Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO PAQUISTÃO JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999



Senhor Embaixador

É-me grato acolhê-lo hoje no Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Islâmica do Paquistão junto da Santa Sé. Desejo expressar o meu agradecimento pela mensagem de saudação que me comunicou da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Muhammad Rafiq Tarar, bem como do Governo e do Povo do Paquistão. Peço que lhes transmita os meus melhores votos, assim como a certeza das minhas orações pela prosperidade, harmonia e bem-estar da sua nação.

Senhor Embaixador, agradeço-lhe as amáveis palavras de estima pelos esforços despendidos pela Santa Sé no seio da comunidade internacional, em vista de promover a paz e o desenvolvimento humano no mundo inteiro. A Santa Sé considera este trabalho como uma parte do seu serviço à família humana, motivado por uma perene solicitude pelo bem-estar de todos os povos. A cooperação entre as pessoas, nações e governos constitui uma condição essencial para garantir um futuro melhor para todos, edificar sólidos fundamentos de paz e promover o progresso através do uso responsável dos recursos do mundo. A comunidade internacional enfrenta desafios formidáveis nos seus esforços neste campo, entre os quais estão os sérios problemas mencionados por Vossa Excelência: a situação da pobreza e da privação económica, as rivalidades étnicas e religiosas, bem como a negação do direito que os povos têm de decidir o próprio destino.

Na raiz de muitas destas dificuldades encontra-se uma rejeição do reconhecimento da dignidade inerente e inalienável da pessoa humana. Na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, afirmei que a dignidade da pessoa humana constitui um "valor transcendente, como tal sempre reconhecido por todos aqueles que se entregaram sinceramente à busca da verdade" (n. 2). O não-reconhecimento desta dignidade dá origem a várias e não raro trágicas formas de discriminação, exploração, agitação social e conflito nacional e internacional, que infelizmente nos são tão familiares nos últimos tempos. Só quando a dignidade da pessoa é promovida e garantida pode existir uma base sólida para a paz e o desenvolvimento genuíno que abarca todas as pessoas.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, cujo 50° aniversário celebrámos no ano passado, nasceu como resultado da triste experiência e dos terríveis sofrimentos da segunda guerra mundial. Ela foi motivada por um vigoroso desejo de assegurar que cada pessoa humana seja reconhecida somo sujeito dos mesmos direitos universais e indivisíveis. O espírito dessa Declaração está condensado no seu preâmbulo, que afirma que "o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos equitativos e inalienáveis de todos os membros da família humana constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo". A construção de uma sociedade pacífica e do seu progresso genuíno depende da promoção de uma cultura que respeite e proteja os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana, dos quais os mais elementares são o direito à vida, à liberdade (inclusivamente a liberdade de pensamento, consciência e religião) e à plena participação na sociedade. Destes direitos básicos derivam os vários direitos civis, políticos, económicos, sociais e culturais que são essenciais para o bem-estar dos indivíduos e das sociedades.

O significado que as tradições religiosas e culturais têm na vida das pessoas é uma clarividente indicação de como é errado pensar que o desenvolvimento humano pode ser reduzido à mera economia. O desenvolvimento contém em si profundos aspectos humanos, sociais e políticos. O progresso genuíno não pode ser identificado com a acumulação de bens; pelo contrário, deve levar ao melhoramento genuíno e geral do homem, considerado na sua totalidade. Por conseguinte, ele possui necessariamente uma dimensão moral, composta de direitos e deveres. Como resultado, é errado atribuir à assistência financeira e tecnológica condições que agem contra as tradições e convicções éticas e religiosas de um determinado povo. Com efeito, quando os indivíduos e as comunidades vêem que a sua índole moral, cultural e espiritual não é rigorosamente respeitada, então tudo o resto a disposição dos bens, a abundância dos recursos técnicos aplicados à vida quotidiana e um certo nível de bem-estar material será insatisfatório e, em última análise, insignificante (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 33). Os programas de desenvolvimento, tanto dentro de cada país em particular como a nível internacional, devem ser projectados e levados a cabo no contexto da solidariedade e de uma liberdade respeitadora da verdade da pessoa humana.

