Discursos João Paulo II 1998

À JUVENTUDE FRANCISCANA


9 de Maio de 1998





Caríssimos jovens franciscanos!

1. É-me grato encontrar-me convosco por ocasião do quinquagésimo aniversário da vossa fundação e do vigésimo aniversário de aprovação da Regra da Ordem Franciscana Secular, por parte do meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI. Saúdo todos vós com afecto. Dirijo um cordial pensamento aos Responsáveis e aos Assistentes espirituais. Agradeço em particular ao vosso representante as amáveis palavras que me dirigiu e o interessante quadro que traçou a respeito das actividades espirituais e pastorais da Juventude Franciscana.

A cinquenta anos do nascimento do vosso Sodalício, desejais renovar o entusiasmo dos inícios, aprofundando a espiritualidade e os valores franciscanos.

As importantes celebrações destes dias ajudam-vos, portanto, a reflectir sobre a vossa missão específica no seio da grande família franciscana, à qual podeis oferecer o contributo entusiasta da vossa juventude, sustentada pelo impulso dos vossos ideais.

2. Francisco e Clara de Assis exercem um fascínio extraordinário também nesta nossa época. Neles e no seu exemplo de vida evangélica se inspiram muitos jovens nas opções fundamentais de vida, compartilhando o seu próprio ideal de radical seguimento de Cristo. Em particular, o vosso Sodalício empenha-se, em comunhão com a Primeira Ordem e com a Ordem Franciscana Secular, em «passar do Evangelho à vida e da vida ao Evangelho» (Estatuto n. 3; cf. Regra O.F.S., art. 4). Assumis, assim, a tarefa de conformar sempre mais a vossa existência ao ensinamento de Cristo, esforçando-vos por testemunhá-lo com a palavra e o exemplo. É este o itinerário ascético e apostólico que vos caracteriza como jovens franciscanos; ele ajuda a tornardes-vos adultos na fé, a serdes apóstolos na Comunidade eclesial e a comportardes-vos na sociedade como pessoas responsáveis, capazes de assumir com coragem o papel a que a Providência vos chama.

Neste exigente itinerário de formação humana e cristã não estais sozinhos, uma vez que a Juventude Franciscana é constitutivamente uma vocação a crescer na fraternidade. Seguindo a originária intuição de Francisco, bem sabeis que o contexto em que se vive como irmãos estimula e impele cada um a abrir-se ao próximo, valorizando de maneira adequada as próprias potencialidades. Ao mesmo tempo, pode-se receber a amizade e o apoio dos outros. Elemento central da vossa identidade franciscana é, portanto, a presença do irmão a acolher, escutar, perdoar e amar: no seu rosto vós, como Francisco, deveis reconhecer o de Cristo, especialmente quando se trata dos mais pequeninos e dos últimos.

3. Esta fundamental vocação à fraternidade, que é característica da Juventude Franciscana, faz com que vos sintais bem inseridos na Comunidade eclesial na qual, em espírito de pobreza e de «pequenez», prestais um apreciado serviço humilde e obediente, segundo o específico carisma franciscano. Todos conhecem quanto Francisco amava a Igreja e com que firmeza indicava àqueles que o seguiam, o ideal da plena inserção na Comunidade eclesial, diocesana e universal.

O vosso Estatuto evoca oportunamente esse estilo de vida, quando afirma que «os jovens franciscanos vivem a Fraternidade como um sinal visível da Igreja, comunidade de amor e ambiente privilegiado em que se desenvolvem o sentido eclesial e a vocação cristã e franciscana, e também como lugar onde naturalmente é animada a vida apostólica dos membros»; e acrescenta que eles «se inserem plenamente, de modo activo e operante, na vida da Igreja local, abrindo-se a todas as perspectivas ministeriais e pastorais» (n. 7).

