Discursos João Paulo II 1999 - Sábado, 8 de Maio de 1999

DECLARAÇÃO CONJUNTA


DO PAPA JOÃO PAULO II


E O PATRIARCA ORTODOXO TEOCTISTO


SOBRE A URGÊNCIA DA PAZ NOS BALCÃS




Enquanto estamos reunidos na fraternidade e na caridade, que haurem a sua fonte em Cristo ressuscitado, «Caminho, Verdade e Vida» (cf. Jo Jn 14,6) para toda a humanidade, o nosso afectuoso pensamento dirige-se aos irmãos e irmãs da República Federal da Jugoslávia, sobrecarregados de inúmeras provações e sofrimentos.

Pais e Servidores das nossas comunidades, unidos a todas as pessoas que têm como missão anunciar ao mundo de hoje Aquele que nos «chamou para a paz» (cf. 1Co 7,15), unidos especialmente aos Pastores das nossas Igrejas na terra dos Balcãs, desejamos:

– exprimir a nossa solidariedade humana e espiritual por todos aqueles que, tendo sido expulsos da própria casa e terra, e separados dos seus entes queridos, conhecem a cruel realidade do êxodo, bem como pelas vítimas de bombardeamentos mortíferos e por todas as populações impedidas de viver na serenidade e na paz;

– apelar em nome de Deus a todos aqueles que, de alguma maneira, são responsáveis pela tragédia actual, a fim de que tenham a coragem de retomar o diálogo e encontrar as condições aptas para fazer amadurecer uma paz justa e duradoura que permita o regresso das pessoas deslocadas aos seus lares, abrevie os sofrimentos de todos aqueles que vivem na República Federal da Jugoslávia, sérvios, albaneses e as pessoas de outras nacionalidades, e lance as bases para uma nova convivência entre os povos da Federação;

– encorajar a comunidade internacional e as suas instituições a pôr em prática todos os recursos do direito, para ajudar as partes em conflito a resolver as suas contendas em conformidade com as convenções em vigor, especialmente aquelas que estão relacionadas com o respeito pelos direitos fundamentais da pessoa e com a colaboração entre Estados soberanos;

– auxiliar todas as organizações humanitárias, em particular aquelas de inspiração cristã, que se dedicam ao alívio dos sofrimentos do momento actual, pedindo instantemente que não se coloque qualquer obstáculo à sua acção mediante a qual, sem qualquer distinção de nacionalidade, língua ou religião, elas procuram socorrer todos aqueles que são provados;

– enfim, apelar aos cristãos de todas as Confissões a empenhar-se concretamente e a unir-se numa oração unânime e incessante pela paz e a compreensão entre os povos, confiando estas intenções à santíssima Virgem, a fim de que Ela interceda junto do seu Filho, que «é a nossa paz» (Ep 2,14).

Em nome de Deus, Pai de todos os homens, pedimos de maneira instante às partes interessadas no conflito que deponham definitivamente as armas, e exortamos de coração as partes presentes a realizar gestos proféticos, para que um novo estilo de vida nos Balcãs, caracterizado pelo respeito de todos, pela fraternidade e pela convivência, seja possível nesta querida terra. Isto constituirá perante o mundo um sinal poderoso, o qual demonstrará que, juntamente com toda a Europa, o território da República Federal da Jugoslávia pode tornar-se um lugar de paz, de liberdade e de concórdia para todos os seus habitantes.

Bucareste, 8 de Maio de 1999.



JOÃO PAULO II TEOCTISTO


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À ROMÉNIA

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA


DO POVO DA ROMÉNIA


Domingo, 9 de Maio de 1999



1. No momento de deixar esta amada terra da Roménia, dirijo antes de tudo a Vossa Excelência, Senhor Presidente, a minha saudação e o meu agradecimento pelo acolhimento que me reservou. Faço extensivos estes sentimentos, por seu intermédio, a todo o querido povo romeno que, nestes dias, senti estreitar-se à minha volta, com calor e entusiasmo.

Dirijo uma saudação particular a Sua Beatitude o Patriarca Teoctisto, aos Metropolitas, aos Bispos e ao inteiro povo da venerável Igreja Ortodoxa da Roménia. Abraço fraternalmente os Bispos e as Comunidades católicas, de rito tanto bizantino como latino, todas presentes no meu coração. A minha saudação dirige-se, além disso, às outras Confissões cristãs e aos membros das demais religiões presentes no País.

