Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 20 de Maio de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA TAILÂNDIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: Quinta-feira, 20 de Maio de 1999



Excelência

É-me grato acolhê-lo no Vaticano neste dia e receber as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Tailândia. Agradeço as palavras de saudação que Vossa Excelência me expressou em nome de Sua Majestade o Rei Bhumibol Adulyadej, e é de bom grado que lhas retribuo com os mais calorosos votos pela saúde e pela felicidade de Suas Majestades e da Família Real, e com as minhas preces pela paz e pela prosperidade da inteira nação. Aproveito este ensejo para confirmar mais uma vez a minha grande estima pelo povo tailandês e pela rica herança espiritual e cultural do seu país.

O Senhor Embaixador mencionou os vínculos de amizade e de cordiais relações que existem já há muitos séculos entre o Reino da Tailândia e a Santa Sé. Os missionários cristãos chegaram pela primeira vez ao seu país no século XVI. Em 1669, durante o reino do Rei Narai o Grande, o primeiro Vicariato Apostólico foi erigido na cidade santa de Ayudhya. Sucessivamente, a cidade tornou-se um importante centro para os contactos entre o cristianismo e o budismo. Não obstante os posteriores reveses, um crescente desejo de laços mais estreitos entre a Tailândia e a Santa Sé conduziu na era moderna ao estabelecimento de formais relações diplomáticas em 1969.

Durante a visita que realizei ao seu país em 1984, tive a enorme alegria de experimentar pessoalmente a amabilidade e os profundos valores humanos do povo tailandês. O budismo, que é a religião da esmagadora maioria dos seus compatriotas, forjou profundamente a sociedade e a cultura tailandesas, criando uma atmosfera de tolerância e de liberdade religiosa das quais Vossa Excelência é justamente orgulhoso. A vetusta e venerável sabedoria contida nas tradições religiosas do seu país, assim como a contribuição de outros grupos religiosos, têm sido de inestimável valor para a vida da nação.

Em todas as sociedades a dimensão religiosa tem uma profunda importância, dado que evidencia os valores superiores que promanam da dignidade da pessoa humana, e interage como uma força em vista da promoção da justiça, da solidariedade e da paz. Como tal, a religião oferece um fundamento sólido para a rejeição de qualquer compreensão do desenvolvimento estreitamente materialista ou utilitarista. Os perigos de conceber o progresso social sem uma referência aos valores e ao carácter transcendentais da pessoa humana são demasiado evidentes. Como tive a oportunidade de escrever na minha Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis: «Enquanto os indivíduos e as comunidades não virem respeitadas rigorosamente as exigências morais, culturais e espirituais, fundadas na dignidade da pessoa e na identidade própria de cada comunidade, a começar pela família e pelas sociedades religiosas, tudo o mais – a disponibilidade dos bens, a abundância dos recursos técnicos aplicados à vida quotidiana e um certo nível de bem-estar material – resultará insatisfatório e, com o passar do tempo, mesmo desprezível» (n. 33).

Esta compreensão da pessoa humana orienta os esforços da Santa Sé nas actividades que desempenha no campo internacional. Juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade, ela participa em iniciativas destinadas a garantir um porvir seguro para todos, um futuro fundamentado na cultura dos direitos humanos e na solidariedade que transcende todas as fronteiras. No limiar do terceiro milénio, é urgentemente necessário que a comunidade internacional dê passos destinados a revigorar as estruturas que por sua vez hão-de assegurar a paz genuína entre as nações e os grupos étnicos. Os esforços nesta direcção só podem alcançar bom êxito «quando a promoção da dignidade da pessoa humana é o princípio orientador, quando a busca do bem comum constitui o empenho predominante» (Mensagem para o Dia mundial da Paz de 1999, n. 1).

