Discursos João Paulo II 1998 - 9 de Outubro de 1998

5. Neste contexto, os cristãos são convidados a assumir, com maior clareza e determinação, as suas responsabilidades no seio da Igreja e da sociedade. Como cidadãos de um País de imigração e conscientes das exigências da fé, os crentes devem mostrar que o Evangelho de Cristo está ao serviço do bem e da liberdade de todos os filhos de Deus. Quer como indivíduos quer como paróquias, associações ou movimentos, eles não podem renunciar a tomar posição a favor das pessoas marginalizadas ou abandonadas à sua impotência.

O da imigração constitui um dos debates que, jamais exaurido, é incessantemente relançado. Os cristãos devem estar nele presentes, apresentando propostas orientadas para abrir perspectivas seguras a serem realizadas também no plano político. A simples denúncia do racismo ou da xenofobia não é suficiente.

Além de se engajar em projectos de defesa e de promoção dos direitos do migrante, a Igreja tem o «dever de assumir de maneira cada vez mais integral o papel do bom samaritano, tornando-se próxima de todos os excluídos» (cf. Mensagem para o Dia Mundial do Migrante, 1995).

6. «As migrações no limiar do terceiro Milénio». A iminência do Jubileu convida-nos a esperar o alvorecer de um novo dia para as migrações, invocando o «Sol da Justiça», Jesus Cristo, para que ilumine as trevas que se adensam no horizonte dos Países, de onde muitas pessoas são obrigadas a partir. Os cristãos dedicados à assistência e ao cuidado dos migrantes encontram nesta esperança um ulterior motivo de empenho. Quereria recordar aqui o que já tive ocasião de recomendar na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente: «No espírito do livro do Levítico (25, 8-12), os cristãos deverão fazer-se voz de todos os pobres do mundo, propondo o Jubileu como um tempo oportuno para pensar, além do mais, numa consistente redução, se não mesmo no perdão total da dívida internacional, que pesa sobre o destino de muitas nações» (n. TMA 51). Sabe- se que essas Nações coincidem precisamente com aquelas de onde hoje movem os maiores e mais persistentes de fluxos migrantes.

O empenho pela justiça em um mundo como o nosso, marcado por desigualdades intoleráveis, é um aspecto qualificante da preparação para a celebração do Jubileu. Resultaria certamente significativo um gesto para o qual a reconciliação, dimensão própria do Jubileu, encontrasse expressão numa forma de acto de regularização para uma larga camada daqueles imigrados que, mais do que os outros, sofrem o drama da precariedade e da incerteza, isto é, os ilegais.

Este é o ano que, na preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, a Igreja consagrou de modo particular ao Espírito Santo. Peçamos-Lhe que infunda em nós os mesmos sentimentos, desejos e anseios do coração de Cristo.

A Virgem Maria, cuja vicissitude humana foi marcada pelo tormento do exílio e da migração, conforte e ajude aqueles que vivem longe da pátria e a todos inspire sentimentos de solidariedade e de acolhimento em relação a eles.

Nesta perspectiva, caríssimos Irmãos e Irmãs, ao encorajar-vos a perseverar no vosso precioso trabalho, concedo-vos, como penhor de afecto, uma especial Bênção Apostólica que, de bom grado, faço extensiva a quantos vos são queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA ESLOVACA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAS


9 de Outubro de 1998





Senhor Embaixador!

1. É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas que o acreditam junto da Santa Sé na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Eslovaca.

Peço-lhe que se digne exprimir ao Senhor Vladimir Meciar, Presidente do Conselho cessante, a minha cordial gratidão pela amável saudação, da qual Vossa Excelência se fez portador. Da minha parte, formulo votos de todo o bem para o Governo que será formado sobre a base das recentes eleições, a fim de que a Eslováquia possa prosseguir com renovado impulso o caminho empreendido na via da democracia, da liberdade e da justiça social.

