Discursos João Paulo II 1999 - Terça-feira, 4 de Maio de 1999

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO 50° ANIVERSÁRIO


DO CONSELHO DA EUROPA




A Sua Excelência o Senhor JÁNOS MARTONYI
Ministro dos Assuntos Estrangeiros da Hungria
e Presidente da Comissão dos Ministros do Conselho da Europa

Quando os povos da Europa começaram a reconstruir a própria vida a seguir à II guerra mundial, aquele grande conflito que devastou o inteiro Continente durante seis anos, o desejo de criar uma nova ordem europeia encontrou a sua primeira expressão política e colegial na fundação do Conselho da Europa, cuja Carta foi assinada em Londres no dia 5 de Maio de 1949. Assim, este Conselho é o mais antigo dentre as instituições europeias e foi o primeiro a dedicar-se à criação de uma nova unidade entre os povos do Continente, baseando-se nos valores espirituais e morais que constituem a herança comum dos povos europeus. Os fundadores do Conselho da Europa afirmaram que tais valores são «a verdadeira fonte da liberdade individual, da liberdade política e da norma da lei» (Preâmbulo do Estatuto do Conselho da Europa, 1949), lançando desta forma os fundamentos para um novo projecto político europeu.

Esta nobre visão foi ulteriormente revigorada e adquiriu uma forma concreta no esboço da Convenção Europeia sobre os Direitos e as Liberdades Fundamentais do Homem, cujas salvaguarda e realização foram confiadas a um Tribunal europeu independente sobre os direitos do homem, com uma jurisdição pan-europeia que ainda hoje constitui um princípio sem precedentes, afirmando que – nos casos considerados pela Convenção – o respeito pelos direitos humanos transcende a soberania nacional e não pode ser subordinado a finalidades sociopolíticas, nem comprometido por interesses nacionais. O Tribunal demonstrou que a Convenção permanece como um instrumento eficaz na tutela dos direitos do indivíduo contra o uso impróprio do poder por parte do Estado.

Em 1949 o espírito da democracia europeia foi ulteriormente enobrecido pela instituição da primeira Assembleia parlamentar consultiva – única do seu género nessa época – que reuniu os representantes eleitos dos Parlamentos dos Estados membros do Conselho da Europa. É com especial alegria que evoco a minha visita ao Conselho da Europa em Estrasburgo, no ano de 1988. No discurso que proferi nessa ocasião, prestei homenagem à visão perceptiva dos fundadores do movimento europeu, que conseguiu ultrapassar as fronteiras nacionais, as antigas rivalidades e as animosidades históricas, em vista de lançar um novo projecto político em que as nações da Europa alcançassem e edificassem uma «casa comum», alicerçada nos indispensáveis valores do perdão, da justiça, da cooperação, da esperança e da fraternidade.

Como é oportuno que eu reitere agora aquilo que disse nessa ocasião: a Europa tem necessidade de redescobrir e tornar-se consciente dos valores comuns que forjaram a sua identidade e formam a sua memória histórica! O ponto fulcral da nossa comum herança europeia – religiosa, jurídica e cultural – é a singular e inalienável dignidade da pessoa humana. Interpretando esta rica herança histórica, o Conselho da Europa fez da proclamação e da salvaguarda dos direitos do homem o fundamento das suas iniciativas políticas. Na Declaração de Budapeste, comprometeis-vos em edificar esta Europa mais vasta sem fronteiras, afirmando «a primazia da pessoa humana na elaboração das [vossas] políticas» (n. 3).

O Conselho da Europa abriu as suas portas para receber as novas democracias da Europa Central e Oriental. Quando me dirigi pessoalmente pela última vez aos Membros do Conselho da Europa, a sua Assembleia era composta de vinte e um Estados, mas o número dos seus Membros aumentou e actualmente eles são quarenta e um.

