Discursos João Paulo II 1998 - Quinta-feira, 28 de Maio de 1998


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO SENHOR MAHAMAT ALI ABDALLAH NASSOUR

EMBAIXADOR DO CHADE JUNTO À SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 28 de Maio de 1998





Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência no Vaticano, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República do Chade junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as palavras gentis que me dirigiu bem como as saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Idriss Deby. Peço-lhe a amabilidade de lhe transmitir, bem como a todo o povo chadiano, os votos de bem-estar e prosperidade que formulo pela sua Nação, pedindo a Deus que conceda a todos viver numa sociedade unida e fraterna, na qual cada um veja reconhecido o seu lugar e possa desenvolver-se plenamente.

2. Alegro-me por saber que após um período difícil da sua existência, o seu País se empenhou resolutamente num processo democrático que deveria permitir a todos os chadianos viver na concórdia e no respeito dos direitos fundamentais das pessoas e das comunidades. De facto, é necessário promover uma «cultura de paz» enfrentando corajosamente os fenómenos históricos, sociais, políticos ou económicos que originam ou alimentam a violência, a fim de instaurar a estabilidade, o entendimento recíproco e o desenvolvimento solidário da colectividade nacional.

Com esta finalidade, como já tive ocasião de recordar, é tarefa dos governantes «contribuir para a construção da paz, através da criação de estruturas só- lidas que sejam capazes de resistir às turbulências da política, de tal modo que garantam liberdade e segurança para todos em qualquer circunstância» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997, 4). Todavia, para estabelecer relações cordiais estáveis entre as várias componentes da Nação, é necessário que todos aceitem voltar-se para o futuro sabendo acolher o próximo e praticar sinceramente o perdão.

Os povos devem aprender constantemente a viver na diversidade. É preciso vencer o medo perante a diferença e procurar as afinidades fundamentais que permitem coexistir na compreensão recíproca. O diálogo confiante entre todas as comunidades que formam um país é um elemento essencial para consolidar a paz e a harmonia, que constituem para todos os cidadãos as condições indispensáveis para uma existência digna e pacífica.

3. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, aludiu ao papel desempenhado pela Sé Apostólica em favor da justiça e da paz. Por seu lado, a Igreja no Chade empenhou-se de maneira leal na obra de reconciliação e de compreensão entre todas as componentes da Nação. Sem dúvida, a comunidade católica está consciente de que é primordial para o bem comum lutar juntamente com os homens de boa vontade contra todas as formas de exclusão e de intolerância, que podem ter consequências devastadoras para a unidade e o futuro da sociedade.

Nesta perspectiva, a fim de promover os valores da justiça, solidariedade e liberdade, faço os mais sentidos votos por que entre cristãos e muçulmanos, as relações de confiança e de amizade, já existentes em numerosas partes, se desenvolvam mediante a boa vizinhança e uma cooperação frutuosa, no respeito recíproco e na sinceridade. Oxalá juntos, haurindo do património autêntico das suas tradições religiosas, dêem o seu contributo para a renovação da Nação!

4. Aproveito esta feliz ocasião para saudar calorosamente por seu intermédio, Senhor Embaixador, os Bispos e os católicos do seu País. Conheço a propensão deles para a edificação duma nação unida e concorde. Quando nos preparamos para a celebração do grande Jubileu do Ano 2000, encorajo-os profundamente a prosseguir o seu valoroso testemunho do Evangelho de Cristo entre todos os seus irmãos e convido-os a partilhar sempre melhor a esperança que levam no coração. Que numa colaboração sincera com os seus compatriotas, eles trabalhem fervorosamente para o desenvolvimento solidário do País!

5. Ao iniciar a sua missão junto da Santa Sé, sinto-me feliz por lhe apresentar os meus sentidos votos de bom êxito. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo do qual poderá ter necessidade. Sobre Vossa Excelência, sobre o povo chadiano e seus dirigentes, invoco com fervor a abundância das Bênçãos do Todo Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MANUEL MAS RIBÓ


EMBAIXADOR DE ANDORRA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: Quinta-feira, 28 de Maio de 1998





Senhor Embaixador

1. Com prazer recebo as Cartas Credenciais que o acreditam como primeiro Embaixador do Principado de Andorra junto da Santa Sé! Ao apresentar-lhe as minhas cordiais boas-vindas nesta ocasião, desejo encontrar-me, por meio da sua pessoa, com o povo muito amado, circundado pelos Pireneus, de profundas raízes cristãs e que desde as suas origens tem mantido um especial vínculo com esta Sé Apostólica.

Com efeito, como Vossa Excelência recordou nas suas palavras, a história ensina que a estreita união com a Igreja foi decisiva no nascimento de Andorra como País autónomo, na salvaguarda da sua independência ao longo dos séculos e na consolidação da sua identidade como povo. A tradição cristã e os valores morais forjaram o estilo de vida dos seus habitantes, de modo particular apreciados pela sua disponibilidade ao acolhimento, ao diálogo e ao intercâmbio cultural.

2. Nestes últimos anos foi actuado um notável esforço para melhorar, e adequar às actuais circunstâncias, os instrumentos constitucionais e jurídicos que regem a Comunidade, assegurando a identidade do Principado e a sua presença activa no concerto das nações. Nesse processo não podia faltar o estabelecimento de relações formais com a Santa Sé, que têm a finalidade de fortalecer e incrementar, num clima de respeito, compreensão e diálogo, uma estreita colaboração, a qual redunde em benefício do progresso humano, social e espiritual de todos os filhos deste nobre povo.