Se olharmos para as vicissitudes desta última década, podemos observar como a Santa Sé e a Nação eslovaca progressivamente restabeleceram e consolidaram os recíprocos e antigos laços. A minha visita pastoral à Boémia, Morávia e Eslováquia, em 1990; o estabelecimento de relações diplomáticas a nível de Embaixada e de Nunciatura Apostólica, com a República Eslovaca que se tornou independente - e aqui o meu pensamento reconhecido dirige-se ao seu ilustre predecessor, o Senhor Anton Neuwirth, primeiro Embaixador junto da Santa Sé -; a inesquecível viagem apostólica à Eslováquia em 1995; os encontros com os Bispos e os encontros semanais com os peregrinos eslovacos: todos estes eventos constituem como que as etapas de um providencial itinerário de conhecimento da realidade eslovaca por parte do Sucessor de Pedro, pelo que é imperioso dar graças ao Senhor.

2. Com intenso apreço escutei, Senhor Embaixador, as suas palavras a respeito dos meus Predecessores que, na história, tomaram decisões altamente significativas em relação ao povo eslovaco. Ao agradecer-lhe os sentimentos que transparecem desta interessante retrospectiva histórica, desejo assegurar que a Santa Sé continuará a oferecer o seu peculiar apoio à querida Nação representada por Vossa Excelência, assim como a todo o povo que luta de maneira pacífica para afirmar as próprias e legítimas aspirações à liberdade e para dar o próprio contributo no âmbito da Comunidade internacional.

Nesta delicada fase da história é mais do que nunca necessário que o povo eslovaco permaneça fiel às próprias raízes espirituais e culturais. Antes, elas pedem que sejam redescobertas e revitalizadas, sobretudo por parte das novas gerações, às quais seja assim dado prosseguir o caminho do autêntico progresso num contexto mudado e complexo, como é hoje o da Europa. Embora diante das inevitáveis dificuldades, não se deve cessar de trabalhar para fazer da Europa uma casa comum, que se estenda do Atlântico aos Urais, rica das suas múltiplas tradições culturais, aberta ao mundo e solidária com os povos em vias de desenvolvimento. Nesse contexto, a Eslováquia oferece a herança dos Santos Cirilo e Metódio, dos valores humanos que foram fecundados pelo Evangelho e passaram pelo cadinho de duras provas e sofrimentos.

3. A almejada obra de renovação ética e cultural requer uma eficiente e qualificada obra formativa a todos os níveis, cuidada por mestres e professores adequadamente preparados. Este, como é do conhecimento de Vossa Excelência, é um dos âmbitos em que a Igreja, ao longo do seu caminho bimilenário, prodigalizou grandes energias, animada pela paixão da promoção integral do homem e por múltiplos carismas orientados para o campo específico da educação. Sinto-me feliz por que o ordenamento escolar eslovaco tenha visto nestes anos a retomada do ensino da religião, assim como o renascimento das escolas católicas. De coração faço votos por que a frequência a estas últimas possa estar efectivamente ao alcance de todos, pois é a todos que a Igreja quer oferecer o serviço das suas instituições. A respeito disso, associo-me de bom grado aos seus bons votos por que esse processo possa ser quanto antes coroado com a abertura de uma universidade católica.

Estrutura fundamental da inteira sociedade é a família. Aproveito de bom grado esta ocasião para convidar as autoridades governativas a desenvolver e incentivar a acção política e social em favor das famílias, não em termos meramente assistenciais mas estruturais, isto é, reconhecendo à instituição familiar, fundada sobre o indissolúvel vínculo do matrimónio, o papel central que lhe compete e que de facto ela desempenha, não raro a preço de pesados sacrifícios. A Comunidade eclesial neste sector não deixará de fazer sentir o seu apoio constante, antes de tudo no plano formativo, favorecendo o nascimento e o caminho de famílias sólidas e amadurecidas; e além disso promovendo entre elas aquela solidariedade que, se é fruto e expressão da novidade evangélica, ao mesmo tempo vai em benefício do tecido social no seu conjunto.

