Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 28 de Junho de 1999

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


A SUA SANTIDADE KAREKIN I


CATHOLICOS-PATRIARCA SUPREMO


DE TODOS OS ARMÉNIOS




A Sua Santidade KAREKIN I
Catholicos-Patriarca Supremo de todos os Arménios

1. Dado que a minha visita oficial à Arménia e à Igreja Apostólica Arménia teve de ser adiada, e as circunstâncias me impediram encontrar Vossa Santidade no termo da minha visita pastoral à Polónia, escrevo-lhe para assegurar a minha proximidade espiritual neste momento difícil por causa da doença, enquanto Vossa Santidade está a oferecer um comovedor testemunho de Cristo que sofre.

Confio esta mensagem ao Cardeal Edward Idris Cassidy, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que lhe levará pessoalmente os meus sentimentos de profunda estima e afecto fraterno. Recordo com gratidão as duas visitas que Vossa Santidade, como Catholicos e Patriarca Supremo de todos os Arménios, me fez em Roma, e saúdo cordialmente os membros do Santo Sínodo, assim como a inteira Igreja Apostólica Arménia, à qual formulo os meus melhores votos.

2. Desejei ardentemente visitar a Arménia, onde à sombra do Monte Ararat a fé cristã lançou raízes profundas e cresceu vigorosa. Levada pelos apóstolos Bartolomeu e Tadeu, alimentada também pelo contributo das Igrejas da Capadócia, de Edessa e Antioquia, a fé cristã modelou a cultura arménia, assim como, por outro lado, a cultura arménia contribuiu para enriquecer a compreensão da fé cristã, com novas e singulares expressões. Nestes dias, a liturgia arménia celebra a memória dos Santos tradutores Sahak e Mashtots. A criação de um alfabeto nacional por parte do monge Mashtots constituiu um significativo passo rumo à formação de uma nova cultura cristã na Arménia.

Há alguns meses, tive a honra de me unir a Vossa Santidade para inaugurar no Vaticano uma exposição dedicada à história e à cultura arménia. Que magnífica herança, tão intimamente permeada de espiritualidade cristã! Os povos que acolhem o ensinamento de Cristo não devem renunciar à própria identidade; ao contrário, haurem do Baptismo nova linfa em benefício do próprio génio nacional. Santidade, aguardo com impaciência poder fazer experiência pessoal, quando as circunstâncias o permitirem, da extraordinária criatividade que caracterizou e plasmou o povo arménio ao longo dos séculos.

Vivendo nas encostas do Monte Ararat, os Arménios foram sempre um povo de «fronteira». Ao longo da sua história, essa posição geográfica deixou neles uma profunda marca. Com efeito, tendo haurido da herança missionária, espiritual, litúrgica e cultural da inteira «oikumene» cristã, a Igreja Apostólica Arménia desenvolveu a própria identidade em espírito de grande abertura às diferentes tradições eclesiais circunstantes. Ao longo dos séculos, ela empenhou-se em directos e fecundos intercâmbios com as tradições siríaca, bizantina e latina.

O mesmo espírito de abertura tornou-a capaz de oferecer ajuda e apoio às Igrejas vizinhas, quando estas tiveram de enfrentar momentos de provações e de adversidades. O actual contributo da Igreja Apostólica Arménia ao movimento ecuménico é parte de uma longa tradição de abertura e de intercâmbio fraterno.

3. No interior do mundo cristão, o Leste e o Oeste nunca estiveram completamente isolados entre si; sempre houve momentos de interacção e áreas de enriquecimento mútuo. Uno-me a Vossa Santidade na oração, a fim de que o património teológico e espiritual das nossas respectivas tradições possa continuar a enriquecer-nos reciprocamente. Seja-nos dado viver fiéis ao ensinamento de São Paulo: «Há, pois, diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; e há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos» (1Co 12,4-6).

Ainda que muitos esforços ecuménicos durante os séculos não tenham tido bom êxito, o espírito e os princípios que os motivaram não perderam de modo algum o seu valor. Como não recordar aqui os passos empreendidos pelo Catholicos Nerses Snorhali para promover a comunhão entre a Igreja arménia e a bizantina? As suas cartas ao imperador bizantino permanecem um testemunho ecuménico de primeira ordem, capaz ainda hoje de nos inspirar enquanto caminhamos em direcção do restabelecimento da plena comunhão entre a Igreja Católica e a Igreja Apostólica Arménia. A única condição necessária para a união, declarava o Catholicos Nerses Snorhali numa das suas cartas, é a verdade da fé na caridade. Seja-nos dado, também a nós, poder redescobrir a nossa plena comunhão, precisamente na verdade da fé animada pela caridade!

Santidade, este é o meu desejo e da inteira Igreja católica. A visita do Cardeal Cassidy, em meu nome, para lhe entregar esta mensagem, quer ser uma confirmação desta esperança.

