Discursos João Paulo II 1999 - Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999

3. Tudo isto põe em evidência a vitalidade dos Focolarinos e é motivo de encorajamento para prosseguir na estrada empreendida. Vós, Pastores, sabei discernir, acolher e promover o carisma que o Espírito suscita no Movimento, para que chegue à plena realização entre todos os povos o ardente desejo de unidade e de comunhão, que de maneira privilegiada caracteriza o Opus Mariae.

Estai sempre mais preocupados de anunciar e testemunhar o Evangelho da caridade. Isto exige uma espiritualidade profunda que possa haurir vitalidade incessante do Mistério eucarístico, em plena sintonia com o Magistério da Igreja e com as necessidades da Comunidade eclesial. Confio ao Pai celeste, rico em graça e misericórdia, as vossas pessoas e as vossas responsabilidades, que se tornam ainda mais prementes com a proximidade do encontro jubilar. Ao invocar a materna protecção da Virgem Maria, Mater Ecclesiae, de coração abençoo todos vós.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À FUNDAÇÃO «ALCIDE DE GASPERI»


PARA A PAZ E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL


Sábado, 13 de Fevereiro de 1999



Ilustres Senhores!

1. Sinto-me feliz por dirigir uma cordial saudação a cada um de vós, membros da «Fundação para a paz e a cooperação internacional Alcide De Gasperi», e agradeço-vos esta visita, com a qual desejais reafirmar a vossa adesão convicta ao Magistério da Igreja, e confirmar o vosso empenho pela promoção da convivência harmónica entre os povos. Dirijo uma particular saudação ao Senador Angelo Bernassola e manifesto-lhe a minha profunda gratidão pelas nobres expressões que houve por bem dirigir-me em nome de todos.

Há mais de um quarto de século a vossa Fundação, inspirando-se no pensamento e na obra do grande estadista italiano Alcide De Gasperi, empenha-se em promover a paz e a cooperação entre os povos, através do estudo dos problemas da sociedade internacional e da união com análogas instituições existentes na Europa e no mundo.

Nas vossas louváveis iniciativas escolhestes como ponto de referência fundamental os valores perenes da fé cristã, esforçando-vos por conjugá-los com a clara autoconsciência de que o caminho da paz passa através dum forte e constante empenho cultural, desempenhado conjuntamente com todos os que partilham os vossos nobres objectivos.

Sem dúvida, a construção da paz não é fruto de obrigações, mas surge do conhecimento aprofundado e sistemático das causas remotas e próximas dos conflitos, da sensibilização dos responsáveis das Nações às expectativas profundas dos pobres e da formação das jovens gerações para uma autêntica cultura de paz. Ela é realizada, de igual modo, pelo apoio oferecido a quantos, perante as difíceis situações que a humanidade se encontra a enfrentar neste nosso tempo, são tentados a renunciar à dificuldade do diálogo e do respeito dos direitos fundamentais de cada um e de todos.

2. Na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz eu recordava que «nenhum direito humano está seguro, se falta o compromisso de tutelá-los todos... Por isso, é indispensável uma visão global dos direitos humanos e um sério empenhamento na sua defesa. Só quando uma cultura dos direitos humanos, respeitadora das diversas tradições, se tornar parte integrante do património moral da humanidade, é que será possível olhar com serena confiança o futuro... O cumprimento integral dos direitos humanos é a estrada mais segura para se estreitarem sólidas relações entre os Estados. A cultura dos direitos humanos não pode ser senão uma cultura de paz» (n. 12).

Eis algumas sugestões significativas para tornar cada vez mais incisivo o empenho de políticos e de homens de cultura, de forma que sejam de modo cada vez mais eficaz «operadores de paz» na sociedade de hoje.

Faço votos por que a vossa Fundação, situando-se na hodierna busca de segurança e de colaboração entre os povos, se torne um instrumento renovado de promoção ao serviço duma acção global em benefício da paz, sem se deixar vencer pelos inevitáveis obstáculos que se encontram neste difícil mas necessário caminho.

