Discursos João Paulo II 1998

Vaticano, 3 de Março de 1998.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA FAMÍLIA CISTERCIENSE


POR OCASIÃO DO IX CENTENÁRIO


DA FUNDAÇÃO DA ABADIA






Aos membros da Família cisterciense
por ocasião do nono centenário da fundação da Abadia de Cîteaux



1. Neste ano em que a Abadia de Cîteaux celebra com fervor o nono centenário da sua fundação, sinto-me feliz de me associar à alegria e à acção de graças da grande Família cisterciense que, neste evento, quer retornar às fontes do seu carisma fundador para dali haurir as promessas duma nova vitalidade.

2. Na proximidade do Terceiro Milénio, no momento em que a Igreja inteira se prepara para o grande Jubileu, nós fazemos memória da obra profética de Robert de Molesme e dos seus companheiros que estabeleceram o «novo mosteiro» em 1098, a fim de responder ao seu ardente desejo de «aderirem de maneira mais estreita e profunda à Regra do bem-aventurado Bento» (Pequeno exórdio), que eles lêem de novo à luz da Tradição espiritual anterior e ao mesmo tempo esclarecendo-a, mediante a sua leitura dos sinais dos tempos. Ao viverem numa maior autenticidade as exigências monásticas, vão encontrar a harmonia interior necessária para a busca de Deus na humildade, obediência e bom zelo.

Com efeito, pela observância fiel da Regra de São Bento na sua pureza e vigor, os fundadores de Cîteaux, Robert, Albéric e Étienne, fazem surgir uma nova forma de existência monástica. A sua vida religiosa será inteiramente orientada para a experiência de Deus vivo, experiência que farão ao colocarem-se, juntamente com os seus irmãos, no seguimento de Cristo, na simplicidade e pobreza segundo o Evangelho. Através da solidão, procurarão viver por Deus, edificando uma comunidade fraterna. No desprendimento, numa vida austera e de trabalho, esforçar-se-ão por promover o crescimento do homem novo.

3. O carisma de Cîteaux, que conheceu uma rápida expansão, oferece uma contribuição muito importante à história da espiritualidade e da cultura no Ocidente. A partir do século XII, os quatrocentos mosteiros já existentes são centros de vida espiritual intensa em toda a Europa. Para os Fundadores e os seus discípulos – sobretudo Bernardo de Claraval, Guilherme de Saint-Thierry, Guerric d'Igny, Aelred de Rievaulx, Isaac de l'Étoile, Amédée de Lausanni, Gilbert de Hoyland, Baudoin de Ford, Jean de Ford, Adam de Perseigne –, a Regra oferece de maneira eminente uma direcção e conselhos para a vida interior. Junto de Bento, eles descobrem uma rica doutrina sobre a humildade, a obediência, o amor, o temor de Deus; mais ainda, sentem-se incitados a haurir directamente do Evangelho e dos Padres da Igreja.

Muito rapidamente, os Cistercienses desenvolveram uma profunda espiritualidade, baseada numa sólida antropologia teologal, também ela centrada na imagem e semelhança do homem com Deus. Do mesmo modo, desenvolver-se-ão ainda outros aspectos da vida espiritual, já delineados por São Bento, como o conhecimento de si, os ensinamentos sobre o amor e a contemplação mística. A dominici schola servitii torna-se assim também uma schola caritatis. Pode-se ver nisto um aprofundamento do sentido do homem na sua capacidade de amor e de responder livremente ao amor, deixando-se guiar pela razão. Este humanismo baseia-se na economia divina e na graça, de modo particular na Encarnação na sua dimensão mais humana.

4. A reforma cisterciense marcará também de modo profundo uma renovação da liturgia: simplifica-a e unifica-a. Hoje, nas celebrações comunitárias assinaladas pela grandeza e sobriedade, monges e monjas exprimem de maneira luminosa a sua vocação ao louvor divino, à intercessão em favor da Igreja e do mundo, em comunhão com a oração de todos os cristãos. Na Eucaristia e na Liturgia das Horas, que desenvolvem o mistério de Cristo e mostram a natureza autêntica da Igreja, eles manifestam de maneira privilegiada a sua íntima união com o Senhor e a Sua obra de salvação. Ao encontrarem nelas o seu alimento quotidiano, num equilíbrio sereno com a sua vida de trabalho, atestam com veemência o que constitui a razão de ser da sua missão particular entre os homens.

A própria arte cisterciense, posta ao serviço da vida monástica, desenvolve-se com uma harmoniosa beleza nos edifícios que proclamam o esplendor e a glória divinos. Pela sua elegância e o seu desprendimento de tudo o que não favorece o encontro com o Criador, ela conduz o homem para Deus, ao fazê-lo saborear a Sua nobreza e bondade. Leva assim a entrar na oração e a cultivar a interioridade, que conduz ao conhecimento do Senhor.

