Discursos João Paulo II 1998 - 4 de Setembro de 1998

Ao contemplarmos a figura sublime de Maria Santíssima, na qual todo o estado de vida na Igreja reconhece o próprio modelo perfeito, podemos divisar também os traços da secularidade evangélica feminina. O Espírito Santo, que introduz na plenitude da verdade (Jn 16,13), possa guiar cada uma de vós e o inteiro Instituto pelas pegadas da Virgem, a fim de vos tornardes sempre mais e melhor missionárias do infinito amor de Deus.

Acompanhe-vos neste caminho a Bênção Apostólica, que de coração que vos dou.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSEMBLEIA NACIONAL DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA


Sábado, 5 de Setembro de 1998





1. «Adultos juntos. Peregrinos de esperança».

Caríssimos Irmãos e Irmãs, são estas as palavras que acompanharam o vosso caminho de preparação para este encontro nacional junto da Sé de Pedro. É com afecto que vos acolho. Saúdo o vosso Assistente-Geral, D. Agostino Superbo, o Presidente e os Vice-Presidentes Nacionais, com um profundo agradecimento pelas calorosas expressões que por eles me foram dirigidas em nome de todos. Dirijo um afectuoso pensamento aos numerosos Cardeais e Bispos presentes. Saúdo o Presidente do Conselho, Deputado Romano Prodi, o Presidente da Câmara Municipal e as outras personalidades que nos honram com a sua presença neste encontro.

Vós, caríssimos adultos da Acção Católica, definistes-vos peregrinos que caminhais com esperança rumo ao Jubileu do Ano 2000. Esta data, que marca o início do novo Milénio, precisa de mulheres e homens capazes de olhar com alegria para o futuro. Tem necessidade de mulheres e homens que saibam construir esse futuro com confiança e laboriosidade, e se empenhem a orientar para Deus todas as realidades temporais.

Sois adultos peregrinos, que se colocam na perspectiva da Igreja a caminho entre as vicissitudes do tempo rumo à pátria do céu: «Com efeito, de domingo a domingo, a Igreja vai avançando para o último "dia do Senhor" o domingo sem fim» (Dies Domini, 37).

Vós estais a caminho não só desde hoje. A vossa é uma longa peregrinação, que atravessou a história deste País vindo de longe. Por isso quisestes iniciar o vosso encontro nacional reunindo-vos ontem em Viterbo, onde está o túmulo de Mário Fani, o qual, juntamente com João Acquaderni, fundou há cento e trinta anos a «Sociedade da Juventude Católica».

Estes homens e mulheres ricos de santidade, desde então, marcaram o vosso caminho! Limito-me a recordar um dos mais eminentes, o Venerável Giuseppe Toniolo, do qual se celebra precisamente este ano o octogésimo aniversário da morte.

São homens e mulheres de ontem, que lançaram as sementes a fim de que vós, adultos de hoje, estejais prontos a assumir as vossas responsabilidades perante este presente difícil mas encantador.

2. Ser adultos não é uma condição que se adquire simplesmente com a idade. É uma identidade que deve ser formada no âmbito do ambiente no qual se é chamado a viver, tendo pontos de referência firmes. Ser cristãos leigos adultos é uma vocação que deve ser reconhecida, acolhida e exercida. Eis por que vós, adultos da Acção Católica, vos sentis permanentemente peregrinos na história. Percorreis «juntos» os itinerários da história.

A vossa associação foi reconhecida pelo Magistério como uma forma de ministerialidade para a Igreja local, a fim de a servir na diocese e na paróquia, bem como nos lugares e situações em que as pessoas vivem a própria experiência humana.

Tal serviço, inerente ao vosso ser leigos adultos na Igreja e no mundo, encontra a sua fonte no Baptismo e na Confirmação. Depois, para muitos, é confirmado pelo Matrimónio; para todos, recebe a sua força da Eucaristia. Através da vida sacramental, reforçando a primazia da vida espiritual, sois chamados a levar o vosso contributo à edificação da Igreja como casa «que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas» (Christifideles laici CL 26). Por este motivo, é necessário empenhar-se por ser uma casa viva, onde cada membro se sente parte de uma única família. Aliás vós, como Acção Católica, deveis ser uma família de famílias, na qual cada família é defendida na sua dignidade e subjectividade e tem um papel activo na acção pastoral.

