Discursos João Paulo II 1999




                                                                                Janeiro de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS EX-ALUNOS DO PONTIFÍCIO


COLÉGIO NORTE-AMERICANO


Sala Clementina

Sexta-feira, 8 de Janeiro de 1999



Eminências, Excelências, Prezados Amigos

É com muito prazer que vos saúdo, alunos do Pontifício Colégio Norte-Americano, por ocasião da vossa Reunião anual. Dou também calorosas boas-vindas ao Reitor, aos membros das faculdades e aos estudantes do Colégio, acompanhados pelos sacerdotes estudantes da Casa de Santa Maria da Humildade.

Retornastes a Roma, onde teve lugar a vossa formação sacerdotal, para reviver as profundas experiências que plasmaram a vossa espiritualidade de sacerdotes. Graças aos vossos estudos na Cidade Eterna, pudestes encontrar de maneira singular a tradição viva da Igreja e o mistério da sua unidade católica, fundada sobre o testemunho dos Apóstolos e garantida pelo ministério do Sucessor de Pedro. Hoje, perante tantas tendências inquietantes de polarização e de divisão no seio da sociedade, é ainda mais urgente que os sacerdotes sejam servos e testemunhas da comunhão sobrenatural com Deus e com o próximo, que constitui o verdadeiro âmago da nossa pertença à Igreja. Estes dias de recordação e acção de graças fortaleçam o vosso propósito de ser fiéis ministros da Igreja e bons pastores da grei de Cristo na América.

O Pontifício Colégio Norte-Americano foi fundado numa época em que nos Estados Unidos os católicos constituíam uma exígua minoria composta sobretudo de imigrantes. Hoje, graças ao indefesso trabalho de gerações de sacerdotes, religiosos e leigos, a Igreja no vosso País possui recursos inauditos para proclamar o Evangelho e para apresentar a rica herança da doutrina moral e social da Igreja aos grandes debates que estão a forjar o porvir da vossa Nação. O imponente desafio que os católicos da América contemporânea devem enfrentar em cada um dos sectores da vida e da cultura nacionais consiste em dar um convincente e unívoco testemunho público das verdades acerca da pessoa e da comunidade humana que são reveladas por Deus, acessíveis à razão e incorporadas nos documentos fundamentais da vossa República. Formulo votos por que, formando pregadores do Evangelho inteligentes, sábios e santos, o vosso Colégio responda plenamente a este desafio e exerça uma influência construtiva e profética para a renovação moral da sociedade norte-americana.

Dilectos amigos, ao aproximar-nos do alvorecer do Terceiro Milénio cristão, rezo para que sejais cada vez mais fiéis e zelosos arautos de Jesus Cristo, «o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade» (He 13,8). Enquanto confio todos vós à intercessão amorosa de Maria Imaculada, Padroeira do vosso País e do Colégio, concedo-vos do íntimo do coração a minha Bênção apostólica em penhor da força e da paz no Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CORPO DIPLOMÁTICO CREDENCIADO


JUNTO DA SANTA SÉ


Segunda-feira, 11 de Janeiro de 1999


Excelências Minhas Senhoras e Meus Senhores!

1. Estou profundamente reconhecido pelos votos que, por intermédio do vosso Decano, Embaixador da República de São Marinho, Senhor Giovanni Galassi, me apresentais no início deste último ano antes do Ano 2000. Eles vêm unir-se aos numerosos sinais de afectuosa adesão que me chegaram da parte das Autoridades dos vossos países, assim como dos vossos compatriotas, por ocasião do vigésimo aniversário do meu Pontificado e do Ano Novo. A todos desejo renovar os meus mais sentidos agradecimentos.

Esta cerimónia anual reveste o carácter dum encontro familiar e, por isso, ela é-me particularmente grata. Antes de tudo, porque, através de vós, estão presentes quase todas as nações da terra, com as suas realizações e esperanças, mas também com os seus interrogativos. Depois, porque este encontro me oferece a grata ocasião para vos exprimir os ardentes votos que formulo na oração por vós, as vossas famílias e os vossos concidadãos. Peço a Deus que conceda a cada um saúde, prosperidade e paz. Sabeis que podeis contar com o Papa e os seus colaboradores quando se trata de apoiar o que cada país empreende, com as suas melhores energias, para a elevação espiritual, moral e cultural dos cidadãos ou para o desenvolvimento de tudo aquilo que contribui para o bom entendimento entre os povos, na justiça e na paz.

2. A família das nações, que recentemente partilhou a alegria própria do Natal e se encontrou unânime para acolher o Ano Novo, tem sem dúvida motivos para se alegrar.

Na Europa, penso sobretudo na Irlanda, onde o acordo assinado na Sexta-Feira Santa do ano passado lançou as bases da tão esperada paz, que deverá assentar sobre uma vida social estável, fundada na confiança recíproca e no princípio da equidade do direito para todos.

Outro motivo de satisfação para todos nós é o processo de paz que, na Espanha, permite pela primeira vez às populações dos territórios bascos ver afastar- se o espectro da violência cega e pensar com seriedade num processo de normalização.