4. A partir do Concílio Vaticano II, a Igreja Católica e a Igreja Apostólica Arménia desenvolveram novos e mais profundos vínculos de comunhão. Quando o Papa Paulo VI e o Catholicos Vasken I trocaram o ósculo de paz, selaram uma nova relação entre as nossas Igrejas. Isto ocorreu a 9 de Maio de 1971. Desde aquele dia memorável, quantos felizes encontros e intercâmbios nos conduziram a estar mais próximos! Desejo de modo especial agradecer-lhe, Santidade, tudo o que fez e ainda está a fazer para assegurar que se realize o desejo dos cristãos quanto à plena unidade. Desde o tempo em que participou no Concílio Vaticano II como Observador, Vossa Santidade não cessou de trabalhar por uma comunhão mais completa entre as nossas Igrejas. Quando Vossa Santidade visitou Roma em Dezembro de 1996, pudemos assinar uma Declaração conjunta, na qual notámos com alegria que «os recentes desenvolvimentos das relações ecuménicas e os debates teológicos, conduzidos em espírito de amor cristão e de fraternidade, dissiparam muitos dos mal-entendidos herdados das controvérsias e divergências do passado». Oxalá estes felizes desenvolvimentos nos inspirem a continuar a busca das melhores vias para restabelecer a plena comunhão entre as nossas Igrejas, de maneira que juntos possamos dar testemunho do amor de Deus.

5. Uma questão crucial no caminho rumo à plena comunhão refere-se ao ministério do Bispo de Roma. Desde a minha eleição à Sé de Pedro, tenho procurado exercer este ministério como um efectivo serviço à comunhão de todas as Igrejas. Inspirado pela missão de Pedro, esforcei-me por ser o servidor da unidade e continuarei a fazê-lo. Mas o exercício deste serviço de unidade concerne a todos nós. É por isto que, na minha Carta Encíclica Ut unum sint, pedi ao Espírito Santo que «nos dê a sua luz e ilumine todos os pastores e os teólogos das nossas Igrejas, para que possamos procurar, evidentemente juntos, as formas mediante as quais este ministério possa realizar um serviço de amor, reconhecido por uns e por outros» (n. 95).

Ajude-nos o Espírito Santo a concentrar agora os nossos esforços de maneira que, com mais tacto, paciência e amor, cheguemos finalmente a recompor o tecido da Igreja indivisa. Onde no presente não pudermos encontrar a via aberta, com certeza o futuro nos mostrará novos caminhos. Em vista disto, é para desejar que nos empenhemos em instaurar novas formas de cooperação pastoral entre a Igreja Apostólica Arménia e a Igreja Católica. Isto poderá ajudar-nos a encontrar ulteriores passos de aproximação, de maneira a superarmos gradualmente todo o resíduo elemento de tensão.

6. Santidade, após as grandes mudanças sociais e políticas que a Arménia conheceu nos últimos dez anos, também vós tendes pela frente um vasto campo para a renovação da Igreja. A Igreja Apostólica Arménia não está sozinha ao enfrentar este grande desafio. A construção de uma nova Catedral, dedicada a São Gregório, o Iluminador, no centro de Ierevan, é um eloquente símbolo da nova energia que a sua Igreja está a experimentar. Queira o Senhor abençoar as múltiplas iniciativas da Igreja Apostólica Arménia e vos permita beneficiar daquela solidariedade de todas as Igrejas, recomendada por São Paulo: «Levai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo» (Ga 6,2).

7. Em diversas ocasiões Vossa Santidade falou da fortaleza e do espírito de tolerância como características especiais do povo e da Igreja Apostólica da Arménia. É deveras significativo o facto de se encontrarem em toda a parte na Arménia os «khatchkar», as grandes pedras que representam a Cruz gloriosa do Salvador. Ao longo da vossa história, elas foram esculpidas e postas lá onde os arménios desejavam aclamar e invocar o seu Redentor. Estes «khatchkar» tornaram-se um símbolo especial das provações e humilhações que o Povo arménio sofreu. E quantas ele teve de suportar, em particular no início deste século! A Cruz de Cristo foi a vossa experiência quotidiana. Mas, assim como a Virgem Maria aos pés da Cruz, o Povo arménio manteve-se fiel diante de toda a adversidade.

A Cruz de Cristo foi a vossa glória e a vossa força. Oro para que em toda a Arménia o alvorecer dum novo dia possa dar renovado significado aos símbolos gloriosos dos «khatchkar», fazendo com que o poder pacífico e solene do Redentor resplandeça ainda mais luminoso. Possa a Virgem Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, sustentar todos os crentes na confiança em Deus e no empenho do testemunho cristão.

Permaneço ao seu lado com a oração e juntamente com Vossa Santidade dou glória e louvor Àquele que jamais deixa de reunir os seus na unidade: o nosso único Senhor e Salvador Jesus Cristo!

Roma, 29 de Junho de 1999, Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo.

PAPA JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO INSTITUTO DAS FILHAS DE SÃO JOSÉ


DO CABURLOTTO POR OCASIÃO


DO XXIII CAPÍTULO GERAL




Queridas Irmãs do Instituto
Filhas de São José do Caburlotto!