2. Foram dias de emoções profundas, que vivi com intensidade e que permanecerão marcadas de maneira indelével na minha alma. Recebemos como um dom da mão de Deus os eventos de que juntos fomos partícipes, esperando que possam produzir frutos de graça, tanto para os cristãos como para o inteiro povo da Roménia. O vosso País tem como que inscrita nas suas raízes uma singular vocação ecuménica. Pela posição geográfica e pela sua longa história, pela cultura e tradição, a Roménia é uma casa onde o Oriente e o Ocidente se encontram em natural diálogo.

Também a Igreja aqui respira, de modo particularmente evidente, com os seus dois pulmões. E nestes dias pudemos experimentá-lo. Uns ao lado dos outros, como Pedro, André e os outros apóstolos reunidos em oração com a Mãe de Deus no primeiro cenáculo, vivemos um novo Pentecostes espiritual. O vento do Espírito Santo soprou com força sobre esta terra, e impeliu-nos a ser mais firmes na comunhão e mais audazes no anúncio do Evangelho. A língua nova que nos foi dada, a lingua da comunhão fraterna, foi por nós posta em prática e saboreámos a sua doçura e beleza, a sua força e eficácia.

3. Enquanto se está para abrir a porta do terceiro milénio, é-nos pedido que saiamos dos nossos habituais confins para fazermos sentir, com maior vigor, o vento do Pentecostes nos Países do velho continente e até aos extremos confins do mundo. Infelizmente, o fragor ameaçador das armas parece prevalecer sobre a voz persuasiva do amor e o desencadear-se da violência está a reabrir as feridas que, com fadiga e paciência, se procurava cicatrizar.

Renovo os votos por que se chegue finalmente a depor as armas, para voltar a reencontrar e a empreender novos e mais eficazes diálogos de comunhão e de paz! A este propósito, compete aos cristãos um papel importante, qualquer que seja a Confissão a que pertencem. Hoje, eles são chamados a viver e a manifestar com maior audácia a sua fraternidade, para que os povos possam ser encorajados, ou melhor, impelidos a reencontrar e consolidar aquilo que os irmana. O evento espiritual que vivemos, abençoado por São Demétrio e pelos santos mártires das últimas décadas, é uma experiência a conservar e a transmitir, na esperança de que o novo milénio que se abre diante de nós, seja um tempo de renovada comunhão entre as Igrejas cristãs e de descoberta da fraternidade entre os povos. É este o sonho que levo comigo enquanto deixo esta terra a mim tão querida.

4. Quereria confiar este sonho a todos vós. Em particular desejaria entregá-lo aos jovens. Sim, a vós, caros jovens da Roménia! Desejaria encontrar-vos pessoalmente; infelizmente não foi possível. Nesta noite, faço minhas as palavras com que Pedro, quando o dia de Pentecostes estava para terminar, anunciou àqueles que o escutavam a realização da promessa de Deus: «Derramarei o Meu Espírito sobre toda a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar; os vossos jovens terão visões e os vossos velhos terão sonhos» (Ac 2,17). Nestes dias o Espírito entrega a vós, jovens, o «sonho» de Deus: que todos os homens façam parte da sua família, que todos os cristãos sejam um só. Entrai com este sonho no novo milénio!

Vós que fostes libertados do pesadelo da ditadura comunista, não vos deixeis enganar pelos sonhos falazes e perigosos do consumismo. Também eles matam o futuro. Jesus faz com que sonheis uma Roménia nova, uma terra onde o Oriente e o Ocidente se possam encontrar com fraternidade. Esta Roménia é confiada às vossas mãos. Construí-a juntos, com audácia. O Senhor confia-a a vós. Confiai-vos a Ele, sabendo que «se não for o Senhor a edificar a casa, em vão trabalham os construtores» (Sl 126[127], 1).

O Senhor abençoe a Roménia, abençoe o seu povo, abençoe a Europa!