Por sua vez, a comunidade católica que está na Tailândia, não obstante seja exígua em relação aos sequazes de outras tradições religiosas, goza dos benefícios da liberdade religiosa, cujo garante é Sua Majestade como «Paladino de todas as Religiões». Os católicos participam de maneira sincera na vida e nas solicitudes da nação, dado que têm muito a peito o progresso e o desenvolvimento da sociedade. O seu contributo específico inspira-se na convicção de que o progresso económico, político e social deve caminhar sempre pari passo com um empenhamento em prol da verdade religiosa e moral. Ao desempenhar a sua missão espiritual, a Igreja católica compromete-se na promoção da justiça, da compaixão e do respeito pelo próximo.

Vossa Excelência referiu-se à contribuição da Igreja no campo da educação, da saúde e dos serviços sociais. Este compromisso está assente no mandato do divino Fundador da Igreja, a fim de que amemos o próximo como a nós mesmos, e na convicção de que a vida humana é sagrada e tem um valor inestimável em cada uma das suas fases. Nas suas actividades educativas, a Igreja está persuadida de que a formação integral dos jovens, que representam o amanhã da nação, é de crucial importância. A educação deve ajudá-los a descobrir a dimensão espiritual da vida e a aprender os valores supremos que no futuro hão-de alicerçar o tecido social do país. Não há dúvida de que o apreço pelos valores morais e uma atitude de respeito no que se refere à dignidade humana e aos direitos do homem são tão importantes – e talvez ainda mais importantes – quanto qualquer erudição ou habilidade conferida.

Senhor Embaixador, estou convencido de que no cumprimento da sua missão Vossa Excelência contribuirá com todas as suas qualidades e energias pessoais para fortalecer ulteriormente os ligames de amizade já existentes entre a Tailândia e a Santa Sé. Asseguro-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão sempre disponíveis para o assistir no desempenho dos seus deveres. Sobre a sua pessoa, as Suas Majestades o Rei e a Rainha, e o inteiro povo tailandês, invoco cordialmente as abundantes bênçãos divinas.




À DELEGAÇÃO DA EX-REPÚBLICA JUGOSLAVA


DA MACEDÓNIA POR OCASIÃO DA SOLENIDADE


DOS SANTOS IRMÃOS CIRILO E METÓDIO


Sábado, 22 de Maio de 1999

: Estimado Senhor Primeiro-Ministro
Prezados Amigos

Todos os anos a Festividade dos Apóstolos dos Eslavos, Cirilo e Metódio, traz uma Delegação da Macedónia a Roma, para honrar as relíquias de São Cirilo na igreja de São Clemente. Nestas ocasiões, é com prazer que me encontro com Vossa Excelência, que representa a vida civil e religiosa do seu país.

Já há muitas semanas que vós e o vosso povo vos encontrais envolvidos na terrível crise que, dia após dia, continua a semear inauditos sofrimentos, morte e destruição nos Balcãs, deixando centenas de milhares de seres humanos a chorar a perda dos familiares, das propriedades e dos direitos humanos. Não obstante as enormes dificuldades, o vosso país tornou-se um porto seguro para inúmeros refugiados e, com coragem e generosidade, procurais aliviar a sua imediata desgraça e miséria.

Ao expressar-vos, bem como aos vossos compatriotas, o apreço meu e da Igreja por tudo o que estais a fazer, exorto de novo os responsáveis de todo o coração, a fim de que ponham fim à violência e entreteçam um diálogo aberto e sincero, destinado a criar um fundamento justo e duradouro para a concertação e a paz. A minha mais sentida oração é por que, por intercessão dos dois Santos irmãos, toda essa região redescubra a comunhão fraterna de cada um dos seus povos, a fim de que quando terminarem as actuais violência e desgraça, ela possa constituir para o resto da Europa e para o mundo inteiro um clarividente exemplo de coexistência pacífica no respeito mútuo e na liberdade.

Dilectos amigos, faço votos por que esta peregrinação vos dê força e encorajamento no serviço ao bem comum do vosso povo. Deus abençoe o vosso país e os seus cidadãos!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À DELEGAÇÃO DA BULGÁRIA CHEFIADA


PELO PRIMEIRO-MINISTRO


Segunda-feira, 24 de Maio de 1999



Senhor Primeiro-Ministro
Excelências
Queridos Amigos

É-me grato receber a vossa Delegação da Bulgária que, como todos os anos, vem a Roma para honrar os Santos Cirilo e Metódio, cuja memória está muito presente no vosso país e em toda essa região.

