Discursos João Paulo II 1999 - Sábado, 20 de Fevereiro de 1999

AGRADECIMENTO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO FINAL DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS


Sábado, 27 de Fevereiro de 1999

No final dos Exercícios Espirituais, damos graças a Deus que nos falou no silêncio, como ao profeta Elias. Faço partícipe deste profundo sentimento de reconhecimento, antes de mais, o nosso Pregador, D. André-Mutien Léonard, Bispo de Namur, que foi um instrumento dócil e válido do Senhor, nestes dias dedicados à escuta.


Agradeço-lhe cordialmente o empenho dedicado na preparação e sugestão destes Exercícios Espirituais. Através deles fomos como que imergidos no mistério da eterna Trindade, «viático do homem no caminho do Terceiro Milénio». Vossa Excelência preparou-nos um autêntico itinerário bíblico, enriquecido pelas vozes de santos e mestres espirituais, deixando falar também Solov'ev, propondo os seus textos com as palavras do «Anticristo»: um momento forte. Desta forma pudemos contemplar o rosto de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, a partir do centro da Revelação neotestamentária. Deste modo, fomos ajudados a realizar uma síntese dos conteúdos teológicos subjacentes ao triénio de preparação imediata para o Grande Jubileu, já próximo. A Carta Apostólica Tertio millennio adveniente foi oportunamente citada várias vezes. O Senhor o recompense, nosso caríssimo Pregador, pelo seu esforço. Por favor, aceite ainda outro encargo. Desejamos muito ter o texto. Escrevi também nos meus apontamentos que esperamos o texto, porque era impossível continuar a tomar nota de tudo o que Vossa Excelência disse. Foram momentos muito fortes e originais, como por exemplo a ideia da confissão de Cristo.

Desejo fazer extensiva a minha expressão de reconhecimento a quantos me acompanharam nestes dias. Em primeiro lugar aos membros da Cúria Romana, aos Irmãos Cardeais, aos Bispos e Oficiais da Cúria, a quantos partilharam directamente este momento de graça; e também a todos os que, com as orações, estiveram próximos de nós. Faço votos por que o caminho quaresmal proporcione a cada um abundantes frutos espirituais, e sobretudo aumente em todos a caridade, que é «o laço da perfeição» (Col 3,14).

Maria, que nos acompanhou com a sua materna protecção nestes dias de oração, reflexão e silêncio, torne frutuosos os nossos propósitos e nos guie rumo ao pleno cumprimento da vontade divina na nossa existência: Maria, Spes nostra, salve! Concluamos cantando o Pater Noster e depois concederei a Bênção. Boa Quaresma!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DA PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA


Sábado, 27 de Fevereiro de 1999



1. Ilustres Membros da Pontifícia Academia para a Vida, reunidos em Roma por ocasião da vossa anual Assembleia Geral, sede bem-vindos! Ao dirigir a cada um de vós a minha saudação cordial, saúdo e agradeço ao Presidente, Prof. Juan De Dios Vial Correa, as amáveis palavras com que interpretou os vossos sentimentos. Saúdo também os Bispos presentes: D. Elio Sgreccia, Vice-Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, e D. Javier Lozano Barragán, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, ao qual a Pontifícia Academia está ligada.

Um especial pensamento dirige-se ao inesquecível primeiro Presidente, Prof. Jerôme Lejeune, que nos deixou há quase cinco anos, no dia 3 de Abril de 1994. Ele quis fortemente esta nova Instituição, quase como seu testamento espiritual para salvaguarda da vida humana, ao prever as ameaças crescentes que se delineavam no horizonte.

Desejo exprimir a minha satisfação pela inteira actividade de pesquisa rigorosa e de informação difundida, que a Pontifícia Academia soube delinear e realizar neste primeiro quinquénio de vida. O tema por vós escolhido para a vossa reflexão, «A dignidade do moribundo», tem em vista projectar luz de doutrina e de sabedoria sobre uma fronteira, por certos aspectos, nova e crucial. A vida dos moribundos e dos doentes graves, com efeito, está hoje exposta a um conjunto de perigos, que se manifesta às vezes em formas de tratamentos desumanos, outras vezes na desconsideração e também no abandono, que pode chegar até à solução mediante a eutanásia.

