Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 22 de Abril de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS FRANCÓFONOS


DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO CANADÁ


(QUEBEQUE) POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Quinta-feira, 22 de Abril de 1999



Estimados Irmãos no Episcopado!

1. Por ocasião da vossa visita ad Limina, acontecimento que inscreve as comunidades católicas espalhadas pelo mundo na tradição bimilenária da Igreja e que manifesta a vossa comunhão com o Papa e com os seus colaboradores, é com alegria que vos recebo hoje, pastores da Igreja Católica na Região apostólica do Quebeque. Saúdo cordialmente D. Pierre Morissette, vosso Presidente, bem como cada um de vós, de maneira particular os dois novos Bispos auxiliares de Montreal, e os Ordinários maronita e melquita. O nosso encontro permite-me alcançar com o pensamento os sacerdotes e os diáconos, que trabalham com fervor juntamente convosco, as pessoas consagradas, que estão empenhadas no apostolado e que têm uma missão particular de oração, bem como os fiéis leigos, que se dedicam com coragem ao serviço da Igreja e da sociedade do seu país.

Nas vossas relações quinquenais, ex-primis a vossa alegria por ver numerosas pessoas que participam na missão da Igreja, cada uma segundo o serviço específico que lhe é próprio. Convosco, dou graças por este dinamismo renovado das comunidades locais. Aos ministros ordenados, que são vossos colaboradores imediatos e que suportam o peso das jornadas com fidelidade, transmiti o encorajamento afectuoso do Sucessor de Pedro. Aos religiosos e às religiosas, aos leigos das vossas dioceses, reafirmai a minha confiança e estima pelo que realizam, deixando-se guiar pelo Senhor.

2. Fazeis parte da primeira região do Quebeque que realiza este ano a visita quinquenal. Com os diferentes grupos de Bispos do vosso país que virão nas próximas semanas, desejo tratar temas hoje significativos para a Igreja, sugerindo-vos alguns elementos de reflexão, no espírito do que o Senhor pediu a Pedro: «Fortalece os teus irmãos» (Lc 22,32). Nos vossos relatórios, mencionais a questão dos jovens e a pastoral que vos dedicais a desenvolver com eles. Hoje, desejaria deter-me em primeiro lugar em certos aspectos desta missão específica, sem contudo querer estabelecer um panorama completo das situações locais e das espectativas da juventude, que conheceis.

3. A Igreja no Quebeque possui uma rica tradição de empenho pelos jovens, que são a esperança do futuro (cf. Ecclesia in America ). Rejubilo pela solicitude dedicada à juventude, quer nas famílias, nas paróquias, nas instituições escolares ou no âmbito dos movimentos. Congratulo-me pelos vossos esforços, bem como os de numerosos adultos, sacerdotes, religiosos, religiosas, pais e educadores, a fim de propor aos jovens a fé, de forma renovada e harmónica, convidando todas as comunidades locais a mobilizarem-se neste sentido, sobretudo na perspectiva do Grande Jubileu e das próximas Jornadas mundiais da Juventude, que terão lugar em Roma. O ano jubilar é uma ocasião incomparável para dar um novo impulso à pastoral da juventude. A importância dum ambiente familiar sadio

4. O despertar para a fé no âmbito familiar é fundamental; permite à criança progredir na sua busca interior de Deus, Pai de todas as vidas, e descobrir a verdade profunda do mistério cristão. A oração no lar é também uma grande riqueza, pois oferece a cada um a possibilidade de aprender as palavras da relação filial com o Senhor. Quando a criança desenvolve a sua interioridade e quando se torna capax Dei, como dizem os Padres da Igreja, a família tem um papel insubstituível e específico para a sua formação humana e espiritual. A idade infantil é um período importante para a descoberta dos valores humanos, morais e espirituais. Como vós próprios reconheceis, muitas vezes é uma ocasião para os pais se interrogarem acerca da própria fé, da sua dedicação a Cristo e da conformidade da sua existência com o Evangelho. De facto, como podem os pais responder às perguntas exigentes dos mais pequenos e prestar contas da própria experiência de vida se não têm tempo para aprofundar a sua formação cristã, para encontrar Cristo mediante a oração, a leitura das Escrituras e a vida eclesial? A Igreja deve ajudar e apoiar os casais e as famílias, para que possam tomar consciência da sua missão de educadores e realizá-la plenamente.