O 50° aniversário de fundação do Conselho da Europa coincide com o 10° aniversário dos dramáticos eventos de 1989, que abriram o caminho para a reunificação deste Continente, com base nos ideais e princípios que são a herança comum dos Estados pertencentes à família europeia. Foram as «armas da verdade e da justiça» (Carta Encíclica Centesimus annus [1991], 23) – a verdade acerca do homem e a justiça a que todos os povos aspiram – promovidas pelo protesto pacífico, que provocaram a derrocada dos sistemas políticos que, construídos sobre uma ideologia alheia, tinham dividido os povos da Europa. O erro fundamental do totalitarismo era de natureza antropológica (cf. ibid., 13). O bem do indivíduo subordinou-se à ordem sociopolítica, e a sua consequência foi o desvanecimento da pessoa humana como sujeito moral. Deste equivocado conceito da pessoa derivou um profundo desvirtuamento da finalidade e da função da lei, que se tornou um instrumento de opressão e não de serviço. Mediante programas de assistência bem elaborados, destinados à promoção do desenvolvimento e da consolidação da estabilidade democrática nos Estados que obtiveram a própria independência no decurso dos últimos dez anos, o Conselho da Europa contribuiu para emendar esta deturpação e lançar os fundamentos da genuína democracia. Tendo em consideração as limitações dos actuais modelos de sociedade na promoção da liberdade política, da igualdade social e da solidariedade, é minha ardente esperança que o Conselho da Europa seja capaz de auxiliar os seus Estados membros e o inteiro Continente a enfrentar de forma criativa os novos desafios que se lhes apresentam.

Enquanto considero os esforços levados a cabo em vista de remover as causas da divisão política, estou persuadido de que haveis de apreciar o meu ardente desejo e a minha constante esperança de que as divisões religiosas na família europeia também possam ser superadas, de maneira especial agora que a Igreja está comprometida no fecundo diálogo com as outras comunidades religiosas, que também ofereceram a própria contribuição para a rica herança espiritual e cultural da Europa.

Estou plenamente consciente – e compartilho-a de modo profundo – da apreensão do Conselho da Europa perante os trágicos e violentos acontecimentos que engolfaram os Balcãs e de forma particular o Kossovo. Exorto-vos a não perder a esperança mas a continuar os vossos meritórios esforços em ordem a contribuir para pôr termo à violação dos direitos humanos fundamentais e ao menosprezo pela dignidade do homem. É necessário encontrar instrumentos respeitosos da lei e da história, que satisfaçam as condições para a construção de um futuro positivo para as Nações envolvidas neste conflito. Encorajo-vos a perseverar na excelsa vocação, que consiste em procurar realizar uma nova ordem europeia fundamentada na prioridade dos direitos do homem, nos princípios da democracia e na norma da lei. Assim que terminarem as devastações da guerra, o Conselho da Europa será a instituição europeia mais eminentemente preparada para criar uma nova cultura política no sudeste do continente e para ser um centro de reconciliação entre povos cujas energias físicas, morais e espirituais foram dissipadas pela violência e pela destruição. Ao Presidente da Comissão dos Ministros e ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, aos Ministros dos Negócios Estrangeiros e aos Representantes dos Estados membros e dos Estados candidatos do Conselho da Europa reunidos em Budapeste, bem como aos Representantes dos Estados observadores e aos Oficiais Decanos do Conselho da Europa, transmito as minhas cordiais saudações e rezo para que Deus abençoe abundantemente e recompense os vossos esforços destinados a fortalecer e a corroborar a unidade dos povos da Europa.



Vaticano, 5 de Maio de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CORPO DA PONTIFÍCIA GUARDA SUÍÇA


POR OCASIÃO DO JURAMENTO DOS NOVOS RECRUTAS


Quarta-feira, 6 de Maio de 1999



Senhor Comandante
Queridos Guardas
Prezados familiares e amigos do Corpo da Guarda Suíça!

1. Desde o início da existência do Corpo da Guarda Suíça, une-vos neste dia uma ininterrupta tradição, que vos recorda o particular empenho pelo bem e a vida do Sucessor de São Pedro. Deste modo, também neste ano é para mim uma grande alegria receber-vos no Palácio Apostólico, assim como os vossos pais, parentes e amigos. Dirijo particulares boas-vindas aos novos recrutas que, mediante o juramento, serão introduzidos na vossa Corporação. Com isto eles empenham-se em dedicar alguns anos da própria vida a uma tarefa muito honrosa e plena de responsabilidades no centro da Igreja universal.

