Discursos João Paulo II 1999 - Cidade do México, 25 de Janeiro de 1999


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

AO MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

DURANTE A CERIMÓNIA DE DESPEDIDA


DO MÉXICO


Terça-feira, 26 de Janeiro de 1999



Senhor Presidente
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado
Excelentíssimas Autoridades
Amadíssimos Irmãos e Irmãs
do México!

1. As densas e emotivas jornadas com o Povo de Deus que peregrina em terras mexicanas deixaram em mim profundas marcas. Levo gravados os rostos de tantas pessoas encontradas durante estes dias. Estou muito agradecido a todos pela cordial hospitalidade, expressão genuína da alma mexicana, e sobretudo por ter podido compartilhar intensos momentos de oração e reflexão nas celebrações da Santa Missa na Basílica de Guadalupe e no Autódromo «Hermanos Rodríguez»; na visita ao Hospital «Doutor Adolfo López Mateos» e o memorável encontro com as quatro gerações no Estádio Asteca.

2. Peço a Deus que abençoe e recompense a todos os que cooperaram na realização desta Visita. Estou-lhe muito reconhecido, Senhor Presidente, pelas suas amáveis palavras à minha chegada, por me ter recebido na sua Residência Presidencial, por todas as atenções que teve para com a minha pessoa, assim como pela colaboração prestada pelas Autoridades.

A minha gratidão estende-se também ao Senhor Cardeal Norberto Rivera Carrera, Arcebispo Primaz do México, assim como aos demais Cardeais e Bispos mexicanos e aos que vieram de todo o Continente, que colaboraram para que esta Visita fosse vivida com tanta intensidade. O meu agradecimento faz-se oração, invocando do Céu as melhores bênçãos para este povo que, em tantas ocasiões, demonstrou a sua fidelidade a Deus, à Igreja e ao Sucessor de São Pedro. Por isso, daqui elevo a minha voz ao alto:

Deus te abençoe, México, pelos exemplos de humanidade e de fé das tuas gentes, pelos esforços em defender a família e a vida!

Deus te abençoe, México, pela fidelidade e amor dos teus filhos à Igreja! Os homens e mulheres que compõem o rico mosaico das tuas diversas e fecundas culturas, encontram em Cristo a força para superar antigos ou recentes antagonismos e se sentir filhos de um mesmo Pai.

Deus te abençoe, México, que contas com numerosos povos indígenas, cujo progresso e respeito queres promover! Eles conservam ricos valores humanos e religiosos e querem trabalhar juntos para construir um futuro melhor.

Deus te abençoe, México, que te esforças por desterrar para sempre as lutas que dividiram os teus filhos, mediante um diálogo fecundo e construtivo! Um diálogo no qual ninguém fique excluído e irmane ainda mais todos os teus habitantes, os crentes fiéis à sua fé em Cristo e os que estão afastados d'Ele. Só o diálogo fraterno entre todos dará vigor aos projectos de futuras reformas, almejadas pelos cidadãos de boa vontade, que pertencem a todos os credos religiosos e aos diversos sectores políticos e culturais.

Deus te abençoe, México, que continuas a sentir saudades dos teus filhos, que emigraram em busca de pão e trabalho! Eles contribuíram também para propagar a fé católica nos seus novos ambientes e construir uma América que, como manifestaram os Bispos no Sínodo, quer ser solidária e fraterna.

Deus te abençoe, México, pela liberdade religiosa que estás a reconhecer àqueles que O adoram dentro das tuas fronteiras. Esta liberdade, garantia de estabilidade, dá pleno sentido às outras liberdades e direitos fundamentais.

Deus te abençoe, México, pela Igreja que está presente no teu solo! Os Bispos, juntamente com os sacerdotes, consagrados, consagradas e leigos, empenhados na nova evangelização, fiéis a Cristo e ao seu Evangelho, anunciam na tua terra, desde há quase cinco séculos, o Reino de Deus.

3. O México é um grande País, que aprofunda as suas raízes num passado rico pela sua fé cristã e aberto ao futuro, na sua clara vocação americana e mundial. Ao percorrer os vales do Distrito Federal, ao ter presente no coração os Estados que compõem a Nação, senti de novo o pulsar deste nobre povo, que com tanto afecto me recebeu na minha primeira Viagem apostólica fora de Roma, no início do meu ministério petrino. No seu acolhimento vejo o fiel reflexo de uma realidade que progride na vida mexicana: a de um novo clima nas relações respeitosas, sólidas e construtivas entre o Estado e a Igreja, superando outros tempos que, com as suas luzes e sombras, já fazem parte da história. Este novo clima favorecerá cada vez mais a colaboração em favor do povo mexicano.

4. Ao concluir esta visita pastoral, quero reafirmar a minha plena confiança no porvir deste povo. Um futuro em que o México, cada vez mais evangelizado e cristão, seja um país de referência na América e no mundo; um país onde a democracia, cada dia mais arraigada e firme, mais transparente e efectiva, juntamente com a alegre e pacífica convivência entre as suas gentes, seja sempre uma realidade sob o olhar terno da sua Rainha e Mãe, a Virgem de Guadalupe.

Para Ela o meu último olhar e a minha última saudação, antes de deixar pela quarta vez esta bendita terra mexicana. A Ela confio todos e cada um dos seus filhos mexicanos, cuja recordação levo no meu coração. Virgem de Guadalupe, vela sobre o México! Vela sobre todo o querido Continente americano!