A liberdade religiosa constitui o cerne mesmo dos direitos humanos (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 5). A violação deste direito é nascente de imenso sofrimento para os crentes, e por conseguinte é essencial que, quando um Estado concede uma condição especial a uma determinada religião, não seja em detrimento das outras. Num tempo em que várias partes do mundo sofrem devido aos conflitos em nome das crenças religiosas, são necessários esforços que garantam a supremacia do espírito da tolerância e do respeito recíprocos. O recurso à violência em nome da crença religiosa é uma perversão da própria doutrina das principais religiões. Pelo contrário, o diálogo deve ser promovido entre as religiões presentes num território, de forma a fazer com que todos testemunhem que as crenças religiosas autênticas inspiram a paz, encorajam a solidariedade, promovem a justiça e tutelam a liberdade (cf. Discurso por ocasião do encerramento da celebração da Assembleia inter-religiosa, 28 de Outubro de 1999, n. 3). No momento em que o mundo se encaminha rumo a um novo milénio, deve haver uma renovada consciência da fraternidade universal de todos os povos na única família humana e uma grande cooperação entre os seguidores das religiões mundiais no campo da promoção dos valores espirituais, dos quais a humanidade contemporânea tem mais necessidade do que nunca.

A comunidade católica no Paquistão é exígua em comparação com o total da sua população, mas os seus membros são orgulhosos de se considerarem cidadãos paquistaneses. Eles permanecem empenhados em desempenhar uma parte íntegra no progresso político, social e cultural do próprio país, não em menor medida através das actividades educativas, médicas e de assistência aos necessitados. Ao cumprir a sua tarefa, a Igreja não tem em vista privilégios especiais, mas somente deseja exercer os seus direitos livremente e certificar-se de que estes direitos são respeitados. Desta forma, a Igreja poderá dar continuidade à sua missão espiritual e humanitária, contribuindo para a edificação de uma sociedade de justiça, confiança e cooperação recíproca.

Senhor Embaixador, actualmente o seu país está a enfrentar várias dificuldades e desafios. Rezo para que Deus Omnipotente guie os líderes do Paquistão na definição de um percurso que conduza de forma efectiva ao bem-estar da nação e ao bem da sociedade, lançando as bases para uma paz duradoura em toda essa região. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão, transmito-lhe cordiais bons votos e asseguro-lhe a pronta colaboração dos departamentos da Cúria Romana. Sobre o Senhor Embaixador e o povo do Paquistão, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DE SINGAPURA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999



Senhor Embaixador

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Singapura junto da Santa Sé. Peço-lhe que transmita as minhas cordiais saudações ao Presidente, Sua Excelência o Senhor S. R. Nathan e ao Governo, assegurando-os das minhas preces pela paz e bem-estar do povo de Singapura.

Enquanto se prepara para entrar num novo milénio, a comunidade internacional enfrenta muitos desafios. Vossa Excelência mencionou a necessidade de um profundo compromisso em prol da paz, de forma particular perante os conflitos que nascem devido às diferenças de raça ou religião.

A este respeito, o seu país tem um significativo papel a desempenhar na sua região, considerando a sua longa experiência da harmoniosa coexistência de uma variedade de culturas e de tradições religiosas, uma característica que me impressionou profundamente durante a minha breve visita ao seu país, em 1986.

As boas relações entre os crentes das várias religiões no seu país certificam a verdade segundo a qual o respeito e a estima recíprocos constituem uma condição essencial para a promoção e a consolidação da harmonia social. Durante a minha visita a Singapura, dei voz a esta convicção no Estádio Nacional: "A verdadeira paz começa na mente e no coração, na vontade e na alma da pessoa humana, porque ela provém do amor genuíno pelos outros. É sem dúvida verdade dizer que a paz é o resultado do amor, quando os homens conscientemente decidem melhorar as suas relações com os outros, fazer todo o esforço para superar as divisões e as incompreensões e, se possível, até mesmo tornar-se amigos" (Homilia proferida a 20 de Novembro de 1986, ed. port. de L'Osservatore Romano de 23 de Novembro de 1986, n. 8, pág. 9). Como seriam diferentes os relacionamentos entre as nações e os grupos na sociedade, se cada um se empenhasse pessoalmente desta forma em benefício da paz!