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO ENVIADO ESPECIAL ÀS CELEBRAÇÕES


DO CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL ESPANHOL




Ao Senhor Card. António Maria ROUCO VARELA
Arcebispo de Madrid
Presidente da Conferência Episcopal Espanhola

1. Os Pastores e os fiéis das Comunidades eclesiais de Espanha, com o olhar fixo no mistério da Encarnação do Filho de Deus, que se comemorará no Grande Jubileu do Ano 2000, desejaram reunir-se em Santiago de Compostela, junto do sepulcro do Apóstolo, para proclamar e celebrar a sua fé em Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, presente na Eucaristia. Desta forma, a «Statio Ecclesiarum Hispaniae» com que se encerra o Congresso Eucarístico Nacional de Santiago prepara e anuncia a «Statio Orbis» do XLVII Congresso Eucarístico Internacional do próximo ano em Roma. Com este grande acontecimento desejei ressaltar que o Ano jubilar deve ser «intensamente eucarístico» (Cf. Tertio millenio adveniente TMA 55) para celebrar Jesus Cristo, único Salvador do mundo, pão da vida nova, «o mesmo ontem, hoje e sempre» (He 13,8). De facto, Cristo na Eucaristia faz-nos sentir a sua presença e companhia. Convida-nos a olhar para o Grande Jubileu do Ano 2000 não como a recordação dum simples facto do passado, mas como a comemoração da entrada definitiva de Deus no mundo com a Encarnação do Verbo, a fim de permanecer sempre connosco até ao fim dos tempos.

Por este motivo, em atitude de oração e de adoração, uno-me a vós, Pastores e fiéis congregados em Santiago, para celebrar este acontecimento eclesial que tem como centro a Eucaristia, «sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal» (Sacrosanctum concilium SC 47).

2. A solene celebração deste Congresso é um momento importante do triénio de preparação para o Jubileu do Ano 2000, que teve etapas tão significativas no Congresso de Pastoral Evangelizadora de Madrid em 1997 – sobre o tema «Jesus Cristo, a Boa Notícia» – e os Congressos Mariológico e Mariano de Saragoça em 1998, sobre «Maria, Evangelho vivido».

A Cidade de Santiago de Compostela, lugar desta grande assembleia eucarística, tem sem dúvida um significado singular. A memória deste Apóstolo recorda-nos que ele foi testemunha da instituição da Eucaristia na última Ceia, bem como da glória de Cristo na Transfiguração e da sua angústia no Horto das Oliveiras. São Tiago, «o primeiro dos apóstolos que bebeu o cálice do Senhor» (Prefácio da Missa de Santiago), não só transmitiu à Igreja, como os outros apóstolos, o memorial da Ceia do Senhor e a fé no mistério eucarístico, mas também celebrou com o seu próprio martírio o significado mais profundo da Eucaristia, entregando o seu corpo e derramando o seu sangue.

3. A Igreja de Compostela conserva a memória deste Apóstolo, o Senhor São Tiago, amigo de Cristo e dos cristãos. O «Campo Estrela», que segundo a tradição acolheu e conserva as relíquias do Apóstolo, foi ao longo dos séculos meta de numerosas peregrinações, de caminhos percorridos pelos fiéis de muitas partes da terra.

Uma peregrinação que, no tradicional caminho de Santiago, produzia frutos de verdade e de vida; assinalada pela penitência e a conversão e alimentada pela meditação da Palavra; vivida numa dimensão de caridade exemplar, sem fronteiras de nacionalidade ou de raça, por quantos praticavam as obras de misericórdia, davam e recebiam ajuda das hospedarias, hospitais e mosteiros. Peregrinação empreendida para alcançar o «grande perdão» e a plena reconciliação com Deus, por meio de Jesus Cristo e com a intercessão do Apóstolo.

O lema do Congresso alude à peregrinação comunitária que a Igreja leva a cabo com a força da Eucaristia, «cibus viatorum», alimento para peregrinos e viandantes. Assim vivem e caminham os cristãos pelo mundo, com o olhar fixo na meta final, quando toda a humanidade será, desta forma, oferta agradável a Deus Pai. Recorda-nos isto um lindo texto do Concílio Vaticano II: «O Senhor deixou aos seus o penhor de tal esperança e o alimento para o caminho naquele Sacramento da fé, no qual os elementos da natureza, cultivados pelo homem, se convertem nos gloriosos Corpo e Sangue, banquete da comunhão fraterna e antecipação do banquete celestial» (Gaudium et spes GS 38).