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II

MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS


NO AEROPORTO INTERNACIONAL


DE SÃO LUÍS, ESTADOS UNIDOS


Terça-feira, 26 de Janeiro de 1999



Senhor Presidente
Querida população de São Luís
Estimado povo dos Estados Unidos!

1. É para mim uma grande alegria voltar aos Estados Unidos e experimentar mais uma vez a vossa afectuosa hospitalidade.

Como sabeis, fui ao México para celebrar a conclusão da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América. Este importante encontro teve a finalidade de preparar a Igreja para entrar no novo Milénio e suscitar um renovado sentido de solidariedade entre os povos do Continente. Agora, sinto-me feliz por poder trazer esta mensagem à América central, nas margens do Mississípi, na histórica cidade de S. Luís, acesso ao Oeste.

Estou-lhe grato, Senhor Presidente, por me ter gentilmente recebido no momento da minha chegada. Saúdo de igual modo o Governador e as autoridades do Estado do Missuri, bem como o Presidente da Câmara Municipal de S. Luís e os outros funcionários da cidade e das áreas limítrofes. Desta forma, numerosas pessoas ofereceram a sua generosa cooperação na preparação desta visita e estou grato a todos.

2. Como Pastor da Igreja universal, sinto-me particularmente feliz por saudar a comunidade católica da Arquidiocese de S. Luís, com a sua rica herança espiritual e as suas dinâmicas tradições de serviço aos necessitados. Desejo dizer uma palavra de apreço ao Arcebispo Justin Rigali, que esteve próximo de mim quando fui eleito ao Pontificado, há vinte anos. Aguardo com ânsia encontrar-me com os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e os leigos desta Igreja local que exerceu tanta influência na história do Centro-Oeste.

Ao agradecer-lhes de coração, saúdo os Cardeais e os Bispos. A sua presença oferece-me a oportunidade de enviar os meus melhores votos à inteira Província de S. Luís, à sua região eclesiástica e a todas as Dioceses deste País. Apesar de S. Luís ser o único lugar que posso visitar desta vez, sinto-me próximo de todos os católicos dos Estados Unidos.

Manifesto a minha amizade e estima aos meus irmãos cristãos, à comunidade judaica na América, às nossas irmãs e irmãos muçulmanos. Exprimo o meu respeito cordial aos povos de todas as religiões e a cada pessoa de boa vontade.

3. Na narração histórica, o nome de S. Luís estará para sempre ligado ao primeiro voo transatlântico e ao enorme esforço e coragem por parte do homem, que se escondem nesse nome: o «Espírito de São Luís».

Estais a preparar-vos para o bicentenário da «Louisiana Purchase», realizada pelo Presidente Thomas Jefferson em 1804. O aniversário representa um desafio à renovação religiosa e civil para toda a comunidade. Será uma oportunidade para reafirmar o «Espírito de São Luís» e as verdades e os valores autênticos da experiência americana.

Existem tempos de provações de carácter nacional, na história de cada país. A América não ficou imune disso. Um destes momentos difíceis está estreitamente relacionado com S. Luís. Foi discutida aqui a célebre causa Dred Scott, depois da qual o Supremo Tribunal dos Estados Unidos excluiu uma inteira classe de seres humanos, pessoas de descendência africana, da comunidade nacional e da tutela da Constituição.

Após sofrimentos indizíveis e com enormes esforços, tal situação foi modificada, pelo menos em parte.

Hoje a América encontra-se perante um tempo de provação semelhante. Actualmente existe o conflito entre uma cultura que afirma, conserva e celebra o dom da vida e outra que procura excluir da tutela legal inteiros grupos de seres humanos, os nascituros, os doentes em fase terminal, os deficientes e outros, considerados «inúteis». Por causa da gravidade das questões implicadas, e devido ao grande impacto que a América tem sobre todo o mundo, o êxito deste novo tempo de provação terá consequências profundas para o século cujo limiar nos preparamos para cruzar. A minha fervorosa oração é por que através da graça de Deus que actua na vida dos americanos de todas as raças, grupos étnicos, condições económicas e credos, a América resista à cultura da morte e opte por estar firmemente da parte da vida. Optar pela vida, como escrevi na Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz deste ano, implica a recusa de qualquer forma de violência: a violência da pobreza e da fome, que oprime tantos seres humanos; a violência do conflito armado que não resolve mas incrementa as divisões e tensões; a violência de armas particularmente repugnantes como as minas anti-homem; a violência do narcotráfico; a violência do racismo e a violência do dano inconsciente causado ao ambiente natural.

Só uma visão moral mais elevada pode motivar a opção pela vida. E os valores que estão na base desta visão dependem, em grande medida, da vontade que a nação tem de continuar a honrar e a servir a família como célula primária da sociedade; a família, mestra de amor, de serviço, de compreensão e de perdão; a família, generosa e aberta às necessidades do próximo; a família, grande fonte de felicidade humana.

4. Senhor Presidente, queridos amigos, sinto-me feliz por ter outra oportunidade de agradecer ao povo americano as numerosas obras de bondade e solidariedade humanas que, desde o início, formaram uma parte considerável da história do vosso País. Ao mesmo tempo, sei que ouvireis a minha súplica a abrirdes os vossos corações à situação cada vez mais difícil e às necessidades urgentes das nossas irmãs e irmãos mais infelizes no mundo.