4. Senhor Embaixador, estou feliz por que, como Vossa Excelência quis ressaltar, a Nação eslovaca se sinta viva e activamente envolvida no caminho rumo ao Grande Jubileu do Ano 2000. Este Ano Santo, enquanto por sua natureza constitui um acontecimento espiritual para os católicos, para todos os cristãos e, mais em geral, para cada crente e cada homem peregrino sobre a terra, representa para todos os povos uma significativa meta que assinala uma época, como que uma verificação da sua vocação histórica; e isto vale de maneira eminente para aquelas nações - entre as quais se incluem também os Eslovacos - que há mais de um milénio empreenderam o seu caminho sob o sinal de Cristo e do seu Evangelho.

Preparar-se para o Jubileu poderia, portanto, ser para o seu País a ocasião para verificar se as orientações políticas são efectivamente respeitosas e promocionais da pessoa humana e dos seus direitos desde o momento da sua concepção; se progride o processo de democratização da sociedade; se de maneira efectiva é promovida a cultura da vida, da reconciliação, da solidariedade, contrastando as fáceis tendências ao individualismo, ao consumismo, ao hedonismo, que em nome de falsos ideais de liberdade acabam muitas vezes por pesar sobre os ombros dos mais débeis.

5. Senhor Embaixador, faço votos por que durante o seu mandato as relações entre a Santa Sé e a República Eslovaca conheçam uma consolidação cada vez mais positiva. Para tanto, não será de pouca importância, entre outras coisas, levar a bom termo as negociações para a estipulação dos Acordos bilaterais, os quais hão-de favorecer um preciso quadro jurídico das relações entre o Estado eslovaco e a Igreja católica, permitindo a esta continuar com maior segurança e renovado empenho a sua missão de evangelização e promoção social.

Desejo-lhe uma serena e profícua permanência em Roma e de coração o abençoo, assim como o serviço que Vossa Excelência está para realizar. Concedo a minha Bênção também à sua família, aos colaboradores e a todos os cidadãos da querida Eslováquia, que confio à protecção da amada e venerada Padroeira, Maria Virgem das Dores.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO I ENCONTRO CONTINENTAL


DOS JOVENS DA AMÉRICA REALIZADO


EM SANTIAGO DO CHILE


Sábado, 10 de Outubro de 1998





Queridos jóvenes de América
Queridos jovens da América
Dear young people of America
Chers jeunes des Amériques
Uma saudação muito afectuosa a todos os jovens americanos!

Por ocasião do Primeiro Encontro Continental dos Jovens, que se celebra sob o lema «O Espírito ensinar-vos-á todas as coisas», saúdo-vos muito cordialmente, aqui de Roma. Quanto me seria grato estar em Santiago do Chile! Não tendo sido possível, enviei-vos como Legado o Cardeal Secretário de Estado. E agora quero fazer-me presente espiritualmente e manifestar-vos a firme esperança que deposito em vós, para que Jesus Cristo seja mais conhecido, mais amado e melhor proclamado na América.

Este segundo ano de preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000 é dedicado ao Espírito Santo. Desejo agora recordar-vos como Jesus, guiado pelo Espírito, foi à Sinagoga de Nazaré. Ao fazer a leitura bíblica, encontrou uma passagem do profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-Me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, o recobrar da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano de graça do Senhor» (Lc 4,17-19). Grande foi a surpresa dos ouvintes quando lhes disse: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir» (ibid., 4, 21). Também hoje se cumpre esta Palavra. O Espírito Santo quer descer sobre cada um de vós, como num novo Pentecostes, para que continueis a levar a cabo a própria missão como discípulos de Cristo.

Queridos jovens, deixai-vos guiar pelo Espírito do Senhor para estenderdes uma mão àqueles que anelam, uma maneira diferente de viver! Não tenhais medo! Eu sei que nos vossos corações pulsa com força um profundo desejo de serviço ao próximo e de solidariedade. Que a América seja um Continente de irmãos e irmãs, iguais em dignidade, consideração e oportunidades.