Irmãos e Irmãs, herdeiros do património cisterciense, convido-vos a continuar a ser testemunhas ardorosas e entusiastas da busca de Deus, mediante a celebração da liturgia, fonte e ápice da vossa vida monástica, a lectio divina, escuta e meditação assíduas da Palavra de Deus recebida na humildade e alegria, assim como mediante a aplicação frequente à oração, seguindo o convite do vosso Pai São Bento. Vós encontrareis nele uma fonte inexaurível de paz interior, que tereis o cuidado de partilhar abundantemente com todos.

5. A nossa época conhece uma admiração nova pelo património espiritual e cultural cisterciense, expresso nos vossos mosteiros, que têm conhecimento de muitas particularidades quanto à sua história, ao contexto da sua presença ou ainda à sua maneira de responder às expectativas das Igrejas locais. Para numerosas pessoas, os interrogativos espirituais essenciais podem ser expressos e aprofundados graças ao acolhimento que lhes é proposto nos mosteiros. Uma comunidade fraterna de fé permite perceber um pólo de estabilidade numa sociedade, em que os mais fundamentais sinais desaparecem, sobretudo para os mais jovens. Filhos e Filhas de Cîteaux, a Igreja espera que os vossos mosteiros sejam entre os homens de hoje, segundo a vossa vocação própria, «um sinal eloquente de comunhão, um lugar acolhedor para aqueles que buscam Deus e as coisas do espírito, escolas de fé e verdadeiros centros de estudo, diálogo e cultura para a edificação da vida eclesial e também da cidade terrena, à espera da celeste» (Vita consecrata VC 6).

Encorajo-vos de igual modo, segundo as circunstâncias, a discernir com prudência e sentido profético a participação, na vossa família espiritual, de fiéis leigos, sob a forma de «membros associados ou, segundo as exigências de alguns contextos culturais, de pessoas que partilham, por um certo período de tempo, a vida comunitária» (Vita consecrata, VC 56) e de um empenho na contemplação, contanto que a identidade própria da vossa vida monástica não venha a sofrer com isto.

6. A comemoração da fundação de Cîteaux recorda-nos também o lugar deste grande movimento de renovação espiritual nas raízes cristãs da Europa. Alegro-me ao saber que no centro deste ano jubilar muitas evocações permitirão pôr em evidência este aspecto da herança cisterciense. A fecundidade do vosso carisma não se limitou às vossas comunidades monásticas, mas na realidade tornou-se uma riqueza comum para toda a humanidade. Dado que a Europa prossegue a sua edificação, faço votos contrar no espírito de Cîteaux os elementos duma renovação espiritual profunda, que dê uma alma à convivência europeia.

7. O desejo duma vida nova no seguimento de Cristo, que caracteriza Cîteaux desde a sua origem, continua a ser uma intuição de grande actualidade. Com efeito, a Regra oferece a cada um um caminho recto de perfeição evangélica, graças a um equilíbrio discreto entre as diferentes observâncias monásticas tradicionais. Os monges encontram nestas exigências instrumentos próprios a conduzi-los à puritas cordis e à unitas spiritus com Deus. Recentemente, isto foi ressaltado pelo Sínodo sobre a vida consagrada, que quis valorizar a dimensão profética e espiritual da vida religiosa. «No nosso mundo, onde frequentemente parecem ter-se perdido os vestígios de Deus, torna-se urgente um vigoroso testemunho profético por parte das pessoas consagradas. Tal testemunho versará, primariamente, sobre a afirmação da primazia de Deus e dos bens futuros, como transparece do seguimento e imitação de Cristo casto, pobre e obediente, votado completamente à glória do Pai e ao amor dos irmãos e irmãs» (Vita consecrata VC 85).

Ao voltar hoje à sua inspiração primitiva, após nove séculos de história contínua nem sempre isenta de vicissitudes, a família cisterciense reconhece-se na graça fundadora dos primeiros Padres. Descobre assim a legítima diversidade das suas tradições, que são uma riqueza para todos e exprimem a vitalidade do carisma original; a Igreja vê nisto a obra do único Espírito a partir dum idêntico dom.

Nesta celebração da fundação de Cîteaux, encorajo vivamente as comunidades que formam a grande Família cisterciense a entrarem juntas no novo milénio, em verdadeira comunhão, na confiança mútua e no respeito das tradições legadas pela história. Que este aniversário do «novo mosteiro», que durante nove séculos teve uma irradiação tão grande na Igreja e no mundo, seja para todos o apelo de uma origem e pertença comuns, assim como o símbolo da unidade sempre a receber e a construir!

8. A actualidade e o vigor do carisma de Cîteaux neste final do segundo milénio foram marcados pelo testemunho dado do Evangelho, de maneira particularmente significativa pelos numerosos filhos e filhas da Família cisterciense. Quereria citar o Padre Cipriano Michael Iwene Tansi que, precisamente nos dias da celebração do nono centenário de Cîteaux, terei a alegria de beatificar na Nigéria, seu país de origem, onde tanto trabalhou para levar o Evangelho aos seus compatriotas.