Também isto, o espírito de compaixão, solicitude e generosa partilha, deve fazer parte do «Espírito de São Luís». Além disso, ele deve ser o espírito renovado desta «única nação, sob Deus, com liberdade e justiça para todos». Deus abençoe todos vós! Deus abençoe a América!



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II

MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

NO ENCONTRO COM OS JOVENS


NO "KIEL CENTER"


São Luís, 26 de Janeiro de 1999

Parte 1


Queridos Jovens de São Luís
Dilectos Jovens dos Estados Unidos
Louvado seja Jesus Cristo!

1. As vossas calorosas e entusiastas boas-vindas fazem-me muito feliz. Elas dizem-me que hoje à noite o Papa vos pertence. Acabei de chegar da Cidade do México, onde celebrei o encerramento do Sínodo dos Bispos para a América. Ali, tive a satisfação de estar com muitos milhares de jovens. E agora, o meu júbilo continua aqui convosco, jovens de São Luís, do Missuri e de todos os Estados Unidos.

2. Nesta tarde estamos aqui reunidos para ouvir Jesus que nos fala mediante a sua palavra e com o poder do Espírito Santo.

Acabámos de ouvir o Apóstolo Paulo dizer a Timóteo, seu jovem companheiro de evangelização: «Exercita-te na piedade» (1Tm 4,7). Estas palavras são importantes para todos os cristãos, para todas as pessoas que deveras procuram seguir o Senhor e praticar as Suas palavras. Estas são particularmente relevantes para vós, jovens da Igreja. Assim, deveis perguntar-vos: que tipo de exercício estou a fazer para viver uma vida deveras cristã?

Todos vós sabeis o que é o «exercício» e o que isto significa. De facto, encontramo-nos aqui no Centro «Kiel», onde inúmeras pessoas realizam longos e árduos exercícios em vista de competir em diferentes desportos. Hoje, este impressionante estádio tornou-se outro género de campo de treinamento - não para o hóquei, para o futebol ou para o basquetebol, mas para aquele exercício que vos ajudará a viver de maneira mais decisiva a vossa fé em Jesus. Este é o verdadeiro «exercício da piedade» a que São Paulo se refere - o exercício que vos torna capazes de dar-vos sem reservas ao Senhor e à obra para a qual Ele vos chama!

3. Dizem-me que havia muito entusiasmo em São Luís, durante a recente temporada de beisebol, quando dois grandes jogadores (Mark McGwire e Sammy Sosa) competiam para bater o recorde de pontos («home-run»). Podeis sentir o mesmo grande entusiasmo, ao treinardes em vista de uma meta diferente: seguir Cristo e transmitir a sua mensagem ao mundo.

Cada um de vós pertence a Cristo e Cristo pertence a vós. No Baptismo, fostes resgatados para Cristo com o sinal da Cruz; recebestes a fé católica como um tesouro a compartilhar com os demais. Na Confirmação, fostes selados com as dádivas do Espírito Santo e fortalecidos para a vossa missão e vocação cristãs. Na Eucaristia, recebestes o alimento que vos nutre em vista dos desafios espirituais de todos os dias.

Estou particularmente feliz pelo facto que muitos de vós hoje tiveram a oportunidade de receber o Sacramento da Penitência, o Sacramento da Reconciliação. Neste Sacramento, experimentais de maneira muito pessoal a terna misericórdia e o amor do Salvador, ao serdes libertados do pecado e da sua hedionda companheira que é a vergonha. Sois aliviados dos vossos fardos e experimentais a alegria da nova vida em Cristo.

A vossa pertença à Igreja não pode encontrar maior expressão ou apoio do que a participação na Eucaristia todos os domingos nas vossas paróquias. Cristo oferece-nos o dom do seu Corpo e Sangue a fim de fazer de nós um só corpo, um só espírito n'Ele, para nos congregar mais profundamente na comunhão com Ele e com todos os membros do seu Corpo, a Igreja. Fazei da celebração dominical nas vossas paróquias um verdadeiro encontro com Jesus na comunidade dos seus seguidores: esta é a parte essencial do vosso «exercício da piedade» ao Senhor!

4. Estimados jovens amigos, na Leitura que acabámos de ouvir, o Apóstolo Paulo diz a Timóteo: «Que ninguém o despreze por ser jovem» (1Tm 4,12). Di-lo porque a juventude constitui um maravilhoso dom de Deus. Trata-se de um tempo de especiais energias, particulares oportunidades e singulares responsabilidades. Cristo e a Igreja precisam dos vossos talentos especiais. Fazei bom uso das dádivas que o Senhor vos concedeu!

Este é o tempo do vosso «exercício», do vosso desenvolvimento físico, intelectual, emocional e espiritual. Todavia, isto não significa que podeis adiar o vosso encontro com Cristo e a vossa participação na missão da Igreja. Embora sejais jovens, este é o tempo para a acção! Jesus não «despreza a juventude». Ele não vos deixa de parte para um período posterior, quando fordes mais velhos e o vosso exercício se completar. O vosso treinamento jamais terminará. Os cristãos vivem em constante exercício. Vós estais prontos para o que Cristo quer de vós agora. Ele deseja que vós - todos vós - sejais a luz do mundo, como só os jovens o podem ser. Chegou a hora de fazerdes brilhar a vossa luz!