Jovens americanos, o Papa convida-vos a ser protagonistas da história do Terceiro Milénio. Que de um extremo ao outro do Continente haja muitos jovens que, com o exemplo de tantos Santos e Beatos americanos, estejam dispostos a deixar tudo por amor a Cristo, para O seguirem como missionários do Evangelho. Este é o dia e o momento para dar a Jesus Cristo um sim total e construir com Ele a nova história da América!

À Virgem Maria, a quem invocais como Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira e Imperatriz da América, confio este Encontro Continental dos Jovens. A Ela confio todos vós para que vos abra o coração repleto de amor materno e de zelo missionário.

Dirijo agora uma saudação particular aos jovens do Chile que, com a ajuda dos seus Pastores e das Autoridades locais, prepararam muito dignamente o grandioso Encontro de Santiago. A todos vós renovo o meu sincero afecto e concedo a Bênção Apostólica: em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CONGRESSISTAS DA UNIAPAC


E AOS MEMBROS DA SOCIEDADE


DE SÃO VICENTE DE PAULO


10 de Outubro de 1998





Senhores Cardeais
Senhor Presidente Senhoras e Senhores!

1. Acolho-vos com alegria por ocasião do vigésimo Congresso mundial da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas (UNIAPAC). A vossa presença é o sinal do empenho cristão e do desejo de vos esforçardes para que a economia mundial esteja verdadeiramente ao serviço da pessoa humana. O desafio que se nos apresenta consiste em garantir a eficiência e a qualidade da produção, em um mundo marcado pelo espírito de competição, sem jamais perder de vista a dimensão humana da economia.

A economia mundial caminha rapidamente para uma mais ampla interdependência dos mercados. As suas consequências são de grande alcance e muito complexas. Como empresários cristãos, a vossa compreensão da mundialização não deve limitar-se simplesmente às realidades económicas. O vosso Congresso é uma ocasião particular para afirmar que a mundialização a nível económico não deve negligenciar a dignidade inalienável de todo o ser humano e o facto que os bens da criação possuem uma destinação universal. As pessoas e o trabalho humano jamais devem tornar-se unicamente dois elementos ao lado dos outros nos processos de produção. Um recente documento da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a Declaração sobre os Princípios fundamentais e os Direitos ao Trabalho, estabelece os critérios de base se se quiser que os direitos dos trabalhadores sejam em toda a parte respeitados. Os dirigentes cristãos de empresa são chamados a mostrar a via, a fim de que estes critérios sejam utilizados sem temor e de maneira idêntica em todos os países.

2. Tendes também o encargo de promover a solidariedade em todos os processos económicos. A globalização deve levar a uma maior participação das pessoas e não à sua exclusão ou marginaliza ção, a uma maior partilha e não a um empobrecimento duma parte importante da população, em benefício de poucos. Ninguém deve ser excluído dos circuitos económicos, mas, ao contrário, cada um deve poder beneficiar dos progressos tecnológicos e socais, assim como dos frutos da criação.

Através das vossas reflexões e das decisões que podeis tomar no seio das vossas empresas, em harmonização com o conjunto do pessoal, vós abrireis vias novas, mostrando que a atenção ao homem pode caminhar a par e passo com o desenvolvimento económico. Neste espírito, é necessário que as pequenas e médias empresas, que representam muitas vezes o futuro das comunidades humanas dos países em vias de desenvolvimento ou das zonas desfavorecidas, podem tomar consciência da importância da sua presença para as populações locais. Alguns projectos são às vezes a única esperança para os jovens destas regiões. Alegro-me por que muitos de vós, atentos a estas questões, já estão empenhados neste sector. Convido-vos a continuar a trabalhar neste sentido, para que, na vida económica, cada um reconheça a sua responsabilidade e a exerça com solicitude, em vista do serviço aos seus irmãos.

A todos vós e aos membros das vossas famílias, concedo de todo o coração a Bênção Apostólica.

