Discursos João Paulo II 1999 - Castel Gandolfo, 3 de Setembro de 1999


VISITA PASTORAL A SALERNO (4 DE SETEMBRO DE 1999)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA INAUGURAÇÃO DO SEMINÁRIO METROPOLITANO


E A CASA DO CLERO "SÃO MATEUS"


Sábado, 4 de Setembro de 1999

Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades
Queridos Sacerdotes
Religiosos, Religiosas e Seminaristas
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. É com grande alegria que hoje me encontro entre vós, para a inauguração do Seminário Metropolitano e da Casa do Clero "São Mateus", obras queridas e realizadas pela comunidade salernitana com a ajuda da Conferência Episcopal Italiana e o apoio efectivo dos Bispos da Região. Obrigado por me terdes convidado para um acontecimento tão significativo e pelo afectuoso acolhimento que me reservastes.

Saúdo a antiga e nobre Igreja de Salerno e a comunidade de Pontecagnano-Faiano. Agradeço a D. Gerardo Pierro, amado e zeloso Pastor desta diocese, as palavras com que interpretou os comuns sentimentos para com o Sucessor de Pedro. O meu pensamento afectuoso dirige-se, depois, ao Clero diocesano, aos consagrados e às consagradas, aos seminaristas, às Autoridades presentes e a quantos quiseram participar neste importante e jubiloso momento de fé e de comunhão. Saúdo o Senhor Cardeal Michele Giordano, Arcebispo de Nápoles e Presidente da Conferência Episcopal da Campânia. Com ele, abraço espiritualmente todos os Prelados da Campânia e as populações desta querida Região, sobretudo as da martirizada terra de Sarno.

De facto, durante a viagem a Salerno, sobrevoei aquela zona atingida no ano passado por uma terrível inundação, que causou destruição e morte. Rezei pelos defuntos mas, de maneira particular, pedi o apoio divino para as pessoas e famílias mais duramente atingidas. Oxalá elas encontrem na esperança cristã a força para construir, também com o apoio da comunidade nacional, um futuro de serenidade, sobretudo para as jovens gerações. Àqueles irmãos e irmãs, todos próximos do meu coração, envio uma cordial saudação.

2. Caríssimos, este novo Seminário Metropolitano e a Casa do Clero "São Mateus", que a Igreja salernitana quis construir com solicitude amorosa, constituem um providencial dom para quantos são chamados ao ministério presbiteral e para os sacerdotes. Sobretudo o Seminário, com a sua moderna e funcional estrutura, se põe na esteira da longa tradição de serviço às dioceses vizinhas por parte da Arquidiocese de Salerno que foi, durante muitos anos, sede do Pontifício Seminário Regional Pio XI. Renovando idealmente este empenho de comunhão e de colaboração, também o Seminário Metropolitano estará disponível para o acolhimento de seminaristas de outras Comunidades da Campânia, cujos Bispos fizerem o pedido.

A abertura de um Seminário supõe antes de tudo uma grande confiança na obra de Cristo, que continua a fazer chegar o seu convite a tantos jovens que, como os dois discípulos do trecho evangélico que ouvimos, se sentem atraídos por Ele: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?". Inaugura-se hoje este Seminário a fim de consentir que Jesus responda aos jovens desta terra salernitana: "Vinde ver" (cf. Jo Jn 1,38-39). De facto, o Seminário é chamado a criar o ambiente no qual viver uma peculiar experiência de comunhão com Cristo. Oxalá os jovens, que se empenharem aqui no estudo e na oração, façam próprias as palavras de André ao irmão Simão: "Encontrámos o Messias!" (Jn 1,41).

3. Nesta perspectiva, desejaria dirigir-me de maneira particular a vós, caríssimos seminaristas, que hoje sois os primeiros a festejar. Este Seminário é, antes de mais, destinado a vós e a quantos, também no futuro, estiverem prontos a responder à chamada de Deus e transcorrerem aqui anos de indispensável formação.

Faço votos por que sejais dóceis à voz do Senhor, que vos doeis a Ele generosamente. Desejo que possais crescer aqui no empenho da oração e do estudo, vivendo as renúncias e as dificuldades quotidianas como actos de amor para com aqueles que o Senhor vos enviar. Podereis contar com a orientação sábia e generosa dos vossos Superiores, com a oração da comunidade cristã e, sobretudo, com a presença materna da Rainha dos Apóstolos, à qual estão particularmente confiados todos os que são chamados a agir "in persona Christi".

4. Queridos educadores, a vós é confiada a tarefa de fazer com que os futuros presbíteros revivam a experiência do Cenáculo que foi, num certo sentido, o primeiro Seminário. No Cenáculo o Mestre, depois de ter instruído os Doze, lavou-lhes os pés e, antecipando o sacrifício cruento da Cruz, doou-Se totalmente e para sempre sob as espécies do pão e do vinho. Depois, no Cenáculo, à espera do Pentecostes, os apóstolos "tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração com... Maria, Mãe de Jesus" (Ac 1,14).