1. Saúdo-vos com afecto, por ocasião do XXIII Capítulo Geral da vossa Congregação. A assembleia capitular realiza-se na vigília do ano 2000, que assinalará os 150 anos de fundação da vossa Família religiosa. Nesta circunstância, quereria exprimir-vos gratidão e apreço pelo serviço apostólico que prestais à Igreja. Ao mesmo tempo, quereria aproveitar a ocasião para reflectir juntamente convosco sobre a vossa missão, no contexto das experiências que se acumularam no decurso dos anos.

Um grato pensamento dirige-se, antes de tudo, ao Venerável Fundador, Mons. Luigi Caburlotto, cujas virtudes heróicas foram por mim reconhecidas com decreto de 2 de Julho de 1994. Ele deixou-se conduzir, em tempos difíceis, pelo apelo evangélico a fazer-se educador, pai das crianças e dos jovens provados pela pobreza e o abandono. A experiência ensinara-lhe quanto são importantes a educação e a instrução escolar, também em vista da evangelização. Por isso, dedicou-se com incansável zelo à fundação de escolas populares e de institutos de formação, sem transcurar a colaboração com as instituições públicas.

2. Fiéis ao mandato do vosso Fundador, para o próximo Capítulo escolhestes como tema de reflexão: «Carisma de fundação e Regra de vida». Quereis assim examinar de novo, à luz do Magistério da Igreja, o património espiritual, pedagógico e missionário herdado de um passado mais que secular. As condições sociais dos países em que actuais, a crise das vocações, as problemáticas conexas com as legislações escolares e a educação dos menores impõem-vos uma profunda reflexão em termos de formação, de mentalidade, de linguagem e de opções apostólicas.

Olhando para o caminho percorrido, sentis necessidade de dar graças a Deus pelo bem realizado no vosso Instituto e pelos frutos apostólicos que enriqueceram as fases da sua história. Ao mesmo tempo, a consciência dos desafios do presente impele-vos a fazer das Constituições, do Directório espiritual e do Directório normativo o objecto da vossa meditação e de um estudo sistemático, para recuperar com toda a sua força a espiritualidade típica do Instituto. Preciosa será, a este respeito, a leitura dos escritos do Venerável Fundador, património que pertence a todas as Coirmãs e constitui uma guia segura para o futuro.

3. Com a Assembleia capitular preparais-vos para dar um ulterior passo, mais importante do que nunca: a nova redacção da vossa Regra de vida, em obediente escuta da voz do Magistério, que reconhece o carisma dos Fundadores. A particular experiência do Espírito feita pelo Fundador foi por ele transmitida a vós, para que fosse desenvolvida constantemente, em dócil adesão às directrizes da Igreja e com atenta análise dos sinais dos tempos. Com efeito, essa preciosa herança configura-se como um peculiar modo de viver os conselhos evangélicos, um concreto estilo de vida espiritual, uma particular forma de apostolado, uma característica experiência comunitária, uma específica inserção no mundo.

A vossa Família religiosa, tendo amadurecido uma consciência sempre maior da própria identidade apostólica, agora tem em vista reformular o radicalismo das próprias origens. Nesta perspectiva, no Capítulo Geral propondes-vos proceder a uma nova redacção da Regra de vida, que faça emergir com mais evidência a fisionomia apostólica das Filhas de São José do Caburlotto para o terceiro milénio.

De coração faço votos por que deste esforço surja uma apresentação, sempre mais orgânica, do vosso carisma específico, nas suas componentes espirituais, comunitárias e apostólicas. Não faltará, em particular, uma explícita referência ao mistério da Encarnação contemplado em Nazaré, do qual deriva aquela típica «devoção do coração», que sintetiza o vosso específico estilo de oração.

4. Aproveitando este encontro, desejo dirigir a todas vós, Filhas de São José do Caburlotto, uma palavra de cordial encorajamento. Sabei viver e propor a vossa consagração religiosa como um bem para a pessoa humana, testemunhando em todos os momentos uma radical fidelidade ao carisma educativo. Seja profunda em cada uma de vós a abertura missionária, em apoio às vossas Irmãs empenhadas nas fronteiras da missão «ad gentes». Orai incessantemente, para que o Senhor envie muitas e santas vocações ao Instituto. A oração seja confortada pela oferta dos sofrimentos quotidianos. De maneira especial, penso nas vossas Irmãs idosas e doentes, que com os seus sofrimentos constituem um precioso apoio espiritual para a Congregação.

Reine entre vós, Irmãs de diferentes origens e idades, o amor constante, que brota do coração de Cristo. Sede sinal eloquente desta caridade divina, com a vida e as actividades quotidianas. Jamais o vosso olhar se afaste de Cristo que, no mistério pascal, nos revela a misericórdia do Pai celeste. A cada uma Ele repete: «Nada temas, porque Eu te resgatei, e te chamei pelo teu nome; tu Me pertences» (Is 43,1). E então, tendo feito experiência de ser por Ele amadas com um amor sem limites, sede prontas e desejosas de compartilhar com os outros esta mesma riqueza espiritual. O amor de Cristo, que há 150 anos inspirou o vosso Fundador e vos sustentou até agora, a vós e às vossas Irmãs, seja sempre o centro da vossa existência.