3. Essas relações põem as bases institucionais e jurídicas que permitem trabalhar com maior eficácia em favor do bem comum dos andorranos, a cujo serviço se põem as outras instituições. O contributo da Igreja, tão presente na história e na sociedade do Principado, deriva da sua firme convicção do facto que «a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, e faz conhecer o desígnio divino acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o espírito para soluções plenamente humanas» (Gaudium et spes GS 11). Por este motivo, a partir da sua visão integral e transcendente do homem, ela continuará incansavelmente a promover todas aquelas iniciativas que favorecem a irrenunciável dignidade das pessoas, como filhos de Deus remidos pelo sangue de Cristo. Mediante o exercício da missão que lhe é própria, sem invadir nem suplantar as responsabilidades da Autoridade civil, encorajará as pessoas a conduzirem uma vida de acordo com a sua vocação e a construírem uma sociedade sempre mais humana.

Nas suas relações com os Estados, a Igreja não procura privilégios, nem persegue interesses diversos do bem mesmo das pessoas e dos povos, cujo futuro depende sobretudo da sua capacidade de encarnar os valores fundamentais de liberdade, justiça e solidariedade, que estão na base de toda a convivência pacífica e do progresso autenticamente humano.

A respeito disso, em Andorra a Igreja desenvolve uma parte importante no sector da educação nos diversos níveis, que é para desejar que se consolide no futuro, através das fórmulas mais idóneas. Com efeito, não pode faltar às novas gerações uma formação sólida e bem organizada, que lhes permita crescer em harmonia com as profundas convicções dos seus antepassados, os quais, ciosos da própria liberdade, amantes da sua pátria e devotados à sua fé católica, souberam manter unida, próspera e ao mesmo tempo aberta à história, a comunidade do Principado. Esta será a melhor garantia para o futuro de um povo que não aspira a outras grandezas senão à nobreza da própria gente.

4. As raízes cristãs e os valores morais que caracterizaram Andorra através da história, podem ser também um válido contributo para a ordem internacional e a construção da nova Europa, de cujas instituições começou a fazer parte nos últimos anos. Trata-se de um facto importante para todos, porque nasce da convicção de que nada pode ser feito hoje sem escutar todas as vozes e que ninguém se pode eximir de enfrentar as grandes responsabilidades do actual momento histórico. A comunidade do Principado desejou assumir também o papel que lhe compete em relação ao mundo, para contribuir com a sua experiência e sabedoria secular na tarefa de fortalecer as bases da convivência pacífica entre os povos, no contexto da justiça e da solidariedade. Formulo ardentes votos por que, também sob este aspecto, as relações diplomáticas constituam um válido instrumento que sirva à promoção nas instituições internacionais daqueles valores fundamentais que permitem ao homem viver de acordo com a própria e autêntica dignidade e construir, no limiar do Terceiro Milénio, a nova civilização mundial da vida e do amor.

5. Senhor Embaixador, antes de terminar este encontro, desejo assegurar-lhe a minha estima e apreço, unidos com os meus mais cordiais bons votos por que a importante missão que lhe foi confiada seja fecunda para o seu País. Peço-lhe que se faça intérprete destes sentimentos e votos junto das ilustres Autoridades de Andorra. Elevo a minha prece, por intercessão de Nossa Senhora de Marixell, celeste padroeira do Principado, a fim de que o Omnipotente o assista com os Seus dons, bem como à sua família, aos seus colaboradores, aos Governantes do Principado, e também ao amado Povo andorrano, sempre próximo do coração do Papa.




A UMA DELEGAÇÃO DE CRISTÃOS E MUÇULMANOS


29 de Maio de 1998





Eminência
Distintos Membros da Delegação de Al-Azhar


Tenho o prazer de vos saudar hoje, dia seguinte à criação do Comité conjunto para o Diálogo, instituído graças ao acordo assinado ontem pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e pelo Comité Permanente de Al-Azhar para o Diálogo entre as religiões monoteístas. Este é um passo avante na instauração de relações sempre mais estreitas e amistosas entre cristãos e muçulmanos.

Hoje, o diálogo entre estas duas religiões é mais necessário do que nunca. Ele deve ser crível e caracterizado por aceitação, respeito e reconhecimento recíprocos. A longa história compartilhada pelos cristãos e muçulmanos foi marcada por luzes e sombras. Contudo, permanece um vínculo espiritual que nos une e para cujo reconhecimento e desenvolvimento nos esforçamos.

Isto poderia exigir muito esforço, mas será essencial para edificar a paz, pela qual esperamos que as futuras gerações sejam beneficiadas. O vosso novo Comité conjunto para o Diálogo deve, portanto, enfrentar muitas tarefas.

Estou confiante de que as metas prefixadas serão alcançadas, pois os seus membros darão o melhor de si com sinceridade e verdade.

Que Deus Omnipotente e Misericordioso, do Qual todas as coisas têm origem e ao Qual tudo retorna, abençoe com abundância os vossos esforços!