Uma apreciada característica das relações internacionais nos últimos tempos é a crescente solicitude em assegurar o desenvolvimento das sociedades mais pobres através da assistência financeira e técnica, bem como de outros programas destinados a promover um espírito de iniciativa económica a nível local. A este propósito, a Santa Sé tem procurado muitas vezes chamar a atenção para o ónus da dívida externa, que compromete a economia de inteiros povos e impede o seu progresso social e político. Enquanto as instituições financeiras internacionais têm feito sérias tentativas de garantir uma redução coordenada da dívida, a contínua cooperação entre as nações mais ricas e mais pobres é necessária para que as sociedades mais frágeis possam desenvolver o seu pleno potencial.

A desenvolvida economia do seu país coloca-o em condições de servir de grande ajuda aos outros países do Sudeste asiático, mediante várias formas de cooperação e assistência. Este auxílio constitui uma expressão concreta do crescente sentido de interdependência entre as nações, e da necessidade de promover uma maior solidariedade a nível internacional. Formulo votos por que as iniciativas conjuntas entre Singapura e a Santa Sé continuem a crescer e a expandir-se, e peço-lhe que transmita o meu agradecimento ao seu governo por aquilo que ele já ajudou a realizar através desta cooperação. O compromisso de Singapura nestes programas é um investimento a longo prazo em benefício do progresso das sociedades e culturas do Sudeste da Ásia, e está assente na consciência de que o autêntico desenvolvimento não é simplesmente económico mas deve estar fundado no reconhecimento da dignidade e dos direitos inalienáveis da pessoa humana. O respeito pela dimensão moral essencial e pelos imperativos éticos do desenvolvimento é a chave para o genuíno progresso humano, constituindo o único fundamento viável para um mundo verdadeiramente digno da família humana.

A Igreja prodigaliza-se em prol do desenvolvimento dos povos não porque possui particulares soluções técnicas a oferecer, mas porque tem a responsabilidade de propagar a sua missão religiosa nos vários campos em que os homens e as mulheres procuram alcançar a felicidade sempre relativa que é possível neste mundo, em sintonia com a sua dignidade como pessoas (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 41). Embora a comunidade católica em Singapura seja exígua em número, os seus membros desempenham a própria parte em cooperação com os compatriotas na promoção do bem da sociedade. A este respeito, agradeço-lhe as amáveis palavras de estima pelo trabalho de educação e de formação promovido pela Igreja no seu país. A educação católica possui uma longa tradição de sabedoria pedagógica, de solicitude pelas necessidades das crianças e dos jovens, e de capacidade de antecipar as novas necessidades e problemas que surgem com a mudança dos tempos. Esta tradição faz com que as escolas católicas sejam capazes de oferecer uma contribuição efectiva ao desenvolvimento pessoal dos jovens e ao progresso da nação. Além de oferecer conhecimentos e capacidades técnicas, os educadores católicos estão também empenhados em proporcionar aos seus estudantes um sentido da própria dignidade como pessoas humanas e uma compreensão da sua vocação transcendente. A educação autêntica deve ter sempre em conta a natureza transcendental e o fim derradeiro da pessoa humana, servindo o bem da comunidade social à qual a pessoa pertence; ela deveria constituir uma formação no exercício dos direitos e deveres que o jovem compartilhará quando for adulto.

Senhor Embaixador, formulo-lhe os meus bons votos no início da sua missão e estou persuadido de que mediantes os seus esforços os vínculos de amizade entre Singapura e a Santa Sé serão ulteriormente revigorados. Sobre Vossa Excelência e o querido povo de Singapura, invoco cordiais e abundantes bênçãos do Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DE RUANDA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999



Senhor Embaixador

1. A apresentação das Cartas que acreditam Vossa Excelência como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Ruanda junto da Santa Sé oferece-me a ocasião de o receber no Vaticano e de lhe dar as boas-vindas.

Sensibilizaram-me as saudações que o Senhor Embaixador me dirigiu em nome do Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Pasteur Bizimungu. Peço que se digne transmitir os meus deferentes votos pela sua pessoa e pelo cumprimento do elevado cargo ao serviço de todos os seus compatriotas. Desejaria aproveitar também este ensejo para saudar cordialmente o povo ruandês. Faço votos por que, depois das provações que ele sofreu, para cada pessoa e família chegue o tempo da reconciliação e dum renovado empenho em favor da edificação duma sociedade próspera, cada vez mais digna do homem e da sua vocação espiritual.