O sacrifício dos Trapistas de Tibhirine ainda está presente nos nossos corações. Mártires do amor de Deus por todos os homens, eles foram artífices de paz mediante o dom da própria vida. Convidam os discípulos de Cristo a manter o olhar fixo em Deus e a viver o amor até ao fim, recordando-se acima de tudo que não há sequela Christi sem renúncia. Conservai a sua memória como um bem espiritual precioso para a Família cisterciense e para a Igreja inteira!

9. Retomando as palavras de São Bernardo: «Se Maria vos protege, não deveis ter medo; sob a sua guia, ignorareis a fadiga; graças ao seu fervor, alcançareis a meta» (Os louvores da Virgem Mãe, segunda homilia), confio-vos a Nossa Senhora e Rainha de Cîteaux e, ao saudar de modo particular a comunidade do «novo mosteiro», que celebra também o retorno dos monges depois de uma longa interrupção, envio a todos os membros da Família cisterciense uma afectuosa Bênção Apostólica.



Vaticano, 6 de Março de 1998.



REFLEXÃO DO SANTO PADRE

POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO

DO RETIRO ESPIRITUAL DA QUARESMA


Sábado, 7 de Março de 1998





1. No termo desta semana de intenso caminho espiritual, desejo agradecer ao Senhor Cardeal Ján Chryzostom Korec. Mediante as reflexões desenvolvidas nestes Exercícios que agora se concluem, ele teve em vista guiar-nos na tradicional peregrinação da alma através da Quaresma, fazendo com que nos aproximássemos das fontes abundantes da Palavra de Deus e da Liturgia. No silêncio do deserto, torna-se mais incisiva a percepção da presença benéfica de Deus, que prepara grandes coisas para quantos estão dispostos a crer n'Ele e a viver na Sua luz.

O tema dos Exercícios Espirituais deste ano toma directamente como ponto de referência o itinerário de preparação para o grande Jubileu do Ano 2000 – «Christus heri, hodie et in saecula» –, pois a Igreja inteira está a viver com renovada esperança a trépida espera do novo milénio. O mistério de Cristo penetra-a, anima-a e impele-a através da árdua vereda da penitência, a fim de que, purificada e imaculada, possa progredir com o coração exultante ao encontro do Esposo que vem.

2. Agradeço vivamente ao Pregador, que se fez voz do desejo de nos prepararmos com fé e amor para a Páscoa, rumo à qual nos encaminhamos. As reflexões do nosso guia redundaram numa perspectiva de optimismo e de esperança. Através do benéfico esforço da peregrinação espiritual, ele ajudou-nos a superar a opacidade de quem não sabe perscrutar o mistério que nos envolve, e introduziu-nos na contemplação dos mistérios da fé, sobre os quais se fundamenta a nossa vida. A ele dirige-se o nosso agradecimento cordial, acompanhado da certeza da nossa oração pela sua pessoa e pelo seu ministério pastoral.

Quero exprimir este agradecimento, venerado Irmão, também na sua língua materna. Como todos os presentes, estou-lhe grato pelas reflexões espirituais que apresentou e, em particular, pelo testemunho de corajosa fidelidade a Cristo, dado por Vossa Eminência em anos difíceis, durante os quais se tornou na sua Pátria um ponto de referência para sacerdotes e leigos. Sinto-me também contente pelo facto de, pela primeira vez, os Exercícios Espirituais terem sido pregados à Cúria Romana por um Cardeal eslovaco.

Uma palavra de grato apreço desejo dirigi-la também a quantos quiseram compartilhar este itinerário espiritual, assim como àqueles que dispuseram todas as coisas, a fim de que tudo se realizasse serenamente e com fruto.

3. Agora, assim como Moisés desceu do monte onde encontrara a fascinante e tremenda beleza de Deus, também nós retornamos ao vale, ao nosso trabalho quotidiano, para anunciar as maravilhas que contemplámos. O Pregador recordou-nos que nisto podemos contar com o apoio do Espírito Santo. É graças à acção, silenciosa mas omnipotente, da terceira Pessoa da Trindade que a Igreja pode, com inabalável confiança, continuar a exercer o seu ministério, anunciando às gerações que se sucedem sobre a face da terra Cristo, que é sempre o mesmo «ontem, hoje e para sempre».

Terminamos os Exercícios Espirituais neste sábado, que é o primeiro do mês, dedicado de modo particular ao Coração Imaculado de Maria. Invoquemos com intenso afecto Maria, a primeira que acolheu Cristo com total docilidade à obra do Espírito. Seja Ela a guiar-nos e a sustentar-nos no caminho quaresmal que estamos a percorrer, a fim de sabermos ser constantemente fiéis ao Senhor da vida e da história.

A todos a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA PEREGRINAÇÃO


PROMOVIDA PELA "OBRA DA IGREJA"


: Queridos Irmãos e Irmãs!

