Discursos João Paulo II 1999 - Sexta-feira, 5 de Março de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


POR OCASIÃO DA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


Sábado, 6 de Março de 1999

Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Académicos
Minhas Senhoras e meus Senhores!

1. Sinto-me feliz em vos receber por ocasião da quinquagésima Assembleia geral da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Dirijo o meu profundo agradecimento ao Sr. Edmond Malinvaux, vosso Presidente, pelas palavras que acaba de me dirigir em nome de todos vós. Agradeço também ao Monsenhor Marcelo Sánchez Sorondo e a todas as pessoas que, durante o ano, se dedicaram à coordenação dos vossos trabalhos.

Este é o terceiro ano consecutivo que continuais as vossas reflexões sobre o tema do trabalho, mostrando também a importância que convém dar a esta questão, não só a nível económico mas também no âmbito social, do progresso e da expansão das pessoas e dos povos. O homem deve estar no centro do problema do emprego.

2. A sociedade está submetida a numerosas transformações, devido às inovações científicas e tecnológicas, e à globalização dos mercados; estes constituem elementos que podem ser positivos para os trabalhadores, porque são fonte de desenvolvimento e de progresso; mas também podem fazer pesar sobre as pessoas numerosos riscos, pondo-as ao serviço dos mecanismos da economia e da busca desenfreada da produtividade.

O desemprego é uma fonte de pobreza e «pode tornar-se uma verdadeira calamidade social» (Laborem exercens LE 18), torna frágeis os homens e inteiras famílias, dando-lhes também a sensação de serem marginalizados, enquanto têm dificuldade em prover às suas necessidades fundamentais e não se sentem nem reconhecidos nem úteis à sociedade; isto dá origem ao endividamento, do qual é difícil sair e que supõe contudo compreensão por parte das instituições públicas e sociais; apoio e solidariedade por parte da comunidade nacional. Congratulo-me convosco pelo facto de procurardes vias novas para a diminuição do desemprego; as soluções concretas sem dúvida são difíceis, pois os meios da economia são muito complexos e além disso são mais de ordem política e financeira. Muitas coisas dependem também das normas em vigor no campo fiscal e sindical.

3. O emprego é sem dúvida o maior desafio da vida internacional. Ele supõe a repartição sadia do trabalho e a solidariedade entre todas as pessoas com idade de trabalhar e aptas para o fazer. Neste espírito, não é normal que certas categorias profissionais tenham em primeiro lugar a preocupação de preservar as vantagens adquiridas, o que não pode deixar de ter repercussões nefastas sobre o emprego dentro da nação. Por outras palavras, a organização paralela do trabalho ilegal lesa gravemente a economia dum país, porque constitui uma recusa de participar na vida nacional através dos contributos sociais e dos impostos. De igual modo, ela obriga certos trabalhadores, em particular mulheres e crianças, a uma situação incontrolável e inaceitável de submissão e servilismo, não só nos países pobres mas também nos países industrializados. Compete às Autoridades fazer com que, no que se refere ao emprego e às leis do trabalho, todos tenham as mesmas possibilidades.

4. O trabalho é um elemento essencial para todas as pessoas. Contribui para a edificação do seu ser, porque é parte integrante da sua vida quotidiana. A ociosidade não dá qualquer recurso interior nem permite encarar o futuro; não só «ela traz pobreza e miséria» (Tb 4,13), mas é também inimiga da vida moral boa (cf. Sl Ps 33,29). O trabalho dá, de igual modo, a qualquer indivíduo um lugar na sociedade, mediante o justo sentimento de se considerar útil para a comunidade humana e o desenvolvimento das relações fraternas; permite ainda participar de modo responsável na vida da nação e contribuir para a obra da criação.

5. Entre as pessoas dolorosamente atingidas pelo desemprego, encontra-se um importante número de jovens. No momento em que se apresentam ao mercado do trabalho, têm por vezes a impressão que será difícil encontrar um lugar na sociedade e serem reconhecidos pelo seu justo valor. Neste âmbito, todos os protagonistas da vida política, económica e social estão chamados a aumentar os esforços em favor da juventude, que deve ser considerada como um dos bens mais preciosos duma nação, e a harmonizar-se a fim de oferecerem formações profissionais cada vez mais aptas à situação económica do momento e uma política orientada de forma mais vigorosa ao emprego para todos. Desta forma, serão dadas uma confiança e uma esperança renovadas aos jovens, que por vezes podem ter a impressão de que a sociedade não precisa deveras deles; isto limitará sensivelmente as desigualdades entre as classes sociais, bem como os fenómenos de violência, prostituição, droga e delinquência, que actualmente não cessam de se multiplicar. Encorajo quantos têm um papel na formação intelectual e profissional dos jovens a acompanhá-los, apoiá-los e encorajá-los, para que se possam inserir no mundo do trabalho. Para eles, um emprego será o reconhecimento das suas capacidades e esforços, e proporcionar-lhes-á um futuro pessoal, familiar e social. De igual modo, mediante uma educação apropriada e as ajudas sociais necessárias, seria bom favorecer as famílias em dificuldade por motivos profissionais e ensinar as pessoas e as famílias com baixo rendimento a gerir o seu balanço e a não se deixar atrair pelos bens ilusórios propostos pela sociedade de consumo. O endividamento excessivo é uma situação da qual muitas vezes é difícil sair.