3. Saúdo cordialmente os membros de língua inglesa da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas. Sede constantes ao dar testemunho dos valores do Evangelho na vossa vida profissional. Não cesseis de promover o bem da pessoa humana, assegurando que os princípios da justiça e da solidariedade sejam respeitados nas empresas e relações de trabalho. Dirijo uma cordial saudação aos participantes de língua espanhola neste Congresso Internacional, ao mesmo tempo que lhes expresso a minha confiança de que a riqueza histórica e cultural dos seus países de origem favoreça a sua actividade criativa, para que o progresso económico acompanhe o progresso integral das pessoas e dos povos, pondo-se ao serviço do valor mais importante e insubstituível, que é a dignidade do ser humano.

4. E agora a minha palavra dirige-se a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs que participais na Assembleia Nacional Italiana da Sociedade de São Vicente de Paulo. Saúdo o Presidente-Geral, os Presidentes dos Conselhos Regionais e Centrais, e todos vós que, com a vossa presença, me trazeis à mente o bem discreto e o que é realizado quotidianamente pelos Vicentinos e Vicentinas em tantas regiões da Itália.

Conservo ainda viva a recordação da solene celebração de 22 de Agosto do ano passado quando, em Paris, por ocasião da XII Jornada Mundial da Juventude, tive a alegria de proclamar Beato o venerável Frederico Ozanam, desejando desse modo propor aos crentes e em particular aos jovens, esta esplêndida figura de leigo cristão, pai de família e professor universitário.

Diante do escândalo de pobrezas antigas e novas presentes também na hodierna sociedade opulenta, como continuar a viver o ensinamento do Beato Frederico Ozanam? Como responder às necessidades de quantos são obrigados a deixar a própria terra de origem, dos refugiados e dos clandestinos, das famílias sem direitos e sem o necessário para viver; de tantos desempregados, dos anciãos sozinhos e abandonados, dos doentes e das pessoas exploradas e tornadas escravas da avidez e do egoísmo?

5. Sobre estes interrogativos reflectistes durante os trabalhos destes dias, em busca de novas possibilidades para alargar os confins da caridade, anunciando o Evangelho na linguagem a todos mais acessível, a do amor pelos últimos.

Ao desejar-vos que sejais na sociedade italiana dignos discípulos e continuadores da obra de Frederico Ozanam, exorto-vos a fazer da oração e do exercício concreto da fraternidade a alma do serviço aos pobres. As vossas reuniões não sejam apenas ocasiões para conhecer e servir as necessidades do próximo, mas se tornem momentos de crescimento espiritual, através da escuta da Palavra de Deus, da oração fervorosa e do diálogo fraterno. A vossa Associação sinta plenamente o respiro da Igreja e, em plena sintonia com os seus Pastores, dê aos necessitados um amor continuamente medido sobre a caridade d'Aquele que, sendo rico, Se fez pobre por amor (cf. 2Co 8,9).

Com esses bons votos, enquanto vos encorajo nos vossos propósitos de bem, confio-vos à materna protecção da Virgem Santa e, invocando sobre todos os sócios e sócias a protecção de São Vicente de Paulo e do Beato Frederico Ozanam, de coração vos concedo uma especial Bênção apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMUNIDADE ALEMÃ POR OCASIÃO


DA CANONIZAÇÃO DE EDITH STEIN


Domingo, 11 de Outubro de 1998





1. Este dia, que viu elevada às honras dos altares Teresa Benedita da Cruz, concluiu-se com um solene «Te Deum». Tivemos a alegria de assistir a uma extraordinária execução musical, que nos ajudou a meditar e a contemplar a obra misericordiosa de Deus. Enquanto reflicto sobre as melodias ouvidas, retorna à minha mente uma expressão de Edith Stein, da qual escutámos alguns trechos significativos: «Há circunstâncias em que nos entendemos mais facilmente sem palavras». A música, quando interpreta os nobres sentimentos do espírito humano, não tem necessidade de palavras para se fazer compreender. É uma linguagem universal, profunda e altamente expressiva. O concerto deste dia manifesta, além disso, que a música se pode tornar louvor a Deus. Dêmos graças ao Senhor pela esplêndida experiência que nos concedeu viver esta tarde!

