Discursos João Paulo II 1999 - Sábado, 20 de Novembro de 1999

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO "ENCONTRO DOS JOVENS


RUMO AO JUBILEU"




Caríssimos Jovens!

1. Chegue a minha saudação cordial a vós, participantes no Encontro dos jovens rumo ao Jubileu, que nestes dias se realiza em São Remo. Saúdo o venerado Irmão Giacomo Barabino, Bispo de Ventimiglia-São Remo, assim como todos os Organizadores deste vosso Encontro. O meu pensamento estende-se também aos Membros da Associação O meu Deus canta jovem, aos Autores-Cantores-Intérpretes de Música e Vida e de Magnificat, à Associação evangélica de música cristã Musictus.

O tema do vosso Encontro é singular: "Jovens 2000 deixai-nos nascer". Com esta manifestação quereis oferecer aos vossos coetâneos uma mensagem de esperança, propondo uma corajosa visão cristã da realidade. Em síntese, vós jovens quereis ser apóstolos do Evangelho entre os jovens do nosso tempo.

2. Este Encontro, que quisestes em preparação para o Grande Jubileu, exprime bem uma característica especial da juventude de hoje, isto é, a abertura à grande diversidade cultural do mundo actual. Para serdes capazes de cumprir esta importante missão, deveis estar abertos antes de tudo a Cristo, que com amor vos interpela e vos pede que acolhais a sua palavra. Estai certos disto. Ele não vos desiludirá! Quem O encontra, não tem medo de abraçar com coragem as exigências do seu Evangelho! Quem O ama, descobre que a vida cristã é dom de Deus, que ama cada um pessoalmente e a todos deseja confiar uma missão.

Caros jovens, imagino que, como todos os vossos coetâneos, também vós estais em busca daquilo que é importante e central na existência; procurais algo e alguém com quem contar totalmente.

Permiti-me dizer-vos que entendo as vossas aspirações e as dificuldades que encontrais. Ao contrário das gerações que vos precederam, em especial daquelas que conheceram na sua juventude as dificuldades conexas com a guerra mundial e com outros conflitos, a maior parte de vós pôde crescer num clima de paz, de liberdade e de segurança. Sabeis, porém, por experiência que o bem-estar material não produz automaticamente felicidade e serenidade. Nem basta a liberdade garantida pela lei para se sentir livre dentro, no íntimo do coração. A liberdade da escravidão das paixões brota da força regeneradora da Graça.

O ser humano tem necessidade de Cristo. Só no encontro com Ele encontra a verdade plena sobre si mesmo. Seguir Jesus - bem o sabeis - requer generosidade e audácia. Mas é seguindo os seus passos que se alcança a plena realização de si mesmo e a verdadeira liberdade. A isto aludem as próprias canções religiosas apresentadas em São Remo nesta jubilosa circunstância.

3. Caros jovens amigos, com o apoio da graça do Senhor sabei estar à altura da vossa dignidade de ressuscitados em Cristo. Abri-vos à alegria do Senhor! Sois chamados a cantar a festa da vida, da liberdade, da reconciliação; estais destinados a caminhar pelas vias da fraternidade e do amor.

Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, vos proteja e vos assista em todo o momento. Estes, caros jovens, são os votos cordiais que desejo dirigir a cada um de vós, assim como a todos os vossos entes queridos. Acompanho estes votos com uma especial Bênção, que de bom grado vos envio como sinal da minha proximidade espiritual e do meu afecto.

Vaticano, 21 de Novembro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS A ROMA


PARA A CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO


DE 12 NOVOS SANTOS


Segunda-feira, 22 de Novembro de 1999



Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Religiosos e Religiosas
Irmãos e Irmãs!

1. Encontramo-nos hoje para renovar o nosso hino de louvor e de agradecimento a Deus, no dia seguinte à solene liturgia durante a qual, na Basílica Vaticana, tive a alegria de proclamar 12 novos Santos, invencíveis testemunhas de Cristo, Rei do universo. Ao mesmo tempo, queremos mais uma vez deter-nos para reflectirmos juntos sobre o seu luminoso exemplo de amor incondicional a Deus e de generosa dedicação ao bem espiritual e material dos irmãos.