Com estes sentimentos, ao confiar as vossas pessoas e o vosso empenho quotidiano Àquela que nós, cristãos, indicamos como Rainha da Paz, é-me grato conceder a vós, aos vossos colaboradores e famílias a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CLERO DA DIOCESE DE ROMA


NO INÍCIO DA QUARESMA


Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 1999



1. Caríssimos sacerdotes de Roma, párocos, vigários paroquiais, sacerdotes empenhados noutras formas de ministério e vós, diáconos permanentes ou que vos preparais para o sacerdócio, bem-vindos! Sinto alegria ao encontrar-vos, como de costume, neste início da Quaresma e a todos e a cada um apresento a minha saudação mais afectuosa.

Ouvimos, das palavras introdutórias do Cardeal Vigário e, depois, das vossas várias intervenções, como se está a desenvolver a Missão da cidade e que experiências concretas estais a fazer. Também eu me deterei sobre este ponto central da pastoral diocesana, que constitui a específica preparação de Roma para o grande Jubileu e, por isso, é justamente nos últimos anos o tema constante destes nossos encontros.

Com efeito, a Missão da cidade está a percorrer a sua última etapa, dedicada de modo especial aos diversos ambientes de trabalho e de vida. Iniciámo-la com a entrega do Crucifixo aos missionários no primeiro Domingo do Advento, no dia mesmo em que promulguei a Bula de proclamação do Grande Jubileu, enquanto a data conclusiva de todo este nosso percurso está fixada para o próximo Pentecostes.

2. A escolha de não limitar a missão às famílias que vivem no território das paróquias, mas de nos tornarmos presentes também nos múltiplos lugares desta grande Cidade em que o povo trabalha, estuda, transcorre o próprio tempo livre, ou também sofre e é cuidado, foi sem dúvida uma decisão corajosa e empenhativa. Tomámo-la porque estamos convictos da sua importância, antes, da sua necessidade, se deveras quisermos que o Evangelho de Cristo seja anunciado e testemunhado a todos e em todas as circunstâncias e situações de vida (cf. 1Co 9,16-23). Sustém-nos e dá-nos força aquela especial abundância de graça que está conexa com o evento do Grande Jubileu, do qual estamos a aproximar-nos a grandes passos.

De resto, com a missão nos ambientes não fazemos senão pôr em prática aquele princípio pastoral, repetidas vezes evocado no decurso do Sínodo diocesano: o princípio pelo qual cada paróquia e a inteira Comunidade eclesial de Roma devem procurar e encontrar-se fora de si mesmas, isto é, precisamente lá onde o povo de Deus vive de modo concreto.

É claro que esta tarefa, na sua actuação prática, está confiada antes de mais aos fiéis leigos, que efectivamente vivem e trabalham nos diversos ambientes. Tanto mais eficaz, de facto, poderá ser a missão no interior de cada um dos ambientes, quanto mais deles se fizerem intérpretes e protagonistas as pessoas que neles estão todos os dias presentes e realizam o seu trabalho. Por isso, no dia 8 de Dezembro passado, Solenidade da Imaculada e terceiro aniversário do primeiro anúncio da Missão da cidade, escrevi uma carta a todos os irmãos e irmãs crentes que vivem, actuam e trabalham em Roma, para os convidar a fazer-se corajosos e coerentes missionários do Evangelho.

3. Também para a missão nos ambientes, considerada na sua globalidade e em cada um das suas implicações, vale aquilo que nos anos passados já tive oportunidade de recordar a vós sacerdotes, por ocasião destes nossos encontros. Vós, caríssimos, sendo os mais estreitos colaboradores da ordem episcopal, sois aqueles a quem é confiado em primeiro lugar o ministério de anunciar o Evangelho a todos. A missão, vocação e tarefa fundamental da Igreja, não é sobretudo obra dos crentes individualmente, mas da inteira comunidade, e portanto, antes de mais, daqueles que da própria comunidade são os primeiros responsáveis.

Em numerosos e significativos ambientes vós, sacerdotes, estais presentes de modo directo, em virtude do vosso ministério específico. Assim em muitas escolas, como professores de religião, nos hospitais e nos cárceres, como capelães; em Roma, depois, trabalham ainda hoje, com muito fruto, alguns capelães do ambiente de trabalho. Não quereria depois esquecer quantos estão empenhados nas «fronteiras» da caridade, ao lado de pessoas desfavorecidas, de menores em dificuldade, de jovens com problemas de toxicodependência, de imigrados e de gente sem moradia fixa. Em cada um destes lugares e ao lado de todos estes nossos irmãos e irmãs, estais chamados a ser sinal vivo do amor de Deus, da salvação que Cristo nos trouxe, da solicitude materna da Igreja. Sois e deveis ser, em toda a parte e sempre, missionários e evangelizadores.