Caríssimos, inspirai-vos neste ícone tão eloquente, ao preparardes os evangelizadores para o terceiro milénio. Suscitai nos alunos o amor ao Senhor e a paixão ao seu Evangelho, para que se conformem plenamente com Cristo mestre, sacerdote e pastor (cf. Optatam totius OT 5). Educai-os para a comunhão fraterna. Garanti-lhes uma sólida preparação teológica e cultural. Sobretudo, fazei com que sejam "homens de Deus", e precisamente por isso, também homens de caridade, de pobreza e de partilha, capazes de desempenhar com generosidade amanhã o seu ministério entre o povo desta terra que, como toda a Região do Sul da Itália, está marcada por antigos e novos desafios, e mais do que nunca tem necessidade de pastores que dêem um íntegro testemunho evangélico.

5. O vosso Arcebispo, fazendo uma sábia escolha, quis que ao lado do Seminário estivesse a Casa do Clero "São Mateus", destinada a ajudar os presbíteros a viver em fraternidade, experimentando as múltiplas vantagens da vida comum recomendada, nas suas várias formas, pelo Concílio Vaticano II (cf. Presbyterorum ordinis PO 8), e tão preciosa para o desempenho do ministério.
Faço votos por que a proximidade das duas instituições constitua para os respectivos hóspedes uma preciosa ocasião de encontro fraterno, de comunhão na caridade, de recordação recíproca na oração e de encorajamento no serviço do Senhor.

6. Desejo depois dirigir um pensamento particular aos outros jovens, que vejo aqui presentes. Caríssimos rapazes e moças, recebei a mensagem de Cristo e correspondei ao Seu amor. Ele convida cada um de vós a segui-Lo de modo pessoal e específico. O bom êxito da vossa vida depende da resposta à Sua chamada. Não vos deixeis encantar por ilusões falazes e transitórias: Cristo chama-vos à santidade, até nas condições ordinárias da vida laical. E se a alguns de vós pede que vos dediqueis totalmente ao serviço do Evangelho no caminho do sacerdócio ou da vida consagrada, não receeis acolher com coragem a sua proposta, que abre para exaltantes perspectivas de graça e de alegria. A Igreja espera o contributo da vossa criatividade, dos vossos dons e do vosso entusiasmo juvenil.

7. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o edifício que estamos para inaugurar é fruto do empenho e da colaboração de tantas pessoas. Desejo exprimir o meu agrado a quantos empregaram nesta obra energias, inteligência e competência: aos arquitectos, construtores e operários, a todos!
Como sinal concreto do vosso amor a Cristo e à Igreja, quisestes intitular o novo Seminário ao Papa que agora vos fala. Agradeço-vos de coração este gesto de afecto, que consolida os antigos vínculos da Igreja salernitana com o Sucessor de Pedro, princípio e fundamento visível da unidade da fé e da comunhão (cf. Lumen gentium LG 18).

A Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe dos sacerdotes, cuja imagem foi colocada como sentinela no novo Seminário, confio todos os que viverem, estudarem e trabalharem nesta pequenina cidade de fé e de cultura. Ela vigie com amor sobre as fadigas de todos e os ampare no seu caminho, para que possam responder generosamente à palavra do seu Filho e servir os irmãos com a mesma fidelidade.

Com estes sentimentos, concedo de coração a cada um de vós aqui presentes, à Comunidade diocesana e à inteira Região da Campânia a minha Bênção Apostólica.

No termo desta visita, João Paulo II disse:

Vim a Salerno pela segunda vez. Mas, a esta parte da cidade onde está o Seminário, vim pela primeira vez. Muitas felicitações à vossa Comunidade que pensa sempre no futuro, porque o Seminário e os seminaristas nos falam do futuro, do Terceiro Milénio.

Muitos bons votos para o Terceiro Milénio da vossa Diocese. Louvado seja Jesus Cristo! Até à vista!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO MALAVI


POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Segunda-feira, 6 de Setembro de 1999

Dilectos Irmãos Bispos!

1. Dou graças ao Pai de todas as misericórdias pelo dom deste encontro convosco, Bispos do Malavi, por ocasião da vossa peregrinação a Roma para a visita ad limina Apostolorum. Com grande alegria dou-vos as boas-vindas e, mediante vós, abraço todos os fiéis do Malavi, que recordo com afecto no Senhor e que permanecem sempre nas minhas orações. Visto que a nação está a preparar-se para celebrar o centenário de fundação da primeira missão católica no vosso País, oro de modo especial por vós, Pastores do santo povo de Deus, pelos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, com as palavras de São Paulo: "Deus vos torne dignos do Seu chamamento e faça, pelo Seu poder, que se realizem plenamente todos os vossos bons propósitos e labor da vossa fé, a fim de ser glorificado em vós o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, e vós n'Ele" (2Th 1,11-12).