A passagem para a moeda única e a abertura ao Leste, sem dúvida, oferecerão à Europa - em todo o caso é este o nosso desejo mais caro - a possibilidade de se tornar cada vez mais uma comunidade de destino, uma verdadeira «comunidade europeia». Isto supõe, evidentemente, que as nações que a compõem, saibam conciliar a sua história com um mesmo projecto, para permitir que todos se considerem parceiros iguais, preocupados unicamente com o bem comum. As famílias espirituais que tanto contribuíram para a civilização deste continente - penso com certeza no cristianismo - têm um papel que me parece cada vez mais decisivo. Perante os problemas sociais que mantêm amplas camadas das populações na pobreza, as desigualdades sociais que são um fermento de instabilidade crónica, ou as jovens gerações em busca de pontos de referência em um mundo muitas vezes incoerente, é importante que as Igrejas possam proclamar a ternura de Deus e o apelo à fraternidade, que a recente festividade do Natal quis mais uma vez fazer resplandecer para a humanidade inteira.

Um motivo ulterior de satisfação, que desejaria indicar à vossa atenção, Senhoras e Senhores, concerne ao Continente americano. Trata-se do acordo ocorrido entre o Equador e o Peru, em Brasília, no dia 26 de Outubro passado. Graças à acção perseverante da Comunidade internacional - em particular dos países garantes -, dois povos irmãos tiveram a coragem de renunciar à violência, de aceitar um compromisso e de resolver as suas controvérsias de maneira pacífica. É um exemplo a propor a muitas outras nações ainda imersas nas suas divisões e discórdias. Nutro a firme convicção de que estes dois povos, graças em particular à fé cristã que os une, saberão aceitar o grande desafio da fraternidade e da paz e voltar assim uma página dolorosa da sua história, que aliás remonta aos primeiros instantes da sua existência como Estados independentes. Aos católicos equatorianos e peruanos, dirijo um apelo premente e paterno, a fim de que, mediante a oração e a acção, sejam artífices convictos da reconciliação e contribuam para fazer com que a paz dos tratados passe ao coração de cada um.

Devemo-nos de igual modo alegrar com os esforços sustentados pelo grande povo da China, empenhado com determinação num diálogo que associa as populações duma e doutra margem do Estreito. A Comunidade internacional - e a Santa Sé em particular - acompanha com grande interesse este feliz desenvolvimento, à espera de progressos significativos que, sem dúvida alguma, serão benéficos para o mundo inteiro. Focos de dissensão e desconfiança armada

3. Mas a cultura da paz está longe de ser universalmente difundida, como atestam focos de dissensões tenazes. Não longe de nós, a região dos Balcãs continua a viver um período de grande instabilidade. Ainda não se pode falar de normalização na Bósnia-Herzegovina, onde as sequelas da guerra se fazem sempre sentir nas relações inter-étnicas, onde metade da população continua deslocada e as tensões sociais infelizmente persistem. O Kossovo foi ainda recentemente o teatro de combates cruéis por motivos ao mesmo tempo étnicos e políticos, que têm impedido um diálogo sereno entre as partes, assim como qualquer desenvolvimento económico. Tudo deve ser feito para ajudar kossovianos e sérvios a reunirem-se em torno duma mesa, a fim de quanto antes obviarem a suspeita armada que paralisa e mata. A Albânia e a Macedónia seriam as primeiras a serem beneficiadas, tanto é verdade que no espaço balcânico tudo está conexo. Muitos outros países da Europa central e oriental, pequenos e grandes, estão à mercê da instabilidade política e social, encontram dificuldade no caminho da democratização e ainda não conseguem viver numa economia de mercado, capaz de oferecer a cada um a sua parte legítima de bem-estar e de crescimento.

O processo de paz empreendido no Médio Oriente continua a conhecer um percurso acidentado, e ainda não levou às populações a esperança e o bem-estar a que têm direito. Não se pode mantê-las indefinidamente entre guerra e paz, sem correr o perigo de aumentar de maneira nociva tensões e violências. Já não se pode de modo racional remeter para mais tarde a questão do estatuto da Cidade Santa de Jerusalém, para a qual os crentes das três religiões monoteístas voltam o olhar. As partes interessadas devem enfrentar estes problemas com um sentido perspicaz das suas responsabilidades. A crise ocorrida recentemente no Iraque mostrou, mais uma vez, que a guerra não resolve os problemas. Ela complica-os e faz com que as populações civis sofram as suas dramáticas consequências. O diálogo leal, a solicitude real pelo bem das pessoas e o respeito da ordem internacional são os únicos que podem conduzir a soluções dignas duma região, na qual estão arraigadas as nossas tradições religiosas. Se muitas vezes a violência é contagiosa, também a paz pode sê-lo, e estou certo de que um Médio Oriente estável contribuiria de maneira eficaz para dar de novo esperança a muitos povos. Penso, por exemplo, nas populações mártires da Argélia e de Chipre, cuja situação está sempre sem solução.