3. Cada um deverá contribuir com os próprios dons e capacidades. Ninguém deve sentir-se inútil ou um peso, visto que a cada qual o Senhor confia uma tarefa. A Igreja torna-se rica de energia apostólica quando estes dons particulares são postos ao serviço de toda a comunidade. Por conseguinte, a vossa agregação na Acção Católica deve ser entendida como serviço ao crescimento da comunhão eclesial.

Uma comunhão que não se deve exprimir apenas num afecto vago, mas deve ser exercida como solidariedade orgânica entre todos os componentes da Igreja local. Além disso, o vosso ser associação presente em todo o território nacional impõe-vos a tarefa de vos empenhardes com todas as vossas forças, para que se reforce cada vez mais a comunhão entre todas as Igrejas da Itália e entre estas e a Igreja de Roma, que preside à caridade.

Faz parte da própria natureza da vossa associação o vínculo inseparável com a Hierarquia e, de modo particular, com o Sucessor de Pedro. O vosso amor pelo Papa continue a exprimir-se naquele jubiloso e pontual acolhimento do seu Magistério, que é característico da vossa tradição secular.

4. A vossa Associação quer ser uma casa situada entre as casas dos homens. Exprime-se nisto a vossa missionariedade. Já o Concílio Vaticano II confiara à Acção Católica um papel necessário para a «implantatio ecclesiae e para o incremento da comunidade cristã» (Ad gentes AGD 15). Para vós, hoje, isto significa reapropriar-vos daquela missionariedade necessária também às Igrejas de antiga cristandade. Nelas, como eu disse na Redemptoris missio, existem «grupos inteiros de baptizados (que) perderam o sentido vivo da fé, não se reconhecem já como membros da Igreja e conduzem uma vida distante de Cristo e do Seu Evangelho» (n. 33).

Além disso, hoje, tornou-se ainda mais premente «reconstruir o tecido cristão da sociedade humana» (Christifideles laici CL 34). Por este motivo, a vossa acção apostólica deve assumir um valor cultural, isto é, ser capaz de criar entre as pessoas uma mentalidade que brote dos valores cristãos inalienáveis e deve estar permeada por eles.

Portanto, a vossa formação esteja cada vez mais atenta e aberta aos problemas que a sociedade hoje apresenta. E seja capaz de criar aquela cultura política que se empenha sempre e apesar de tudo pelo bem comum e pela salvaguarda dos valores. Uma cultura que saiba reiniciar a partir da vida humana. «Trata- se de uma exigência sobremaneira premente na hora actual, em que a "cultura da morte" se contrapõe à "cultura da vida", de forma tão forte que muitas vezes parece levar a melhor» (Evangelium vitae EV 87).

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o Papa exorta-vos a continuar o vosso empenho de serdes peregrinos de esperança, solícitos pelo destino de cada mulher e de cada homem que encontrais no vosso caminho. Sabei indicar a todos Jesus Cristo como amigo e consolador de qualquer miséria humana e como transcendente Senhor da história.

Acompanho-vos com a minha oração. Caminhai com confiança ao encontro do novo Milénio: «Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade» (He 13,8).

Ao concluir o discurso, o Papa pronunciou ainda estas palavras:

Dizem-se adultos, mas comportam-se como jovens. É um bom sinal!

Era necessário um pouco de vento para recordar o Pentecostes. Sentimos então este vento que era muito suave. Faço votos por que retorneis com este sopro de vento, que é o símbolo do Espírito Santo.



PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


RECORDANDO O 1° ANIVERSÁRIO DA MORTE


DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ


Sábado, 5 de Setembro de 1998





Exactamente há um ano, na noite de 5 de Setembro, morria em Calcutá a Madre Teresa. A sua recordação continua viva no coração de cada um de nós, em toda a Igreja e no mundo inteiro. Esta pequena mulher, que veio de uma família humilde, que maravilhosa obra soube realizar com a força da fé em Deus e do amor pelo próximo!

Na realidade, a Madre Teresa foi um dom de Deus aos mais pobres dos pobres; e ao mesmo tempo, precisamente pelo seu extraordinário amor para com os últimos, foi e continua a ser um dom singular para a Igreja e para o mundo. A sua total doação a Deus, todos os dias reconfirmada na oração, traduziu-se numa total doação ao próximo.

