternidade.

Dentro de poucos dias, precisamente na festa de Nossa Senhora de Guadalupe, concluir-se-á a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América. A Ela, a primeira evangelizadora da América, confio a nova ocasião de graça que foi este novo Encontro eclesial, onde os seus Pastores assumiram com todas as suas forças e esperanças os desafios da nova evangelização para aquele vasto continente.

À Virgem de Guadalupe, Rainha da vossa amada Nação e Mãe de todos os mexicanos, que na sua Basílica do Tepeyac recebe as demonstrações de amor dos seus filhos, peço que interceda por vós diante do seu divino Filho, sumo e eterno Sacerdote, e vos acompanhe sempre com a sua solícita presença e ternura materna. Como confirmação destes ardentes votos, é-me grato conceder- vos a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva aos vossos familiares e aos benfeitores do Colégio.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ALTAN GÜVEN


NOVO EMBAIXADOR DA TURQUIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


6 de Dezembro de 1997



Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e receber as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Turquia junto da Santa Sé. Estou- lhe reconhecido pelas cordiais saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Süleyman Demirel. Aproveito esta oportunidade para reconfirmar o meu profundo respeito pelo povo da Turquia, e peço- lhe que transmita a Sua Excelência a certeza das minhas orações e dos meus melhores votos pela paz e o bem-estar da nação.

Vossa Excelência referiu-se à amizade que desde há muitos anos tem caracterizado os relacionamentos entre o seu país e a Santa Sé. Compartilho a esperança de que se entreteçam formas de cooperação cada vez mais activas entre a Santa Sé e a Turquia. Quando ambas estão preocupadas em encontrar modos de refortalecer a paz mundial, existem muitas áreas abertas à compreensão recíproca e à entreajuda.

Dois princípios gerais constituem a base de todas as organizações sociais e o fundamento da paz no mundo. O primeiro é a dignidade inalienável de cada pessoa humana, independentemente da origem étnica, das características culturais ou nacionais ou ainda da crença religiosa. O segundo é a unidade fundamental da raça humana, que haure a sua origem do único Deus Criador (cf. Mensagem para a Celebração do Dia Mundial da Paz de 1989, n. 3). O trabalho da Santa Sé em favor da promoção da paz está assente sobre o compromisso em salvaguardar a dignidade de cada ser humano. A dignidade humana diz respeito não só à existência individual da pessoa, mas também a fundamentais dimensões culturais e religiosas dos seus relacionamentos com os outros. Portanto, a harmonia genuína no seio de uma nação e entre os países só se pode manter se as diferenças naturais e legítimas entre os povos forem consideradas como uma realidade enriquecedora, em vez de serem reprimidas como causa de divisão. Vossa Excelência referiu-se ao problema da discriminação contra as pessoas que são obrigadas a procurar um trabalho fora do próprio país. À luz dos princípios mencionados, trata-se sem dúvida de uma problemática que deve ser abordada num espírito de diálogo e abertura à contribuição que, na diversidade das suas experiências e costumes, os imigrantes podem oferecer à sociedade que os acolhe. A harmonia genuína constitui o resultado do paciente e difícil diálogo entre as partes interessadas, um diálogo em que cada um busca o bem do outro enquanto salvaguarda o bem que lhe é próprio.

A rica herança histórica e cultural da Turquia inspira muitos dos seus compatriotas a terem em vista uma integração mais completa na Família europeia das nações. A interdependência sempre crescente entre as nações, em termos de relações comerciais e políticas, constitui um dado de facto da actual situação mundial. Contudo, é imperativo que esta interdependência progrida, transformando- se em efectiva solidariedade internacional. A solidariedade é uma firme e perseverante determinação em empenhar-se a favor do bem comum, isto é, do bem geral de cada um e de todas as pessoas, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 38). Isto vale também para os países: jamais haverá paz genuína se um país prosperar enquanto o seu vizinho continuar a viver em necessidade. As nações mais abastadas e poderosas têm o dever de ajudar os países em vias de desenvolvimento, não só financeiramente, mas também nos campos da educação e da ciência, tendo em vista a sua promoção e progresso verdadeiros (cf. Populorum progressio PP 48). Como uma ponte entre a Europa e a Ásia, o seu país recorda que as nações mais prósperas deste continente deveriam estar cada vez mais disponíveis a corresponder às necessidades dos povos, mesmo para além das suas fronteiras.