2. Com a fundação da missão de Nzama em 1901, a fé cristã enraizou-se no Malavi e a partir de então continuou a crescer. Está a aumentar constantemente o número daqueles que todos os dias aderem ao Senhor (cf. Act Ac 2,47), e a própria Igreja está sempre mais envolvida na vida da Nação, insistindo sobre a necessidade da solidariedade e da responsabilidade cívica, e fomentando o diálogo e a reconciliação como instrumentos para resolver as tensões. As relações entre a Igreja e o Estado são boas, e a Igreja é livre de exercer a sua missão espiritual nos sectores do ministério pastoral, da educação, da assistência médica e do desenvolvimento humano e social.

São muitos os que reconhecem que a Igreja tem desempenhado um papel importante na transição do Malavi para um governo democrático. Porém, o processo de transição ainda não se completou, e a Igreja deve continuar a colaborar com todos os sectores da sociedade, num esforço para assegurar que a nação não se desvie do intento de construir uma democracia justa, estável e duradoura. Isto dependerá da qualidade dos fundamentos lançados; e a base segura para uma sociedade democrática é a justa visão da pessoa humana e do bem comum. Se a sociedade não for construída sobre esta verdade, então será como a casa edificada sobre a areia: não pode resistir (cf. Mt Mt 7,26-27). E a Igreja tem a solene missão de declarar esta verdade, de identificar os valores humanos que dela derivam e de recordar a todos o dever de agirem de acordo com ela.

3. Os desafios apresentados à vida e ao serviço cristãos são inúmeros e exigem o empenhamento numa situação de difundida pobreza, muitas vezes extrema, e quando há um enfraquecimento das convicções morais e éticas, fazendo surgir muitos males sociais, entre os quais a corrupção e os ataques contra a santidade da vida humana. À luz de tudo isto, há necessidade de oferecer sólidos programas de evangelização e de catequese aos fiéis, em ordem a aprofundar a sua fé e compreensão cristãs, permitindo-lhes assim ocupar o seu lugar na Igreja e na sociedade. Como no-lo recorda o Concílio Vaticano II: "Os leigos... são chamados por Deus para que aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento" (Lumen gentium LG 31).

Os Padres do Concílio prosseguem, dizendo que "todos os seguidores de Cristo... são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade... Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados à santidade e à perfeição do próprio estado" (Ibid., LG 40 LG 42). A fim de que isto se verifique, convém recordar sempre as palavras que o Concílio dirigiu aos Bispos: "Como bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos como verdadeiros pais que se distinguem pelo espírito de amor e de solicitude para com todos... Reúnam à sua volta toda a família da sua grei e formem-na de tal modo que todos, conscientes do seu dever, vivam e operem em comunhão de caridade" (Christus Dominus CD 16).

Nesta perspectiva, encorajo com alegria as iniciativas que tomastes em vista de vos preparardes para o Grande Jubileu do Ano 2000 e celebrardes, em 2001, o centenário da Igreja católica no Malavi, comemorações estas que exigem um apelo a revigorar a fé e o compromisso cristão. Na vossa Carta Pastoral de 1996, Walking Together in Faith (Caminhando juntos na fé), lançastes um oportuno apelo à conversão e à renovação da vida cristã. Tendo presentes para estes dois momentos de particular graça, prestastes atenção à exortação presente na minha Carta Apostólica Tertio millennio adveniente e abristes os vossos corações às sugestões do Espírito, que não deixa de suscitar entusiasmo e de dispor as pessoas a celebrarem o Jubileu com fé renovada e generosa participação (cf. n. TMA 59). Seguindo as recomendações da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África e aquelas contidas na Tertio millennio adveniente, realizastes um programa de preparação para ajudar os sacerdotes, os religiosos e os fiéis das vossas Dioceses a "obterem as luzes e os auxílios necessários na preparação e celebração do já próximo Jubileu" (Ibidem TMA 59). Isto foi reforçado pela vossa Carta Pastoral Come Back to Me and Live (Retornai para junto de Mim e vivei), na qual justamente ressaltastes a necessidade de recuperar o sentido do pecado, a fim de reencontrar o sentido da misericórdia de Deus, que está no centro do Grande Jubileu. Com efeito, é o conceito de vida que está no cerne do Evangelho e que a Igreja é chamada a anunciar em todos os tempos e lugares.

Quando o anúncio da Boa Nova é integrado pela catequese, a fé amadurece e os discípulos de Cristo são formados num profundo e sistemático conhecimento da pessoa e da mensagem do Senhor (cf. Catechesi tradendae CTR 19). O estudo da Bíblia, ou melhor, o contacto directo com o texto sagrado da Palavra de Deus, acompanhado pela oração devota (cf. Dei Verbum DV 25) e coadjuvado por uma preclara exposição da doutrina, como acontece no Catecismo da Igreja Católica, fará com que os leigos, homens e mulheres, sejam firmes na fé e preparados para responder às suas exigências em qualquer circunstância, não por último nos âmbitos fundamentais do matrimónio e da vida familiar cristãos. Sem dúvida, um dos sinais mais evidentes da "novidade" da vida em Cristo é o vínculo matrimonial e a família, vivida segundo a exortação do Salvador a restabelecer o desígnio original de Deus (cf. Mc Mc 10,6-9). Uma boa catequese é importante sobretudo para os jovens, para os quais uma fé esclarecida representa a luz que guiará o seu caminho rumo ao futuro. Ela ser-lhes-á uma fonte de força, enquanto enfrentam as incertezas de uma difícil situação económica e social.