No sorriso, nos gestos e nas palavras da Madre Teresa, Jesus caminhou ainda pelas estradas do mundo como Bom Samaritano, e continua a fazê-lo nas Missionárias e nos Missionários da Caridade, que formam a grande família por ela fundada. Agradecemos às filhas e aos filhos da Madre Teresa a sua radical opção evangélica e oramos por todos eles, para que sejam fiéis ao carisma que o Espírito Santo suscitou na sua Fundadora.

Não esqueçamos o grande exemplo deixado pela Madre Teresa, nem nos limitemos a comemorá-la com as palavras! Tenhamos a coragem de pôr sempre no primeiro lugar o homem e os seus direitos fundamentais. Aos Chefes das Nações, tanto ricas como pobres, digo: Não confieis no poder das armas! Procedei com decisão e lealdade pela via do desarmamento, para destinar os necessários recursos aos verdadeiros e grandes objectivos da civilização, para combater unidos contra a fome e as doenças, para que cada homem possa viver e morrer como homem. Isto quer Deus, que no-lo recordou também através do testemunho da Madre Teresa.

E ela, do Céu, nos assista e acompanhe!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DA REPÚBLICA ESLOVACA


7 de Setembro de 1998





Venerados Irmãos no Episcopado!

1. Estou particularmente feliz em vos encontrar por ocasião da visita «ad Limina», que nos oferece a grata oportunidade de renovar os nossos vínculos de afecto e de comunhão, precisamente no dia em que se celebra a memória dos Mártires de Košice, que tive a alegria de inscrever no álbum dos Santos, há três anos na vossa Pátria. Saúdo com intensa cordialidade o vosso Presidente, D. Rudolf Balá, Bispo de Banská Bystrica, a quem agradeço os sentimentos de devoção e adesão ao Sucessor de Pedro, manifestados em nome de todos os presentes. Saúdo também o querido e venerado Cardeal Ján Chryzostom Korec que, durante os exercícios espirituais realizados neste ano aqui no Vaticano, nos fez ouvir tão bem a voz da tradição cirilo-metodiana. E saúdo ainda com grande afecto cada um de vós, Pastores das queridas populações da República Eslovaca, entre as quais tive a alegria de estar na inesquecível visita de há três anos.

«A Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen gentium LG 1). Com estas palavras o Concílio Ecuménico Vaticano II apresenta o mistério da Igreja, sublinhando a particular referência ao mistério de Cristo e ao Reino de Deus, do qual «constitui na terra o germe e o princípio» (Ibid., 5). Para cumprir de modo apropriado a missão de «sacramento universal da salvação» (Ibid., 48), que lhe é própria, a Igreja deve poder exprimir convenientemente, a nível tanto universal como local, a dúplice dimensão humana e divina nela impressa pelo Fundador, inserindo- se plenamente nas vicissitudes do mundo, sem contudo confundir-se com o mundo (cf. Jo Jn 17,15-16).

2. Também a Igreja que está na República Eslovaca é chamada a ser «sacramento universal da salvação», fazendo-se amorosamente partícipe das alegrias, dos sofrimentos e das necessidades do Povo eslovaco, com a consciência de ser «germe e princípio do Reino de Deus» e instrumento da graça de Cristo. A consciência da própria missão conduzi-la-á ao diálogo respeitoso e atento com a sociedade, e ao empenho por uma convivência fraterna e solidária, inspirada nos valores da genuína tradição cristã.

Diante de uma situação que ainda ressente da dura perseguição comunista e que corre o perigo de ver reacender as divisões destruidoras do passado, a Igreja sabe que deve ser sal e fermento no seio da sociedade eslovaca, contribuindo para o bem de todos, sem se deixar envolver nos conflitos entre interesses particulares.

As profundas transformações, que nos últimos anos investiram a sociedade eslovaca com resultados preocupantes para a família e o mundo juvenil, empenham Pastores e fiéis a defender os valores da tradição cultural e cristã. Isto supõe uma profunda e clara análise filosófica e teológica das diversas correntes de pensamento, para descobrir os seus traços ambíguos e corrigi-los, haurindo dela ocasião para um profícuo aprofundamento do próprio património doutrinal.