2. O fenómeno do abandono do moribundo, que está a estender-se na sociedade desenvolvida, tem diversas raízes e múltiplas dimensões, bem presentes na vossa análise.

Há uma dimensão sociocultural, que recebe o nome de «ocultação da morte»: as sociedades, organizadas sobre o critério da busca do bem-estar material, sentem a morte como um não-sentido e, no intento de cancelar o seu interrogativo, propõem às vezes a antecipação indolor. A chamada «cultura do bem-estar» traz muitas vezes consigo a incapacidade de captar o sentido da vida nas situações de sofrimento e de limitação, que acompanham o homem ao aproximar-se da morte. Semelhante incapacidade resulta mais intensa quando se manifesta no interior de um humanismo fechado ao transcendente, e se traduz não raro em perda da confiança quanto ao valor do homem e da vida.

Há depois uma dimensão filosófica e ideológica, com base na qual se faz apelo à autonomia absoluta do homem, como se ele fosse o autor da própria vida. Nesta óptica, toma-se como base o princípio da autodeterminação, e chega-se também a exaltar o suicídio e a eutanásia como formas paradoxais de afirmação e simultaneamente de destruição do próprio eu.

Além disso, há uma dimensão médica e assistencial, que se exprime numa tendência a limitar o cuidado dos doentes graves, enviados para estruturas sanitárias nem sempre capazes de fornecer uma assistência personalizada e humanizada. A consequência é que a pessoa hospitalizada se encontra, não raro, fora do contacto com a família e exposta a uma espécie de invasão tecnológica que humilha a sua dignidade.

Enfim, há o impulso oculto da chamada «ética utilitarista», que regula muitas sociedades progressivas, tendo como base critérios de produtividade e eficiência: nesta óptica, o doente grave e o moribundo necessitado de cuidados prolongados e seleccionados são sentidos, à luz da relação custos-benefícios, como um peso e uma passividade. Esta mentalidade impele, por conseguinte, a um diminuído apoio na fase declinante da vida.

3. É este o contexto ideológico no qual se inspiram as sempre mais frequentes campanhas de opinião, que têm em vista a instauração de leis a favor da eutanásia e do suicídio assistido. Os resultados já obtidos nalguns Países, ora com sentenças do Supremo Tribunal ora com votos do Parlamento, estão a confirmar a difusão de certas convicções.

Trata-se do progresso daquela cultura da morte, que emerge também noutros fenómenos que levam, dum ou doutro modo, a uma escassa avaliação da dignidade do homem: tais são, por exemplo, as mortes por fome, por violência, pela guerra, por falta de controle no trânsito, por escassa atenção às normas de segurança no trabalho.

Diante das novas manifestações da cultura da morte, a Igreja tem o dever de manter fé no seu amor pelo homem «que é a primeira via que ela deve percorrer» (Redemptor hominis RH 14). Hoje, ela tem a tarefa de iluminar o rosto do homem, em particular o rosto do moribundo, com toda a luz da sua doutrina, com a luz da razão e da fé; tem o dever de convocar, como já fez em diversas ocasiões cruciais, todas as forças da comunidade e das pessoas de boa vontade, para que ao redor do moribundo se estabeleça, com renovado calor, um vínculo de amor e de solidariedade.

A Igreja é consciente de que o momento da morte é sempre acompanhado por uma particular densidade de sentimentos humanos: há uma vida terrena que se consome; a ruptura dos laços afectivos, de gerações e sociais que fazem parte do íntimo da pessoa; existe na consciência, do indivíduo que morre e de quem o assiste, o conflito entre a esperança na imortalidade e o desconhecido que perturba também os espíritos mais esclarecidos. A Igreja levanta a sua voz para que não causemos ofensa ao moribundo, mas a ele nos dediquemos com toda a amorosa solicitude a acompanhá-lo, enquanto se prepara para cruzar o limiar do tempo a fim de se introduzir na eternidade.