5. Comunicastes-me as dificuldades que encontrais na pastoral dos adolescentes e dos jovens. Todavia, ressaltais que os adultos se dedicam a segui-los com zelo, empregando todas as suas qualidades de animadores pastorais e o seu sentido eclesial. Encorajo-os a não desanimar se não virem imediatamente os frutos da sua acção. Jamais esqueçam que são instrumentos dos quais o Espírito Santo se serve misteriosamente! Na sociedade actual que não propõe um sentido para a sua existência, os jovens levam consigo interrogativos e sofrimentos que se caracterizam por comportamentos pessoais e sociais que podem desconcertar quem está ao lado deles, sobretudo os fenómenos de violência e a droga, bem como as atitudes suicidas: «A juventude é o tempo de uma descoberta particularmente intensa do próprio eu e do próprio projecto de vida; é o tempo de um crescimento que deve realizar-se em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens (Lc 2,52)» (Christifideles laici CL 46). A educação requer paciência infinita e proximidade amorosa. Isto ajuda os jovens a amarem-se e a descobrir que são amados pelos adultos e, através destes, por Deus que tem confiança neles. Convido-vos a desenvolver e a fortalecer a pastoral da juventude, sobretudo enviando em missão junto deles pessoas jovens, particularmente formadas não só a nível espiritual, mas também humano e psicológico – sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas e leigos. A juventude tem necessidade de educadores e de acompanhadores espirituais competentes, sábios e delicados na maneira de os orientar, tendo a preocupação de permitir a maturação progressiva das pessoas, de difundir a palavra de Deus nos corações e de estar ao serviço do seu «encontro com Cristo vivo», que «é um caminho de conversão, de comunicação e de solidariedade» (cf. Ecclesia in America ). Neste âmbito, é fundamental que os sacerdotes proponham também à juventude uma vida sacramental sólida, em particular o sacramento do perdão. No encontro pessoal com o ministro de Cristo e pela confissão pessoal das suas faltas, o jovem tomará consciência do amor do Senhor e da resposta que Ele lhe deve dar, sentindo-se aliviado do seu fardo pelo Senhor; aprenderá a viver na verdade, será encaminhado pela recta via e encontrará os meios para lutar contra o pecado.

6. Além disso, desejo recomendar aos sacerdotes, às pessoas consagradas e aos leigos que desempenham uma função neste âmbito, que proponham aos jovens a experiência da direcção espiritual, a fim de reler as diferentes etapas da sua existência sob o olhar de Deus, para nelas discernir a Sua presença e para fazer a Sua vontade, fonte de liberdade profunda. O acompanhamento por parte dum adulto no qual o jovem tem confiança ajudá-lo-á a superar os momentos interiores mais difíceis, a analisar o seu próprio comportamento, a optar por uma escala de valores nas suas decisões, e a entrar numa relação cada vez mais íntima com Cristo. De igual modo, neste processo de proximidade, os adultos são os interlocutores e as testemunhas de que os jovens têm necessidade, a fim de encarar de modo sereno o seu futuro como homens e como cristãos. Desta forma, os jovens poderão ouvir com confiança o apelo de Cristo a afastarem-se da margem (cf. Lc Lc 5,4), ousarão mostrar a sua identidade cristã e serão os missionários dos seus companheiros numa sociedade em que, como dizeis, a fé tende a ser privada e, desta forma, a Igreja tem dificuldade em fazer-se reconhecer.

Para que os jovens possam crescer na fé, seria bom também garantir-lhes um lugar e confiar-lhes tarefas de responsabilidade, não só em grupos da sua idade, mas no âmbito das comunidades locais, a fim de que se sintam parte activa da Igreja inteira, que ora, se reúne para a celebração dominical, atinge a sua força na vida sacramental e vive a caridade. Desta forma, os jovens conscientizar-se-ão de que a sociedade e a Igreja precisam deles, e que são chamados a servir os seus irmãos, para edificar a civilização do amor.

Nas vossas dioceses, grandes reuniões ou grupos mais estreitos são regularmente organizados a fim de ajudar a juventude a reflectir acerca da vida afectiva e da vocação para o matrimónio, propondo-lhes desta forma o sentido e o valor da sexualidade humana. Congratulo-me com todos os adultos empenhados nesta tarefa educativa e convido-os a prosseguir a sua missão, a fim de apresentar aos jovens os ensinamentos da Igreja, que será estruturante para a sua formação humana e espiritual. Num mundo em que a célula familiar é frágil e numerosas feridas afectam profundamente os jovens, sobretudo os que sofrem a separação dos pais e a formação de novos núcleos familiares, a Igreja tem o dever de educá-los para uma vida afectiva edificada sobre sadios valores humanos e morais, a fim de que no futuro eles possam comprometer-se na vida conjugal, conscientes das suas responsabilidades e da missão que ela representa em relação ao outro cônjuge e aos filhos.

