Discursos João Paulo II 1998 - 25 de Março de 1998

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS DIRIGENTES E SÓCIOS


DO CÍRCULO DE SÃO PEDRO


26 de Março de 1998





Caríssimos Sócios do Círculo de São Pedro

1. Acolho-vos com alegria e saúdo-vos com afecto. O encontro hodierno oferece-me, como todos os anos, a oportunidade para renovar os sentimentos de gratidão e estima pela obra que realizais, no fiel serviço à Igreja e ao Papa, e com múltiplas iniciativas de solidariedade para com o próximo necessitado.

Dirijo cordiais boas-vindas ao Assistente Espiritual, D. Ettore Cunial, por longos anos zeloso animador da Associação. Saúdo e agradeço ao Presidente-Geral, o Marquês Marcello Sacchetti que, com suas amáveis palavras, se fez intérprete dos sentimentos dos presentes e ilustrou os vários âmbitos em que se realiza a vossa significativa e benemérita actividade. Obrigado de coração por aquilo que fazeis e pela generosidade com que todos os dias prestais a vossa preciosa colaboração à Santa Sé.

2. Recordava-se, pouco antes, o mote que constitui o vosso programa de empenho: oração, acção e sacrifício. Certamente, cada um de vós traz estas palavras impressas na alma, enquanto quotidianamente trabalha segundo o espírito do Sodalício, para ir ao encontro das expectativas espirituais e materiais dos irmãos. Vós procurais apoio, antes de tudo na oração, encontro de amor com Deus, do Qual brota a força indispensável para todas as actividades. Com efeito, é difícil enfrentar com disponibilidade sempre pronta os inúmeros pedidos de ajuda que vos chegam, se falta o recurso constante a Deus, fonte de toda a energia espiritual.

Faz parte, além disso, da vossa espiritualidade uma atenção particular ao sacrifício, como meio de ascese pessoal e condição concreta da assistência aos necessitados. O tempo da Quaresma que estamos a viver oferece, quanto a isto, estímulos e oportunidades a serem valorizados plenamente: assim como o Verbo encarnado ao morrer na cruz deu a suprema prova do Seu amor e remiu a humanidade, de igual modo cada cristão é chamado a contribuir também com o seu sofrimento para a obra da salvação. O sacrifício em si é testemunho sublime de amor e, como tal, sinal distintivo dos crentes, segundo a advertência evangélica: «Por isto todos saberão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jn 13,35).

3. Caríssimos Irmãos, sustentados pela oração incessante e prontos a ajudar o próximo com abnegação, não vos deixeis abater por nenhuma dificuldade. Antes, como já fazeis, não tenhais medo de acolher os desafios que na nossa Cidade cosmopolita se apresentam cada dia a quem quer ser operador de caridade solidária. Quereria, quanto a isto, exortar-vos a prosseguir com entusiasmo e alegria no precioso apostolado que já estais a realizar, oferecendo às pessoas com quem vos encontrais a possibilidade de uma experiência de caridade concreta, que dispõe o coração a abrir-se a Deus.

Como não sublinhar, depois, a vossa devota adesão à Sé Apostólica, à qual vos ligam estreitos vínculos de fidelidade? Manifestais esta singular adesão com o serviço litúrgico na Basílica Vaticana, com a presença em várias manifestações e com o significativo gesto da colecta do Óbolo de São Pedro na Diocese de Roma. Obrigado, caríssimos, por esta solicitude e pela vossa efectiva colaboração.

Possa o vosso trabalho ser cada vez mais animado por fé profunda e alegre dedicação aos irmãos. Invoco, para isto, a assistência do Espírito Santo, ao Qual é dedicado este segundo ano de preparação para o Grande Jubileu. Esteja o vosso coração pronto a responder às Suas moções interiores. D'Ele sede dóceis instrumentos, difundindo esperança e caridade em redor de vós.

Ao confiar-vos à materna protecção de Maria, Salus Populi Romani, invoco o seu celeste apoio sobre as iniciativas e os propósitos da Associação, e de coração concedo uma especial e propiciadora Bênção Apostólica a cada um de vós, às vossas famílias e àqueles que beneficiam do vosso serviço.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMISSÃO INTERNACIONAL


DE LIGAÇÃO CATÓLICO-JUDAICA


26 de Março de 1998





Prezados Amigos!

É com prazer que acolho os membros da Comissão Internacional de Ligação Católico-Judaica, na ocasião em que estais reunidos em Roma para o vosso XVI Encontro. A vossa Comissão contribuiu muito para melhorar as relações entre as nossas duas comunidades, favorecendo a reflexão teológica e o diálogo sobre o sentido religioso e as questões sociais. A Declaração Conjunta emitida como resultado da vossa última sessão assinala importantes convergências na compreensão católica e judaica sobre a família, que é o fundamento da sociedade. Examinastes a visão bíblica da criação de Deus, com as suas consequências para uma apreciação da dignidade da pessoa humana e da nossa responsabilidade para com o ambiente natural.

