Discursos João Paulo II 1999 - Sexta-feira, 17 de Setembro de 1999

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA LETÓNIA POR OCASIÃO DA


VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sábado, 18 de Setembro de 1999



Caríssimos Irmãos no Episcopado!

1. É-me grato rever-vos por ocasião desta Visita ad Limina, que nos oferece a oportunidade para vivermos um momento de intensa fraternidade, naquele fecundo intercâmbio que deve caracterizar as relações entre os Pastores das Igrejas particulares e o Sucessor de Pedro, pastor da Igreja universal.

Agradeço a D. Janis Pujas, Arcebispo de Riga, que se fez intérprete dos vossos sentimentos de comunhão. Em vós, saúdo a inteira comunidade da Letónia, que há seis anos tive a alegria de encontrar pessoalmente. Como esquecer o acolhimento cordial que me foi reservado? É-me grata, sobretudo, a lembrança da celebração no Santuário de Aglona, centro mariano da Letónia, onde apresentámos à Virgem Santa as lágrimas do passado e as expectativas do futuro. Foi a hora exaltante do "Magnificat" após os longos anos da provação.

Memorável foi também o clima ecuménico que marcou a minha viagem. Poder orar convosco, e juntamente com os irmãos luteranos e ortodoxos, fez-me olhar, com especial intensidade de desejo, para o dia em que a comum oração, graças ao dom do Espírito Santo, poderá resultar na plena comunhão. Vós, caros Irmãos no Episcopado, pastores de uma comunidade católica que é minoria entre outros irmãos cristãos, sois chamados a promover com particular zelo o caminho do ecumenismo, que já marca de maneira irreversível os discípulos de Cristo, em sintonia com a Sua oração sacerdotal: "Para que todos sejam um só"! (Jn 17,11 Jn 17,21).

2. Com os irmãos cristãos das diversas Confissões, sofrestes durante longos anos a aspereza de um regime orientado para construir uma cidade terrena privada da luz da fé. As consequências da propaganda ateísta ainda se fazem sentir nas gerações que a tiveram de absorver amplamente. Por outro lado, os mais jovens não são muito mais afortunados, uma vez que, com a chegada da liberdade, sobreveio também a influência do modelo cultural dominante em muitas partes do mundo, onde a indiferença e o relativismo religioso se unem muitas vezes a comportamentos de massa, que são totalmente incompatíveis com o Evangelho de Cristo. Por eles é atingida a família, que perde sempre mais o valor da unidade e da estabilidade. Por eles é prejudicado o próprio valor da vida humana, que se torna objecto de múltiplas agressões com frequência até mesmo legalizadas.

Diante de problemas tão graves, é preciso repropor com vigor o autêntico humanismo, baseado sobre a lei moral universal e iluminado pela mensagem evangélica. Mas isto - sabemo-lo - significa "caminhar contra a corrente". Como nos fazermos escutar, como falarmos às consciências, quando tudo parece mover-se noutra direcção? Por isto, há necessidade de que a Igreja tenha um subsídio de entusiasmo e de fervor, deixando-se invadir pelo Espírito como no primeiro Pentecostes.

3. Também no final deste novo impulso pastoral se revelou de grande utilidade a nova articulação da comunidade católica, após a constituição das novas Dioceses. Com esta estruturação mais diversificada e aderente ao território, a Igreja na Letónia pode crescer na sua capacidade de presença e de acção. Como o Concílio Vaticano II ressaltou, as Dioceses não são simples circunscrições administrativas, mas verdadeiras Igrejas, "das quais e pelas quais existe a Igreja católica, una e única" (Lumen gentium LG 23).

O sentido da Igreja particular compreende-se no horizonte da exposição que o Concílio fez sobre o "mistério" da Igreja, arraigado na própria Trindade. É um mistério que, enquanto se exprime a pleno título na unidade da Igreja universal, emerge também em cada uma das Igrejas, onde nos reunimos em torno da Palavra de Deus, na celebração da Eucaristia, sob a guia do Bispo. Não existe oposição, mas antes "mútua interioridade" entre o aspecto universal desta comunhão e a vocação própria de cada uma das Igrejas particulares (cf. Inst. Communionis notio, 29/5/1992, n. 8: AAS 85 [1993] 842).