E vós, caros diáconos permanentes, que no vosso grau sois partícipes do sagrado ministério mas que compartilhais, quanto ao trabalho e à família, a condição dos nossos irmãos leigos, encontrais-vos numa situação particularmente favorável para efectuar o vosso testemunho e a vossa acção evangelizadora no interior dos ambientes em que estais inseridos. A missão nos ambientes representa para vós uma chamada particular e uma preciosa possibilidade de desenvolvimento do vosso ministério específico.

4. Mas a nossa tarefa de ministros ordenados, em relação a esta forma de missão, não se limita àquilo que podemos fazer de maneira directa, trabalhando no interior de cada um dos ambientes. Cada um de nós, com efeito, embora não seja encarregado de um apostolado ambiental, tem uma fundamental função de formador, através da qual pode e deve preparar e sustentar os fiéis leigos, chamados a dar testemunho de Cristo, em qualquer situação da vida.

Tocamos aqui um tema muito importante, que se refere ao próprio modo de concebermos e exercermos o nosso ministério de Pastores. O horizonte do empenho eclesial não se deve restringir ao bom andamento da paróquia ou de qualquer outro organismo directamente confiado aos nossos cuidados. Devemos sobretudo abraçar de maneira ideal a Igreja inteira, na sua essencial dimensão missionária, que a põe ao serviço da salvação integral do homem.

À luz disto, a nossa obra formativa não se preocupará unicamente em fazer crescer um laicado capaz de assumir responsabilidades no interior da paróquia ou da comunidade eclesial. O nosso maior cuidado será formar autênticas consciências cristãs, para que cada um, leigo ou sacerdote, tenha uma vida coerente e dê em qualquer ambiente e situação um testemunho evangélico crível e jubiloso. E de igual modo, procuraremos tornar os fiéis mais claramente conscientes de que a missão evangelizadora da Igreja lhes diz respeito e está confiada também a eles. Ela passa normalmente através da sua acção e testemunho de vida, assim como através da capacidade e prontidão com •que sabem explicar a razão da esperança da qual, como crentes em Cristo, são também eles depositários e portadores (cf. 1P 3,15).

Esta mesma tensão missionária não pode deixar de caracterizar os elementos fundamentais da formação e do crescimento espiritual: a oração que nos põe na presença de Deus, a catequese que alimenta a fé e ajuda a ver toda a realidade com os olhos da fé, a penitência e a conversão do coração, o progressivo abrir-se ao amor de Deus e dos irmãos. Só assim o crescimento da testemunha e do missionário constitui um conjunto com o crescimento do cristão.

5. Este é o caminho através do qual poderá tornar-se mais incisiva e persuasiva, no novo milénio que está para começar, a presença cristã nesta nossa tão querida Roma. Os ambientes de trabalho são, nalguns casos, aqueles em que a secularização se mostra mais avançada, e falar de Deus e de Jesus Cristo pode resultar mais difícil e como que fora de lugar. Mas, na realidade, Deus nunca é um estranho, Cristo jamais é um estranho. O Filho eterno de Deus, que «trabalhou com mãos de homem, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano» (Gaudium et spes GS 22), é e continua a ser, onde quer que esteja em jogo a nossa humanidade, o único Redentor do homem. Recordo-me que, precisamente há vinte anos, neste tempo da Quaresma, promulguei a Encíclica «Redemptor hominis».

Por isso, ao iniciar com confiança a missão nos ambientes, seja grande em todos a consciência de que se trata de um empreendimento de longa duração. Ele é parte integrante e indispensável da nova evangelização, que deverá estar sempre melhor arraigada e desenvolvida na pastoral da Comunidade diocesana.

6. Caros sacerdotes, o impulso à missão nasce daquele fogo de amor que o Senhor pôs nos nossos corações, com o dom do seu Espírito Santo, e se exprime, em primeiro lugar, através da linguagem concreta do amor. Deste modo, a Missão da cidade, neste último ano de preparação para o Jubileu que é dedicado a Deus Pai e tem em vista pôr em relevo a virtude teologal da caridade (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 50-51), deverá dedicar especial atenção a «evangelizar os pobres» (Mt 11,5), tornando menos tristes e precárias as suas condições de vida.