2. Agradeço à Orquestra Sinfónica e ao Coro do «Mitteldeustcher Rundfunk», dirigidos pelo Professor Howard Arman, este dom maravilhoso. Comove-me o facto que o meu compatriota Krzyztof Penderecki tenha vindo a Roma para dirigir o «Te Deum», por ele composto e a mim dedicado há vinte anos, na ocasião da minha eleição à Cátedra de Pedro. O meu cordial agradecimento dirige-se, depois, aos músicos, aos intérpretes e a todos os que colaboraram, a todos os níveis, para o bom êxito do concerto.

3. Uma saudação cordial aos presentes: autoridades, eclesiásticos, parentes e peregrinos. Dirijo um particular pensamento aos peregrinos de língua alemã vindos a Roma para a canonização desta sua conterrânea. Ao cumprimentar o Cardeal Joachim Meisner, assim como o Presidente da Conferência Episcopal Alemã, D. Karl Lehmann, desejaria saudar todos aqueles que se empenharam na preparação deste importante acontecimento.

4. Exprimo viva gratidão pela presença de muitos membros do povo judeu, em grande parte provenientes dos Estados Unidos da América. A cada um deles dirige-se a minha mais afectuosa saudação; de modo particular dou as boas-vindas aos numerosos parentes de Edith Stein, que têm a honra de incluir entre os seus familiares um exemplo tão esplêndido de mulher de cultura e fé.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Deus chama todos nós à santidade e tem um projecto para cada um. Às vezes é difícil descobrir este plano divino: são necessários paciência e fidelidade, silêncio e escuta. De resto, também para apreciar um concerto como este que nesta tarde nos foi gentilmente oferecido, é preciso uma escuta atenta.

Edith Stein é para nós um exemplo e uma guia. Do misterioso projecto divino sobre a sua pessoa, no início também ela percebeu somente «poucos e suaves sons», como de uma melodia que ressoava ao longe. Na escola da Cruz, estes sons compuseram-se entre si e tornaram-se sinfonia interior.

Graças à sua intercessão, possa também a nossa vida transformar-se numa harmoniosa sinfonia para louvor e glória de Deus. Com estes sentimentos, abençoo a todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA CROÁCIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


12 de Outubro de 1998



Senhor Embaixador!

1. Ao dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, recebo com muito prazer as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Rep ública da Croácia junto da Santa Sé. Peço-lhe a amabilidade de transmitir ao Ilustríssimo Presidente da República, Senhor Franjo Tudjman, as expressões da minha gratidão pelo deferente e cordial pensamento que, também em nome de toda a Nação há séculos ligada à Cátedra de Pedro, me renovou através de Vossa Excelência. Agradeço-lhe também pessoalmente, Senhor Embaixador, os votos que teve a gentileza de me dirigir por ocasião do aniversário da minha eleição ao ministério petrino.

A apresentação das suas Credenciais tem lugar poucos dias depois do cumprimento da minha Visita pastoral à Croácia. Serão para mim inesquecíveis as intensas emoções vividas durante os vários encontros com a população, sobretudo na Santa Missa durante a qual tive a alegria de beatificar um ilustre filho da Croácia e fiel Pastor da Igreja, o Cardeal Alojzije Stepinac. Por este motivo, quis congratular-me pessoalmente com o Senhor Presidente da República no final da solene Liturgia em Marija Bistrica. São de igual modo indeléveis as impressões recolhidas tanto na solene Eucaristia em Žnjan, com a qual se quis celebrar os 1700 anos da cidade de Espálato, como nos encontros de Zagrábia e de Salona.

A Nação croata soube mostrar mais uma vez, além da sua fé viva e da adesão profunda à Igreja católica, também a dignidade e a vivacidade da sua cultura, elementos que contribuíram para tornar a Viagem apostólica muito significativa. As Autoridades, quer eclesiásticas quer estatais, empenharam-se ao máximo em todos os níveis, a fim de facilitar o encontro do Sucessor de Pedro com as populações, favorecendo um frutuoso desempenho do meu ministério entre os Irmãos e Irmãs da Croácia. Aproveito de bom grado esta ocasião para exprimir mais uma vez a todos o meu reconhecimento.

