Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 20 de Maio de 1999

Em última análise, cada sociedade será julgada em conformidade com o seu modo de tratar os mais frágeis; este é o motivo pelo qual as questões da reconciliação aborígene, do início e do fim da vida, e da responsabilidade regional são importantes, agora que a Austrália reflecte sobre a própria identidade e delineia o caminho rumo ao futuro. Ao cumprir a sua missão religiosa, social e cultural, a Igreja católica na Austrália procura assegurar que o novo século e o novo milénio dêem testemunho do ulterior desenvolvimento de uma nação em que os mais débeis sejam apreciados em virtude do facto que a dignidade inalienável de cada ser humano é o critério de toda a vida pessoal, social e política.

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade dos diplomatas acreditados junto da Santa Sé, asseguro-lhe a pronta colaboração dos vários departamentos da Cúria Romana. Possa a sua missão ajudar a fortalecer o vínculo de amizade entre o seu Governo e a Santa Sé, e oxalá estes laços contribuam enormemente para o bem-estar do seu país. Sobre Vossa Excelência, a sua família e os seus concidadãos, invoco as abundantes bênçãos do Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DE BARBADOS


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas e aceitar as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Comunidade de Barbados junto da Santa Sé, e transmito-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão. Estou-lhe agradecido pelas palavras de saudação que me transmitiu da parte do Primeiro-Ministro, Sua Excelência o Senhor Owen Arthur, e peço que lhe expresse, bem como ao Governo e ao povo de Barbados os meus cumprimentos e a certeza das minhas orações pelo bem-estar da nação.

Senhor Embaixador, agradeço-lhe também as amáveis palavras de apreço pelos esforços da Santa Sé em vista de «chamar a atenção para o flagelo dos pobres, dos desamparados, dos necessitados, dos desabrigados e dos oprimidos do mundo inteiro». Efectivamente, no foro internacional a Santa Sé procura assegurar que as necessidades dos indivíduos e dos povos mais frágeis não sejam espezinhadas e não se subestimem as dimensões espirituais e morais das grandes problemáticas humanas do nosso tempo. As principais questões diplomáticas já não dizem respeito à soberania territorial, às fronteiras e ao território, embora nalgumas partes do mundo ainda haja tais problemas. Hoje em dia, a tarefa da diplomacia está estreitamente relacionada com a identificação das respostas para os desafios da globalização e da crescente independência das nações. De forma geral, as actuais ameaças contra a estabilidade no mundo são diferentes, como alguns eventos recentes no-lo demonstram de maneira tão dramática. As tensões étnicas, a ausência da democracia e o respeito pelos direitos humanos, a pobreza extrema, as desigualdades sociais, a poluição do meio ambiente: estes são alguns dos problemas que a diplomacia é chamada a abordar.

Barbados goza de um certo nível de estabilidade e prosperidade, o que representa uma significativa conquista no círculo dos países da região caribenha e torna a sua nação abundantemente capaz de assumir maiores responsabilidades regionais. Contudo, esta estabilidade e prosperidade são mais frágeis do que podem parecer: jamais se pode considerá-las de forma gratuita e elas devem ser sempre defendidas vigorosamente. Em última análise, isto significa que ambas se hão-de fundamentar numa sólida visão da verdade acerca da pessoa humana, a na verdade da dignidade e dos direitos invioláveis de cada ser humano. Lá onde não existe esta base, mais cedo ou mais tarde a estabilidade política degenera numa cultura política dominada pelo poder e não pelo serviço, pelo interesse egocêntrico e não pelo bem comum. Analogamente, quando a verdade sobre a pessoa humana é espezinhada, a prosperidade material passa a significar uma grande riqueza para poucos e o aviltamento da pobreza para muitos. Assim, a sociedade torna-se um campo de batalha e todos os tipos de violência, tanto explícitas como implícitas, são irrefreáveis.