Em todas as minhas viagens, falo ao mundo acerca das vossas energias juvenis, dos vossos talentos e da vossa disponibilidade a amar e a servir. E aonde quer que eu vá, desafio os jovens - como um amigo - a viverem na luz e na verdade de Jesus Cristo.

Exorto-vos a deixar que a Sua palavra entre nas vossas almas e, do íntimo dos vossos corações, a dizer-lhe: «Eis-me aqui, ó Senhor, para fazer a vossa vontade» (cf. Hb He 10,7).


Parte II


«Vós sois a luz do mundo... que a vossa luz brilhe diante dos homens» (Mt 5,14 Mt 5,16).

Prezados Jovens

1. Perguntai-vos: acredito nestas palavras de Jesus no Evangelho? Jesus chama-vos luz do mundo. Ele pede-vos que deixeis a vossa luz brilhar diante dos outros. Bem sei que nos vossos corações quereis dizer: «Eis-me aqui, ó Senhor. Eis-me aqui. Venho para fazer a vossa vontade» (Salmo responsorial; cf. Hb He 10,7). Contudo, somente se fordes um só com Jesus podereis compartilhar a sua luz e, por vossa vez, ser a luz do mundo.

Estais prontos para isto?

Infelizmente, hoje demasiadas pessoas vivem distante da luz - num mundo de ilusões, de sombras fugazes e de promessas não mantidas. Se olhardes para Jesus, se viverdes a Verdade que é Jesus, tereis em vós a luz que revela as verdades e os valores sobre os quais podeis construir a vossa própria felicidade, enquanto edificareis um mundo de justiça, de paz e de solidariedade. Recordai o que Jesus disse: «Eu sou a luz do mundo; quem me seguir não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida» (cf. Jo Jn 8,12).

Uma vez que Jesus é a Luz, também nós nos tornamos luz quando O proclamamos. Este é o cerne da missão cristã à qual cada um de vós foi chamado através do Baptismo e da Confirmação. Sois chamados a fazer com que a luz de Cristo brilhe esplendidamente no mundo.

2. Quando éreis crianças, não tínheis às vezes medo da escuridão? Hoje não sois mais crianças que têm medo da escuridão. Sois adolescentes e jovens. Todavia, já compreendeis que há outro género de escuridão no mundo: a obscuridade da dúvida e da incerteza. É possível que sintais a obscuridade da solidão e do isolamento. As vossas ansiedades podem derivar de interrogativos acerca do futuro, ou de remorsos quanto às vossas opções do passado.

Por vezes o próprio mundo parece impregnado de escuridão. A obscuridade das crianças que padecem fome e até mesmo morrem. A escuridão das pessoas desabrigadas que têm necessidade de trabalho e de assistência médica. A obscuridade da violência: a violência contra os nascituros, a violência no seio das famílias, a violência dos bandos de malfeitores, a violência do abuso sexual, a violência das drogas que destroem o corpo, a mente e o coração. Existe algo de terrivelmente errado quando um número tão elevado de jovens é esmagado pelo desespero, a ponto de cometer suicídio. E nalgumas regiões desta nação já foram outorgadas leis que permitem aos médicos pôr fim à vida das pessoas que eles juraram assistir. O dom divino da vida está a ser rejeitado. Escolhe-se a morte e não a vida, e isto traz consigo a escuridão do desespero.

3. Todavia, vós acreditais na luz (cf. Jo Jn 12,36)! Não presteis atenção àquelas pessoas que vos encorajam a mentir, a subtrair-vos às responsabilidades, a pensar antes de mais em vós próprios. Não escuteis aqueles que vos dizem que a castidade pertence ao passado. Nos vossos corações, sabeis que o verdadeiro amor constitui um dom de Deus e que respeita o seu plano para a união do homem e da mulher no matrimónio. Não vos deixeis levar por falsos valores e slogans falazes, especialmente acerca da vossa liberdade.

A liberdade genuína é uma maravilhosa dádiva de Deus, e tem constituído uma parte preciosa da história do vosso país. Contudo, quando a liberdade se separa da verdade, os indivíduos perdem a sua orientação moral e o próprio tecido da sociedade começa a dilacerar-se.

A liberdade não é a capacidade de fazermos tudo o que desejamos e quando queremos. Pelo contrário, a liberdade é a capacidade de vivermos de maneira responsável a verdade acerca do nosso relacionamento com Deus e com os outros. Recordai o que Jesus disse: «Conhecereis a verdade e a liberdade libertar-vos-á» (Jn 8,32). Não deixeis que ninguém vos desnorteie ou impeça de ver aquilo que é realmente importante. Voltai-vos para Jesus, escutai-O e descobri o genuíno significado e a verdadeira direcção da vossa vida.

4. Vós sois os filhos da luz (cf. Jo Jn 12,36)! Pertenceis a Cristo, que vos chamou pelo nome. A vossa responsabilidade primordial consiste em procurar conhecê-Lo tanto quanto puderdes nas vossas paróquias, na educação religiosa nas vossas escolas e colégios, bem como nos grupos juvenis e nos Centros «Newman».

Todavia, só O conhecereis verdadeira e pessoalmente através da oração. É necessário que faleis com Ele e que O escuteis.

Hoje vivemos numa época em que as comunicações são imediatas. Contudo, conseguis perceber que singular forma de comunicação é a oração? Esta permite-nos encontrar Deus no mais profundo do nosso ser, vinculando-nos directamente a Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, numa constante permuta de amor.