A Juventude Franciscana representa, portanto, um luminoso ideal de vida, que assumis de maneira responsável através da «Promessa». Indispensável para realizar este ideal é cultivar uma relação viva com Cristo, através duma intensa vida sacramental, e sobretudo mediante uma constante referência à Eucaristia, tão amada pelo Pobrezinho de Assis (cf. Fontes Franciscanas, nn. 113-114; 207-209). É necessário, além disso, que nutrais em vós um autêntico espírito de penitência e de conversão, preparando-vos para celebrar o Grande Jubileu do Ano 2000. Seja vosso cuidado, depois, pôr em prática no nosso tempo o apelo dirigido pelo Senhor a Francisco de «reparar» a sua Casa (cf. Fontes Franciscanas, nn. 1038; 1334), colaborando de modo efectivo com os Bispos e os sacerdotes.

Na actual sociedade consumista, onde muitas vezes parecem prevalecer os interesses económicos, testemunhai um novo e mais profundo respeito pelos bens da natureza. Sede operadores de paz (cf. Mt Mt 5,9), promotores da dignidade de cada homem, respeitado na sua realidade de filho de Deus e amado como um irmão em Cristo.

4. Maria, invocada por Francisco com os sugestivos títulos de «Senhora Santa, Rainha santíssima, Mãe de Deus» (Saudação à Virgem, cf. Fontes Franciscanas, n. 259) seja o vosso modelo e a vossa guia. Dócil aos projectos de Deus, Ela obtenha para vós, do seu divino Filho, luz e força para poderdes responder com generosidade à vossa vocação.

Enquanto vos renovo as cordiais felicitações pelas significativas comemorações que estais a recordar nestes dias, invoco sobre vós a celeste protecção de Francisco e Clara, juntamente com aquela da plêiade de Santos e de Beatos que circundam a inteira família franciscana, e de coração concedo-vos, a vós, aos vossos Responsáveis e Assistentes espirituais, às vossas Fraternidades e a todos os jovens franciscanos uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


PROMOVIDO PELA FUNDAÇÃO


"CENTESIMUS ANNUS – PRO PONTIFICE"


: Sábado, 9 de Maio de 1998





Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Gentis Senhoras e Senhores!

1. Tenho o prazer de dar as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, que viestes ao Vaticano para participar na Assembleia anual de estudo, promovida pela Fundação «Centesimus Annus – Pro Pontifice» sobre o tema «Globalização e solidariedade».

O meu pensamento dirige-se, antes de tudo, ao Senhor Cardeal Lorenzo Antonetti, a quem agradeço as cordiais expressões que me dirigiu em nome dos presentes. Com ele saúdo D. Cláudio Maria Celi e todos vós, caríssimos Sócios da Fundação, que quisestes visitar-me com os familiares.

O vosso benemérito Sodalício inspira a sua acção especialmente na Encíclica Centesimus annus, com a qual eu quis recordar o centenário da Encíclica Rerum novarum do meu venerado predecessor Leão XIII que, num tempo cheio de problemas e de tensões sociais, abriu à Igreja um novo e promissor campo de evangelização e de promoção dos direitos humanos.

O confronto entre os dois documentos evidencia os cenários profundamente diversos, aos quais se referem essas intervenções do Magistério: o primeiro devia confrontar-se de modo prevalecente com a «questão operária» num contexto europeu; o segundo, ao contrário, abre-se a problemas económicos e sociais novos e a horizontes planetários. Esta última situação nos anos seguintes assumiu dimensões ainda mais complexas, evidenciando questões de grande relevância para o próprio futuro do homem e para a paz entre os povos. Em todo este entrelaçamento de situações novas e problemáticas, o Magistério não deixou de reafirmar os princípios perenes do Evangelho em defesa da dignidade da pessoa e do trabalho humano, acompanhando com pronunciamentos pontuais e frequentes a acção capilar e constante dos cristãos no âmbito social.

Congratulo-me, pois, pelo vosso louvável empenho na difusão e aplicação da Doutrina social da Igreja, e estou-vos grato por esta visita, que me oferece a preciosa ocasião para conhecer os desenvolvimentos da vossa benemérita actividade.