Eis o motivo por que é encorajador tomar conhecimento da decisão do seu Governo de criar um Ministério que se ocupe da Transformação Social. Num certo sentido, esta é a tarefa de todo o Governo – um serviço ao bem comum, que transforma a sociedade humana numa espécie de lar onde todos ocupam o lugar que lhes é próprio. Mas há sempre a necessidade de agências que prestem atenção específica aos membros mais pobres e mais vulneráveis da sociedade, como aqueles que Vossa Excelência mencionou – «crianças portadoras de deficiência, idosos e desabrigados». Existem muitos critérios para determinar o grau de saúde de uma sociedade em particular, entre os quais se enumeram a estabilidade política e a prosperidade material. Contudo, o primeiro critério consiste em determinar como a sociedade trata aqueles que são mais débeis e mais vulneráveis; em última análise, é com base nisto que a sociedade será julgada. Muitas vezes durante este século testificámos o nascimento de sociedades em que as pessoas fracas eram deixadas de parte e consideradas como um fardo, e vimos os horrores que isto causou e ainda está a causar. Todos devem estar decididos a impedir que estes eventos se repitam.

Para transformarmos a sociedade, fundando-a sobre uma base sólida, em primeiro lugar precisamos de revigorar a célula básica da sociedade humana, a família. Lá onde a família é frágil, todas as outras tentativas de transformar a sociedade serão ineficazes. Quando as famílias são afligidas e desprovidas de assistência, constatamos a manifestação de uma série de outros problemas: os mais comuns são o desemprego, a violência, a delinquência sexual, a droga e o abuso do álcool. Senhor Embaixador, estou felizmente consciente de que a Igreja católica em Barbados é um parceiro de boa vontade nos esforços em vista de auxiliar e fortalecer a vida familiar. Além disso, há vários outros serviços fundamentais que a Igreja pode oferecer.

Outro elemento vital na transformação da sociedade é a educação, e Barbados tem-se prodigalizado de maneira proeminente neste sentido. A educação deve ter em consideração o desenvolvimento integral da pessoa, os valores fundamentais sem os quais o ser humano se reduz a uma unidade económica ou a uma cifra técnica. Todavia, a educação está assente na verdade da pessoa humana e por conseguinte ensinará aos jovens o sentido da sua própria dignidade e direitos, que os hão-de impelir ao respeito de si mesmos e do próximo. Com a sua prolongada e diversificada experiência no campo da educação, a Igreja católica ocupa uma óptima posição para ajudar Barbados nesta área vital.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que o seu serviço há-de revigorar os vínculos de amizade e de compreensão entre a Comunidade de Barbados e a Santa Sé. Asseguro-lhe a pronta assistência dos vários departamentos da Santa Sé, enquanto Vossa Excelência cumprir os seus deveres. Sobre a sua pessoa, família e país, invoco as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DE MALTA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Senhor Embaixador

Retribuo de bom grado a saudação que acaba de me dirigir com as palavras de Nosso Senhor que, como Vossa Excelência recordou, constituem os votos renovados em cada celebração eucarística: «A paz esteja convosco!». A paz esteja com Vossa Excelência, Senhor Embaixador, com a Igreja de Malta e de Gozo e com todo o Povo maltês!

Tive a oportunidade de repetir várias vezes esta saudação aos malteses há nove anos, por ocasião da minha visita pastoral àquele querido País. Na verdade, estamos próximos do aniversário daqueles dias inesquecíveis de Maio de 1990, quando me foi concedida a graça, Senhor Embaixador, de permanecer por alguns dias e de rezar na sua Pátria, a qual já é recordada nos Actos dos Apóstolos. São Paulo náufrago e os demais que se salvaram da tempestade foram aí recebidos «com rara humanidade»: «o «primeiro» da ilha, chamado «Públio», acolheu-os e hospedou-os «com benevolência» e, quando partiram, os malteses «forneceram-lhe tudo o que lhes era necessário» (cf. Act Ac 28,2-10).

A tradição faz remontar àquela permanência de Paulo o início da Igreja de Malta e da fé dos malteses em Jesus Cristo. Esta fé desenvolveu-se e perseverou vigorosamente até hoje, reforçada pelas numerosas provações e dificuldades enfrentadas no decurso dos séculos. Senti esta fé, rezando com os malteses na co-Catedral de São João, no Santuário de Mellieha, no estádio com os jovens, na Gruta de São Paulo, no santuário de Nossa Senhora de «Ta' Pinu» e na ilha de São Paulo.

Esta mesma fé é expressa nas centenas de igrejas, pequenas ou monumentais que, construídas muitas vezes com o sacrifício de pessoas simples, caracterizam muitas estradas das cidades ou das aldeias da Ilha.

Faço votos por que a mesma fé constitua a autêntica motivação das numerosas e lindas festas dos Santos que, enraizadas na tradição do Povo maltês e celebradas também com particular empenho exterior, se apresentam como ocasiões propícias para uma séria catequese e para um autêntico crescimento na vida cristã.