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO VI GRUPO DE BISPOS DOS E.U.A. POR OCASIÃO

DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


: 30 de Maio de 1998



Estimado Cardeal George
Caros Irmãos Bispos

1. Durante esta série de visitas ad Limina, os Bispos dos Estados Unidos testemunharam de novo o profundo sentido de comunhão dos católicos americanos com o Sucessor de Pedro. Desde o início do meu Pontificado tenho experimentado essa proximidade e o apoio espiritual e material de muitíssimas pessoas do vosso povo. Ao dar-vos as boas-vindas, a vós Bispos das regiões eclesiásticas de Chicago, Indianápolis e Milwaukee, exprimo mais uma vez a vós e à Igreja inteira do vosso País a minha sincera gratidão: «Deus, a Quem presto culto no meu espírito, ao serviço do Evangelho de Seu Filho, é-me testemunha de como constantemente me recordo de vós» (Rm 1,9). Prosseguindo a reflexão iniciada com os grupos de Bispos que vos precederam, sobre a renovação da vida eclesial à luz do Concílio Vaticano II e em vista do desafio da evangelização que devemos enfrentar na vigília do próximo milénio, desejo hoje tratar alguns aspectos da vossa responsabilidade no âmbito da educação católica.

2. Desde os primeiros anos da República americana, quando o Arcebispo John Carrol encorajou a vocação pedagógica de Santa Isabel Ann Seton e fundou o primeiro colégio da nova Nação, a Igreja nos Estados Unidos empenhou-se profundamente na educação a todos os níveis. Durante mais de duzentos anos, as escolas elementares católicas, as escolas superiores, os colégios e as universidades foram fundamentais para a educação de várias gerações de católicos e para o ensinamento das verdades da fé, promovendo o respeito pela pessoa humana e desenvolvendo o carácter moral dos seus estudantes. Puseram ao serviço de toda a sociedade americana a sua excelência académica e o seu sucesso na preparação dos jovens para a vida.

Ao aproximar-se o terceiro milénio cristão, a exortação do Concílio Vaticano II a um generoso empenho na educação católica deve ainda ser realizada plenamente (cf. Gravissimum educationis GE 1). Poucos outros sectores, como este, da vida católica nos Estados Unidos têm necessidade da guia dos Bispos para se poderem afirmar e renovar. Qualquer renovação desse género exige uma clara concepção da missão educativa eclesial, que por sua vez não pode estar separada do mandato do Senhor de anunciar o Evangelho a todas as nações. Assim como outras instituições educativas, as escolas católicas transmitem conhecimento e promovem o desenvolvimento humano dos seus alunos. Contudo, como ressaltou o Concílio, a escola católica faz ainda mais: promove «um ambiente de comunidade escolar animado pelo espírito evangélico de liberdade e de caridade», ajuda «os adolescentes para que, ao mesmo tempo que desenvolvem a sua personalidade, cresçam segundo a nova criatura que são mercê do Baptismo, e ordena «finalmente toda a cultura humana à mensagem da salvação, de tal modo que seja iluminado pela fé o conhecimento que os alunos adquirem gradualmente a respeito do mundo, da vida e do homem» (ibidem, 8). A missão da escola católica é a formação integral dos alunos, a fim de que possam ser fiéis à própria condição de discípulos de Cristo e trabalhar de modo eficaz para a evangelização da cultura e para o bem comum da sociedade.

3. A educação católica não tem em vista apenas comunicar factos, mas também transmitir uma visão coerente e integral da vida, na convicção de que as verdades contidas nessa visão tornam livres os alunos, no significado mais profundo de liberdade humana. No seu recente documento A Escola Católica no limiar do Terceiro Milénio, a Congregação para a Educação Católica chamou a atenção para a importância do comunicar conhecimento, no contexto de uma visão cristã do mundo, da vida, da cultura e da história: «No projecto educativo da escola católica não há por isso separação entre momentos de aprendizagem e momentos de educação, entre momentos do conhecimento e momentos da sabedoria. Cada uma das disciplinas não apresenta só conhecimentos a adquirir, mas também valores a assimilar e verdades a descobrir» (n. 14). O maior desafio que a educação católica deve enfrentar hoje nos Estados Unidos, e ao mesmo tempo a maior contribuição que ela, se for autenticamente católica, pode oferecer à cultura americana, consiste em restabelecer nessa cultura a convicção de que os seres humanos podem compreender a verdade das coisas e, ao fazê-lo, podem conhecer os seus deveres em relação a Deus, a si mesmos e ao próximo. Ao enfrentar esse desafio, o educador católico escutará o eco das palavras de Cristo: «conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á» (Jn 8,32). O mundo contemporâneo tem urgentemente necessidade do serviço de estruturas educativas, que sustentem e ensinem essa verdade que é o valor fundamental, sem o qual a liberdade, a justiça e a dignidade humana se extinguem (cf. Veritatis splendor VS 4).