Maria, a celeste Mãe de Deus e da Igreja, vos proteja e torne frutuosos os trabalhos do vosso Capítulo Geral. Asseguro, da minha parte, uma constante lembrança na oração, enquanto de bom grado abençoo a Madre-Geral, as Capitulares e todas as Religiosas do vosso Instituto.

Vaticano, 30 de Junho de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II


                                                                                  Julho de 1999


CARTA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO CARDEAL ANGELO SODANO, LEGADO PONTIFÍCIO


AO ENCONTRO EUROPEU DA JUVENTUDE


EM SANTIAGO DE COMPOSTELA




Ao Venerado Irmão
Senhor Cardeal ANGELO SODANO
Secretário de Estado

Ao longo dos séculos, os peregrinos acorreram em grande número ao insigne templo de Santiago de Compostela, com a esperança de alcançar favores celestiais. Este percurso continua a caracterizar-se por singulares benefícios espirituais, de tal forma que o itinerário percorrido pode ser comparado com uma elevação espiritual. É precisamente por isso que, de maneira muito oportuna, como que desejando reviver os gloriosos acontecimentos do passado, os jovens de todas as regiões da Europa se reunirão proximamente nesse lugar para reafirmar iniciativas e propósitos, renovando o seu fervor espiritual.

Com efeito, numerosíssimos jovens marcaram encontro ali de 4 a 8 do próximo mês de Agosto, com a finalidade de reflectir sobre a mensagem evangélica e de professar com confiança: «In verbo tuo... possumus». Com entusiasmo, generosidade e sem hesitações, estes jovens propõem-se construir um mundo mais sereno e justo em que triunfem os princípios da rectidão e da justiça.

Por isso, é de bom grado que quis acolher o pedido dos nossos venerados Irmãos no Episcopado espanhol, os quais me expressaram o desejo de receber um meu representante, para aumentar o prestígio e a solenidade deste acontecimento. Pensei precisAmente em Vossa Eminência, dilecto Irmão, porque estou persuadido de que o Senhor Cardeal pode cumprir de maneira perfeita esta missão, pois já demonstrou que sabe dialogar com os jovens nos vários países da Europa e conhece a sua mentalidade e os seus anseios.

Assim, venerado Irmão, envio-o como Legado pontifício a este encontro. A todos os jovens participantes, aos quais em muitas ocasiões manifestei confiança e afecto, transmita a minha dedicada proximidade e comunhão espiritual. Invoco sobre todos eles a protecção de São Tiago, a fim de que os cumule de favores celestiais e os ajude a seguir o Seu exemplo com esmero. Enfim, desejo que lhes conceda em meu nome a Bênção apostólica como auspício de graças celestes e penhor de renovação espiritual.

Vaticano, 4 de Julho de 1999, vigésimo primeiro ano de Pontificado.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA CONGREGAÇÃO


DOS CLÉRIGOS MARIANOS


POR OCASIÃO DO CAPÍTULO GERAL


Quinta-feira, 1° de Julho de 1999



Caríssimos Irmãos!

1. É-me grato apresentar cordiais boas-vindas a todos vós, que participais no Capítulo Geral dos Clérigos Marianos, e agradeço ao Superior-Geral as palavras que me dirigiu em vosso nome. Envio uma particular saudação aos Clérigos Marianos chamados a exercer o ministério episcopal: ao Cardeal Vincentas Sladkevicius (Kaunas), a D. Juozas Zemaitis (Vilkaviskis), a D. Jan Olszanski (Kamiemec), a D. Jan Pawel Lenga (Karaganda), e a todos os vossos Coirmãos Marianos, em qualquer parte do mundo onde eles se encontrem, de modo especial aos doentes e aos que sofrem.

Na vida de uma Congregação, o Capítulo Geral constitui uma ocasião intensa de comunhão fraterna, na qual, segundo as palavras de São Basílio: «a energia do Espírito que está em alguém, passa contemporaneamente a todos». Este nosso encontro foi antecipado, num certo sentido, pela minha visita, do dia 8 de Junho passado, ao Santuário Mariano de Licheñ. Durante os poucos momentos que pude transcorrer com os vossos Coirmãos, notei a presença de jovens e anciãos juntos e soube que ali estavam Padres provenientes de diversas partes do mundo. Foi uma edificante imagem de comunhão fraterna. O empenho em consolidar e aprofundar esta comunhão fora um dos objectivos a que a vossa Congregação se propusera para o sexénio, que está a caminhar para o seu termo.

Prossegui, caríssimos, por esta estrada! Seja vosso cuidado constante animar e aprofundar a vida fraterna nas províncias, vice-províncias, vicariatos e em cada uma das casas. Tende diante de vós o exemplo dos primeiros cristãos, que eram assíduos na escuta do ensinamento dos Apóstolos, na oração comum, na participação da Eucaristia, na partilha dos bens materiais e espirituais (cf. Vita consecrata VC 45).