O desenvolvimento humano integral exige mais do que uma prosperidade material. O respeito rigoroso pelas necessidades culturais, morais e espirituais das pessoas e das comunidades, assente na dignidade da pessoa e na identidade específica de cada uma das comunidades, constitui uma condição essencial para o bem-estar de cada sociedade (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 33). A este propósito, apraz-me tomar conhecimento, através das suas palavras, da contribuição que os católicos oferecem à sociedade turca e da segurança que lhes é garantida no que concerne à liberdade de praticar a própria fé. A liberdade religiosa, que inclui a liberdade do rito e da educação das futuras gerações na fé, é de importância fundamental para a harmonia cívica. Trata-se de uma condição para os grupos religiosos minoritários poderem considerar-se cidadãos do Estado a pleno título, encorajando-os a participar inteiramente no desenvolvimento da nação. Os membros da Igreja católica no seu país, embora sejam poucos, são orgulhosos da própria herança nacional e têm muito a peito o bem da sua pátria.

É importante que os vários grupos religiosos presentes em uma nação se relacionem uns com os outros, com respeito e tolerância recíprocos. O diálogo inter- religioso contribuirá sobremaneira para promover tais relações. A existência de diferentes grupos religiosos e étnicos no seio de uma determinada nação representa tanto um desafio como uma oportunidade, especialmente para os líderes políticos e os legisladores. As autoridades civis têm necessidade de estar muito conscientes das reivindicações legítimas dos vários grupos, correspondendo-lhes de maneira apropriada. O respeito pelas diversas tradições culturais e espirituais das pessoas que vivem dentro das fronteiras de um Estado permite que o próprio país em questão se apresente no seio da comunidade internacional como um exemplo da paz e da harmonia que deveriam triunfar no mundo inteiro.

Vossa Excelência falou sobre a importante ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000. A terra da Turquia é rica de memórias das viagens missionárias do grande Apóstolo Paulo. Os primeiros sete Concílios ecuménicos tiveram lugar na região que hoje é o seu país. Nestes anos de preparação, os cristãos estão a reflectir sobre os mistérios da fé, muitos dos quais foram abordados pelos nossos antepassados na fé, durante os grandiosos Concílios realizados em Niceia, Constantinopla, Éfeso e Calcedónia. Para os cristãos, estes constituem pontos de referência fundamentais para a nossa fé em Deus e na Encarnação. O Jubileu é um evento acima de tudo espiritual. Os cristãos que viajarem aos lugares relacionados com a sua própria fé, fá-lo-ão sobretudo como peregrinos, para quem as celebrações religiosas nos inumeráveis lugares associados ao início da vida da Igreja hão-de constituir o ponto central da sua visita. Vossa Excelência pôs em evidência a boa vontade do Governo turco em cooperar na organização das celebrações do Jubileu, e estou grato pela sua disponibilidade em receber as inúmeras pessoas que visitarão esses lugares sagrados, tão queridos a todos os cristãos.

Excelência, apresento-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão como Embaixador do seu país. Os vários departamentos e secções da Santa Sé estarão sempre prontos a assisti- lo no cumprimento dos seus sublimes deveres. Invoco as abundantes bênçãos divinas sobre Vossa Excelência e sobre o Governo e o Povo da Turquia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS PARTICIPANTES NO XXIV CONGRESSO


DO CENTRO ITALIANO FEMININO


Sábado, 6 de Dezembro de 1997



Caríssimas Irmãs!

1. Por ocasião do vigésimo quarto Congresso dessa Associação, é-me grato acolher-vos nesta especial Audiência. Saúdo cordialmente a vossa Presidente, Senhora Maria Chiaia, a quem agradeço as amáveis palavras, e saúdo igualmente as participantes no Congresso e todas as mulheres que aderem ao Centro Italiano Feminino.

A todas dirijo um vivo augúrio, acompanhado dos ardentes votos por que o vosso encontro — que tem por tema «Mulheres e cultura europeia rumo ao Terceiro Milénio» — possa favorecer a valorização da insubstituível contribuição da reflexão e da sensibilidade femininas nos rápidos processos que estão a atravessar a Itália e a Europa, neste último período do segundo milénio.