Na época do precedente regime comunista, a comunidade cristã na Eslováquia, não raro antecipando as conclusões do Concílio Vaticano II, na fidelidade evangélica, soube oferecer respostas eficazes e proféticas às provocações da sociedade ateia. Do mesmo modo, ela é chamada hoje a responder aos novos desafios, empenhando-se na assídua meditação da Escritura, na atenta análise dos fenómenos sociais, na projectação de adequadas iniciativas pastorais, de maneira a oferecer, à luz das experiências passadas, respostas pertinentes e incisivas aos problemas apresentados pelas diversas situações do presente.

3. Em particular, para que a Igreja «sacramento» produza mais abundantes frutos de bem, será útil que ela se empenhe ainda mais nos sectores, que de modo mais directo fazem parte da sua missão.

Será preciso, antes de tudo, promover a formação de fiéis adultos na fé, estimulando-os ao pleno exercício das suas tarefas específicas. Como eu ressaltava durante a Visita pastoral ao vosso amado País, «com efeito, compete aos leigos católicos, oportunamente formados, a missão de transmitir a mensagem do Evangelho em cada ambiente da sociedade, incluído o da política» (Discurso à Conferência Episcopal da Eslováquia, n. 6; em L'Osservatore Romano, ed. port. de 8/7/1995, pág. 7, n. 7). Não se trata, por conseguinte, tanto de sustentar quantos desempenham um papel de suplência na ausência do sacerdote, quanto de ajudar os fiéis a descobrirem a autêntica espiritualidade «laical», como via para a santificação de si mesmos e do mundo, partindo da fundamental consagração conferida no Baptismo. Nesse empenho em todos os campos, em prol da formação de leigos adultos, adquire uma relevância particular o serviço oferecido pelas Universidades Católicas, cuja finalidade específica é precisamente formar cultural e espiritualmente pessoas capazes de levar os valores da fé e da tradição católica ao ambiente civil e político.

Em segundo lugar, é preciso cuidar de modo particular da formação do clero. Os candidatos ao sacerdócio devem ser cultural e espiritualmente bem preparados, para poderem anunciar de maneira eficaz o Evangelho aos seus contemporâneos, haurindo do Magistério da Igreja as oportunas respostas aos vários interrogativos. E é claro que, para isto, muito ajuda a solidez da doutrina além da qualificação académica. Eles devem também ser ajudados a evitar o perigo do activismo sempre insidioso, graças a uma formação que ressalte a preeminência da missão de evangelizar e de «santificar». Abandonando ou não cuidando de modo suficiente destas dimensões essenciais da missão sacerdotal, acaba-se inevitavelmente por perder também o sentido e a eficácia dos outros aspectos do ministério pastoral. O maior bem que um sacerdote pode oferecer ao povo é favorecer, de todos os modos, a reconciliação com Deus e os irmãos.

Para responder aos graves desafios do nosso tempo, o jovem, depois de ter sido ordenado presbítero, além do estudo e da oração pessoal, tem o dever de cuidar da própria formação permanente participando nos encontros oficiais e informais com os outros sacerdotes e o próprio Bispo, para juntos procurarem oportunas soluções aos problemas e apoio nos empenhos apostólicos. É precisamente na perspectiva do aperfeiçoamento formativo para os sacerdotes eslovacos, que tendes em Roma o Pontifício Colégio e o Pontifício Instituto Eslovaco dos Santos Cirilo e Metódio. A permanência operosa no centro da cristandade consentirá aos vossos sacerdotes completar, junto dos túmulos dos Apóstolos, a sua formação intelectual e espiritual para depois serem os vossos válidos colaboradores na nova evangelização.

4. Alegro-me convosco, venerados Irmãos, pelo facto de que nestes últimos anos foi possível assegurar o ensino da religião nas escolas. Entretanto, desejo ressaltar também nesta circunstância que essa modalidade de evangelização não exaure a catequese paroquial para as crianças, os jovens e os adultos. A escola constitui, certamente, uma ajuda válida, mas o centro da catequese continua a ser a paróquia, que deve poder dispor de adequadas estruturas para o desenvolvimento normal das actividades pastorais e formativas.

Em particular, é necessário que o anúncio orgânico e sistemático da Palavra de Deus atinja os adultos, para que aprendam a fazer do Evangelho o centro inspirador da sua vida, de maneira que, com coragem, testemunhem Cristo no ambiente de trabalho, na cultura e na actividade socio-política. Para isto contribuem também cursos particulares e outras iniciativas apropriadas de carácter formativo.