4. «A dignidade do moribundo» está arraigada no seu carácter de ser criatura e na sua vocação pessoal à vida imortal. O olhar cheio de esperança tansfigura a decomposição do nosso corpo mortal. «Quando este corpo corruptível mortal se revestir de imortalidade, então cumprir-se-á o que está escrito: "A morte foi tragada pela vitória"» (1Co 15,54 cf. 2Co 5,1).

A Igreja, portanto, ao defender a sacralidade da vida também do moribundo, não obedece a alguma forma de absolutização da vida física, mas ensina a respeitar a dignidade verdadeira da pessoa, que é criatura de Deus, e ajuda a acolher com serenidade a morte quando as forças físicas já não podem ser sustentadas. Escrevi na Encíclica Evangelium vitae: «A vida do corpo na sua condição terrena não é um absoluto para o crente, de tal modo que lhe pode ser pedido para a abandonar por um bem superior... Todavia, ninguém pode escolher arbitrariamente viver ou morrer; efectivamente, senhor absoluto de tal decisão é apenas o Criador, Aquele em quem "vivemos, nos movemos e existimos" (Ac 17,28)» (n. 47).

Daqui promana uma linha de conduta moral para com o doente grave e o moribundo que, por um lado, é contrária à eutanásia e ao suicídio (cf. ibid., n. 61) e, por outro, àquelas formas de «obstinação terapêutica» que não são de verdadeiro apoio à vida e à dignidade do moribundo.

Nesta altura, é oportuno evocar o juízo de condenação da eutanásia entendida em sentido próprio como «uma acção ou uma omissão que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte com o objectivo de eliminar o sofrimento», uma vez que constitui «grave violação da Lei de Deus» (ibid., 65). De igual modo, deve-se ter presente a condenação do suicídio uma vez que, «sob o perfil objectivo, é um acto gravemente imoral, porque comporta a recusa do amor por si mesmo e a renúncia aos deveres de justiça e caridade para com o próximo, com as várias comunidades de que se faz parte, e com a sociedade no seu conjunto. No seu núcleo mais profundo, o suicídio constitui uma rejeição da soberania absoluta de Deus sobre a vida e sobre a morte» (ibid., 66).

5. O tempo em que vivemos exige a mobilização de todas as forças da caridade cristã e da solidariedade humana. Com efeito, deve-se enfrentar o novo desafio da legislação da eutanásia e do suicídio assistido. Para isto, não é suficiente contrastar na opinião pública e nos Parlamentos esta tendência de morte, mas é preciso também empenhar a sociedade e as próprias estruturas da Igreja numa digna assistência ao moribundo.

Nesta perspectiva, encorajo de bom grado todos os que promovem obras e iniciativas em favor da assistência dos doentes graves, dos enfermos mentais crónicos, dos moribundos. Empenhem-se, se for necessário, em orientar para as novas necessidades as obras assistenciais já existentes, para que nenhum moribundo seja abandonado ou deixado sozinho e sem assistência diante da morte. É a lição que nos deixaram inúmeros Santos e Santas ao longo dos séculos e, também recentemente, Madre Teresa de Calcutá com as suas próvidas iniciativas. É preciso que toda a comunidade diocesana e paroquial seja educada para conservar os seus anciãos, cuidar e visitar os seus doentes a domicílio e nas estruturas específicas, conforme a necessidade.

O aprimoramento das consciências nas famílias e nos hospitais, não deixará de favorecer uma aplicação mais difundida dos «cuidados paliativos» aos doentes graves e aos moribundos, de maneira a aliviar os sintomas da dor, levando-lhes ao mesmo tempo conforto espiritual, mediante uma assistência assídua e solícita. Deverão surgir novas obras para acolher as pessoas idosas não auto-suficientes que se encontram sozinhas, mas deverá ser promovida sobretudo uma organização capilar de apoio económico, e também moral, da assistência domiciliar: as famílias, que querem manter em casa a pessoa gravemente doente, submetem-se de facto a sacrifícios às vezes muito pesados.