2. Saúdo com grande afecto os peregrinos de língua espanhola vindos a Roma. Nesta ocasião, de modo particular saúdo os Irmãos das Escolas Cristãs, acompanhados dos seus alunos e ex-alunos, os Padres passionistas, assim como os membros da grande Família Hospitaleira. Estes Santos, filhos predilectos da Igreja e testemunhas fiéis do Senhor Ressuscitado, oferecem-nos o testemunho duma rica espiritualidade, forjada na fidelidade quotidiana e no dom incondicional de si à sua vocação ao serviço do próximo.

3. Os Irmãos mártires das Escolas Cristãs canonizados ontem, seguidores do carisma de São João Baptista de La Salle, entregaram-se plenamente à educação integral das crianças e dos jovens. Eles pertencem à longa série de educadores cristãos que dedicaram a sua vida e as suas energias ao ensino na escola católica, comprometidos neste irrenunciável serviço que a Igreja presta à sociedade. Esta, nos nossos dias, apresenta-se individualista e com tentações de secularismo. Diante disto, os Santos Mártires de Turón, procedentes de diversos pontos da geografia espanhola e um deles da Argentina, são a prova eloquente de que a fidelidade a Cristo vale mais do que a própria vida.

Que o seu exemplo, juntamente com o do Padre Inocêncio da Imaculada, incentive os jovens a abraçarem o estilo de vida que nos é proposto pelo Evangelho, vivido com coragem e entusiasmo. Que a obra educativa destes Santos Mártires seja também modelo para os educadores cristãos no limiar do novo milénio que já está para iniciar!

A respeito da formação das jovens gerações, quereria recordar o dever primordial dos pais, como primeiros e principais responsáveis pela educação dos filhos, o que supõe lhes seja dada absoluta liberdade para escolher o centro educativo para os seus filhos. As autoridades públicas, por sua parte, devem proporcionar que, a partir do respeito ao pluralismo e à liberdade religiosa, seja oferecida às famílias as condições necessárias para que, em todas as escolas, tanto públicas como particulares, se ministre uma educação conforme aos próprios princípios morais e religiosos. E isto torna-se ainda mais necessário num país como a Espanha, onde a maioria dos pais pede a educação religiosa para os seus filhos.

4. São Bento Menni, membro ilustre da Ordem Hospitaleira de São João de Deus e Fundador das Religiosas Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, viveu a sua vocação como apóstolo no campo da saúde, sem poupar esforços e sofrimentos, com coragem e uma entrega sem limites ao cuidado dos doentes, de modo especial das crianças e dos deficientes mentais.

A obra que realizam os seus Coirmãos e as Religiosas do Instituto por ele fundado, tem plena actualidade no mundo de hoje, onde com frequência os débeis e os que sofrem são marginalizados. Que a grande Família Hospitaleira, em fidelidade ao carisma do novo Santo, imite o imenso amor que ele sentia pelos mais desfavorecidos, dedicando inteiramente a vida ao seu serviço.

São Bento Menni descobriu a sua vocação quando levava a cabo tarefas de voluntariado em Milão. Muitos dos peregrinos que vieram para a sua canonização são voluntários em diversos centros hospitalares e noutros centros assistenciais. Este serviço enriquece a vossa vida, faz crescer a capacidade de doação e de acolhimento do próximo, especialmente dos que sofrem. Exorto-vos a prosseguir neste trabalho, iluminados pelo exemplo do Padre Menni, imitando-o e seguindo-o no caminho da misericórdia que ele praticou.

5. Dirijo-me a vós, caros Religiosos da Ordem Franciscana dos Frades Menores, e a quantos juntamente convosco exultam pela canonização de São Tomás de Cori. "Venho ao Retiro para me tornar santo": com estas palavras o novo Santo apresentou-se no lugar solitário de Bellegra, onde durante longos anos realizou progressivamente este exigente programa de vida evangélica.

Bem compreendestes que toda a verdadeira reforma inicia a partir de si mesmo e, precisamente por isso, a sua humilde pessoa coloca-se entre os grandes reformadores da Ordem dos Frades Menores.

Da intensidade da sua íntima relação com Deus, sobretudo da profunda devoção à Eucaristia, florescia a fecundidade da sua acção pastoral, tão incisiva que lhe mereceu o apelativo de "apóstolo da região sublacense". Verdadeiro filho do Pobrezinho de Assis, também dele se poderia afirmar o que se dizia de São Francisco, isto é, que "não era tanto um homem que ora, mas antes ele mesmo inteiramente transformado em oração viva" (Tomás de Celano, Vita Seconda, 95: Fontes Franciscanas, 682).

6. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Juntamente com toda a Igreja, louvemos o Senhor pelas grandes obras que realizou através destes novos Santos.

Ao retornardes às vossas casas e às vossas ocupações quotidianas, levai convosco a alegre recordação desta peregrinação a Roma e continuai com coragem no empenho de testemunho cristão, para que possais preparar-vos para viver com intensidade e fervor o Ano Santo já próximo.

Com estes votos, confio todos vós à celeste protecção de Nossa Senhora e dos novos Santos, e de coração abençoo-vos, juntamente com as vossas famílias e comunidades.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS REITORES E AGENTES PASTORAIS


DOS SANTUÁRIOS ITALIANOS


Terça-feira, 23 de Novembro de 1999

: Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de vos dirigir a minha cordial saudação por ocasião da XXXV Assembleia dos Reitores e Agentes pastorais dos Santuários italianos, promovida pela União Nacional dos Santuários. É-me grato reservar um especial pensamento ao Arcebispo-Prelado de Loreto, D. Ângelo Comastri, que com grande solicitude segue e coordena as vossas actividades.

No âmbito do singular organismo espiritual e ao mesmo tempo histórico que é a Igreja, a densa rede de Santuários que constelam as nações e os continentes ocupa um papel bastante relevante. Eu mesmo, nas minhas viagens apostólicas, muitas vezes tive a alegria de ir em peregrinação a estes lugares sagrados, onde se sente mais intensa a presença de Deus.

Pude visitá-los sobretudo na Itália, por causa do meu ministério, e constatei que eles constituem um eloquente testemunho da história religiosa da Nação. Graças sejam dadas, portanto, a todos vós, que do melhor modo conservais, valorizais e promoveis este património espiritual.

2. Com esta mensagem desejo, antes de tudo, no sulco dos meus Predecessores, evocar o grande valor que os Santuários revestem para o Povo de Deus. Se por um lado oferecem aos fiéis e aos peregrinos momentos preciosos de aprofundamento, investigação e indispensável renovação interior, para aqueles menos assíduos, em dificuldade ou em busca de algo, eles constituem uma providencial ocasião de encontro com Deus e um forte apelo às fontes da fé. Quantos a eles se dirigem devem, portanto, poder encontrar ali ambientes acolhedores e pessoas prontas a oferecer-lhes uma apropriada assistência espiritual e uma ordenada catequese, para que a mensagem transmitida pelo Santuário não se detenha no plano da importante sugestão emotiva, mas se torne para todos experiência de Deus, encontro fraterno e ocasião de crescimento na fé.

3. Com grande satisfação podemos constatar como nos últimos anos o fluxo dos peregrinos e turistas rumo aos lugares sagrados, pequenos e grandes, conheceu um incremento, favorecido pelas crescentes oportunidades oferecidas pelos meios de transporte e de comunicação. A evolução da sociedade e a influência de uma difundida mentalidade consumista parecem não ter detido este fenómeno, mas ao contrário em certos aspectos, acentuou-o. Com efeito, cada vez mais as pessoas têm necessidade de silêncio, de repouso, de separação do frenesi quotidiano e do mundo dos interesses materiais, buscam a paz, a harmonia consigo mesmas, com a natureza e, de maneira mais profunda, com Deus, último fundamento da existência. O risco, conatural a este tipo de tendências, sobre o qual incidem factores culturais e sociais, é às vezes o da superficialidade. Entretanto, ele nada tira à positividade pelo menos potencial do fenómeno, que se apresenta como um aspecto do grande desafio da evangelização na sociedade contemporânea.

4. No hodierno contexto sócio-religioso, a função dos Santuários é cada vez mais a de serem lugares do essencial, aonde se vai para haurir a graça, antes ainda que "as graças". Quanto mais se difunde a cultura secularista, tanto mais estes ambientes adquirem um intrínseco valor evangelizador, no sentido originário de forte apelo à conversão (cf. Carta para o VII Centenário de Loreto, 15.8.93; L'Osservatore Romano, ed. port. 26/9/1993, pág. 2).

Longe da confusão das ocupações, o homem encontra antes de tudo a possibilidade de pensar, reflectir, deixar emergir dentro de si aqueles interrogativos que, se o podem inquietar, se revelam porém salutares para a sua alma. Neste terreno favorável o Santuário é chamado a fazer cair a boa semente da Palavra de Deus, da qual só podem germinar o conhecimento da verdade e a renovação da vida. Numa palavra, tudo no Santuário deve tender a fazer com que a recíproca procura de Deus e do homem se possa tornar encontro.