No vosso ministério pastoral, constatais como na nossa Cidade estão a crescer o desemprego e a pobreza. Torna-se, então, sempre mais necessário determinar novas possibilidades e caminhos para que Roma, apoiando-se na sua missão espiritual e civil e valorizando o património de humanidade, de cultura e de fé amadurecido nos séculos, possa promover o seu desenvolvimento social e económico, também em vista do bem da inteira Nação italiana e do mundo (cf. Carta àqueles que vivem e trabalham em Roma, n. 8). A caridade de Cristo urge-nos, por conseguinte, a estarmos presentes e repletos de propostas em cada ambiente onde se prepara de maneira concreta o futuro da nossa Cidade.

Caríssimos sacerdotes e diáconos, conheço o vosso empenho quotidiano, as fadigas e as dificuldades que muitas vezes deveis enfrentar. Desejo assegurar-vos que estou constantemente ao vosso lado, com o afecto e a oração. A Virgem Maria, exemplo perfeito de amor a Deus e ao próximo, sustente cada um no caminho e obtenha para todos aquela disponibilidade plena ao chamamento do Senhor, que Ela soube exprimir no momento da Anunciação e depois aos pés da Cruz (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 54).

Com estes sentimentos, concedo a todos vós, de coração, uma especial Bênção, que de bom grado faço extensiva às vossas paróquias e a quantos encontrardes no decurso da Missão da cidade.

Entre estas paróquias, a última que visitei é a de São Fulgêncio, e a próxima será a de São Raimundo Nonato. No final de Agosto celebra-se a memória litúrgica de São Raimundo Nonato; resta-me agora visitar a paróquia a ele dedicada em Roma.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMISSÃO ORGANIZADORA DO


«INTERNATIONAL FORUM BETHLEHEM 2000»


Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 1999



Excelências
Queridos amigos!

Saúdo-vos calorosamente, membros da Comissão organizadora do «International Forum Bethlehem 2000». Saúdo de modo particular o Senhor Embaixador Ibra Deguène Ka, Representante Permanente do Senegal junto das Nações Unidas e Presidente desta Comissão, e Sua Excelência o Senhor Kieran Prendergast, Subsecretário-Geral para os Assuntos Políticos e Representante do Secretário-Geral das Nações Unidas.

A cidade de Jerusalém suscita recordações que remontam à história do antigo Israel, à figura do rei David (cf. 1S 16,13). Contudo, é o nascimento de Jesus Cristo, o Filho de David, que confere a Belém o seu lugar único na memória e no coração do mundo. O Evangelho de São Lucas narra que, no momento do nascimento de Jesus, os anjos entoavam hinos de paz sobre a terra para todos os homens de boa vontade (cf. 2, 14). Embora desde então a história de Belém tenha sido assinalada pela violência, a cidade ainda representa uma promessa de paz e uma garantia de que a humana esperança de paz não é vã. O Grande Jubileu, que celebrará os dois mil anos do nascimento de Jesus em Belém, exorta-nos a olhar para o futuro com esperança num mundo no qual a paz seja certa.

Todos devemos empenhar-nos por um futuro no qual a paz não seja ameaçada por quantos adoram um único Deus, por quem tem o nome de cristão, judeu ou muçulmano. Sobretudo, devemos ter confiança no facto de que é possível edificar a paz no Médio Oriente. A promessa de paz feita em Belém tornar-se-á uma realidade, quando a dignidade e os direitos dos seres humanos criados à imagem de Deus (cf. Gn Gn 1,26) forem reconhecidos e respeitados.

Faço votos por que a obra da vossa Comissão contribua para garantir que o lugar, onde nasceu Aquele que «apascentará o meu povo, Israel» (cf. Mt Mt 2,6), recorde a todas as pessoas, em qualquer lugar, que a paz é um dom de Deus que provém do alto!