2. O tema do vosso encontro é a globalização, que afinal diz respeito a todos os aspectos da economia e das finanças. A ninguém passam despercebidas as vantagens que uma economia «mundializada», bem regulada e equilibrada, pode oferecer ao bem-estar e ao desenvolvimento da cultura, da democracia, da solidariedade e da paz. Mas é necessário que seja constantemente perseguida a harmonização entre as exigências do mercado e as da ética e da justiça social.

Essa regulamentação ética e jurídica do mercado parece sempre mais difícil, assim como resultam cada vez mais inadequadas as providências tomadas pelos Estados individualmente. É preciso, então, trabalhar por uma cultura das regras, que não considere apenas os aspectos comerciais, mas se ocupe da defesa dos direitos humanos no mundo inteiro. Com efeito, para que a globalização da economia não produza os êxitos nefastos da explosão selvagem dos egoísmos privados e de grupo, é necessário que à progressiva mundialização da economia corresponda cada vez mais a cultura «global» da solidariedade, atenta às necessidades dos mais débeis.

3. Inseridos em diversos Organismos interessados na economia e no trabalho, no contexto promissor e inquietante da globalização, também vós sois chamados a ser constantes intérpretes das exigências da solidariedade, segundo o espírito de Cristo e o ensinamento da Igreja. Desse modo podereis testemunhar a ternura de Deus por todos os homens e promover, com a dignidade da pessoa, uma convivência internacional mais justa e fraterna, porque inspirada na perene verdade do Evangelho.

Nesta tarefa exaltante e difícil, vos sirva de sustento a palavra do Senhor, que convida a ver em cada gesto de amor para com os irmãos a ocasião para servir a Ele mesmo: «Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40).

Confio os vossos propósitos de bem à materna protecção da Virgem Santa que, respondendo «depressa» às necessidades de Isabel (cf. Lc Lc 1,39), nos mostra como ser constantemente solícitos para com as exigências dos irmãos necessitados.

Com estes bons votos concedo-vos, a vós e aos vossos colaboradores a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva a todos os vossos entes queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CAPÍTULO GERAL


DA SOCIEDADE DE SÃO PAULO (PAULINOS)


15 de Maio de 1998







Caríssimos Religiosos
da Sociedade de São Paulo!

1. Sinto-me feliz por dar as cordiais boas-vindas a todos vós que, na conclusão do Capítulo Geral, quisestes manifestar com esta visita o vosso afecto e renovar a vossa fidelidade ao Sucessor de Pedro. Saúdo o Rev.do Pe. Pietro Campus, novo Superior-Geral, e ao agradecer-lhe as gentis palavras que me dirigiu em nome das pessoas presentes e de toda a Congregação, faço votos de que sob a sua guia a vossa Família religiosa possa crescer na total adesão ao carisma do Fundador, o Servo de Deus Pe. Alberione, e no generoso empenho pela evangelização. Saúdo também os novos Conselheiros-Gerais e todos os Religiosos, que nas diversas partes do mundo prestam à Igreja um serviço apostólico de particular actualidade, seguindo Jesus, Mestre, Caminho, Verdade e Vida e dando-O a conhecer mediante o uso atento e profissionalmente qualificado dos modernos instrumentos de comunicação social.

2. A vossa Congregação, queridos Religiosos, nasceu da fé e do coração do Pe. Tiago Alberione, grande apóstolo do nosso tempo que, perante os preocupantes sintomas de descristianização do século XX, se sentiu chamado a anunciar o Evangelho e a servir a Igreja nestes sectores de fronteira, onde se apresentam mais insidiosos os desafios da evangelização. Compreendeu que o âmbito dos mass media representava um campo missionário, para o qual era necessário prover profissionais competentes, intrumentos adequados e sobretudo pessoal religioso de alto nível ascético e espiritual. No centro deste enorme empreendimento apostólico ele colocou a Eucaristia, da qual soube haurir luz interior e energia espiritual. Do mistério eucarístico tirou aquele entusiasmo missionário que caracterizou toda a sua existência. Conseguiu envolver no seu programa de evangelização e de saneamento da sociedade multidões de homens e mulheres, formando-as para o amor fervoroso a Cristo e para o desejo de O anunciar nos modernos areópagos.