O progresso que já fizestes mostra o imenso empenho sustentado pelo contínuo diálogo entre judeus e católicos. Mas o vosso trabalho é também um impressionante sinal de esperança para um mundo marcado por conflito e divisão, tudo isto muitas vezes fomentado no nome do interesse económico e político. Um empenho no diálogo autêntico, conduzido num sincero amor da verdade e numa abertura a todos os membros da família humana, continua a ser o primeiro e principal caminho para a reconciliação e a paz, que o mundo necessita. Quando os crentes considerarem os eventos na convicção de que todas as coisas são finalmente governadas pela Divina Providência, certamente desejarão crescer de modo mais íntimo naquela abençoada harmonia, que o Salmista compara ao precioso óleo derramado sobre a cabeça de Aarão, ou ao orvalho que desce sobre as montanhas de Sião (cf. Sl Ps 133).

Caros amigos, oxalá o vosso presente encontro descubra, de modo cada vez mais efectivo, como tornar conhecidos e apreciados, pelos católicos e judeus, os significativos progressos na compreensão e cooperação mútuas, que foram feitos entre as nossas duas comunidades. Sobre vós e sobre o vosso importante trabalho, invoco de coração as abundantes bênçãos divinas.



DISCURSO DO SANTO PADRE

À COMUNIDADE DO PONTIFÍCIO

SEMINÁRIO LOMBARDO


: 27 de Março de 1998



1. É com grande alegria que o acolho, caro Reitor, bem como os Superiores e os alunos do Pontifício Seminário Lombardo, e a cada um apresento as minhas cordiais boas-vindas ao Palácio Apostólico. Agradeço-lhe, Mons. Reitor, as palavras que me dirigiu há pouco em nome dos presentes.

Caríssimos, é-me particularmente grato encontrar-vos no contexto do ano centenário do nascimento do Servo de Deus, o Papa Paulo VI. Ele transcorreu um período significativo da sua formação no vosso mesmo Seminário, que por ele foi definido depois, ao ser chamado pela divina Providência a guiar a Igreja universal, com estas palavras: «O Seminário Lombardo tem um seu espírito, um seu estilo, uma sua pedagogia, porque de uma tradição, de uma escola e de uma experiência confirmada pelo tempo... deriva a sua arte de formar todos os que nele põem confiança, não tanto como hóspedes e de passagem, mas como membros, como filhos, como herdeiros precisamente duma tradição, não em vão qualificada pelos santos cu- jos nomes servem de título ao Seminário, Ambrósio e Carlos» (Insegnamenti di Paolo VI, vol. III, 1965, pág. 605).

Certamente, também na escola do Seminário Lombardo, e do espírito eclesial que o anima, Paulo VI amadureceu aquela paixão pelo Evangelho e pela Igreja, que caracterizou a sua inteira existência.

2. Ao encontrar-me hoje convosco, caríssimos Irmãos no sacerdócio, quereria saudar, através de vós, os vossos Bispos que, tão oportunamente, vos pediram que prolongásseis a formação intelectual, espiritual e pastoral aqui em Roma, centro da Cristandade. A Igreja tem necessidade de ministros competentes, dotados de sabedoria divina, daquela sabedoria que toma forma e feição na pessoa de Jesus (cf. 1Co 1,24). Neste nosso tempo, em que a Comunidade eclesial italiana está a promover um seu «projecto cultural», propenso ao diálogo com os homens contemporâneos, o vosso ministério de presbíteros necessita de uma adequada preparação doutrinal e ascética. Vós sois chamados a oferecer ao mundo não ouro nem prata, mas a única riqueza que a Igreja possui, o Evangelho do seu Senhor (cf. Act Ac 3,6). Isto requer, como é fácil compreender, um ministério qualificado e actualizado, que saiba conjugar o rigor científico com o horizonte do amor de Cristo, a investigação da verdade com o testemunho de uma vida segundo o Evangelho, o anúncio da fé com a caridade que promana da vida de Jesus e que constitui o critério último do valor da existência e do próprio ministério sacerdotal.

Os anos que passais em Roma são, portanto, uma ocasião privilegiada para aprofundardes não só os vínculos que, como ministros de Cristo, estreitais com a Igreja universal e a sede de Pedro, mas também o singular serviço à verda- de que, desta Cidade, se difunde no mundo inteiro. Roma tem a prerrogativa única de exprimir ao mesmo tempo o carácter diocesano e a universalidade. Certamente, a experiência romana ocupa um período relativamente breve da vossa missão presbiteral. Como teve ocasião de dizer o próprio Paulo VI, no Lombardo «estais pessoalmente, mas com o coração, desde agora no lugar do ministério que vos será destinado... Esta gravitação rumo ao futuro é também uma força, e chama-se amor, chama-se fidelidade, chama-se serviço, chama-se vocação, chama-se sacrifício. A cada um o seu. Esta é a dinâmica de um Seminário; e o Lombardo vive-a» (Insegnamenti di Paolo VI, vol. III, 1965, pág. 607).