6. Dado que o emprego não pode aumentar infinitamente, seria bom considerar, em virtude da solidariedade humana, uma reorganização e melhor divisão do trabalho, sem esquecer a partilha necessária dos recursos com quantos se encontram desempregados. A solidariedade efectiva entre todos é urgente como nunca, sobretudo para quantos se encontram desempregados desde há muito tempo e para as suas famílias, que não podem permanecer na pobreza e na privação sem que a comunidade nacional se mobilize activamente; ninguém se deve resignar ao facto que algumas pessoas não têm emprego.

7. No âmbito duma empresa, a riqueza não é constituída unicamente pelos meios de produção, capital e benefícios, mas provém antes de tudo dos homens que, através do seu trabalho, produzem aquilo que depois se torna bens de consumo ou serviços. Desta forma, todos os assalariados, de acordo com as suas capacidades, devem ter a sua parte de responsabilidade, contribuindo para o bem comum da empresa e, definitivamente, de toda a sociedade (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 38). É fundamental ter confiança nas pessoas, desenvolver um sistema que privilegie o sentido da inovação por parte dos indivíduos e dos grupos, a participação e a solidariedade (cf. ibid., 45), e que favoreça primordialmente o emprego e o crescimento. A valorização das capacidades das pessoas é um elemento motor da economia. Conceber uma empresa apenas em termos económicos ou de competitividade implica riscos; põe em perigo o equilíbrio humano.

8. Os chefes de empresa e os responsáveis devem ter consciência de que é essencial basear as suas decisões no capital humano e nos valores morais (cf. Veritatis splendor VS 99-101), sobretudo no respeito das pessoas e na sua necessidade inalienável de ter trabalho e de viver dos frutos da sua actividade profissional. É preciso não esquecer a qualidade da organização das empresas, a participação de todos ao seu bom andamento, bem como uma atenção renovada às relações serenas entre todos os trabalhadores. Desejo profundamente uma mobilização cada vez mais profunda dos diferentes protagonistas e de todos os parceiros da vida social, para que se empenhem, no âmbito das suas responsabilidades, a serem servidores do homem e da humanidade, tomando decisões nas quais a pessoa humana, sobretudo a mais débil e desfavorecida, ocupe o lugar central e seja deveras reconhecida na sua responsabilidade específica. A globalização da economia e do trabalho requer de igual modo uma globalização das responsabilidades.

9. Os desequilíbrios entre países pobres e ricos continuam a crescer. Os países industrializados têm o dever da justiça e uma grave responsabilidade em relação aos países em vias de desenvolvimento. As desigualdades são cada vez mais evidentes. Paradoxalmente, um certo número de países, que têm no seu solo ou subsolo riquezas naturais, são objecto duma exploração inaceitável por parte doutros países. Desta forma, inteiras populações não podem beneficiar das riquezas da terra que lhe pertencem, nem do seu trabalho. Seria conveniente oferecer a essas nações a possibilidade de se desenvolverem com os seus próprios recursos naturais, associando-as mais estreitamente aos movimentos da economia mundial.

10. Na base duma renovação do emprego, encontra-se um dever ético e a necessidade de mudanças fundamentais das consciências. Qualquer progresso económico que não considere o aspecto humano e moral tenderá para esmagar o homem. A economia, o trabalho e a empresa estão, em primeiro lugar, ao serviço das pessoas. As escolhas estratégicas não podem ser feitas em desvantagem de quantos trabalham na empresa. É preciso oferecer a todos os nossos contemporâneos um emprego, graças a uma repartição justa e responsável do trabalho. Também é possível considerar a revisão da ligação entre salário e trabalho, a fim de revalorizar empregos manuais que muitas vezes são cansativos e considerados subalternos. De facto, a política salarial deveria considerar não só o rendimento da empresa, mas também as pessoas. Uma desproporção demasiado evidente entre os salários é injusta, porque desvaloriza um determinado número de empregos indispensáveis, e escava desigualdades sociais prejudiciais para todos.

11. A fim de enfrentar os desafios com que a sociedade se depara no limiar do Terceiro Milénio, exorto a comunidade cristã a empenhar-se cada vez mais ao lado das pessoas que lutam em favor do emprego e a caminhar com os homens pela via duma economia sempre mais humana (cf. Centesimus annus CA 62).