7. No período da infância e da adolescência, as comunidades cristãs e os educadores devem prestar atenção ao desenvolvimento duma catequese orgânica, para que os jovens possam conhecer as principais normas do mistério cristão. Neste espírito, é importante dar prosseguimento aos sacramentos da iniciação cristã, para que as crianças possam viver uma vida espiritual e eclesial profunda, que os ajudará durante toda a sua existência. Convido os fiéis a mobilizarem-se sem cessar a fim de transmitir a fé e os valores cristãos às crianças. A sua formação não pode consistir apenas numa aprendizagem de matérias científicas e técnicas. Ela deve incluir as dimensões antropológica, moral e espiritual, para edificar a personalidade dos jovens. Chamo a atenção de quantos desempenham uma função educativa em instituições de ensino confessional, para que a especificidade e a identidade católicas, que constituem uma riqueza, não sejam perdidas nem ocultadas.

8. Entre as dimensões primordiais do ministério do Bispo, encontra-se a pastoral das vocações sacerdotais, que seria conveniente organizar e desenvolver sem cessar, graças a sacerdotes e a leigos sólidos e dinâmicos, preocupando-se por confiar a alguns jovens sacerdotes uma parte activa neste âmbito, os quais podem ser modelos e exemplos, estando mais próximos das gerações que os seguem devido à idade e à mentalidade. Eles demonstrarão que o ministério presbiteral é fonte de alegria e de equilíbrio. A pastoral das vocações requer também o empenho de todos os protagonistas das Igrejas locais. Trata-se de incutir a palavra de Deus no coração dos jovens, de despertar neles o desejo de seguir Cristo e de transmitir abundantemente o apelo do Senhor, propondo «de modo explícito e premente a vocação ao presbiterado como possibilidade real para aqueles jovens que demonstram possuir os dons e capacidades a ela correspondentes» (Pastores dabo vobis PDV 39). Também seria conveniente fazer descobrir o empenho radical que isto exige, pelo dom de si próprio a Cristo, no celibato, para o serviço dos irmãos. Eventuais confusões que enfraqueceriam o vínculo entre o sacerdócio e o celibato são prejudiciais para uma sadia busca dos jovens e para o seu futuro empenho sacerdotal. Alegro-me pelo facto de existirem, em algumas dioceses, pequenos seminários nos quais os jovens, prosseguindo os seus estudos clássicos, podem considerar realmente a possibilidade duma vocação sacerdotal. Eles são viveiros de vocações, que não devem absolutamente ser negligenciados. Convido de igual modo todos os sacerdotes a prestarem atenção aos jovens, e serem despertadores de vocações e a propor-lhes sem receio a via do sacerdócio.

9. Jesus chama também alguns jovens, homens e mulheres, a seguirem-no duma forma mais exclusiva e a consagrarem-se totalmente a Ele na vida religiosa, a fim de oferecerem ao mundo um «testemunho (que) versará, primariamente, sobre a afirmação da primazia de Deus e dos bens futuros, como transparece do seguimento e imitação de Cristo casto, pobre e obediente, votado completamente à glória do Pai e ao amor dos irmãos e irmãs» (Vita consecrata VC 85). Esta chamada de Cristo à vida consagrada é um testemunho eloquente para o mundo de hoje, recordando que a verdadeira felicidade provém de Cristo e que a liberdade da pessoa tom diferente. Porém também tem características comuns: ilumina-nos acerca da vontade de Deus; dá-nos paz, serenidade e uma compreensão sempre nova da Palavra de Deus. É uma luz ardente, que nos impele a avançar pelo caminho da vida num modo cada vez mais firme e rápido. Quando as sombras da existência tornarem incerto o nosso caminho, quando nos sentirmos inclusive bloqueados pela escuridão, esta palavra do Evangelho recordar-nos-á que a luz se acende com o amor e que será suficiente um gesto concreto de amor, mesmo pequeno – uma oração, um sorriso, uma palavra – para nos dar aquele fio de esperança que nos permite ir em frente. Quando de noite andamos de bicicleta, se pararmos, ficamos na escuridão; mas se voltarmos a pedalar, o dínamo dará a corrente necessária para iluminar o caminho. Assim é na vida: basta voltar a pôr em acção o verdadeiro amor, o amor que dá sem esperar nada em troca, para reacender em nós a fé e a esperança. humana não pode ser separada nem da verdade nem de Deus (cf. ibid.87-91). Exorto os religiosos e as religiosas a manifestar aos jovens que uma vida totalmente oferecida ao amor radical por Cristo e pela sua Igreja dá felicidade.