Mediante a presença hodierna de Pastores católicos e ortodoxos, «vemos claramente que a herança dos dois irmãos de Salonica é e permanece... mais profunda e mais forte do que qualquer divisão» (Encíclica Slavorum apostoli, 25), manifestando que as duas tradições, ocidental e oriental, nasceram no seio da única Igreja de Cristo. Com efeito, os Santos Cirilo e Metódio contribuíram para confirmar e difundir a fé e a cultura cristãs no mundo eslavo; fielmente unidos ao Sucessor de Pedro, eles concederam a vários povos um rico património, que todos quiseram conservar com fervor ao longo dos séculos, de maneira especial graças à presença activa das correntes monásticas e da oração popular. Possa o culto dos Santos Cirilo e Metódio, aos quais manifestais profundo apego mediante a vossa presença em Roma, contribuir para enaltecer a fé do vosso povo, bem como a fraternidade em Cristo e a solidariedade pelos homens!

Anunciando o Evangelho, os Santos irmãos souberam ser respeitosos dos autênticos valores humanos e morais e das diversidades culturais, deixando a cada povo a sua originalidade e abrindo o caminho para a unidade entre as diferentes culturas. Eles esforçaram-se por despertar nos seus contemporâneos a consciência de serem homens de abertura, hospitaleiros para com todos. Agindo assim, foram de alguma forma promotores de uma Europa unificada e de uma paz profunda entre todos os habitantes do continente, proporcionando os fundamentos de uma nova arte de viver em conjunto, no respeito das diferenças, que não obstam minimamente a unidade. Formulo votos por que estes grandes Santos da vossa terra sejam modelos de vida humana e cristã para todos os búlgaros, chamados a empenhar-se cada vez mais, juntamente com os seus irmãos dessa região, na vereda da paz e da reconciliação, oferecendo assim um notável contributo para a construção da Europa das Nações.

No termo do nosso encontro, agradeço-vos profundamente a vossa amável visita; faço ardentes votos à vossa Delegação, através da qual dirijo as minhas cordiais saudações às Autoridades e ao povo da Bulgária, assegurando-lhes a fervorosa oração do Bispo de Roma. Enquanto confio todos vós à intercessão dos Santos Cirilo e Metódio, peço ao Senhor que vos conceda os benefícios das suas Bênçãos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CENTRO CULTURAL


«JOHN PAUL II» DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


Quinta-feira, 27 de Maio de 1999



Eminência Prezados Amigos

É-me grato dar-vos de novo as boas-vindas ao Vaticano neste ano. Agradeço ao Senhor Cardeal Maida ter-me informado acerca dos contínuos progressos do Centro, e expresso a minha gratidão a todos aqueles que apoiam a sua missão de promoção do diálogo e do mútuo enriquecimento entre os mundos da fé e da cultura.

O plano do Centro inspirou-se na firme convicção da Igreja, de que só o mistério de Jesus Cristo ilumina plenamente o mistério do homem e portanto pode oferecer uma base certa para o autêntico progresso da família humana na justiça, paz e solidariedade. Há vinte anos, no início do meu Pontificado, tracei as linhas que a Igreja do nosso tempo é chamada a seguir, em fidelidade ao Concílio Vaticano II, no cumprimento da sua missão no mundo. «A Igreja deseja servir esta única finalidade: que cada homem possa encontrar Cristo, a fim de que Cristo possa percorrer juntamente com cada homem o caminho da vida, com a potência daquela verdade sobre o homem e sobre o mundo, contida no mistério da Encarnação e da Redenção, e com a potência do amor que de tal verdade irradia» (Redemptor hominis RH 13). Hoje, enquanto a Igreja se aproxima do terceiro milénio da Encarnação, rezo para que o Centro, mediante a sua actividade intelectual, artística e cultural, ajude a fazer com que a rica tradição e experiência da Igreja abordem as grandes problemáticas humanas e éticas que estão a forjar o futuro da vossa sociedade.