5. Solicitados por esse contexto espiritual e social, os caríssimos responsáveis e animadores dos Santuários da Itália têm em vista multiplicar o empenho apostólico, sustentando-o oportunamente com o intercâmbio das experiências e a coordenação dos objectivos e das iniciativas pastorais. Em si isto é válido e frutuoso, não só sob o aspecto organizativo, mas sobretudo porque favorece o estilo de comunhão, sinal característico da Igreja, ícone da Trindade.

Desse modo, caríssimos Irmãos e Irmãs, sustentais-vos mutuamente, a fim de que os Santuários sejam capazes de qualificar o anúncio da Palavra, assim como as celebrações litúrgicas, os retiros espirituais, os encontros de aprofundamento sobre temas religiosos e de aprofundamento da fé. Alegro-me pela particular atenção que dedicais ao serviço do sacramento da Reconciliação, também promovendo a preparação dos Ministros: mais do que nunca isto é oportuno, de modo especial por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000. Possam os peregrinos, neste "ano da graça do Senhor", haurir abundantemente nos Santuários a força regeneradora da misericórdia divina.

Acompanho estes votos com a oração, confiando-os à especial assistência da Bem-aventurada Virgem Maria, Santuário da Nova Aliança, enquanto que, a vós que participais na Assembleia e a quantos são responsáveis pelos Santuários e aos seus colaboradores, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 23 de Novembro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PATRIARCA ECUMÉNICO DE CONSTANTINOPLA


PELA FESTIVIDADE DE SANTO ANDRÉ




A Sua Santidade Bartolomeu I
Arcebispo de Constantinopla Patriarca Ecuménico

"A graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco" (Ep 1,2).

A festividade de Santo André, celebrada pelo Patriarcado Ecuménico, e a solenidade dos Santos Pedro e Paulo em Roma unem-nos num fraterno encontro de diálogo e de oração. A caridade recíproca, os intercâmbios regulares, o louvor comum ao Senhor são outros tantos modos de contribuir para a plena unidade entre as nossas Igrejas e de testemunhar a comunhão no único Senhor, que é Cristo.

A nossa participação recíproca nas celebrações dos Santos Apóstolos, Padroeiros das nossas Igrejas, é de igual forma um manancial de júbilo, que nós sentimos quando nos esforçamos em cumprir a vontade do Senhor.

A Delegação que neste ano envio a Vossa Santidade e à Igreja-Irmã de Constantinopla é mais uma vez guiada pelo Senhor Cardeal Edward Idris Cassidy, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, acompanhado por D. Walter Kasper, Bispo Emérito de Rotemburgo-Estugarda e novo Secretário do Pontifício Conselho. Confiei-lhes o cuidado de transmitir calorosos votos que formulo a Vossa Santidade, venerado Irmão, ao Santo Sínodo que o circunda, ao clero e aos fiéis do Patriarcado Ecuménico. A paz do Senhor esteja convosco!

Neste final de século e agora que o novo milénio cristão já se entrevê no horizonte, a nossa vontade de progredir ao longo do caminho do diálogo e das relações fraternas para chegarmos à plena comunhão torna-se uma exigência mais urgente, um desejo mais ardente de curar as nossas "dolorosas lacerações que contradizem abertamente a vontade de Cristo e são escândalo para o mundo" (Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, TMA 34). Todavia, este desejo está velado de tristeza, quando pensamos naquilo que deveríamos fazer para que resplandecesse ainda mais o rosto de Cristo e brilhasse com uma luz ainda mais esplêndida aos olhos do mundo o rosto da sua Igreja que, pelo dom do Espírito, receberá a graça da plena unidade entre nós.

Persuadido de que "entre os pecados que requerem maior empenho de penitência e conversão, devem certamente ser incluídos os que prejudicam a unidade querida por Deus para o seu Povo", na minha Carta recordei as numerosas iniciativas ecuménicas empreendidas com generosidade e determinação, sublinhando o enorme esforço que ainda é necessário para a continuação de um diálogo doutrinal e de um compromisso mais generoso na oração ecuménica (cf. ibid.). Enquanto confio aos Santos Apóstolos André, Pedro e Paulo estas intenções, que permanecem uma das finalidades jubilares decisivas para o porvir da Igreja, quereria uma vez mais transmitir a certeza de que a Igreja católica está disposta a fazer tudo o que lhe é possível para remover os obstáculos, fortalecer o diálogo e colaborar com todas as iniciativas que visam o nosso progresso rumo à plena comunhão na fé e no testemunho.