É uma síntese que marca o próprio ministério do Bispo, que por um lado, com a sua inserção no Colégio episcopal, participa na dimensão universal da comunhão e do serviço pastoral, por outro, concretiza o seu tríplice "múnus", de mestre, santificador e guia (cf. Lumen gentium LG 25-27), no âmbito da porção do povo de Deus a ele confiada. A partir do Concílio, a dimensão da colegialidade foi particularmente reafirmada e enriquecida com novos instrumentos.

De grande significado, neste sentido, é a Conferência Episcopal, que ajuda as Igrejas de um mesmo território a sintonizarem constantemente a sua acção pastoral. Podeis constatar a sua utilidade, na embora jovem experiência da vossa Conferência. Por outro lado, deve-se recordar que a Conferência não desautoriza o ministério próprio de cada Pastor, que permanece directa e pessoalmente responsável pela inteira pastoral do seu território (Carta Apostólica sobre a natureza teológica e jurídica das Conferências Episcopais, 21/5/1998, n. 20: L'Osservatore Romano, ed. port. 8/8/1998, pág. 5-8).

4. A vossa Igreja, caríssimos, está a viver um momento de transformação. Nos longos decénios de dominação do comunismo, conhecestes o dom da fidelidade e do martírio, que permanece uma grande semente de esperança para o vosso futuro. Mas vós mesmos me fizestes observar alguns dos sinais negativos que aquele longo período deixou na comunidade eclesial. Muitos católicos não frequentam de maneira regular a Eucaristia dominical e os sacramentos. Um certo número não faz nem sequer baptizar os próprios filhos ou adia o baptismo. No entanto cresce a difusão das seitas.

É preciso, então, que a nova evangelização se torne necessidade prioritária. Trata-se de apresentar Cristo à sociedade da Letónia, e de modo especial às novas gerações, a fim de que todos O possam sentir como o Salvador, Aquele que diz palavras de vida eterna (cf. Jo Jn 6,68), que é "a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações" (Gaudium et spes GS 45). Alegro-me, portanto, pelo esforço que pondes na qualificação e desenvolvimento da catequese, servindo-vos do Instituto Catequético de Riga e das suas ramificações interdiocesanas. O objectivo para o qual olhar é que a fé de cada baptizado se torne uma verdadeira opção, sustentada por uma catequese que leve não só ao conhecimento da verdade, mas também à experiência do mistério e à coerência de vida. Vós, caros Irmãos no Episcopado, sois "os primeiros responsáveis pela catequese, os catequistas por excelência" (Catechesi tradendae CTR 63). Continuai a esforçar-vos para que a palavra de Cristo chegue abundantemente aos indivíduos, às famílias, à sociedade em todas as suas expressões.

5. O acolhimento da palavra de Deus, por sua vez, leva a viver com maior consciência a liturgia, "fonte e ápice" da vida eclesial (cf. Sacrosanctum concilium SC 10). Devemos considerar como um grande dom de Deus à Igreja do nosso tempo a renovação litúrgica operada pelo Concílio, ajudando os nossos fiéis a vivê-la plenamente. De particular significado, neste sentido, é a redescoberta da celebração do domingo, o dia do Senhor, ao qual no ano passado dediquei a Carta Apostólica Dies Domini.

É preciso promover com todo o empenho a prática do preceito dominical, embora considerando com compreensão pastoral as dificuldades que muitas vezes se apresentam para os fiéis de um determinado território. Sobretudo é necessário fazer captar o significado deste dia, no qual está contido em síntese o próprio mistério cristão. Com efeito, ele é o retorno semanal do dia da ressurreição de Cristo, dia em que toda a criação, por Ele remida, de algum modo "renasce" para a vida nova, à espera da sua vinda gloriosa no final dos tempos. É, pois, por excelência o "dia da fé": um dia irrenunciável! (cf. Dies Domini, 29-30).

6. Ao mesmo tempo, é por título especialíssimo o "dies Ecclesiae". Por isso, é necessário que a celebração dominical da Eucaristia seja feita duma forma que exprima de modo pleno o sentido da Igreja. Na "mesa da Palavra", Deus chama o seu povo a um perene diálogo de amor. No banquete eucarístico, Cristo plasma este povo como seu "corpo" e sua "esposa", fazendo-se pão de vida e vínculo de unidade. A Eucaristia dominical é deveras um momento privilegiado, para que os fiéis percebam o seu ser "igreja" e cresçam na comunhão.