2. Caros recrutas, escolhestes dedicar-vos a um serviço profundamente eclesial e desejais, através dele, dar testemunho ao mundo.

De coração estou-vos grato por isto. Prestais o vosso serviço não como indivíduos, mas como comunidade. Num dia de festa como hoje, é uma bênção estardes circundados e sustentados por inúmeras pessoas. Porém, viver esta comunidade todos os dias é também um desafio. Se jovens homens, como os membros da Guarda Suíça, estão dispostos a percorrer juntos um certo trecho da estrada, então devem olhar as próprias esperanças e angústias, as próprias expectativas e necessidades reflectidas no espelho das comunidades que existiam na origem da Igreja.

As relações de vida entre as pessoas, também entre os discípulos de Jesus, nos tempos bíblicos eram as mesmas de agora. As Sagradas Escrituras não negam que no início algumas pessoas seguiram São Paulo, mas depois se separaram dele, para percorrerem a própria estrada. Nem sempre reinava uma harmonia total, pois o carácter, o temperamento e os interesses eram muito diferentes. Contudo, dos discípulos que serviram Jesus desprendeu-se uma força que atraía e envolvia. Paulo, que como nenhum outro pôde experimentar quanto Deus consegue escrever nas linhas tortas da vida, explicou sempre nos seus escritos como Deus amava o Seu povo e não o abandonava nos altos e baixos da sua história, na tensão entre fé e rejeição. Deus deu-nos a realização definitiva desta Sua constante solicitude para com os homens, através do seu Filho Jesus, que nos foi entregue «segundo a promessa como Salvador» (Ac 13,23).

3. Caros Guardas, quereria encorajar-vos a dar, com alegria e vigor juvenil, testemunho do amor de Deus em Jesus Cristo. Este testemunho é expresso, de modo particular, em duas direcções: ao entrardes no Corpo da Guarda Suíça, manifestais a vossa intenção de querer dedicar o vosso serviço de modo especial ao Santo Padre, ao qual é confiado o cuidado pastoral de todo o rebanho (cf. Jo Jn 21). Além disso, mediante o vosso empenho nos diversos sectores de trabalho da vossa Corporação, dais diante dos homens testemunho de quem é o vosso Senhor e dos motivos que inspiram a vossa actividade.

4. Com isto desejo exprimir um pensamento que me está particularmente a peito. Os vossos esforços, voltados para a formação e o regulamento do serviço, são importantes para adquirirdes uma justa idoneidade e uma competência profissional. É também importante que utilizeis a vossa permanência em Roma como oportunidade única para evidenciar o perfil do vosso modo de ser cristãos. Penso sobretudo na vossa vida espiritual, que vos deve apresentar a questão sobre o desígnio que Deus tem para cada um de vós. Ao mesmo tempo, recordo como são importantes as relações recíprocas, que são próprias dos irmãos que se definem «cristãos», tanto no desempenho do serviço como no tempo livre. Às vezes, um diálogo autêntico e fraterno pode ser fadigoso e exigente, mas se for conduzido de maneira autêntica e honrosa, permite às pessoas desenvolver-se como pessoas amadurecidas.

5. Aproveito a ocasião, caros jovens guardas, para vos desejar que vivais um período feliz na Cidade eterna. Convido os guardas que garantem desde há longo tempo o seu serviço no seio da Corporação, assim como os responsáveis pelo comando, a favorecerem relações de confiança capazes de sustentar e encorajar todos os membros da Guarda Suíça, mesmo nos momentos difíceis. Faço votos por que, durante o vosso serviço em Roma, os vínculos com os vossos pais, parentes e amigos que tendes no vosso País, permaneçam vivos. Então, todos se alegrarão convosco pela extraordinária oportunidade que vos é dada, para fazerdes novas experiências que produzirão frutos.