Vossa Excelência mencionou os grandes valores morais e civis, tais como a paz, a vida e a família. Desejaria ressaltar, de maneira particular, a importância da família, pequena Igreja onde, juntamente com a vida, tem início e se desenvolve o germe da fé e onde se educam os filhos para seguir a lei de Deus. Hoje a instituição familiar está submetida a fortes ataques em várias partes do mundo. A respeito disto, também em Malta se está a difundir uma mentalidade que corre o risco de contaminar as sadias convicções da população. Por este motivo, o Episcopado maltês tomou recentemente posição sobre este assunto mediante uma declaração pública, na qual reafirmou os princípios de direito natural sobre os quais se baseia esta instituição fundamental e recordou que «famílias estáveis e unidas são o bem mais importante e precioso duma Nação».

Elas são também um valor essencial para a Igreja. Com efeito, na família surgem e maturam as vocações ao empenho laical bem como ao sacerdócio e à vida religiosa, ainda hoje numerosas em Malta. É uma imensa graça e uma alegria, para a Igreja e para o inteiro Povo de Malta, poder renovar aquela mesma generosidade demonstrada ao náufrago Paulo. Malta pode oferecer sacerdotes, religiosos e religiosas a outras Igrejas que deles têm necessidade.

Faço votos por que o espírito missionário do Apóstolo Paulo continue a estar cada vez mais vivo no coração de toda a população da Ilha. Faço votos, de igual modo, por que cresça o número de malteses capazes de se distinguir na vida consagrada e no zelo pastoral, como fiéis intérpretes da fé, da religiosidade popular e do espírito missionário. Como é desejável que a Igreja que está em Malta, juntamente com as comunidades eclesiais de todo o mundo, se possa alegrar pelo reconhecimento da heroicidade e da santidade de não poucos dos seus filhos!

Malta, no centro do Mediterrâneo é, hoje como nunca, lugar de encontro entre populações e culturas diferentes. O famoso espírito de acolhimento que caracteriza o povo maltês reforça esta vocação da Ilha a ser sede de confronto e de diálogo. É um importante papel, que os malteses e as suas Autoridades podem desempenhar para o conhecimento e a compreensão entre os povos, favorecendo a paz e a cooperação cultural, científica e económica. Eis os votos que o Papa formula com esperança e grande amor para com o vosso povo de Malta.

Vossa Excelência mencionou também as relações entre as Instituições civis e a Igreja que está em Malta. Graças a Deus, elas são óptimas e inspiradas no desejo dum diálogo construtivo, contínuo e leal. Trata-se duma atitude bem consolidada que, nos anos passados, favoreceu a superação de algumas dificuldades e a conclusão de Acordos bilaterais profícuos. Tenho a certeza de que este mesmo espírito continuará a caracterizar as relações futuras entre a Sé Apostólica e a Nação maltesa.

Senhor Embaixador, desejo garantir-lhe que, da parte da Igreja, este desejo de colaboração é constante. Ele é também testemunhado pela cordialidade com que o acolho hoje e recebo as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador da República de Malta junto da Santa Sé. Este mesmo sentimento de cordialidade torna-se extensivo, através da sua pessoa, ao Povo de Malta, às Autoridades e ao neo-eleito Chefe de Estado, Sua Ex.cia o Sr. Guido de Marco.

Para este seu novo cargo de Embaixador, que coroa uma longa vida dedicada ao serviço do seu País, ocupando importantes cargos públicos, apresento-lhe os meus mais afectuosos votos e abençoo-o juntamente com os seus familiares e todo o Povo maltês.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO PRINCIPADO DE MÓNACO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Senhor Embaixador

1. É-me particularmente grato desejar as boas-vindas a Vossa Excelência, no momento em que apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Principado de Mónaco junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe profundamente as palavras gentis que acaba de me dirigir, as quais manifestam também o espírito com que empreende a sua nova missão. Sensível à mensagem cordial de Sua Alteza Sereníssima o Príncipe de Mónaco, ser-lhe-ia grato se se dignasse transmitir-lhe os meus votos mais sentidos pela sua missão e pessoa, particularmente durante este ano no qual o seu Soberano celebra o cinquentenário do reino. Durante todos estes anos, o Príncipe Reinier III guiou com coragem e generosidade o Principado de Mónaco, garantindo a sua perenidade. Jamais esquecerei o meu último encontro com Sua Alteza Sereníssima e a sua família no dia 19 de Dezembro de 1997, por ocasião do sétimo centenário da Dinastia dos Grimaldi que, ao longo da história, soube testemunhar o ideal cristão que impregna a cultura monegasca. Desejo que todos os habitantes do Principado realizem as suas aspirações mais profundas, baseando-se sem cessar nos valores humanos, morais e espirituais fundamentais, que são fonte de bem-estar pessoal e de vida fraterna e solidária.