10. Encorajo-vos a continuar a animar as forças vivas da Igreja no Quebeque para que todos, nas famílias, nas paróquias, nas instituições escolares e nos movimentos, colaborem na missão de caminhar com os jovens, de acompanhar o seu crescimento, de lhes propôr a fé através das suas buscas, a fim de que descubram, na alegria, a Bondade do Pai, vivam a Boa Nova de Jesus Cristo e se deixem guiar pela Força do Espírito Santo. Desta forma, poderão abrir-se à chamada que o Senhor lhes faz de participar na obra da Criação e na obra da Redenção, na fraternidade e na solidariedade e, por conseguinte, descobrir que a sua vida tem um sentido, que vale a pena empenhar-se no sacerdócio, na vida consagrada ou no matrimónio, trabalhar para alcançar o bem comum no mundo, participar de coração na comunhão da Igreja e na sua missão.

11. No final do nosso encontro, encorajo-vos no prosseguimento da vossa missão episcopal, convidando-vos a dar continuidade às vossas colaborações fraternas e a apoiar-vos no ministério; desta forma, as vossas Igrejas diocesanas serão mais unidas e entender-se-ão, para enfrentar os desafios que se vos apresentam como comunidades centradas em Jesus Cristo, em diálogo com o mundo. Levai a saudação do Sucessor de Pedro a todos os vossos colaboradores e ao povo de Deus que está confiado aos vossos cuidados, de modo particular, transmiti aos jovens o meu afecto. Ao invocar a intercessão materna da Virgem Maria, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, bem como a todas as vossas Dioceses.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO ASSISTENTE ECLESIÁSTICO GERAL


DA AGESCI NO 25° ANIVERSÁRIO


DE FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO




Ao Reverendíssimo Mons. DIEGO COLETTI
Assistente Eclesiástico Geral da AGESCI

1. Por ocasião da Assembleia do Conselho Geral da AGESCI, que terá lugar em Bracciano no vigésimo quinto aniversário de fundação desta Associação, uno-me espiritualmente a todos os participantes neste encontro, transmitindo uma cordial mensagem à benemérita Família dos Guias e Escuteiros Italianos, inspirado por sentimentos de estima e de afecto.

Recordar vinte e cinco anos de história constitui um motivo de agradecimento a Deus pelo caminho percorrido e é uma ocasião propícia para um balanço da experiência acumulada. Apraz-me evocar aqui quanto tive a oportunidade de escrever por ocasião da chamada Rota Nacional de 2 de Agosto de 1997, isto é, que cada membro da AGESCI deve olhar em frente e, «como uma sentinela, saber perscrutar o horizonte para discernir de maneira oportuna as fronteiras sempre novas para as quais o Espírito do Senhor vos chama» (Mensagem ao Assistente Eclesiástico Geral da AGESCI, 2 de Agosto de 1997: ed. port. de L'Osservatore Romano de 16 de Agosto de 1997, pág. 2).

2. Dirijo-me a vós, caríssimos Chefes e Responsáveis, Guias e Escuteiros, para recordar que a primeira fronteira para a qual se deve tender é a nova evangelização. Com o vosso inconfundível estilo e mediante o vosso específico método educativo, anunciais pelos caminhos do mundo a verdade do Evangelho, através da fiel adesão a Cristo e da sua eterna mensagem de salvação. Quando se tem esta finalidade em vista é necessário saber harmonizar a amizade com Ele e a fidelidade à sua Palavra com o esforço de compreender as situações concretas em que se encontra a juventude de hoje.

Desta forma, para a vossa Família associativa delineia-se outra meta a alcançar: trata-se do chamado «desafio educativo», expressão que vos é familiar. Inclusivamente a partir deste ponto de vista, o método dos escuteiros demonstra a sua peculiar genialidade e a sua actualidade, porque hoje os percursos educativos e os itinerários de formação para a fé e a vida se tornam cada vez mais complexos. Estes exigem da parte dos educadores uma preparação sempre mais qualificada e pertinente. Em particular, é preciso saber escutar e comprometer a pessoa em crescimento, convidando-a a acolher uma proposta clarividente e vigorosa, capaz de interpelar a sua liberdade e a sua consciência crítica.