Iluminado pela fé, arraigado na inexaurível fonte da Revelação e inserido na vida da Igreja, o empenho feminino ao serviço da sociedade e da comunidade cristã pode validamente fazer ressaltar, nas formas apropriadas e em benefício de todos, aquele «génio» com o qual Deus Criador quis enriquecer a mulher.

2. As narrações evangélicas mostramnos que a atitude de Cristo para com as mulheres sempre se inspirou na afirmação da verdade sobre o seu ser e a sua missão. Com as palavras e as acções, Cristo opôs-Se a tudo o que ofendia a dignidade delas. A mensagem do Redentor, portanto, é obra de libertação, verdade que, uma vez conhecida, liberta (cf. Jo Jn 8,32) de maneira que quem nela vive se aproxima da luz (cf. Jo Jn 3,21).

Isto foi bem compreendido pela Mãe de Jesus e pelas discípulas que jamais abandonaram o Mestre, nem sequer quando parecia que a Sua vicissitude terrena devesse concluir-se com a tragédia da cruz. Para premiar esta fidelidade delas, Cristo quis escolhê-las como as primeiras testemunhas da Ressurreição (cf. Mt Mt 28,1-10 Lc 24,8-11 Jn 20,18).

A sensibilidade característica da feminilidade tornou as discípulas anunciadoras privilegiadas das grandes obras realizadas por Deus em Cristo (cf. Ac 2,11), manifestando assim a vocação profética que compete à mulher na Igreja e no mundo. «Na vocação assim entendida, a personalidade da mulher atinge nova medida: a medida das “grandes obras de Deus”, da quais a mulher se torna sujeito vivo e testemunha insubstituível » (Carta Apost. Mulieris dignitatem MD 16). A sensibilidade feminina tornou- se riqueza para a comunidade dos crentes e instrumento insubstituível na edificação do humanismo cristão, que serve de fundamento para a «civilização do amor».

3. Caríssimas Irmãs, em virtude desta vocação específica, a mulher é chamada a ser sujeito activo nos processos que interessam sobretudo a ela mesma, tais como o respeito da sua dignidade pessoal, a efectiva igualdade de trabalhadora, a valorização dos contributos culturais e políticos que ela é capaz de oferecer à vida civil, o seu papel no anúncio do Evangelho, a promoção das riquezas da feminilidade nos âmbitos social e eclesial.

Mas a ela deve ser reconhecido, além disso, um maior espaço nos esforços que a sociedade realiza para resolver os problemas que a afligem. Em particular, o papel da mulher é mais que nunca importante naquilo que concerne à qualidade da vida e ao necessário cuidado do ambiente, à oferta de serviços sociais com atenção às autênticas necessidades da especificidade da pessoa, à humanização das providências legislativas a respeito dos fenómenos migratórios, à organização do tempo livre, à protecção da maternidade e da família, à afirmação da preeminência da dignidade humana sobre os processos produtivos e económicos, à educação das jovens gerações.

4. Esta obra de atenta promoção das especificidades humanas, espirituais, morais e intelectuais, que o génio feminino pode oferecer à sociedade contemporânea, torna-se ainda mais urgente na perspectiva do próximo milénio. Trata-se de valorizar as potencialidades típicas da mulher, complementares aos dons com que Deus enriqueceu a sensibilidade masculina. Ambas constituem um complemento recíproco e, graças a esta dualidade, o «humano» realiza-se plenamente.

Caríssimas Irmãs, deixai-vos guiar e sustentar pelo poder de Cristo Redentor; vivereis assim mais em profundidade a missão, a vós confiada por Deus, de servir a vida no amor, à imagem de Maria, «a escrava do Senhor» (Lc 1,38). Esta missão impele-vos, mulheres, a ser protagonistas na humanização das complexas dinâmicas que interrogam ou afligem a humanidade do nosso tempo. Vós sois chamadas a ser construtoras de eficaz esperança, uma esperança que para os crentes se tornou firme pela graça do Espírito Santo, o Qual guia e sustenta as fadigas para a edificação de uma civilização e de uma história cada vez mais inspiradas nos valores evangélicos da justiça, do amor e da paz. No segundo ano, há pouco iniciado, de preparação para o evento jubilar do Ano 2000, o exemplo e a intercessão da Virgem, mulher dócil que, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4,18), deu ao mundo o Salvador, sirvam de apoio à vossa obra e à de tantas mulheres que, com a ajuda de Deus, querem e podem contribuir para a edificação de um mundo melhor.