As Igrejas locais e as Congregações religiosas têm a oportunidade de oferecer neste campo um testemunho de pioneirismo, na consciência da palavra do Senhor a propósito de quantos se prodigalizam para aliviar doentes: «Adoeci e visitastes-Me» (Mt 25,36).

Maria, a Mãe dolorosa que assistiu Jesus moribundo na cruz, infunda na mãe Igreja o seu Espírito e a acompanhe no cumprimento desta missão.

A todos a minha Bênção.



                                                                           Março de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS


POR OCASIÃO DA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


Segunda-feira, 1° de Março de 1999



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Caros Irmãos e Irmãs!

1. A vossa Assembleia plenária, que se está a realizar nestes dias em Roma, dá-me a grata oportunidade deste encontro convosco, que sois colaboradores do Papa no serviço aos fiéis leigos do mundo inteiro. A minha saudação e o meu agradecimento dirigem-se, antes de tudo, ao Presidente do Dicastério, o Senhor Card. James Francis Stafford, e ao Secretário, D. Stanislaw Rylko, e também abraçam cada um dos membros e dos Consultores do Pontifício Conselho para os Leigos e os Oficiais e todos os que nele trabalham.

No centro dos trabalhos da vossa Assembleia plenária colocastes a importância do sacramento da Confirmação na vida dos fiéis leigos. Esta reflexão representa o prosseguimento ideal da reflexão sobre o Baptismo, feita durante a Assembleia precedente. Com efeito, como ensina o Catecismo da Igreja Católica, «a Confirmação completa a graça baptismal [... ] dá o Espírito Santo, para nos enraizar mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais solidamente em Cristo, tornar mais firme o laço que nos prende à Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra, acompanhada de obras» (n. 1316). A «criatura nova», regenerada pela graça baptismal, torna-se testemunha de vida nova no Espírito e anunciadora das grandes obras de Deus. «O crismado - explica S. Tomás - recebe a força para professar a fé de Cristo publicamente e como que em virtude dum mandato oficial (quasi ex officio)» (S. Th., III, 72, 5, ad 2; cf. CIC CIC 1305).

2. «Os fiéis leigos, confessores da fé no mundo de hoje». O tema escolhido para a vossa Assembleia plenária contém todo um programa de vida: tornar-se «confessor da fé» com a palavra e com as obras. Não é porventura este um convite providencial para os fiéis leigos no limiar do Terceiro Milénio da era cristã? Na vigília do Jubileu, neste kairós particular, a Igreja inteira é chamada a pôr-se humildemente diante do Senhor, a fazer um sério exame de consciência, a retomar o caminho de uma profunda conversão, o caminho da maturidade cristã, da fiel adesão a Cristo na santidade e na verdade, do autêntico testemunho da fé. Este exame de consciência não pode deixar de se referir à aceitação do Concílio Ecuménico Vaticano II – o evento eclesial que em grande medida marcou o nosso século – e dos luminosos ensinamentos sobre a dignidade, a vocação e a missão dos fiéis leigos.

O encontro jubilar estimula, por isso, todo o leigo cristão a pôr-se a si mesmo questões fundamentais: O que fiz do meu Baptismo? Como respondo à minha vocação? O que fiz da minha Confirmação? Fiz frutificar os dons e os carismas do Espírito? É Cristo o «Tu» sempre presente na minha vida? É deveras plena e profunda a minha adesão à Igreja, mistério de comunhão missionária, tal como foi querida pelo seu Fundador e realizada na sua tradição viva? Nas minhas opções, sou fiel à verdade proposta pelo magistério eclesial? A minha vida conjugal, familiar, profissional está impregnada do ensinamento de Cristo? O meu empenhamento social e político está arraigado nos princípios e na doutrina social da Igreja? Qual é o meu contributo para a construção de formas de vida mais dignas do homem e para a inculturação do Evangelho, no meio das grandes mudanças em curso?