Fortalecidos na verdade revelada, os católicos poderão também responder às objecções levantadas com frequência sempre maior pelos seguidores das seitas e dos novos movimentos religiosos. Além disso, a firme e humilde submissão à Palavra de Cristo, como é autenticamente proclamada pela Igreja, constitui a base para o diálogo com os seguidores das religiões tradicionais africanas e do Islão, bem como para as vossas relações com as outras Igrejas e comunidades eclesiais, diálogo este extremamente importante se no futuro a missão cristã não quiser ser obstaculizada pelas divisões, como aconteceu no passado (cf. TMA TMA 34).

5. Dada a importância vital de uma boa liderança na Igreja, sobretudo num momento como o actual, desejo encorajar-vos nos esforços por assegurar uma formação mais eficaz aos vossos seminaristas e sacerdotes. Esta questão continua a ser de importância crucial para as vossas Igrejas locais e exige a vossa orientação, pois sem uma sólida formação os sacerdotes não estarão preparados para exercer a sua vocação e o seu ministério, "oferecendo quotidianamente a própria vida pelo crescimento da fé, da esperança e da caridade, nos corações e na história dos homens e das mulheres do nosso tempo" (Pastores dabo vobis PDV 82).

Despendestes muitos esforços em vista de fortalecer os programas de formação e de oferecer aos vossos seminaristas uma sólida formação espiritual, intelectual e pastoral; os frutos já começam a aparecer. A Ratio Institutionis Sacerdotalis, a Ratio Studiorum e as regras para a vida no Seminário foram aprovadas para os Seminários Maiores de Kachebere, Zomba e Mangochi. Além disso, a introdução dum programa de espiritualidade e dum ano propedêutico para os seminaristas que se preparam para começar o estudo da filosofia, e a instituição de um Conselho de supervisores para a formação e para os problemas relativos à vida e disciplina no Seminário, representam um desenvolvimento deveras positivo.

Não menos importante que a educação dos futuros sacerdotes é a formação permanente daqueles que já receberam as Ordens sagradas. A dedicação e o zelo pastoral para o ministério, a disciplina moral e o correcto comportamento, o desapego dos bens e das atitudes do mundo, a disponibilidade a doar-se completamente ao serviço dos outros: todas estas características devem ser alimentadas nos vossos sacerdotes e tornar-se os traços que distinguem a sua vida. Então, como São João Crisóstomo insiste, eles serão como devem ser: "Dignos, porém, modestos; impressivos, mas amáveis; magistrais, mas acessíveis; imparciais, mas afáveis; humildes mas não servis; vigorosos e contudo delicados" (De Sacerdotio 3, 15), tendo presente "uma só coisa: a edificação da Igreja, sem nunca agir por hostilidade ou benevolência" (Ibidem). Por isso, são indispensáveis alguns programas mais eficazes de formação permanente para o clero. Eles devem constituir uma das principais prioridades para a Igreja no Malavi, enquanto ela se prepara para entrar no Terceiro Milénio, pois os Bispos têm a grave responsabilidade de oferecer oportunidades de renovação espiritual e de crescimento aos seus sacerdotes (cf. Optatam totius OT 22).

6. A necessidade duma formação permanente existe também para os religiosos e as religiosas. A sua consagração especial deve ser sempre aprofundada, a fim de que eles possam permanecer firmemente arraigados em Cristo e os nobres ideais da sua vocação continuem a resplandecer nos seus corações e aos olhos das pessoas, para as quais são um particular sinal da solicitude amorosa de Deus. Através da profissão dos conselhos evangélicos, eles dão testemunho do Reino e edificam o Corpo de Cristo, levando o próximo à conversão e a uma vida de santidade. É necessário ajudá-los a permanecer fiéis aos carismas dos próprios Institutos e a colaborar de maneira estreita e em harmonia convosco, Pastores da Igreja, no exercício do seu apostolado (cf. Mutuae relationes, 8).

Uma vida de castidade, pobreza e obediência, abraçada de boa vontade e vivida com fidelidade, contrasta a sabedoria convencional do mundo, pois é uma proclamação da Cruz de Cristo(cf. 1Co 1,20-30). O testemunho dado por mulheres e homens consagrados pode transformar a sociedade e o seu modo de pensar e de agir, precisamente através do amor que eles demonstram a todas as pessoas, em particular àquelas que não têm voz, mediante a sua concentração sobretudo nas coisas do espírito e não nas materiais, e através da sua oração, dedicação e exemplo. Como podemos deixar de exprimir aqui o nosso apreço pelo magnífico trabalho realizado pelos religiosos e as religiosas no Malavi, no âmbito do desenvolvimento humano, da educação e da assistência à saúde? Trata-se duma contribuição singular, à qual nem a Igreja nem o País poderiam renunciar.