Ao invocar sobre vós a intercessão da Virgem Maria e dos vossos Santos Padroeiros, Nicolau de Flüe, Martinho e Sebastião, concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica, que faço extensiva a todas as pessoas vindas para vos circundar no momento do vosso juramento.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO PRIMEIRO


SÍNODO DIOCESANO DA IGREJA


ORDINARIATO MILITAR DA ITÁLIA


Quinta-feira, 6 de Maio de 1999



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Com grande prazer dou as minhas boas-vindas a cada um de vós, membros das Forças Armadas Italianas, que em tão grande número quisestes visitar-me na conclusão do primeiro Sínodo da Igreja Ordinariato Militar. Saúdo com afecto o vosso Pastor, D. Giuseppe Mani, e agradeço-lhe as amáveis expressões que me dirigiu em nome dos presentes. Com ele saúdo os Ordinários Militares de outras Nações, que compartilharam convosco este momento de viva comunhão. O meu cordial pensamento dirige-se, além disso, aos Representantes das diversas Confissões religiosas, empenhados na assistência espiritual aos militares, que quiseram enriquecer com a sua presença os vossos trabalhos sinodais.

Desejo depois agradecer ao Senhor Ministro da Defesa, aos Ilustres Suboficiais e aos Chefes do Estado-Maior a sua significativa participação num evento tão importante da Igreja Ordinariato Militar. É-me grato, por fim, fazer chegar a minha afectuosa saudação aos Capelães e às Religiosas, que oferecem o seu precioso apoio moral e espiritual a quantos prestam tão importante serviço à Comunidade nacional. Também a todos aqueles que a vários títulos colaboram com as Forças Armadas, apresento ardentes votos de paz e de bem no Senhor ressuscitado.

2. A assistência espiritual aos militares italianos, desde a unidade da Itália, constituiu um constante empenho para a Igreja que, através da acção generosa de muitos sacerdotes, se preocupou por não fazer faltar a Palavra de Deus e os Sacramentos a todos os que estavam empenhados no serviço à Pátria. Essa presença tornou-se mais difundida e orgânica depois da primeira guerra mundial, quando a Santa Sé, em entendimento com as Autoridades do Estado italiano, assegurou a assistência espiritual às Forças Armadas, constituindo o Vicariato Castrense para a Itália com um Ordinário Militar.

Os Capelães desempenham um papel espiritual e humano insubstituível, compartilhando a vida e os problemas dos militares e oferecendo a todos a luz do Evangelho e a Graça divina. Nesta actividade, muitas vezes humilde e escondida, distinguiram-se esplêndidas figuras de sacerdotes, que honraram a Igreja e as Forças Armadas.

Entre estes, é-me grato recordar o Beato Segundo Pollo, sacerdote zeloso e apreciado educador dos jovens, que concluiu a sua vida terrena com apenas 33 anos de idade, no dia 26 de Dezembro de 1941, na frente de guerra em Montenegro, atingido por uma rajada de metralhadora enquanto socorria os seus alpinos feridos numa emboscada. A ele, imolado na violência da luta naquela mesma Região balcânica, onde de novo ressoa o trágico fragor das armas, peçamos que obtenha para aquela martirizada terra o dom duma paz duradoura e respeitosa dos direitos de cada povo.

3. O providencial impulso à sadia actualização impresso pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, graças à acção sábia e generosa dos Ordinários Militares e dos Capelães, encontrou pronto acolhimento entre o povo cristão militar, suscitando nova consciência de Igreja e renovado empenho sobretudo entre os fiéis leigos. Passou-se assim de um «serviço de Igreja», oferecido aos militares, a uma «Igreja de serviço», reunida entre quantos no mundo militar são chamados a exercer o seu sacerdócio baptismal, trabalhando para a convivência pacífica entre os homens, em união com aqueles que, com o sacrifício da vida, deram o supremo testemunho do amor.

Com a Constituição Apostólica Spirituali militum curae, de 1986, desejei encorajar esse caminho promissor, configurando a Igreja Ordinariato Militar como Igreja particular, territorial, pessoal, que no próprio nome exprime a sua natureza teológica, a sua estrutura de organização e a sua especificidade. Dela fazem parte os baptizados militares, os seus familiares e parentes, assim como os colaboradores que habitam na mesma casa, e quantos por lei são assumidos a Serviço das Forças Armadas ou a ela estão ligados.