Mediante a oração, aprendereis a ser a luz do mundo, porque na prece vos tornais um só com a fonte da nossa verdadeira luz, Jesus mesmo.

5. Cada um de vós tem uma especial missão na vida e é chamado a ser discípulo de Cristo. Muitos de vós servirão a Deus na vocação da vida matrimonial cristã; alguns de vós O servirão como pessoas singularmente devotadas; outros, como sacerdotes e religiosos. Todavia, todos vós deveis ser a luz do mundo. Àqueles de entre vós que julgam que Cristo vos está a convidar para O seguir no sacerdócio ou na vida consagrada, dirijo este apelo pessoal: peço-vos que Lhe abrais os vossos corações com generosidade; não adieis a vossa resposta. O Senhor ajudar-vos-á a conhecer a sua vontade; auxiliar-vos-á a seguir a vossa vocação com coragem.

6. Queridos jovens, nos dias, nas semanas e nos anos que hão-de vir, enquanto vos recordardes desta tarde, lembrai-vos de que o Papa veio aos Estados Unidos, à Cidade de São Luís, a fim de chamar os jovens da América para Cristo, a fim de vos convidar a segui-Lo. Ele veio para vos desafiar a ser a luz do mundo! «Esta luz brilha nas trevas e as trevas não conseguiram apagá-la» (Jn 1,5). Jesus, que derrotou o pecado e a morte, recorda-vos: «Eu estarei sempre convosco» (Mt 28,20). Ele diz: «Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!» (Mc 6,50).

No horizonte desta Cidade encontra-se o «Arco de Ingresso» que, com frequência, captura a luz do sol nas suas diferentes cores e matizes. Também vós, de mil maneiras diversas, deveis reflectir a luz de Cristo na vossa vida de oração e de alegre serviço ao próximo. Com a ajuda de Maria, Mãe de Jesus, os jovens da América hão-de fazê-lo de modo magnífico!

Lembrai-vos: Cristo chama-vos; a Igreja tem necessidade de vós; o Papa acredita em vós e espera grandes coisas de vós!

Louvado seja Jesus Cristo!

Antes de se despedir dos jovens, o Santo Padre improvisou as seguintes palavras:

Desta forma, estou preparado para voltar a jogar hóquei! Mas sou capaz de o fazer? Eis a questão. Talvez depois deste encontro o serei um pouco mais.



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II

MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

ÀS CRIANÇAS DO HOSPITAL PEDIÁTRICO


"CARDINAL GLENNON"


São Luís, 26 de Janeiro de 1999



Às crianças do Hospital Pediátrico
«Cardinal Glennon»

Durante a minha visita a São Luís, queridas crianças, tenho a alegria de poder encontrar pessoalmente e abraçar, uma por uma, algumas de vós no Centro «Kiel».

Todas vós estais no meu coração, embora hoje eu não tenha podido ver-vos todas. Desejo que os meninos e meninas que são cuidados pelo Hospital Pediátrico «Cardinal Glennon», e todas as crianças doentes, onde quer que se encontrem, saibam que o Papa ora por cada uma delas.

Sabeis quanto Jesus amou as crianças e quanto Se alegrava ao estar com elas. Também vós sois muito especiais para Ele. Algumas de vós e alguns dos vossos amigos sofreram muito, e sentis o peso daquilo que vos aconteceu. Desejo exortar-vos a ser pacientes e a estar perto de Jesus, que sofreu e morreu na Cruz por amor de vós e de mim.

Ao vosso redor estão pessoas que muito vos amam. Entre elas, as Irmãs Franciscanas de Maria que, durante muitos anos, têm administrado com fidelidade este Hospital. Estão também aqueles que actualmente cuidam de vós e os que trabalham com denodo para sustentar o Hospital Pediátrico «Cardinal Glennon». E com certeza estão as vossas famílias e amigos que vos amam muito e desejam que sejais fortes e corajosos. Sinto-me feliz por abençoá-los.

Hoje, penso de igual modo em muitas outras pessoas doentes na Arquidiocese de São Luís e noutros lugares. Envio as minhas saudações a todos os doentes, aos que sofrem e são idosos, e asseguro-lhes que ocupam um lugar especial nas minhas orações diárias. Eles desempenham um papel particularmente fecundo no coração espiritual da Igreja.

Convido todos os doentes a terem confiança em Jesus que disse: «Eu sou a ressurreição e a vida» (Jn 11,25). Em união com Ele, também as nossas provações e os nossos sofrimentos são preciosos para a redenção do mundo. Que Maria, sua Mãe, vos acompanhe e cumule de alegria os vossos corações! Com a minha Bênção Apostólica.

São Luís, 26 de Janeiro de 1999.



VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II

MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA


São Luís, 27 de Janeiro de 1999

No final da minha visita, desejo exprimir o meu apreço ao Vice-Presidente e à Senhora Gore, que vieram saudar-me antes da minha partida para Roma. Agradeço a quantos se associaram ao Governo Federal, tudo o que fizeram para tornar possível esta visita.

A minha gratidão dirige- se ao Governador do Estado do Missuri e ao Presidente da Câmara Municipal da Cidade de São Luís, assim como a todos os seus e com colaboradores. Agradeço à Polícia e a quantos se esforçaram em vista da segurança e da ordem pública. Agradeço às comunidades civis e comerciais locais o apoio que ofereceram.