É sobretudo o binómio família-jovens que deve constituir a prioridade das prioridades das vossas Igrejas. As influências negativas que chegam hoje de todas as partes, devem encontrar na comunidade cristã eficazes e oportunos antídotos. Para isto ajudará a promoção de uma pastoral juvenil e familiar orgânica, com a finalidade de responder às exigências formativas dos jovens e das novas famílias. Oportunamente, nesta perspectiva, procedeu-se à tradução e publicação do Catecismo da Igreja Católica em língua eslovaca. Ele constitui um extraordinário instrumento de evangelização, e agora é tarefa da Igreja, em particular dos Bispos e dos sacerdotes, «traduzir» o seu conteúdo na existência quotidiana dos fiéis.

No contexto do empenho formativo em prol das novas gerações, deve-se ressaltar, depois, a necessidade de uma pastoral vocacional, orientada para apresentar aos jovens a grandeza da vocação ao sacerdócio ministerial e à vida consagrada, como serviço generoso à causa do Reino.

5. Em comunhão com a inteira catolicidade, também a Igreja na Eslováquia está empenhada em preparar-se, desde agora, para o Jubileu do Ano 2000, que está a aproximar-se a grandes passos. Por esta razão, ela não se limita a favorecer um clima de espera daquela data histórica, mas procura justamente viver com intensidade os anos de preparação mais imediata, segundo o itinerário eclesial que propus na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente. A revista «Grande Jubileu», louvavelmente cuidada pela Conferência Episcopal Eslovaca, poderá fornecer neste sentido uma ajuda válida às diversas Comunidades diocesanas e paroquiais.

É espontâneo, neste contexto, fazer referência aos instrumentos da comunicação social. Como não sublinhar a sua grande influência sobre a opinião pública e a extraordinária incidência no modo de pensar e de agir dos fiéis? Diante dos condicionamentos negativos por eles às vezes exercidos, não é suficiente criticar, mas deve-se antes de tudo educar os fiéis para o uso amadurecido dos mass-media, ajudando-os a crescer para uma maior liberdade em relação a eles. É necessário, além disso, fazer todos os esforços para orientar as singulares potencialidades desses instrumentos para o serviço da verdade e do bem.

6. A Igreja oferece ao homem a salvação realizada por Cristo, segundo o desígnio do Pai, no mistério da Páscoa. Ela vai ao encontro do homem e aceita-o tal como ele se apresenta, com todas as suas debilidades intelectuais e morais, com todos os seus problemas familiares e sociais. A Igreja, contudo, está consciente de não possuir a solução já pronta para qualquer nova questão suscitada pelas mutáveis circunstâncias. Antes, ela põe-se ao lado de cada um para lhe estimular a responsabilidade e o convidar a procurar a resposta adequada, à luz da sabedoria cristã, acumulada nos documentos do Magistério (cf. Gaudium et spes GS 43).

Nesse contexto deve-se considerar a relação entre Igreja e Estado. Como sublinha o Concílio Vaticano II: «No domínio próprio de cada um, comunidade política e Igreja são independentes e autónomas» (ibid., 76). Todavia, essa distinção não exclui, mas requer a colaboração mútua. Como eu recordava por ocasião da Audiência a um grupo de peregrinos eslovacos, «os católicos não devem ficar à margem da vida social e política. Antes, é grande a contribuição que eles podem e devem dar, inspirando-se na doutrina social da Igreja, sem jamais se entrincheirarem em posições preconcebidas e de partido, que são com frequência estéreis ou até mesmo danosas» (L'Osservatore Romano, ed. port. de 23/11/1996, pág. 5, n. 3). Na particular colaboração entre Igreja e Estado para promover o bem do homem e do País, nunca pode passar em segundo plano o facto de que a Igreja, por sua própria natureza, é enviada a todos, aos que estão perto e aos distantes.