No momento em que Vossa Excelência inicia as suas funções, permita-me recordar com Vossa Excelência a memória do seu saudoso predecessor, Senhor César Charles Solamito, que assinalou duradouramente as relações entre a Santa Sé e o Principado, graças à sua cordialidade e preocupação de consolidar constantemente os laços de estima recíproca e de amizade profunda. Ele foi um artífice da Convenção de 25 de Julho de 1981, que renovava os vínculos sinceros e profundos dos Príncipes e do Povo monegasco à Igreja.

2. A dimensão humana e espiritual do Principado de Mónaco que Vossa Excelência recordou é fundamental para qualquer comunidade humana, que não se pode basear unicamente nas suas actividades. Os habitantes do Principado, como de qualquer país, devem tomar consciência todos os dias do que constitui a alma dum povo, esse tesouro inestimável que provém da tradição e que deve ser transmitido às gerações futuras. Com efeito, é em primeiro lugar no respeito devido a todas as pessoas, na solicitude pelo próximo, mediante o sentido do acolhimento e o testemunho dado aos valores humanos fundamentais que conservarão a sua originalidade e farão resplandecer a sua vocação, inspirando-se no ideal humanista e nas exigências evangélicas que abrem o caminho ao bem-estar verdadeiro, e recusando a facilidade que a sociedade consumista propõe.

Sou principalmente sensível à atenção que Vossa Excelência dedica aos conflitos que ferem a humanidade e às graves situações que atingem um certo número de populações. Vossa Excelência ressaltou que, em virtude da sua história e da sua situação geográfica, o Principado, integrado no continente europeu, está aberto ao mundo e deixa-se interpelar pela miséria dos povos; é sobretudo um farol virado para a África, onde numerosos países necessitam actualmente de modo urgente da ajuda dos países ocidentais para o seu desenvolvimento humano e económico, e para a realização duma real transformação democrática das suas situações. Mediante a presença na ONU, ele é chamado a dar o seu contributo à comunidade internacional, sobretudo à paz e ao entendimento entre os povos, favorecendo uma solidariedade activa e intensa. Quando o mundo conhece transformações cada vez mais rápidas, é importante mostrar que é possível um testemunho de fraternidade tangível. É oportuno convidar as jovens gerações a prepararem-se, mediante uma formação séria, para assumir o seu lugar na vida social, a fim de serem no futuro os protagonistas da gestão dos seus países e da vida internacional.

3. No Principado, a comunidade católica, fiel à tradição, prossegue a sua actividade espiritual, mas também tem a preocupação pela formação humana e cristã da juventude, sobretudo nos estabelecimentos de ensino católico nos quais, além duma formação de qualidade é garantida a transmissão dos valores fundamentais para a maturação e para a formação da personalidade de cada jovem. De igual modo, nos estabelecimentos públicos, respeitando a sua especificidade e a vontade dos pais, a Igreja deseja acompanhar os jovens, propondo-lhes uma reflexão acerca das questões humanas primordiais e abrindo o seu coração ao Evangelho. Também mediante o seu testemunho, as equipes educativas e catequéticas propõem à juventude um ideal e um caminho para uma vida bela. Por seu intermédio, Senhor Embaixador, aproveito esta ocasião para saudar com afecto o Arcebispo, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os fiéis católicos de Mónaco, que são muito dedicados.

4. Senhor Embaixador, no final do nosso encontro apresento-lhe os meus melhores votos para o bom êxito da sua missão. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, a ajuda atenta e compreensiva da qual poderá ter necessidade.