Com o encontro hodierno conclui-se o primeiro Sínodo da vossa Igreja particular, celebrado precisamente na vigília do Grande Jubileu do Ano 2000. Nestes três anos de oração e de reflexão, sob a guia do vosso Pastor, tivestes a oportunidade de reler, à luz da Palavra de Deus, o plano que o Senhor tem para a vossa Comunidade eclesial, da qual aprofundastes a identidade de povo de Deus congregado entre os militares na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Como consequência, interrogastes-vos sobre o modo de anunciar o Evangelho no âmbito da vida militar hodierna.

Quantas novas perspectivas de evangelização e de serviço se abrem à Igreja Ordinariato Militar, no limiar do novo Milénio cristão!

4. Nas sociedades democráticas vai-se afirmando sempre mais a convicção de que as Forças Armadas são chamadas a ser instrumento de paz e de concórdia entre os povos e de apoio aos mais débeis. Como não recordar, a esse respeito, as numerosas missões, durante as quais os militares estiveram na primeira linha para oferecer a sua ajuda generosa às populações atingidas por calamidades naturais ou por tragédias humanitárias? Como não pensar com admiração nos perigos e sacrifícios que são encontrados por todos os que realizam obras de pacificação em países devastados por absurdas guerras civis? Com estas intervenções, os militares afirmam-se sempre mais como defensores dos valores inalienáveis do homem, tais como a vida, a liberdade, o direito e a justiça. Esta concepção da vida militar está em sintonia com a mensagem evangélica que abre à Igreja Ordinariato Militar não poucas oportunidades pastorais. No vosso ministério encontrais, todos os anos, a maior parte da juventude, chamada a transcorrer alguns meses sob as armas. Trata-se de uma peculiaridade que faz a vossa Igreja aparecer como uma família com muitos filhos jovens e vos dá a ocasião de entrar em contacto com o mundo juvenil, com as suas esperanças e as suas desilusões.

As expectativas e as problemáticas juvenis, assim como os desafios que elas constituem para a vossa Igreja Ordinariato Militar, tiveram grande espaço na Assembleia sinodal. Ao exprimir o meu apreço pelo trabalho realizado, desejo exortar-vos a olhar para o mundo dos jovens com confiança, certos de que qualquer palavra, cada gesto de atenção concreta, todo o afã por abrir o coração deles a Cristo produzirá abundantes e generosos frutos de bem no seu espírito.

Convido-vos, além disso, a pôr todo o cuidado em serdes no meio deles antes testemunhas que mestres, e ícones vivos dos valores que anunciais. Sede para eles seguras guias espirituais e sustentai-os todos os dias com a vossa oração e o vosso exemplo.

5. Como foi recordado no início pelo vosso Arcebispo, o mundo militar, tanto no passado como no presente, apresenta-se com frequência como veículo de evangelização e lugar privilegiado para alcançar os cumes da santidade: penso nos centuriões do Evangelho, penso nos primeiros soldados mártires e em quantos ao longo da história, servindo um soberano terreno, aprenderam a tornar-se soldados e testemunhas do único Senhor, Jesus Cristo.

O meu pensamento dirige-se, em particular, para o Servo de Deus, o Brigadeiro dos Carabineiros Salvo D'Acquisto, que em circunstâncias muito difíceis soube testemunhar, com o dom da vida, a fidelidade a Cristo e aos irmãos. Esta esplêndida plêiade de fiéis e de santos encoraja-vos a prosseguir no vosso apostolado. Formulo votos por que a celebração do primeiro Sínodo suscite em vós entusiasmo e criatividade para vos tornardes sempre mais, dentro das Forças Armadas, fermento fecundo de esperança e de salvação.