As boas-vindas que me transmitiram os meus irmãos cristãos e os membros de outras Comunidades religiosas foram muito afáveis. Espero que aceiteis os meus sinceros agradecimentos e a certeza da minha amizade na causa do ecumenismo, do diálogo e da cooperação inter-religiosa.

Visitar os habitantes de São Luís foi uma experiência comovedora. Gostaria de me ter encontrado pessoalmente com cada jovem do Centro «Kiel» e com todas as outras pessoas reunidas no «Trans World Dome», aqui na Basílica-Catedral, assim como ao longo das ruas e no aeroporto.

Agradeço também aos Cardeais e aos meus Irmãos Bispos dos Estados Unidos que vieram a São Luís. Foi um prazer saber que tantas Dioceses enviaram representantes. Estou grato a todos vós.

Em particular, desejo agradecer à Igreja local de São Luís. Sinto-me devedor a todas as pessoas dedicadas, organizadores, membros de comissões e voluntários que trabalharam durante muito tempo e com denodo atrás dos bastidores. Além disso, não esqueço o apoio oculto mas eficaz de quantos oraram pelo bom êxito espiritual deste evento, especialmente o dos contemplativos nos seus mosteiros. Dirijo uma especial palavra de agradecimento e estima a D. Rigali, que precisamente há dois dias celebrou o seu quinto aniversário como vosso dedicado Pastor.

Há alguns meses, peregrinos provenientes de São Luís foram a Roma. Encontrámo-nos diante da Basílica de São Pedro, onde cantaram: «Vem ao meu encontro em São Luís... vem encontrar-me na Catedral!». Com a ajuda de Deus, fizemo-lo. Recordar-me-ei sempre de São Luís. Lembrar-me-ei sempre de todos vós.

Deus abençoe São Luís!
Deus abençoe a América!

                                                                       Fevereiro de 1999

DISCURSO DO DO PAPA JOÃO PAULO II


À CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA GRÉCIA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 5 de Fevereiro de 1999



Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimo Ordinário para os católicos
gregos de rito arménio!

1. É com alegria que vos recebo, por ocasião da vossa peregrinação aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo. É este o primeiro significado da visita ad Limina: ela tem em vista pôr em evidência a comunhão das Igrejas locais, espalhadas pelo mundo, com o Sucessor de Pedro. Agradeço a D. Nicolaos Foscolos, Presidente da vossa Conferência Episcopal, os sentimentos de afectuosa devoção que me manifestou e as palavras que me dirigiu em vosso nome.

Como Pastores encarregados de conduzir o povo de Deus, sois chamados a ajudar as comunidades a deixarem-se guiar pelo Espírito Santo no dever de testemunhar o Evangelho, contribuindo ao mesmo tempo para a paz e a concórdia entre os homens. Quereria, antes de mais, dizer-vos quanto apreciei o ministério por vós exercido com solicitude. No vosso País, onde os fiéis da Igreja católica são a minoria, é oportuno que prossigais no empenho de organizar a vossa Conferência Episcopal, para melhor realizar aqueles projectos pastorais que vos estão a peito, respondendo desse modo mais eficazmente às numerosas exigências da missão e assegurando ao mesmo tempo uma gestão administrativa mais eficaz. Nesta perspectiva, pareceria oportuna a criação de um secretariado permanente, a fim de consentir uma imediata aplicação das decisões adoptadas durante as vossas assembleias, tornando operativos aqueles projectos pastorais que dizem respeito ao conjunto da Igreja católica na Grécia. Podereis assim sustentar-vos mutuamente, para responderdes de modo incisivo às diversas exigências do ministério episcopal, com o contributo de pessoas competentes. Para isto, convém suscitar regulares ocasiões de diálogo e de reflexão entre todas as componentes da comunidade católica. Estes encontros, dando prosseguimento à vossa recente «Sinassis», facilitarão reuniões eclesiais ou sínodos diocesanos, para um impulso pastoral que envolve a inteira comunidade católica das vossas dioceses.

Através de vós, desejo fazer chegar o meu cordial encorajamento a quantos colaboram convosco na missão, em particular aos sacerdotes que levam o peso do ministério quotidiano, estando a enfrentar, por causa especialmente do seu pequeno número, dificuldades e tarefas sempre mais vastas e fatigosas. Graças a encontros fraternos com eles, sabereis sustentá-los na sua missão e ajudá-los-eis a avaliar bem as actividades pastorais e a pôr em prática novos projectos. De igual modo, saúdo com afecto os fiéis das vossas dioceses, cuja tarefa é essencial, pois, em virtude do Baptismo, eles participam quer na edificação da Igreja, quer na animação cristã das realidades temporais. Transmiti aos jovens o apelo da Igreja a abrirem o próprio coração a Cristo e o convite a participarem, no próximo ano, nas actividades previstas para a Jornada Mundial da Juventude, durante a qual poderão encontrar muitos coetâneos.

2. A Igreja católica na Grécia acabou de viver uma segunda «Sinassis», onde representantes do clero secular, dos religiosos, das religiosas e dos leigos se reuniram ao redor de vós, para incutir novo impulso à vida pastoral. Trata-se de uma etapa significativa no vosso itinerário apostólico, que quer envolver todos os fiéis numa participação mais activa na vida da Igreja. Todos são convidados a crescer na união com o Salvador, mediante a oração pessoal, a meditação da Sagrada Escritura, a lectio divina, a vida litúrgica e sacramental e uma filial devoção mariana. Eis os elementos necessários para o crescimento e a maturação espiritual e humana do cristão.