4. A Eucaristia é também «Panis filiorum», o pão dos filhos de Deus. Esta expressão da piedade eucarística da Igreja recorda-nos outro aspecto fundamental que tem uma ressonância especial neste ano de graça, no qual com todo o povo santo dirigimos o olhar para o Pai que está nos céus (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 49).

A Eucaristia é o alimento dos filhos, o pão vivo de Deus descido do céu que dá a vida ao mundo. «Meu Pai – diz Jesus – é que vos dá o verdadeiro pão que vem do céu» (Jn 6,32). Por isso, a Igreja celebra a Eucaristia com o olhar e o coração postos no Pai, santo e misericordioso, fonte de toda a santidade e que nos alimenta, todos os dias, com o dom do corpo e do sangue do seu amadíssimo Filho.

A oração eucarística transborda de gratidão ao Pai por nos ter dado a vítima da nossa reconciliação e nela nos recordamos que Cristo é o pão dos filhos de Deus, que nos torna partícipes da sua vida divina: «Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim também o que Me come viverá por Mim» (Jn 6,57). Tudo na Eucaristia provém do Pai e tudo volta para Ele, por Cristo na unidade do Espírito Santo.

Para participar dignamente na mesa da Eucaristia, verdadeiro banquete dos filhos de Deus, é indispensável vestir o «traje de festa» (Mt 22,11). Por isso, a Igreja oferece-nos o Sacramento da Reconciliação. Nele recebe-se o perdão, através do braço misericordioso com o qual Deus nos acolhe (cf. Lc Lc 15,20). Isto é fonte de verdadeira paz e de alegria interior, que nos permite sentar-nos como filhos e como irmãos, reconciliados em redor da mesa da Eucaristia.

5. O povo peregrino com a «fracção do pão» revive a graça e o compromisso da vida nova, como a primeira comunidade de Jerusalém (cf. Act Ac 2,42 ss.). Intensifica-se a comunhão entre as pessoas e os povos, ultrapassando as diferenças culturais, dentro da catolicidade da Igreja. Por isso, a Eucaristia, desde sempre, foi factor de comunhão na diversidade, ao compartilhar o mesmo pão de vida que aumenta também o dom da fraternidade. Assim o exprime um texto da antiga tradição hispânica que precede a oração dominical na liturgia eucarística: «Para que com o desejo da humildade e com a profissão da caridade, mediante o alimento e o sangue do Senhor permaneça unida toda a fraternidade do seu corpo e com confiança possamos dizer na terra, Pai nosso» (PL 96, 759-760).

A Igreja que crê na Eucaristia e a celebra é uma comunidade orante, que contempla e adora o mistério da presença real e permanente de Cristo no sacramento, e que aprende a orar com as mesmas atitudes da oração eucarística.

6. A celebração deste Congresso Eucarístico Nacional é uma forte chamada à unidade e à comunhão de toda a Igreja da Espanha a um regresso às raízes da fé cristã que fez fecundas as vossas comunidades. Reconhecem-no muitas outras Igrejas irmãs do mundo inteiro. Põe-no em evidência o testemunho dos vossos mártires, a rica espiritualidade dos vossos santos, o dinamismo empreendedor dos vossos missionários que levaram a mensagem do Evangelho desde o «finis terrae» de Compostela até outros lugares do mundo. A Eucaristia é também hoje uma forte chamada a viver a fé cristã à luz do sinal expressivo e sacramental do «Dies Domini», dia do senhor e páscoa semanal, quando a família dos filhos de Deus se reúne em volta da mesa do Pão da Palavra e do Pão eucarístico, como um testemunho de fé na presença do Ressuscitado neste mundo. A Eucaristia, por ser sinal de unidade e fonte de caridade, é também uma efusão do Espírito Santo nos nossos corações e estimula-nos a promover a fraternidade no mundo dividido, dando testemunho da paternidade amorosa de Deus para com todos.