2. Celebrámos há pouco a Festa dos Santos Pedro e Paulo. Jesus chamou Pedro para ser fundamento da Igreja, mas ao mesmo tempo deixou que ele, ao experimentar a própria fragilidade, entendesse como a graça de Deus é mais poderosa do que as debilidades humanas. Também Paulo na via de Damasco foi transformado de perseguidor dos cristãos em apóstolo das nações.

Como não pensar que, ao lado de Jesus, o apóstolo Pedro tenha encontrado a Bem-aventurada Virgem? Houve um dia, sobretudo, que Pedro e os apóstolos viveram intensamente juntos com Maria: o dia de Pentecostes, quando nasceu a Igreja. Sem dúvida, a efusão dos dons do Espírito preencheu então, de modo particular, o coração de Maria, Mãe de Cristo, tornando-a também a Mãe da Igreja.

Caros Padres Marianos, é muito significativo que a vossa Congregação, a primeira fundada por um polaco, tenha um carácter tipicamente mariano, estando ligada à Imaculada. No século XVII, quando começou a delinear-se a crise do outrora poderoso Estado polaco, o Padre Stanislau Papczynski procurou um apoio na Imaculada. Eis a orientação que vos deixou: em toda a dificuldade recorrei ao auxílio da Imaculada. Nisto, ele não fazia outra coisa senão acolher o convite do próprio Jesus que, da Cruz, indicou Maria como mãe ao apóstolo João.

Seja grande em vós a confiança em Maria Santíssima, como o Padre Papczynski vos ensinou com o seu exemplo! Recorrei a Ela com fervor, especialmente quando se trata de enfrentar graves perigos ou momentos de crise.

3. O Refundador da vossa Congregação, Jorge Matulaitis-Matulewicz, que há doze anos tive a alegria de proclamar Beato, entendera perfeitamente o profundo vínculo que une a Mãe de Jesus à Igreja. Entre os doze «Princípios de firmeza» da Congregação renovada, ele colocou em primeiro lugar a recomendação de «manter um forte e inflexível vínculo com a Igreja e a sua Cabeça, o Bispo de Roma, e com toda a hierarquia católica [...]. Através da Igreja e na Igreja pertencer a Deus e a Jesus Cristo nosso Senhor, a fim de que seja Ele o centro pleno da nossa vida» (A ideia-guia e o espírito da Congregação, 55).

Ele amou a Igreja e deixou-vos este amor como herança. Durante a sua obra de renovação da Congregação dos Marianos, anotou no seu diário espiritual: «Deus queira que um só e grande pensamento nos atraia: trabalhar pela Igreja, por ela suportar canseiras e sofrimentos, preocupar-nos das coisas da Igreja até ao ponto de os seus sofrimentos, preocupações e feridas se tornarem as nossas preocupações, sofrimentos e feridas do coração» (Diário espiritual, 27 de Outubro de 1910).

4. Tendo confiança na ajuda da Bem-aventurada Virgem Maria, dispondes-vos a participar de maneira generosa na nova evangelização, que exige dos consagrados plena consciência do sentido teológico dos desafios do nosso tempo (cf. Vita consecrata VC 81). Em atitude de fiel adesão ao Magistério da Igreja, continuai a cultivar as vossas múltiplas actividades na Polónia, noutros Países europeus, na América e na Austrália. Encorajo-vos a perseverar e abençoo as escolas, as casas editoras, as paróquias, as casas de retiro, os santuários, as obras de misericórdia, os serviços para emigrados e as outras benéficas instituições a que atendeis.

Penso, em particular, no trabalho da Família religiosa na Lituânia, Letónia, Ucrânia, Bielo-Rússia e Cazaquistão, e exprimo-vos satisfação por tudo o que fazeis na República Tcheca e na Eslováquia, assim como pela actividade realizada durante cinco anos na Estónia. Muitos dos vossos Coirmãos pagaram, com a vida ou com anos nos campos de concentração, a dedicação à causa do Evangelho. O empenho em continuar e consolidar esta vossa difícil, mas importante, presença deve constituir hoje uma das vossas prioridades apostólicas.

O Senhor torne fecunda de frutos espirituais particularmente a vossa actividade em África, de modo especial no atormentado Ruanda e, no próximo futuro, nos Camarões, assim como noutras zonas de fronteira como o Alasca, ou noutras regiões escassas de clero. Ir ao encontro das Igrejas dramaticamente desprovidas de sacerdotes, estar presente nas situações difíceis em vários lugares da terra: tudo isto responde plenamente ao vosso carisma. O vosso Beato Refundador traçou para vós precisamente este caminho: deveis ir «lá onde a Igreja se encontra em maior dificuldade [...], onde Cristo é menos conhecido, ou até odiado» (Ideia-guia, 18).

5. Caros Clérigos Marianos, o vosso empenho no apostolado da Divina Misericórdia e os esforços pastorais sejam acompanhados sempre pelo testemunho do serviço aos pobres: «Servir os pobres é acto de evangelização e, ao mesmo tempo, selo de fidelidade ao Evangelho e estímulo de conversão permanente para a vida consagrada» (Vita consecrata VC 82). Por este motivo, sois chamados a empreender corajosas iniciativas em resposta aos sinais dos tempos, seguindo os passos do vosso Fundador e do vosso Refundador. Sede fiéis, em particular, ao vosso carisma, adaptando as suas formas, quando for necessário, às novas situações, em plena docilidade à inspiração divina e ao discernimento eclesial.