Animado por estes sentimentos e tendo em vista a importância dos intercâmbios directos e da participação das nossas Igrejas nos importantes eventos da sua vida, agradeço a Vossa Santidade ter enviado os Delegados Fraternos à recente Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa, na pessoa do Metropolita da França, nosso venerável Irmão Jeremias, bem como à Assembleia inter-religiosa, na pessoa do Metropolita da Suíça, nosso venerável Irmão Damaskinos.

A presença deles encheu-nos de alegria e constituiu um exemplo da partilha para a qual tendem os discípulos de Cristo. Sinto esta mesma alegria na perspectiva de ter ao meu lado os representantes de Vossa Santidade no dia 18 do próximo mês de Janeiro, por ocasião da abertura da Porta Santa na Basílica de São Paulo fora dos Muros, para o solene início das celebrações que hão-de exaltar Aquele que é "a luz verdadeira... que ilumina todo o homem" (Jn 1,9). Através do seu representante na Comissão ecuménica do Jubileu do Ano 2000, Vossa Santidade desejou manifestar o seu apoio e desta forma ressaltar a sua comunhão de intenções em vista destas celebrações jubilares. Quero agradecer-lhe também esta presença e colaboração.

Enquanto me alegro do íntimo do coração porque, duma certa maneira unidos, nas vésperas do novo milénio nos é concedido anunciar às novas gerações que Jesus Cristo é o Salvador do mundo, partilho com Vossa Santidade o ósculo da paz e asseguro-lhe o meu afecto fraterno.

Vaticano, 24 de Novembro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS REPRESENTANTES DA COMPANHIA


CINEMATOGRÁFICA "LUX VIDE"


Quinta-feira, 25 de Novembro de 1999



Ilustres Senhores
Excelentíssimas Senhoras

1. Sinto-me feliz por este encontro, que me consente saudar em vós os representantes da Lux Vide e dos co-produtores do filme intitulado "Jesus", que será transmitido nas próximas semanas nos canais televisivos de numerosos países.

Saúdo o Dr. Ettore Bernabei, Presidente da Lux Vide, e agradeço-lhe o discurso que me dirigiu também em vosso nome. Torno a minha saudação extensiva a cada um dos presentes, felicitando-vos pelo compromisso de evangelização que caracteriza a vossa actividade. Através das vossas pessoas, quereria fazer chegar o meu grato pensamento àqueles que, de várias formas, colaboraram e ainda cooperam na realização de filmes televisivos sobre temas religiosos e, de modo especial, bíblicos.

Formulo os mais sentidos votos por que estes filmes contribuam para fazer conhecer melhor aos homens do nosso tempo a mensagem revelada, oferecendo uma resposta satisfatória aos interrogativos e às dúvidas que estes semeiam no coração.

2. Além disso, espero que estas vossas produções cinematográficas sejam uma ajuda válida para o diálogo indispensável que neste nosso tempo se está a desenvolver entre a cultura e a fé. De maneira especial no âmbito do cinema e da televisão, onde se encontram a história, a arte e as linguagens comunicativas, a vossa obra de profissionais e crentes revela-se particularmente útil e necessária.

A cultura é já comunicação: dos homens entre si e dos homens com o ambiente em que vivem. Iluminada pela fé, ela é capaz de reflectir o diálogo mesmo da pessoa com Deus em Cristo. Por conseguinte, fé e cultura são chamadas a encontrar-se e a interagir precisamente no terreno da comunicação. De forma especial no nosso tempo, caracterizado pelo desenvolvimento dos mass media, a cultura é condicionada e, sob muitos aspectos, plasmada por estas novas potencialidades comunicativas. É imperioso ter isto em consideração.