3. Com o Concílio Vaticano II, «grande dom do Espírito à igreja no final do segundo milénio» (TMA 36), experimentámos a graça de um renovado Pentecostes. Inúmeros são os sinais de esperança que dele surgiram para a missão da Igreja e jamais cessei de os indicar, sustentar e encorajar. Penso, entre outras coisas, na redescoberta e valorização dos carismas que têm incrementado uma comunhão mais viva entre as várias vocações presentes no Povo de Deus, no renovado impulso de evangelização, na promoção dos leigos e na sua participação e co-responsabilidade na vida da comunidade cristã, na sua presença de apostolado e serviço na sociedade. No alvorecer do Terceiro Milénio, eles induzem a esperar uma «epifania» amadurecida e fecunda do laicado.

Ao mesmo tempo, porém, como ignorar o facto de que infelizmente não poucos cristãos, esquecidos dos compromissos do próprio Baptismo, vivem na indiferença, cedendo ao compromisso com o mundo secularizado? Como não evocar aqueles fiéis que, embora a seu modo activos nas comunidades eclesiais, seguindo as sugestões do relativismo típico da cultura hodierna, têm dificuldade em aceitar os ensinamentos doutrinais e morais da Igreja, aos quais todo o baptizado é chamado a aderir?

Faço votos, portanto, por que os fiéis leigos não se furtem a este exame de consciência, a fim de poderem cruzar a Porta Santa do Terceiro Milénio, penetrados pela verdade e santidade dos autênticos discípulos de Jesus Cristo. «Vós sois o sal da terra [...].Vós sois a luz do mundo [...]. Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus» (Mt 5,13-16). O mundo tem necessidade do testemunho de «homens novos» e de «mulheres novas» que, com a palavra e as obras, tornem Cristo presente de maneira sempre mais vigorosa. Pois a única resposta completa e superabundante às expectativas de verdade e de felicidade do coração do homem, é Cristo. É Ele a «pedra angular» da construção de uma civilização mais humana.

4. O Pontifício Conselho para os Leigos, com as suas iniciativas, desempenhou durante estes últimos anos um papel importante no crescimento dos fiéis leigos. Entre as iniciativas recentes, recordo com prazer o Encontro mundial dos jovens em Paris, em Agosto de 1997, o Encontro com os movimentos eclesiais e as novas comunidades, no dia 30 de Maio de 1998, na Praça de São Pedro, o documento sobre «A dignidade e a missão das pessoas idosas na Igreja e no mundo», publicado por ocasião do Ano internacional dos idosos, proclamado pelas Nações Unidas para 1999, e princípio para a preparação do Jubileu dos anciãos. Sei que o vosso Dicastério já está empenhado na preparação para o Dia Mundial da Juventude do Ano 2000 e que, em colaboração com outros Dicastérios da Cúria Romana, organiza para o mês de Junho deste ano um seminário sobre o tema: «Os movimentos eclesiais e as novas comunidades na solicitude pastoral dos Bispos».

5. Na esteira dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e da Exortação Apostólica Christifideles laici, outras iniciativas do Pontifício Conselho para os Leigos, que concernem ao vasto e fecundo campo do laicado católico, realizar-se-ão no ano jubilar. Deter-me-ei um momento sobre uma dentre elas: o Congresso mundial do apostolado dos leigos, previsto em Roma para o mês de Novembro do Ano 2000. Este congresso, que para aqueles que nele participarem será antes de tudo um evento jubilar, poderá servir para recapitular o caminho do laicado desde o Concílio Vaticano II até ao grande Jubileu da Encarnação. Ao situar-se em relação de continuidade com encontros semelhantes que se realizaram no passado, ele deverá aprofundar os seus aspectos e objectivos peculiares. Embora seja realizado no final do Ano 2000, enriquecer-se-á com tudo aquilo que for vivido neste ano de graça do Senhor e indicará aos leigos as tarefas que lhes competem, nos diversos sectores da missão e do serviço ao homem no início do Terceiro Milénio.