No limiar do Terceiro Milénio também vós, seguindo o exemplo do Pe. Alberione, sois chamados a estar presentes de maneira incisiva e apropriada nas empenhativas fronteiras da comunicação, a fim de oferecer um «suplemento de alma» aos projectos e às expectativas dos nossos contemporâneos. Isto requer que se assumam as modernas formas empresariais e os novos estilos de gestão. Contudo, para que esta acção possa conservar a sua autêntica dimensão apostólica, precisa de ser sustentada e animada por uma fidelidade generosa ao carisma originário. É necessário que cada religioso paulino, em sintonia com o espírito do Fundador, saiba reconhecer no encontro intenso e prolongado com o Senhor e na redescoberta constante das raízes da própria vocação, as verdadeiras motivações do seu serviço eclesial e missionário. Para que serviriam as modernas formas empresariais e os poderosos meios editoriais, se quem os administra não estivesse repleto dum profundo espírito sobrenatural, em total sintonia com o Magistério da Igreja?

No seu caminho incerto e com frequência difícil rumo à verdade e à plena realização de si mesmo, o homem contemporâneo só alcançará Cristo Mestre se encontrar evangelizadores capazes de olhar para a sua vicissitude com atenção e simpatia, mas também prontos a oferecer respostas autenticamente evangélicas, confirmadas pela garantia da plena comunhão com a Igreja e com os seus Pastores. Nesta linha é vosso guia e mestre o vosso Fundador, que intuiu o segredo dum anúncio moderno e incisivo do Evangelho. O seu testemunho empenha-vos a acolher com plena disponibilidade as proféticas intuições e a seguir fielmente as suas pegadas, para continuar a sua típica obra missionária destinada ao homem do nosso tempo.

3. O vosso Capítulo realiza-se na vigília do centenário daquela «santa noite paulina», que vós bem conheceis. Ela foi um momento decisivo na vida do jovem Alberione, que nessa época era seminarista da diocese de Alba: na longa vigília de oração com que esperou o início do século XX, compreendeu a chamada especial que o Senhor lhe confiava. Naquele singular momento da sua existência «a Eucaristia, o Evangelho, o Papa, o novo século, os novos meios... a necessidade duma nova plêiade de apóstolos fixaram-se de tal modo na sua mente e no seu coração, que depois prevaleceram sempre nos seus pensamentos, na oração, no trabalho interior e nas aspirações».

Caríssimos Religiosos, também para vós é providencial o tempo que estamos a viver porque, sendo já iminente o Grande Jubileu do Ano 2000, cada Paulino, no limiar não só dum novo século mas de um novo milénio, não pode deixar de se sentir empenhado a repercorrer a própria experiência do Fundador, a fim de fazer suas as referências ideais que estiveram no centro da sua espiritualidade e da sua acção evangelizadora. Faço votos por que nas vossas Comunidades seja posto na base de cada projecto o forte desejo de santidade que distinguiu o Pe. Tiago Alberione. De facto, «o chamamento à missão deriva por sua natureza da vocação à santidade. Todo o missionário só o é autenticamente, se se empenhar no caminho da santidade: "a santidade deve-se considerar um pressuposto fundamental e uma condição totalmente insubstituível para se realizar a missão de salvação da Igreja"» (Redemptoris missio RMi 90).

Na história de não poucos Institutos religiosos o confronto cerrado entre as exigências ideais do carisma e as situações concretas de apostolado criou momentos de tensão e até de sofrimento. Também na vossa obra a necessidade de estabelecer uma relação funcional e, ao mesmo tempo, evangelicamente autêntica entre a instituição religiosa e a moderna metodologia da empresa suscitou dificuldades. Para vos ajudar a superá-las, nomeei meu Delegado D. António Buoncristiani, ao qual agradeço cordialmente a tarefa que está a desempenhar em vosso auxílio. Chegou o momento de enfrentar e resolver estas dificuldades em espírito de fé, com total disponibilidade para as exigências do Reino e fazendo constante referência ao Magistério da Igreja.