Faço votos cordiais por que o vosso trabalho possa ser um veículo de evangelização e ajudar os homens do nosso tempo a encontrar-se com Cristo, verdadeiro Deus e homem perfeito. Com estes bons votos confio cada um dos vossos projectos editoriais a Maria, Estrela da Evangelização, e de coração abençoo todos vós.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO INSTITUTO ECUMÉNICO DE BOSSEY


Quinta-feira, 25 de Novembro de 1999



Queridos Amigos

É com imensa alegria que vos dou as boas-vindas, estudantes e membros do Instituto Ecuménico de Bossey, ao concluirdes a peregrinação a Roma. A vossa visita realiza-se no limiar do grande Jubileu, quando os cristãos do mundo inteiro celebrarão o Nascimento de Cristo em Belém há dois mil anos. O Ano jubilar constitui uma oportunidade para todos os cristãos darem graças ao Pai por ter concedido em Cristo a salvação da humanidade, mediante o poder do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, o Jubileu convida a Igreja peregrina na terra a elevar o olhar em jubilosa expectativa da plenitude da salvação que há-de vir no fim dos tempos.

Nos últimos três meses, reflectistes sobre o importante tema "Os cristãos num mundo religiosamente pluralista". Este argumento tem profundas implicações para a missão universal da Igreja na aurora do novo milénio. Num contexto religioso cada vez mais pluralista, os cristãos são chamados a dar um testemunho comum da própria fé em Jesus Cristo Salvador do universo, a estimar os valores espirituais e morais presentes nas outras religiões e a dialogar com os sequazes dessas confissões em vista da construção de um mundo de paz, liberdade e respeito pela dignidade humana.

Dilectos amigos, oxalá esta experiência de estudo e discernimento ecuménicos vos inspire a dedicar esforços cada vez maiores em benefício da unidade cristã. Sobre vós e as vossas famílias, invoco cordialmente a alegria e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DA ITÁLIA


Sábado, 26 de Novembro de 1999



Senhor Governador
Minhas Senhoras e meus Senhores!

1. É com alegria que hoje vos recebo, Funcionários das diversas Filiais do Banco da Itália espalhadas no território nacional, que viestes a Roma com os vossos familiares. O encontro de hoje coincide com uma data significativa: celebrais trinta anos efectivos do vosso serviço no Banco da Itália, onde trabalham pessoas altamente qualificadas, cuja actividade é muito importante para a vida económica italiana. Saúdo cordialmente o Senhor Governador António Fazio e agradeço-lhe as gentis palavras que se dignou dirigir-me. Dou as minhas afectuosas boas-vindas a vós, Senhores Membros do Directório, do Conselho Superior e do Colégio Sindical do Banco da Itália. Saúdo de igual modo os Senhores Funcionários Gerais, o Representante do Ministério do Tesouro que assiste às reuniões do Conselho Superior, e também o Comandante do Núcleo dos Carabineiros encarregados da segurança do Instituto. Por fim, saúdo os vossos respectivos familiares, que vos acompanharam nesta feliz ocasião.

A vossa agradável visita desperta em mim a recordação do caloroso acolhimento que dedicastes às palavras que vos dirigi no dia 27 de Janeiro de 1994, por ocasião do primeiro centenário de fundação do vosso prestigioso Instituto bancário. O encontro desta manhã dá-me a oportunidade de vos manifestar mais uma vez a estima que nutro pela Instituição na qual trabalhais e que representais.

2. Desde há alguns anos o vosso Banco sentiu a necessidade de criar, no seu interior, uma interessante oportunidade de reflexão fraterna e de amistoso encontro que se realiza precisamente no "Congresso do trigésimo ano do trabalho". Esta ocasião, que tem como objectivo valorizar cada "festejado" na sua específica vivência humana e profissional, constitui ao mesmo tempo uma forte chamada aos ideais da ética, da dignidade e da solidariedade que levam a considerar o trabalho não só como uma fonte de sustento, mas também como meio capaz de nobilitar a pessoa. Oxalá esta iniciativa contribua para fazer crescer em vós esta consciência, para que o vosso empenho quotidiano se torne um generoso e significativo contributo para a construção de uma economia fundada sobre uma correcta hierarquia dos valores, sendo sempre o primeiro deles a dignidade da pessoa.

O novo papel que hoje a Nação italiana e a Europa confiam ao Banco da Itália, em termos de uma qualificada participação no Sistema europeu dos Bancos Centrais, dá um relevo particular ao "Congresso do trigésimo ano do trabalho". As questões económicas e financeiras dependem em grande parte das escolhas feitas no âmbito dos Bancos Centrais e, definitivamente, da qualidade das pessoas que neles trabalham, da sua disponibilidade, habilidade e competência de enfrentar os problemas; resumindo: da sua "responsabilidade".