7. Venerados e caros Irmãos, estes são os pensamentos e as exortações que senti a necessidade de vos exprimir por ocasião da vossa grata visita «ad Limina». Agradeço-vos o zelo e a dedicação com que vos empenhais para o verdadeiro bem das comunidades confiadas aos vossos cuidados pastorais. Cultivai sempre um profundo sentido de comunhão afectiva e efectiva entre vós e com a Igreja universal e, em particular, com o Sucessor de Pedro. Enquanto vos confio, juntamente com as vossas Comunidades, à protecção materna da Virgem Maria das Dores, Padroeira da Eslováquia, concedo com afecto a todos vós, às Igrejas a vós confiadas e ao inteiro povo eslovaco uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR KARL BONUTTI NOVO EMBAIXADOR


DA REPÚBLICA DA ESLOVÊNIA


JUNTO DA SANTA SÉ


7 de Setembro de 1998





Senhor Embaixador

1. É com grande alegria que lhe dou as boas-vindas, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Eslovénia junto da Santa Sé.

Peço-lhe que se digne transmitir ao Ilustríssimo Presidente da República, Senhor Milan Kuèan, a minha cordial gratidão pelos corteses sentimentos de deferência e de bons votos, dos quais Vossa Excelência se fez intérprete. Da minha parte, formulo votos de todo o bem pelo seu alto mandato ao serviço dos compatriotas.

Ao agradecer-lhe as nobres expressões de reconhecimento que teve em referência ao processo de independência da República da Eslovénia, desejo assegurar-lhe que a Santa Sé continuará a oferecer o seu peculiar apoio à querida Nação representada por Vossa Excelência, assim como a cada povo que luta de maneira pacífica para afirmar as suas legítimas aspirações à liberdade.

2. É ainda viva em mim a recordação da visita que tive a alegria de realizar à terra eslovena, em Maio de 1996, indo a Liubliana, Postojna e Maribor. Espero que aqueles momentos permaneçam na memória histórica do povo como estímulo a alimentar constantemente as próprias raízes espirituais, haurindo delas a linfa necessária para crescer unido e motivado, no contexto da grande família das nações.

Especialmente nas fases históricas marcadas por rápidas mudanças e, por assim dizer, por bruscas acelerações nos processos políticos, económicos e culturais, é mais do que nunca necessário ter bem firmes e vivos os valores que não mudam e que qualificam de modo permanente e universal a pessoa humana e a convivência civil. Isto é absolutamente indispensável sobretudo sob o ponto de vista educativo, em referência às novas gerações, que não conheceram pessoalmente a fadiga de propugnar certos ideais e correm o risco de perder o seu sentido e as suas exigências. Com efeito, uma sociedade é vital na medida em que for capaz de transmitir os grandes valores humanos e a paixão pela sua concreta realização histórica.

3. Não há dúvida de que, para isto, desempenha um papel bastante precioso a presença activa, e o mais possível difundida, da Comunidade eclesial. Esta, segundo a eloquente imagem evangélica do fermento, favorece o desenvolvimento do inteiro conjunto social na direcção da justiça, da liberdade, da paz e do respeito pelos direitos humanos. A Eslovénia conhece tudo isto muito bem, não por ter ouvido dizer, mas pela própria e secular experiência histórica: os anais da história eslovena documentam o contributo positivo da religião católica à vida do País e à qualidade do seu crescimento moral e cultural.

Como é do conhecimento de Vossa Excelência, a Santa Sé é o órgão central da Igreja católica, a qual desde há séculos está bem enraizada também na República da Eslovénia. A Sé Apostólica tem a tarefa de promover, em união com os Bispos locais, as relações com as autoridades estatais e de regular as relações entre a Igreja e o Estado. Infelizmente, durante o regime passado isto não foi possível. Com o restabelecimento da democracia, a Igreja católica obteve novas possibilidades para realizar a sua actividade de evangelização e de promoção humana.

4. Com satisfação tomei conhecimento de quanto Vossa Excelência fez observar acerca das soluções encontradas e de algumas questões de grande importância para as mútuas relações. Faço votos por que, com diálogo sincero e leal, os representantes da Igreja e do Estado enfrentem outros argumentos ainda pendentes, que são, desde há anos, objecto de debates. Uma solução equitativa desses problemas será de benefício não só para a Igreja católica, mas também para a inteira sociedade eslovena, que a Igreja quer servir e para cujo bem-estar deseja contribuir.

Faço votos por que o desempenho da alta tarefa que lhe foi confiada, Senhor Embaixador, sirva para desenvolver e aprofundar ainda mais as relações mútuas, em benefício não só dos católicos eslovenos, mas também de todos os cidadãos da querida Nação que Vossa Excelência representa.