7. Caros Irmãos, como Pastores do santo povo de Deus tendes a tríplice missão de guiar, estimular e unir todos aqueles que trabalham no "campo de Deus" (1Co 3,9). Esta vossa tarefa é mais premente do que nunca na iminência do alvorecer do terceiro milénio, e enquanto vos preparais para as celebrações do centenário da Igreja católica que está no Malavi, recordando as palavras do Senhor sobre a abundância da messe que devemos ceifar através do nosso serviço ao Evangelho (cf. Mt Mt 9,37). Na vigília do Grande Jubileu, todos nós somos chamados a dedicar-nos com um renovado vigor à tarefa que consiste em compartilhar a luz da verdade de Cristo com todos os homens e mulheres. Rezo para que, através da vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, o Espírito Santo vos revigore para a tarefa da nova evangelização. No amor da Santíssima Trindade, confio cada um de vós, os vossos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos à gloriosa intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja, e concedo-vos a minha Bênção Apostólica como penhor de graça e paz no seu divino Filho.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO DIRECTOR-GERAL DA UNESCO


POR OCASIÃO DO XXXIII DIA INTERNACIONAL


DA ALFABETIZAÇÃO




Ao Excelentíssimo Senhor

FEDERICO MAYOR SARAGOZA

Director-Geral da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura

1. Por ocasião do XXXIII Dia Internacional da Alfabetização, organizado pela UNESCO, quero prestar homenagem aos homens e mulheres que, ao longo dos tempos, ajudaram os seus irmãos a adquirir os elementos fundamentais do saber: é preciso saudar de modo particular os professores que, em todos os continentes, se aplicaram em formar os jovens e os adultos, com perseverança e eficácia. Quereria também evocar a missão exercida por inúmeros leigos, religiosos e religiosas, pioneiros da instrução popular, que foram no exercício das suas funções testemunhas de Cristo, despertando as inteligências e as consciências.

2. Ao longo dos últimos decénios, convém reconhecer o papel de primeiro plano que, com outros organismos internacionais, foi desempenhado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que multiplicou os seus esforços para enfrentar a grave situação de analfabetismo no mundo. Ao dar a cada ser humano os meios de aceder a uma cultura geral, a UNESCO oferece-lhe também a possibilidade de levar uma existência digna, de assumir o seu futuro e de exercer a sua parte de responsabilidade no seio da sociedade. A luta contra o analfabetismo é o caminho obrigatório para o desenvolvimento das pessoas e dos povos, que recebem assim meios de reflexão e de análise, e que se podem defender com mais facilidade contra as exposições sectárias, integralistas ou totalitárias. É, portanto, altamente desejável que se prossigam com sucesso as acções empreendidas, que necessitam de uma coordenação sempre mais intensa dos esforços nacionais e internacionais.

3. No limiar do terceiro milénio, convido todos os povos a unirem-se na luta contra o analfabetismo, que constitui uma grave deficiência para uma parte importante da humanidade, sobretudo as mulheres e as meninas. Com efeito, até recentemente dois terços de iletrados eram mulheres e 70% das crianças não escolarizadas são meninas. Também neste sector, é importante suprimir as disparidades, e este é um dos objectivos da Convenção da UNESCO: "Assegurar a todos o pleno e igual acesso à educação, a livre busca da verdade objectiva e o livre intercâmbio das ideias e dos conhecimentos" (Preâmbulo). Esta iniciativa de lutar contra o analfabetismo supõe o empenho do corpo docente, cuja função convém reconhecer e valorizar, fazendo com que aqueles que exercem esta actividade se sintam estimados no seu notável ofício de transmitir conhecimentos, valores fundamentais e razões de viver.

A escola é chamada a ser cada vez mais acolhedora das crianças, qualquer que seja a sua origem e a sua condição social, dedicando uma atenção muito particular aos mais pobres, às vítimas da violência e da guerra, aos refugiados e às pessoas desalojadas. Ela deve preocupar-se cada vez mais, mediante uma pedagogia oportuna e a atenção às culturas locais, por desenvolver os talentos e despertar as consciências dos alunos, assim como cuidar dos jovens que são inadaptados ao sistema escolar.