Com estes sentimentos, enquanto invoco a materna protecção de Maria, Rainha da Paz, concedo de coração à Igreja Ordinariato Militar, ao seu Pastor e a cada um de vós, uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA CONFERÊNCIA METODISTA


DA GRÃ-BRETANHA


Quarta-feira, 6 de Maio de 1999



Dilecto Professor Stephens
Estimados Amigos

No amor da Santíssima Trindade, dou-vos as boas-vindas e agradeço a Vossa Excelência as suas amáveis palavras. Mais do que nunca neste período pascal, nós cristãos olhamos para o Senhor ressuscitado, em Quem encontramos a esperança que nos impele ulteriormente na busca da unidade cristã, a qual é tanto a vontade de Cristo como a aspiração dos nossos corações. O encontro hodierno constitui um sinal do longo caminho que percorremos nesta busca e do nosso profundo desejo de continuar nesta senda. É o momento de agradecermos e renovarmos a esperança que nos constrange.

No seu recente relatório «Revelation and Faith», a Comissão Conjunta para o Diálogo entre a Igreja Católica e o Conselho Metodista Mundial inspirou-se nas palavras do Apóstolo João: «O Verbo da vida... manifestou-se, nós vimo-la, damos testemunho e vos anunciamos esta vida eterna que estava no Pai e que nos foi manifestada» (1Jn 1,1-2). É o próprio Verbo que nos congrega na unidade. Só se escutarmos e virmos Jesus, haveremos de encontrar a força para dar testemunho conjunto da vida eterna que o Pai nos concedeu no Filho. Por conseguinte, rezo para que os contactos ecuménicos entre católicos e metodistas sejam uma genuína experiência de escuta e visão do Verbo, a fim de que o nosso diálogo nos torne capazes de ser testemunhas cada vez mais convincentes perante o mundo.

Enquanto dou graças a Deus por tudo aquilo que estais a levar a cabo ao serviço do diálogo ecuménico, invoco cordialmente sobre vós e os vossos colegas metodistas o júbilo e a paz do Senhor ressuscitado.



JOÃO PAULO II



DURANTE A CERIMÓNIA


DE ACOLHIMENTONO AEROPORTO BANEASA


Sexta-feira, 7 de Maio de 1999

: Senhor Presidente
Distintos Representantes do Governo
Senhor Patriarca Teoctisto
Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Com grande alegria chego neste dia à Roménia, nação a mim tão cara e que há muito tempo desejava visitar. Com profunda emoção beijei a sua terra, grato antes de tudo a Deus omnipotente que, na sua próvida benevolência, me concedeu ver realizado este desejo.

A expressão da minha gratidão dirige-se depois a Vossa Excelência, Senhor Presidente, pelo seu insistente convite e pelas amáveis palavras com que me manifestou os sentimentos dos seus colaboradores e do inteiro povo romeno. Apreciei muito as suas cordiais palavras de boas-vindas e conservo-as na alma, enquanto evoco com gratidão a visita que Vossa Excelência me fez em 1993, então na qualidade de Reitor da Universidade de Bucareste e de Presidente da Conferência dos Reitores das Universidades da Roménia. Em Vossa Excelência, primeiro cidadão desta nobre nação, vejo representada a inteira população e sinto profunda necessidade de lhe enviar uma calorosa saudação de fraternidade e de paz, a começar pela população da Capital até aos habitantes das mais distantes aldeias.

2. Depois, de maneira especial agradeço-lhe, Beatitude Teoctisto, Patriarca da Igreja Ortodoxa Romena, as expressões fraternas que quis manifestar-me, bem como o convite que me dirigiu gentilmente para visitar a Igreja Ortodoxa Romena, majoritária no País. É a primeira vez que a Providência divina me oferece a possibilidade de realizar uma viagem apostólica a uma nação de maioria ortodoxa, e isto certamente não teria sido possível sem a disponível e fraterna condescendência do Santo Sínodo da veneranda Igreja Ortodoxa Romena e sem o seu consenso, Senhor Patriarca, com quem terei, amanhã e no domingo, especiais e esperados encontros.

Neste momento histórico, não posso deixar de recordar a visita que Vossa Beatitude me fez há dez anos, no Vaticano, manifestando a firme vontade de estreitar livremente aquelas amistosas relações eclesiais, que pareciam profícuas para o povo de Deus. Espero que esta minha visita contribua para cicatrizar as feridas infligidas nas relações entre as nossas Igrejas, durante os passados cinquenta anos, e para inaugurar uma época de colaboração confiante e recíproca.