A adesão convicta à primazia da vida religiosa sobre qualquer outra exigência ajudará a resolver os problemas que surgiram nestes anos e a detectar as necessárias normas de controle, de mobilidade e de qualificação profissional que as novas condições requerem. Graças a uma difundida renovação do fervor religioso os membros da Sociedade de São Paulo saberão procurar e encontrar, em espírito de diálogo e de fraternidade, soluções adequadas para o desejado impulso apostólico, segundo as directrizes do Fundador. A isto dará um válido contributo a unidade da vossa Congregação, no respeito das responsabilidades próprias de cada Província individualmente.

4. Para o Capítulo Geral escolhestes como tema um mote tão querido ao Pe. Alberione: «A vossa paróquia é o mundo». O vosso Fundador via estreitamente relacionada a dimensão apostólica dos seus filhos com o ministério do Sucessor de Pedro, cuja «paróquia» é precisamente «o mundo». Em Novembro de 1924, escreveu: «devemos ser fiéis intérpretes da palavra e das orientações do Papa. Não pretendemos ser outra coisa: e Deus nos dará graças para o fazer... Não é nossa tarefa adiantar teorias: permaneceremos próximos ao Papa, procuraremos seguir, fiéis, a orientação do Papa». Por este motivo, ele quis que «na Pia Sociedade de São Paulo, além dos três votos habituais, se acrescentasse um quarto, o da fidelidade ao Papa no que se refere ao apostolado».

Podemos dizer que a total sintonia com o Magistério de Leão XIII e de São Pio X, os dois grandes Pontífices que com a sua sábia acção promoveram a renovação nas suas dimensões de empenho pastoral e social, foi a norma que inspirou o singular apostolado do Pe. Alberione. Ele foi atraído de maneira particular pela renovação da catequese e da pastoral litúrgica, e interessou-se também pela doutrina social da Igreja e pelos primeiros passos do movimento bíblico: ele quis propor tudo isto através do apostolado da imprensa e dos meios de comunicação social.

Faço votos por que a reflexão sobre o tema escolhido pelo vosso Capítulo não só confirme a vossa sintonia com o carisma do Fundador, mas também vos empenhe a assumir e a viver todas as motivações profundas que estiveram na origem das suas intuições apostólicas, a fim de contribuir com renovado entusiasmo e confiante esperança para a evangelização da imensa «paróquia do Papa», em constante comunhão com as Igrejas locais e a Igreja universal.

5. Caríssimos Irmãos! O vosso Capítulo Geral, que inicia uma nova etapa da vida do vosso Instituto, conclui-se no tempo pascal, o tempo da missão. Desejo que saibais colher neste momento não só a chamada do Senhor, que vos envia de novo ao mundo inteiro a anunciar a Boa Nova do Evangelho a todas as criaturas e com todos os meios (cf. Mt 28,19), como também o convite a repercorrer com humildade o caminho do discípulo para seguir generosamente Cristo até à Cruz. Espero que todas as Províncias da Congregação saibam abrir-se a novos horizontes de fraternidade, de comunhão e de fecundo apostolado.

Com estes votos confio-vos à materna protecção da Virgem Santa e à oração do Beato Giaccardo e do Venerável Pe. Alberione, enquanto em penhor de novas e abundantes efusões do Espírito Santo, concedo com afecto uma especial Bênção Apostólica, que faço de bom grado extensiva aos Coirmãos e à inteira Família paulina.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ADMINISTRADORES DO CENTRO CULTURAL


«JOÃO PAULO II »


15 de Maio de 1998





É com alegria que saúdo todos vós nesta vossa primeira peregrinação anual a Roma. Tenho sido informado acerca dos planos do Centro e compartilho a vossa satisfação pelo grande progresso já alcançado.