O Sri Lanka celebrou há alguns meses o cinquentenário da sua independência, mas infelizmente, ainda hoje, é afligido pelas lutas étnicas que atrasam a abertura de negociações serenas, que são as únicas a levar à paz.

A África continua a ser um continente em risco. Dos cinquenta e três Estados que a compõem, dezassete vivem conflitos militares internos e entre Estados.

Penso em particular no Sudão onde, aos combates cruéis, se acrescenta um terrível drama humanitário; penso na Eritreia e na Etiópia, que se tornaram de novo antagonistas, e na Serra Leoa, cujas populações são mais uma vez vítimas de impiedosas lutas. Neste grande continente, contam-se cerca de oito milhões de refugiados e de expulsos praticamente abandonados à própria sorte.

Os países da região dos Grandes Lagos ainda não sanaram as chagas dos excessos do etnocentrismo e debatem-se entre a pobreza e a insegurança; é o que acontece também em Ruanda e no Burundi onde um embargo agrava ainda mais a situação.

A República Democrática do Congo está longe de ter completado a sua transição e de conhecer a estabilidade a que aspiram legitimamente as suas populações, como é testemunhado pelos recentes massacres ocorridos no início do ano, muito perto da cidade de Uvira.

Angola está sempre em busca duma paz impossível de ser encontrada e, nestes dias, passa por uma evolução muito preocupante, que não poupou a Igreja católica. A paz é a primeira condição dos direitos do homem

As notícias que com regularidade me chegam destas regiões conturbadas, confirmam a minha convicção de que a guerra resulta sempre em desumanidade e que a paz é, sem dúvida alguma, a primeira condição dos direitos do homem. A todas estas populações que me dirigem muitas vezes apelos de socorro, quereria dizer que estou ao lado delas. Saibam também que a Santa Sé não poupa esforços para que sejam abreviados os seus sofrimentos e se encontrem, no plano tanto político como humanitário, soluções equitativas aos graves problemas existentes.

Esta cultura da paz ainda está contrastada pela legitimação e utilização dos armamentos com fins políticos. Experiências nucleares recentemente realizadas na Ásia e as tentativas de outros países que trabalham discretamente para a concretização do seu arsenal nuclear poderiam conduzir, pouco a pouco, a uma banalização da força nuclear e, por conseguinte, a um superarmanento que minaria enormemente os louváveis esforços em favor da paz, tornando assim vã qualquer política de prevenção dos conflitos.

Acrescenta-se a isto a produção de armas de construção pouco custosa, como as minas anti-homem, felizmente banidas pela Convenção de Otava em Dezembro de 1997 (que a Santa Sé, por seu lado, se apressou a ratificar no ano passado) e as armas de pequeno calibre, que parece reclamarem mais atenção por parte dos responsáveis políticos nos controles dos seus efeitos perversos. Os conflitos regionais, onde com frequência crianças são recrutadas para o combate, instruídas e incitadas a matar, apelam a um sério exame de consciência e a um verdadeiro acordo.

Não se deveriam subestimar, por fim, os riscos que a paz corre devido às desigualdades sociais e ao crescimento económico artificial. A crise financeira que abalou a Ásia demonstrou como a segurança económica se assemelha à segurança política e militar, pois ela requer a transparência, o concertamento e o respeito de certas referências éticas.

4. Diante destes problemas que vos são familiares, Senhoras e Senhores, faço-vos participantes duma convicção que tenho: neste último ano antes do Ano 2000 impõe-se um despertar da consciência.

Jamais como hoje os Representantes da Comunidade internacional puderam dispor dum conjunto de normas e de convenções tão precisas e completas. O que falta é a vontade de as respeitar e de as aplicar. Eu dizia na minha Mensagem do dia 1 de Janeiro, ao referir-me aos direitos do homem: «Quando se aceita, sem agir, a violação de um só dos direitos humanos fundamentais, põem-se em risco todos os outros» (n. 12). Este princípio parece-me que deve ser aplicado a todas as normas jurídicas. O direito internacional não pode ser o do mais forte, nem o duma simples maioria de Estados, nem sequer o de uma organização internacional, mas aquele que é conforme com os princípios do direito natural e da lei moral, que se impõem sempre às partes em causa e nas diferentes questões litigiosas.

A Igreja católica, como também as comunidades de crentes em geral, estarão sempre ao lado daqueles que se esforçarem por fazer prevalecer o bem supremo do direito sobre qualquer outra consideração. Torna-se ainda necessário que os crentes possam fazer-se ouvir e participar no diálogo público, nas sociedades de que são membros de direito. E isto leva-me a partilhar convosco, qualificados representantes dos Estados, a minha dolorosa preocupação perante as inúmeras violações da liberdade de religião no mundo de hoje.