Neste nobre esforço, assistam-vos as bênçãos do Senhor!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO


XXIII CONGRESSO NACIONAL


DA UNITALSI


Sábado, 20 de Fevereiro de 1999



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por dar as afectuosas boas-vindas a todos vós, que viestes a Roma para celebrar o Congresso anual da UNITALSI. Dirijo um pensamento particular a D. Alessandro Plotti, Arcebispo de Pisa e vosso Presidente, e agradeço-lhe as cordiais palavras com que, em nome de todos, exprimiu sentimentos de devoção e afecto, e apresentou, juntamente com os ideais e propósitos desta Associação, os objectivos da Reunião anual. Com ele, saúdo o Assistente eclesiástico nacional, bem como os Dirigentes e todos os que se empenham nas actividades promovidas pela vossa organização.

Desejo manifestar-vos o meu regozijo pela benéfica e solícita obra por vós desempenhada, com discrição e generosidade, em favor de quantos são provados no corpo e no espírito. A eles ofereceis um particular testemunho de caridade, dando-lhes a possibilidade de viver a profunda experiência da peregrinação a diversos Santuários e aos lugares consagrados à Virgem Santíssima, e sustentando-os na fé e na esperança, quando o sofrimento sobrecarrega a sua vida.

A rede de animação e assistência, articulada nas diversas Dioceses italianas, testemunha a generosidade de tantos Sacerdotes, médicos, enfermeiros, damas de caridade, maqueiros, acompanhadores e voluntários que, realizando no mundo de hoje o ícone do bom Samaritano, se ocupam dos doentes sob o aspecto material e espiritual.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs! O vosso Congresso anual é dedicado à reflexão sobre o «espírito unitalsiano» em relação às transformações e desafios da sociedade de hoje que evolui e se transforma rapidamente. Eles postulam a sábia busca de respostas adequadas que, haurindo uma linfa constante do ideal evangélico da caridade, saibam orientar e infundir impulso renovado às actividades nacionais da União. Contudo, o confronto com as instâncias apresentadas pela sociedade hodierna e o empenho nas oportunas adequações às vossas estruturas, não devem fazer renunciar às exigências e ao espírito que determinaram o nascimento e o maravilhoso desenvolvimento da UNITALSI.

Mudam as estruturas e a organização, mas não podem mudar o espírito e o carisma de serviço da UNITALSI, e sobretudo é a caridade que deve permanecer como seu centro irradiador e vital, sem a qual a vossa obra perderia o sentido (cf. 1Co 13). O amor fraterno e solícito, alimentado quotidianamente pela oração, manifesta-se pondo os doentes no centro de qualquer esforço: neles reflecte-se o rosto do Cruxificado e, nos seus sofrimentos, é possível reconhecer o sinal misterioso do Pai para a salvação do mundo.

3. Enquanto toda a Igreja já está próxima do Grande Jubileu, vós sois chamados a acompanhar a peregrinação de todos os que, provados no corpo e no espírito, representam no mundo um anúncio de redenção e salvação. No grande itinerário do povo de Deus, os peregrinos da dor e do sofrimento são uma alegoria da humanidade em busca sobretudo de Cristo, «luz verdadeira, aquela que ilumina todo o homem» (Jn 1,9). A vós, «humildes servidores dos doentes» (cf. Estatuto), está confiada a tarefa de os sustentar nas dificuldades e de os ajudar a transformar os seus sofrimentos numa presença misteriosa de salvação.

Faço votos por que tudo o que o Espírito sugerir, durante esta Assembleia, se torne uma orientação eficaz para a vossa solicitude e suscite renovado empenho no serviço de caridade, mediante o qual cada cristão é chamado a revelar a ternura paterna de Deus.

Guie-vos e acompanhe-vos Maria, peregrina solícita rumo à casa de Isabel onde, com as suas atenções, se tornou instrumento para que a sua prima descobrisse o desígnio de Deus.

Com estes votos, concedo a todos de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DE GANA POR OCASIÃO


DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sábado, 20 de Fevereiro de 1999



Estimados Irmãos Bispos

1. «O próprio Senhor da paz vos conceda a paz, sempre e de todos os modos» (2Th 3,16). É com grande alegria que vos saúdo, membros da Conferência Episcopal de Gana, e que vos dou as boas-vindas ao Vaticano por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Este é para todos nós um momento de graça em que celebramos e procuramos revigorar os vínculos de comunhão fraterna que nos une na tarefa de dar testemunho do Senhor e de anunciar a Boa Nova da salvação. Transmito uma especial palavra de saudação àqueles de entre vós que realizam a sua primeira visita quinquenal. Efectivamente, desde a última visita da vossa Conferência a Roma, foram criadas seis novas Dioceses em Gana, o que constitui um sinal positivo do trabalho que está a ser levado a cabo em nome de Cristo e para a edificação da sua Igreja no vosso país. Este é um ulterior motivo para louvar o santo nome de Jesus, a cuja menção «se há-de dobrar todo o joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda a língua deverá confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai» (cf. Fl Ph 2,10-11).