A experiência destes anos seja, então, propícia para incrementar o amor pelas vossas dioceses e, ao mesmo tempo, pela comunhão da inteira Igreja católica. Caríssimos jovens, oferecei pelas pessoas que serão confiadas ao vosso cuidado pastoral o sacrifício de transcorrer agora a maior parte do tempo na solidão do vosso quarto e sobre os textos de estudo. Não estais a viver com estes anos de formação um ministério sacerdotal infecundo porque, através da oração e do estudo, estais cada vez mais a conformar-vos com Cristo, para O servirdes com fidelidade na Igreja. Sede, portanto, generosos e abri o vosso coração à graça divina. Dela beneficiarão o vosso apostolado e a Igreja inteira, na qual fostes escolhidos e ordenados.

3. O Seminário, com o seu estilo de comunidade presbiteral, ajuda-vos a experimentar no dia-a-dia que o vosso ministério tem como condição a vida fraterna e a partilha da vossa vocação. Uma comunidade de jovens sacerdotes é mais do que uma simples estrutura apta a oferecer hospitalidade: a experiência da vida comunitária alimenta, naqueles que a vivem com intensidade, um espírito autenticamente eclesial, e torna-se assim para eles uma válida verificação do caminho de crescimento na obediência à vontade de Deus e no serviço dos irmãos. Ela ajuda, além disso, a compreender que os primeiros a beneficiarem do seu ministério, são quantos o Senhor põe ao seu lado todos os dias, compartilhando as mesmas fadigas em prol do Reino.

4. Este período de formação, enquanto se vai concluindo o arco do século XX, assinala para cada um de vós um itinerário espiritual, que constitui uma preparação ainda mais exigente para o vosso futuro apostolado. Sois, com efeito, os presbíteros do terceiro milénio! Preparai-vos para oferecer o vosso serviço ministerial com uma generosa paixão pelo Evangelho, unida a um amor confiante por Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Possa o tempo quaresmal, que estamos a viver, ajudar-vos a crescer nesta compreensão do valor e sentido da vossa missão.

O Seminário Lombardo tem à sua frente a Basílica de Santa Maria Maior, oferecendo aos seus hóspedes a oportunidade de recorrer constantemente à Virgem, Mãe de Deus. Invocai-A, caríssimos, para que vos acompanhe no crescimento cristão e sacerdotal e atraia, para o vosso ministério presente e futuro, a abundância da graça do Espírito Santo, que n'Ela operou o mistério da maternidade divina. Maria vos ajude a perseverar com fidelidade e alegria no seguimento de Cristo e a nutrir constantemente uma frutuosa dedicação ao rebanho a vós confiado.

Com estes sentimentos, concedo de coração a vós e àqueles que vos guiam, assim como aos vossos familiares e a quantos vos são caros, uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À DIRECÇÃO E AOS ALUNOS


DO PONTIFÍCIO COLÉGIO IRLANDÊS


28 de Março de 1998





Excelência
Caros Irmãos Sacerdotes
Prezados Seminaristas

É para mim uma grande alegria dar as boas-vindas a vós, Reitor, Corpo docente e Estudantes do Colégio Irlandês, acompanhados pelo Arcebispo de Armagh, por ocasião da celebração do 50° aniversário da concessão do título de Pontifício Colégio. Uno-me a vós ao dar graças a Deus por tudo o que o Colégio representou para a Igreja na Irlanda e pela comunidade irlandesa em Roma desde a sua fundação em 1628 e, em particular, nestes últimos cinquenta anos. Basta pensar nos nomes de quantos estão ligados ao Colégio, para se ter um ideia do seu rico património cultural: os fundadores, o Cardeal Ludovico Ludovici e o Padre Lucas Wadding; o mártir, Santo Oliver Plunkett; o primeiro Cardeal da Irlanda, Paul Cullen; e o escritor de textos espirituais, Padre Columba Marmion. O seu exemplo de santidade e de solicitude deveria servir de inspiração, em particular para vós seminaristas que vos preparais para promover um melhor conhecimento do Evangelho entre os homens e as mulheres do nosso tempo.

Os anos que passais em Roma consentem que vos deis conta directamente da dimensão universal da Igreja e aprofundeis os vínculos de comunhão que vos unem ao Bispo de Roma e Sucessor de Pedro. O estudo da filosofia e da teologia, a descoberta dos monumentos cristãos desta cidade e o contacto quotidiano com cristãos de diversos Países enriquecem a vossa compreensão da fé católica.

Como futuros mestres da fé, deveis ser capazes de enfrentar a complexidade dos tempos e poder responder às questões fundamentais da vida das pessoas, questões que só podem encontrar uma resposta completa e definitiva no Evangelho de Jesus Cristo (cf. Pastores dabo vobis PDV 56).