Desejo-lhe, Senhor Embaixador, uma feliz permanência em Roma. Posso assegurar- lhe que encontrará sempre apoio atento e acolhimento cordial nos meus colaboradores. Sobre Vossa Excelência, sobre o povo esloveno e sobre quantos o governam nesta vigília do terceiro milénio, invoco de coração a abundância das bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO EMBAIXADOR DA BÓSNIA-HERZEGÓVINA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


11 de Setembro de 1998





Senhor Embaixador!

1. Sinto-me feliz em receber Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas com as quais a Presidência da Bósnia-Herzegovina o acredita como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as gentis palavras que acabou de me dirigir e as apreciações feitas acerca dos progressos realizados, dos projectos futuros e das compreensíveis dificuldades que o seu País está a viver.

Em primeiro lugar, desejo fazer chegar por seu amável intermédio a minha deferente e cordial saudação à Presidência colegial e ao Conselho dos Ministros da Bósnia-Herzegovina. Desejo depois renovar, através das suas pessoas, os meus sentimentos de afecto e de proximidade a todas as populações que habitam o País: elas ocupam um lugar especial no meu coração e nas minhas orações.

Tenho ainda vivas diante dos olhos as cenas da memorável visita a Sarajevo, que a Providência me concedeu realizar nos dias 12 e 13 de Abril do ano passado. Ela permanece a cidade-símbolo do nosso século, devido aos acontecimentos que ali se verificaram e às consequências que deles derivaram para toda a Europa. Vivi aquele encontro como um estímulo a todas as pessoas de boa vontade a não se deixarem desencorajar nos esforços por edificar a paz há pouco alcançada; como um convite às Nações a olharem para os Balcãs com uma nova perspectiva; como uma exortação a prosseguir incansavelmente pelo caminho difícil mas frutuoso do diálogo sincero.

2. O interesse manifestado pela Santa Sé em favor da Bósnia-Herzegovina, desde a sua independência até aos nossos dias, é constante. Demonstra-o quanto até agora foi realizado. Enquanto a guerra enfurecia, a Santa Sé empenhou-se na promoção da paz, indicando o diálogo como o meio mais apropriado para garantir o respeito dos direitos fundamentais e inalienáveis de cada pessoa, de acordo com a própria nacionalidade. Ela prodigalizou-se também em aliviar os sofrimentos das populações inermes da inteira região arrasada pela guerra.

Desde os primeiros indícios do conflito, a Santa Sé não deixou de se prodigalizar, fazendo quanto estava na sua possibilidade, a fim de evitar sofrimentos e lutos e promover o diálogo sincero e construtivo entre as partes. Agora, que as armas finalmente se calaram depois da sanguinolenta prova de um conflito devastador, ela continua a perseguir o objectivo de favorecer a consolidação da paz na efectiva igualdade dos povos que constituem a Bósnia-Herzegovina, exortando ao respeito recíproco e ao diálogo leal e constante, num clima de verdadeira liberdade.

Faço sentidos votos por que o tormento da recente e dolorosa experiência contribua para a colaboração efectiva entre as Nações da área dos Balcãs e para a promoção do reconhecimento efectivo dos direitos do homem e dos povos na zona do Sudeste europeu, necessidade hoje mais do que nunca impelente perante o inflamar-se de novos focos de conflito.

3. O edifício da paz na Bósnia-Herzegovina vai-se consolidando dia após dia, graças ao empenho das autoridades locais e aos esforços da Comunidade internacional, empenhada em pôr em prá- tica na região os acordos de paz de Washington e de Dayton.

Agora permanece a tarefa urgente da reconstrução moral e material do País. Empenho exigente mas imprescindível, ao qual está ligado o futuro da inteira Bósnia-Herzegovina. Na reconstrução do País atingido pela recente guerra é, sem dúvida, necessário investir em infra-estruturas, tão necessárias para recomeçar a vida das populações locais e para um novo impulso económico; mas, antes de tudo, é preciso fazer com que o cidadão goze dos direitos e da dignidade que lhe são próprios. Com efeito, a pessoa é o bem mais precioso de cada sociedade civil. Neste contexto, não se pode evitar o problema dos refugiados e dos exilados que justamente pedem para regressar às suas casas. Convido cordialmente todas as partes em causa a não se desanimarem diante das dificuldades e a empenharem-se em favor duma justa solução deste drama.