Muito recentemente, por exemplo, na terra da Ásia, episódios de violência provaram de maneira dramática a comunidade católica: igrejas destruídas, pessoal religioso maltratado, e até mesmo assassinado. Outros factos lamentáveis poderiam ser igualmente indicados em diversos países da África. Noutras regiões, onde o Islão é majoritário, devem-se sempre deplorar graves discriminações de que são vítimas os crentes das outras religiões. Há até um país em que o culto cristão está totalmente proibido e onde, possuir uma Bíblia, constitui um crime punível pela lei. Isto é ainda mais doloroso visto que, em muitos casos, os cristãos têm contribuído em grande medida para o desenvolvimento deste país, sobretudo no sector da educação e da saúde. Em alguns países da Europa ocidental, constata-se uma evolução de igual modo inquietante que, sob a influência duma falsa concepção do princípio de separação entre o Estado e as Igrejas ou de um agnosticismo tenaz, tende a confinar estas últimas unicamente no sector cultural, aceitando com dificuldade uma palavra pública da parte delas. Por fim, alguns países da Europa central e oriental têm muita dificuldade de reconhecer o pluralismo religioso próprio das sociedades democráticas e esforçam-se por restringir, mediante uma prática administrativa limitativa e caprichosa, a liberdade de consciência e de religião que as suas Constituições proclamam solenemente. Assegurar uma efectiva liberdade de religião

Ao recordar-me das perseguições religiosas do passado ou do presente, creio que chegou o tempo, neste fim de século, de fazer com que em toda a parte do mundo sejam asseguradas as condições correctas para uma efectiva liberdade de religião. Isto requer, por um lado, que todo o crente saiba reconhecer no outro um pouco do amor universal de Deus pelas Suas criaturas e, por outro, que as Autoridades públicas - chamadas por vocação a pensar de maneira universal - saibam por sua vez acolher a dimensão religiosa dos seus concidadãos com a sua inevitável expressão comunitária, Para fazer isto, temos diante de nós, não só as lições da história, mas também preciosos instrumentos jurídicos que pedem unicamente que sejam postos em prática. Num certo sentido, desta relação inelutável entre Deus e a Cidade depende o futuro das sociedades pois, como afirmei por ocasião da minha visita à sede do Parlamento Europeu, a 11 de Outubro de 1988, «lá onde o homem já não se apoia numa grandeza que o transcende, ele corre o risco de se abandonar ao poder sem freio do arbítrio e dos pseudo-absolutismos que o destróem» (cf. L'Osservatore Romano, ed. port. de 23.X.88, pág. 13, n. 10) .

5. Estes são alguns dos pensamentos que me vêm à mente e ao coração, quando olho para o mundo deste século que está a terminar. Se Deus, ao enviar o seu Filho no meio de nós, se interessou tão de perto pelos homens, façamos por corresponder a um tão grande amor! Ele, Pai universal, estreitou com cada um de nós uma aliança que nada pode destruir. Ao dizer-nos e ao demonstrar-nos que nos ama, dá-nos ao mesmo tempo a esperança de que podemos viver em paz; e é verdade que só aquele que é amado pode por sua vez amar. Convém que todos os homens descubram este Amor que os precede e os espera. Estes são os meus votos mais sinceros, para cada um de vós e para todos os povos da terra!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO SIMPÓSIO PRÉ-SINODAL


PROMOVIDO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A CULTURA


Sala do Consistório

Quinta-feira, 14 de Janeiro de 1999



Senhor Cardeal
Caros Amigos!

1. É com alegria que vos recebo no momento em que concluís o Simpósio pré-sinodal sobre o tema: Cristo, fonte duma cultura nova para a Europa no limiar do Terceiro Milénio. Agradeço ao Cardeal Paul Poupard, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, e aos seus colaboradores, terem organizado com competência este Simpósio, que permite aos representantes de diferentes disciplinas revelar as riquezas culturais e espirituais da Europa.

2. Há dois milénios, a história da Europa está ligada ao cristianismo. Pode-se mesmo dizer que a renovação cultural surgiu da contemplação do mistério cristão, que permite dirigir um olhar mais profundo para a natureza e o destino do homem, assim como para o conjunto da criação. Ainda que todos os europeus não se reconheçam cristãos, os povos do continente estão profundamente marcados pelo sinal evangélico, sem o qual seria muito difícil falar de Europa. É nesta cultura cristã, que constitui as nossas raízes comuns, que encontramos os valores capazes de guiar o nosso pensamento, os nossos projectos e a nossa acção. No decurso das vossas jornadas de encontro, como uma verdadeira sinfonia concertante, fizestes ouvir as vossas vozes de timbres diversos, fortes de uma história rica e também dolorosa, mas todas inspiradas pelo mesmo tema fundamental: Cristo, fonte duma cultura nova para a Europa no limiar do novo Milénio.