A Vossa Excelência, a Sua Alteza Sereníssima, à família principesca e a todos os habitantes do Principado de Mónaco, concedo de coração a Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À NOVA EMBAIXADORA DA UCRÂNIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Excelência

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da Ucrânia. É uma ocasião oportuna para consolidarmos a amizade e a cooperação que já existem entre o seu país e a Santa Sé, vínculos que historicamente remontam a mil anos, ao Baptismo da Rus' de Kiev, e que adquiriram uma nova forma e um novo vigor desde o advento da independência da sua nação. Considero a sua presença aqui hoje como um sinal do nosso desejo mútuo de consolidar as relações diplomáticas estabelecidas entre a Ucrânia e a Santa Sé no ano de 1992. Estou grato pelas saudações que a Senhora Embaixadora me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Leonid Kuchma, cujas visitas ao Vaticano recordo com vivacidade e a quem formulo os meus bons votos, renovando a certeza das minhas orações pela paz e a prosperidade do seu país.

As nações da Europa Oriental, inclusivamente a sua, Senhora Embaixadora, estão a passar por um período de rápida e profunda transformação nos sectores social, económico e político. Enquanto estas mudanças não estão isentas de grandes dificuldades e sacrifícios, representam contudo transformações essencialmente positivas, orientadas como estão para o respeito da liberdade e da autonomia dos povos. Depois de décadas de fechamento numa ordem mundial assente sobre decisões impostas e sobre barreiras ideológicas, as nações que tinham perdido a própria voz na comunidade internacional agora estão a conquistar a sua soberania e a perseguir o seu destino como parceiros igualitários no cenário do mundo. Por conseguinte, o momento actual é de extrema importância na vida destes povos e representa uma grave responsabilidade para os seus líderes.

Com o esforço e a dedicação de inumeráveis dos seus compatriotas, a Ucrânia está a dar grandes passos ao longo do caminho do desenvolvimento, em vista de construir uma sociedade mais próspera, justa e democrática. Vossa Excelência referiu-se à intenção que o seu país tem de obter a «completa reintegração no espaço europeu, assente sobre os valores cristãos». Lutando por este objectivo, Vossa Excelência está a redescobrir a fortaleza das raízes espirituais e culturais latentes no coração mesmo da identidade do seu país e do caminho do seu povo através da história. O desafio consiste em crescer nas mais nobres tradições do passado, estando ao mesmo tempo aberto a todas as exigências da consciência – que amadurece entre os povos do mundo – acerca da natureza universal da dignidade humana e dos direitos do homem.

Não obstante as difíceis lições deste século violento, infelizmente a Europa é de novo teatro da opressão do homem por parte do próprio homem e da quotidiana fulminação de armas mortíferas e destruidoras. Em nome de desvirtuados ideais de diferenças culturais e étnicas, o valor fundamental e real da dignidade inviolável de cada ser humano está a ser completamente negado. Para além da retórica com que em geral estes conflitos são apresentados, deveria ser evidente que as atrocidades perpetradas todos os dias no solo europeu, nos Balcãs, não correspondem ao resultado das aspirações genuínas dos povos; pelo contrário, foram-lhes atribuídas motivações inauditas que representam interesses particulares e formas de sede de poder bem delineadas.

Todas as pessoas devem preocupar-se em assegurar que o diálogo substitua o conflito. O diálogo e a negociação significariam o triunfo da razão, enquanto que a continuação dos combates étnicos e a luta pelo poder em todas as partes do mundo constituem uma derrota da razão e um sinal do fracasso da solidariedade e da sociedade humanas. Devemos esperar que a Europa consiga encontrar na sua herança milenar as verdades e os incentivos de que tem necessidade para restabelecer a regra da razão e a norma da lei.