Por sua natureza, depois, a escuta da Palavra e a comunhão do Corpo de Cristo incitam os crentes a tornarem-se "evangelizadores e testemunhas" (Dies Domini, 45) na vida de cada dia. Da Missa à missão: é este o movimento natural de toda a comunidade cristã, particularmente necessário na actual fase histórica da Igreja na Letónia diante do desafio da nova evangelização.

7. Tudo isto não poderá acontecer, senão na medida em que cada baptizado tome consciência da sua vocação. A esse propósito, decisiva é a promoção do laicado. Um certo modo de entender a comunidade cristã tinha muitas vezes o efeito de relegar os leigos para uma situação de passividade. Nas vossas terras, depois, para deter a confiança numa maior responsabilização do laicado, podem influir dolorosas recordações do regime passado, que utilizava alguns colaboradores para as suas vexações à Igreja. Contudo, é necessário olhar com confiança para o futuro. Segundo a linha traçada pelo Concílio, os fiéis leigos, embora sem jamais substituírem os Pastores, são chamados a um verdadeiro e próprio "apostolado", que nas condições hodiernas deve ser "mais intenso e mais universal" (Apostolicam actuositatem AA 1).

Eles podem de modo mais fácil chegar a esta consciência, também com a ajuda das associações e dos movimentos eclesiais, aprovados pela Igreja, contanto que trabalhem em plena sintonia com os Bispos e a pastoral diocesana. Para além desta tarefa, por assim dizer "interna", a vocação laical exprime-se sobretudo na vertente da relação entre a Igreja e o mundo. "As tarefas e actividades seculares competem como próprias, embora não exclusivamente, aos leigos" (Gaudium et spes GS 43). É de modo especial através do testemunho quotidiano dos leigos que o Evangelho se pode tornar fermento de todos os aspectos da vida: da família à cultura, da arte à economia, até ao empenho político. "O cristão que descuida os seus deveres temporais, falta aos seus deveres para com o próximo e até para com o próprio Deus" (ibid., 43).

8. É claro, enfim, caríssimos Irmãos no Episcopado, que o segredo do impulso e da renovação da Igreja na Letónia reside, em grande parte, nas pessoas que por uma especial vocação se dedicaram à causa do Reino de Deus. Penso nos religiosos e nas religiosas, cuja presença faço votos por que seja sempre mais qualificada e viva nas vossas comunidades.

Mas o pensamento dirige-se sobretudo para o ministério dos sacerdotes.Nas vossas comunidades percebe-se a urgência de um seu crescimento numérico, para satisfazer as necessidades das diversas paróquias. Essa necessidade pode ser certamente atenuada pela colaboração laical, assim como por uma promoção do diaconato permanente. Mas o sacerdote é insubstituível. Compete-lhe, com efeito, a tarefa de agir "in persona Christi" na administração dos sacramentos; a de exercer, em dócil colaboração com o Bispo, o ministério de anunciador da Palavra e de guia da comunidade. O povo de Deus tem direito ao seu serviço de pastor e pai.
Daqui a urgência de uma activa pastoral vocacional, que, baseando-se na oração dirigida ao "Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe" (Mt 9,38), se ocupe ao mesmo tempo de sensibilizar as famílias e a inteira comunidade cristã, para que os meninos e os jovens sejam ajudados a tornar-se disponíveis ao eventual chamado de Deus. Sabemos bem, depois, como é importante a formação que deve ser assegurada a quantos se preparam para assumir na comunidade uma tarefa tão relevante. Com efeito, requer-se uma robusta formação teológica e eclesial, atenta ao equilíbrio humano e afectivo, arraigada numa sólida espiritualidade, caracterizada por uma abertura cordial e ao mesmo tempo vigilante à realidade do mundo em que vivemos. Na formação dos vossos presbíteros reside grande parte do futuro da Igreja na Letónia.

9. Obrigado, caríssimos, pela alegria que me destes com a vossa presença. Desejo exprimir-vos mais uma vez o meu apreço por quanto fazeis e continuareis a fazer em prol do Povo de Deus, embora entre as mil dificuldades em que vos debateis. Jamais esqueçamos, nas inevitáveis horas sombrias, que não estamos sozinhos: os nossos esforços são sustentados pela graça e nela confiamos.