3. Vós sois hoje as testemunhas de uma mudança cultural que, ao longo deste século, abalou a Europa nos seus fundamentos, e de um desejo de aprofundamento do sentido da existência, manifestado legitimamente pelos nossos contemporâneos. O encontro entre as culturas e a fé é uma exigência da busca da verdade. Ela «deu vida a uma nova realidade. Na verdade, quando as culturas estão profundamente radicadas na natureza humana, contêm em si mesmas o testemunho da abertura, própria do homem, ao universal e à transcendência» (Fides et ratio FR 70). Desse modo, os homens encontrarão uma ajuda e um apoio para procurarem a verdade e para que, com o dom da graça, encontrem Aquele que é o seu Criador e Salvador. E «na realidade, o mistério do homem, só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente... Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do Seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime... Tal é, e tão grande, o mistério do homem que a revelação cristã manifesta aos que crêem» (Gaudium et spes GS 22). Cristo revela o homem ao próprio homem na sua plenitude de filho de Deus, na sua dignidade inalienável de pessoa, na grandeza da sua inteligência, capaz de alcançar a verdade, e da sua vontade, capaz de agir bem. É graças a um diálogo absolutamente indispensável com as pessoas de todas as culturas e raças que a Igreja deseja anunciar o Evangelho (cf. Discurso ao Pontifício Conselho para a Cultura, 18 de Janeiro de 1983, n. 6).

4. As fronteiras entre os Estados abriram-se; é preciso evitar que novas barreiras se ergam entre os homens e que surjam novas inimizades por motivos ideológicos entre os povos. A busca da verdade deve ser o motor de todo o caminho cultural e de relações de fraternidade no seio do continente. Isto pressupõe o respeito pleno da pessoa humana e dos seus direitos, a começar pela liberdade de opinião e religiosa. Por isso, é importante dar aos nossos contemporâneos uma verdadeira educação, fundada sobre os valores essenciais, espirituais, morais e civis. Desse modo, todo o homem tomará consciência da sua vocação específica e do seu singular lugar na comunidade humana, ao serviço dos irmãos. Esta perspectiva é digna de suscitar a adesão dos homens e de responder à expectativa dos jovens, chamados a reconhecer o Salvador e a construir fraternalmente a cidade de amanhã.

5. Se a fé é o que há de mais pessoal para todo o ser humano, não é entretanto um simples fenómeno privado. Ao longo dos séculos, a fé em Cristo e a vida espiritual dos homens deixaram a sua marca nas diversas expressões da cultura. A Igreja deseja hoje prosseguir e favorecer este caminho, que abre indirectamente o homem à eternidade feliz, que lhe dará de novo uma verdadeira esperança e contribui para a unidade entre as pessoas e os povos.

Em um mundo no qual as dificuldades são inúmeras, a mensagem de Cristo abre um horizonte infinito e oferece uma energia incomparável, luz para a inteligência, força para a vontade, amor para o coração. Desta maneira, através da vossa missão, sois chamados a dar de novo ao nosso tempo o gosto da busca do belo, do bom, do bem e da verdade, assim como o gosto do Evangelho, para desenvolver uma sadia antropologia e uma verdadeira inteligência da fé, de que temos actualmente necessidade. No modo como vos é próprio e segundo a vossa vocação, contribuireis para uma evangelização renovada e uma nova primavera cultural na Europa, que se irradiarão em todos os continentes.

6. Na conclusão deste encontro, agradeço-vos profundamente terdes aceitado oferecer o vosso contributo à reflexão da Igreja no limiar do Terceiro Milénio, na perspectiva da próxima Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa, a fim de dar um novo impulso à evangelização. Ao confiar-vos à intercessão dos Santos e Santas que participaram no desenvolvimento humano e cultural da Europa, concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO INSPECTORADO DE SEGURANÇA PÚBLICA


JUNTO AO VATICANO


Quinta-feira, 14 de Janeiro de 1999

: Senhor Prefeito
Senhores Funcionários e Agentes de Segurança Pública!

1. Bem-vindos a este encontro! Dou graças ao Senhor, que me oferece a alegria de vos rever, no início deste ano, para formularmos reciprocamente ardentes bons votos. A ocasião é mais do que nunca propícia para vos renovar a expressão do mais sentido reconhecimento pelo serviço que prestais: de coração a todos saúdo e agradeço.

A minha saudação dirige-se, em particular, ao Dr. Enrico Marinelli, Prefeito Coordenador dos Serviços de Segurança junto do Vaticano, a quem agradeço as nobres palavras com que se fez intérprete dos comuns sentimentos. Desejo exprimir-lhe o meu reconhecimento, Senhor Prefeito, pela incansável e generosa dedicação com que Vossa Excelência se entrega ao seu serviço, transmitindo também aos colaboradores convicto entusiasmo pelos ideais que sempre orientaram a sua acção.

A vós, que fazeis parte do Inspectorado de Segurança Pública junto do Vaticano, do Núcleo da Polícia de Trânsito do Vaticano, assim como aos representantes da Polícia de Roma e da Itália, exprimo a minha confiança, confirmando, também nesta circunstância, o meu apreço pelo qualificado trabalho que desempenhais com sentido de alta responsabilidade.

Conheço bem o necessário e empenhativo serviço de ordem que vos está confiado. A presença discreta e inteligente, que sempre vos caracteriza, tem em vista impedir e desencorajar qualquer elemento perturbador, a fim de que a actividade do Papa se possa desenvolver num clima de serenidade, que assegure, aos peregrinos que vêm visitá-lo e orar nos lugares sagrados da cristandade, a possibilidade de uma autêntica experiência religiosa.