Os ucranianos cristãos, tanto ortodoxos como católicos, estão a revitalizar as instituições e as expressões públicas da própria fé. No Evangelho e nas tradições das suas Igrejas, estão a encontrar a inspiração e o vigor para as enormes tarefas que se lhes apresentam como cidadãos responsáveis pelo seu país, que há pouco conquistou a própria independência. Todos os fiéis ucranianos devem estar persuadidos de que a sua fé exige a compreensão e a cooperação recíprocas e não o preconceito ou a rivalidade. As dificuldades entre os cristãos devem ser resolvidas não só a nível da justiça e da equidade, mas ao nível muito mais profundo da koinonia perante Deus e em Jesus Cristo. Reitero aqui um pensamento que manifestei aos Bispos ucranianos de rito latino, por ocasião da sua visita ad Limina, realizada no passado mês de Março: «Se o respeito de cada identidade é pedido pela justiça, ele é ainda mais postulado pela caridade, que para o cristão é lei suprema» (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 10 de Abril de 1999, pág. 6, n. 5). Como Vossa Excelência justamente salientou, a celebração de um novo milénio cristão, que se está a aproximar de maneira muito rápida, constitui uma maravilhosa oportunidade para todos os cristãos crescerem na paz, na tolerância e no respeito uns dos outros e por todos os povos. Formulo ardentes votos por que uma sábia e positiva manifestação da democracia e da liberdade no seu país, juntamente com a renovação da convicção religiosa e do compromisso moral, faça nascer uma era de desenvolvimento florescente, e que a presença e as obras da Ucrânia no seio da família das nações contribuam para a construção de um mundo melhor e mais pacífi- co, ao qual as pessoas de todos os lugares aspiram. Oxalá as relações entre a Ucrânia e a Santa Sé, já calorosas, levem a uma crescente compreensão e cooperação nos assuntos de comum interesse.

Excelência, transmito-lhe os meus melhores votos no momento em que inicia a sua missão, e asseguro-lhe a disponibilidade dos departamentos da Santa Sé em assisti-la no seu trabalho. Sobre Vossa Excelência e os seus concidadãos invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO IÊMEN


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Senhor Embaixador

Ao recebê-lo no Vaticano, na auspiciosa ocasião do início da sua missão como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Iêmen junto da Santa Sé, é-me grato aceitar as Cartas Credenciais com as quais Vossa Excelência é designado para este cargo. O estabelecimento das plenas relações diplomáticas entre nós propicia um novo nível de contactos que, estou certo disto, há-de levar à compreensão, estima e cooperação cada vez maiores. Estou-lhe grato pelos bons votos que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Ali Abdullah Salch e do Governo e povo do seu país; pediria que, por sua vez, lhes assegurasse as minhas orações pela paz e pelo bem-estar da nação iemenita.

As suas palavras demonstraram a consciência de que a presença da Santa Sé na comunidade internacional se caracteriza claramente pela natureza religiosa e espiritual da missão da Igreja católica do mundo inteiro. A actividade da Santa Sé tem em vista acima de tudo salvaguardar e promover a dignidade inalienável da pessoa humana, que só pode ser garantida mediante o desenvolvimento integral do indivíduo e através do progresso de todos os povos na paz e na justiça. É precisamente na busca destas importantíssimas finalidades que as estreitas e cordiais relações entre a Santa Sé e os responsáveis pelo bem-estar dos povos do mundo demonstram que são destinadas ao benefício e ao apoio recíprocos.

Vossa Excelência salientou o facto de que, assim como têm havido episódios de animosidade e até mesmo de violência entre cristãos e muçulmanos, também se têm verificado muitas ocasiões em que o respeito, a compreensão e amizade caracterizaram as relações entre os membros destas duas religiões mundiais. Efectivamente, quando é vivida com sinceridade, tanto na teoria como na prática, a convicção religiosa constitui uma segura salvaguarda da dignidade, da fraternidade e da liberdade dos povos, e além disso é um princípio-guia do recto comportamento para se viver juntos na sociedade. Com efeito, um dos grandes desafios que se apresentam à família humana no nosso tempo ainda é precisamente este: aprender a viver juntos em paz, para o benefício mútuo de todos. É com tristeza que devemos reconhecer a persistência no nosso mundo de uma polarização em que determinados grupos étnicos e raciais, certas comunidades religiosas e algumas ideologias económicas e políticas procuram impor sobre os outros o seu próprio modo de ver, a ponto de excluir aqueles que não compartilham a sua perspectiva. É desnecessário dizer que este comportamento implica graves perigos para a paz, pois termina na discriminação, na injustiça, na violência e no insensível desprezo pelos direitos do homem e pela dignidade humana.