2. Depois das tribulações durante os anos da recente guerra, agora a Croácia goza o grande dom da paz. Formulo os melhores votos para que este valor fundamental possa reforçar-se cada vez mais e tornar-se finalmente extensivo a todos os povos do Sudeste europeu, chamados a viver no respeito recíproco, no diálogo sincero e na colaboração mútua.

Tendo sido derrotado o totalitarismo comunista, o seu País e as outras Nações da Europa Central e Oriental já não estão separadas do resto da grande Família das Nações europeias. O Senhor da história, no limiar do Terceiro Milénio, voltou a dar a estes Povos, após decénios de graves sofrimentos, o precioso bem da liberdade.

Por conseguinte, é compreensível e legítima a sua aspiração de reinserção, ao mesmo nível de outras Nações do Continente, no processo de construção da Casa comum, oferecendo o próprio contributo espiritual, moral e cultural ao empreendimento histórico. Para que as bases do edifício sejam sólidas, é muito importante que se possam apoiar na rocha firme dos valores cristãos.

Nesta perspectiva, desejo ardentemente que não sejam desiludidas as legítimas expectativas das populações destes Países. Hoje, eles têm necessidade do apoio leal e generoso para vencer as dificuldades que são herança dos passados regimes totalitários, a nível tanto económico e social como cultural e político.

3. Tendo passado os dolorosos anos de ditaduras e de amargas experiências de violência a que as populações da região estiveram submetidas, hoje é necessário um maior esforço para construir uma verdadeira democracia à medida do homem. Ela não poderá ignorar, se assim deseja ser, os pressupostos éticos que brotam da verdade do homem tal como se revela à investigação duma razão sadia. Deverá ter em consideração sobretudo cada uma das dimensões do ser humano, começando pela espiritual e religiosa. Poderá dizer-se que uma democracia é plenamente respeitadora da dignidade própria de cada ser humano, quando situa a pessoa no centro de todo o interesse político, económico, social e cultural. Como tal, não poderá deixar de promover a família, instituição básica da sociedade, nem deixar de aceitar os deveres derivantes da solidariedade com as camadas mais débeis. Para concluir, a meta para a qual qualquer sociedade se deve esforçar por progredir é a de uma democracia de responsabilidade e de co-responsabilidade, que promova o bem-estar de todas as classes sociais, com direitos e deveres determinados para cada cidadão.

Ao percorrer esta estrada, a Croácia poderá dar o seu contributo específico ao crescimento democrático e à estabilidade da região, favorecendo o seu constante progresso humano, civil e espiritual, bem como o do inteiro Continente.

Senhor Embaixador, ao enfrentar os difíceis desafios do actual momento, é particularmente importante que o seu País, pertencente às antigas Nações europeias, procure infundir esperança às próprias populações com gestos concretos de solidariedade para com os mais pobres e marginalizados. De facto, este é o caminho que conduz ao futuro. Encorajo todos a não se renderem perante as dificuldades que inevitavelmente se encontram neste empreendimento.

4. A instauração da democracia no seu País favoreceu o desenvolvimento de boas relações entre o Estado e a Igreja, confirmadas também pelo estabelecimento das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a República da Croácia e pela assinatura de quatro Acordos específicos, dos quais três foram concluídos em Dezembro de 1996, tendo o último sido assinado na sexta-feira passada. Estes Acordos sem dúvida darão um ulterior estímulo ao entendimento, facilitando uma colaboração cada vez mais proveitosa, de acordo com a competência de cada um, entre as instituições do Estado e as da Igreja, em benefício de todos os cidadãos da Croácia.

A Igreja e o Estado servem o mesmo homem e ambos se empenham em seu benefício, cada um no próprio âmbito. Por conseguinte, é necessário que eles saibam cooperar nos campos comuns, procurando a compreensão recíproca, de modo a estarem em condições de responder efectivamente, no pleno respeito das mútuas autonomias e competências, às legítimas expectativas dos cidadãos,os quais na maioria são católicos.