Como não nos recordarmos de que foi a Eucaristia, celebrada, adorada e participada, o segredo da vitalidade da Igreja da vossa pátria, nessa peregrinação histórica dos séculos passados que deixou tantos monumentos de autêntica piedade? Com esta mesma certeza exorto-vos a ter confiança no futuro, para que Cristo presente na Eucaristia fortifique a vossa firmeza e renove em todos, sobretudo nos jovens, o empenho da evangelização e o anseio de um testemunho público e social de vida cristã neste final de milénio.

7. Que a fé na Eucaristia aumente a esperança, favoreça a fraternidade, vos estimule à caridade e vos acompanhe com a sua presença amiga o Senhor São Tiago, testemunha da Cruz e da glória de nosso Senhor Jesus Cristo, incentivando os peregrinos com o seu exemplo e ajudando-os com a sua intercessão.

Não se pode falar da Eucaristia sem recordar a Virgem Maria, Mãe de Jesus, peregrina da fé, sinal da esperança e do conforto do povo peregrino, que nos deu Cristo, Pão verdadeiro. Em comunhão com ela e com a esperança de gozar da sua companhia na glória, celebramos a Eucaristia que é o sacramento da nossa fé, aclamando a presença de Cristo, o Filho da Virgem Maria: «Ave, verum Corpus, natum de Maria Virgine...».

Enquanto me sinto unido a vós nestes dias de graça, concedo-vos a todos, Pastores e fiéis da Igreja na Espanha, a Bênção apostólica.

Vaticano, 13 de Maio de 1999, Solenidade da Ascensão do Senhor.



PAPA JOÃO PAULO II


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA DELEGAÇÃO DO


"BARCELONA FUTEBOL CLUBE"


Sexta-feira, 14 de Maio de 1999



Senhor Presidente
Senhoras e Senhores!

1. É-me grato receber os membros do Conselho Directivo e os desportistas das diversas secções do «Barcelona Futebol Clube», que neste ano festeja o seu Centenário. Agradeço ao Senhor José-Luís Nuñez, Presidente da entidade, as suas amáveis palavras e, ao mesmo tempo, saúdo cordialmente todos os presentes. Muito me sensibiliza o facto de, entre os actos comemorativos desta efeméride, terdes querido este encontro com o Papa.

A vossa presença evoca em mim a recordação da vossa bonita Cidade, laboriosa e rica de cultura, que tive a alegria de visitar em 1982, celebrando precisamente a Santa Missa no «Nou Camp», estádio que é testemunha das vossas competições desportivas, e onde me foi entregue o cartão de sócio do vosso Clube.

2. Vós sois expoentes de uma actividade desportiva, que em cada fim de semana congrega um grande número de pessoas nos estádios e à qual os meios de comunicação social dedicam grandes espaços. Por isso mesmo, tendes uma responsabilidade especial. Com o afecto, não isento da admiração que sinto pelos desportistas, animo-vos a continuar a dignificar o mundo do desporto, oferecendo-lhe não só o melhor das vossas forças físicas, mas também, e sobretudo, promovendo as atitudes que brotam das mais nobres virtudes humanas: a solidariedade, a lealdade, o comportamento correcto e o respeito pelos outros, que devem ser considerados como competidores e nunca como adversários ou rivais. De igual modo, é necessário fomentar a boa vontade, a paciência, a perseverança, o equilíbrio, a sobriedade, o espírito de sacrifício e o autodomínio, elementos fundamentais de qualquer compromisso desportivo, que asseguram êxito e classe ao atleta. Sobre esta base se desenvolvem as virtudes cristãs, quando estes valores são assumidos com autêntica adesão interior e animados com o amor de Cristo.

Estou convicto de que o desporto, quando não se transforma em mito, é um importante factor de educação moral e social, tanto a nível pessoal como comunitário. A respeito disso, o Concílio Vaticano II ensina que «os exercícios e manifestações desportivas contribuem para manter o equilíbrio psíquico, mesmo na comunidade, e para estabelecer relações fraternas entre os homens de todas as condições e nações, ou de raças diversas» (cf. Gaudium et spes GS 61).

3. Queridos representantes do «Barça»: este encontro ofereceu-me a oportunidade de vos recordar algumas considerações sobre o mundo do desporto, no qual o vosso Clube tem um papel destacado desde há cem anos. Ao felicitar-vos por esse Centenário, convido-vos a pôr em prática um renovado esforço, nobre e enriquecedor, neste sentido. E isto, não só para alcançar um melhor êxito a nível competitivo, que dê legítima satisfação aos vossos torcedores, mas também para que os encontros desportivos favoreçam cada vez mais as relações inter-pessoais, estabelecendo verdadeiros laços de amizade e convivência pacífica entre todos os povos.