Educar para a verdade, a liberdade autêntica e o amor evangélico é o centro da missão eclesial. No clima cultural em que vivemos, no qual as normas morais são muitas vezes consideradas questões de preferência pessoal, as escolas católicas desempenham um papel fundamental ao corresponder às exigências da verdade (cf. ibid., 84). O respeito que gozam as escolas católicas, elementares e secundárias, sugere que o seu empenho em transmitir a sabedoria moral está a satisfazer uma necessidade cultural no vosso País. O exemplo de Bispos e de Pastores que, com o apoio dos pais católicos, continuaram a desempenhar uma liderança neste sector, deveria encorajar todos os esforços para promover um novo empenho e um novo crescimento. O facto de algumas Dioceses estarem empenhadas num programa de edificação escolar, é um expressivo sinal de vitalidade e uma grande esperança para o futuro.

4. Transcorreram quase vinte e cinco anos desde que a vossa Conferência publicou To Teach as Jesus Did, um documento que é muito importante ainda hoje. Ele punha em relevo a importância doutro aspecto da educação católica: mais do que qualquer programa educativo promovido pela Igreja, a escola católica tem a oportunidade e a obrigação de estar... orientada para o serviço cristão, porque ele ajuda os alunos a adquirir as capacidades, as virtudes e as atitudes emotivas e mentais necessárias para um eficaz serviço aos outros (cf. n. 106). Baseados naquilo que vêem e escutam, os alunos deveriam tornar-se mais conscientes da dignidade de cada pessoa humana e, de maneira gradativa, fazer próprios os elementos fundamentais da Doutrina Social da Igreja e da sua solicitude pelos pobres. Os institutos católicos deveriam prosseguir a sua tradição de empenho na educação dos pobres, não obstante o ónus financeiro que isto comporta. Nalguns casos, poderia ser necessário encontrar o modo como compartilhar este peso de maneira equitativa, de forma que as paróquias que possuem escolas já não devam suportá-lo sozinhas.

Uma escola católica é um lugar em que os alunos vivem uma experiência comum de fé em Deus e aprendem as riquezas da cultura católica. Tendo na devida consideração as várias fases do desenvolvimento humano, a liberdade dos indivíduos e os direitos dos pais no âmbito da educação dos próprios filhos, as escolas católicas devem ajudar os alunos a aprofundarem o seu relacionamento pessoal com Deus e a descobrirem que o significado mais profundo de todas as coisas humanas está na pessoa e no ensinamento de Jesus Cristo. A oração e a liturgia, em particular os Sacramentos da Eucaristia e da Penitência, deveriam marcar o ritmo da vida da escola católica. Transmitir conhecimentos sobre a fé, ainda que essencial, não é suficiente. Se os alunos das escolas católicas devem fazer uma experiência autêntica da Igreja, o exemplo dos professores e de outros responsáveis pela sua formação é fundamental: o testemunho dos adultos na comunidade escolar é uma parte essencial da identidade da escola.

Inúmeros professores religiosos e leigos, e outros membros do pessoal escolar nas escolas católicas, demonstraram ao longo dos anos que a sua competência profissional e o seu empenho se baseiam nos valores espirituais, intelectuais e morais da tradição católica. A comunidade católica nos Estados Unidos e o inteiro País beneficiaram em grande medida da obra de numerosíssimos e dedicados religiosos nas escolas em cada parte do vosso país. Sei também quanto apreciais a dedicação de leigos, homens e mulheres, que por vezes, com grandes sacrifícios económicos, se empenham na educação católica porque acreditam na missão das escolas católicas. Se, nalguns casos, houve uma diminuição de confiança na vocação pedagógica, deveis fazer todo o possível para restabelecer essa confiança.

5. A catequese, quer nas escolas quer nos programas promovidos pelas paróquias, desempenha um papel fundamental na transmissão da fé. O Bispo deveria encorajar os catequistas a considerarem a sua obra como uma vocação: como uma participação privilegiada na missão de transmitir a fé e de dar razão da esperança que existe em nós (cf. 1P 3,15). A mensagem evangélica é a resposta definitiva aos desejos mais profundos do coração humano. Os jovens católicos têm o direito de escutar o inteiro conteúdo dessa mensagem, para chegarem a conhecer Cristo, Aquele que venceu a morte e abriu o caminho da salvação. Os esforços tendentes a renovar a catequese devem basear-se na premissa de que o ensinamento de Cristo, tal como é transmitido pela Igreja e interpretado de maneira autêntica pelo seu magistério, deve ser apresentado com toda a sua riqueza e as metodologias utilizadas devem estar em sintonia com a natureza da fé, enquanto verdade recebida (cf. 1Co 15,1). A obra que iniciastes através da vossa Conferência para avaliar os textos para a catequese, seguindo o modelo do Catecismo da Igreja Católica, contribuirá para assegurar a unidade e a integridade da fé que será apresentada nas vossas Dioceses.

6. A tradição eclesial de empenho nas universidades, que remonta a quase mil anos, consolidou-se rapidamente nos Estados Unidos. Hoje, as universidades e os colégios católicos podem oferecer um importante contributo à renovação da instrução superior americana. Pertencer a uma comunidade universitária, como tive a honra de comprovar quando era professor, significa estar na encruzilhada das culturas que formaram o mundo moderno. Significa ser depositário duma sabedoria secular e promotor daquela criatividade, que transmitirá essa sabedoria às gerações futuras. Num período em que muitas vezes se julga que o saber é fragmentário e nunca absoluto, as universidades católicas deveriam sustentar a objectividade e a coerência do saber. Agora que o velho conflito entre ciência e fé se está a enfraquecer, as universidades católicas deveriam estar na primeira linha ao instaurar um diálogo, novo e longamente reflectido, entre as ciências empíricas e as verdades da fé.