3. Por fim, saúdo afectuosamente Vossa Excelência, D. Lucian Muresan, venerado Arcebispo de Fagaras e Alba Julia e Presidente da Conferência dos Bispos da Roménia, e todos vós, Irmãos no Episcopado de rito bizantino-romeno e de rito latino, com um particular pensamento para o Arcebispo de Bucareste, D. Ioan Robu. Renovo-vos toda a minha gratidão pela amável insistência com que me convidastes a visitar-vos. Estou deveras feliz pelo facto de este sonho se realizar hoje e por isto, juntamente convosco, dou graças ao Senhor.

Eis-me finalmente no meio de vós, peregrino de fé e de esperança. Num abraço afectuoso e comovido estreito todos vós, caríssimos Irmãos e Irmãs católicos de todas as comunidades e dioceses, sacerdotes, consagrados e leigos, enquanto vos saùdo com as palavras do apóstolo Paulo: «Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (1Co 1,3).

Esta minha visita quer confirmar aqueles vínculos entre a Roménia e a Santa Sé, que tiveram tanto relevo para a história do Cristianismo na região. Como se sabe, segundo a tradição a fé foi trazida a estas terras pelo irmão de Pedro, o apóstolo André, o qual selou a sua incansável obra missionária com o martírio em Patras. Outras eminentes testemunhas do Evangelho, como Saba o Godo, Niceta de Remesiana, proveniente de Aquileia, e Lourenço de Novae continuaram a sua obra e, durante as perseguições dos primeiros séculos, multidões de cristãos sofreram o martírio: são os mártires dácio-romanos, como Zoticos, Atalos, Kamasis e Filipe, cujo sacrifício contribuiu para enraizar profundamente a fé cristã na vossa Terra.

A semente do Evangelho, caída em solo fértil, produziu no arco destes dois milénios numerosos frutos de santidade e de martírio. Penso em São João Cassiano e Dionísio, o Exíguo, que contribuíram para a transmissão dos tesouros espirituais, teológicos e canónicos do Oriente grego ao Ocidente latino; penso no santo rei Estêvão, «um verdadeiro atleta da fé cristã», como o definiu o Papa Sisto IV, e em tantos outros fiéis servidores do Evangelho, entre os quais o príncipe e mártir Constantino Brancovan e, mais recentemente, os numerosos mártires e confessores da fé do século XX.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Roménia! A vossa Pátria conheceu neste século, que se encaminha para o fim, os horrores de duros sistemas totalitários, compartilhando no sofrimento a sorte de numerosos outros Países da Europa. O regime comunista suprimiu a Igreja de rito bizantino-romeno unida a Roma, e perseguiu Bispos e sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, não poucos dos quais pagaram com o sangue a sua fé em Cristo. Alguns sobreviveram às torturas e ainda estão entre nós. O meu pensamento comovido dirige-se aqui ao benemérito e caríssimo Cardeal Alexandru Todea, Arcebispo emérito de Fagaras e Alba Julia, o qual passou 16 anos no cárcere e 27 no exílio. Ao prestar homenagem a ele que, na doença aceite com paciência cristã da mão de Deus, prossegue o seu fiel serviço à Igreja, quereria tributar o devido reconhecimento também àqueles que, pertencentes à Igreja Ortodoxa Romena e a outras Igrejas e Comunidades religiosas, sofreram perseguições análogas e graves limitações. A morte uniu estes nossos irmãos de fé no heróico testemunho do martírio: eles deixam-nos uma inesquecível lição de amor a Cristo e à sua Igreja.

5. Graças a Deus, após o duro inverno da dominação comunista, teve início a primavera da esperança. Com os históricos eventos de 1989, também a Roménia iniciou um processo de restabelecimento do estado de direito no respeito das liberdades, entre as quais a religiosa. Trata-se, porém, dum processo não isento de obstáculos que, dia após dia, deve ser prosseguido salvaguardando a legalidade e consolidando as instituições democráticas. Faço votos por que, neste esforço de renovação social, não falte à vossa nação o apoio político e financeiro da União Europeia, à qual a Roménia pertence por história e cultura.