1. Com prazer recebo-vos hoje, membros da Obra da Igreja que, formando este numeroso grupo, quisestes peregrinar até Roma para renovar os sentimentos de amor e afecto ao Papa, Sucessor do apóstolo Pedro, e o compromisso de entrega e serviço à Igreja de Jesus Cristo. Move-vos nisto a recente aprovação pontifícia da vossa Obra, que foi reconhecida como Instituição Eclesial, composta pelos três ramos da vida consagrada: sacerdotal, laical masculina e feminina, em torno dos quais se organizam os outros ramos: daqueles que aderem, militam ou colaboram. Ao dar-vos as boas-vindas, agradeço-vos a vossa presença aqui e, de modo especial, tudo o que fazeis nos diversos campos de apostolado que os Bispos vos confiaram.

2. A Obra da Igreja surgiu em 1959, das mãos de quem hoje é a vossa Presidente, Madre Trindade Sánchez Moreno. Posteriormente, erigida como Pia União na Arquidiocese de Madrid, percorreu diversas etapas até chegar ao momento, tão desejado pela Fundadora e por todos os membros, da promulgação do Decreto que lhe reconhece o direito pontifício. Nestes anos a Obra da Igreja distinguiu-se pela sua fidelidade e amor ao Papa, assim como pelo seu espírito de cooperação nas dioceses onde tem centros. Por isso quisestes estar também presentes em Roma, oferecendo a vossa colaboração nalguns campos de apostolado. Assim o pude comprovar na visita pastoral que realizei à Paróquia de Nossa Senhora de Valme, confiada a sacerdotes da vossa Instituição, conhecendo mais de perto as actividades que levais a cabo.

3. Neste encontro de hoje desejo animar-vos a viver com generosidade o mistério da Igreja, que em Cristo «é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen gentium LG 1). Para isto, continuai a trabalhar com fidelidade ao Papa e aos Bispos, para mostrardes aos homens do nosso tempo o belo e o atractivo desse dom de Deus à humanidade, que é a sua Igreja. A respeito disso, seguindo as orientações da minha Exortação Apostólica Vita consecrata, é aconselhável que os consagrados e consagradas recebam uma formação permanente mediante uma adequada formação teológica, conscientes de que deles se espera uma nova e luminosa proposta de amor, com o testemunho duma castidade que engrandece o coração, duma pobreza que elimina barreiras e duma obediência que constrói a comunhão na comunidade, na Igreja e no mundo. Todos vós, além disso, deveis aprofundar nos ensi- namentos que a Escritura e a Tradição nos apresentam sobre a Igreja, de modo que o vosso amor por ela esteja baseado na sólida doutrina que depois transmitireis nos vossos apostolados.

4. A Virgem Maria, proclamada Mãe da Igreja, foi apresentada pelo Concílio Vaticano II como «exemplo daquele afecto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na mis- são apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens» (Ibid., 65). Que a sua materna intercessão vos acompanhe no caminho e vos faça ser fiéis aos compromissos que, dóceis ao Espírito Santo, assumistes para glória de Deus e serviço da Igreja. Que vos sirva também de ajuda a Bênção Apostólica, que vos concedo com afecto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL


NO CAMPO DA SAÚDE


9 de Março de 1998





1. Muito me alegra este encontro que se realiza por ocasião da IV Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde. Cumprimento o vosso Presidente, D. Javier Lozano Barragán, e agradeço-lhe as cordiais palavras com que expressou, juntamente com os comuns sentimentos de afecto, a vitalidade e o empenho do vosso jovem Dicastério.

Saúdo também todos vós, caríssimos Membros, Oficiais e Consultores do Pontifício Conselho, que participais nesta Audiência. Através de vós o meu pensamento dirige-se com grato apreço a todos os sacerdotes, religiosos, médicos, cientistas, pesquisadores e a quantos, com sensibilidade humana e eclesial e segundo as respectivas competências, estão empenhados no complexo mundo da saúde.

2. Difíceis são as temáticas que tendes em vista enfrentar durante estas jornadas de estudo, nas quais dedicareis um atento exame aos problemas e desafios que o vasto âmbito sanitário apresenta no plano da pastoral da saúde.

Estes primeiros treze anos de actividade viram o alegre e dinâmico empenho do Dicastério num sector delicado e muitas vezes atormentado, e confirmaram a necessidade e urgência do serviço eclesial que ele presta. Olho com gratidão para as múltiplas realizações que, em virtude da vossa constante solicitude, puderam ser postas em prática em benefício da admirável e às vezes heróica disponibilidade de médicos, religiosas e capelães ao serviço dos doentes. A pastoral no campo da saúde, nascida da caridade da Igreja e testemunhada de modo eminente por muitos Santos, entre os quais ocupam um lugar de relevo São João de Deus e São Camilo de Lellis, conheceu ao longo dos séculos um extraordinário florescimento, graças à obra de Ordens e Institutos religiosos dedicados ao serviço dos enfermos. Hoje, ela é coordenada e promovida pelo Organismo do qual, a diversos títulos, fazeis parte. Eu mesmo o instituí em 1985, confiando-o ao espírito empreendedor do Cardeal Fiorenzo Angelini, cuja intensa actividade desejo mais uma vez recordar com apreço e gratidão.