É neste espírito que vos agradeço o serviço louvável que prestais à Igreja, estando particularmente atentos aos fenómenos de sociedade, que são importantes para o homem e para a humanidade inteira. Ao confiar-vos à intercessão de S. José, padroeiro dos trabalhadores, e da Virgem Maria, concedo-vos de coração a Bênção apostólica, bem como às vossas famílias e a todas as pessoas que vos são queridas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS REUNIDOS


PARA A RECITAÇÃO DO ROSÁRIO


Sábado, 6 de Março de 1999



Agradeço cordialmente a todos vós, que participastes na recitação do santo Rosário, neste primeiro sábado de Março, mês dedicado a São José, esposo de Maria Santíssima e padroeiro da Igreja universal. Saúdo os grupos de fiéis provenientes de Tívoli, Castelfranco di Sopra, Fóggia, Nápoles; o «Movimento para a Vida» de Cérvia, o Lions Club de Andria, os voluntários, colaboradores e jovens do Instituto «Casal del Marmo» de Roma e as crianças da Escola «Santa Doroteia» de Montecchio Emília com os seus pais e professores.

Dirijo um pensamento particular aos jovens universitários: aos presentes e a todos os que estão unidos connosco por meio da Rádio Vaticano. Caríssimos universitários, saúdo-vos com afecto! Meditámos o mistério do amor de Deus Pai, do qual Maria é a primeira testemunha, e invocámos para todos os universitários do mundo o dom da reconciliação e da misericórdia. Nesta noite tenho a alegria de compartilhar convosco o início da peregrinação da Cruz nas vossas Universidades. Sabei reconhecer na Cruz o sinal mais eloquente da misericórdia do Senhor, capaz de suscitar em todas as comunidades académicas um renovado impulso rumo Àquele que é fundamento e certeza de todo o itinerário de busca intelectual.

Estão unidos a nós na oração os vossos colegas das Universidades de Buenos Aires, Nova Iorque, Czêstochowa e Santiago de Compostela. Esta iniciativa já nos projecta para o Dia Mundial da Juventude e o encontro mundial dos professores universitários do Ano 2000. Preparai-vos, caros universitários de Roma, para acolher os vossos coetâneos que chegarão de todas as partes do mundo. Com a ajuda de Maria sede apóstolos no mundo universitário.

Saúdo com afecto os universitários de Buenos Aires! Agradeço a D. Raúl Rossi e às autoridades académicas. Queridos jovens: vós tendes a missão de animar as vossas comunidades universitárias em vista do Grande Jubileu, que quer ser ocasião para uma profunda renovação espiritual e cultural. Confio na vossa colaboração para o bom desenvolvimento do Dia Mundial da Juventude do Ano 2000. Espero que muitos de vós possam vivê-la em Roma.

Torno extensiva uma afectuosa saudação aos estudantes da Universidade de «Columbia» de Nova Iorque, reunidos na igreja de Nossa Senhora com D. Anthony Mestice. Recordais-me a minha recente e alegre visita aos Estados Unidos. Renovo a minha confiança em vós e encorajo-vos nos vossos esforços por serdes bons cristãos no seio da vossa cultura. Que a aproximação do Grande Jubileu vos prepare para ser cada vez mais fiéis a Cristo e mais activos no testemunho do Evangelho no mundo de hoje.

Com particular emoção saúdo os universitários de Czêstochowa e de outros centros, reunidos em oração no Santuário de Jasna Góra, à volta de D. Stanislaw Nowak. A voz da vossa oração despertou muitas recordações no meu coração. Aprecio o empenho com que colaborais na pastoral universitária. Isto dá a confiança de que o crescimento cultural da nossa Pátria estará sempre radicado na plurissecular tradição cristã. Peço-vos que confieis à Rainha de Jasna Góra o caminho jubilar de todos os universitários do mundo e, de modo particular, o Dia Mundial da Juventude que se realizará em Roma no próximo ano. Deus vos abençoe!

A minha saudação dirige-se, por fim, aos universitários de Santiago de Compostela, reunidos na Catedral sob a guia de D. Julián Barrio. Agradeço-vos o entusiasmo com que quisestes participar neste encontro, oferecendo directamente o vosso testemunho no contexto do Ano Jubilar Compostelano. Asseguro a minha oração para que este seja um acontecimento de graça para muitos universitários, que no próximo mês de Agosto participarão no encontro europeu de jovens. Confio muito no vosso empenho por animar os ambientes universitários, de modo que possam preparar-se adequadamente para o Grande Jubileu.

No final deste nosso encontro, é-me grato conceder a todos a Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO CENTENÁRIO DA ESTÁTUA


DA MÃE DO SENHOR NO MONTE DE ROCCIAMELONE




Ao Venerado Irmão

D. VITTORIO BERNARDETTO

Bispo de Susa

1. Com alegria tive conhecimento de que, neste ano, a Igreja que está no Valsusa celebra o primeiro centenário da erecção da estátua da Mãe do Senhor no monte Rocciamelone. Ao recordar com ânimo grato o acolhimento festivo que me foi reservado a 14 de Julho de 1991, por ocasião da minha Visita pastoral a Susa, e o intenso momento de oração vivido na Catedral de São Justo diante do Tríptico que Bonifácio Rotário, cidadão de Asti, levou àquele cume no dia 1 de Setembro de 1358, desejo unir-me espiritualmente às festas com que a inteira comunidade diocesana quer ressaltar o significativo aniversário.