Estimados amigos, oxalá a vossa peregrinação a esta Cidade, onde os Apóstolos Pedro e Paulo deram o derradeiro testemunho de Cristo ressuscitado, vos leve a uma mais profunda união com o Senhor e a sua Igreja. Que a amorosa Mãe do Redentor oriente todos nós na nossa peregrinação rumo ao grande Jubileu e à plenitude do Reino de Deus. A vós e às vossas famílias concedo de coração a minha Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO ASSISTENTE-GERAL


DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA




Ao venerado Irmão D. AGOSTINO SUPERBO
Assistente-Geral da Acção Católica Italiana

1. Por ocasião da VII Assembleia nacional do Movimento Eclesial de Compromisso Cultural (MEIC), que terá lugar em Assis nos próximos dias 28-30 de Maio, desejo transmitir-lhe, venerado Irmão, bem como ao Assistente Central, Mons. Pino Scabini, ao Presidente Nacional, Prof. Lorenzo Caselli, e aos demais participantes a minha afável e cordial saudação, juntamente com as expressões do meu apreço e encorajamento.

Com este importante encontro o MEIC – que na nova denominação reúne a benemérita tradição dos «Laureados católicos» e os ideais jamais esquecidos dos seus fundadores, o então D. Giovanni Battista Montini, sucessivamente Papa Paulo VI, de veneranda memória, e o Prof. Igino Righetti – interroga-se acerca do modo como exercer no limiar do novo Milénio e em continuidade com a sua história, uma responsabilidade cultural assumida como vocação de «caridade de inteligência».

A incessante aceleração dos ritmos da história, a crise das culturas, os desafios apresentados por algumas escolas de pensamento e por uma mentalidade que ignora cada vez mais a antropologia cristã exigem um renovado anúncio do Evangelho que, como recordava o meu venerado predecessor Paulo VI, consiste fundamentalmente em inserir a Palavra de Deus no círculo do debate humano (cf. Ecclesiam suam, AAS 56 [1964], pág. 664). A nova evangelização, urgente tarefa da Igreja contemporânea, compromete o MEIC no cuidado pela cultura, a fim de que esta seja vivificada pelo fermento do Evangelho, através da via do respeito da inteligência e da competência na investigação da verdade; do cultivo dos vários campos do saber, à luz da Revelação estudada com paixão; de uma participação incondicional nos propósitos essenciais da Igreja, em plena comunhão com os Pastores; do diálogo paciente e persuadido, em atitude de cordial abertura a cada um dos interlocutores. Este compromisso, que pode contar com a promissora presença dos jovens e a rica experiência de quantos desde há muito tempo fazem parte desta Associação, tem em vista em primeiro lugar suscitar a consciência de que são «pedras vivas» de um edifício espiritual maior, onde se podem saborear os frutos de reconciliação e de paz que o próximo ano jubilar celebra e, num certo sentido, antecipa (cf. 1P 2,5).

2. Na oportuna busca de novas abordagens culturais para melhor enfrentar os desafios do presente, é necessário que se conserve inalterada a finalidade da vossa Associação que, como tive ocasião de dizer no encontro de 16 de Janeiro de 1982, consiste em «pensar e promover a cultura em estreita conexão com a fé que professais, actuando uma verdadeira síntese entre a fé e a cultura. Esta é a vossa missão específica, à qual jamais vos podeis subtrair como homens de cultura ou como crentes, uma vez que tal síntese é exigência tanto da cultura como da fé» (Insegnamenti V/1, PP 129-130).

Consequentemente, deve-se cultivar com particular cuidado o carácter eclesial laical que, além de qualificar a presença do MEIC nos modernos areópagos culturais e profissionais, garante a sua identidade de movimento de pessoas amadurecidas na fé, co-responsáveis pela obra de evangelização, em união de intenções com outras experiências eclesiais, especialmente com a Acção Católica Italiana. Quanto a isto, muito beneficiará o Movimento o assíduo contributo dos Assistentes eclesiásticos, sinal do ligame com o Bispo e o Magistério da Igreja.