3. Ao recolher e ao dar continuidade a esta preciosa herança, assumistes com sentido de responsabilidade e de amor as tarefas que o Documento de instituição atribui ao Dicastério. Seguis, portanto, com solicitude as difíceis problemáticas da saúde, ajudando aqueles que se põem ao serviço dos doentes e sofredores, a fim de que a sua obra corresponda sempre melhor às exigências emergentes neste delicado campo. Preocupais-vos, em particular, por oferecer a vossa colaboração às Igrejas locais, a fim de fazer com que aos agentes da saúde seja assegurada uma adequada assistência espiritual, juntamente com a possibilidade de um sério conhecimento da doutrina da Igreja acerca dos aspec- tos morais da doença e do significado do sofrimento humano. Além disso, o vosso Dicastério acompanha com atenção os problemas teóricos e práticos da medicina, e também os desenvolvimentos no campo legislativo da normativa sanitária, com a intenção de salvaguardar em todas as situações o respeito pela dignidade da pessoa.

Infelizmente, a benéfica acção de protecção e de defesa da saúde encontra obstáculos não só nos múltiplos factores patogénicos, antigos e recentes, que insidiam a vida sobre a terra, mas às vezes também na mentalidade e no comportamento dos homens. A prepotência, a violência, a guerra, a droga, os raptos de pessoas, a marginalização dos imigrados, o aborto e a eutanásia são atentados contra a vida, que dependem da iniciativa humana. As ideologias totalitárias que degradaram o homem a objec- to, espezinhando e iludindo os direitos humanos fundamentais, encontram precedentes preocupantes em determinadas instrumentalizações das potencialidades biotecnológicas, que manipulam a vida em nome de uma desmedida ambição de domínio que deforma aspirações e esperanças, multiplicando inquietudes e sofrimentos.

4. «Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância» (Jn 10,10): a Igreja, que guarda e difunde a mensagem da salvação, considera seu próprio programa esta vívida e estimulante afirmação de Jesus. Na defesa da saúde do homem, que é o vosso programa, esta missão encontra eco.

O conceito de saúde não se pode limitar a significar apenas a ausência de doença ou de momentâneas disfunções orgânicas. A saúde investe o bem-estar de toda a pessoa, o seu estado biofísico, psíquico e espiritual. De qualquer modo, portanto, ela abrange também a sua adaptação ao ambiente em que vive e actua.

«Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância» (ibid.). No plano operativo, os objectivos que perseguis – como por exemplo a tutela da dignidade da pessoa na sua vida física e espiritual; a promoção de estudos e pesquisas no campo da saúde; o estímulo de adequadas políticas sanitárias; a animação da pastoral hospitalar – são o reflexo da missão que Cristo transmitiu à sua Igreja: servir a vida! Não posso deixar de vos encorajar no cumprimento deste compromisso.

5. A Encarnação do Verbo purificou todas as nossas debilidades e enobreceu a natureza humana, elevando-a à dignidade sobrenatural e, graças à acção do Espírito Santo, fazendo do povo dos remidos um só corpo e um só espírito.

Precisamente por isso, cada acto de assistência ao homem enfermo, quer em estruturas sanitárias de vanguarda, quer naquelas simples de países em vias de desenvolvimento, se for realizado com espírito de fé e com delicadeza fraterna, torna-se num sentido muito verdadeiro um acto de religião. O cuidado dos enfermos, se for realizado num contexto de respeito da pessoa, não se limita à terapia médica ou à intervenção cirúrgica, mas tem em vista curar integralmente o homem, restituindo-o à harmonia de um equilíbrio interior, ao gosto pela vida, à alegria do amor e da comunhão.

No complexo e diversificado mundo da saúde, é isto que visam também as actividades do vosso Dicastério, em colaboração com os análogos centros pastorais das Igrejas locais, que coordenam o serviço dos capelães e das religiosas dos hospitais, juntamente com a generosa disponibilidade do voluntariado. O objectivo comum é o respeito pela vida de cada pessoa que, mesmo diminuída nas suas funções e na sua integridade orgânica, conserva intacta a dignidade humana que lhe é própria.

6. Faço votos de coração por que no trabalho dos próximos dias formuleis oportunos programas operativos. É esta a via para realizar as finalidades institutivas do Pontifício Conselho, que não deixará de desempenhar um seu papel específico no tempo de preparação para o «Grande Jubileu do Ano 2000». Os fiéis serão assim ajudados a tomar consciência de que «no sofrimento se esconde uma força particular que aproxima interiormente o homem de Cristo» (Carta Apostólica Salvifici doloris, 26). O sofrimento do ser humano, assim transformado no mistério do sofrimento do Redentor, torna-se «o mediador insubstituível e autor dos bens, indispensáveis para a salvação do mun- do» (ibid., n. 27).