3. A Igreja está próxima dos que, como vós, desejam inspirar o próprio empenho naqueles valores cristãos que constituem um componente irrenunciável do património da Itália e da Europa. Nesta perspectiva, ela faz votos por que cada um dos Estados ou Comunidades particulares, saibam encontrar sempre modos eficazes para regular as relações entre si, adequando-as ao bem comum, ou seja, tendo em conta as razões quer das Comunidades locais autónomas ou integradas quer os interesses morais, além dos económicos, de toda a colectividade humana.

Neste contexto não posso esquecer, de modo particular, os complexos problemas relacionados com a regulamentação da dívida dos Países economicamente menos progredidos em relação aos que alcançaram um progresso económico mais avançado. Da autorizada voz dos Bancos Centrais podem surgir indicações apropriadas para detectar e prosseguir soluções equitativas que dêem esperança às populações que precisam da solidariedade, por vezes necessária para a própria sobrevivência.

4. Minhas Senhoras e meus Senhores! Peço que aceiteis estas reflexões como sinal da estima que sinto por vós e pela vossa importante função. O Senhor, ao qual vos recordo juntamente com os vossos familiares, ilumine as vossas mentes e robusteça os vossos desejos a fim de que, também graças ao vosso contributo, todos possam olhar para o futuro com mais profunda confiança, certos de que Deus apoia quantos trabalham em benefício dos irmãos.

Para esta finalidade, invoco sobre vós a abundância dos favores celestes, e abençoo-vos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AOS PEREGRINOS


PROVENIENTES DA REGIÃO DO FRIUL (ITÁLIA)


Sábado, 27 de Novembro de 1999

Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhores e Senhoras
Caríssimos friulanos!

1. É para mim uma alegria dar as boas-vindas a todos vós, vindos a Roma para vos predispordes para a celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, já às portas, e para recordardes o quinquagésimo aniversário de fundação do "Fogolâr Furlan" desta Cidade.

Saúdo com afecto D. Alfredo Battisti, Arcebispo de Údine, e agradeço-lhe as calorosas palavras com que há pouco se fez intérprete dos comuns sentimentos. Com ele saúdo os Bispos e os Sacerdotes presentes, assim como as Autoridades e os representantes das várias Instituições civis, culturais e sociais, juntamente com os numerosos peregrinos provenientes da querida terra friulana. O Friul está bem representado neste nosso encontro!

Um particular pensamento dirige-se aos sócios do "Fogolâr Furlan" de Roma, a associação dos friulanos residentes na Capital, e aos representantes de Aprília, Latina e Agro Pontino, bem como aos da Úmbria e Sardenha.

Esta vossa peregrinação "ad Petri sedem", na vigília do Jubileu, assume um particular significado eclesial: ela indica que as Comunidades cristãs do Friul desejam preparar-se para a celebração dos dois mil anos do grande evento do nascimento do Redentor, com fé renovada, repercorrendo antes de tudo a estrada da memória.

2. As origens da Igreja-mãe de Aquileia remontam a São Marcos, intérprete e "filho" (cf. 1P 5,13) de São Pedro. Segundo a Passio de Santo Ermágoras, São Marcos, enviado por Pedro à grande e próspera metrópole adriática de Aquileia, foi o primeiro que fez ressoar na terra friulana a Palavra do Evangelho, e trouxe a Roma um ilustre representante daquela comunidade, Ermágoras, que o Príncipe dos Apóstolos consagrou como primeiro Bispo de Aquileia.

Portanto, esta vossa visita aos "Túmulos dos Apóstolos" assume o valor de um retorno às fontes da fé cristã na terra friulana, para revigorar o espírito genuíno e missionário das vossas Comunidades a exemplo de Pedro, de Marcos e dos numerosos mártires e santos da terra friulana, que ao longo dos séculos marcaram a vossa história.

O fermento do Evangelho corroborou as tradicionais virtudes do vosso povo, que na fé cristã consolidou a própria identidade, elaborando uma peculiar civilização e cultura, da qual a língua friulana é a chave de leitura e, de certo modo, a alma.