Caríssimos Chefes educadores e Assistentes Eclesiásticos, não tenhais medo de propor grandes ideais aos jovens, dado que o Escutismo é uma escola para a formação nas virtudes difíceis. Diante dos olhos dos jovens e das jovens que encontrais, ponde a figura de Cristo: o Seu heroísmo e a Sua santidade. E vós, em qualidade de Chefes e Responsáveis, jamais deixeis de ser para eles um exemplo, uma ajuda e um válido encorajamento.

Outro objectivo que tendes em vista alcançar é um mundo mais humano, mais justo e mais sereno, para cuja edificação trabalhais em conjunto com todas as forças sadias da sociedade. Trata-se de um desafio que só podem enfrentar de modo adequado homens e mulheres conscientes e livres, iluminados pelo Evangelho, formados na participação activa e na responsável partilha no campo civil. Neste contexto, hoje apresenta-se com dramática actualidade a necessidade de educar a juventude para a paz. A este propósito, sei que os Guias e os Escuteiros católicos italianos trabalham com louvável sensibilidade e podem inscrever no elenco das suas realizações uma acção assídua e incisiva a favor da «cultura da paz» e da «civilização do amor».

3. Eis que se delineiam três fronteiras, três metas a alcançar: a evangelização, o desafio educativo e a edificação de um mundo de paz. No vosso Pacto Associativo são evidenciadas algumas indicações preciosas em vista de as alcançar. Formulo cordiais votos por que, de maneira cada vez mais eficaz e coerente, a AGESCI possa caminhar rumo ao futuro, percorrendo o caminho traçado por este vosso Pacto. Se vos esforçardes em perseverar nestas três perspectivas, não só agireis em conformidade com os ideais que alimentaram a AGESCI nos seus vinte e cinco anos de vida, mas podereis oferecer cada vez mais e melhor a vossa colaboração às dioceses e às paróquias nas várias obras de promoção espiritual e social e sobretudo no campo da educação, que vos é próprio.

A celebração do vigésimo quinto aniversário de fundação coincide com o final do segundo milénio da era cristã, na véspera do Grande Jubileu do Ano 2000. Também isto constitui um encorajamento e um convite à esperança. A conversão dos corações e o renovado impulso de testemunho cristão, que cada um dos fiéis deve esperar das celebrações jubilares, constituam para todos vós um estímulo a preparar-vos adequadamente em vista deste importante encontro do Espírito.

Oxalá a Virgem do Caminho vos guie e vos acompanhe no vosso itinerário quotidiano. Proteja-vos São Jorge, Padroeiro da vossa Associação. E sirva-vos de conforto a Bênção Apostólica que vos concedo de coração, tornando-a de bom grado extensiva a todos os membros da Associação e às respectivas famílias.

Vaticano, 23 de Abril de 1999.

JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA ABERTURA DA EXPOSIÇÃO


"PAULO VI, UMA LUZ PARA A ARTE"


Sexta-feira, 23 de Abril de 1999



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Senhores e Senhoras!

1. Com grande alegria dou hoje as boas-vindas a todos vós, que viestes à inauguração da exposição «Paulo VI, uma luz para a arte», iniciada no Museu da Catedral de Milão e agora apresentada pelos Museus do Vaticano neste «Braccio di Carlo Magno». Agradeço, em particular, ao Senhor Cardeal Edmund Casimir Szoka as cordiais palavras com que interpretou os sentimentos de todos os presentes.

A bonita iniciativa, que hoje é inaugurada graças ao generoso empenho de numerosas pessoas, consentirá admirar, durante algumas semanas, diversas obras de arte que recordam o meu venerado predecessor, o Servo de Deus Papa Paulo VI, a pouco mais de cem anos do seu nascimento e no vigésimo quinto aniversário da fundação da Colecção de arte religiosa moderna por ele querida. Estes dois aniversários foram comemorados recentemente com a exposição Papst Paul VI und die Sammlung religioser Kunst des 20. Jahrunderts, inaugurada em Würzburg em Janeiro de 1998, prosseguida em Paderborn e concluída em Regensburgo no sucessivo mês de Julho.