6. Caros Irmãos e Irmãs, concluo estas reflexões formulando votos por que os trabalhos da vossa Assembleia produzam muitos frutos na vida da Igreja. Acompanho com as minhas orações as iniciativas do vosso Dicastério para o Grande Jubileu e confio os seus resultados à intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja. A todos vós aqui presentes, às vossas famílias, aos vossos entes queridos, desejo graças abundantes para o ano jubilar e, de todo o coração, concedo a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE SEMINARISTAS


DE CLEVELÂNDIA, ESTADOS UNIDOS


Segunda-feira, 1° de Março de 1999



Queridos Amigos em Cristo

Sinto-me feliz por receber o grupo de peregrinos do Seminário Maior de Santa Maria em Clevelândia, por ocasião do 150º aniversário de fundação do mesmo Seminário. Viestes a Roma para visitar os lugares consagrados pelos Apóstolos Pedro e Paulo e pelos mártires e santos de todas as épocas, que aqui deram o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo.

Formulo votos por que a oração e a meditação que acompanham a vossa peregrinação vos aproximem cada vez mais do Senhor e fortaleçam a vossa aspiração a serdes dignos sacerdotes e generosos servidores dos mistérios salvíficos confiados à sua Igreja. Este encontro com o Sucessor de Pedro vos ajude a apreciar de forma mais plena a universalidade da Igreja e a sua unidade católica. É com afecto que confio toda a comunidade do Seminário de Santa Maria à intercessão amorosa da Santa Mãe de Deus, e concedo do íntimo do coração a minha Bênção apostólica como penhor de alegria e paz em Jesus Cristo, seu Filho.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA


AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS REUNIDO


EM ASSEMBLEIA PLENÁRIA


Quinta-feira, 4 de Março de 1999



Eminências
Excelências
Caros Irmãos e Irmãs em Cristo

É-me grato acolher-vos, membros, consultores, especialistas e todos vós, funcionários do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, por ocasião da vossa Assembleia Plenária.

Saúdo de forma particular o Cardeal Andrzej Maria Deskur, Presidente Emérito deste Conselho, e D. John Foley, seu sucessor na qualidade de Presidente. Agradeço também a presença dos Cardeais Eugênio de Araújo Sales e Hyacinthe Thiandoum, que tanto contribuíram para a obra do Conselho desde o seu início.

Neste ano celebra-se o trigésimo quinto aniversário do Documento In fructibus multis, que correspondeu ao pedido dos Padres do Concílio Vaticano II para que a Santa Sé criasse uma Comissão especial para as comunicações sociais. Portanto, trata-se do Documento de fundação do vosso Pontifício Conselho. Os Padres compreenderam claramente que devia haver um autêntico colloquium salutis entre a Igreja e o mundo, uma vez que era preciso dar prioridade ao uso dos meios de comunicação social, que no tempo do Concílio estavam a ampliar os seus horizontes e a desenvolver-se de modo cada vez mais aperfeiçoado e que hoje se tornam sempre mais influentes.

Celebra-se também neste ano o vigésimo quinto aniversário de uma das mais conhecidas iniciativas do vosso Conselho, a transmissão televisual, directamente da Basílica de São Pedro, da Missa da noite de Natal, um dos programas religiosos mais assistidos no mundo. Estou deveras grato a todos aqueles que contribuem para este e outros programas, pois estes constituem um serviço admirável à proclamação da Palavra de Deus e uma ajuda particular ao Sucessor de Pedro, no seu ministério universal de verdade e unidade.