Para poder guiar todas as pessoas no caminho da intimidade com Cristo, é indispensável uma intensa formação, que não se reduza a uma etapa inicial da vida cristã, mas se desenvolva num processo permanente em ordem a sustentar o cristão na sua relação quotidiana com Cristo e no seu empenho missionário. Encorajo, portanto, cada um a continuar este caminho de renovação espiritual e intelectual, para construir uma comunidade de fé dedicada com generosidade ao anúncio e testemunho do Evangelho.

Desejo chamar a atenção sobre o papel particular que na vida das comunidades cristãs reveste a liturgia, na qual cada um descobre a profundidade do mistério divino e faz experiência da Igreja como Corpo de Cristo. A respeito disso, a obra de tradução dos diversos livros litúrgicos por parte dos Bispos latinos, necessita de especiais atenções para responder às exigências do nosso tempo. Baseando-se nos princípios enunciados pela instrução do «Conselho», com data de 25 de Janeiro de 1969, semelhante empresa deve respeitar as traduções latinas e o relativo património litúrgico, querido ao coração dos fiéis, que podem assim aproximar-se de Cristo com maior facilidade, encontrando-O nos Sacramentos e no esplendor do culto divino.

3. A comunidade católica está difundida em toda a Grécia e, cada vez mais, é composta de membros de origens diversas. Por outro lado, os períodos estivos vêem afluir numerosos turistas, aos quais desejais oferecer um apoio espiritual. Esta realidade humana torna complexa qualquer acção pastoral que queira fazer dos fiéis uma comunidade que tenha um só coração e uma só alma (cf. Act Ac 4,32). Muito já foi feito nesse sentido nos sectores da evangelização, da catequese, da educação, da ajuda caritativa e social. Alguns fiéis, com a ajuda de Deus, estão empenhados de modo particular no âmbito social, no serviço aos pobres, na promoção da partilha e da solidariedade, na resposta às necessidades dos doentes e na dedicação à tarefa importantíssima da educação e do apoio às famílias.

Esta participação na vida social, que desejo hoje encorajar fortemente, é um modo de seguir Jesus com fidelidade. É uma forma insigne de testemunho, graças ao qual a Igreja é reconhecida como uma comunidade aberta, disponível a empreender e prosseguir iniciativas que a tornam próxima de todas as pessoas, no respeito das legítimas liberdades. A colaboração activa no campo social, ao lado de pessoas de outras confissões religiosas, constitui um aspecto significativo do diálogo ecuménico, pois a acção comum faz nascer mútuo respeito e amor.

Nessa perspectiva, as escolas católicas oferecem um contributo essencial à vida social. Desejo fazer chegar a minha saudação e o meu encorajamento a quantos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, se consagram à educação da juventude. Com efeito, o acolhimento das crianças - qualquer que seja a sua confissão religiosa - a descoberta e a estima recíprocas, são elementos que ajudarão os jovens gregos a viverem juntos, no respeito pelas diversidades; estas últimas são riqueza na medida em que forem postas ao serviço de todos. Através de uma formação integral, os jovens receberão uma educação para os valores fundamentais, morais, humanos e civis, com benéficas repercussões na inteira sociedade.

4. A particular situação em que vive a Igreja católica na Grécia impele-a, além disso, a aprofundar, sem cessar, a chamada do Senhor a caminhar sempre mais na via da unidade (cf. Jo Jn 17,21), respondendo à exigência ecuménica emergida do Concílio Vaticano II. «Entre as súplicas mais ardentes desta hora excepcional que é o aproximar-se do novo Milénio, a Igreja implora ao Senhor que cresça a unidade entre todos os cristãos das diversas Confissões, até à obtenção da plena comunhão. Faço votos de que o Jubileu seja a ocasião propícia para uma frutuosa colaboração visando colocar em comum as muitas coisas que nos unem, e que são seguramente mais do que aquelas que nos dividem» (Carta Apost. Tertio millennio adveniente, TMA 16). Neste espírito, no pleno respeito pelos programas das Igrejas e Comunidades eclesiais e do legítimo direito à liberdade religiosa, é preciso dirigir um olhar positivo e cheio de esperança para o diálogo ecuménico, procurando sempre ser instrumentos do Espírito Santo, a fim de que se realize plenamente a unidade, segundo os meios queridos por Deus.

Em vista do Grande Jubileu já próximo, o amor de Cristo impele-nos a realizar projectos ecuménicos que permitam aos discípulos de Cristo conhecer melhor as próprias tradições e as dos outros. É claro que gestos nesse sentido seriam para o mundo um testemunho do amor, que nos vem do Salvador, e da firme vontade de todos os cristãos de chegarem, quanto antes, à plena unidade. Toda a iniciativa e oração em comum, todo o diálogo respeitoso, todo o pedido de perdão recíproco podem aproximar os irmãos na fé e fazer com que os homens de hoje descubram a ternura e a misericórdia do Pai, tema central do último ano de preparação para o Grande Jubileu. Como afirma o Apóstolo, o amor vem de Deus e «se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros» (1Jn 4,11). Desejo ressaltar mais uma vez o valor da oração nas relações ecuménicas; ela ajuda-nos a viver como irmãos. «A nossa mútua participação na oração habitua-nos de novo a viver lado a lado, induz-nos a acolher juntos e, consequentemente, a pôr em prática a vontade do Senhor para a sua Igreja» (Carta Enc. Ut unum sint UUS 53).