2. No seu discurso Vossa Excelência comunicou-me a vontade de os responsáveis do seu país fazer o possível por que os ruandeses possam viver juntos na paz, na justiça e no respeito dos direitos do homem. De facto, a busca duma coexistência cada vez mais harmoniosa entre todos os componentes da nação deve ser uma prioridade, após a tragédia que atingiu tão profundamente o povo ruandês. Eis por que é dever de todos, e antes de mais de quantos têm responsabilidades na vida da nação, criar desde já as condições que hão-de tornar possível a genuína reconciliação.

3. A qualidade das relações entre a Igreja católica e o Estado ruandês é sem dúvida um dos elementos que podem permitir à sociedade progredir pelos caminhos duma nova esperança para o futuro. Respeitando a missão específica de cada um, faço votos por que, num clima de serenidade e de verdade, se desenvolva uma cooperação confiante entre a comunidade católica e os responsáveis do país, a fim de contribuir para o restabelecimento duma autêntica convivência e de relações sociais pacíficas entre todos os filhos da nação. Por outro lado, é preciso recordar que "onde se semeiam mentira e falsidade, lá florescem suspeita e divisão" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997, n. 5).

Como muitas vezes tive a ocasião de recordar, a justiça é um pressuposto indispensável para o perdão e a reconciliação. Trata-se de um direito fundamental, a fim de que se respeitem todas as pessoas na sua dignidade e se tratem as comunidades com justiça. Nesta perspectiva, encorajo profundamente qualquer esforço que o seu país empreender, em vista de garantir a todos os prisioneiros condições de vida cada vez mais digna e a possibilidade de serem julgados em total equidade, segundo os princípios do direito, em conformidade com as leis morais fundamentais. Faço votos também por que a medida e o tipo das penas infligidas aos culpados sejam avaliadas e estabelecidas cuidadosamente, e jamais se chegue a tomar a decisão extrema de suprimir a vida das pessoas.

4. Para a Igreja católica, o Grande Jubileu que ela se prepara para celebrar é um "ano de graça", e em particular de reconciliação entre os adversários. Ela sente-se de igual modo chamada a promover com vigor quanto pode contribuir para a unidade e a fraternidade entre as pessoas e as comunidades. Deseja olhar para o futuro com a força da esperança que lhe oferece "motivações sólidas e profundas para o empenho quotidiano na transformação da realidade, a fim de a tornar conforme ao projecto de Deus" (Tertio millennio adveniente, TMA 46). Juntamente com todos os homens de boa vontade, deseja contribuir para a criação duma nova cultura de solidariedade e cooperação, para que sejam abolidas todas as formas de violência que dão origem ao domínio de uns sobre outros.

5. Senhor Embaixador, permita-me por seu intermédio dirigir aos Bispos e a toda a comunidade católica de Ruanda os meus votos mais calorosos. No momento delicado que a Igreja ainda vive, encorajo todos os seus membros a permanecerem firmes na fé, a deporem a sua esperança em Cristo, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida", unidos aos seus pastores, a fim de darem um fervoroso testemunho do amor de Deus aos seus irmãos e irmãs. Convido-os também, numa colaboração sincera com todos os compatriotas, a procurarem com fervor renovado os caminhos do perdão e da fraternidade.

6. No momento em que Vossa Excelência inicia a missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus melhores votos para a sua feliz realização. Da parte dos meus colaboradores sempre contará com o apoio atento e compreensivo de que poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, o povo ruandês e os seus governantes, invoco do íntimo do coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO BURUNDI


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999



Senhor Embaixador!

1. É-me grato acolher Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Burundi junto da Santa Sé.

Muito me sensibilizaram as amáveis palavras que Vossa Excelência me dirigiu e estou-lhe profundamente grato. Agradecer-lhe-ei a gentileza de transmitir a Sua Excelência o Senhor Pierre Buyoya, Presidente da República do Burundi, assim como ao povo burundinês, do qual conheço os sofrimentos e também a coragem que manifesta na aflição, os ardentes votos que formulo para que o país finalmente encontre a paz e que todos os seus habitantes possam viver na segurança e na fraternidade.

2. A paz é de facto uma aspiração profunda do povo burundinês, assim como de todos os povos da região dos Grandes Lagos que, desde há muitos anos, conhecem uma situação de violência extrema e de frequentes violações dos seus direitos humanos mais fundamentais. Mais uma vez, desejo lançar um apelo premente a todos os responsáveis, a fim de que cesse toda a forma de violência contra as populações. Formulo votos por que, graças à nomeação de um novo Mediador na crise que vive o seu país, as diferentes partes em causa se encontrem ao redor da mesa das negociações, com o desejo sincero de pôr fim às hostilidades e chegar a uma solução definitiva que, no direito e na justiça, respeite a dignidade das pessoas e dos povos assim como o amor que têm pela própria terra.