4. Por sua parte, seguindo a missão que lhe foi confiada por Cristo, a Igreja deseja continuar a participar na educação dos jovens e dos adultos, juntamente com os homens e as mulheres de boa vontade. A Escola católica é um instrumento excepcional, que permite às crianças receber, além do ensino, uma formação religiosa e catequética que as ajudará a aprofundar a sua fé, a descobrir Cristo, que quer ajudar o homem a alcançar a sua plena estatura de adulto. Numa sociedade em busca de sentido, a Escola católica é chamada a difundir com clareza e vigor a mensagem cristã, respeitando os que não partilham as suas convicções mas que desejam, entretanto, beneficiar dos seus métodos de ensino. Desejosa de oferecer o seu contributo à relação entre o Evangelho e as culturas, a Escola católica situa o saber no horizonte da fé, para que ele se torne uma sabedoria de vida e conduza os homens à verdadeira felicidade, que só Deus pode dar.

5. No alvorecer duma nova era, regozijo-me com a obra realizada pela UNESCO, em cooperação com todos os Estados membros. Invoco o apoio da Bênção divina sobre Vossa Excelência, Senhor Director-Geral, e sobre todas as pessoas que, ao participarem na missão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, estão ao serviço da humanidade.

Castel Gandolfo, 28 de Agosto de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO CHADE POR OCASIÃO


DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Castel Gandolgo, 9 de Setembro de 1999

: Caros Irmãos no Episcopado!

1. É para mim uma grande alegria acolher-vos durante a vossa peregrinação ao túmulo dos Apóstolos. Como Bispos da Igreja católica no Chade, viestes aos próprios lugares onde Pedro e Paulo deram testemunho de Cristo até ao dom supremo da sua vida. Encontrareis aqui paz e conforto para cumprirdes a missão que vos foi confiada ao serviço do povo de Deus. Através dos vossos encontros com o Sucessor de Pedro e os seus colaboradores, o Senhor faça aumentar sempre mais em vós o espírito de comunhão com a Igreja universal e com os seus pastores unidos ao Bispo de Roma!

D. Charles Vandame, Presidente da vossa Conferência, exprimiu em vosso nome, com clareza e lucidez, as alegrias, tristezas e esperanças no vosso ministério episcopal. Agradeço-lhe muito cordialmente.

Transmiti aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas e leigos das vossas Dioceses a saudação afectuosa do Papa. Deus os cumule das suas Bênçãos para que todos sejam generosas testemunhas do Evangelho! Comunicai também os meus votos de felicidade e de paz a todo o povo chadiano, cuja generosidade bem conheço.

2. Após a vossa última visita ad Limina, foram criadas duas Dioceses para favorecer o anúncio do Evangelho nas regiões que até agora se encontravam entre as mais isoladas. Não se pode senão alegrar-se com o dinamismo das vossas comunidades, do qual estas criações são um sinal eloquente. Faço votos por que os Bispos que, com a riqueza da sua experiência missionária, vieram aumentar a vossa Conferência Episcopal, beneficiem plenamente da atmosfera fraterna e colegial que a caracteriza.

É para mim uma grande alegria constatar os progressos espirituais da Igreja no Chade, assim como os seus esforços meritórios por torná-la cada vez mais encarnada nas realidades sociais e culturais do país. Convido as vossas comunidades a permanecerem fiéis à obra do Espírito Santo nelas realizada e a darem testemunho dum sincero amor mútuo, para que todos reconheçam Aquele que está na fonte deste amor e n'Ele creiam. Cada um se recorde "de que se é missionário sobretudo por aquilo que se é, como membro da Igreja que vive profundamente a unidade no amor, e não tanto por aquilo que se diz ou faz" (Encíclica Redemptoris missio RMi 23).

3. No decurso dos últimos anos, o número de sacerdotes chadianos aumentou de maneira significativa. Saúdo-os com afecto e encorajo-os no seu ministério, às vezes difícil mas exaltante, de anunciar o Evangelho de Cristo aos seus irmãos e de lhes dispensar os sacramentos da Igreja. Conheço a fidelidade deles à própria vocação e o seu devotamento pastoral. Exorto-os a descobrir sempre mais a profundidade da própria identidade sacerdotal. Que eles encontrem no contacto pessoal com o Senhor ressuscitado, mediante a oração e os sacramentos, a fonte viva da sua existência e da sua missão eclesial! Caros Irmãos no Episcopado, sei como estais atentos à sua vida sacerdotal e às suas necessidades, sobretudo no sector da formação permanente. Encontrem eles junto de vós o Pai que os sabe encorajar e guiar no seu ministério!

Soubestes diversificar a proveniência dos missionários que vieram participar na obra de evangelização no vosso país. Felicito-os pela sua resposta generosa aos apelos da Igreja no Chade e faço votos por que sejam em toda a parte testemunhas ardorosas do espírito do Evangelho, que deve conduzir a superar as barreiras das culturas, dos nacionalismos, evitando qualquer isolamento (cf. Exort. Apost. Ecclesia in Africa ). Originários da África, mas vindos também de outras regiões do mundo, eles manifestam claramente a universalidade da mensagem evangélica e da Igreja, assim como o seu desejo de ajudar os sacerdotes chadianos a assumirem cada vez mais o futuro da Igreja local.