5. Nos relatórios quinquenais, sublinhastes a penúria de sacerdotes para o serviço às comunidades cristãs, manifestando ao mesmo tempo a vossa confiança no Senhor que nunca abandona o Seu rebanho. É verdade, a pastoral vocacional não pode deixar de fazer parte das vossas principais preocupações e, antes, deve ser empenho da inteira comunidade eclesial. A este propósito, exorto as famílias a serem sempre bem conscientes da sua responsabilidade no que se refere ao nascimento e à maturação das vocações sacerdotais e religiosas. Os pais não tenham medo do futuro, quando um dos seus filhos manifesta o desejo de se empenhar pelo Senhor! Eles têm a missão de o ajudar a realizar plenamente a sua vocação. A quantos se põem totalmente ao seguimento de Cristo, são doados os meios necessários para cumprir a missão que lhes foi confiada.

Na Igreja católica do vosso País, os religiosos e as religiosas desempenham um papel insubstituível. Exorto-os a continuar, embora em situações pastorais difíceis, a sua obra com generosidade, em íntima comunhão com os Pastores e na fidelidade ao próprio carisma. Convido as Congregações religiosas e outros Institutos a enviarem para a Grécia novos membros, a fim de fortalecerem as comunidades existentes ou de criarem novas, capazes de perceber as necessidades da Igreja católica naquela Terra e o contributo que a ela é chamada a dar a vida religiosa activa e contemplativa. A respeito disso, saúdo com reconhecido afecto as Ordens contemplativas presentes no vosso País. Elas são um farol luminoso, um esplêndido testemunho de fé e de amor a Deus, que os cristãos das outras Confissões consideram com estima e atenção.

6. Além disso, seria conveniente projectar soluções novas para a pastoral vocacional, para o discernimento e a formação dos candidatos ao sacerdócio, talvez até mesmo no interno de uma estrutura comum ao serviço de todas as dioceses. Os jovens das diversas dioceses teriam assim a ocasião de viver numa comunidade educativa mais sólida e de criar vínculos importantes para o futuro da fraternidade sacerdotal no País. Além disso, outros seus coetâneos seriam atraídos por uma jubilosa experiência, que fortalece o desejo de dar a própria vida a Deus e aos irmãos. Também os sacerdotes, os religiosos e as religiosas têm um papel importante no caminho vocacional dos jovens. Deverão ter a peito testemunhar, na vida pessoal e no ministério quotidiano, quanto os torna felizes o seguimento de Cristo. É importante que os jovens encontrem nos adultos modelos de vida cristã, que saibam transmitir o sentido de Deus, convidando-os de modo aberto a uma consagração total no sacerdócio e na vida religiosa.

7. Mencionastes as dificuldades que as famílias devem enfrentar tanto no relacionamento externo como a nível de casal e nas relações com os de outras gerações, e de igual modo as tensões às quais estão submetidos os matrimónios mistos, em particular no que se refere à educação religiosa dos filhos. Mediante uma pastoral familiar apropriada, a Igreja tem o dever de recordar a indissolubilidade do matrimónio e a necessidade, para os fiéis, de viverem a própria vida conjugal em harmonia com a fé. Não se deixe, de igual modo, de oferecer assistência aos casais que atravessam momentos de crise, a fim de que possam encontrar de novo o fervor do compromisso inicial, desenvolver a vida espiritual e haurir da graça do sacramento do matrimónio as energias necessárias para exercerem a missão de cônjuges e de pais. Num contexto de secularização e de materialismo, é importante propor aos homens e às mulheres do nosso tempo um ideal cristão, que constitua a base da vida e do empenho quotidiano.

8. Se a Igreja católica cuida dos seus fiéis, estes, por sua vez, desejam oferecer o seu responsável contributo à vida social, servindo o bem comum. É, pois, próprio dos católicos, como de todos os habitantes do País, trabalhar sem cessar em favor da serena convivência entre todos os Gregos, gozando cada um dos mesmos direitos e das mesmas liberdades, em particular da liberdade religiosa. Nesse âmbito, alegro-me pelos significativos esforços envidados pelos diversos protagonistas e pela boa vontade manifestada por todos, a fim de encontrar soluções justas e equitativas aos problemas ainda não resolvidos, de modo especial o que concerne ao estatuto jurídico da Igreja católica. Formulo votos por que prossiga e se intensifique o diálogo com as diversas Autoridades competentes, para o bem de toda a população. Isto permitirá à comunidade católica experimentar uma renovada vitalidade e contribuirá para fazer com que todos participem, de maneira cada vez mais activa, na edificação da casa comum, infundindo confiança em todos os concidadãos para construírem uma sociedade pacífica e fraterna.

9. Na conclusão da visita ad Limina, desejo-vos que retorneis ao vosso País confortados na missão de sucessores dos Apóstolos. A experiência de comunhão feita durante estes dias entre vós Bispos, vos ajude a intensificar a vossa colaboração, a fim de que as vossas Dioceses se sintam irmãs e prossigam, a nível nacional, a concórdia necessária para enfrentar os desafios da missão e, no quadro da grande Europa, continuem a estabelecer relações com as diversas instâncias eclesiais! A vós, bem como aos fiéis das vossas dioceses, concedo de bom grado a Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1999 - Cidade do México, 25 de Janeiro de 1999