Os propósitos e a identidade do MEIC encontrarão num estilo de vida arraigado no Evangelho e experimentado na investigação científica e no serviço aos irmãos, a mais excelsa garantia de autenticidade e a capacidade de valorizar o passado para se abrir corajosamente ao futuro.

Ao realizarem a sua precípua vocação, os membros do MEIC serão orientados e estimulados por inumeráveis testemunhas fiéis a Deus e ao homem, algumas das quais foram elevadas às honras dos altares: de São José Moscati aos Beatos Contardo Ferrini e Piergiorgio Frassati, do Servo de Deus Paulo VI a José Lazzari, Vico Necchi, Itália Mela, Vitório Bachelet e aos numerosos homens e mulheres que assumiram com seriedade este imperativo: «Assim como Aquele que vos chamou é santo, sede também vós santos em todas as vossas acções, pois está escrito: "Sereis santos porque Eu sou santo"» (1P 1,15-16).

3. Por conseguinte, o tema da VII Assembleia nacional, «Testemunho do Evangelho e estilos de vida. A responsabilidade do MEIC» adquire uma singular característica de actualidade.

Diante dos limites e dos riscos de uma complexidade fragmentada, de um eclipse da razão crítica, de uma crescen-te separação entre fé e razão, é necessário despender contínuos esforços de análise e de síntese do contributo, paciente e às vezes difícil, que o crente deve oferecer ao mundo da cultura. Este exige o conhecimento dos multíplices estilos de vida presentes no contexto actual, o contacto real com a sociedade e o confronto com os vários ambientes, culturas e situações. Esta tarefa deve ser assumida por pessoas que, não só a nível individual mas coralmente, tenham a capacidade de meditar, discernir e criar uma sintonia entre os diversificados pólos culturais, ajudando a cultura leiga a situar-se naquele horizonte genuíno que consente ao homem a suprema realização de si mesmo (cf. Fides et ratio FR 107)

Interpretar as exigências da sociedade italiana, assumir as problemáticas mais radicais que inquietam as consciências e ao mesmo tempo apelam ao mistério de Deus, empenhar-se em criar o paciente equilíbrio que requer a «compenetração da cidade terrena e da cidade celeste», concebida na fé e destinada a consolidar a mesma vida civil, tornando-a mais humana (cf. Gaudium et spes GS 40): eis a contribuição do MEIC para o Projecto cultural orientado em sentido cristão, promovido pela Igreja que está na Itália!

Para servir de maneira cada vez mais incisiva a Igreja e a cidade do homem, o MEIC é chamado a enriquecer a sua diaconia à verdade com as características da criatividade e do esforço de permanecer sempre na perspectiva sapiencial que leva à nascente vivificante: o Senhor Jesus, de quem promanam a verdade e a graça (cf. Jo Jn 1,17).

Desta forma, as Igrejas locais e a mesma Comunidade nacional poderão receber um significativo contributo em vista da promoção de uma nova cultura aberta aos grandes valores humanos e cristãos.

4. Formulo votos por que esta Assembleia constitua para o MEIC um momento de renovada fidelidade, de profícua investigação e de corajosa projectação, e que nesta perspectiva o iminente Grande Jubileu do Ano Santo 2000 seja para todos os seus aderentes uma ocasião para encontrar Cristo e, n'Ele, «o verdadeiro critério para avaliar a realidade temporal e qualquer projecto que procure tornar a vida do homem cada vez mais humana» (Incarnationis mysterium, 1).

Com estes bons votos, enquanto invoco a materna intercessão da Virgem Sede da Sabedoria, que ensina a interpretar a história à luz do amor sempre novo do Pai, de coração concedo-lhe, venerado Irmão, bem como aos Representantes do MEIC, aos participantes na Assembleia e ao inteiro Movimento a implorada Bênção Apostólica, portadora da luz e da benevolência divinas.