Os religiosos e as religiosas participam também plenamente e com muita abnegação na vida das vossas Dioceses. O seu empenhamento é essencial na obra de evangelização e de serviço das vossas comunidades. Faço votos, então, por que a vida consagrada encontre um novo impulso entre os jovens do Chade, para que a Igreja possa beneficiar deste "dom precioso e necessário para o presente e o futuro do povo de Deus, pois ela pertence de maneira íntima à sua vida e à sua missão" (Exort. Apost. Vita consecrata VC 3). Com efeito, a vida consagrada é um testemunho eloquente do dom gratuito de si ao Senhor e duma orientação da existência voltada para o Absoluto e para o essencial, que torna feliz. De igual modo, é indispensável que os valores fundamentais da vida religiosa se enraízem em profundidade na cultura do vosso país, para nela se tornar um fermento evangélico.

A formação dos futuros sacerdotes é uma das vossas maiores preocupações. Já estais a ver os primeiros frutos do esforço feito no discernimento de vocações capazes de carregar o peso dos compromissos da vida sacerdotal. A criação dum novo Seminário é para vós um sinal encorajador e uma ocasião privilegiada para dardes graças pela generosidade dos jovens que respondem ao apelo do Senhor. Exorto-vos a dar aos candidatos ao sacerdócio não só uma sólida formação intelectual e espiritual, mas também uma séria educação "para o amor à verdade, a lealdade, o respeito por cada pessoa, o sentido da justiça, a fidelidade à palavra dada, a verdadeira compaixão, a coerência e, particularmente, para o equilíbrio de juízos e comportamentos" (Exort. Apost. Pastores dabo vobis PDV 43). Ao cultivarem estas qualidades humanas, eles poderão tornar-se personalidades equilibradas, capazes de assumir as responsabilidades pastorais que lhes forem confiadas.

4. Nas vossas Dioceses, as comunidades eclesiais de base são um instrumento privilegiado para fazer crescer a Igreja família de Deus e contribuir na evangelização. Não se pode deixar de se alegrar ao ver desenvolver-se nelas um laicado de qualidade, que progressivamente assume o lugar que lhe compete na vida da Igreja e da sociedade. Na pastoral das vossas Dioceses, a formação doutrinal e espiritual apropriada aos leigos deve, então, ter uma importância sempre maior, a fim de que a sua fé seja assegurada e o seu testemunho seja verídico e crível.

Saúdo com muito afecto os catequistas, que asseguram com generosidade a missão que lhes confiastes. Por uma formação doutrinal e espiritual séria, eles adquirem uma competência que os torna dignos da sua função. Encorajo-os a viver com fé e vigor a sua pertença à Igreja, no serviço do Evangelho no meio dos seus irmãos. Sejam eles, durante toda a vida, ardorosos discípulos de Cristo e exemplos de vida cristã!

Os fiéis, ainda profundamente marcados pelas concepções da existência e as práticas da cultura tradicional, às vezes têm dificuldade em viver as exigências do matrimónio cristão. Então, é preciso oferecer-lhes elementos de reflexão, que poderão contribuir para os fazer compreender a dignidade e o papel do matrimónio, que é uma autêntica via de santidade. "Por isso, o matrimónio exige um amor indissolúvel; graças a esta sua estabilidade, pode contribuir eficazmente para realizar em plenitude a vocação baptismal dos esposos" (Ecclesia in Africa ). Uma melhor tomada de consciência da igual dignidade do homem e da mulher, em particular no amor que um tem para com o outro, ajudará também a fazer com que apareça com clareza que a união conjugal exige a unidade do matrimónio. Uma séria preparação para o compromisso matrimonial, e de igual modo o testemunho de lares cristãos unidos e radiantes, dos quais se conhece a importância para exprimir a autenticidade de uma opção de vida, suscitarão nos jovens convicções fortes para assumirem as próprias responsabilidades de esposos e de pais. Nesta perspectiva, alegro-me com a atenção dedicada à pastoral familiar, pois é através dos casais que os filhos aprendem os primeiros elementos da vida espiritual e moral, assim como uma sã conduta na sociedade. É esta mesma solicitude que vos leva a promover o respeito devido à mulher, assim como a salvaguarda dos seus direitos pois, embora sejam diferentes, o homem e a mulher são essencialmente iguais do ponto de vista da humanidade.

5. Há muitos anos, seguindo as orientações da doutrina social da Igreja, tomastes inúmeras iniciativas nos sectores da saúde, da educação, das obras sociais e caritativas. Desenvolvestes também uma reflexão aprofundada sobre as implicações do Evangelho nas diferentes situações em que vivem as populações do vosso país. O empenhamento das vossas comunidades no serviço da promoção humana e do desenvolvimento merece ser vivamente encorajado. Deste modo, os fiéis tomam uma consciência renovada das suas responsabilidades de discípulos de Cristo na vida colectiva, rejeitando de maneira resoluta tornarem-se cúmplices da injustiça ou da violência, e estão bastante empenhados na defesa dos direitos do homem, lá onde estes são ameaçados.