Se as universidades católicas devem desempenhar um papel de guia na renovação da instrução superior, é antes de tudo necessário que elas possuam um forte sentido da própria identidade católica. Esta identidade não se estabelece de uma vez para sempre quando surge uma instituição, mas deriva do viver no seio da Igreja hoje e sempre, falando do coração da Igreja (ex corde Ecclesiae) ao mundo contemporâneo. A identidade católica de uma universidade deveria ser evidente no seu currículo, nas suas faculdades, nas actividades escolares e na qualidade da sua vida comunitária. Desse modo, não se viola a natureza da universidade como centro autêntico de aprofundamento, no qual a verdade da ordem criada é plenamente respeitada, mas também iluminada pela luz da nova criação em Cristo.

A identidade católica de uma universidade abrange necessariamente a sua relação com a Igreja local e com o seu Bispo. Diz-se, às vezes, que uma universidade que reconhece uma responsabilidade a uma comunidade ou a uma autoridade para além das importantes associações académicas, perdeu quer a sua independência quer a sua integridade. Contudo, isto significa separar a liberdade do seu objecto, que é a verdade. As universidades católicas compreendem que não há contradição entre a investigação livre e vigorosa da fé e o «reconhecimento e a adesão à autoridade magisterial da Igreja em matéria de fé e moral» (Ex corde Ecclesiae, 27).

7. Ao tutelar a identidade católica dos institutos católicos de instrução superior, os Bispos têm uma responsabilidade particular em relação à obra dos teólogos. Se, como a tradição católica atesta, a teologia deve ser elaborada na Igreja e pela Igreja, então o problema da relação entre a teologia e a autoridade magisterial da Igreja não é extrínseco, alguma coisa imposta a partir de fora, mas antes intrínseco à teologia enquanto ciência eclesial. A teologia mesma é responsável em relação a todos os que receberam de Cristo a responsabilidade de vigiar sobre a comunidade eclesial e sobre a sua estabilidade na verdade. Dado que o debate acerca dessas questões se aprofunda cada vez mais no vosso País, o Bispo deve ter como objectivo verificar se os termos utilizados são autenticamente de carácter eclesial.

Além disso, os Bispos deveriam interessar-se pessoalmente na obra que se realiza nas capelanias universitárias, não só nos institutos católicos, mas também noutros colégios e noutras universidades em que haja alunos católicos. O ministério nos «campus» oferece a importante oportunidade de estar perto dos jovens, numa fase fundamental da sua vida. «A Capela universitária não pode deixar de ser centro vivo e propulsor de animação cristã da cultura, no diálogo respeitoso e franco, na proposta clara e motivada (cf. 2P 3,15), no testemunho que interroga e convence » (Discurso ao Congresso Europeu dos Capelães das Universidades, 1/5/1998, n. 4). Os jovens adultos têm necessidade do serviço de capelães empenhados, que podem ajudá-los, intelectual e espiritualmente, a adquirir uma plena maturidade em Cristo.

8. Caros Irmãos Bispos, no limiar de um novo século e de um novo milénio, a Igreja continua a proclamar a capacidade dos seres humanos de conhecer a verdade e de progredir na liberdade autêntica, através da aceitação dessa verdade. A respeito disso, a Igreja defende a visão moral sobre a qual foi fundado o vosso País. As vossas escolas católicas são amplamente reconhecidas como modelos para uma renovação da educação americana ao nível elementar e secundário. As vossas universidades e colégios católicos podem desempenhar um papel-guia na renovação da instrução superior americana.

Num momento em que a relação entre liberdade e verdade moral é discutida a propósito de numerosas questões em todos os níveis da sociedade e de governo, os estudiosos católicos possuem os recursos necessários para contribuir para uma renovação moral e intelectual da cultura americana. Que a Bem-aventurada Virgem Maria, Sede da Sabedoria, vos proteja na vossa obra em vista do revigoramento da vida intelectual cat ólica em todas as suas dimensões. Na vigília da solenidade do Pentecostes, uno-me a vós ao invocar os dons do Espírito Santo sobre a Igreja nos Estados Unidos. Com afecto no Senhor, é de coração que vos concedo a minha Bênção Apostólica, a vós, aos sacerdotes, aos religiosos e aos leigos das vossas Dioceses.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PRESIDENTES DAS REGIÕES


E PROVÍNCIAS AUTÓNOMAS


DA REPÚBLICA ITALIANA


30 de Maio de 1998



Excelentíssimos Presidentes
Ilustres Senhores e Senhoras

1. Sinto-me feliz por apresentar a cada um de vós as cordiais boas-vindas nesta particular ocasião, que vê reunidos os administradores das diferentes autonomias locais que formam a amada Nação italiana. Agradeço ao Presidente da Conferência das Regiões as gentis expressões que acaba de me dirigir em nome de todos.

Ao saudar cada um de vós, desejo fazer chegar a expressão do meu profundo sentimento de afecto aos concidadãos das Regiões e Províncias autónomas da Itália, que vós representais. Desejo, de modo particular, renovar a minha mais sentida solidariedade a quantos, nos últimos meses, foram atingidos por calamidades naturais. Penso de maneira particular nas queridas populações da Úmbria, das Marcas e da Campânia, que estão a procurar, com o apoio de muitas pessoas, reconstruir o tecido humano e social, bem como as casas e os lugares destruídos ou gravemente danificados pelo terremoto ou pelas inundações.