Estas situações põem em evidência a importância do diálogo inter-religoso e da cooperação. Hoje há uma grande necessidade de que cristãos e muçulmanos trabalhem juntos a todos os níveis – internacional, nacional e regional – em vista do progresso da humanidade, e sempre no contexto da natureza espiritual do homem (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1992, n. 5). Proclamando a verdade acerca do carácter transcendental do homem, a Igreja insiste no facto de que a busca do homem pelo bem-estar social e temporal e por todo o reconhecimento da sua dignidade como ser humano corresponde às profundas aspirações da sua natureza espiritual. Trabalhar em ordem a promover e defender todos os direitos humanos, inclusivamente o direito fundamental ao culto de Deus segundo os parâmetros de uma consciência recta e à pública profissão da própria fé, deve tornar-se cada vez mais o objectivo da cooperação inter-religiosa. Esta cooperação deve também incluir esforços para eliminar a fome, a pobreza, a ignorância, a perseguição, a discriminação e todos os géneros de escravidão perpetrados contra o espírito humano. A religião é o fundamento de todos os compromissos de uma sociedade na justiça; além disso, os programas e as iniciativas conjuntas por parte das religiões do mundo devem confirmá-lo de maneira concreta.

Aprecio os comentários que Vossa Excelência fez acerca da actividade da Santa Sé em prol do processo de paz no Médio Oriente; esta situação continua a ser uma fonte de grande solicitude para a Igreja e está a ser acompanhada com grandíssima atenção. Infelizmente, o progresso que até agora se alcançou não tem sido regular e não propiciou esperança e segurança aos povos dessa região. De resto, quando as populações são mantidas de forma indefinida num estado entre a guerra e a paz, o perigo da tensão e da violência aumentam enormemente. Tão-pouco pode ficar sem solução a problemática da Cidade Santa de Jerusalém, para a qual cada uma das três grandes religiões monoteístas olham, como segmento do seu património espiritual. As partes interessadas devem enfrentar estes problemas com a subtil consciência das suas próprias responsabilidades. Como eu disse no início deste ano ao Corpo Diplomático credenciado junto da Santa Sé: «O diálogo leal, a solicitude real pelo bem das pessoas e o respeito da ordem internacional são os únicos que podem conduzir a soluções dignas de uma região, nas quais estão arraigadas as nossas tradições religiosas. Se muitas vezes a violência é contagiosa, também a paz pode sê-lo, e estou certo de que um Médio Oriente estável contribuiria de maneira eficaz para dar de novo esperança a muitos povos» (Discurso ao Corpo Diplomático, 11 de Janeiro de 1999).

Senhor Embaixador, a apresentação das suas Cartas Credenciais assinala uma decisiva e nova fase nas relações entre a República do Iêmen e a Santa Sé no nosso compromisso em trabalhar em prol da obtenção de laços mais estreitos e de uma maior compreensão mútua. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão, pode estar certo da pronta assistência e cooperação dos departamentos da Cúria Romana. Oxalá Deus Omnipotente o auxilie e as bênçãos divinas desçam sobre a sua pessoa e o seu país.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA ISLÂNDIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe hoje as boas-vindas e aceitar as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Islândia junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas saudações que me expressou da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Dr. Ólafur Ragnar Grímsson, que no ano passado tive o prazer de receber no Vaticano. Peço-lhe que transmita ao Dr. Grímsson, ao Governo e ao povo da Islândia os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e pela prosperidade da nação.

A sua missão tem início num momento auspicioso. O mundo está prestes a cruzar o limiar do terceiro milénio da era cristã, e este facto apresenta interrogativos e desafios para todos nós. Para a Igreja, este será um período de acção de graças pelas dádivas recebidas, de arrependimento pelos pecados cometidos e de renovação do compromisso de anunciar o Evangelho e indicar os caminhos da verdade, da justiça e da paz. Contudo, o ano 2000 adquire um significado especial para a Islândia porque, como Vossa Excelência observou, a nação há-de celebrar mil anos de cristianismo. A minha esperança é de que a sua missão promova a reciprocidade nas nossas celebrações – que a Islândia enriqueça o Jubileu em Roma e que Roma enalteça o Milénio na Islândia.

Senhor Embaixador, estou vivamente consciente daquilo que Vossa Excelência observou, isto é, que durante um prolongado período os vínculos entre a Islândia e a Santa Sé foram profundos e vigorosos. Como poderia ser de outra forma, numa terra onde as raízes da cristandade remontam a um período tão longínquo no tempo? É verdade que o cristianismo foi adoptado como religião da Islândia por decisão do Parlamento no ano 1000, em Thingvellir. Todavia, ainda precedentemente alguns eremitas cristãos se tinham estabelecido na Islândia e só mais tarde chegaram os povoadores cristãos que pavimentaram o caminho para a histórica decisão do Parlamento. A partir dessa época, a Igreja católica tornou-se um elemento vital na formação do carácter e da cultura característicos do seu povo; e durante séculos a Santa Sé desempenhou o próprio papel, fomentando a esperança da nação nos períodos obscuros e promovendo o florescimento da cultura islandesa, que deu origem a obras-primas como as Sagas. Estou feliz porque muitas destas coisas serão reconhecidas durante as celebrações milenárias em Thingvellir, onde uma série de peças das coleções do Vaticano recordarão os laços históricos entre a Islândia e a Santa Sé. Embora tenham existido momentos turvos nas nossas relações recíprocas, os vínculos diplomáticos dos quais agora desfrutamos constituem um sinal do comum desejo de caminhar rumo ao futuro, sem nos deixarmos influenciar pelos mal-entendidos que causaram as tensões do passado, mas tendo como base o original, profundo e antigo ligame da compreensão.