Continuai a oferecer o vosso inteligente serviço às Conferências Episcopais Nacionais e a todos os Organismos empenhados na pastoral da saúde e o Espírito Santo «que, com a Sua força e mediante a íntima conexão dos membros, produz e estimula a caridade entre os fiéis» (Const. dogm. Lumen gentium LG 7), continuará a manifestar-se à Igreja, no início do seu terceiro milénio, como «agente principal da nova evangelização» (Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, TMA 45).

Confiando estes bons votos à Santíssima Virgem, que depois do Anúncio do Anjo concretizou a sua imediata disponibilidade com um serviço à vida em benefício da sua prima Isabel, que estava prestes a tornar-se mãe, concedo-vos de coração a minha afectuosa Bênção, que de bom grado faço extensiva a quantos colaboram convosco para tornar cada vez mais eficiente e humano o serviço às pessoas provadas pela doença.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SEGUNDO GRUPO DE BISPOS


DOS ESTADOS UNIDOS EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"








Estimado Cardeal Bevilacqua
Prezados Irmãos Bispos

1. «A graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus estejam convosco» (Rm 1,7). Continuando esta série de visitas ad Limina dos Prelados dos Estados Unidos, dou-vos as boas-vindas, Bispos provenientes da Pensilvânia e de Nova Jersey. Confio o fruto da nossa oração e dos nossos encontros à graça do Espírito Santo que, «ao longo dos séculos, indo haurir do tesouro da Redenção de Cristo, foi dando aos homens a vida nova» (Dominum et vivificantem DEV 53). Agora o Espírito está a preparar a Igreja para o Grande Jubileu, um tempo para escutar de novo e responder de modo cada vez mais decidido à chamada a abrir os nossos corações ao Evangelho, a abraçar a sua mensagem salvífica e a permitir que esta transforme as nossas vidas. Ao aproximar-se o Jubileu, os Pastores do povo de Deus têm uma nova oportunidade de anunciar aos homens e às mulheres de hoje que, de facto, Deus veio ao meio de nós e que o Evangelho constitui «a força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita» (Rm 1,16). Rezemos para que o Espírito Santo ilumine ulteriormente as nossas mentes na «hora» que estamos a viver e as oportunidades e responsabilidades que esta «hora» comporta para o futuro da Igreja e da sociedade.

2. Como recordei ao primeiro grupo proveniente do vosso país, a recepção do magistério do Concílio Vaticano II e a renovação da Igreja considerada pelo mesmo Concílio serão a luz-guia para as nossas reflexões durante esta série de visitas ad limina Apostolorum.Hoje, muitos católicos não se recordam do Concílio. Todavia, aqueles de entre nós que tiveram a maravilhosa oportunidade de participar nele, viveram-no como um momento de extraordinário dinamismo e crescimento espiritual. O Concílio fez com que entrássemos em íntimo e tangível contacto com a riqueza de 19 séculos de santidade, doutrina e serviço à família humana; revelou-nos a unidade e a diversidade da comunidade católica no mundo inteiro; e ensinou-nos a abrir-nos aos nossos irmãos e irmãs cristãos, aos seguidores de outras religiões, às alegrias, esperanças, sofrimentos e ansiedades da humanidade. É óbvio que, na sua Providência, Deus quis preparar a Igreja para uma nova Primavera do Evangelho – para o início do próximo Milénio cristão – mediante a extraordinária graça do Concílio.

Entre os ensinamentos que o Concílio nos legou, nenhum deles tem uma influência tão clarividente sobre a comunidade católica em geral e as nossas próprias vidas de sacerdotes e de Bispos, como a reflexão da Igreja sobre si mesma «ad intra» e «ad extra», contida na Constituição Dogmática da Igreja Lumen gentium, e na Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes. Em que medida a visão do Concílio acerca da Igreja penetrou na vida das comunidades cristãs? O que se deve fazer para assegurar que a Igreja inteira entre no próximo Milénio com uma consciência mais clara do seu próprio mistério, com maior confiança na sua singular importância para a família humana, com ardente empenhamento na sua missão?

3. Como Bispos, temos a urgente responsabilidade de ajudar o povo de Deus a compreender e apreciar o profundo mistério da Igreja, a vê-la sobretudo como a comunidade em que encontramos Deus vivo e o seu amor misericordioso. O nosso objectivo pastoral deve ser a criação de uma consciência mais intensa acerca do facto que na plenitude dos tempos Deus – que intervém na história quando quer – enviou o seu Filho, nascido de mulher, para a salvação do mundo inteiro (cf. Gl Ga 4,4). Esta é a grande verdade da história humana: a história da salvação entrou na história do mundo, tornando-a uma história repleta da presença de Deus e assinalada por vicissitudes que superabundam de significados para o povo que Deus denomina como seu. A obra redentora do Filho continua na Igreja e através da Igreja. Efectivamente, desde o princípio, «aos que acreditam em Cristo, [Deus] quis convocá-los na Santa Igreja» (Lumen gentium LG 2). Neste sentido transcendente e teológico, a Igreja é a meta de todas as coisas: Deus criou o mundo a fim de transmitir a sua infinita bondade e chamar as suas amadas criaturas em comunhão consigo mesmo, uma comunhão realizada mediante a convocação de todos por parte de Cristo. Esta convocação é a Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica CEC 760). «Assim como a vontade de Deus é a criação e se chama "mundo", assim também a sua intenção é a salvação dos homens, e denomina-se "Igrejal,» (Clemente de Alexandria, Paedagogus, I, 6, 27).