2. As populações às quais se destina o vosso serviço de administradores caracterizam- se por um sólido sistema de valores, que marcou a história da Itália nos séculos passados. São valores enraizados no Evangelho, que permeou amplamente a cultura italiana, suscitando tesouros de civilização, arte e santidade. Como não agradecer a Deus este rico património espiritual? E como não se sentir empenhado em conservá-lo para o bem das futuras gerações?

Ilustres Senhores! Ao lado dos valores comuns, cada uma das realidades locais por vós administradas apresenta histórias e tradições diferentes. É preciso fazer com que este caminho social e cultural diferenciado se componha e se integre com base na pertença comum à mesma realidade nacional, de modo que as características de cada um beneficiem todos. Impedimentos exclusivistas empobreceriam quem os praticasse e seriam portadores de tensões danificantes sobretudo para os mais débeis. O meu venerado Predecessor Paulo VI escrevia a este propósito que «se é normal que uma população seja a primeira a beneficiar dos dons que a Providência lhe concedeu», é igualmente desejável que ninguém possa, por isso, «reservar as suas riquezas para seu uso exclusivo» (Populorum progressio PP 48), sejam elas materiais, culturais, sociais ou religiosas.

3. Ilustres Senhores, o serviço que prestais a quantos vos elegeram será tanto mais eficaz quanto mais estiver radicado naquele conjunto de ideais e de valores que constitui o património do povo italiano. Colocando-vos nesta perspectiva, podereis compreender melhor os problemas e oferecer com mais eficiência soluções adequadas, também em vista do novo milénio, ao qual queremos chegar interior e exteriormente preparados. Os problemas são numerosos e graves: penso no desemprego, nas dificuldades das famílias e dos estratos mais débeis da população, nos prófugos que batem às portas das vossas Regiões, na degradação do território. Penso de igual modo no tema da legalidade, hoje tão evocado, porque é cada vez mais difundida a consciência da necessidade da recuperação de uma concepção mais profunda do sentido da lei para construir um ordenado desenvolvimento do viver civil e para favorecer uma cultura do respeito dos direitos de cada um, da colaboração recíproca e da partilha solidária.

Estou certo de que, graças à coragem e à diligência de todos, se poderá progredir ulteriormente rumo a uma sociedade civil solidária, respeitadora das pessoas e das tradições locais, atenta aos valores e aos ideais queridos ao Povo italiano.

Com estes votos, ao invocar a ajuda de Deus para o vosso serviço, concedo-vos a minha cordial Bênção, que faço de bom grado extensiva às vossas famílias e a quantos representais.



VIGÍLIA DE ORAÇÃO PRESIDIDA


PELO PAPA JOÃO PAULO II DURANTE


O ENCONTRO DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS


E DAS NOVAS COMUNIDADES


: Sábado, 30 de Maio de 1998





«Subitamente ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram, então, aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios de Espírito Santo» (Ac 2,2-3).

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Com estas palavras os Actos dos Apóstolos introduzem-nos no coração do evento do Pentecostes; apresentam-nos os discípulos que, reunidos com Maria no Cenáculo, recebem o dom do Espírito. Realiza-se assim a promessa de Jesus e inicia o tempo da Igreja. A partir daquele momento o vento do Espírito levará os discípulos de Cristo até aos extremos confins da terra. Levá-los-á até ao martírio para o intrépido testemunho do Evangelho.

Aquilo que aconteceu em Jerusalém, há dois mil anos, é como se hoje à tarde se renovasse nesta Praça, centro do mundo cristão. Como outrora os Apóstolos, também nós nos encontramos reunidos num grande cenáculo de Pentecostes, desejando ardentemente a efusão do Espírito. Queremos professar aqui, com a Igreja inteira, que «o Espírito é o mesmo..., o Senhor é o mesmo... é o mesmo Deus que opera tudo em todos» (1Co 12,4-6). Este é o clima que desejamos reviver, implorando os dons do Espírito Santo para cada um de nós e para o inteiro povo dos baptizados.

2. Saúdo e agradeço ao Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, as palavras que quis dirigir-me, também em vosso nome, no início deste encontro. Com ele saúdo os Senhores Cardeais e os Bispos presentes. Dirijo um pensamento de particular gratidão a Chiara Lubich, Kiko Arguello, Jean Vanier e Mons. Luigi Giussani pelos seus comoventes testemunhos. Juntamente com eles, saúdo os fundadores e os responsáveis pelas novas comunidades e movimentos aqui representados. É-me grato, por fim, dirigir-me a cada um de vós, Irmãos e Irmãs que pertenceis aos distintos movimentos eclesiais. Acolhestes com prontidão e entusiasmo o convite que vos fiz no Pentecostes de 1996 e preparastes-vos com cuidado, sob a guia do Pontifício Conselho para os Leigos, para este encontro extraordinário, que nos projecta para o Grande Jubileu do Ano 2000.