Esta Exposição quer ilustrar o grande amor que o inesquecível Pontífice nutriu pela arte, e a importância que a própria arte revestiu no seu ministério petrino. Basta pensar na já mencionada colecção de arte religiosa moderna, aberta no dia 23 de Junho de 1973. A árdua tarefa de colocar mais de setecentas obras, doadas por artistas e coleccionadores, em poucas salas dentro dos Palácios Vaticanos, foi então resolvida recuperando alguns ambientes anteriormente usados como depósitos e habitações. As cinquenta e cinco salas utilizadas para isto, foram ordenadas com um itinerário inserido no núcleo das antigas residências dos Papas, de Nicolau III a Sisto V. Este itinerário estende-se desde as Salas de Rafael no apartamento Bórgia, habitação de Alexandre VI, decorada com afrescos por Pinturicchio e pela sua escola de 1492 a 1495, até à Capela Sistina, de maneira que ao fascínio da arte se une também a sugestão histórica.

2. Convém aqui recordar que a abertura dessa interessante colecção selou uma iniciativa empreendida a 7 de Maio de 1964, quando Paulo VI desejou encontrar-se com um grupo de artistas. Naquela ocasião, tinham sido considerados e recapitulados com atenção os motivos e as causas, como ele gostava de dizer, de uma «amizade conturbada» entre a Igreja e os artistas. A esse respeito, as suas palavras foram mais do que nunca explícitas: «Devemos deixar às vossas vozes o cântico livre e poderoso de que sois capazes» (Paulo VI, Discurso aos artistas, 7 de Maio de 1964: AAS 56 [1964], 441).

Ao seu convite para um entendimento mais estreito entre Igreja e Arte aderiram não poucos artistas, coleccionadores, entidades privadas e públicas. Foram constituídos comités em várias Nações, coordenados de maneira sábia pelo Mons. Pasquale Macchi, então seu secretário particular.

3. Dou graças ao Senhor que me oferece, neste dia, a oportunidade de unir a minha voz ao testemunho de respeito, estima e confiança do meu venerado Predecessor para com os artistas do mundo inteiro. A eles, com efeito, eu quis dedicar uma específica Carta, que é publicada hoje. Com ela «desejo dar continuidade àquele fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história, nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro milénio» (Carta aos artistas, 1). Trata-se dum diálogo que não só responde simplesmente a circunstâncias históricas, mas encontra a sua raiz na própria essência da experiência religiosa e da criação artística.

A todos aqueles que «apaixonadamente procuram novas "epifanias" da beleza para as oferecer ao mundo como criação artística», quereria renovar o convite do Concílio Ecuménico Vaticano II: «Não fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito divino!». O convite tornou-se ainda mais actual devido ao tempo litúrgico que estamos a viver. Com efeito, a aproximação do Pentecostes impele-vos a abrir o coração à acção vivificadora do Espírito Criador.

Se é verdade que o génio do artista pode plasmar obras eminentes, mesmo prescindindo da fé, é porém um dado de facto que, se ao talento natural se acrescenta a íntima e vivida comunhão com Deus, mais rica e profunda é a mensagem que dele deriva. Assim foi para o admirável florescimento das catedrais da Idade Média; foi assim para as obras de Giotto, do Beato Angélico, de Miguel Angelo, para a poesia de Dante e a prosa de Manzoni, para as composições musicais de Pierluigi de Palestrina e de Johann Sebastian Bach, citando apenas alguns.

4. Ao aproximar-se das obras-primas da arte, qualquer que seja a época a que pertençam, a alma é solicitada a abrir-se ao deslumbramento misterioso do Transcendente, porque em toda a expressão artística autêntica está presente uma centelha misteriosa e surpreendente do Divino.

Gentis Senhores e caros amigos, todo o homem tem sede de infinito e a arte é uma das vias que para ele orientam. Os meus ardentes votos são por que «as vossas múltiplas veredas possam conduzir todos àquele Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração, inebriamento, alegria inexprimível» (Carta aos artistas, 16).

E possa esta exposição alcançar um dúplice objectivo: ajudar a compreender melhor o valor da arte no contexto da nova evangelização, e fazer ressaltar o papel significativo desempenhado pelo Papa Paulo VI na promoção do empenho artístico, como precioso contributo para a difusão do Evangelho.