Por ocasião da cerimónia de fundação, realizada no passado mês de Setembro, expressei a minha esperança de que o Centro cultural seja um testemunho duradouro da profunda relação entre fé e cultura. A nova evangelização, à qual a Igreja é chamada na véspera do Terceiro Milénio, exige um diálogo sincero com as culturas que quotidianamente forjam as atitudes das pessoas em relação ao mistério do nosso destino humano e do nosso relacionamento com Deus. A Igreja sabe que a capacidade que o Evangelho tem de esclarecer estas questões fundamentais pode servir como uma força poderosa para o desenvolvimento, a purificação e o enriquecimento de cada cultura (cf. Centesimus annus CA 50-51). Ela sabe também que o estilo de vida e as solicitudes que derivam da cultura popular agem como um estímulo providencial para os cristãos, nos seus esforços por compreender de maneira mais completa e proclamar mais eficazmente o Evangelho de Jesus Cristo. Por este motivo, estou persuadido de que o Centro cultural contribuirá para ajudar muitas pessoas a aprofundar o conhecimento da riqueza da tradição intelectual católica e a sua relevância no que se refere às problemáticas críticas que hoje se estão a apresentar à sociedade norte-americana.

Rezo para que a vossa peregrinação a Roma constitua um tempo de renovação espiritual e fortaleça o vosso amor a Cristo e à sua Igreja. A vós e a todos os benfeitores do Centro, bem como às vossas famílias, concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de alegria e paz no Senhor.



AUDIÊNCIA DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO «AUTOMÓVEL CLUBE DA ITÁLIA»


: 16 de Maio de 1998





Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de poder encontrar-me convosco e apresento as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, Dirigentes e Sócios do «Automóvel Clube da Itália», uma Associação que desde 1926, ano da sua fundação, presta um apreciado serviço no vasto sector da vida social ligada ao uso dos automóveis. Agradeço de modo particular ao Presidente, Senhor Rosário Alessi, as amáveis palavras com que, ao exprimir os sentimentos de todos vós, também delineou de modo muito claro as importantes actividades da Entidade.

Com a vossa obra procurais estabelecer um significativo ponto de encontro entre as justas expectativas dos automobilistas e as necessárias exigências da parte da autoridade governativa nacional. Numa época de rápidas mudanças, nem sempre é fácil a mediação que ofereceis entre as exigências das diversas componentes sociais. É importante jamais esquecer que qualquer serviço ao homem e às suas legítimas reivindicações deve tender para a promoção do verdadeiro bem e da dignidade da pessoa em todas as suas dimensões.

Faço votos, portanto, por que o vosso trabalho constitua um contributo qualificado para melhorar as condições de vida, satisfazendo os mais nobres anélitos presentes no coração do homem, promovendo o respeito e a defesa da vida e estendendo, ao mesmo tempo, a atenção à salvaguarda ecológica do meio ambiente, a ser conservado íntegro para as gerações futuras.

2. Todos nós reconhecemos o indispensável contributo que o automóvel fornece à actividade do homem, quer se refira ao âmbito do trabalho, do entretenimento ou do desporto. O desenvolvimento das vias de comunicação encurtaram de maneira notável as distâncias, aumentando as possibilidades de encontro e de intercâmbio cultural e económico e de solidariedade. Os modernos meios de transporte podem até facilitar e favorecer o trabalho apostólico e as actividades de apoio aos irmãos.

Nas finalidades institucionais da vossa Entidade, que com louvável esforço tem como primária consideração a tutela do valor da vida, estão depois compreendidas a instrução automobilística e a educação dos automobilistas. Trata-se de uma tarefa importante. Sabei aproximar, sobretudo os jovens, com iniciativas idóneas para que, ajudados a enfrentar a condução e rigorosamente preparados para o respeito das normas de segurança rodoviária, usem os automóveis de maneira correcta e responsável, de forma que não se tornem instrumentos de morte. É sempre muito elevado, infelizmente, o número das vítimas nos acidentes automobilísticos e nas estradas.

De grande relevo a este propósito é infundir em todos os motoristas um estilo de solidariedade e de socorro fraterno em favor de quantos vierem a encontrar-se em dificuldade nas estradas. São circunstâncias em que, como na parábola evangélica do bom Samaritano, gestos de amizade gratuita e de caridade aliviam a tristeza de quem é vítima dum defeito mecânico ou de um acidente rodoviário.