A sociedade civil e a Igreja na Croácia caminham juntas, escreverão páginas significativas para a história dum povo cujas antigas raízes afundam no humus fecundo dos valores cristãos.

5. Senhor Embaixador, é com estas perspectivas repletas de esperança que lhe apresento os meus fervorosos bons votos pelo feliz e frutuoso cumprimento da sua alta missão junto da Sé Apostólica, no espírito daquelas relações sempre cordiais entre o Sucessor de Pedro e o Povo croata, as quais Vossa Excelência mencionou no seu discurso.

Corroboro tais votos com a Bênção apostólica, que concedo cordialmente a Vossa Excelência, aos seus colaboradores e Familiares e a todos os cidadãos da querida Croácia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CONSELHO DOS DIRIGENTES


DOS CAVALEIROS DE COLOMBO


15 de Outubro de 1998



Dilectos Amigos

É-me grato saudar-vos uma vez mais, membros da Directoria dos Cavaleiros de Colombo, por ocasião da vossa visita a Roma. Agradeço ao Supremo Cavaleiro as suas amáveis palavras de introdução. O nosso encontro hodierno oferece-me uma ulterior oportunidade para expressar a minha gratidão pelo testemunho da fé cristã, da solidariedade fraterna e do inabalável compromisso do apostolado da Igreja, que sempre foi o distintivo da vossa Ordem.

Um importante aspecto deste testemunho é o vosso desejo, desde a fundação do Sodalício, de contribuir para o ministério pastoral do Bispo de Roma que, segundo a vontade de Cristo, «é o fundamento perpétuo e visível da unidade, quer dos Bispos quer da multidão de fiéis» (Lumen gentium LG 23 Catecismo da Igreja Católica CEC 882). Arraigado num profundo sentido da unidade católica com o Sucessor de Pedro, este desejo levou à criação do Fundo «Vicarius Christi», como instrumento concreto de auxílio ao Papa no cumprimento dos seus deveres. Enquanto vos agradeço a doação das actas do Fundo para o ano vindouro, peço-vos que transmitais o meu apreço pessoal a todos os demais Cavaleiros.

Em particular, desejo transmitir uma calorosa palavra de gratidão pelo generoso pagamento da hipoteca da Missão do Observador Permanente da Santa Sé junto da Organização das Nações Unidas. Graças a esta insigne contribuição, a Missão é mais apta para desempenhar a sua importante actividade de representar a visão e as solicitudes da Igreja perante a comunidade internacional. Enquanto os cristãos do mundo inteiro se preparam para acolher o novo Milénio como um tempo de esperança e promessa (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 46), vejo neste gesto a disponibilidade dos Cavaleiros de Colombo a constituírem uma parte efectiva da jubilosa proclama ção por parte da Igreja, do poder libertador que o Evangelho tem de formar um mundo de justiça, solidariedade e paz cada vez maiores.

Queridos Amigos, encorajo-vos a dar prosseguimento à primorosa tradição dos Cavaleiros de Colombo e, inspirados na fé católica, a continuar os vossos esforços em vista da causa pró-vida. Num recente encontro com alguns Bispos dos Estados Unidos, exortei os católicos a continuarem a fazer escutar a própria voz na formulação de projectos culturais, económicos, políticos e legislativos que promovam e salvaguardem a vida humana. A nação «tem necessidade da sabedoria e da coragem para ultrapassar os males morais e as tentações espirituais inerentes no seu caminho através da história... A democracia sobrevive ou morre juntamente com os valores que ela mesma encarna e promove» (Discurso aos Bispos da Califórnia, Nevada e Havaí, 9 de Outubro de 1998). Que os esforços dos Cavaleiros de Colombo dêem frutos abundantes.

A todos vós e às vossas famílias concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica, como penhor de alegria e paz no Senhor.




Discursos João Paulo II 1998 - 9 de Outubro de 1998