Vaticano, 27 de Maio de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


DA COLIGAÇÃO DAS RADIOTELEVISÕES


LOCAIS LIVRES (CO.RA.LO)


Sexta-feira, 28 de Maio de 1999



Queridos operadores
das radiotelevisões locais!

1. Sede bem-vindos! Sinto-me feliz em vos receber por ocasião do Congresso da Co.Ra.Lo (Coligação das Radiotelevisões Locais Livres), durante o qual tendes a intenção de reflectir sobre o tema «Identidade e globalização». Obrigado por esta visita, que quer renovar a vossa fiel adesão ao Magistério da Igreja e ao Sucessor de Pedro. Saúdo-vos a todos com afecto.

Estais empenhados num sector de grande relevo social e pastoral. No meu encontro com o Episcopado italiano, nos dias passados, durante a sua Assembleia anual, ressaltei que é oportuno empenhar-se para tornar cada vez mais incisiva a presença cristã no âmbito da comunicação social. A vossa participação no encontro hodierno, tão numerosa e qualificada, testemunha e confirma o desejo que vos anima de contribuir, em plena comunhão com a Igreja, para a difusão do Evangelho. De facto, é grande o serviço que a mídia pode desempenhar, a fim de que o anúncio da salvação alcance todos, próximos e distantes.

2. Desde o seu nascimento, a Coligação da qual fazeis parte empenhou-se para apoiar e coordenar as emissoras locais, que inspiram o seu serviço nos valores cristãos. A comunicação social torna-se, dia após dia, mais complexa e assume um papel cada vez mais importan-te na formação da mentalidade e na construção da sociedade civil. A mesma obra de evangelização, na qual a Igreja está particularmente empenhada no limiar do Terceiro Milénio, encontra no uso dos mass media um percurso fundamental e imprescindível.

Por conseguinte, o vosso empenho não pode ser considerado marginal ou sectorial, também porque a comunicação se tornou a alma que dá forma à cultura do nosso tempo. Mas precisamente porque é a alma, não pode prescindir das suas responsabilidades em relação ao sentido e ao valor da vida. Por vezes a comunicação arrisca cobrir com a impetuosidade das imagens e dos sons o vazio, a pobreza das mensagens e a ausência de referências éticas válidas. Perante tal comunicação, que prefere ter receptores inermes em vez de protagonistas activos, para confundir em vez de ajudar a reflectir, é mais urgente do que nunca oferecer, com competência e criatividade, um suplemento de motivações e de conteúdos, a fim de realizar uma rede de comunicações ao serviço do bem.

3. À luz destas breves considerações, é fácil compreender que não são poucos os problemas que todos os dias acompanham o vosso trabalho. A vossa Coligação prodigaliza-se desde há anos por uma regulamentação das emissões radiotelevisivas que tenham em conta todos os indivíduos e, em primeiro lugar, a iniciativa local com igual dignidade e direitos em relação às transmissões nacionais e internacionais.

O rápido desenvolvimento tecnológico da época moderna poderia fazer pensar na superação da dimensão local. Mas não é assim. Com efeito, se a comunicação global oferece novas oportunidades ao intercâmbio entre os povos e as nações, podem surgir também novas e mais subtis formas de monopólio mediático, apoiadas por fortes interesses comerciais. Quando os instrumentos da comunicação social estão separados de um claro contexto social e humano, os modelos por eles veiculados manifestam-se massificados e individualistas de modo prevalecente, facilmente em antítese com o verdadeiro bem da pessoa, da família e da comunidade local.

No âmbito desde cenário a vossa presença é útil mais do que nunca para reafirmar a identidade cultural das comunidades locais e do seu território, com referência particular à tradição cristã e à difusão do Evangelho. O processo de globalização manifestar-se-á tanto mais válido e útil quanto mais souber valorizar as realidades locais com o seu património de identidade histórica e cultural. O princípio de subsidiariedade tem aqui uma aplicação peculiar e concreta. O legislador é chamado a conjugar as exigências das transmissões de carácter nacional com as locais, a fim de realizar uma integração total. Neste contexto deve ser reafirmado, em primeiro lugar, o papel das transmissões de serviço, das quais as rádios e as televisões católicas são uma actuação consolidada.