O evento de hoje é deveras inédito: pela primeira vez os movimentos e as novas comunidades eclesiais encontram-se, todos juntos, com o Papa. É o grande «testemunho comum» por mim desejado para o ano que, no caminho da Igreja rumo ao Grande Jubileu, é dedicado ao Espírito Santo. O Espírito Santo está aqui connosco! É Ele a alma deste admirável acontecimento de comunhão eclesial. Na verdade, «este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e nele exultemos» (Ps 117,24).

3. Em Jerusalém, há quase dois mil anos, no dia de Pentecostes, diante de uma multidão estupefacta e zombeteira por causa da inexplicável mudança notada nos Apóstolos, Pedro proclama com coragem: «Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós... a Este matastes, cravando-O na cruz pela mão de gente perversa. Mas Deus ressuscitou-O» (Ac 2,22-24). Nas palavras de Pedro manifesta-se a autoconsciência da Igreja, fundada sobre a certeza de que Jesus Cristo está vivo, actua no presente e transforma a vida.

O Espírito Santo, já operante na criação do mundo e na Antiga Aliança, revela-Se na Encarnação e na Páscoa do Filho de Deus, e como que «explode» no Pentecostes para prolongar, no tempo e no espaço, a missão de Cristo Senhor. O Espírito constitui assim a Igreja como fluxo de vida nova, que circula dentro da história dos homens.

4. À Igreja que, segundo os Padres, é o lugar «onde floresce o Espírito» (Catecismo da Igreja Católica, CEC 749), o Consolador deu recentemente com o Concílio Ecuménico Vaticano II um renovado Pentecostes, suscitando um dinamismo novo e imprevisto.

Sempre, quando intervém, o Espírito nos deixa maravilhados. Suscita eventos cuja novidade causa admiração; muda radicalmente as pessoas e a história. Esta foi a experiência inesquecível do Concílio Ecuménico Vaticano II, durante o qual, sob a guia do mesmo Espírito, a Igreja redescobriu como constitutiva de si mesma a dimensão carismática: «O Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas "distribuindo a cada um os Seus dons como Lhe apraz" (1Co 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja» (Lumen gentium LG 12).

Os aspectos institucional e carismático são como que co-essenciais à constituição da Igreja e concorrem, ainda que de modo diverso, para a sua vida, a sua renovação e a santificação do Povo de Deus. É desta providencial redescoberta da dimensão carismática da Igreja foi que, antes e depois do Concílio, se consolidou uma singular linha de desenvolvimento dos movimentos eclesiais e das novas comunidades.

5. Hoje, a Igreja alegra-se ao constatar o renovado cumprimento das palavras do profeta Joel, que há pouco escutámos: «Derramarei o Meu Espírito sobre toda a criatura...» (Ac 2,17). Vós aqui presentes sois a prova palpável desta «efusão» do Espírito. Cada movimento difere do outro, mas todos estão unidos na mesma comunhão e para a mesma missão. Alguns carismas suscitados pelo Espírito irrompem como vento impetuoso, que arrebata e atrai as pessoas para novos caminhos de empenho missionário ao serviço radical do Evangelho, proclamando sem temor as verdades da fé, acolhendo como dom o fluxo vivo da tradição e suscitando em cada um o ardente desejo da santidade. Hoje, a todos vós reunidos aqui na Praça de São Pedro e a todos os cristãos, quero bradar: Abri-vos com docilidade aos dons do Espírito! Acolhei com gratidão e obediência os carismas que o Espírito não cessa de dispensar! Não esqueçais que cada carisma é dado para o bem comum, isto é, em benefício de toda a Igreja!

6. Pela sua natureza, os carismas são comunicativos e fazem nascer aquela «afinidade espiritual entre as pessoas» (cf. Christifideles laici, CL 24) e aquela amizade em Cristo que dá origem aos «movimentos». A passagem do carisma originário ao movimento acontece pela misteriosa atracção exercida pelo Fundador sobre quantos se deixam envolver na sua experiência espiritual. Desse modo, os movimentos reconhecidos oficialmente pelas autoridades eclesiásticas propõem-se como formas de auto-realização e reflexos da única Igreja. O seu nascimento e a sua difusão trouxeram à vida da Igreja uma novidade inesperada, e por vezes até explosiva. Isto não deixou de suscitar interrogativos, dificuldades e tensões; às vezes comportou, por um lado, presunções e intemperanças e, por outro, não poucos preconceitos e reservas. Foi um período de prova para a sua fidelidade, uma ocasião importante para verificar a genuinidade dos seus carismas. Hoje, diante de vós, abre-se uma etapa nova, a da maturidade eclesial. Isto não quer dizer que todos os problemas tenham sido resolvidos. É, antes, um desafio. Uma via a percorrer. A Igreja espera de vós frutos «maduros» de comunhão e de empenho.