Como Vossa Excelência sublinhou no seu discurso, para que o seu país encontre uma verdadeira estabilidade que lhe permita empenhar-se de maneira resoluta nas vias do desenvolvimento e da prosperidade, a solidariedade internacional deve também, por sua vez, manifestar-se com generosidade. Por outro lado, a conclusão de um acordo global sobre os problemas que afectam a região dos Grandes Lagos, no respeito dos direitos legítimos de cada nação, deverá de igual modo permitir encontrar uma paz duradoura e favorecer uma cooperação fraterna entre todos os países dessa parte do continente africano.

3. No caminho difícil que leva ao retorno da paz no Burundi, as diferentes comunidades religiosas presentes no seu país podem oferecer uma contribuição importante; é preciso então desejar que lhes seja dada confiança e tenham a possibilidade de exprimir o seu ponto de vista nas discussões em curso, em vista de se encontrar uma solução à crise. Quanto à Igreja católica, cujo relevante papel no serviço à pessoa humana e à inteira sociedade foi ressaltado por Vossa Excelência, ela está disposta a empenhar-se de modo sempre mais activo na busca da concórdia e de uma verdadeira reconciliação entre todos os filhos do país, assim como no prosseguimento da sua acção social.

4. Na situação actual, em que tantos homens, mulheres e crianças ainda são vítimas da violência cega, é urgente que os direitos da pessoa e as convenções internacionais sejam respeitados por todos os beligerantes. As execuções sumárias e todos os actos de violência homicidas são atentados intoleráveis contra o respeito à vida, que desfiguram o homem e comprometem gravemente o futuro da sociedade. Com efeito, é preciso recordar que "a vida humana apresenta um carácter sagrado e inviolável, na qual se reflecte a própria inviolabilidade do Criador. Eis por que Deus Se fará juiz severo de qualquer violação do mandamento "não matarás", colocado na base de toda a convivência social" (Encíclica Evangelium vitae EV 53).

Por outro lado, a fim de criar um âmbito favorável ao retorno rápido das condições normais de vida para as famílias, é indispensável que as pessoas que foram deslocadas dos seus ambientes de vida habituais possam retornar livremente às suas colinas e casas com toda a segurança, e que os exilados retomem o caminho do seu país para participarem na edificação duma sociedade plenamente reconciliada e solidária.

5. Por seu intermédio, Senhor Embaixador, quero saudar com muito afecto a comunidade católica no Burundi. Na lembrança do encontro que tive recentemente com os seus Bispos, por ocasião da visita "ad Limina", encorajo-a de novo na sua fidelidade a Cristo e à Igreja. Faço votos por que a celebração do grande Jubileu, que vai ter início dentro de alguns dias, seja para todos os fiéis a ocasião duma renovação espiritual vigorosa e Cristo seja a sua esperança inabalável neste tempo de provação vivido pelo seu país. Oxalá eles sejam, juntamente com os seus compatriotas, corajosos e generosos artífices de paz!

6. Senhor Embaixador, no momento em que começa oficialmente a sua missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus votos cordiais para a nova tarefa que lhe compete. Esteja certo de que Vossa Excelência encontrará aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, os responsáveis da nação e o inteiro povo burundinês invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO


DA NOVA ILUMINAÇÃO DA BASÍLICA VATICANA


Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999

Senhor Cardeal
Gentis Senhoras e Senhores!

1. A cada um de vós dou a minha saudação cordial. Estou muito feliz por vos acolher esta tarde, na qual temos a alegria de inaugurar a nova instalação de iluminação da Basílica de São Pedro.

Saúdo e agradeço de modo especial ao Cardeal Virgílio Noè, que se fez intérprete dos comuns sentimentos e quis ilustrar-me o conjunto dos trabalhos realizados e dos resultados obtidos. Saúdo o Presidente da ACEA, Dr. Fúlvio Vento, e o Administrador delegado, Dr. Paolo Cuccia, aos quais também exprimo gratidão pelas amáveis palavras que quiseram dirigir-me. Com eles saúdo os Representantes do Conselho de Administração, acompanhados de familiares e amigos.