4. A Igreja acompanha com muita atenção este processo, convicta de que uma maior integração entre as transmissões locais e nacionais contribui muito para a evangelização via éter, e seguiu este caminho na Itália, dando início a um projecto de televisão e de rádio satelitares. Enquanto me congratulo pelos resultados obtidos, renovo os votos de que seja intensificada cada vez mais uma cordial colaboração e um apoio recíproco entre todos os meios de comunicação de inspiração cristã, nacionais e locais. É necessário, de igual modo, favorecer o incremento do interesse acerca da importância da comunicação social para a vida e missão da Igreja.

Queridos operadores, conheço a dedicação e as energias que a gestão dos meios de comunicação social requer. O vosso âmbito é difícil, está em contínua evolução, e requer preparação e profissionalidade; exige o respeito das pessoas, o zelo apostólico e a maturidade espiritual que se alimenta de oração e de fidelidade à Igreja.

Já estamos no limiar do Grande Jubileu do Ano 2000. A difusão e o extraordinário poder da mídia poderão contribuir para fazer ecoar em toda a parte a mensagem do grandioso acontecimento jubilar.

Os meus votos, enriquecidos pela oração, são por que vos façais intérpretes, de maneira criativa e com a linguagem específica de cada meio de comunicação, das respostas que o Evangelho dá aos anseios e às expectativas do homem de hoje, a fim de que cada um possa empreender um verdadeiro caminho de conversão e proceder com alegria rumo à casa do Pai.

Confio estes votos à materna intercessão de Maria, Estrela da evangelização, enquanto vos abençoo a todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE


DA SANTA CRUZ


Sábado, 29 de Maio de 1999



Ilustres Autoridades académicas e Professores
Gentis funcionários técnico-administrativos
Caríssimos estudantes

1. Estou feliz por vos acolher por ocasião do 15° ano de vida do Ateneu da Santa Cruz, que no dia 15 do passado mês de Julho recebeu o título de Universidade Pontifícia. Obrigado pela vossa visita! Com grande cordialidade saúdo cada um de vós, estimados professores, jovens universitários e funcionários técnico-administrativos. Agradeço de modo particular ao Grão-Chanceler, D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei, as palavras que em nome de todos teve a amabilidade de me dirigir.

A vossa Universidade, nascida do zelo apostólico do Beato José Maria Escrivá, propõe-se procurar e promover a verdade com honestidade intelectual e respeito pela Revelação. Como tal, esta sente-se colocada ao serviço da Igreja, chamada neste nosso tempo a um esforço missionário mais corajoso, na perspectiva do terceiro milénio.

2. Observo com apreço que a vossa Universidade, respondendo a uma preciosa necessidade do mundo contemporâneo – de introduzir, com competência profissional e sentido eclesial, o mundo da opinião pública e dos meios de comunicação modernos, numa compreensão cada vez maior da riqueza que promana da vida da Igreja – projectou a Faculdade de Comunicação Social Institucional, com a finalidade de formar de maneira específica pessoas capazes de colaborar com os Bispos, com as Conferências Episcopais e com outras Instituições eclesiais, na transmissão da recta informação sobre a Igreja mediante os meios de comunicação social. Trata-se de uma iniciativa que tem em conta as actuais exigências da comunicação. Formulo cordiais bons votos por que este vosso esforço possa favorecer a difusão e a inculturação do Evangelho, alegre notícia de autêntica libertação, a todos os estratos da vida social e civil.

Depois, quereria recordar a inserção na vossa Universidade do Instituto Superior de Ciências Religiosas no Apolinário, criado há anos com grande clarividência pelo Cardeal Pietro Palazzini. Com a sua peculiar metodologia à distância, esta vossa estrutura oferece a oportunidade de uma formação académica e eclesial aos encarregados do ensino da religião nas escolas, da catequese nas paróquias e das várias modalidades de apostolado.