No ano passado, a vossa Igreja particular comemorou dois eventos significativos: o II Congresso Eucarístico Nacional e o Congresso Pastoral Nacional. Estas importantes assembleias permitiram confirmar e aumentar o amor e a devoção ao Santíssimo Sacramento, elemento central do culto e da oração católica. Da Eucaristia, a Igreja recebe o vigor para o serviço e o alcance que caracterizam a sua solicitude pelo bem-estar espiritual dos seus filhos e de todos os povos. A vida divina que Cristo derrama sobre a sua Igreja na Eucaristia é demasiado grande para ser contida, e deve ser oferecida com urgência amorosa ao mundo inteiro.

2. Esta é a verdade que inspira e sustenta enormemente a actividade missionária da Igreja; com efeito, como os Padres do Concílio Vaticano II observaram com eloquente simplicidade, a Igreja é «por sua natureza missionária» (Ad gentes AGD 2). Esta constitui uma das suas qualidades essenciais e deve brilhar com esplendor em cada uma das Igrejas particulares, pois a Igreja universal está presente em todas as Igrejas locais com a sua gama completa de elementos doutrinais (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja católica sobre alguns aspectos da Igreja entendida como Comunhão, Communionis notio, nn. 7-9). A energia e o zelo da primeira evangelização de Gana devem continuar a constituir um manancial de fortaleza e de entusiasmo, enquanto proclamais Cristo e o seu Evangelho salvífico, auxiliando os demais a conhecerem e a aceitarem o seu amor misericordioso.

A este propósito, não é de menor importância o vosso dever de abordar as problemáticas de particular relevância para a vida social, económica, política e cultural do vosso país. Na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, os Padres sinodais reconheceram que a administração adequada das questões públicas nos sectores correlacionados da política e da economia é essencial se se quiser que a justiça e a paz floresçam no vosso continente (cf. Ecclesia in Africa ). Sinto-me feliz por observar que na vossa Carta Pastoral do Advento de 1997 enfrentastes estas mesmas problemáticas. Como bem sabeis, cabe de modo especial à Igreja pronunciar-se em benefício das pessoas que não têm voz, constituindo desta forma o fermento da paz e da solidariedade, de maneira particular lá onde elas são mais frágeis e ameaçadas. Especialmente importante a este propósito são os vossos esforços contínuos em vista de resolver as tensões étnicas, dado que na Igreja de Cristo não há lugar para rivalidades fundamentadas na raça ou na origem étnica, e estas são particularmente escandalosas quando interferem na vida paroquial ou corrompem o espírito de fraternidade e de solidariedade entre os sacerdotes.

3. Em tudo isto, o vosso convite à conversão deve ser amável e contudo insistente. A conversão é o resultado da proclamação efectiva do Evangelho que, mediante a acção do Espírito Santo nos corações das pessoas que o escutam, impele à aceitação da palavra salvífica de Deus. A primeira pregação da Boa Nova da salvação em Jesus Cristo encontra o seu necessário complemento na catequese. A fé cresce até atingir a maturidade quando os discípulos de Cristo são educados e formados no conhecimento completo e sistemático da Sua pessoa e mensagem (cf. Catechesi tradendae CTR 19). Por este motivo, a formação permanente dos leigos deve continuar a constituir uma prioridade na vossa missão de pregadores e mestres. Esta formação espiritual e doutrinal deveria ter em vista ajudar os leigos a desempenhar o seu papel profético numa sociedade que nem sempre reconhece ou aceita a verdade e os valores do Evangelho. A fim de poderem cumprir a sua parte na realização da nova evangelização, eles devem ser capazes de ver e julgar todas as coisas à luz de Cristo (cf. Christifideles laici CL 34).