4. Desejo que as vossas actividades desportivas sejam iluminadas por essas reflexões. Os meus votos neste ano do Centenário são por que, nos diversos torneios, o vosso espírito se eleve para metas mais altas. Que neste esforço de crescimento espiritual e moral vos acompanhe sempre a protecção maternal da Virgem das Mercês, Padroeira de Barcelona, que tantas vezes vos acolheu quando lhe oferecestes os vossos troféus. Ao renovar-vos o agradecimento pela visita, de todo o coração concedo-vos a minha Bênção Apostólica, que faço extensiva às vossas famílias.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA AUDIÊNCIA AOS PARTICIPANTES


NA ASSEMBLEIA GERAL


DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS


Sexta-feira, 14 de Maio de 1999



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Directores Nacionais
Colaboradores e Colaboradoras das Pontifícias Obras Missionárias!

1. Com alegria dirijo a cada um de vós a minha saudação cordial, a começar pelo Senhor Cardeal Jozef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, a quem agradeço as palavras com que se fez intérprete dos vossos sentimentos. Saúdo o Arcebispo D. Charles A. Schleck, Secretário Adjunto da Congregação e Presidente das Pontifícias Obras Missionárias; os Secretários-Gerais das Obras e, de modo especial vós, caros Directores Nacionais, que levais em primeira pessoa o peso da animação e da cooperação missionária nos vossos Países. A minha afectuosa saudação estende-se a todos os vossos colaboradores e colaboradoras que, impelidos por zelo apostólico, têm a peito proclamar o amor do Pai celeste a todos os homens e em qualquer situação de vida.

2. Ao acolher-vos, desejo abraçar todos os que trabalham, oram e sofrem pela missão evangelizadora da Igreja. São inúmeros: desde o pessoal apostólico que, «ad vitam», fez desta missão a razão da própria existência, e que continua a ser o exemplo máximo da dedicação à causa do Evangelho, às pessoas que nas diversas condições de vida, talvez no silêncio e no anonimato, se empenham na animação e na cooperação missionária.

Levai-lhes a minha grata saudação e o encorajamento a sustentar sempre a missão «ad gentes», necessária para anunciar o Evangelho a quantos ainda não conhecem Cristo, único Salvador do género humano. Penso de modo especial naquele que, no meio de dificuldades de toda a espécie, persevera fielmente lá aonde o Espírito o conduziu, por vezes até à oferta da própria vida. Damos graças a Deus por este seu generoso testemunho, conscientes como estamos de que «sanguis martyrum semen christianorum». Com a sua vida oferecida sem reservas, estes irmãos e irmãs manifestam ao mundo, não raro céptico em relação aos autênticos valores, o amor ilimitado e eterno de Deus Pai.

3. Este nosso encontro situa-se na imediata proximidade do Grande Jubileu do Ano 2000, celebração da salvação que o Pai ofereceu a todos os homens. Isto induz espontaneamente a recordar, mais uma vez, como «a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento. No termo do segundo milénio, após a Sua vinda, uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão está ainda no começo, e que •devemos empenhar-nos com todas as forças•no seu serviço» (Redemptoris missio RMi 1), em conformidade com a vontade do Pai, de «que todos os homens se salvem» (1Tm 2,4).

A vossa Assembleia, que neste ano tem como tema: «A cooperação missionária no Ano 2000: animação, vocações, pessoal, ajuda espiritual e material», foi preparada mediante a celebração de oportunas Jornadas de Pastoral. Nelas detestes-vos para estudar a instrução sobre a cooperação missionária «Cooperatio missionalis», publicada no dia 1 de Outubro passado. Este documento, ao reafirmar a permanente validade da missão ad gentes, oferece normas práticas que permitem orientar do melhor modo as iniciativas das Pontifícias Obras Missionárias e de outras realidades, coordenadas pela Congregação para a Evangelizaçãodos Povos.