Há cem anos, em ideal continuidade com o antigo gesto de fé que deu início à devoção mariana no Rocciamelone, o Pároco da Catedral, Cónego António Tonda, e o Professor Giovanni Battista Ghirardi, encorajados pelo Beato Bispo Edoardo Giuseppe Rosaz, pensaram em erigir, na montanha mais alta dos Alpes ocidentais uma estátua à Virgem, que depois foi realizada com o contributo generoso de 130.000 «crianças da Itália». Com essa iniciativa, a Igreja que está no Valsusa, imitando o discípulo a quem Jesus amava (cf. Jo Jn 19,27), mostrou querer acolher Maria «na sua casa», para que repetisse aos filhos e filhas dessa terra, como um dia em Caná da Galileia: «Fazei o que Ele vos disser» (Jn 2,5).

A presença de Maria tornou assim o Rocciamelone um centro de evangelização onde os fiéis, acolhendo como que dos lábios da Mãe a mensagem da salvação, podem voltar a saborear, com novo vigor, a alegria e a dignidade de filhos adoptivos de Deus. Quantas coisas poderia narrar a imagem da Virgem! Vitórias sobre o egoísmo e sobre o pecado, perdões dados e acolhidos, gestos de reconciliação e de altruísmo, que transformaram a história do Rocciamelone numa singular «história de almas», cujos capítulos estão conservados com zeloso cuidado no coração da Mãe.

2. Aos pés da cruz, Jesus pronunciou aquelas palavras que são como que um testamento: «Mulher, eis aí o teu filho» (Jn 19,26). «A Mãe de Cristo, encontrando-se na irradiação directa deste mistério [pascal] que abrange o homem – todos e cada um dos homens – é dada ao homem – a todos e a cada um dos homens – como mãe. Este homem aos pés da Cruz é João, "o discípulo que Ele amava". Porém não é ele como um só homem. A Tradição e o Concílio não hesitam em chamar Maria "Mãe de Cristo e Mãe dos homens"» (Redemptoris Mater RMA 23).

A partir daquele momento, já ninguém sobre a terra será «órfão». A Igreja, bem consciente disto, não cessou de haurir benéficas consequências da «maternidade» de Maria. Em particular, no Concílio Ecuménico Vaticano II reconheceu que a participação da Virgem de Nazaré na obra da redenção a tornou para o povo cristão «mãe, modelo e membro eminente e inteiramente singular da Igreja» (cf. Lumen gentium LG 53), atribuindo à sua intercessão uma dimensão universal no espaço e no tempo: Ela é Mãe de todos e Mãe para sempre. A sua missão tem o objectivo de reproduzir nos crentes os traços do Filho primogénito (cf. Paulo VI, Exort. Apost. Marialis cultus, 57), levando-os ao mesmo tempo a recuperar, de modo sempre mais nítido, aquela imagem e semelhança de Deus na qual foram criados (cf. Gn Gn 1,26).

Os fiéis sabem que podem contar com esta solicitude da Mãe celeste: Maria nunca os abandona. Ao acolherem-na na própria casa como dom supremo do coração de Cristo crucificado, eles asseguram para si mesmos uma presença singularmente eficaz na tarefa de testemunhar diante do mundo, em qualquer circunstância, a fecundidade do amor e o sentido autêntico da vida.

3. A celebração centenária torna-se, portanto, para essa Comunidade diocesana, ocasião privilegiada para adorar «o sapiente desígnio de Deus, que colocou na sua Família – a Igreja – como em todo e qualquer lar, a figura de uma Mulher que, escondidamente e em espírito de serviço, vela pelo seu bem e "benignamente a protege na sua caminhada em direcção à Pátria, até que chegue o dia glorioso do Senhor"» (Paulo VI, Exort. Apost. Marialis cultus, Introdução).

Iniciativa importante, no contexto das celebrações, será a peregrinatio da venerada Imagem em todas as paróquias da diocese. De coração formulo votos por que, como já ocorreu em 1948, no final da segunda guerra mundial, esse evento constitua, graças à colaboração eficaz dos sacerdotes, dos religiosos e da inteira comunidade eclesial, um momento privilegiado de evangelização, de formação e de empenho cristão. A passagem da estátua de Nossa Senhora nas diversas Vigararias constitua um tempo propício para celebrar o mistério de Cristo em união com a sua Mãe, e contribua para aumentar a fé, a esperança e a caridade das populações do Valsusa!