2. Depois da importante intervenção de restauração que recentemente restituiu à fachada o seu esplendor original, conclui-se hoje mais uma iniciativa que valoriza esta Basílica, querida a todo o mundo católico. O encontro do Jubileu do Ano 2000, já às portas, impeliu os responsáveis pela Fábrica de São Pedro a pensarem numa significativa obra, que consentisse a peregrinos e visitantes apreciar, também nas horas nocturnas, a beleza do Templo.

A realização da nova iluminação da fachada, da grande cúpula, das pequenas cúpulas e da lanterna, foi conduzida pela empresa ACEA, com meios modernos e o emprego de aparelhagens idóneas a acentuar os elementos que, precisamente pela sua plasticidade, tornam único no mundo este edifício sagrado. Além disso, a óptima solução adoptada reduz a energia usada, na ordem de quarenta por cento, e ao mesmo tempo diminui substancialmente a poluição luminosa, estando os projectores postos atrás das arquitecturas.

Os fiéis que chegarem a Roma para prestar homenagem ao túmulo do Apóstolo Pedro e cruzar a Porta Santa para obterem a indulgência do Jubileu, poderão assim admirar, também à noite, o inteiro complexo de São Pedro, captando os seus singulares valores arquitectónicos.

3. Possa a nova iluminação, que envolve a Basílica e a mostra com toda a sua imponência, constituir para os peregrinos e os visitantes um convite a receberem na sua vida Cristo, que é a Luz do mundo. Seja para os crentes mais um estímulo a testemunharem na vida a sua fidelidade a Deus e à Igreja.

Congratulo-me com todos os que colaboraram de maneira activa na execução deste novo sistema de iluminação: os projectistas, os directores dos trabalhos, os técnicos e os operários. A todos a minha admiração pela obra realizada com competência e dedicação.

Enquanto peço a Cristo, que por nós se fez homem há dois mil anos, copiosos dons de serenidade e de paz, concedo de coração a cada um de vós e aos vossos familiares a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS PASSIONISTAS DE SÃO PAULO DA CRUZ


POR OCASIÃO DO XIV CAPÍTULO GERAL


Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999



Caríssimas Irmãs Passionistas
de São Paulo da Cruz!

1. Sinto-me feliz em vos receber por ocasião do vosso XIV Capítulo Geral e saúdo-vos cordialmente. É uma saudação que desejo fazer chegar através de vós a todas as vossas Irmãs presentes em vinte e cinco nações em quatro continentes. Agradeço-vos a visita que, além de ser um gesto de filial devoção ao Sucessor de Pedro, constitui para mim a oportunidade de conhecer melhor a vossa Família religiosa e de apreciar a generosidade que a anima no serviço quotidiano à Igreja.

Apresento as minhas felicitações à Madre Antonella Franci, eleita para a tarefa de Superiora-Geral do Instituto, e invoco para ela abundantes luzes celestes em vista dum frutuoso empenho na sua nova e não fácil responsabilidade. Desejo de igual modo que esta vossa Assembleia, com a ajuda do Senhor e a assistência materna da Virgem Santíssima, suscite em cada uma de vós e em toda a vossa Congregação um renovado fervor espiritual, centrado na profunda, grata e dolorosa memória da Paixão de Jesus e das dores de Maria Santíssima, um empenho apostólico mais convicto e uma fidelidade activa ao carisma de Maria Maddalena Frescobaldi Capponi, leiga, esposa e mãe de família.

Encorajo-vos a prosseguir pelo caminho empreendido, animadas sempre pela caridade divina e pelo desejo de difundir em toda a parte o Evangelho de Cristo.

2. O vosso Capítulo Geral tem como objectivo principal tornar mais intenso o amor e o serviço aos mais necessitados, aderindo ao convite da Igreja para evangelizar o mundo de hoje, marcado por tantos desafios culturais, sociais e religiosos. Para esta finalidade, revela-se muito significativo o tema: A internacionalização da Congregação desafia a Irmã Passionista a ser sinal profético de comunhão na inculturação do carisma em fidelidade à Fundadora.