3. O vosso Presidente disse há pouco que, por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000, esta Associação, em colaboração com os Clubes do mundo inteiro, predispôs um programa extraordinário de assistência nas estradas para os numerosos peregrinos que vierem de automóvel a Roma. Estou-vos grato por esta iniciativa que, favorecendo o regular desenvolvimento do importante encontro jubilar, oferece um válido contributo para criar os pressupostos de uma adequada recepção da mensagem e dos conteúdos espirituais do Ano Santo.

Continuai a trabalhar na linha de uma correcta política de desenvolvimento automobilístico e rodoviário, inspirada nas exigências do bem comum. Ainda que às vezes este empenho possa comportar reacções momentâneas sugeridas por interesses de parte, com o tempo contribuirá para a criação de uma cultura de respeito pelo homem e de solidariedade em benefício de todos.

Com estes bons votos, enquanto vos agradeço esta visita, peço ao Senhor para vós, os vossos familiares e todos os membros do Automóvel Clube da Itália a abundância de paz e de prosperidade cristã, e de coração vos abençoo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS SENADORES E DEPUTADOS


DA PASTORAL PARLAMENTAR


CATÓLICA DO BRASIL


Sábado, 16 de Maio de 1998







Senhor Vice-Presidente da República
Senhores Senadores e Deputados
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por acolher, junto aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, a vós que representais hoje, aqui em Roma, o Parlamento da nobre e querida Nação brasileira. Este encontro dá-me a oportunidade de vos apresentar algumas reflexões acerca da vossa condição de políticos católicos, cuja atuação deve poder espelhar as aspirações da grande maioria da população do Brasil.

O cristão comprometido na vida pública tem o dever de defender o homem e de promover os seus direitos, como qualquer outro político. Este dever, porém, cabe-lhe por maior razão, porque ele sabe que cada ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus e é chamado a ser, em Cristo, filho adotivo, para participar da sua mesma vida.

Porém, diante da contínua agressão de um materialismo anticristão que se propaga em muitos setores da sociedade, faz-se ainda mais urgente o atento compromisso do fiel cristão, por uma coerência sempre maior na gestão da vida pública. Por isso, «a Igreja não cessa de implorar de Deus a graça de que não venha a faltar nunca a retidão nas consciências humanas, que não se embote a sua sensibilidade sã diante do bem e do mal» (Carta Enc. Dominum et vivificantem DEV 47). A vós, políticos de uma Nação de eminente tradição católica, cabe a importante incumbência, como cidadãos livres e responsáveis, de zelar pela correta aplicação dos princípios morais que, baseados na lei natural, se acham confirmados na revelação. Sobre estes princípios apoia-se o verdadeiro bem de toda a sociedade. A mesma Igreja não cessa de orientar as consciências, sem jamais interferir nas opções políticas concretas tomadas livremente, pois não é esta a sua missão.

2. Realizando o mandato dos eleitores, a vossa primordial tarefa é servir o conjunto do povo brasileiro, constituído por este admirável amálgama de raças e de populações, algumas delas imigradas de nações limítrofes ou provindas, há várias gerações, de outros países. Assim como Jesus Cristo não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos (cf. Mt Mt 20,28), o empenho na vida pública deve ser entendido por todos os cristãos, e por vós de modo especial, como um serviço aos irmãos, a fim de promover o respeito dos direitos humanos de todos, especialmente dos mais pobres e necessitados.

Estou certo de que concordareis comigo que aqueles objetivos serão melhor alcançados, na medida em que fordes católicos esclarecidos e praticantes e participardes ativamente, como cidadãos comuns, nesta importante tarefa. Mais ainda: se houver uma atitude irrepreensível na prática das virtudes morais, especialmente da justiça e da temperança; não é suficiente proclamar a verdade se, ao mesmo tempo, não se «põe em prática a palavra» (Jc 1,23); neste sentido, é fundamental, para uma harmoniosa convivência em todos os âmbitos da vida política, «a veracidade nas relações dos governantes com os governados, a transparência na administração pública, a imparcialidade no serviço das Instituições públicas, o respeito dos direitos dos adversários políticos» (Carta Enc. Veritatis splendor VS 101). E, finalmente, se não tiverdes receio de testemunhar e defender um sadio humanismo cristão, também no ambiente político e social, sereis capazes de afirmar que o bem comum está sempre acima dos interesses partidários.