Coragem, pois: "Caritas Christi urget nos" (2Co 5,14). Caminhemos avante, como o Apóstolo, com a força deste amor que nos envolve e nos acompanha. Sirva-nos de estímulo também a previsão do iminente Grande Jubileu, que nos chama a todos a um empenho especial de conversão.

Ao invocar a Mãe celeste para que obtenha força, perseverança e eficácia para o vosso trabalho apostólico, de coração concedo a minha Bênção a vós e aos fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais.



JOÃO PAULO II



DURANTE A VISITA NA CATEDRAL


Maribor, 19 de Setembro de 1999



Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Carissimos Irmãos e Irmãs em Cristo

1. É com grande alegria que me encontro convosco nesta Catedral, onde jazem os restos mortais do venerado Bispo D. Anton Martin Slomsek, que hoje de manhã tive o prazer de proclamar Beato. Agradeço a D. Franc Kramberger, Bispo de Maribor, as palavras com que se fez intrérprete dos sentimentos desta eleita assembleia, apresentando-me as finalidades da mesma. Saúdo todos os presentes, bem como os Sacerdotes, os Religiosos, as Religiosas e os Fiéis leigos.
Cumprimento outrossim o grupo de Reitores das Universidades da Europa central, aqui congregados para celebrar o 140s aniversário de fundação, por parte do Beato Slomsek, daquela que haveria de tornar-se a Faculdade de Teologia de Maribor.
Saúdo com deferencia também o Presidente do Parlamento, o Vice-Chefe do Governo e as outras Autoridades do Estado, juntamente com quantos colaboraram para a preparação da minha hodierna visita.

2. No mes de Maio de há dois anos, na perspectiva do ingresso no terceiro milénio, a Conferencia Episcopal da Eslovénia tomou a decisao de celebrar o Sínodo plenário, em vista de reflectir acerca do caminho até aqui percorrido pela Igreja que está na Eslovénia e de preparar o seu futuro. Vós, caríssimos Prelados, quisestes que o mote do Sínodo fosse a palavra admoestadora, tirada do Livro do Deuteronómio: "Escolhe a vida!" (30, 19). Trata-se de um tema particularmente significativo para o homem de hoje, tao ávido de vida e contudo tao inseguro acerca do seu sentido e valor. Na realidade, é com este tema que se mede a cultura de todas as épocas.


Juntamente com o Sínodo, também a Igreja que está na Eslovénia se prepara para celebrar o Grande Jubileu do Ano 2000, propondo-se um renovado compromisso em vista de uma mais fiel realização do Concílio Vaticano II. Sem dúvida, um dos pontos qualificadores do ensinamento conciliar é a doutrina sobre o Povo de Deus. Ela pode sintetizar-se na palavra "communio", comunhão. Este conceito fundamental remete-nos para a nascente mesma da Igreja, para a comunhão trinitária e, luz deste mistério inefável, ajuda-nos a compreender a realidade eclesial como profunda unidade de todos os baptizados. Para além das suas vocaçoes específicas, eles participam no tríplice ministério de Cristo: sacerdotal, profético e real. A vida da Igreja e os relacionamentos entre os seus membros devem expressar plenamente esta igualdade de dignidade, nao obstante a diversidade dos ministérios.


O Sínodo é sem dúvida uma expressão qualificada desta comunhão: com efeito, nele está representada toda a comunidade: Pastores, Religiosos, Religiosas e Leigos. A estes últimos pede-se-lhes em particular que ofereçam uma contribuiçao específica, sobretudo no que diz respeito aos temas que se referem mais de perto à sua experiencia e missão (cf. Lumen gentium LG 30). Os Pastores por sua vez, conscientes da tarefa de serem guias solícitas do bem dos fiéis, farão o possível para harmonizar os vários carismas e ministérios, sem jamais esquecerem que o primeiro e indispensável protagonista da vida eclesial e da sua renovaçao é o Espírito de Deus. O bom exito do Sínodo mede-se pela capacidade de todos, Pastores e Fiéis, se colocarem à escuta d'Ele para compreenderem o que Ele está a pedir no momento presente: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas" (Ap 2,7).