Sobretudo, deveis ser homens de oração. Uma profunda intimidade com Cristo, que só é possível mediante um prolongado encontro com Ele, é necessária para poderdes conduzir outros a Cristo. Os anos de Seminário deveriam ser um tempo de meditação fiel sobre a Palavra de Deus e de participação activa nos sacramentos e no Ofício Divino. Em particular com a Missa, da qual os irlandeses sempre hauriram a força espiritual para viver em períodos de graves dificuldades (cf. Homilia no Parque de Phoenix, 29 de Setembro de 1979, n. 1), intensificais a amizade com Cristo e recebeis a força interior para responder com generosidade à Sua chamada.

Oro para que o Pontifício Colégio Irlandês continue a desempenhar a sua missão de formar sacerdotes repletos do amor de Deus e solícitos na difusão do Evangelho. Recordai a recomendação de São Patrício: «Ut christiani, ita et romani sitis!».

Ao confiar-vos, a vós e às vossas famílias, à intercessão de Maria, Rainha da Irlanda, concedo de coração a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO IV GRUPO DE BISPOS DOS ESTADOS UNIDOS


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Terça-Feira, 31 de Março de 1998



Estimados Irmãos Bispos

1. Em continuidade às visitas dos outros grupos de Prelados dos Estados Unidos, agora dou cordiais boas-vindas a vós, Bispos das Províncias Eclesiásticas de Louisville, Mobile e Nova Orleães. Mediante vós, saúdo cada um dos membros das Dioceses em que o Espírito Santo vos fez guardiães para apascentar a Igreja de Deus (cf. Act Ac 20,28). De maneira especial, dou graças a Deus pelos vínculos de comunhão que nos unem no ministério episcopal ao serviço do seu povo santo. A experiência da Igreja a partir do Concílio Vaticano II exemplifica como é importante o ministério dos Bispos para a renovação que o próprio Concílio promoveu e para a nova evangelização, que deve ser empreendida no limiar do Terceiro Milénio cristão. Deste modo, hoje desejo reflectir sobre alguns dos aspectos mais fundamentais deste nosso ministério, que nos deriva dos Apóstolos «por uma sucessão que vem ininterrupta desde o começo» (Lumen gentium LG 20).

2. No vosso documento The Teaching Ministry of the Diocesan Bishop («O ministério magisterial do Bispo diocesano»), pusestes em relevo uma verdade importante: o ministério episcopal constitui uma parte crucial da obra salvífica de Deus na história humana. Este não pode reduzir-se a «uma variação da comum necessidade humana de organização e de autoridade» (loc. cit., 1, A, 1). Efectivamente, é por mandato e ordem de Cristo que os Bispos ensinam «a imutável fé da Igreja como deve ser entendida e vivida nos dias de hoje» (Ibid., 1, A, 2). Este dever só pode ser compreendido e cumprido no contexto da adesão pessoal do Bispo à fé. De facto, o mandato do Senhor aos seus Apóstolos de ensinar em seu Nome não está desvinculado de uma conexão com o profundo acto de fé da parte deles: o acto de fé através do qual os Apóstolos, mediante Pedro, reconheceram que Jesus é «o Messias, o Filho do Deus vivo» (Mt 16,16). Essa mesma profissão de fé em Cristo deve estar sempre no âmago da vida e do ministério do Bispo.

Na sua Diocese, o Bispo professa a fé da Igreja com a autoridade que deriva da sua Ordenação episcopal e da comunhão com o Colégio episcopal, sob a sua Cabeça (cf. Lumen gentium LG 22). A sua missão consiste em ensinar de maneira pastoral, iluminando os problemas contemporâneos com a luz do Evangelho e auxiliando os fiéis a viverem uma vida plenamente cristã no meio dos desafios dos nossos tempos (cf. Directório sobre o Ministério Pastoral dos Bispos, 56). Ao aplicar o Evangelho às novas problemáticas, enquanto salvaguarda a interpretação autêntica do ensinamento da Igreja, o Bispo assegura que a Igreja local resida na verdade salvífica e libertadora. Tudo isto exige que o Bispo seja um homem de fé firme e sobrenatural e de constante lealdade a Cristo e à sua Igreja.

3. O nosso ensinamento traz consigo uma grande responsabilidade, pois está «dotado da autoridade de Cristo» (Lumen gentium LG 25); não obstante, devemos ensinar e pregar com grande humildade, dado que somos os servos da palavra e não os seus senhores. Se quisermos ser mestres eficazes, devemos deixar que a nossa inteira existência seja transformada pela oração e pela contínua submissão de nós próprios a Deus, na imitação de Cristo mesmo. Para saciarmos a sede que o Povo de Deus tem da verdade do Evangelho, nós Bispos deveríamos prestar atenção às palavras que São Carlos Borromeu dirigiu aos seus sacerdotes no seu último Sínodo: «Consiste porventura o vosso dever em pregar e ensinar? Concentrai-vos cuidadosamente naquilo que é essencial para cumprir este encargo de maneira adequada. Em primeiro lugar, fazei com que a vossa vida e o vosso comportamento sejam verdadeiros sermões» (Liturgia das Horas, Festividade de São Carlos Borromeu).