Faço votos por que se possam criar o mais depressa possível as condições para o regresso pacífico e seguro de quantos fugiram perante a ameaça dos horrores da guerra ou foram expulsos da sua terra com a violência. É necessário garantir a todos a possibilidade concreta de retornar às próprias casas, a fim de retomarem a vida habitual na serenidade e na paz. Isto supõe a eliminação de qualquer ameaça de violência e a instauração dum clima de confiança recíproca, num contexto social de legalidade e de segurança.

Este caminho exige o envolvimento das numerosas forças sadias que formam o conjunto da sociedade. A Igreja, no que lhe diz respeito, não deixou nem deixará de dar o seu contributo concreto e convicto, para que todos prossigam na via do diálogo e da sincera colaboração. Contudo, é grande também a responsabilidade das forças políticas e institucionais do Estado ao garantir a identidade, o desenvolvimento e a prosperidade de cada um dos povos que constituem a Bósnia-Herzegovina. É uma obra que requer paciência, tempo, tenacidade e não tolera violações. Os eventuais imprevistos não devem desencorajar ninguém, mas simplesmente empenhar a sabedoria de todos na correcção e no aperfeiçoamento dos planos já predispostos.

4. Senhor Embaixador, perante as prometedoras perspectivas abertas pela paz finalmente reconquistada, não se pode negar que também há sombras que devem ser dissipadas. É grande a preocupação pelos vários atentados, perpetrados nos últimos tempos, que semeiam terror e tiram a serenidade às populações locais. São actos que constituem um sério obstáculo à paz, à reconciliação e ao perdão, tão necessários para o futuro de toda a região. Nada se constrói de duradouro com a violência! A Bósnia-Herzegovina é um País no qual vivem juntos três povos, que o constituem, e onde actuam diversos grupos religiosos. É necessário fornecer a cada um as mesmas possibilidades de iniciativas económicas, sociais e culturais; é preciso dar a todos a oportunidade de exprimir a sua identidade no pleno respeito dos outros.

Uma sociedade multiétnica e plurirreligiosa, como a Bósnia-Herzegovina, deve basear-se no respeito pelas diferenças, na estima recíproca, na igualdade concreta, na colaboração eficaz, no diálogo constante e leal. Só deste modo as comunidades interessadas poderão transformar o País numa verdadeira «região de paz». Por conseguinte, cada qual deverá resistir à tentação de prevalecer sobre os outros, impelido pelo desejo do domínio e dos egoísmos pessoais ou de grupo. Ao contrário, será indispensável cultivar uma verdadeira vida democrática, juntamente com uma autêntica liberdade religiosa e cultural, orientada para uma constante promoção da pessoa e do bem comum. Portanto, as oportunas disposições legislativas deverão garantir a igualdade concreta entre todas as componentes da sociedade civil, e as instituições do Estado deverão promover esta igualdade, protegendo-a com todos os meios legítimos.

5. Senhor Embaixador, não posso deixar de mencionar também a actual situação da Igreja católica no seu País. Ela não pede algum privilégio para si; deseja simplesmente cumprir o mandato recebido do seu divino Fundador, desempenhando livremente a sua actividade ao serviço de todos. Eis o motivo pelo qual ela desejaria que lhe fossem restitu ídos os bens dos quais foi privada no período comunista ou durante o recente conflito. Trata-se duma demonstração de justiça e dum sinal de democratização das instituições do País, que Vossa Excelência está chamado a representar. Contudo, o que a Igreja católica pede para si, invoca-o também para as outras Comunidades religiosas do País.

Ao concluir estas palavras de saudação e de bons votos, desejo confiar à celeste protecção da Santíssima Mãe de Deus os esforços pela edificação da paz e pela reconstrução material e espiritual que a Bósnia-Herzegovina, ajudada pela Comunidade internacional, está a realizar. A intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria faça descer abundantes bênçãos de Deus sobre todas as populações deste País, que está muito próximo do meu coração. Acompanho estes pensamentos apresentando a Vossa Excelência calorosos votos para uma profícua missão junto da Sé Apostólica.




Discursos João Paulo II 1998 - 4 de Setembro de 1998