Exorto-vos cordialmente a elaborar um projecto de formação e de actividade, que ajude a vossa Família religiosa e cada consagrada a pôr em prática o mandamento do amor, de acordo com o vosso carisma. Seguindo mais de perto Jesus crucificado, vivereis a vossa vocação religiosa, que vos leva a uma opção preferencial pelos mais pequeninos e pobres que precisam de educação, sobretudo pela mulher exposta ao risco de uma exploração desumana. No rosto de cada pessoa em dificuldade, podereis reconhecer o de Cristo e sereis, para todas as pessoas que encontrardes, testemunhas do amor de Deus.

3. Trata-se duma missão empenhativa, que requer uma espiritualidade profunda e enraizada no Evangelho. Por conseguinte, a vossa primeira tarefa seja procurar Deus, em constante escuta da sua palavra. Desta forma podereis viver plenamente a vossa peculiar missão na Igreja e na sociedade.

Caríssimas Irmãs, procurai encarnar cada vez mais a pedagogia de Maria Maddalena Frescobaldi Capponi, baseada no encontro, no diálogo aberto, acolhedor, solidário, capaz de suscitar relações novas com Deus, com o próximo e com a natureza. Dai atenção à vida fraterna fundada na contemplação e na experiência de Deus, que une a Ele e n'Ele nos torna capazes de comunhão e partilha na pluralidade e riqueza das culturas. Incentivai a busca duma sábia inculturação do vosso carisma, testemunhando que o Evangelho é destinado a todos os povos. Além disso, dedicai uma atenção particular à formação permanente, para serdes consagradas felizes, capazes de transmitir serenidade e esperança, misericórdia e solidariedade.

4. Caríssimas Irmãs, como é actual a vossa vocação! Sede fiéis ao espírito das origens, permanecendo ao lado dos necessitados com humildade e disponibilidade concreta. Amai a vida austera; negando-vos a vós mesmas e aceitando a cruz de Cristo na vossa vida, podereis realizar mais facilmente a nobre missão que Deus vos confia. Como recorda a existência da Fundadora, a sociedade tem necessidade precisamente disto: de um amor crucificado! Conquistada pelo amor à cruz, ela fizera do Calvário o lugar certo no qual se refugiar.

Tanto hoje como então, sois chamadas a esta mesma missão, isto é, a ser mães espirituais para quem sofre e bate à porta das vossas casas. Como no tempo de Maria Maddalena Frescobaldi Capponi, também nos nossos dias há tanta necessidade de sensibilidade materna, de compreensão e de ajuda concreta.

Sustente-vos o vosso celeste protector, São Paulo da Cruz, e a Mãe do Senhor vos ajude no vosso esforço quotidiano de doação e de testemunho evangélico. Fazendo votos por que a graça do Grande Jubileu do Ano 2000 constitua para todas vós a jubilosa ocasião de fervor e de renovada adesão a Cristo, concedo-vos de coração uma especial bênção, que faço extensiva com afecto a toda a vossa Família religiosa.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO SIMPÓSIO SOBRE JOÃO HUS


Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999

Distintas Autoridades de Governo
Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Estudiosos
Senhoras e Senhores!

1. É para mim motivo de grande alegria apresentar-vos a minha saudação cordial por ocasião do vosso Simpósio sobre João Hus, que constitui uma ulterior e importante etapa para uma compreensão mais profunda da vida e obra do conhecido pregador boémio, um dos mais famosos entre os muitos ilustres mestres que saíram da Universidade de Praga. Hus é uma figura memorável por muitas razões. Mas foi sobretudo a sua coragem moral diante das adversidades e da morte que o tornou figura de especial relevância para o povo tcheco, também ele duramente provado ao longo dos séculos. Estou particularmente grato a todos vós por terdes oferecido o vosso contributo ao trabalho da Comissão ecuménica "Husovská", constituída há alguns anos pelo Senhor Cardeal Miloslav Vlk, com a finalidade de identificar de modo mais preciso o lugar que João Hus ocupa entre aqueles que aspiravam à reforma da Igreja.

2. É significativo que tenham participado neste Simpósio estudiosos provenientes não só da República Tcheca, mas também dos Países vizinhos. Nem menos sintomático é o facto de que, apesar das tensões que prejudicaram as relações entre os cristãos tchecos no passado, peritos de diferentes confissões se reuniram para juntos compartilhar os próprios conhecimentos. Depois de ter recolhido a melhor e mais actualizada reflexão académica sobre João Hus e sobre os eventos em que ele esteve envolvido, o próximo passo será publicar os resultados do Simpósio, de maneira que o maior número possível de pessoas possa conhecer melhor não só a extraordinária figura de homem que ele foi, mas também o importante e complexo período da história cristã e europeia em que viveu.