O Friul emerge no coração da Europa como exemplo de convivência entre diversas populações étnico-linguísticas. Herdeiros do grande Patriarcado de Aquileia, que acolhia no seu seio muitos povos de diversas culturas, também os friulanos de hoje se sentem fortemente empenhados em promover uma convivência baseada no respeito de cada uma das identidades culturais. Isto deve continuar a ser o traço característico das atitudes e comportamentos das vossas Comunidades cristãs. É-me grato recordar aqui os encontros promovidos entre os povos friulano, carintiano e esloveno, assim como o generoso acolhimento dos numerosos prófugos durante os trágicos acontecimentos dos Balcãs e a solidariedade manifestada para com as populações sofredoras.

3. É espontâneo, num momento como este, dirigir um olhar para a realidade da vossa Região que, sobretudo a partir do desastroso terremoto de 1976, registou um desenvolvimento rápido, chegando a uma condição de grande bem-estar. Porém, isto comportou também consequências nem sempre positivas como, por exemplo, uma espécie de desertificação da montanha, em particular da Carnia e dos Vales do Natisone, e uma contracção demográfica relevante, com consequente envelhecimento da população no seu conjunto. Não menos importantes os efeitos socioculturais, que estão a prejudicar a ética comunitária: os estudiosos de sociologia religiosa fazem notar uma certa perda de identidade por parte da população, com o enfraquecimento do sentido da tradição. Muitas pessoas parecem desorientadas, submetidas a formas de relativismo moral, acompanhado de impulsos individualistas e consumistas. Até mesmo a instituição familiar, que no Friul gozava de uma proverbial consideração, está hoje submetida a um fenómeno sísmico de elevado poder, cujos sinais mais evidentes são a instabilidade das uniões e a diminuição da natalidade.

4. Felizmente, na maioria da população permanece um profundo sentido religioso: ele está arraigado na cultura friulana a ponto de qualificar a sua identidade. Também o sentido religioso, entretanto, se ressente - e como poderia ser doutra forma? - das dificuldades agora recordadas. É preciso transformar estes perigos num novo desafio para as vossas Comunidades. O Friul pode e deve planificar o seu futuro em continuidade ideal com os grandes valores eclesiais, culturais e familiares da própria tradição cristã.

Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, no vosso empenho pastoral tende como ponto de referência prioritário a família e os jovens, e não deixeis de fazer quanto for possível para promover uma melhor consciência do autêntico desempenho do papel dos leigos. Nesse sentido, poderão ser de grande ajuda as missões do povo com o povo: com efeito, elas estimulam as próprias comunidades e os próprios leigos crentes a tornarem-se missionários nas suas cidades e zonas, aprofundando a consciência da própria vocação cristã e testemunhando a fé no contexto quotidiano.

5. Caríssimos, a história da Igreja no Friul ensina a valorizar o "sinal de Jonas" (cf. Mt Mt 16,4), indicado por Cristo como símbolo da sua Ressurreição e da vida nova do cristão renascido no Baptismo. O livro de Jonas foi comentado de modo particular por Cromácio de Aquileia, um dos maiores Padres da Igreja ocidental do século IV. Jonas é também o ponto de convergência do magnífico pavimento em mosaico da Basílica meridional de Aquileia.

Mas Jonas pode também ser símbolo do homem e do cristão, que às vezes se sente imerso "nos abismos marinhos e no ventre do enorme peixe" (Cromácio, Tratactus in Matthaeum, 27), e símbolo também do afã evangélico da Igreja apostólica e das Igrejas actuais do Friul, herdeiras do grande Patriarcado de Aquileia. Jonas, portanto, não é apenas prefiguração do Ressuscitado, mas é também sinal do desafio que a fé comporta para todo o crente e da missão evangelizadora das nossas Igrejas.

6. No final deste nosso encontro desejo renovar-vos os votos que transmiti a todos os friulanos no termo da minha intensa Visita pastoral, realizada na vossa amada Região em Maio de 1992: "Irmãos friulanos, convido-vos a manter vivos as vossas tradições, a vossa fé e os vossos valores do lar, e a fazer crescer o cuidado pelos vossos filhos" (L'Osservatore Romano, ed. port. 17/5/1992, pág. 12).

Ao abençoar-vos com afecto, assim como a todos os membros dos "Fogolârs" e o inteiro povo do Friul, confio todos à materna protecção de Nossa Senhora de Castelmonte, tão venerada na vossa terra, e saúdo-vos com a expressão típica da língua friulana "Mandi!" (Vida longa!), que dirijo a vós aqui presentes e à inteira população da vossa "Pequena Pátria": "Mandi Friul"!




Discursos João Paulo II 1999 - Sábado, 20 de Novembro de 1999