Além disso, quando forem confirmados na verdade revelada, os fiéis serão capazes de responder às objecções apresentadas pelos seguidores das seitas e dos novos movimentos religiosos. A catequese é especialmente importante para os jovens. A fé iluminada é uma luz que orienta o seu caminho rumo ao porvir e uma nascente de fortaleza, enquanto eles enfrentam os desafios e as incertezas da vida. A submissão determinada e humilde à palavra de Cristo, proclamada autenticamente pela Igreja, forma também a base para o vosso relacionamento com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como para o diálogo que buscais com os sequazes do Islão e da Religião tradicional africana. Mediante o vosso estudo contínuo de tudo o que é bom, verdadeiro e nobre nas culturas das vossas populações, tornar-se-á mais clarividente o modo como a evangelização pode desenvolver raízes cada vez mais profundas no meio delas.

4. Aqui, tocamos a importante questão da inculturação. As tentativas práticas de promover a inculturação da fé exige uma teologia indissoluvelmente vinculada ao mistério da Encarnação e a uma autêntica antropologia cristã (cf. Pastores dabo vobis PDV 55). Um discernimento das realidades culturais que seja deveras crítico e genuinamente evangélico só pode ser empreendido à luz da Morte e da Ressurreição salvíficas de Jesus Cristo.

Uma inculturação sólida não pode deixar de ter em conta a convicção inequivocável da Igreja de que, como criação humana, a cultura é inevitavelmente assinalada pelo pecado e tem necessidade de ser purificada, enaltecida e aperfeiçoada pelo Evangelho (cf. Lumen gentium LG 17). Ao encontrarem inspiração e orientação mediante o contacto com a palavra salvífica de Deus, as pessoas serão impelidas de maneira natural a trabalhar em prol de uma profunda transformação da sociedade em que vivem. A mensagem evangélica penetra a própria vida das culturas e encarna-se nelas, precisamente através da «superação dos elementos culturais das mesmas, que são incompatíveis com a fé e a vida cristã, e da elevação dos seus valores ao mistério da salvação que provém de Cristo» (cf. Pastores dabo vobis PDV 55). Os desafios que a inculturação apresenta são evidentes sobretudo nos sectores do matrimónio e da vida familiar: confio e encorajo os vossos esforços em vista de incentivar os casais cristãos a viverem a verdade e a beleza da própria união esponsal em conformidade com as exigências da sua nova vida em Cristo.

5. O crescimento da Igreja em Gana e as inumeráveis vocações para o sacerdócio e a vida religiosa constituem uma evidente prova do poder de Deus que actua no meio de vós, poder este cujo resultado é uma maravilhosa abundância de frutos. Meus queridos Irmãos, a vossa tarefa consiste em fazer com que estes inúmeros frutos continuem a amadurecer e a multiplicar-se, atingindo de maneira efectiva a vida de todas as pessoas que são confiadas ao vosso cuidado.

Ao dirigir-me às pessoas que vos assistem de forma mais íntima no vosso ministério pastoral, exorto-vos a tratar sempre os vossos presbíteros com um amor especial e a considerá-los como preciosos colaboradores e amigos (cf. Christus Dominus CD 16). Na ordenação, eles receberam uma parte da consagração e da missão de Jesus Cristo (cf. Pastores dabo vobis PDV 16). O Espírito Santo modela os seus corações segundo a estatura do coração de Cristo, o Bom Pastor, e a sua formação deve ser tal que, com a compaixão de Cristo mesmo, eles se sintam prontos a deixar de parte todas as ambições terrestres para levar a verdade, o conforto e o sustento do Evangelho aos pobres e às pessoas frágeis e indefesas. O sacerdote não é o simples administrador de uma instituição; não é um homem de negócios ou um empresário. Pelo contrário, é um evangelizador e um médico de almas; os seus talentos, educação e realizações são justamente orientados de maneira exclusiva para esta meta: ele possui o incomparável privilégio de agir na pessoa de Cristo. Com a vossa amizade e apoio fraternos, e também com a dos seus coirmãos no sacerdócio, será mais fácil para os vossos presbíteros dedicar-se de modo integral, na castidade e com simplicidade, ao seu ministério de serviço no qual encontrarão incomensuráveis júbilo e paz.