O anúncio da mensagem do Evangelho de forma eficaz exige constante e pessoal oração, estudo, reflexão e consultação com conselheiros autorizados. O empenhamento no estudo e na educação, exigido pelo múnus episcopal, é crucial quando se trata de guardar «a verdade que nos foi confiada pelo Espírito Santo que habita em nós» (cf. 2Tm 1,14) e de a proclamar com vigor, «oportuna e inoportunamente» (Ibid., 4, 2). Uma vez que tem a responsabilidade pessoal de ensinar a fé, o Bispo precisa de tempo para assimilar de modo sincero o conteúdo da tradição e do magistério da Igreja. Da mesma forma, ele deveria ter familiaridade com os desenvolvimentos úteis da teologia, dos estudos bíblicos e da reflexão moral sobre as questões sociais. Em virtude da minha experiência pessoal de Bispo diocesano, bem sei quanto se pretende do tempo do Bispo. Contudo, tal experiência convenceu-me de que é essencial dedicar tempo especialmente para estudar e reflectir, pois é somente através do estudo e da reflexão que o Bispo, trabalhando com os seus colaboradores, pode guiar e governar de modo deveras cristão e eclesial, interrogando-se sempre: «Qual é a verdade da fé que ilumina o problema que estamos a enfrentar?». Por isso, hoje o Bispo talvez tenha necessidade de reorganizar o modo de exercer o seu múnus episcopal, para poder cumprir as tarefas fundamentais do seu ministério.

4. O Grande Jubileu do Ano 2000 exorta-nos a intensificar os nossos esforços no sentido de anunciar o Evangelho, em resposta ao desejo de verdade espiritual, profundamente arraigado, que caracteriza a nossa época. Esta «hora» da evangelização apresenta especiais exigências aos Bispos. Em The Teaching Ministry of the Diocesan Bishop, identificastes as qualidades que tornam efectivo o magistério do Bispo. Mediante a sua experiência pastoral, estudo, reflexão, juízo e oração, ele deve tornar sua a verdade salvífica, de maneira a poder comunicar a plenitude da fé e encorajar os fiéis a viverem em conformidade com as exigências do Evangelho. O Bispo tem o dever de transmitir a fé que lhe foi legada; em seguida, deve considerar o seu ensinamento como um serviço humilde à palavra de Deus e à tradição da Igreja. Pronto para sofrer por amor do Evangelho (cf. 2Tm 1,8), deve proclamar a verdade com coragem, ainda que isto signifique desafiar opiniões socialmente aceitáveis. O Bispo deveria ensinar frequente e constantemente, proferindo homilias, escrevendo cartas pastorais, dando conferências e utilizando os meios de comunicação de maneira a poder ser visto ensinar a fé e assim dar público testemunho do Evangelho. Além disso, o seu ensinamento deveria caracterizar-se pela caridade, em conformidade com as palavras que Paulo dirigiu a Timóteo: «Não convém a um servo de Deus altercar; pelo contrário, deve mostrar-se condescendente para com todos, capaz de instruir e suportar o mal com paciência. É com suavidade que deve corrigir os adversários» (2Tm 2,24-25).

5. «Cuidai do rebanho de Deus que vos foi confiado» (1P 5,2). Qualquer reflexão sobre a vossa responsabilidade pelo governo pastoral da porção do Povo de Deus que vos foi confiada «como vigários e legados de Cristo» (Lumen gentium LG 27) deve começar com a atenciosa consideração do exemplo de Cristo mesmo, o Bom Pastor, o nosso supremo Modelo. Na recente Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, inúmeros Pastores levantaram questões acerca do exemplo da sua própria vida e ministério, conscientes de que o Povo de Deus prestará atenção à sua voz e lhe responderá se o seu testemunho for genuíno. Na Sala do Sínodo, ouvimos a exortação para que os Bispos, tanto individual como colectivamente, se tornem mais simples, com a simplicidade de Jesus e do Evangelho – uma simplicidade que consiste em estarem imersos nas coisas fundamentais do Pai (cf. Lc Lc 2,49).

A fim de corresponder às necessidades dos tempos modernos, as Dioceses com frequência têm desenvolvido estruturas complexas e uma variedade de departamentos diocesanos, que oferecem assistência no exercício do governo pastoral. Contudo, como Bispos deveis ter o cuidado de salvaguardar a natureza pessoal do vosso governo, dedicando muito tempo ao conhecimento das forças e das debilidades das vossas Dioceses, as expectativas e as necessidades dos fiéis, as suas tradições e os seus carismas, o contexto social em que eles vivem e os problemas a longo prazo que devem ser abordados. Isto significa assegurar que as estruturas, hoje necessárias no governo de uma Diocese, não impeçam precisamente aquilo que são destinadas a facilitar: o contacto do Bispo com o seu povo e o seu papel como evangelizador. No Sínodo observou-se que hoje é demasiado fácil para o Bispo delegar a outros a sua responsabilidade de evangelizar e de catequizar, tornando-se prisioneiro das suas próprias obrigações administrativas. Dado que o nosso ministério tem sempre em vista edificar o corpo da Igreja na verdade e na santidade (cf. Lumen gentium LG 27), o exercício da autoridade episcopal jamais é uma mera necessidade administrativa, mas um testemunho da verdade acerca de Deus e do homem revelado em Jesus Cristo e um serviço para o bem de todos. De facto, a fim de orientarmos o povo para a plenitude de Jesus Cristo, devemos «desempenhar o trabalho de um anunciador do Evangelho» (2Tm 4,5). Nenhuma outra tarefa é tão urgente quanto esta!