Evocando as maravilhas realizadas pelo Senhor no Povo de Deus, a Virgem suscite nos fiéis um profundo desejo de contemplação e de louvor, que multiplique o fervor e abra o coração de cada um às necessidades materiais e espirituais dos irmãos.

O exemplo da Virgem alimente no coração dos cristãos o profundo amor pelas Escrituras Sagradas e a pronta disponibilidade a cumprir a vontade do Senhor. Seja a peregrinatio um tempo de graça e de fervorosa celebração dos sacramentos da vida cristã. Reconciliados com o Pai celeste e nutridos com o Corpo e o Sangue do Senhor, os cristãos, recolhidos à volta da Mãe, possam receber copiosas efusões dos dons do Espírito, que os tornem apóstolos do Terceiro Milénio e testemunhas autênticas do Ressuscitado na família, nos lugares de trabalho, nas escolas e em qualquer outro ambiente em que se empenham em construir juntos a civilização do amor.

4. A Nossa Senhora do Rocciamelone, que desde há séculos acompanha com a sua incessante protecção a Igreja que está no Valsusa, desejo confiar-Te, venerado Irmão, assim como os Presbíteros, os Religiosos e as Religiosas, as famílias, os jovens, os doentes e todos os fiéis, a fim de que a inteira Comunidade diocesana, sustentada pelo amor da Mãe celeste, saiba seguir Cristo com renovado impulso e testemunhá-l'O com o fervor da vida e das obras, no limiar do novo milénio. Em penhor desses votos, concedo a todos com afecto uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 8 de Março de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS PARA


A CERIMÓNIA DE BEATIFICAÇÃO


Segunda-feira, 8 de Março de 1999



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Ainda continua vivo o eco da celebração de ontem, durante a qual tive a alegria de proclamar Beatos Vicente Soler e seis companheiros, Manuel Martín Sierra, Nicolau Barré e Ana Schäffer. Nesta manhã, acolho com renovada alegria e saúdo com afecto todos vós, caros peregrinos, que viestes para uma circunstância tão solene. A vossa numerosa e significativa presença está a indicar como os ensinamentos e os exemplos destes autênticos discípulos de Cristo, testemunhas e mestres de santidade, incidiram em profundidade na alma de muitas populações, deixando nelas uma recordação indelével e fecunda. Dêmos graças ao Senhor!

2. Com prazer acolho hoje os membros da Ordem Agostiniana Recolecta, assim como os demais peregrinos que, acompanhados pelos seus Bispos, vieram a Roma da Andaluzia, lugar do martírio dos oito novos Beatos, e das outras terras da Espanha.

Ao falar de «martírio» recordamos um drama horrível e maravilhoso ao mesmo tempo: horrível pela injustiça armada de crueldade que o provocou; horrível também pelo sangue que se derramou e pela dor que se sofreu; maravilhoso, entretanto, pela inocência que, dócil e sem se defender, se entrega ao suplício, feliz de poder testemunhar a verdade invencível da fé. A vida morre, mas a fé triunfa e vive. Assim é o martírio. Um acto supremo de amor e fidelidade a Cristo, que se converte em testemunho e exemplo, em mensagem perene para a humanidade presente e futura.

Assim foram os martírios dos sete Religiosos Agostinianos Recolectos e do Pároco de Motril. Morreram como sempre tinham vivido: entregando cada dia a sua vida por Cristo e pelos homens, seus irmãos. São comovedores os relatos do martírio, especialmente do ancião Padre Vivente Soler, que tinha sido Prior-Geral da Ordem. Encarcerado, confortava os demais detidos, dizendo-lhes que nas missões estivera em circunstâncias ainda piores e o Senhor sempre o havia ajudado. Herói da caridade, quis oferecer-se em lugar de um pai de família condenado à morte, e chegado o momento extremo confiou à Virgem da Cabeça, padroeira de Motril, o destino de todos os condenados.

Que os novos Beatos mártires acompanhem o caminhar da Igreja, que trabalha e sofre pelo Evangelho, e favoreçam o florescimento de uma nova primavera de vida cristã na Espanha!

3. Estou feliz por vos acolher, a vós que viestes participar na Beatificação do Padre Nicolau Barré. A vossa presença manifesta o vosso apego à sua pessoa, que é um dom de Deus para a Igreja.

A vós, que pertenceis à família das Irmãs do Menino Jesus, dirijo uma saudação muito particular. Na vossa obra para a instrução das crianças e dos jovens necessitados, o carisma do vosso fundador é para vós um apelo a participar no crescimento humano e espiritual de todos os que vos são confiados. O Padre Barré sabia que não há riquezas humanas possíveis sem educação, que não há amor de Deus sem um aprendizado da generosidade. O seu empreendimento, que prosseguis com dedicação, humildade e abandono a Deus, é uma resposta à grande miséria humana. Estais unidas ao esforço de todos aqueles que procuram fazer com que Deus seja conhecido, ajudando o homem a erguer-se de novo. Queridas Irmãs, encorajo-vos a permanecer fiéis à vossa missão educativa, que tem a sua origem no amor e na contemplação de Cristo.