Com estes bons votos e invocando a abundância dos favores celestes sobre vós e sobre as caríssimas irmãs que se reconhecem nos ideais do Centro Italiano Feminino, concedo a todas a minha cordial Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS DIRIGENTES E ATLETA DO CLUBE


DE FUTEBOL «ATALANTA»


6 de Dezembro de 1997



Caros Dirigentes e Atletas do «Atalanta»!

1. É-me grato acolher-vos, juntamente com os vossos familiares, e agradeço-vos esta vossa visita. Vindes de uma terra, a bergamasca, rica de tradições cristãs. É a terra onde nasceram o meu venerado predecessor, o Papa João XXIII, e numerosos Bispos e sacerdotes, missionários e missionárias, que trabalharam e continuam a trabalhar activamente pelo Reino de Deus, assim como muitos leigos empenhados com seriedade no serviço do próximo.

Desta tradição fazem parte também os «oratórios», nos quais uma componente importante da educação dos jovens é constituída pelo desporto. Penso que também alguns de vós, caros atletas, cresceram no ambiente dos oratórios, e que isto vos ajude a conservar uma visão equilibrada e completa do papel do desporto na formação e na vida pessoal e familiar.

2. O empenho desportivo pode ser um útil treinamento para a fortaleza, uma base para construir nos jovens uma personalidade harmónica, solidária e generosa, aberta à compreensão e à colaboração com os outros. O apóstolo Paulo, que conhecia o agonismo das competições desportivas, comparava o esforço do cristão, nalguns aspectos, àquele que um atleta consciencioso deve enfrentar. Faço votos por que também para vós seja assim: todo o encontro agonístico seja uma competição para o bem e para promover os autênticos valores da existência, com a tenacidade e o espírito de sacrifício que de vós são requeridos para os treinamentos e as «partidas».

E jamais esqueçais, caros atletas, que os outros, especialmente os jovens, olham para vós, visto que para eles sois modelos e muitas vezes importantes pontos de referência. Se o vosso testemunho for positivo, servireis de exemplo para os vossos numerosos «torcedores », que verão em vós não só óptimos jogadores, mas sobretudo jovens e homens amadurecidos e responsáveis.

3. Caríssimos, estamos a viver o tempo do Advento, tempo de preparação para o Natal, que mantém viva nos crentes a espera do Senhor que vem. A cada um de vós faço votos por que saiba encontrar Cristo que vem nos acontecimentos de cada dia.

Formulo votos por que as vossas famílias e a vossa sociedade sejam sempre mais lugares de serena partilha dos ideais evangélicos da solidariedade e da paz.

Além disso, aproveito a ocasião para apresentar a todos vós e aos vossos entes queridos os melhores votos para o próximo Natal, e de coração vos abençoo.



HOMENAGEM JUNTO DO MONUMENTO


À IMACULADA NA «PIAZZA SPAGNA»


ORAÇÃO DE JOÃO PAULO II


8 de Dezembro de 1997



1. Nós Vos saudamos, ó Filha de Deus Pai!
Saudamo-Vos, ó Mãe do Filho de Deus!
Saudamo-Vos, ó Esposa do Espírito Santo!
Saudamo-Vos, morada da Santíssima Trindade!
Apresentamo-nos diante de Vós
com esta saudação,
no dia da Vossa Festa,
com confiança filial,
e detemo-nos, como é tradição,
aos pés desta histórica coluna,
no encontro anual na Praça de Espanha.
Deste lugar Vós,
amada e venerada Mãe de todos,
vigiais sobre a Cidade de Roma.