Com estes sentimentos, abençoo-vos de coração, a vós aqui presentes e a quantos cooperaram para a realização duma Exposição tão interessante como esta.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA "MARATONA DA PRIMAVERA"


ORGANIZADA PELA ASSOCIAÇÃO


DAS ESCOLAS CATÓLICAS DE ROMA


Sábado, 24 de Abril de 1999



A todos vós que participais nesta tradicional «Maratona da Primavera», organizada pela Associação das Escolas Católicas de Roma, apresento a minha cordial saudação. Dirijo um deferente pensamento ao Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Roma e às Autoridades presentes. Congratulo-me com os Organizadores e com todos os que, também neste ano, promoveram a festa da Escola Católica, como jornada marcada pela alegria e a fraternidade.

Saúdo sobretudo vós, caríssimos meninos e meninas que sois os verdadeiros protagonistas da «Maratona da Primavera». O termo «Primavera» indica o despertar da natureza e a vontade de viver; a palavra «maratona» evoca, depois, o dinamismo da mudança e do crescimento. São as características próprias da juventude. Possa a vossa simpática manifestação, levando pelas ruas da Cidade uma mensagem de confiança e de fraternidade, contribuir para a realização de um mundo onde seja eliminada a violência e reinem a solidariedade e a paz.

Esta vossa iniciativa traz à minha mente também os numerosos problemas que se referem à Escola Católica. Acompanho com constante atenção o seu trabalho educativo e faço votos por que as suas justas expectativas encontrem junto dos responsáveis atenta escuta e favorável acolhimento, para o bem da inteira comunidade civil e eclesial.

Boa maratona!

A todos a minha Bênção.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SECRETÁRIO-GERAL DA O.N.U.




A Sua Excelência Senhor KOFI ANNAN
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas

Fui informado de que Vossa Excelência está prestes a vir à Europa para considerar com os responsáveis políticos a melhor maneira de pôr termo à violência, que atinge de forma tão dramática as populações da República Federal da Jugoslávia.

Nesta ocasião, desejo manifestar-lhe a minha solidariedade orante e fazer votos de pleno bom êxito à sua missão. A Santa Sé aprecia muito o facto de que a Organização das Nações Unidas volte a encontrar o seu lugar na gestão duma crise que interpela toda a comunidade internacional. Com efeito, é urgente que o direito e as instituições se possam fazer ouvir e não sejam sufocados pelo fragor das armas.

Como é do conhecimento de Vossa Excelência, desde os primeiros momentos da crise no Kossovo, senti o dever de exprimir sem hesitação a minha convicção de que só as negociações leais, pacientes e realistas seriam capazes de oferecer uma resposta adequada às legítimas aspirações dos povos interessados, e encorajei todos os esforços despendidos neste sentido.

Diante das deportações de populações amedrontadas, de toda a espécie de maus tratos e dos bombardeamentos deste último mês, hoje não posso deixar de exortar todos as pessoas que, como e com Vossa Excelência, procuram retomar o caminho do diálogo a fim de alcançar a elaboração dum plano de paz e, assim, pôr fim a um drama humano que interpela a consciência de todos. O meu profundo apreço dirige-se a cada uma das organizações e a todos os voluntários que se comprometem de maneira tão generosa, em vista de confortar inúmeros dos nossos irmãos e irmãs em humanidade. A Igreja católica está também presente «in loco» e prodigaliza-se em socorrer todas as pessoas que consegue alcançar. Esta acção humanitária é insubstituível e deve continuar, intensificar-se e diversificar-se.

Juntamente com todos os fiéis, estou convicto de que a cadeia do ódio e da violência só poderá deter-se com o vigor da fraternidade, do direito e da justiça. Senhor Secretário-Geral, muitos esperam e têm confiança em Vossa Excelência. Assim, confio-o a Deus na oração, a fim de que Ele lhe inspire coragem e clarividência em abundância.

Vaticano, 27 de Abril de 1999.

JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PRELADOS DAS IGREJAS


PARTICULARES DA ETIÓPIA E DA ERITREIA




Aos meus veneráveis Irmãos
Bispos da Etiópia e da Eritreia

Repleto de confiança no Senhor, saúdo calorosamente o Senhor Cardeal Paulos Tzadua, Arcebispo Emérito de Adis Abeba, e os Pastores da Igreja que está na Etiópia e na Eritreia. Impedidos de aceder facilmente às vossas recíprocas terras devido ao recrudescimento das hostilidades entre a Etiópia e a Eritreia, viestes a Roma a fim de vos congregardes num único organismo, como Conferência Episcopal. Tendo como base as reflexões e as propostas da vossa visita ad Limina de Setembro de 1997, procurais agora consolidar a vossa colaboração em numerosas problemáticas comuns, em vista do bem das vossas Igrejas particulares.