4. A Igreja inteira «recebeu o mandato de pôr em prática o plano de salvação universal, que brota, desde a eternidade, da "fonte de amor", isto é, da caridade de Deus Pai» (Cooperatio missionalis, 1). O apóstolo Paulo afirma prestar culto a Deus no seu espírito, «ao serviço do Evangelho de Seu Filho» (Rm 1,9). Com efeito, a proclamação do amor incondicionado de Deus por todos os homens é tarefa que nasce da consciência do seu absoluto valor salvífico. Só reconhecendo este amor e se confiando a ele, o homem pode viver segundo a verdade (cf. Gaudium et spes GS 19). Compreende-se, então, por que «a evangelização missionária... constitui o primeiro serviço que a Igreja pode prestar ao homem e à humanidade inteira» (Redemptoris missio RMi 2). Este amor do Pai, revelado pelo e no Filho que Se fez homem, impele a Igreja à missão: para cooperarem nela os cristãos recebem o Espírito Santo, «o protagonista de toda a missão eclesial», cuja «obra brilha esplendorosamente na missão "ad gentes"» (Ibid., 21).

5. A vós, membros do Conselho Permanente das Pontifícias Obras Missionárias, assim como aos vossos colaboradores, compete um papel de primeira responsabilidade na animação e formação missionária do Povo de Deus. É por este motivo que vos encorajo a prosseguir com renovado esforço neste empenho, que já realizais com grande generosidade. Demonstra-o, entre outras coisas, o contínuo aumento do vosso fundo central de solidariedade, formado sobretudo por pequenas contribuições de muitas pessoas – as «pobres viúvas» do Evangelho – que oferecem do que lhes é necessário. Ele permite a realização da actividade pastoral das Igrejas desprovidas de meios materiais ou de suficiente pessoal apostólico.

Indispensáveis são, portanto, a vossa tarefa como Directores das Pontifícias Obras Missionárias e a vossa dedicação pessoal. Deveis «informar e formar o Povo de Deus para a missão universal da Igreja, fazer nascer vocações ad gentes, suscitar cooperação para a evangelização» (Redemptoris missio RMi 83), com um espírito verdadeiramente universal, conscientes de que as Pontifícias Obras Missionárias têm como horizonte o mundo inteiro. A universalidade é o apreço mais importante e característico das Obras, que assim participam na solicitude do Papa por todas as Igrejas (cf. 2Co 11,28).

Confio-vos e o vosso serviço à solícita assistência de Maria, Mãe da Igreja e Estrela da evangelização. Asseguro-vos uma constante lembrança na oração e, de coração, concedo uma especial Bênção Apostólica a cada um de vós, fazendo-a extensiva de bom grado a todos os vossos colaboradores no trabalho de animação missionária.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS PEQUENAS IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CARIDADE


Sábado, 15 de Maio de 1999



Queridas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade!

No termo do IX Capítulo Geral, quisestes encontrar o Sucessor de Pedro para reafirmar a fiel adesão à Igreja, por parte de cada uma de vós e de toda a vossa Família religiosa, segundo o espírito do vosso Fundador, o Beato Luís Orione.

Obrigado pela vossa visita e pelo significado que ela quer exprimir. Apresento as minhas felicitações à Irmã Maria Ortensia Turati, confirmada para o próximo sexénio na guia do vosso Instituto. Desejo-lhe, assim como ao renovado Conselho Geral, um profícuo serviço apostólico, ao conduzir a Congregação a iniciativas de caridade sempre mais vastas e incisivas.

Durante a assembleia capitular, que precisamente hoje se conclui, detivestes-vos para reflectir sobre o tema: «Arraigadas em Cristo rumo a uma nova unidade de vida, para um Instituto mais missionário». Sei que estes dias de oração intensa, de reflexão atenta e de diálogo fraterno vos permitiram olhar para a frente, além do limiar do terceiro milénio, a fim de pordes em evidência as expectativas e urgências que solicitam respostas generosas e proféticas, no sulco da caridade de Dom Orione.