No seguimento de Nicolau Barré, oxalá vos dediqueis mais ao Senhor, vos abandoneis a Ele sem reservas e conduzais os jovens a Deus!!

4. Caros Irmãos no Episcopado, prezadas irmãs e caros irmãos!

Saúdo todos vós que, tendo partido da Diocese de Regensburgo, viestes a Roma por ocasião da beatificação de Ana Schäffer. Dou as boas-vindas ao representante dos Irmãos no Episcopado, o Cardeal Friedrich Wetter, que na qualidade de Arcebispo de Munique e de Frisinga é o vosso Metropolita.

Além disso, saúdo o vosso Bispo diocesano, D. Manfred Müller, e os numerosos sacerdotes e religiosos que estão entre os peregrinos.

A celebração da elevação às honras dos altares tem sempre em si alguma coisa de edificante. É uma antecipação daquilo que nos espera no final dos tempos. Deveis nutrir-vos disto todos os dias. Portanto, peço-vos: levai convosco para casa algo deste dia particular! O fruto desta celebração deve ser algo mais do que uma bonita recordação de Roma e do dia de um Beato no calendário litúrgico. Ana Schäffer está presente entre nós com a sua mensagem de vida, que é um sólido apoio no qual basear-nos, quando vivemos horas tristes e atravessamos vales escuros. Quantas pessoas devem hoje conviver com uma diagnose, que do ponto de vista humano deixa sem esperança!

Quantas pessoas estão obrigadas a um leito no qual, dia após dia, deverão permanecer! Quantos sofrem por causa de histórias complicadas que a vida escreveu e devido a situações em que estão envolvidas por desgraça ou por culpa! Certamente existem pessoas, das quais estais próximos e trazeis convosco espiritualmente nesta peregrinação. Que Ana Schäffer, mulher da vossa terra, vos encoraje, a vós, aos amigos e aos conhecidos a elevar oração a Deus!

Agora, do céu, Ana Schäffer continua a fazer de maneira mais completa aquilo que fez na terra junto do seu leito: intercede por nós incessantemente junto de Deus. Dêmos graças a Deus, porque nos deu uma mediadora tão poderosa.

5. Caríssimos Irmãs e Irmãs! A beatificação destes nossos padroeiros celestes insere-se no itinerário quaresmal que nos conduz à Páscoa. O seu testemunho sirva de encorajamento e estímulo para todos a percorrerem, com vontade decidida, este caminho de conversão e de reconciliação, seguindo fielmente as pegadas dos Beatos que hoje honramos de modo particular. Maria, Rainha dos Santos e dos Mártires, interceda por nós!

Abençoo de coração cada um de vós, as vossas famílias e comunidades eclesiais a que pertenceis.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS


DA ARQUIDIOCESE DE PADERBORN


Quinta-feira, 11 de Março de 1999



Amados Irmãos e Irmãs!

1. Muito me alegra acolher-vos no Palácio Apostólico. Os responsáveis da redacção, juntamente com numerosos leitores, vieram a Roma em peregrinação para celebrar o centenário da fundação do semanário «Liboriusblatt». Ao ver-vos reunidos diante de mim, faz-me pensar numa grande família. Esta comparação parece-me hoje muito acertada, porque concebe explicitamente o vosso semanário como uma revista para a família. Isto não só se refere aos temas que são abordados nela; pode aplicar-se também ao vosso jornal no seu conjunto: escritores e leitores, editores e assinantes, formais todos juntos, por assim dizer, a família do «Liboriusblatt». Com muito prazer aproveito esta oportunidade para vos felicitar de coração, pelos cem anos da vossa tradição familiar. Em tempos nem sempre fáceis conseguistes manter e fortalecer o perfil católico do vosso semanário. Assim, ocupais na Alemanha um lugar importante na imprensa regional deste século XX.

2. O olhar agradecido para o passado, que estabelece este encontro familiar, não deveria mudar a perspectiva para o futuro. O horizonte do nosso tempo está caracterizado pela técnica e a globalização. Numa fracção de segundo, as notícias mais recentes são divulgadas em todo o planeta. As informações, que até há pouco só cobriam um espaço limitado, propagam-se agora rapidamente por todos os continentes. Infelizmente, com muita frequência o preço da quantidade vai em detrimento da qualidade. Muitas vezes a «opinião pública» preocupa-se mais dos grandes títulos e do sensacionalismo do que do conteúdo mesmo da notícia. Às vezes parece que o conteúdo se sacrifica ao seu valor de mercado, como se fosse uma mercadoria.