2. Permanecei connosco, Mãe Imaculada,
no centro da nossa preparação
para o grande Jubileu do Ano 2000.
Pedimo-Vos que vigieis
em particular sobre o tríduo,
formado pelos últimos três anos
do segundo milénio, 1997, 1998 e 1999,
dedicados à contemplação
do mistério trinitário de Deus.
Desejamos que este nosso século, rico de eventos,
e o segundo milénio cristão
se encerrem com o selo trinitário.
É no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo
que todos os dias iniciamos
o trabalho e a oração.
É ainda dirigindo-nos ao Pai celeste
que terminamos
cada uma das nossas actividades dizendo:
«Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho,
que vive e reina Convosco,
na unidade do Espírito Santo».
Deste modo, no sinal do mistério trinitário,
a Igreja que está em Roma,
juntamente com os crentes de todo o mundo,
prossegue rezando
rumo à conclusão do vigésimo século,
para entrar com o coração renovado
no terceiro milénio.

3. Nós Vos saudamos, ó Filha de Deus Pai!
Saudamo-Vos, ó Mãe do Filho de Deus!
Saudamo-Vos, ó Esposa do Espírito Santo!
Saudamo-Vos, ó morada da Santíssima Trindade!
Esta saudação ressalta
quanto estais repleta da própria vida de Deus,
do seu profundo e inefável mistério.
Deste mistério Vós estais totalmente repleta,
desde o primeiro instante da vossa concepção.
Vós sois a cheia de graça, Vós sois a Imaculada!

4. Saudamo-Vos, ó Imaculada Mãe de Deus!
Aceitai a nossa oração e dignai-Vos
introduzir maternalmente a Igreja,
que está em Roma e no mundo inteiro,
naquela plenitude dos tempos,
para a qual o universo tende
desde o dia em que veio ao mundo
o Vosso divino Filho e nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele é o Início e o Fim, o Alfa e o Ómega,
o Rei dos séculos,
o Primogénito de toda a criação,
o Primeiro e o Último.
N'Ele tudo tem o seu cumprimento definitivo;
n'Ele todas as realidades amadurecem
até à medida querida por Deus,
no seu arcano desígnio de amor.

5. Nós Vos saudamos, ó Virgem prudentíssima!
Saudamo-Vos, ó Mãe clementíssima!
Rogai por nós,
intercedei por nós,
Ó Virgem Imaculada,
nossa Mãe misericordiosa e poderosa,
Maria!



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE A VISITA À BASÍLICA


DE SANTA MARIA MAIOR


8 de Dezembro de 1997



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Depois da habitual homenagem à Virgem na «Piazza di Spagna», a minha breve peregrinação mariana do dia 8 de Dezembro conduz-me agora a esta antiquíssima Basílica, dedicada à Mãe de Deus, para me deter em oração diante do ícone da Salus Populi Romani, tão venerada pelos cidadãos e peregrinos.

Saúdo-vos, ó cheia de graça,
Salvação do Povo Romano!

Venho a vós como Bispo de Roma e como vosso devoto. Venho como Pastor da Igreja universal, que em vós reconhece a própria Mãe e o próprio modelo.

Ao vir hoje a Santa Maria Maior, tenho a feliz oportunidade de dirigir uma saudação cordial a quantos estão ao serviço das exigências pastorais e administrativas da Basílica, ao Cabido Liberiano, aos fiéis presentes e aos peregrinos que, de todas as partes do mundo, aqui chegam em grande número.

Maria, com a sua materna protecção, ajude e conforte todos.

2. Tenho a alegria, além disso, de iniciar com esta minha visita à Virgem, santuário do Espírito, o segundo ano preparatório para o Grande Jubileu do Ano 2000, ano dedicado ao Espírito Santo.

A Maria confio o caminho da Igreja rumo à porta santa do terceiro milénio. Ela, Esposa do Espírito Santo e sua perfeita cooperadora, ensine a Comunidade cristã de hoje a deixar-se guiar e como que penetrar pelo Espírito divino, para que se revigorem nela os vínculos de caridade e de comunhão, e a todos chegue crível a mensagem de Cristo Salvador do mundo.

De modo particular, oro pela Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, que se encaminha já para a sua conclusão. Obtenha a Virgem, venerada em tantos santuários daquele Continente, o dom de uma autêntica renovação para as Comunidades cristãs da América.

Dirijo-me, depois, à Salus Populi Romani, pedindo- Lhe que vele sobre a Missão desta Cidade, que agora entra no vivo do seu desenvolvimento. A intercessão de Maria sustente o empenho do Cardeal Vigário, dos Bispos Auxiliares, dos párocos e vice-párocos e de todos os sacerdotes, dos religiosos e das religiosas, dos missionários e das missionárias.