A próxima celebração do grande Jubileu é, por outro lado, um tempo favorável para que os cristãos se façam voz de todos os pobres do mundo e manifestem com clareza a opção preferencial da Igreja pelos pobres e os excluídos. Eles fá-lo-ão sobretudo pensando, como já escrevi, "numa consistente redução, se não mesmo no perdão total da dívida internacional, que pesa sobre o destino de muitas nações" (Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, TMA 51), segundo modalidades que não penalizem ulteriormente as populações mais desprovidas, e encorajando-os a interrogar-se sobre uma gestão dos recursos da nação, que permita a todos levar uma vida digna e solidária.

As escolas católica são uma contribuição importante oferecida pela Igreja à educação da juventude chadiana, sem distinção de origem social ou religiosa. Não se pode deixar de alegrar-se com o equilíbrio mantido entre as implicações dum projecto educativo de acordo com o Evangelho e as exigências administrativas. De facto, enquanto a sociedade conhece mudanças importantes, é necessário propor aos jovens indicações que lhes permitam enfrentar os desafios que hoje se lhes apresentam e vencer os obstáculos ao seu desenvolvimento, dando-lhes uma educação que tenha em consideração as realidades humanas e espirituais da sua existência e os ajude a viver entre jovens de religiões e ambientes sociais diferentes. Assim, serão melhor preparados para construir o futuro, num espírito de respeito mútuo e colaboração.

Para que a vida das vossas comunidades e o serviço dos seus compatriotas se possam desenvolver de maneira serena, compete-vos prosseguir o diálogo com as Autoridades civis, a fim de que a Igreja católica seja sempre mais reconhecida como uma instituição a pleno título no seio da sociedade.

6. No vosso país, que é por tradição uma terra de encontro pacífico entre as culturas e as religiões, devem ser favorecidas relações amistosas entre a comunidade católica, os outros cristãos e os muçulmanos, a fim de que sejam eliminadas as causas de incompreensões ou de confrontos, e que os princípios de tolerância e fraternidade presidam à edificação duma nação solidária e unida. Certas evoluções recentes puderam às vezes levar a oposições que correm o risco de desenvolver antagonismos duradouros. É necessário que os católicos rejeitem de maneira resoluta toda a atitude de temor e de rejeição do próximo. Por isso, encorajo-vos a prosseguir com perseverança as iniciativas que tomastes em vista dum melhor conhecimento mútuo, que vai para além dos preconceitos. Com efeito, trata-se de favorecer o reencontro das pessoas na verdade e, sobretudo, de desenvolver o diálogo da vida, que lhes permitirá aceitarem-se reciprocamente com as suas diferenças e, juntas, trabalharem para o bem comum. É de igual modo proveitoso manter um sincero diálogo activo com as autoridades religiosas muçulmanas, para facilitar a compreensão entre as comunidades.

Nesta mesma perspectiva de abertura e de diálogo é entretanto necessário que os cristãos estejam conscientes dos seus próprios direitos na colectividade nacional, da qual são membros a pleno título, e que os defendam num espírito de justiça, procurando com todos o estabelecimento de laços fraternos, respeitosos dos direitos e deveres de cada um e de todas as comunidades. Como muitas vezes tive ocasião de evocar, a liberdade religiosa, que inclui o direito de manifestar a própria crença, isolada ou colectivamente, em público ou em privado, e que exclui toda a segregação por motivos religiosos, constitui o coração mesmo dos direitos humanos e torna possíveis as outras liberdades pessoais e colectivas. O recurso à violência em nome do próprio credo religioso constitui uma deformação dos mesmos ensinamentos das grandes religiões (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 5). Desejo intensamente que todos os crentes, superando de maneira resoluta os antagonismos, unam os esforços para lutar contra tudo aquilo que impede a paz e a reconciliação, a fim de contribuírem para o restabelecimento da civilização do amor, que deverá ser para todos uma maneira de dar glória a Deus.

7. No termo do nosso encontro, caros Irmãos no Episcopado, quando se aproxima a celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, convido-vos a olhar para o futuro com esperança. O grão lançado na terra pelos primeiros missionários, há setenta anos, não cessa de dar fruto. O devotamento abnegado dos homens e das mulheres que, ao longo dos anos, deram a sua vida para transmitir a chama da fé cristã no Chade, e aos quais quero prestar homenagem, deve continuar para as gerações actuais e futuras um exemplo de vida apostólica e um apelo constante a testemunharem com ardor a mensagem que receberam e o Senhor que veio ao encontro delas para que tenham a Vida verdadeira.

Confio o vosso ministério e cada uma das vossas Dioceses à protecção materna da Virgem Maria, Mãe de Cristo e Mãe dos homens. Ela guie com firmeza os vossos passos rumo ao seu Filho! Do íntimo do coração, dou-vos a Bênção Apostólica que faço extensiva aos sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas e a todos os fiéis do Chade.




Discursos João Paulo II 1999 - Castel Gandolfo, 3 de Setembro de 1999