O vosso Capítulo, aderindo às recomendações da Exortação Apostólica Vita consecrata (cf. n. 68), prepara-se para aprovar a Ratio formationis elaborada nestes seis anos para a Congregação inteira. A formação é mais do que nunca importante para o futuro mesmo da Congregação. Deus vos ajude e a sua protecção vos acompanhe constantemente durante os trabalhos do Capítulo e na eleição do novo Governo Geral.

Da minha parte, asseguro-vos uma constante lembrança na oração e, ao invocar a celestial assistência de Maria Imaculada sobre o vosso caminho rumo ao terceiro milénio, a todos concedo de coração a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO TOGO POR OCASIÃO


DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 2 de Julho de 1999



Caros Irmãos no Episcopado!

1. Estou particularmente feliz por vos acolher, a vós Bispos da Igreja católica no Togo, enquanto realizais a vossa visita ad Limina. A vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos é uma ocasião privilegiada que vos é oferecida para revigorar em vós os dons recebidos do Senhor, a fim de cumprirdes a missão que recebestes de ensinar, santificar e governar o povo de Deus (cf. Decreto Christus Dominus CD 2)). Que os vossos encontros com o Bispo de Roma e com os seus colaboradores sejam para vós momentos fortes de comunhão eclesial, que vos hão-de ajudar na vossa missão ao serviço do povo togolês!

Agradeço intensamente ao Presidente da vossa Conferência Episcopal, D. Philippe Kpodzro, Arcebispo de Lomé, as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome. Elas demonstram o afecto que as vossas comunidades nutrem pelo Sucessor de Pedro. Quando retornardes às vossas dioceses, transmiti a minha saudação afectuosa aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos catequistas e aos leigos dos quais sois os Pastores. Que Deus dê a cada um a força de manifestar com ardor a fé recebida no Baptismo. Através dos vossos fiéis, é ao inteiro povo do Togo que me dirijo, desejando-lhe de todo o coração que prossiga, com coragem e na esperança, pelos caminhos do verdadeiro progresso humano e espiritual.

2. No decurso dos últimos anos, no vosso País foram erigidas três Dioceses. Saúdo cordialmente os novos Bispos, e alegro-me com a vitalidade da Igreja no Togo cujo sinal é dado por estas criações. Juntamente convosco dou graças a Deus pelo dom da fé que Ele não cessa de difundir no vosso povo. Isto constitui para vós e para todos os católicos uma exigência de santidade de vida e de testemunho ainda mais activo a ser dado a Cristo, a fim de prosseguirdes com renovado ardor uma evangelização profunda da sociedade. Tendo como base a Exortação Apostólica Ecclesia in Africa, vós sabereis encontrar as vias novas que vos permitirão, com a ajuda do Espírito Santo, contribuir para a edificação e o crescimento da Igreja, Família de Deus, comunidade de discípulos de Cristo, solidária, calorosa e aberta a todos.

Para desempenhar esta pesada tarefa, os Pastores são chamados a seguir Cristo de maneira resoluta, o qual quis cumprir o desígnio de amor de seu Pai a favor dos homens, pondo-se ao serviço do mais humilde dos seus irmãos. Mediante a profunda comunhão recíproca, os membros da Conferência Episcopal dão um eminente testemunho da unidade da missão da Igreja, e encontram nela uma ajuda eficaz no exercício do seu ministério pastoral. Faço votos também por que uma real solidariedade se manifeste entre as Dioceses, mediante uma distribuição adequada do pessoal apostólico, que consinta ajudar de modo generoso as mais pobres. Ao atribuirdes o primeiro lugar à vossa missão espiritual ao serviço dos fiéis e dos homens de boa vontade, sede para eles guias ao longo das vias da santidade, a fim de que todos possam realizar plenamente a vocação que receberam do seu Criador!

Por outro lado, como já escrevi na Encíclica Sollicitudo rei socialis, o exercício do ministério da evangelização no âmbito social faz parte da função profética da Igreja (cf. n. 41). Com efeito, o anúncio da mensagem evangélica aos homens e às mulheres do nosso tempo, precisa de estar atento às realidades da sua vida quotidiana. A Igreja tem o dever de contribuir para o bem comum, com todos os homens de boa vontade, a fim de que a dignidade e os direitos legítimos de cada pessoa sejam sempre mais respeitados. Por isto, exorto vivamente as vossas comunidades a testemunharem sempre e em toda a parte os valores evangélicos que o Senhor nos deixou. Que elas se recordem de que Deus nos enviou «o Espírito da verdade que procede do Pai» (Jn 15,26), lembrando-nos assim a importância essencial da verdade para construir a própria vida pessoal e edificar a sociedade! Sem ela, nada pode subsistir de modo duradouro, e o homem não pode encontrar a verdadeira liberdade. Com efeito, «num mundo sem verdade, a liberdade perde a sua consistência, e o homem acaba exposto à violência das paixões, e a condicionalismos visíveis ou ocultos» (Encícilica Centesimus annus CA 46).