2. Além disso, a vossa actividade, à luz da fé, enriquece-se de significados profundos, nos quais cada um se pode inspirar para encontrar estímulo e impulso para o cumprimento do dever quotidiano, especialmente nos momentos que requerem mais fadiga e sacrifícios.

Os meus votos são por que a ordem exterior, por vós mantida com atenta vigilância, seja imagem de uma harmoniosa ordem interior: de pensamentos, opções e convicções; de orientações de vida, de ideais humanos, de empenho moral e religioso, sobretudo em vista do Grande Jubileu do Ano 2000, que exige uma intensa preparação espiritual. Como se sabe, ele terá início com a abertura da Porta Santa em São Pedro, na noite do próximo Natal. Estamos bem conscientes de que nos devemos preparar para acolher, por ocasião deste evento que marca uma época, uma multidão de peregrinos e turistas provenientes de todas as partes do mundo. Competirá também ao vosso Inspectorado garantir-lhes serenidade e protecção, em colaboração com as outras forças de segurança ao serviço dos cidadãos, de maneira especial por ocasião das principais celebrações programadas na Basílica e na Praça de São Pedro, ao longo de todo o ano jubilar. Sei que estais a organizar-vos para responder de modo adequado às exigências que o Ano Santo comportará, com um esforço concertado de meios técnicos e de recursos humanos. Estou-vos grato por isto.

3. Caríssimos, o Senhor vos ajude e sempre vos acompanhe a Sua protecção. Confio vós e o vosso trabalho a Maria Santíssima, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Ela, que conhece as responsabilidades vos foram confiadas e as dificuldades da vossa actividade quotidiana, esteja ao vosso lado, a fim de que ideais, propósitos, aspirações e projectos sejam todos abençoados por Deus e produzam os frutos desejados. Asseguro-vos, por minha parte, uma constante lembrança na oração e, enquanto formulo, a vós e às vossas famílias, votos de serenidade e alegria para o ano de 1999, há pouco iniciado, com afecto concedo a todos uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA BÓSNIA-HERZEGOVINA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999



Senhor Cardeal
Caros Irmãos no Episcopado!

1. «Fiz-me servo de todos... E faço tudo por causa do Evangelho, para participar dele» (1Co 9,19 1Co 9,23). Saúdo-vos com estas palavras de São Paulo, caros Pastores da Igreja que está na Bósnia- Herzegovina, vindos ad limina Apostolorum para visitar o Sucessor de Pedro.

Agradeço ao Senhor Cardeal Vinko Puljic as amáveis palavras que quis dirigir-me também em vosso nome. Ele recordou as alegrias e as esperanças, as angústias e os temores que marcaram a vida da Igreja e da vossa Pátria inteira neste último decénio do segundo milénio. Também eu tive ocasião de me sentir partícipe dos eventos ocorridos na vossa região, desde 1991 até hoje. Quereria, a propósito disto, evocar a Visita pastoral que pude finalmente realizar nos dias 12 e 13 de Abril de 1997. Foi para mim uma experiência inesquecível, que me deu ocasião concreta para verificar os efeitos devastadores da guerra e, ao mesmo tempo, a decisiva vontade da população de retomar a vida normal. Nem posso esquecer as numerosas intervenções da Santa Sé a favor da paz, do perdão e da reconciliação naquela região, à qual desejo que possa tornar-se, juntamente com o Sudeste da Europa, uma serena morada de paz, no respeito da dignidade e dos direitos de todos.

Exprimo admiração pela força espiritual com que as vossas Comunidades eclesiais souberam enfrentar grandes provações e sacrifícios durante o recente conflito, assim como neste não fácil período do pós-guerra, para permanecerem fiéis a Cristo e à missão por Ele confiada aos Seus discípulos de todos os tempos. Juntamente com o vosso presbitério fizestes tudo «para que a verdade do Evangelho continuasse a permanecer firme» na vossa Pátria (cf. Gl Ga 2,5), mesmo à custa da vida.

2. Neste dia, quereria exortar-vos a prosseguir este caminho e, por vosso intermédio, desejaria encorajar os presbíteros a continuarem com incansável generosidade o seu serviço aos irmãos, na plena fidelidade à própria vocação. Com efeito, por meio da sagrada Ordenação, eles são partícipes do vosso mesmo ministério; são os vossos primeiros cooperadores (cf. Presbyterorum ordinis ); os vossos mais íntimos colaboradores e conselheiros (cf. Ibid., 7; Lumen gentium LG 28), os predilectos irmãos e amigos (cf. Lumen gentium LG 28). O Concílio Vaticano II põe em evidência este peculiar papel dos presbíteros, quando recorda que «todos os sacerdotes, tanto diocesanos como religiosos, estão associados ao corpo episcopal em razão da Ordem e do ministério e, segundo a própria vocação e graça, contribuem para o bem de toda a Igreja» (Ibid.).

Diz ainda o Concílio: os Presbíteros são chamados a viver «no meio dos outros homens como no meio de irmãos» (cf. Presbyterorum ordinis PO 3). Consagrados inteiramente à obra para a qual o Senhor os assumiu (cf. Act Ac 13,2), agem «como pais em Cristo» (Presbyterorum ordinis PO 28), modelos do rebanho que lhes foi confiado (cf. 1P 5,2-4), cuidando de todos, a exemplo do Senhor, sobretudo dos pobres e dos mais débeis (cf. Presbyterorum ordinis PO 6).