6. De maneira especial, o Bispo diocesano deve realizar todos os esforços para entretecer uma íntima relação com os seus sacerdotes, caracterizada pela caridade e pela solicitude para com o bem-estar espiritual e material deles. Promovendo uma atmosfera de confidência e confiança recíprocas, ele deve ser seu pai, mestre, amigo e irmão (cf. Directório sobre o Ministério Pastoral dos Bispos, 107). Desta maneira, o vínculo jurídico da obediência entre o sacerdote e o Bispo anima-se mediante aquela caridade sobrenatural que existia entre Cristo e os seus discípulos. Esta caridade pastoral e este espírito de comunhão entre o Bispo e os sacerdotes é vital para a eficácia do apostolado. Da mesma forma, o Bispo deve ter o especial cuidado de ir ao encontro dos jovens que Cristo chama para participar no seu Sacerdócio, mediante o ministério ordenado. A experiência tem demonstrado que não há «escassez de vocações» quando o Bispo local assume a sua responsabilidade com seriedade. Os jovens querem ser chamados para a abnegação radical, e o Bispo, como o principal responsável pela continuação da missão salvífica de Cristo no mundo, é aquele que pode repetir com autoridade as palavras de Cristo: «Segui-Me e farei de vós pescadores de homens» (Mt 4,19).

Da mesma forma, os relacionamentos entre o Bispo e os membros das comunidades religiosas deveriam inspirar-se na sua estima pela vida consagrada e no seu compromisso em tornar os vários carismas conhecidos na Igreja local, convidando sempre os jovens a viverem a sua graça baptismal mediante a vivência generosa dos conselhos evangélicos. Além disso, a partir do Concílio estamos mais conscientes da necessidade de reconhecer, salvaguardar e promover a dignidade, os direitos e os deveres dos fiéis leigos. É essencial que o seu serviço em benefício da comunidade eclesial, o seu conselho e os seus esforços em vista de fazer com que o ensinamento da Igreja se insira na cultura contemporânea, através da transformação da vida intelectual, política e económica, sejam apreciados e encorajados pelo Bispo e pelos seus mais estreitos colaboradores.

7. Na esteira do Concílio Vaticano II, testemunhou-se o desenvolvimento das Conferências Episcopais como instrumentos para o exercício daquela colegialidade entre os Bispos, que deriva da Ordenação e da comunhão hierárquica. A Conferência existe para promover a partilha da experiência pastoral e permitir uma abordagem comum das várias problemáticas que surgem na vida da Igreja numa particular região ou nação. A vossa recente decisão de analisar a estrutura e as funções das vossas Conferências indica que reconheceis a necessidade de renovar as suas actividades, de tal maneira que possam servir melhor as finalidades pastorais e evangélicas que atribuem à Conferência o seu singular significado.

Entre outras coisas, isto significa que a Conferência Episcopal deve encontrar um modo de ser deveras efectiva, sem debilitar o ensinamento e a autoridade pastoral que pertencem unicamente ao Bispo. As suas estruturas administrativas não podem tornar-se finalidades em si mesmas, mas devem ser sempre instrumentos para o cumprimento das grandes tarefas da evangelização e do serviço eclesial. Deve-se ter o especial cuidado de assegurar que a Conferência seja um organismo eclesial e não uma instituição que reflecte os modelos administrativos da sociedade secular. Desta forma, cada Bispo poderá oferecer os seus dons singulares no momento de apoiar os debates e as decisões da Conferência. De facto, o dever do Bispo de ensinar, santificar e governar é uma tarefa pessoal que não pode ser delegada a outras pessoas.

8. Nunca é demasiado recordar que os Pastores da Igreja são pessoalmente responsáveis pela transmissão da luz e da alegria da fé. Dizer isto significa enfrentar de imediato a questão da nossa própria fé e convicção. Esta visita ad Limina, com a vossa oração junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, oferece uma ocasião repleta de graça, para evocar como são essenciais para o vosso testemunho o relacionamento com Cristo e a seriedade da busca pessoal de santidade. A vitalidade das vossas Igrejas locais e o bem-estar da Igreja universal são sobretudo e sempre uma dádiva do Espírito Santo. Todavia, esta dádiva não é independente da ardorosa oração e da abnegada caridade pastoral dos Bispos, quer como indivíduos quer como Conferência. Nas nossas debilidades, temos necessidade de ser sustentados pela graça do Espírito Santo, a fim de podermos dizer sem medo: «A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Agora nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus» (Jn 6,68-69). No bimilenário da Encarnação, a Igreja – a Esposa –ofereça ao seu Senhor um Colégio episcopal unido e firme na fé, ardente no testemunho do Evangelho da graça de Deus, dedicado ao serviço do Espírito e do glorioso poder divino de tornar os homens justos (cf. Lumen gentium LG 21).