3. Desde há mais de um século a Boa Nova de Cristo é anunciada na vossa terra. Convosco, dou graças a Deus pelo devotamento por vezes heróico de todos os missionários, homens e mulheres, que permitiram a implantação e o crescimento da Igreja no Togo. Àqueles e àquelas que continuam a obra destes pioneiros do Evangelho, reafirmo a estima e o encorajamento do Sucessor de Pedro.

Dirijo uma cordial saudação aos vossos sacerdotes que, juntamente convosco, assumem hoje grande parte do trabalho de evangelização. Que também eles tenham como modelo de vida apostólica Cristo, que veio para servir e não para ser servido! Que o seu ministério, do qual conheço não só as alegrias e as esperanças, mas também as fadigas e as dificuldades, seja um serviço generoso e abnegado à missão da Igreja junto de todos os homens! Convido-os com vigor a unificar e a vivificar o seu ser e o seu agir sacerdotais, mostrando-se, na intimidade da própria existência, apegados a Cristo, como seus amigos. Assim, serão capazes de propor aos outros uma experiência de vida cristã e espiritual. Convido-os, pois, a aprofundar de modo particular o seu encontro com Cristo, mediante a «fiel meditação da Palavra de Deus, a activa participação nos mistérios sacrossantos da Igreja, o serviço da caridade aos simples» (Exort. Apost. Pastores dabo vobis PDV 46). Nos momentos de tentação e de desânimo, é graças a uma vida espiritual sólida, fundada sobre este encontro pessoal e quotidiano com o Senhor, que eles encontrarão a força para viver com generosidade os compromissos assumidos no dia da sua ordenação. Desejo também que reavivem o dom que receberam de Deus, atribuindo à formação permanente o lugar que lhe corresponde. De facto, ela é indispensável para discernir e seguir com fidelidade a vontade do Senhor. É também um acto de amor e de justiça para com o povo de Deus, do qual são os servidores (cf. ibid., 70).

Caros Irmãos no Episcopado, compete-vos em particular ter a solicitude pelas vocações sacerdotais, a fim de que o Evangelho seja anunciado em toda a parte. Trata-se duma dimensão essencial da pastoral das vossas dioceses. A formação e o acompanhamento espiritual dos candidatos ao sacerdócio exigem muitas vezes aceitar sacrifícios importantes. Estai certos de que com a graça de Deus eles produzirão frutos! A situação actual exige um sério discernimento para que os seminaristas tenham suficiente consciência de que o caminho, no qual estão empenhados, exige uma renúncia total a si mesmos e à procura de toda a promoção pessoal, a fim de se tornarem «convictos e fervorosos ministros da «nova evangelização», servidores fiéis e generosos de Jesus Cristo e dos homens» (ibid., 10).

Saúdo também os religiosos e as religiosas que no vosso país cooperam na missão da Igreja. Ao levarem uma vida dedicada unicamente ao Pai, cativada por Cristo e animada pelo Espírito, eles contribuem de modo particularmente profundo para a renovação do mundo (cf. Exort. Apost. Vita consecrata VC 25). Para arraigar de maneira sólida o seu carisma e para o desenvolver na vida eclesial, é necessário que manifestem claramente a especificidade do dom recebido de Deus para o bem de toda a Igreja. Mais do que com o seu modo de agir, é com o seu ser que os religiosos e as religiosas devem manter presente entre os baptizados a consciência de terem de responder, com a santidade da própria vida, ao amor que Deus não cessa de lhes prodigalizar. Vivendo plenamente os seus compromissos, satisfazem também as aspirações dos próprios contemporâneos ao indicar-lhes as vias de uma autêntica procura de Deus.

4. Nos vossos relatórios quinquenais, ressaltastes o lugar primordial dos catequistas para implantar e fazer viver as comunidades cristãs, em relação estreita com os Bispos e os sacerdotes. A todos, transmiti o reconhecimento do Papa pelo seu trabalho generoso ao serviço do Evangelho, e os seus encorajamentos, a fim de que mediante uma vida pessoal e familiar exemplar sejam testemunhas verídicas da mensagem que anunciam. Sede para eles pais atentos às suas necessidades e oferecei-lhes o apoio moral e material que lhes for necessário. A sua formação espiritual e doutrinal é uma exigência primordial para que possam assegurar, com competência e responsabilidade, o serviço que lhes é pedido na comunidade.

5. A vitalidade da Igreja depende da resposta de cada cristão ao apelo que Deus lhe dirige a crescer e a produzir fruto. Por isso, é necessário que os leigos possam adquirir uma sólida formação que «tem como objectivo fundamental a descoberta cada vez mais clara da própria vocação e a disponibilidade cada vez maior para vivê-la no cumprimento da própria missão» (Exort. Apost. Christifideles laici CL 58). Esta formação deve permitir a cada um realizar a unidade da sua própria existência, viver e proclamar a sua fé de maneira autêntica. A ignorância no âmbito religioso é, de facto, muitas vezes aproveitada pelos grupos esotéricos ou pelas seitas para atrair alguns crentes pouco arraigados na própria fé.