7. No nosso mundo, com frequência dominado por uma cultura secularizada que fomenta e difunde modelos de vida sem Deus, a fé de muitos é posta à dura prova e, não raro, é sufocada e extinta. Percebe-se, então, com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e aprofundada formação cristã. Como é grande, hoje, a necessidade de personalidades cristãs amadurecidas, conscientes da própria identidade baptismal, da própria vocação e missão na Igreja e no mundo! E eis, então, os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do final de milénio. Vós sois esta resposta providencial. Os verdadeiros carismas não podem senão tender para o encontro com Cristo nos Sacramentos. As verdades eclesiais a que aderis ajudaram-vos a redescobrir a vocação baptismal, a valorizar os dons do Espírito recebidos na Confirmação, a confiar-vos à misericórdia de Deus no Sacramento da Reconciliação e a reconhecer na Eucaristia a fonte e o ápice da inteira vida cristã. E de igual modo, graças a essa forte experiência eclesial, surgiram esplêndidas famílias cristãs abertas à vida, verdadeiras «igrejas domésticas», desabrocharam muitas vocações ao sacerdócio ministerial e à vida religiosa, assim como novas formas de vida laical inspiradas nos conselhos evangélicos. Nos movimentos e nas novas comunidades aprendestes que a fé não é questão abstracta, nem vago sentimento religioso, mas vida nova em Cristo, suscitada pelo Espírito Santo.

8. Como conservar e garantir a autenticidade do carisma? É fundamental, a respeito disso, que cada movimento se submeta ao discernimento da Autoridade eclesiástica competente. Por esta razão, nenhum carisma dispensa da referência e da submissão aos Pastores da Igreja. Com palavras claras o Concílio escreve: «O juízo acerca da sua autenticidade e recto uso pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1Th 5,12 1Th 5,19-21)» (Lumen gentium LG 12). Esta é a necessária garantia de que a estrada que percorreis é justa! Assim, na confusão que reina no mundo de hoje é fácil errar, ceder às ilusões. Na formação cristã cuidada pelos movimentos jamais falte o elemento desta confiante obediência aos Bispos, sucessores dos Apóstolos, em comunhão com o Sucessor de Pedro! Conheceis os critérios de eclesialidade das agregações laicais, presentes na Exortação Apostólica Christifideles laici (cf. n. 30). Peço-vos que lhes deis adesão sempre com generosidade e humildade, inserindo as vossas experiências nas Igrejas locais e nas paróquias, sempre permanecendo em comunhão com os Pastores e atentos às suas indicações.

9. Jesus disse: «Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu senão que ele já se tenha ateado?» (Lc 12,49); enquanto a Igreja se prepara para cruzar o limiar do terceiro milénio, acolhamos o convite do Senhor, para que o Seufogo se propague no nosso coração e no dos irmãos. Hoje, deste cenáculo da Praça de São Pedro, eleva-se uma grande oração: Vinde Espírito Santo, vinde e renovai a face da terra! Vinde com os vossos sete dons! Vinde Espírito de vida, Espírito de verdade, Espírito de comunhão e de amor! A Igreja e o mundo têm necessidade de Vós. Vinde Espírito Santo e tornai sempre mais fecundos os carismas que concedeis. Dai nova força e impulso missionário a estes vossos filhos e filhas aqui reunidos. Dilatai o coração deles, reavivai o seu empenho cristão no mundo. Tornai-os corajosos mensageiros do Evangelho, testemunhas de Jesus Cristo ressuscitado, Redentor e Salvador do homem. Fortalecei o seu amor e a sua fidelidade à Igreja. A Maria, primeira discípula de Cristo, Esposa do Espírito Santo e Mãe da Igreja, que acompanhou os Apóstolos no primeiro Pentecostes, dirigimos o nosso olhar para que nos ajude a aprender do seu Fiat a docilidade à voz do Espírito. Hoje, desta Praça, Cristo repete a cada um de vós: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a todas as criaturas» (Mc 16,15). Ele conta com cada um de vós, a Igreja conta convosco. «Eis – assegura o Senhor – Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28,20). Estou convosco. Amém! Em seguida o Santo Padre dirigiu-se de novo aos milhares de peregrinos, assim se expressando, respectivamente em inglês, francês, espanhol, alemão e polaco: Caros amigos de língua inglesa, na vigília desta grande festa de Pentecostes, oro para que o Espírito Santo aumente a chama do Seu amor nos vossos corações, a fim de poderdes tornar-vos cada vez mais activos na difusão da mensagem evangélica no mundo do novo Milénio. A Igreja precisa do vosso empenho e do vosso amor! Saúdo os francófonos presentes nesta audiência. Encorajo-os a ser cada dia testemunhas de Cristo, que eles encontraram pessoalmente, e a participar na edificação da Igreja, em união com os pastores diocesanos. Saúdo cordialmente todas as pessoas e grupos de língua espanhola, que participam neste grande encontro eclesial, e peço ao Espírito que vos fortaleça e console na vossa missão como pedras vivas da sua Igreja. Com grande alegria saúdo também vós, caros amigos dos países de língua alemã, que pertenceis a um movimento ou a uma comunidade de espiritualidade: sois chamados a redescobrir os vossos carismas e a edificar o Corpo de Cristo. O Espírito Santo de Deus seja a vossa força e energia! Saúdo de coração os representantes dos movimentos eclesiais provenientes da Polónia. Estou contente por terdes vindo aqui juntamente com o Cardeal Franciszek, com os Bispos e os Sacerdotes. A vossa presença é um testemunho daquela vitalidade da Igreja na Polónia, que é o fruto da acção do Espírito Santo e da fé profunda dos homens. O Espírito Consolador vos guie na paz, a vós e a todos os crentes no nosso País, rumo ao novo Milénio.



Discursos João Paulo II 1998 - Quinta-feira, 28 de Maio de 1998