Estes aniversários põem em relevo o valor da cooperação positiva e estreita entre a Igreja e os meios de comunicação social (cf. Mensagem por ocasião do XXXIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, n. 3). Sem dúvida, esta colaboração dará um significativo passo rumo ao Ano 2000, quando a graça do Grande Jubileu será levada aos quatro recantos da terra. O bimilenário do nascimento do Senhor será celebrado de modo particular em Roma e na Terra Santa, mas o seu significado espiritual estender-se-á a todos os povos e lugares (cf. Incarnationis mysterium, 2). Aprecio muito aquilo que o Pontifício Conselho está a fazer para tornar os meios de comunicação social mais conscientes da natureza autêntica do Jubileu como «ano de graça do Senhor», e para garantir que as celebrações a ele interligadas sejam transmitidas da forma mais ampla e eficaz possível, a fim de comunicarem a mensagem jubilar de conversão, esperança e alegria.

Um dos aspectos vitais da cooperação entre a Igreja e os meios de comunicação social é a reflexão ética que a Igreja propõe, sem a qual o mundo das comunicações sociais, potencialmente tão criativo, pode nutrir e difundir contravalores destruidores. É encorajador saber que, desde a publicação do Documento Ética na publicidade, várias pessoas que trabalham no sector dos meios de comunicação social sugeriram a redacção de um documento análogo, que ofereça uma guia ética para outras áreas das comunicações. Num sector em que as pressões culturais e económicas às vezes podem ofuscar a visão moral, a qual deveria orientar todas as realidades e relações humanas, esta tarefa representa um desafio ao Pontifício Conselho e está em profunda sintonia com a missão essencial da Igreja de difundir a Boa Nova do Reino de Deus.

A doutrina moral da Igreja é o fruto de uma longa tradição de sabedoria ética, que remonta ao próprio Senhor Jesus e, através d'Ele, ao Monte Sinai e ao mistério da auto-revelação de Deus na história humana. Sem esta visão e esta obediência às suas exigências, não haverá compreensão nem alegria que representem a plenitude das bênçãos de Deus às Suas criaturas. Por isso, encorajo-vos a estudar a dimensão ética da cultura dos meios de comunicação social e do seu poder sobre a vida das pessoas e da inteira sociedade em geral. Exorto-vos a continuar a promover uma formação eficaz dos católicos que trabalham no sector da mídia em todos os continentes, de maneira que o seu trabalho seja não só profissionalmente válido, mas também um compromisso no apostolado. A vossa constante cooperação com as várias organizações católicas internacionais, empenhadas nos meios de comunicação social, tem um significado especial no vasto campo da missão evangelizadora da Igreja.

Tenho a certeza de que o devotado trabalho do vosso Pontifício Conselho continuará a encorajar e guiar os católicos comprometidos no sector das comunicações sociais e, sobretudo em relação à celebração do Grande Jubileu, levará este importante evento eclesial a um maior número de pessoas. Confio-vos à intercessão amorosa de Maria, Sede da Sabedoria e Mãe de todas as nossas alegrias. Ela, que deu o Verbo ao mundo, nos ensine a servir com humildade e a proclamar com confiança a mensagem salvífica de seu Filho. Em penhor da força e da paz em Jesus Cristo, o Verbo que Se fez carne para que tenhamos vida, concedo de coração a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO COMITÉ DE INFORMAÇÕES


E INICIATIVAS PARA A PAZ


Sexta-feira, 5 de Março de 1999



Senhoras e Senhores!

1. Bem-vindos a este encontro por vós tão desejado! Obrigado pela vossa visita, com a qual quereis manifestar estima e devoção pelo Sucessor de Pedro e pelo seu magistério.

Desejo exprimir sentimentos de particular gratidão ao Presidente, Prof. Giovanni Conso, pelas amáveis expressões que quis dirigir-me em nome dos membros do vosso Comité e de todos os presentes. Das suas palavras emergem o louvável empenho realizado pela vossa Associação e a paixão com que cada um de vós põe as próprias competências ao serviço da causa da paz e da busca das vias mais adequadas, para realizar a justa cooperação entre os homens e os Povos.

Para promover de maneira concreta o bem precioso da paz e o salvaguardar quando está em perigo, escolhestes estar presentes, através dos oportunos canais diplomáticos, nos contextos mais em perigo, oferecendo aos responsáveis das Nações em conflito informações e contributos científicos e morais úteis para uma equitativa solução dos problemas.