A formação integral dispensada aos leigos deve também ajudá-los a ser cidadãos que assumem as suas responsabilidades na vida da colectividade. Com efeito, ela «deve procurar dar aos cristãos não apenas uma habilitação técnica para transmitir melhor os conteúdos da fé, mas também uma convicção pessoal profunda para os testemunhar eficazmente na vida» (Ecclesia in Africa ). Na sociedade, os leigos não podem renunciar à acção multiforme para promover o bem comum. Isto comporta também o difícil empenhamento na defesa e promoção da justiça e na consolidação duma autêntica democracia, que permite que todos se sintam de maneira efectiva protagonistas do próprio destino na nação.

6. As graves questões que concernem ao matrimónio cristão e à vida familiar, são desafios que a Igreja na vossa região deve enfrentar. Tarefa importante para vós é, portanto, educar os fiéis para os valores fundamentais do matrimónio e da família. A unidade do casal é uma exigência de vida que respeita o desígnio de Deus tal como foi revelado no princípio. Ela é também uma manifestação da igual dignidade pessoal da mulher e do homem, que «no matrimónio se doam com um amor total e por isso mesmo único e exclusivo» (Exort. Apost. Familiaris consortio FC 19). Às pessoas que já aceitaram entrar na comunidade dos discípulos de Cristo, mas que vivem em situações matrimoniais que não lhes permitem receber o sacramento do Baptismo, a Igreja deve dedicar uma assistência espiritual constante. Encorajo-vos vivamente a acolher estas pessoas com uma grande solicitude pastoral e a permanecer atentos às suas necessidades, para lhes permitir que progridam no difícil caminho do acolhimento integral da mensagem evangélica, na justiça e na caridade para com todas as pessoas interessadas. Faço votos por que os fiéis tenham profunda consciência da dignidade do matrimónio cristão e reconheçam a sua indissolubilidade como «fruto, sinal e exigência do amor absolutamente fiel que Deus tem pelo homem e que Cristo vive para com a Igreja» (ibid., 20). Que as famílias cristãs sejam aos olhos de todos modelos de unidade e de amor partilhado! Que nas dificuldades elas não desanimem, mas encontrem na sua comunhão com Cristo e na ajuda mútua no seio da Igreja a força para permanecerem fiéis!

7. Para que o Evangelho se encarne plenamente na vossa terra, é necessária uma verdadeira inculturação. Com efeito, é indispensável dar a todos a possibilidade de acolherem Cristo na integridade do próprio ser e da própria cultura, a fim de chegarem à união plena com Deus. De igual modo, encorajo-vos nos esforços que empreendestes para contribuir na transformação dos autênticos valores do vosso povo, integrando-os no cristianismo, e para assim arraigar a fé cristã na vossa cultura.

A missão da Igreja no meio das nações comporta também o estabelecimento de relações fraternas com todos os homens. No vosso país, as relações com os Muçulmanos e com os adeptos da Religião tradicional são em geral boas. Convido-vos então a continuar o diálogo da vida, que é tão necessário para conservar um clima de concórdia e de solidariedade entre as diferentes comunidades e para trabalhar juntos no melhoramento das condições de vida dos membros da nação.

Por outro lado, as numerosas formas de pobreza que atingem as populações da vossa região, incentivaram-vos a desenvolver obras sociais ao serviço das pessoas mais desfavorecidas, sem distinção de origem ou de religião. Exprimo os meus vivos encorajamentos às pessoas que, com abnegação, trabalham para aliviar os sofrimentos dos seus irmãos e irmãs, assim como àquelas que contribuem na educação dos jovens. Mediante o seu empenho, a Igreja quer ser no meio de todos o sinal eficaz do amor sem limites que Deus nutre pelos homens.

8. Caros Irmãos no Episcopado, no final deste encontro fraterno, desejo exortar-vos a olhar para o futuro com confiança, numa renovada adesão a Cristo, que manifesta plenamente o homem a si mesmo e lhe revela a sua altíssima vocação (cf. Const. past. Gaudium et spes GS 22). Convido de modo particular os jovens togoleses a seguirem o caminho que o Senhor Jesus lhes mostra. Nele encontrarão luz e força para progredir nos caminhos da vida e construir com generosidade a civilização do amor, na qual todos se hão-de reconhecer como irmãos chamados a um mesmo destino. Alguns meses nos separam agora da abertura do Grande Jubileu do Ano 2000. Que este tempo de graça seja para a Igreja que está no Togo a ocasião duma profunda renovação espiritual e duma intensa tomada de consciência da sua responsabilidade de anunciar a Boa Nova da salvação, de modo particular através de um ardente testemunho de vida evangélica! Confio todas as vossas comunidades à protecção materna da Virgem Maria, pedindo-lhe que guie os seus passos ao encontro do seu Filho. De todo o coração, dou-vos a Bênção Apostólica que faço extensiva aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos catequistas e a todos os fiéis das vossas dioceses.




Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 28 de Junho de 1999