Queridos Irmãos, com estas reflexões sobre o vosso ministério, desejo encorajar-vos na graça e na vocação que Cristo vos concedeu. Rezo por vós enquanto desempenhais a vossa missão de proclamar o amor de Deus e os mistérios da salvação a todos, persuadido de que o Espírito Santo vos há-de orientar e fortalecer. Grato pelo vosso trabalho de pregação da palavra de Deus «com toda a paciência e doutrina» (2Tm 4,2), confio-vos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Sedes Sapientiae, para que vos auxilie com a sabedoria pastoral e infunda júbilo e paz nos vossos corações. Concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica a vós, aos sacerdotes, aos religiosos e aos fiéis leigos das vossas Dioceses.



                                                                             Abril de 1998

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


OS JOVENS EM PREPARAÇÃO PARA


O DIA MUNDIAL DA JUVENTUDE


2 de Abril de 1998





1. «Toma a Cruz»!

Caríssimos jovens de Roma, as palavras que constituem o lema do encontro hodierno remetem às de Jesus, há pouco proclamadas: «Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mc 8,34). Estas palavras consentem compreender o valor e o significado desta festa, à espera da Cruz.

Com efeito, está para chegar a Roma – vós bem o sabeis – a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude, que eu mesmo entreguei aos jovens em 1984, no final do Ano Santo da Redenção. Depois de ter peregrinado nos vários Continentes, ela retorna agora à nossa Cidade, centro do mundo cristão. No próximo domingo, no termo da Missa de Ramos, na Praça de São Pedro, uma representação dos jovens de Paris entregá-la-á a alguns jovens italianos, e dar-se-á início, desse modo, à preparação do Dia Mundial da Juventude do Ano 2000, que terá lugar aqui em Roma, no coração do Grande Jubileu.

Jovens romanos, que esta tarde estais aqui reunidos, a cada um de vós a minha afectuosa saudação. Juntamente convosco dirijo as mais cordiais boas-vindas aos jovens franceses, que vieram para esta significativa entrega, e aos quinhentos representantes das dioceses da Itália. Saúdo o Cardeal Vigário e agradeço-lhe as palavras que, em vosso nome, quis dirigir-me. Obrigado a todos aqueles que prepararam esta tarde festiva e a quantos nela tomam parte, animando-a com os seus testemunhos e as suas expressões artísticas. Uma saudação, além disso, àqueles que estão unidos a nós através da rádio e da televisão.

2. É festa, pois, pela chegada da Cruz, da vossa Cruz! A Cruz deve ser acolhida, antes de tudo, no coração e depois levada na vida. Encontramo-nos neste dia para nos recordarmos disto reciprocamente nesta praça, entre a Escada Santa, que evoca a paixão de Cristo, e a vizinha igreja da Santa Cruz em Jerusalém, onde é venerada a relíquia da Cruz. A Cruz foi abraçada ao longo dos séculos por muitos cristãos: podemos nós deixar de dar graças a Deus por isto? E vós, jovens de Roma, sois testemunhas de como, também no decurso da Missão da cidade, a mensagem de morte e de ressurreição, que da Cruz deriva, se torna anúncio de esperança que desperta e consola, revigora o espírito e purifica os corações. Como soam actuais as palavras de Jesus: «E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jn 12,32), e «hão-de olhar para Aquele que trespassaram» (ibid. 19, 37)!

Hoje queremos proclamar com vigor o Evangelho da Cruz, isto é, de Jesus morto e ressuscitado para o perdão dos pecados. Este anúncio salvífico, que assegura aos crentes a vida eterna, desde o dia da Páscoa jamais deixou de ressoar no mundo. Ele é a alegre notícia que, com os Apóstolos Pedro e Paulo, chegou a esta nossa Roma e, daqui, se difundiu em muitas partes da Europa e do mundo.

3. Com toda a razão, caros jovens, podemos dizer que em Roma a Cruz é de casa. Em certo sentido, Roma é a cidade da Cruz: de facto, aqui anunciada e vivida por inúmeros mártires e santos de ontem e de hoje, ela como que selou e escreveu a história da Cidade.

A Cruz está velada dentro do nome mesmo de Roma. Se lemos Roma ao contrário, pronunciamos a palavra «Amor». Não é a Cruz a mensagem do amor de Cristo, do Filho de Deus, que nos amou até ser pregado no madeiro da Cruz? Sim, a Cruz é a primeira letra do alfabeto de Deus.