4. A verdade fundamental acerca da Igreja, que os Padres do Concílio procuraram sublinhar, é «o Reino de Cristo já presente em mistério» (Lumen gentium LG 3). Os discípulos de Cristo vivem «no mundo», mas não pertencem «ao mundo» (Jn 17,16); assim, são obviamente influenciados pelos processos económico, social, político e cultural que determinam a vida e a acção dos povos e das sociedades. Desta forma, na sua peregrinação através da história, a Igreja adapta-se às circunstâncias mutáveis, enquanto permanece a mesma, na fidelidade ao seu Senhor, à sua Palavra revelada e «àquilo que foi transmitido» sob a guia do Espírito Santo. No período pós-conciliar, fomos chamados a servir o povo de Deus no meio de profundas mudanças sociais. Nalguns casos, a rapidez das transformações que se verificaram nos 30 anos sucessivos ao Concílio e a tendência das culturas ocidentais a circunscreverem as convicções religiosas ao sector privado dificulta a «recepção» por parte dos católicos do ensinamento do Concílio sobre a singular natureza e missão da Igreja. A história cultural dos Estados Unidos teve um particular impacto sobre o modo de os católicos compreenderem a Igreja nas últimas décadas. É necessário recordar a todos que, precisamente porque a Igreja é um «mistério», a sua realidade jamais pode ser compreendida de maneira completa pelas categorias ou análises sociológicas ou políticas.

Em conformidade com a Carta Encílica Mystici Corporis, do Papa Pio XII, e após um período em que a tendência da eclesiologia era focalizar a Igreja primariamente como uma instituição, o Concílio Vaticano II procurou aprofundar o apreço pela Igreja como sacramento de encontro com Cristo vivo. Como Pastores de almas, devemos perguntar-nos em que medida se prestou atenção à exortação da Lumen gentium a um mais profundo sentido do mistério interior da Igreja. Sucumbiram porventura os católicos às vezes à tentação, amplamente difundida na cultura ocidental contemporânea, de julgar a Igreja em termos de predominância política? Sem dúvida, não era intenção do Concílio «politizar» a Igreja, de maneira que todas as questões fossem susceptíveis de uma classificação política. Ao contrário, era precisamente para aumentar e aprofundar a nossa fé e experiência da Igreja como comunhão que os Padres do Concílio descreveram a Igreja através da maravilhosa colecção de imagens bíblicas, que se encontra nos nn. 5 e 6 da Lumen gentium, e não segundo as categorias institucionais a que eles estavam habituados.

Hoje, à distância de 30 anos da Lumen gentium e da Gaudium et spes, observamos com suficiência de perspectiva que, enquanto os frutos do Concílio são multíplices e em toda a parte há sinais de que o Concílio deu origem a uma restabelecida firmeza na fé, a novos sinais de santidade e a um renovado amor pela Igreja, ainda existem algumas tendências redutivas da compreensão da Igreja. Como resultado disto, eclesiologias inadequadas, radicalmente diferentes daquelas que o Concílio e o subsequente Magistério apresentaram, impregnaram as obras teológicas e catequéticas. Na prática pastoral, alguns sectores do Catolicismo transformaram-nas no fundamento de uma visão sociológica mais ou menos horizontal das realidades eclesiais. Por conseguinte, devemos renovar os nossos esforços em vista de ensinar a riquíssima eclesiologia do Concílio.

5. Só podemos apreciar verdadeiramente o que é a Igreja se compreendermos que cada aspecto do seu ser é forjado pela renovada relação e pela nova aliança que Deus estabeleceu com a humanidade mediante a Cruz de Cristo. O mistério que nos envolve é um mistério de comunhão, uma partilha através da graça na vida do Pai, que nos foi transmitida mediante Cristo no Espírito Santo. Jamais devemos deixar de reflectir sobre a chamada a entrar em íntima relação de vida e de amor com a Santíssima Trindade. Todo o objectivo do nosso ministério é orientar os outros para esta comunhão, que não é obra nossa. Devemos induzir os fiéis a compreender que não entramos em comunhão com Deus simplesmente através de uma opção pessoal, segundo os nossos gostos particulares; não entramos na Igreja como se se tratasse de uma associação de voluntariado. Pelo contrário, somos incorporados no Corpo de Cristo através da graça do Baptismo e da plena participação em tudo o que constitui a realidade divino-humana da Igreja.