3. Entre as vossas missões, uma das mais importantes é, sem dúvida, o aperfeiçoamento permanente do corpo legislativo, a fim de que as leis estejam ao serviço da vida e de todas as pessoas. Uma legislação positiva não pode ser constituída independentemente do respeito da lei natural e dos valores morais fundamentais. Em nome do princípio democrático, não se pode questionar a dignidade inalienável de todo ser humano. Na Encíclica Centesimus annus, eu quis recordar que «uma democracia sem valores se converte facilmente num totalitarismo declarado ou dissimulado» (46). Por isso, uma das tarefas mais urgentes do político cristão é levar o Evangelho «a todos os caminhos do mundo» (Christifideles laici CL 44), em particular aos meios de comunicação social, cujo poder não se deve subestimar. O político não representa em primeira linha a si próprio, mas antes a verdade a que se sente obrigado.

Conheço o vosso esforço por defender os princípios que têm sua origem no Evangelho da vida. Sei bem que não vos é fácil pô-los em prática dentro da Assembléia Legislativa, no contexto do pluralismo parlamentar. O direito à vida; o da dignidade da família e o da instrução religiosa nas escolas; a defesa das prerrogativas essenciais que exigem o mais fino e delicado respeito pela mulher brasileira e pela infância; o dever de garantir o direito ao trabalho e sua justa remuneração; o combate à seca; o empenho por garantir uma reforma agrária efetiva, justa e eficiente (cf. Pontifício Conselho «Justiça e Paz», 23-XI-1997, n. 35); e, para não citar outros, a preocupação pela correta aplicação das leis vigentes tanto no amparo dos migrantes, quanto das populações indígenas. Que Deus siga abençoando esse esforço conjunto, permeado de caridade cristã, especialmente quando dedicado à família brasileira.

4. Senhor Vice-Presidente da República
Senhoras e Senhores!

«A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da Nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, ao serviço dos homens» (Gaudium et spes GS 75). Com estas palavras do Concílio Vaticano II, desejo concluir agradecendo por tudo o que fazeis, com espírito evangélico, em favor da vida política no Brasil. De igual modo, é meu propósito estimular vosso espírito de serviço que, juntamente com as necessárias competência e eficiência, pode tornar transparente toda atividade orientada para o bem comum da sociedade como, aliás, o povo justamente o exige. A vós pessoalmente e a todos aqueles que colaboram convosco na edificação de uma cultura da vida, concedo de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PADRES CAPITULARES


DA PEQUENA OBRA DA DIVINA PROVIDÊNCIA


(ORIONITAS)


18 de Maio de 1998





Caríssimos Filhos
da Divina Providência!

1. Tenho a alegria de vos apresentar as minhas boas-vindas, na conclusão do vosso Capítulo Geral! Saúdo-vos a todos com afecto e dirijo um particular pensamento, antes de tudo, ao Director-Geral, Padre Roberto Simionato, a quem agradeço as amáveis palavras de felicitações. Ao congratular-me pela sua reeleição, formulo votos por que, com o apoio da graça de Deus, possa continuar com coragem e clarividência a guiar os Coirmãos, segundo o estilo apostólico do Beato Fundador.

Saúdo os membros do novo Conselho Geral e quantos nele prestaram o seu serviço no sexénio anterior. Através de vós aqui presentes, que participastes no Capítulo, quereria fazer chegar o meu apreço a todos os Orionitas espalhados por tantas nações do mundo, assim como o vivo encorajamento a caminharem sempre, como gostava de repetir o Padre Orione, «à frente dos tempos».

Saúdo, por fim, os leigos que, pela primeira vez, tomaram parte nos trabalhos desta reunião fraterna, abrindo uma fase inédita, e espero que seja rica de frutos apostólicos, para a vida da Pequena Obra da Divina Providência.


Discursos João Paulo II 1998