Hoje, na vigília do Grande Jubileu, sinto o dever de exprimir profunda tristeza pela cruel morte infligida a João Hus e pela consequente ferida, fonte de conflitos e divisões, que foi desse modo aberta nas mentes e nos corações do povo boémio. Já durante a minha primeira visita a Praga expressei a esperança de que passos decisivos poderiam ser dados no caminho da reconciliação e da verdadeira unidade em Cristo. As feridas dos séculos passados devem ser curadas, mediante um novo olhar prospectivo e a instauração de relações completamente renovadas. Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a "nossa paz" e abateu "o muro de inimizade que [nos] separava" (Ep 2,14), guie o caminho da história do vosso povo rumo à reencontrada unidade de todos os cristãos, que todos nós desejamos ardentemente para o milénio do qual estamos às portas.

3. De crucial importância é, nesta perspectiva, o esforço que os estudiosos podem desenvolver para alcançar uma compreensão mais profunda e completa da verdade histórica. A fé nada tem a temer do empenho da pesquisa histórica, a partir do momento que também a pesquisa estiver, em última análise, voltada para a verdade que tem em Deus a sua fonte. Portanto, dou agora graças ao nosso Pai celeste pelo vosso trabalho que chega ao seu termo, da mesma maneira que vos encorajei quando o iniciastes.

O escrever sobre a história é às vezes impedido por pressões ideológicas, políticas ou económicas, com a consequência de que a verdade é obscurecida e a própria história acaba por se encontrar prisioneira dos poderosos. O estudo genuinamente científico é a nossa melhor defesa contra semelhantes pressões e contra as distorções que elas podem gerar. De facto, é muito difícil alcançar uma análise da história absolutamente objectiva, dado que as convicções, os valores e as experiências pessoais influenciam de maneira inevitável o seu estudo e exposição. Entretanto, isto não significa que não se possa chegar a uma evocação dos eventos históricos, que seja deveras imparcial e, como tal, verdadeira e libertadora. O vosso próprio trabalho é prova de quanto isto é possível.

4. A verdade pode revelar-se também incómoda quando nos pede que abandonemos os nossos arraigados preconceitos e estereótipos. Isto vale para as Igrejas, as Comunidades eclesiais e as Religiões, assim como para as Nações e os indivíduos. Contudo, a verdade que nos torna livres do erro é também a verdade que nos faz livres para amar; e o amor cristão foi o horizonte de quanto a vossa Comissão procurou realizar. O vosso trabalho está a significar que uma figura como a de João Hus, que foi um grande ponto de controvérsia no passado, pode agora tornar-se um tema de diálogo, de confronto e de aprofundamento comum.

Na hora em que muitos estão a empenhar-se para criar um novo tipo de unidade na Europa, investigações históricas como a vossa podem ser de ajuda para inspirar as pessoas a irem para além dos muito estreitos confins étnicos e nacionais, rumo a novas formas de abertura genuína e de solidariedade. Isto, com certeza, ajudará os europeus a compreenderem que o Continente poderá progredir de maneira segura em direcção de uma nova e estável unidade, se souber religar-se, de modos novos e criativos, às raízes cristãs comuns e à identidade específica que delas derivou.

5. É claro, portanto, que o vosso trabalho é um serviço importante não só para a figura histórica de João Hus, mas também, de maneira mais geral, para os cristãos e para a sociedade europeia no seu conjunto. Isto porque, afinal, é um serviço à verdade sobre o homem, verdade que a família humana tem necessidade de recuperar, antes de qualquer outra coisa, no alvorecer do terceiro milénio da era cristã.

Ao contemplar a verdade sobre o homem, não podemos deixar de nos dirigir à figura de Cristo ressuscitado. Somente Ele encarna de maneira perfeita a verdade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn Gn 1,26). Oro ardentemente Àquele que é "o mesmo ontem, hoje e sempre" (He 13,8), para que envie a sua luz aos vossos corações. Em penhor de graça e paz n'Ele, invoco sobre vós, sobre as pessoas que vos são queridas e a inteira nação tcheca as abundantes bênçãos do Altíssimo, ao Qual sejam dados louvor, glória, sabedoria e acção de graças nos séculos dos séculos. Amém! (cf. Ap Ap 7,12).




Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999