A criação do Estado independente da Eritreia e o sucessivo período de paz e amizade entre os vossos países constituíram sinais de esperança, depois de décadas de insurreição armada. Esta transição da agressão militar rumo à harmonia fraternal propiciou encorajamento às outras nações africanas, e a própria Igreja compartilhou a satisfação dos vossos povos e governos pelas novas perspectivas de compreensão mútua e de progresso que daí derivaram. Assim, o recrudescimento das hostilidades na Primavera passada não podia deixar de ser motivo de maior amargura, como eu disse em várias ocasiões, quando apelei para um retorno às negociações e à concórdia. Como Bispos e Pastores da Igreja católica que está na Etiópia e na Eritreia, agora estais em pleno processo de preparação de uma mensagem de paz destinada ao vosso clero, religiosos, leigos e também a todos os etíopes e eritreus de boa vontade. A Igreja inteira está convosco, apoia cada gesto de paz e todos os esforços que têm em vista o restabelecimento da unidade e da fraternidade.

A guerra não traz senão tragédia e desespero, ceifando vítimas inocentes enquanto destrói vidas e casas, famílias e povos. Repito com urgência aquilo que disse inumeráveis vezes no passado: devem-se procurar todas as alternativas à guerra! Deus abençoou os seus filhos com a inteligência e a criatividade que podem resolver tensões e conflitos, e que são capazes de construir uma sociedade cuja pedra miliar seja o respeito pela dignidade inalienável de cada pessoa humana.

Sei que esta convicção é compartilhada pelos fiéis católicos de ritos oriental e latino da Etiópia e da Eritreia e estou persuadido de que os membros das outras Igrejas e Comunidades eclesiais nutrem os mesmos sentimentos. Analogamente, os vossos irmãos e irmãs muçulmanos, bem como os sequazes da religião tradicional africana, estão a passar pelas mesmas provações e sofrimentos do momento actual, e também eles aspiram à paz e à segurança. Meus queridos Irmãos, é vosso dever edificar sobre estes comuns sentimentos e promover todas as iniciativas destinadas ao restabelecimento da harmonia e da amizade que precedentemente caracterizavam as relações entre os vossos países. A Igreja católica no mundo inteiro apoia-vos nesta tarefa e não poupa esforços no sentido de promover a solidariedade e a coexistência pacífica entre os povos.

Com a crescente proximidade do Grande Jubileu do bimilenário do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo, reconfirmamos a nossa convicção de que «Cristo, morto e ressuscitado por todos (cf. 2Co 5,15) oferece à humanidade, pelo seu Espírito, luz e forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação» (Gaudium et spes, 10). Consequentemente, exorto-vos a abrir o vosso coração aos estímulos do Espírito Santo e a orientar com coragem o povo de Deus confiado aos vossos cuidados pastorais. Inspirai nele a santidade de vida e a ciência do Evangelho, as únicas que o podem induzir a dar testemunho da verdade, da justiça, da boa vontade e da fraternidade universais, que constituem os fundamentos da paz.

Rezo pelos vossos países e pelos seus líderes, a fim de que o coração de todos se abra para as veredas do diálogo e da paz. Renovo o meu apelo à comunidade internacional, para que preste a própria assistência em plena conformidade com o respeito pela independência dos vossos países e pela dignidade dos vossos povos. Uma forma prática de alcançar este resultado é a implementação imediata da «Framework of Peace» («Constituição da Paz»), proposta pela Organização da Unidade Africana e já aprovada pelos dois governos.

Confio a Igreja que está na Etiópia e na Eritreia a Maria, Mãe do Redentor que há dois mil anos trouxe ao mundo o Verbo encarnado, a Luz das Nações. Ela obtenha para vós, Pastores, e para os sacerdotes, os religiosos e os fiéis leigos das vossas Igrejas particulares o conforto da graça e a fortaleza da fé, da esperança e do amor que há-de sustentar todos vós nas actuais dificuldades. «Jesus Cristo, o único Salvador do mundo ontem, hoje e para toda a eternidade» (cf. Hb He 13,8) seja sempre a vossa esperança e o vosso encorajamento.

Em penhor da minha solicitude por vós e com a certeza duma solidariedade sincera, concedo-vos de coração a Bênção apostólica.

Vaticano, 27 de Abril de 1999.


Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 22 de Abril de 1999