4. Assim como não é estranha a Roma, a Cruz não é estranha à vida de cada homem e mulher de qualquer idade, povo e condição social. Durante este encontro, conhecestes várias pessoas, mais ou menos ilustres e famosas. Elas, de diversos modos, encontraram e encontram o mistério da Cruz: por ela foram tocadas e quase marcadas. Sim, a Cruz está inscrita na vida do homem. Querer excluí-la da própria existência é como desejar ignorar a realidade da condição humana. É assim! Somos criados para a vida, no entanto não podemos eliminar da nossa história pessoal o sofrimento e a prova. E também vós, caros jovens, não experimentais porventura quotidianamente a realidade da Cruz? Quando na família não existe harmonia, quando se tornam duras as dificuldades no estudo, quando os sentimentos não são retribuídos, quando a inserção no mundo do trabalho se torna quase impossível, quando por razões económicas se é obrigado a mortificar o projecto de formar uma família, quando se deve lutar com a doença, a solidão, e quando se corre o risco de ser vítima de um perigoso vazio de valores, não é porventura a Cruz que então vos interpela?

Uma difundida cultura do efémero, que atribui valor só àquilo que parece belo e ao que agrada, quereria fazer-vos acreditar que a Cruz deve ser removida. Esta moda cultural promete sucesso, carreira rápida e afirmação de si a qualquer custo; convida a uma sexualidade vivida sem responsabilidade e a uma existência sem projectos e privada de respeito pelos outros. Abri bem os olhos, caros jovens; este não é o caminho que conduz à alegria e à vida, mas a vereda que precipita no pecado e na morte. Jesus diz: «Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por Minha causa, encontrá-la-á» (Mt 16,24-25).

Jesus não nos engana. Com a verdade das Suas palavras que soam duras mas enchem o coração de paz, revela-nos o segredo da vida autêntica. Ele, ao aceitar a condição e o destino do homem, venceu o pecado e a morte e, ao ressurgir, transformou a Cruz de árvore de morte em árvore de vida. É o Deus connosco. Cristo é o Deus connosco, o Emanuel, que veio compartilhar toda a nossa existência. Não nos deixa sozinhos na cruz. Jesus é o Amor fiel que não abandona e que sabe transformar as noites em auroras de esperança. Se a Cruz for acolhida, gera salvação e proporciona serenidade, como provam tantos bonitos testemunhos de jovens crentes. Sem Deus, a Cruz esmaga-nos; com Deus, redime-nos e salva-nos.

5. Tudo isto é possível, como sabeis, graças ao sacramento do Baptismo, que nos une intimamente a Cristo morto e ressuscitado e nos dá o Espírito Santo, o Espírito do amor, que brota do mistério pascal e é derramado em abundância sobre quantos confirmam o seu Baptismo com o sucessivo sacramento da Crisma. Na Praça de São João, a poucos passos de um dos Baptistérios mais famosos do mundo, quero recordar que viver o Baptismo significa acolher a Cruz com fé e amor, não só no seu valor de prova, mas também na sua inseparável dimensão de salvação e de ressurreição.

Eis por que é justo que hoje façamos festa nesta Praça da Catedral de Roma, à espera da Cruz. No centro da Missão da cidade – que tem como tema «Abre as portas a Cristo, teu Salvador» – queremos bradar a cada habitante da nossa Cidade: «Toma a Cruz!», acolhe-a, não te deixes esmagar pelos eventos, mas vence com Cristo o mal e a morte! Se fizeres do Evangelho da Cruz o teu projecto de vida, se seguires Jesus até à Cruz, encontrar-te-ás a ti mesmo em plenitude.

Caríssimos jovens, como conclusão deste nosso sugestivo encontro, tomai a vossa Cruz e levai-a como mensagem de amor, de perdão e de empenho missionário pelas ruas de Roma, às várias regiões da Itália e a todos os rincões do mundo.

Acompanhe-vos Maria, que permaneceu fiel aos pés da Cruz juntamente com o apóstolo João; os numerosos santos e mártires romanos vos protejam. Também eu estou próximo de vós com a minha oração, enquanto com afecto abençoo todos vós.

Ao concluir o seu discurso, o Papa, comovido pelo entusiasmo de todos e impressionado pela exibição artística de um grupo de jovens, assim se expressou:

Quando vi estas bandeiras, estes porta-estandartes, pensei imediatamente em Sena. Mas depois o Cardeal me disse que não eram de Sena, mas de Roma. Num certo momento pensei: talvez também Santa Catarina de Sena tenha vindo a Roma, porventura porque o Papa não se comportou bem e, de novo retorna para o encorajar como a um filho; mas vê-se que não é tão mau. E no fim, mesmo que Santa Catarina viesse, eu não teria medo com tantos jovens! Louvado seja Jesus Cristo! Boa Páscoa! Adeus e até domingo!




Discursos João Paulo II 1998 - 25 de Março de 1998