3. Graças a Deus, não faltam nas vossas Igrejas vocações de especial consagração, tanto masculinas como femininas. Antes, assiste-se a um providencial florescimento. Trata-se de um precioso dom e de um grande tesouro espiritual para a Comunidade cristã, graças ao qual os baptizados são ajudados a responder com maior generosidade à comum chamada à santidade.

Na variedade dos carismas, os consagrados e as consagradas são chamados a dedicar-se completamente ao testemunho evangélico, nos vários sectores da vida eclesial e social. Para que esse testemunho dê os frutos esperados, é preciso, entretanto, que as actividades apostólicas sejam oportunamente adaptadas às necessidades actuais da Igreja e conduzidas em plena comunhão com os Pastores diocesanos. Oro ao Senhor para que não se debilite mas, antes, aumente o impulso vital que caracterizou a Igreja na Bósnia-Herzegovina ao longo dos séculos. Quero recordar o contributo que os Religiosos, em primeiro lugar os Frades Menores Franciscanos, deram para a conservação da fé católica durante os mais de quatro séculos da ocupação otomana. A recordação do passado representa um impulso profético a procurar incessantemente formas de acordo com os tempos, para ajudar o povo cristão a crescer e a amadurecer na fidelidade ao Evangelho e na caridade, evitando qualquer coisa que possa prejudicar a unidade da Igreja e criar confusão ou escândalo entre os fiéis.

4. Sei que o vosso constante esforço pastoral tem em vista fazer com que, em continuidade com a grande tradição católica, todos os agentes pastorais na Bósnia-Herzegovina ponham em prática, de maneira fiel, as directrizes do Concílio Vaticano II e sigam com docilidade as normas canónicas. Não há dúvida de que a sintonia nos intentos apostólicos e a estreita colaboração de todos, presbíteros, consagrados, consagradas e leigos, sob a diligente guia dos Bispos, produzirão frutos abundantes de fé, de caridade e de santidade. Isto ajudará não só a Igreja, projectando-a com coragem para o futuro, mas também a sociedade civil.

Venerados Irmãos no Episcopado, sois vós os responsáveis principais da pastoral eclesial: compete-vos guiá-la, em virtude do mandato evangélico recebido com a Ordenação episcopal, em plena comunhão com o Sucessor de Pedro, herdeiro de «um seguro carisma de verdade» (Santo Ireneu, Adversus haereses, IV, 26, 2: , 10, 53). Santo Inácio de Antioquia ensina que «lá onde há um Bispo, ali está também a Igreja» (Carta os Esmirneus, VIII, 2). Uma obra pastoral mesmo interessante, mas não em linha com estes princípios fundamentais, corre o perigo de influir de maneira negativa no justo desenvolvimento do inteiro corpo eclesial, ainda que quem a promova, esteja persuadido de trabalhar em nome de Deus e para o bem dos fiéis e da própria Igreja.

Faço ardentes votos por que se possam encontrar serenas e satisfatórias soluções aos problemas concernentes à organização das actividades apostólicas. Isto é necessário, a fim de que todos os agentes pastorais ponham, com renovado entusiasmo, as suas energias ao serviço do Evangelho. Ao insubstituível ministério dos presbíteros e ao profético testemunho dos consagrados, está unida a acção corajosa dos fiéis leigos, chamados também no vosso País a uma presença intrépida e incisiva, mediante uma acção fiel à doutrina apostólica, com o apoio do frequente recurso aos Sacramentos.

É esta a vocação de todos os fiéis, seja qual for o sector social a que pertençam: agrícola ou industrial, comercial ou de serviços, cultural ou político. Certamente, esta sua presença apostólica requer uma adequada formação cristã, que é fruto de um empenho constante e sistemático.

5. Ao escutar-vos, venerados Irmãos, nos encontros realizados no decurso desta visita ad Limina, compreendi bem como a tarefa primária que está diante da Igreja na Bósnia-Herzegovina, após as recentes devastações, é organizar a vida das Dioceses e das Paróquias. Ao mesmo tempo, é preciso continuar a ajudar as populações locais a reconstruírem tudo o que foi destruído pela fúria bélica, e oferecer-lhes a esperança de um próspero futuro de paz. Desejo encorajar-vos nesta não fácil tarefa que, às vezes, é impedida pela situação complexa que vive o vosso País, situação em que, infelizmente, podeis influir pouco. Tenho conhecimento do empenho das vossas Igrejas por ajudar todas as populações a retomar a vida normal. Continuai a defender os direitos inalienáveis de cada pessoa e de cada Povo, como fizestes desde o início do sanguinolento conflito, que semeou ódio e desconfiança, mortos e prófugos, afastando populações inteiras das regiões onde viviam desde há séculos.