2. No nosso tempo, o progresso científico, as conquistas espaciais, a facilidade e a rapidez das comunicações, o maior conhecimento entre os povos, o declínio das ideologias que dominaram o século XX e as informações sempre mais completas acerca das tragédias por elas causadas, fizeram com que crescessem em amplíssimas camadas da população mundial o horror pela guerra e um profundo desejo de paz. Contextualmente, os conflitos que infelizmente ainda enchem de sangue diversas regiões do Planeta, são vividos como uma ofensa à dignidade da pessoa e uma profunda ferida às legítimas aspirações dos homens e das mulheres do nosso tempo.

Trata-se de um sentimento que deve ser sempre cultivado e encorajado, pois somente da rejeição de toda a forma de violência e da busca sincera de uma convivência, na qual as relações de força são substituídas pelo esforço da colaboração, podem brotar as premissas indispensáveis para a construção dum mundo civil e solidário.

Esta convicta aspiração à paz está intimamente ligada à realização de algumas condições essenciais para o seu crescer e o seu consolidar-se, que se identificam substancialmente com a defesa dos direitos humanos, sem os quais inevitavelmente se multiplicam os germens da instabilidade, da rebelião e da violência. Estes direitos, que são civis e políticos, mas também económicos, sociais e culturais, dizem respeito a todas as fases da vida humana e devem ser respeitados em qualquer contexto. Eles formam um conjunto unitário, orientando de maneira decisiva para a promoção de todos os aspectos do bem da pessoa e da sociedade, e devem ser promovidos de maneira orgânica e integral. Com efeito, só a defesa da sua universalidade e indivisibilidade é capaz de favorecer a construção de uma sociedade pacífica e o desenvolvimento integral das nações.

3. O respeito dos direitos humanos está intimamente ligado ao dos direitos de Deus. Não existe futuro de paz para uma sociedade que não respeita Deus. As terríveis experiências, vividas pela humanidade no século que está para terminar, demonstram-no com evidência dramática. Lá onde se propagou e se impôs com força o ateísmo, com muita frequência a pretexto de eliminar Deus, correspondeu o desprezo da dignidade do homem.

Eis por que toda a comunidade humana, que aspira à paz, não pode deixar de pôr como base da sua convivência o reconhecimento da primazia de Deus e o respeito pela liberdade religiosa. A religião responde às aspirações mais profundas da pessoa, determina a sua visão do mundo, guia o seu relacionamento com os outros e oferece a resposta à questão do verdadeiro significado da existência no âmbito pessoal e social. Por conseguinte, a liberdade religiosa constitui o coração dos direitos humanos e exige a máxima consideração por parte dos indivíduos e dos Estados.

4. Senhoras e Senhores, a paz é um ideal a ser cultivado no coração da humanidade! O esforço para superar as causas dos conflitos deve ser acompanhado de uma constante acção dos crentes e dos homens de boa vontade, para que aumente a cultura da paz sobretudo nas novas gerações. Quanto a isto, conheço bem as múltiplas e corajosas iniciativas que realizais, sem interesses pessoais, para suscitar nos governantes e nos simples cidadãos uma convicta adesão a projectos de reconciliação e de solidariedade fraterna.

Exorto-vos a continuar por esta estrada, multiplicando ocasiões de diálogo e de educação para a paz nos mais diversificados contextos e não vos deixando desanimar pelos inevitáveis obstáculos. Sustente-vos a palavra de Jesus, o Qual, ao proclamar bem-aventurados os operadores de paz, lhes prometeu uma relação nova com Deus e a alegria de se sentirem parte duma humanidade reconciliada e unida no amor do Pai (cf. Mt Mt 5,9).

Com estes votos, ao confiar cada um de vós, as vossas famílias e o vosso empenhamento Àquela que o Povo cristão invoca como Rainha da paz, de coração vos concedo a Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1999 - Sábado, 20 de Fevereiro de 1999