Mas a culpa não é só dos que produzem e oferecem a informação. Uma responsabilidade particular cabe também aos leitores, aos telespectadores e aos ouvintes que usam, com uma decisão livre e pessoal, os meios de comunicação social. Mas nem sempre é fácil seleccionar o que é deveras interessante e valioso. Como leitores do «Liboriusblatt» encontrastes uma boa opção. A vossa fidelidade impele a um compromisso todos os que estão encarregados deste semanário. O que os Padres do Concílio Vaticano II afirmaram sobre este argumento não perdeu de modo algum a sua urgência: «Para imbuir plenamente de espírito cristão os leitores, deve criar-se e difundir-se uma imprensa genuinamente católica» (Inter mirifica IM 14).

3. Queridos Irmãos e Irmãs, o «Liboriusblatt» merece justamente o nome de católico. Por isso, expresso-vos o meu reconhecimento. Deus acompanhe o vosso semanário também no limiar do terceiro milénio. O diversificado mundo da imprensa, com a variedade de opiniões, reclama com urgência a voz católica. Oxalá esta voz continue a ressoar no «Liboriusblatt»! Com estes bons votos, concedo-vos de bom grado a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA SEMANA DE ESTUDOS


PROMOVIDA PELA PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS


Sexta-feira, 12 de Março de 1999



Senhor Presidente
Excelências
Senhoras e Senhores!

1. Tenho a alegria de vos acolher, por ocasião da semana de estudos sobre a contribuição das ciências ao desenvolvimento mundial, promovida pela Pontifícia Academias das Ciências. Ao agradecer intensamente ao vosso Presidente as suas amáveis palavras, apresento-vos as minhas cordiais saudações, apreciando o serviço que prestais à comunidade humana. Quisestes reflectir sobre os grandes riscos que pesam sobre todo o planeta e, ao mesmo tempo, divisar as medidas possíveis a fim de preservar a criação, no limiar do terceiro milénio.

2. No mundo actual, cada vez mais vozes se levantam para denunciar os danos crescentes provocados pela civilização moderna às pessoas, ao habitat, às condições climáticas e à agricultura. Certamente, existem elementos ligados à natureza e à sua autonomia, contra os quais é difícil, e até mesmo impossível, lutar. Contudo, pode-se afirmar que comportamentos humanos estão às vezes na origem de desequilíbrios ecológicos graves, com consequências particularmente nefastas e desastrosas nos diversos países e para o globo inteiro. Basta citar os conflitos armados, a corrida desenfreada ao crescimento económico, a desmedida utilização dos recursos, a poluição do ar e da água.

3. É responsabilidade do homem limitar os riscos para a criação, mediante uma particular atenção ao ambiente natural, as intervenções apropriadas e os sistemas de protecção, que tenham em vista antes de tudo a perspectiva do bem comum e não só a rentabilidade ou lucros particulares. O desenvolvimento duradouro dos povos exige que todos se ponham «ao serviço dos homens, para os ajudar a captar todas as dimensões deste grave problema, e para os convencer da urgência duma acção solidária» (Encíclica Populorum progressio PP 1). Infelizmente, considerações e argumentos económicos e políticos muitas vezes prevalecem sobre os do respeito do ambiente, tornando a vida das populações impossível ou perigosa em certas áreas do mundo. Para que o planeta seja habitável no futuro e cada um tenha nele o seu lugar, encorajo as Autoridades públicas e todos os homens de boa vontade a interrogarem-se sobre as suas atitudes quotidianas e as decisões a tomar, que não podem ser uma busca infinita e desenfreada de bens materiais, sem se dar conta do contexto em que vivemos, mas que devem ser aptas para prover as necessidades fundamentais das gerações presentes e futuras. Esta atenção constitui um aspecto essencial da solidariedade entre as gerações.

4. A comunidade internacional é chamada a colaborar com os diferentes grupos interessados, a fim de que o comportamento das pessoas, muitas vezes inspirado no consumismo exacerbado, não subverta as redes económicas, nem os recursos naturais nem a manutenção do equilíbrio da natureza. «A simples acumulação de bens e de serviços, mesmo a favor do maior número, não basta para realizar a felicidade humana» (Encíclica Sollicitudo rei socialis SRS 28).

De igual modo, a concentração de potências económicas e políticas que respondem a interesses muito particulares cria centros de poder que, com frequência, agem em detrimento dos interesses da comunidade internacional. Esta actuação abre a via a decisões arbitrárias contra as quais é às vezes difícil reagir, expondo assim inteiros grupos humanos a graves danos. Os equilíbrios exigem que as pesquisas e as decisões sejam efectuadas na transparência, com o desejo de servir o bem comum e a comunidade humana.

Mais do que nunca é importante pôr em prática uma ordem política, económica e jurídica mundial, fundada sobre regras morais claras, a fim de que as relações internacionais tenham como objectivo a busca do bem comum, evitando os fenómenos de corrupção que lesam gravemente os indivíduos e os povos, e não tolerando a criação de privilégios e vantagens injustas a favor dos Países ou dos grupos sociais mais ricos, das actividades económicas desenvolvidas que não respeitem os direitos humanos, de paraísos fiscais e de zonas de não-direito. Essa ordem deveria ter suficiente autoridade junto dos organismos nacionais, para intervir a favor das regiões mais necessitadas e realizar programas sociais, que tenham como único objectivo ajudar estas regiões a progredirem na via do desenvolvimento. Só assim o homem será verdadeiramente irmão de todo o homem e colaborador de Deus na gestão da criação.