Como não sofrer, ao pensar que o número dos católicos diminuiu mais de 50%? Como não recordar as devastações que se verificaram um pouco em toda a parte, mas sobretudo nas vastas zonas das circunscrições eclesiásticas de Banja Luka e de Sarajevo, a antiga Vrhbosna, e também numa parte das Dioceses de Trebinje-Mrkan e de Mostar-Duvno?

Enquanto me alegro pelos inúmeros sinais duma consolidação da paz, não posso deixar de citar as sombras que são motivo de preocupação. Em primeiro lugar, a malograda solução do difícil problema do retorno dos prófugos, assim como o desigual tratamento das três componentes que formam a Bósnia-Herzegovina, especialmente no que se refere ao pleno respeito das identidades religiosas e culturais. São do meu conhecimento os obstáculos que se apresentam às populações católicas das zonas da Bósnia central, de Banja Luka e da Posavina, na sua tentativa de retornarem às próprias casas. O aspecto prioritário, de que depende a justa solução de diversos outros problemas, continua a ser a criação de condições imparciais para este almejado retorno dos prófugos e dos exilados às próprias casas, assegurando-lhes um futuro sereno.

6. Tudo o que é pedido para os católicos, vale para os que pertencem às outras comunidades religiosas e aos grupos étnicos de todo o território da Bósnia-Herzegovina, sem favorecer uns com prejuízo dos outros. A todos devem ser garantidos os direitos fundamentais; a cada um devem ser oferecidas as mesmas oportunidades. A verdade, a liberdade, a igualdade, a justiça, o respeito recíproco, a solidariedade são base de um futuro de serenidade e de progresso para cada um e para todos. Sobre esses valores se edifica um País, constituído por povos, culturas e comunidades religiosas diferentes. É o homem, cada homem, o recurso mais precioso de todo o País.

Possa a vigília do Terceiro Milénio na Bósnia-Herzegovina ser caracterizada pela paz, pelo respeito dos direitos inalienáveis de cada pessoa e de todos os grupos sociais; possa cada Povo da vossa Pátria ver promovidas a própria dignidade e as próprias e legítimas aspirações de igualdade e de desenvolvimento; possa cada família olhar com serenidade para o futuro, um futuro de liberdade, solidariedade e paz.

7. Caríssimos Irmãos, continuai a promover e sustentar o método do diálogo com o espírito de Pastores, no respeito pelo campo de acção próprio dos políticos, aos quais são confiadas tarefas precisas acerca da organização da sociedade humana. Prossegui com confiança o empenho ecuménico com os irmãos ortodoxos, assim como o diálogo com as Comunidades judaica e muçulmana. Conheço tudo o que fizestes a respeito disso, nos momentos mais difíceis dos anos passados. O entusiasmo daquele período continue também hoje e se transforme num concreto serviço ao homem e à causa da paz.

Sede mensageiros incansáveis de perdão e de reconciliação. A Igreja sabe que esta obra é parte integrante do anúncio do Evangelho e do testemunho da misericórdia do Pai celeste. Nesse contexto, é louvável a vossa iniciativa, também em vista da preparação para o Grande Jubileu, de proclamar 1999 o «Ano da Reconciliação». Eu recordava em Marija Bistrica, a 3 de Outubro de 1998, que «perdoar e reconciliar-se, quer dizer purificar a memória do ódio, dos rancores, da vontade de vingança; significa reconhecer como irmãos também aquele que nos fez algum mal; quer dizer não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem (cf. Rm Rm 12,21)» (L'Osserv. 10/10/98, pág. Rm 3,5).

O empenho em favor do homem e do bem é empenho evangélico e, portanto, faz parte da missão da Igreja no mundo (Mt 25,34-46 Lc 4,18-19). Nesta luz, deve ser encorajada a actividade da Cá ritas e a aplicação, por parte da Igreja, de iniciativas de carácter social, em favor dos indivíduos e das famílias que estão em necessidade. Mas, ao oferecer o pão quotidiano a quem tem necessidade, seja vosso constante cuidado assegurar o Pão da vida eterna aos irmãos na fé e anunciar a todos Cristo como «o Caminho, a Verdade e a Vida» (cf. Jo Jn 14,6).

8. A luz de Cristo Salvador, que recentemente contemplamos no mistério do Natal, ilumine as famílias e as comunidades eclesiais da Bósnia-Herzegovina. Ao acolherem com amor a palavra de Deus que salva, as vossas comunidades eclesiais permaneçam fiéis a Cristo até ao cumprimento do mistério de Deus (cf. Ap Ap 10,7) e tornem-se atentas a quanto lhes diz o Espírito, nesta passagem do segundo para o terceiro milénio.

Maria, Mãe da Igreja e da humanidade remida, obtenha para todos vós o dom da fidelidade, da concórdia e da esperança. No vosso incansável trabalho e zelo apostólico, vos acompanhe a Bênção Apostólica, que de coração concedo a vós, ao clero das vossas Dioceses, e também aos religiosos e religiosas e a todos os fiéis leigos confiados aos vossos cuidados pastorais. «A graça do Senhor Jesus esteja com todos» (Ap 22,21).




Discursos João Paulo II 1999