Para que a vossa Obra, que já tem casas em muitas nações do mundo, possa avançar segundo o carisma que lhe é próprio, torna-se necessário que, antes de tudo, permaneçais firmemente «arraigadas» em Cristo. Como não olhar para Dom Orione e o seu exemplo de incessante união a Jesus, adorado na Eucaristia, amado no mistério da sua Cruz e servido com incansável dedicação nos pobres mais pobres? Sede fiéis a Cristo, seguindo os passos de Dom Orione! Cristo seja o centro do vosso coração e de todos os vossos projectos de bem. Assim sereis missionárias do seu Evangelho de caridade, onde quer que vos encontreis a agir, e difundireis em torno de vós o bálsamo salutar da misericórdia divina.

O vosso carisma chama-vos a ser Missionárias da Caridade, isto é, apóstolas de Deus que é Amor. Para realizardes esta vossa empenhativa missão, deixai-vos guiar pelo Espírito Santo rumo a uma unidade sempre mais profunda com Deus e entre vós mesmas: é condição indispensável para realizar um apostolado sempre corajoso e fiel. Da incessante oração e contemplação hauri luz e vigor, para serdes autênticas «Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade». Pobres, pequenas e humildes, como Dom Orione gostava, para poderdes compartilhar efectivamente a condição daqueles que se encontram às margens da sociedade. Preparadas, porém, e bem formadas para responder de modo adequado aos desafios espirituais e sociais deste nosso tempo.

A cooperação constante com os Filhos da Divina Providência no nome do comum Fundador, a abertura aos leigos, que justamente desejais intensificar para estender o raio da vossa acção, uma formação atenta às mudadas exigências da nossa época, uma permanente e orgânica inserção nas Igrejas locais tornarão, de facto, o vosso Instituto «mais missionário» com intervenções de amor preferencial pelos pobres, no desejo de os conduzir ao encontro com Cristo.

Queridas Irmãs, asseguro a minha oração por vós ao Senhor e confio a Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho, todas as decisões e moções brotadas do Capítulo Geral. Seja Ela a guiar os vossos passos e a sustentar-vos nos vossos esforços. Do céu, Dom Orione vele sobre vós e sobre todas as instituições da vossa benemérita Congregação.

Com estes sentimentos, de coração abençoo-vos, assim como as vossas coirmãs, especialmente as que estão doentes e sofrem, as aspirantes e noviças, as vossas famílias e quantos são objecto dos vossos cuidados.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO INÍCIO DA SANTA MISSA CONCELEBRADA


COM OS PRESIDENTES DAS CONFERÊNCIAS


EPISCOPAIS REGIONAIS ITALIANAS


Terça-feira, 18 de Maio de 1999



Caríssimos Irmãos, Presidentes das Conferências Episcopais regionais italianas, é-me grato celebrar hoje juntamente convosco a Santa Missa, e o meu pensamento estende-se com afecto a todos os Prelados italianos, que terei a alegria de encontrar, se Deus quiser, depois de amanhã, durante os trabalhos da Assembleia Geral da Conferência Episcopal.

Esta manhã desejo orar juntamente convosco pela Itália, que vive neste tempo uma etapa importante do seu caminho. Confio ao Senhor o seu povo, as suas esperanças e expectativas, os seus problemas e preocupações, o seu presente e o seu futuro.

Deponhamos sobre o altar do Senhor de modo especial os projectos e as iniciativas pastorais, invocando a graça divina para a inteira organização eclesial nacional. Peçamos ao Senhor que torne frutuosos os esforços que os fiéis fazem para testemunhar o Evangelho. Invoquemos o Espírito Santo para que, durante esta novena de Pentecostes, derrame sobre a Itália, que se encaminha pra o Terceiro Milénio, a sua luz e a sua força.

Confiemos todas as nossas intenções à materna protecção de Maria Santíssima, tão venerada em todas as regiões italianas, e à intercessão de São Francisco de Assis, de Santa Catarina de Sena e dos Santos protectores de cada uma das Igrejas.

Na primeira Leitura ouviremos ressoar algumas palavras do apóstolo Paulo, que nos convidam a reflectir sobre o nosso ministério de Pastores ao serviço do Povo cristão: «A meus olhos, a vida não tem valor algum, desde que eu possa concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho da Boa Nova da graça de Deus» (Ac 20,24).

E além disso: «Jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus» (ibid., 20, 27).



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA


POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999




Discursos João Paulo II 1999 - Sábado, 8 de Maio de 1999