5. Todos os que têm uma responsabilidade na vida pública são também chamados a desenvolver a formação profissional e tecnológica, assim como a organização de períodos de aprendizagem, de modo especial para os jovens, dando-lhes os meios para participarem activamente no crescimento nacional. De igual modo, é fundamental formar quadros para os países em vias de desenvolvimento e favorecer a transferência de tecnologias para estes países. Esta promoção dos equilíbrios sociais, fundada sobre o sentido da justiça e realizada num espírito de sabedoria, assegurará o respeito pela dignidade das pessoas, permitir-lhes-á viver em paz e usufruir os bens que a sua terra produzir. Além disso, uma sociedade bem organizada poderá de maneira mais rápida enfrentar as catástrofes que se verificarem, a fim de auxiliar as populações, em particular as mais pobres e, por isso, as mais desprovidas de meios.

6. Os vossos esforços por elaborar previsões fidedignas constituem uma contribuição preciosa para que os homens, de modo especial aqueles que têm a tarefa de guiar os destinos dos povos, assumam plenamente as suas responsabilidades perante as gerações futuras, evitando as ameaças que seriam a consequência de negligências, de decisões económicas ou políticas gravemente erradas ou de falta de perspectivas a longo prazo.

As estratégias a serem adoptadas, assim como as medidas nacionais e internacionais necessárias, deverão ter por objectivo primordial o bem-estar das pessoas e dos povos, a fim de que todos os países tenham «uma participação mais ampla nos frutos da civilização» (Paulo VI, Encíclica Populorum progressio PP 1). Graças a uma partilha equitativa dos fundos concedidos pela comunidade internacional e aos empréstimos com juros baixos, é importante promover iniciativas fundadas sobre uma solidariedade desinteressada, capazes de sustentar acções correctamente determinadas, uma aplicação concreta das tecnologias mais adequadas e de pesquisas que respondam às necessidades das populações locais, evitando deste modo que os benefícios dos progressos tecnológicos e científicos sejam usufruídos exclusivamente pelas grandes sociedades e pelos países mais desenvolvidos. Convido então a comunidade científica a prosseguir as suas investigações para determinar melhor as causas dos desequilíbrios ligados à natureza e ao homem, a fim de os prevenir e propor soluções alternativas às situações que estão a tornar-se insustentáveis.

Estas iniciativas devem basear-se sobre uma concepção do mundo que ponha no seu centro o homem e saiba respeitar a variedade das condições históricas e ambientais, permitindo obter um desenvolvimento duradouro, capaz de prover às necessidades de toda a população do mundo. Trata-se, em primeiro lugar, de ter sempre uma perspectiva a longo prazo no uso dos recursos naturais, evitando exaurir, através de intervenções irracionais e desmedidas, os recursos actuais.

7. Os indivíduos têm às vezes a impressão de que as suas decisões particulares são ineficazes a nível de um país, do mundo ou do cosmos, e isto corre o risco de gerar neles uma certa indiferença por causa do comportamento irresponsável das pessoas. No entanto, devemos recordar-nos de que o Criador pôs o homem na criação, ordenando-lhe que a administrasse em vista do bem de todos, graças à sua inteligência e à sua razão. Podemos, então, estar certos de que mesmo a mínima boa acção de uma pessoa tem uma incidência misteriosa sobre a transformação social e participa no crescimento de todos. É a partir da aliança com o Criador, para o Qual o homem é constantemente chamado a voltar-se, que cada um é convidado a uma profunda conversão pessoal na relação com os outros e com a natureza. Isto permitirá uma conversão colectiva e uma vida harmoniosa com a criação. Gestos proféticos, mesmo modestos, são para muitos uma ocasião para se interrogar e se empenhar por caminhos novos. Por isso, é necessário dar a todos, em particular aos jovens que aspiram a uma vida social melhor no seio da criação, uma educação para os valores humanos e morais; é de igual modo necessário desenvolver-lhes o sentido cívico e a atenção aos outros, a fim de que todos tomem consciência da importância das próprias atitudes quotidianas, para o futuro do seu país e do planeta.

8. Ao concluir o nosso encontro, peço ao Senhor que vos cumule das forças espirituais de que tendes necessidade para prosseguir a vossa tarefa, com um espírito de serviço à humanidade e em vista de um futuro melhor sobre o nosso planeta. A todos concedo de coração a Bênção Apostólica, que faço extensiva às pessoas que vos são queridas.




Discursos João Paulo II 1999 - Sexta-feira, 5 de Março de 1999