Consequentemente, a comunidade dos seguidores de Cristo é acima de tudo uma solidariedade espiritual, a communio sanctorum. Nós somos o Povo peregrinante de Deus e caminhamos rumo à nossa Pátria celestial, assistidos pela intercessão de Maria e dos Santos que nos precederam. A Igreja abarca aqueles que agora vêem Deus como Ele é, bem como as pessoas que morreram e estão a ser purificadas. Talvez a nossa consciência desta dimensão da natureza da Igreja tenha diminuído um pouco nos últimos anos. Deve-se prestar mais atenção à íntima relação entre a Igreja que está na terra e a Igreja que está no céu. Estão os católicos mais jovens suficientemente conscientes da realidade de Maria e dos Santos? O exemplo e a intercessão de Maria e dos Santos auxiliam o nosso povo a responder à vocação universal à santidade? Compreendemos a liturgia da Igreja como participação na liturgia celeste? A recuperação desta compreensão ajuda a refortalecer a frequência da Missa dominical?

6. A Igreja que está nos Estados Unidos enriqueceu-se com uma enorme variedade de expressões da fé presentes entre as pessoas de diversas tradições étnicas. Esta rica diversidade indica que a Igreja é plenamente católica, incluindo todos os povos e culturas. Todavia a Igreja, com todos os seus diferentes membros, constitui o único Corpo de Cristo. A diversidade na Igreja deve servir a unidade da única fé e do único baptismo (cf. Ef Ep 4,5) a fim de, «vivendo um amor autêntico, crescermos sob todos os aspectos em direcção a Cristo, que é a Cabeça. Ele organiza e dá coesão ao corpo inteiro, através de uma rede de articulações... para que o corpo se construa no amor» (Ep 4,15-16). O respeito pelas culturas e tradições específicas deve ser sempre acompanhado pela fidelidade à verdade essencial do Evangelho, transmitida no ensinamento da Igreja.

Uma forma particularmente rica da diversidade que edifica o Corpo de Cristo encontra-se nas Igrejas de Rito Oriental, presentes ao lado da Igreja de Rito Latino em inúmeras partes do vosso país. Estou muito feliz por saudar os Arcebispos e Arquieparcas que participam nesta visita ad Limina. Os católicos orientais que vivem nos Estados Unidos constituem uma ponte natural entre o Oriente e o Ocidente. Por um lado, mediante a experiência directa, eles tornam conhecido o Oriente cristão e, por outro, contribuem para o desenvolvimento das Igrejas Orientais nos seus países de origem, dando testemunho das contribuições recebidas do Ocidente e oferecendo assistência espiritual e material às pessoas que vivem na própria pátria. Com a finalidade de cumprir esta dúplice tarefa, é essencial que conservem e aprofundem o sentido da pertença à sua específica tradição eclesial, recorrendo às indicações oferecidas na Instrução para a aplicação das prescrições litúrgicas do Código de Direito Canónico das Igrejas Orientais, publicado pela Congregação para as Igrejas Orientais.

Os Pastores das Igrejas Orientais enfrentam novos e exigentes desafios, assegurando aos fiéis que chegaram recentemente aos Estados Undidos a integração adequada nas suas respectivas comunidades eclesiais. Deve-se também considerar com seriedade os modos de enfrentar os problemas cuja origem é a dispersão dos fiéis, que continuam a abandonar as áreas onde a sua comunidade tradicionalmente estava presente e a sua identidade eclesial era preservada com maior facilidade, para viver noutras regiões do país.

Estes aspectos põem em evidência a grande necessidade de uma íntima colaboração entre os Bispos latinos e orientais, em vista de salvaguardar e garantir a legítima diversidade que constitui a riqueza da universalidade da Igreja. Exorto os meus Irmãos Bispos de rito latino a promover um maior conhecimento e apreço pela herança oriental, que constitui uma parte integrante da expressão católica da fé. Desta forma, todos os fiéis alcançarão uma maior compreensão da experiência cristã e a comunidade católica poderá dar uma resposta cristã mais completa às expectativas dos homens e das mulheres de hoje (cf. Carta Apostólica Orientale lumen, 5).

7. Queridos Irmãos Bispos, enquanto aguardamos com ansiedade e esperança a celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, rezo para que os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e os fiéis leigos das vossas Dioceses sejam inspirados a crescer no seu amor pela Igreja e, assim, entrem numa comunhão cada vez mais profunda com Cristo Esposo. O mais importante aspecto da nossa preparação para a celebração do segundo milénio da Encarnação constitui a nossa resposta ao chamamento à santidade, «porque sem ela ninguém verá o Senhor» (He 12,14). É somente na graça do Espírito Santo que o Povo de Deus pode verdadeiramente desafiar a sociedade mediante o seu indefesso e corajoso testemunho da verdade. Confiando cada um de vós e todas as pessoas que servis ao cuidado materno de Maria, concedo cordialmente a minha Bênção apostólica.




Discursos João Paulo II 1998