Naturalmente, as atitudes e as disposições de um verdadeiro pastor devem ser alimentadas no coração dos candidatos ao sacerdócio muito tempo antes da sua ordenação. Esta é a finalidade da formação humana, espiritual, intelectual e pastoral oferecida no seminário. A solicitude que manifestais pelos vossos seminários só pode redundar no bem das vossas comunidades locais e contribuir para a difusão do Reino de Deus. As directrizes contidas na minha Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, juntamente com as sugestões incluídas no recente documento da Congregação para a Evangelização dos Povos, a seguir às Visitas Apostólicas aos Seminários Maiores em Gana, serão inestimáveis para assegurar a idoneidade dos candidatos e aperfeiçoar a sua formação. Exorto-vos também a destinar sacerdotes exemplares aos vossos seminários, ainda que isto signifique sacrificar outras áreas, dado que na tarefa de formar os candidatos ao sacerdócio nada é mais eloquente do que o exemplo de uma vida sacerdotal santa e comprometida. Ao mesmo tempo, deve-se procurar garantir que uma formação sacerdotal adequada tenha continuidade após a ordenação, de maneira especial durante os primeiros anos do ministério presbiteral.

6. Na vida da Igreja que está em Gana, bem como noutras partes do mundo, os Institutos religiosos e missionários têm desempenhado um papel decisivo na propagação da fé e na formação das novas Igrejas particulares (cf. Redemptoris missio RMi 69-70). Enquanto respeita a legítima autonomia interna, estabelecida para as comunidades religiosas, o Bispo deve ajudá-las a cumprir - no seio da Igreja local - a sua obrigação de dar testemunho da realidade do amor de Deus pelo Seu povo. Como Pastores da grei de Cristo, deveis encorajar os superiores a discernir com cuidado a idoneidade dos candidatos à vida religiosa e auxiliá-los a oferecer-lhes uma sólida formação espiritual e intelectual, tanto antes como depois da profissão. Quanto mais fiel e devotamente os religiosos das vossas Dioceses viverem o seu empenhamento a favor de Cristo na castidade, pobreza e obediência, tanto mais claramente os homens e as mulheres de Gana verão que «o Reino de Deus está próximo» (Mc 1,15).

7. No cumprimento dos vossos inúmeros deveres, tanto vós como os vossos sacerdotes deveis estar sempre atentos às necessidades humanas e espirituais do vosso povo. Jamais se deveriam despender tempo e recursos nas estruturas diocesanas e paroquiais, ou nos projectos de desenvolvimento, em desvantagem das pessoas; nem estas estruturas e projectos deveriam impedir o contacto pessoal com os indivíduos que Deus nos chamou a servir. De maneira análoga, os encontros entre Bispos e sacerdotes não deveriam limitar-se a debates de carácter administrativo, mas sim constituir também uma ocasião para abordar as alegrias e dificuldades pessoais, espirituais e pastorais do ministério sacerdotal. Nos problemas financeiros, são necessárias grandes equidade e solidariedade, e devem-se despender esforços em vista de compartilhar os subsídios recebidos. Ao mesmo tempo, dever-se-ia procurar ajudar as comunidades particulares a alcançar uma maior auto-suficiência económica, de maneira a fazer com que a Igreja em Gana seja menos dependente das ajudas provenientes do estrangeiro. A missão pastoral da Igreja e a obrigação dos seus ministros, que consiste «não em ser servido, mas em servir» (cf. Mt Mt 20,28), devem ser consideradas como a principal preocupação em todos os assuntos.

Estimados Irmãos Bispos, as palavras que hoje vos dirijo querem oferecer-vos encorajamento no Senhor. Estou plenamente consciente das dificuldades quotidianas do vosso ministério e da generosa abnegação com que desempenhais o vosso serviço. Confio cada um de vós e as vossas Dioceses ao amor solícito de Maria, Rainha dos Apóstolos. Rezo para que os vossos esforços em vista de guiar a Igreja que está em Gana rumo a uma celebração jubilosa e frutífera do iminente Jubileu, como «um ano de graça no Senhor» (Tertio millennio adveniente, TMA 11), sejam coroados de bom êxito. Através deste importante evento, oxalá vós e o vosso povo experimenteis as graças infinitas do «novo Advento» que o Espírito está a preparar para toda a Igreja de Deus (cf. Ibid., 23). Com esta esperança, é de bom grado que vos concedo, a vós, aos sacerdotes, religiosos e leigos das vossas comunidades locais, a minha Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1999 - Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999