3. Deste coração mariano de Roma, oro por quantos vivem na nossa Cidade. Oro por todos, segundo a particular intenção sugerida por este lugar e pelo tempo litúrgico do Advento, invocando para cada homem e mulher, para cada família e ambiente de vida o dom da esperança.

Quantas são as expectativas desta cidade! Digne-se o Senhor fazer com que elas não permaneçam desiludidas, gerando desânimo e resignação.

Queira o Espírito Santo acender em todos a virtude da esperança, para construírem juntos a Roma do Ano 2000, uma cidade que seja sinal de esperança para o mundo inteiro.

Virgem Imaculada,
Salus Populi Romani,
rogai por nós!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PRESIDÊNCIA


DOS CAVALEIROS DE COLOMBO


11 de Dezembro de 1997



Excelência
Queridos Amigos

É-me grato saudar o Cavaleiro Supremo, Sua Excelência o Senhor Virgil Dechant, e os membros da Presidência dos Cavaleiros de Colombo. A vossa visita a Roma oferece-me o agradável ensejo para expressar a minha gratidão pelo enorme apoio espiritual e material que os Cavaleiros continuam a dar à missão da Igreja universal. Asseguro-vos o meu pessoal agradecimento pela vossa proximidade ao Papa no seu ministério de serviço ao Evangelho e de edificação de todos os discípulos de Cristo na fé e no amor.

O nosso encontro tem lugar durante a celebração da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, na qual os Pastores das Igrejas particulares do Continente americano estão reunidos para analisar os desafios da nova evangelização. Durante o Sínodo, testemunhamos a obra de um espírito de solidariedade cada vez maior entre os povos católicos da América do Norte e do Sul. Um papel essencial nesta grande tarefa de renovação eclesial cabe aos leigos e leigas, e estou persuadido de que os Cavaleiros, fiéis aos sublimes ideais do seu Fundador, hão-de contribuir para a transformação da sociedade mediante a sua constante fidelidade ao Evangelho.

Ao assegurar as minhas orações a todos os Cavaleiros e às suas famílias, concedo de coração a minha Bênção Apostólica, como penhor de júbilo e fortaleza em nosso Salvador Jesus Cristo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCERRAMENTO DA ASSEMBLEIA ESPECIAL


DO SÍNODO DOS BISPOS PARA A AMÉRICA


11 de Dezembro de 1997



Senhores Cardeais
Caros Irmãos no Episcopado
Caros Irmãos e Irmãs

1. Eis-nos no término da Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a América. Neste momento a minha alma abre-se, antes de tudo, para a ação de graças a Deus, que está na origem «de todo dom precioso e toda dádiva perfeita » (Jc 1,17). Provo um grande reconhecimento por todos aqueles que foram instrumentos de Deus, que fizeram parte desta riqueza espiritual para a sua Igreja, por ocasião da presente Assembléia sinodal.

A minha viva gratidão vai aos Padres, primeiros responsáveis pelo Sínodo, que trouxeram o peso do trabalho e agora têm o mérito e o resultado. Todos os dias os Presidentes Delegados conduziram a Assembléia de forma eficaz; os Relatores-Gerais e os dois Secretários Especiais ajudaram a desenvolver o tema sinodal com competência; o Secretário-Geral guiou com segurança o desenvolvimento complexo do Sínodo.

Os Delegados Fraternos de algumas confissões cristãs da América e um bom número de homens e mulheres vindos na qualidade de Assistentes e de Auditores, ofereceram um apoio rico de sentido.

Como podemos esquecer que a Assembléia foi preparada com a oração, a reflexão e a consulta a todas as Igrejas particulares e outros organismos escolhidos com este propósito, e também todos os diversos encontros do Conselho pré-sinodal? A cooperação harmoniosa dos numerosos componentes eclesiais e também aqueles dos diversos organismos e serviços da Sé Apostólica, certamente contribuiu para o bom êxito dos trabalhos.

Nós ainda temos presentes na memória as numerosas pessoas que acompanharam os trabalhos sinodais, com a oferta dos seus sofrimentos e das suas contínuas orações. A todos e a cada um vai a minha gratidão pessoal.


Discursos João Paulo II 1997