A herança cristã da sua nação é muito mais do que uma forma cultural superficial. No seu âmago estão aquelas «crenças e convicções comuns acerca dos princípios fundamentais», dos quais Vossa Excelência houve por bem falar. Estas crenças e convicções dizem respeito à verdade da pessoa e à compreensão da dignidade humana e dos direitos do homem, os quais promanam desta mesma verdade. Eis o verdadeiro humanismo que a Igreja procura promover em todas as épocas e lugares; e foi também precisamente esta a escolha que a Islândia fez de forma tão solene em Thingvellir, há quase mil anos. Agora a minha esperança é de que, enquanto se prepara para o Milénio, a nação renove aquela opção em todos os sectores da sua própria vida.

A Bíblia está na raiz tanto do testemunho da Igreja como da cultura da Islândia; e na primeira página da Escritura lemos que Deus criou o ser humano à Sua imagem. Eis o fundamento de tudo aquilo que a Igreja tem a dizer acerca da dignidade humana e dos direitos do homem; por conseguinte, num certo sentido esta é a base da actividade diplomática da Santa Sé. Cada homem, mulher e criança é dotado de uma dignidade inviolável, e isto implica uma série de direitos humanos que não são concedidos ou negados por ninguém, senão por Deus. A tarefa do governo consiste em salvaguardar esta dignidade e garantir estes direitos; e a sociedade terá verdadeira liberdade na medida em que os governos obtiverem bom êxito nesta missão. Mas os regimes totalitários, que influenciaram este século de forma tão nefasta, demonstram de maneira demasiado evidente como a liberdade é frágil e com que rapidez se dissipa quando a dignidade humana e os direitos do homem são espezinhados. A Islândia goza de grande liberdade, que é inclusivamente o fruto da antiga tradição cristã da nação, e a Igreja católica continuará a ser um parceiro disposto a garantir que, através das celebrações milenárias e para além dessa data, as raízes de tal liberdade cresçam ainda mais em profundidade e em vigor no seio da sociedade islandesa.

O Senhor Embaixador representa uma nação que não é grande nem populosa. Contudo, trata-se de um país que deu um contributo notável para a história do milénio que agora está a chegar ao fim. Um exemplo disto são as viagens de Leifur Eriksson, que Vossa Excelência quis mencionar e das quais a Islândia é justamente orgulhosa. Na figura de Eriksson vemos a coragem, a tenacidade e o engenho que sempre caracterizaram o povo islandês, de maneira especial no momento de enfrentar as adversidades, como o próprio Eriksson fez. Como Vossa Excelência disse ao referir-se à Islândia, ele «armava-se de boas ideias e de fortes convicções», cujo âmago era a sua fé cristã firmemente conservada.

Não se trata apenas do passado da Islândia, mas também do caminho seguro rumo a um futuro digno da pessoa humana e do povo que Vossa Excelência representa. Rezo a fim de que no seu país a fé cristã se conjugue sempre com a coragem, a tenacidade e o engenho, de tal maneira que a Islândia possa tornar-se cada vez mais um lugar em que se salvaguardem a dignidade humana e os direitos do homem em todas as épocas e lá onde os mais débeis sejam, por conseguinte, os mais amados. No momento em que o Senhor Embaixador ingressa na comunidade diplomática credenciada junto da Santa Sé, garanto-lhe a imediata colaboração dos vários departamentos da Cúria Romana. Oxalá a sua missão ajude a revigorar o vínculo de amizade entre o seu Governo e a Santa Sé, e este ligame contribua em grande medida para o bem-estar da sua nação. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da Islândia, invoco as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.




Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 20 de Maio de 1999