3. O escudo da vossa Universidade retoma um desenho do Beato José Maria Escrivá e evoca o sentido do vosso trabalho. O seu elemento central é uma cruz grega, cujos braços terminam em pontas de flecha. Assim, parece que a Cruz está como que em tensão rumo a todas as direcções, estendida para abraçar a humanidade e o inteiro universo. Ao lado da Cruz, lêem-se as palavras Iesu Christus, Deus Homo. Como é significativa esta síntese da orientação da actividade didáctica e da investigação! A Cruz é a suprema revelação do mistério do Verbo encarnado, perfectus Deus, perfectus homo (cf. Símbolo Quicumque). No seu amor inefável, Cristo crucificado revela, de forma arrebatadora, a infinita misericórdia do Pai para com os homens de todos os tempos.

A sabedoria da Cruz é uma luz que ilumina o sentido da existência humana. É com razão que Santo Agostinho fala da Cruz como da cátedra do divino Mestre: «Lignum illud ubi erant fixa membra morientis, etiam cathedra fuit magistri docentis» (In Ioann. Ev EV 119,2, CCL 36, 658). Foi desta cátedra que recebemos a sublime lição do amor de Deus por nós. Os limites da ciência são paradoxalmente superados pela fé no Homem-Deus, pregado na Cruz e ressuscitado pelo Pai. Compete a nós não nos afastarmos desta cátedra. Só desta forma encontraremos, como o Beato José Maria Escrivá gostava de repetir, Lux in Cruce, gaudium in Cruce, requies in Cruce: a luz, a alegria e a paz que brotam do desígnio salvífico. Só deixando-se imergir pelo Espírito Santo no mistério de Cristo é que o pensamento teológico se iluminará de sabedoria e chegará a compreender plenamente o sentido da Cruz, itinerário de salvação do homem, de purificação do coração e da mente.

4. Neste tempo em que por vezes se assiste à dispersão do saber e a uma difundida desconfiança na capacidade da razão de alcançar a verdade, considerei oportuno publicar a recente Encíclica Fides et ratio, um texto a aprofundar de maneira particular por quantos actuam nas faculdades de ciências eclesiásticas. Esta, bem como a Encíclica Veritatis splendor com a qual se coloca em continuidade, representa uma orientação fecunda para o trabalho daquelas pessoas que se dedicam ao estudo da teologia, das ciências sagradas e da filosofia. É em Cristo, Deus e Homem, que resplandece a perfeita harmonia entre natureza e graça. Ao longo dos séculos, este maravilhoso equilíbrio deu inumeráveis frutos de conhecimento. Os diversos saberes sectoriais ainda têm necessidade da luz da teologia, acompanhada por uma filosofia sapiencial de alcance verdadeiramente metafísico.

A contemplação da união do humano e do divino em Cristo, de modo particular em Cristo crucificado, não deixará de vos ajudar a integrar as várias categorias do conhecimento, a cultivar a interdisciplinariedade e a abrir-vos para a verdade integral. Além disso, nesta tarefa ser-vos-á de válida guia S. Tomás de Aquino, em cuja reflexão «a exigência da razão e a força da fé encontraram a síntese mais elevada que o pensamento jamais alcançou, enquanto soube defender a novidade radical trazida pela Revelação, sem nunca humilhar o caminho próprio da razão» (Fides et ratio FR 78).

5. Caríssimos, encorajo-vos a dar continuidade ao vosso compromisso de aprofundamento doutrinal, vivificado pelo constante anélito à santidade. Oxalá quantos frequentam a vossa Universidade sejam ajudados a enfrentar os desafios que a cultura e a sociedade hodierna apresentam à fé; sejam auxiliados a tornar-se apóstolos da nova evangelização, dóceis ao Espírito Santo e fiéis ao Magistério da Igreja.

Maria, Sede da Sabedoria, vos proteja sempre e seja o porto seguro para quantos consagram a própria vida à busca da verdade.

Com estes sentimentos, abençoo-vos do íntimo do coração.

Hoje, na vigília da Santíssima Trindade, queremos adorar este mistério da nossa fé com a oração conclusiva do «Angelus Domini».




Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 20 de Maio de 1999