Para cicatrizar as feridas dum recente passado difícil e doloroso, sã necessárias paciência e sabedoria, espírito de audácia e de honestidade. Esta tarefa, cansativa mas exaltante, compete a todos; trata-se dum desafio sobretudo para vós, caros jovens, que sois o futuro deste generoso povo. Não tenhais medo de assumir com coragem as vossas responsabilidades e de olhar para o futuro com confiança. Por sua parte, a Igreja católica está pronta a oferecer o seu contributo, esforçando-se com todos os meios possíveis para contribuir para a formação de cidadãos atentos às verdadeiras exigências do bem comum.

Roménia, País ponte entre o Oriente e o Ocidente, encruzilhada entre a Europa Central e a Oriental, Roménia, que a tradição qualifica com o esplêndido título de «Jardim de Maria», venho a ti em nome de Jesus Cristo, Filho de Deus e da Virgem Santíssima. No limiar do novo milénio, baseia ainda o teu futuro sobre a sólida rocha do seu Evangelho. Com a ajuda de Cristo serás protagonista dum renovado período de entusiasmo e de coragem. Serás nação próspera, terra fecunda de bem, povo solidário e construtor de paz.

Deus te proteja e sempre te abençoe!



JOÃO PAULO II


SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


NO FINAL DA VISITA À CATEDRAL


PATRIARCAL DE BUCARESTE


Sexta-feira, 7 de Maio de 1999


1. «O Deus da paz esteja com todos vós» (Rm 15,32).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, desejo saudar-vos com as palavras que o Apóstolo Paulo dirigiu aos Romanos, para vos manifestar o meu afecto e a alegria profunda que sinto ao encontrar-me pela primeira vez no meio de vós, aqui na Roménia, juntamente com Sua Beatitude o Patriarca Teoctisto. Agradeço-vos o festivo e caloroso acolhimento, que brota da fé nµAquele que está sempre presente onde dois ou três estão reunidos no seu nome: Jesus Cristo, nosso Senhor (cf. Mt Mt 18,20).

2. Cristo acompanha desde sempre as vicissitudes da Nação romena. Com efeito, como não recordar que a evangelização e a formação das primeiras comunidades cristãs coincidiram com a própria formação do vosso antigo e nobre Povo? Como deixar de notar com gratidão que, desde o início, o Evangelho impregnou profundamente a vida e os costumes, tornando-se fonte de civilização e princípio de síntese entre os diversos aspectos da sua cultura? Graças à fé cristã, este País, ligado à memória de Trajano e à romanidade, que evoca no próprio nome o Império Romano mas traz em si também a marca da civilização bizantina, tornou-se ao longo dos séculos uma ponte entre o mundo latino e a ortodoxia, assim como entre a civilização helénica e os povos eslavos.

A história da vossa fé é representada de maneira significativa pelas pinturas, presentes em inúmeras fachadas das vossas igrejas que, apesar dos ventos e das chuvas, continuam a anunciar o amor de Deus pelos homens. Também os romenos, nas trágicas vicissitudes históricas, passadas e recentes, conservaram com coragem o dom da fé cristã, resistindo a perseguições violentas e a propostas insidiosas de uma vida sem Deus.

Ao dar graças ao Senhor por tantos testemunhos luminosos, que floresceram na terra romena, formulo votos por que a fé em Cristo se enraize sempre mais nos vossos corações e resplandeça na vossa vida, para ser transmitida íntegra às gerações futuras.

3. Caros romenos, o Senhor acompanhe o caminho do vosso Povo rumo ao terceiro milénio cristão! Suscite nos vossos corações projectos e esperanças de bem e vos dê a força para construirdes a civilização do amor, fundada sobre a justiça e a solidariedade, sobre o empenho em prol do bem comum e de uma convivência verdadeiramente fraterna.


Discursos João Paulo II 1999 - Terça-feira, 4 de Maio de 1999