3. Dilectos Irmãos e Irmãs, que formais a assembleia sinodal e hoje vos encontrais reunidos junto do túmulo do Beato Slomsek! É para vós motivo de honra e de grave responsabilidade o papel que desempenhais na celebração deste Sínodo. No percurso até aqui percorrido em vista da sua preparaçao, já demonstrastes em notável medida a capacidade de escuta e colaboração recíprocas. É necessário continuar ao longo desta vereda. O Sínodo representa uma ocasião histórica para a Igreja que está na Eslovénia: no contexto da nova situação social, ela é chamada a elaborar um actualizado e incisivo projecto pastoral. Nisto é sustentada pelo testemunho de fé e de dedicação causa do Evangelho, outrora oferecido por Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e Fiéis leigos. Os Pastores prodigalizaram-se pelo povo e isto granjeou-lhes respeito e veneração.

Eis uma herança de comunhão, a valorizar também nas transformadas condiçoes históricas.
Estimados Irmãos e Irmãs, olhai para o Beato Slomsek! Ele tinha sempre presente diante de si o homem na sua situação concreta e sabia enfrentar as dificuldades, as angústias e as pobrezas da pessoa, da mesma forma que as alegrias, os seus recursos e as suas tensoes ideais. Agora compete a vós imitá-lo. Fazei-o caminhando juntos, haurindo a força desta profunda comunhão na escuta assídua da Palavra e na devida participação na Eucaristia, que constitui o manancial da vida da Igreja, aliás, o seu coração. Sede dóceis ao Espírito Santo, para que Ele vos "revista da força do alto" (cf. Lc Lc 24,49) e, como os primeiros discípulos, possais dedicar-vos com entusiasmo à obra da nova evangelizaçao.

Evangelizar, anunciar a todos a alegre notícia da salvação em Cristo: seja esta a vossa primeira e fundamental preocupação. Para o fazer, nao tenhais medo de reivindicar as condiçoes de liberdade, indispensáveis para o desempenho da missão da Igreja. Se, como cidadãos, os cristãos tem o dever de contribuir para o bem de toda a sociedade, como fiéis tem o direito a que não se obstem as suas legítimas actividades. A este propósito, considerando precisamente o papel fundamental do cristianismo e da Igreja católica na história e cultura da Eslovénia, é justo auspiciar que o processo rumo à efectiva colaboração entre a Igreja e o Estado possa progredir rapidamente, favorecendo a superação das actuais dificuldades, em total vantagem daquela cooperação que interessa à inteira sociedade.


4. Agora, gostaria de dirigir-me de forma ideal à inteira Igreja da Eslovénia, por vós aqui dignamente representada. Quereria falar ao coração de cada crente, em todos os quadrantes da vossa amada terra.

A todos e a cada um, desejaria dizer: Igreja que vives na Eslovénia, "escolhe a vida!"; escolhe sobretudo esta preciosíssima dádiva de Deus Criador e Salvador! Leva este dom a quem não tem a força de perdoar, aos homens e às mulheres que conheceram a amargura do fracasso do próprio matrimónio; leva-o rs famílias eslovenas, a fim de que elas vivam com confiança e generosidade a sua comprometedora missão; entrega-o a todos aqueles que colaboram na obra do Reino de Deus, para que não se desencoragem diante das dificuldades; leva-o ainda a quantos, com o seu trabalho e de forma especial com a assunção das responsabilidades públicas, contribuem para o bem comum de todos os cidadãos.

Igreja, que na Eslovénia és peregrina de esperança, continua o caminho empreendido há 1.250 anos e cruza com coragem e confiança o limiar do terceiro milénio. Segue os passos de Cristo; segue o exemplo do Apóstolo Santo André, Padroeiro desta Diocese de Maribor, e do Beato Bispo Anton Martin Slomsek, modelo de pastor iluminado e indefesso.

Vigia sobre ti e o teu projecto Maria Santíssima, Mae e Rainha da Eslovénia, que o teu povo venera com o título de Marija Pomagaj. Asseguro para ti, querida Igreja que vives na Eslovénia, e para cada um dos teus membros, assim como para todo o povo esloveno, a minha recordação orante, enquanto de coração abençoo todos e cada um.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS REPRESENTANTES


DAS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS



Dilectos jovens, israelenses e palestinos

Há poucas semanas, quando os vossos líderes assinaram um histórico acordo, no mundo inteiro escutou-se a voz da esperança e da expiação. Agora, as populações de todas as partes do planeta olham para este acordo com confiança e expectativa, na esperança de que ele se revigore cada vez mais e conduza a uma paz efectiva e duradoura.

Vós, jovens, juntamente com todas as pessoas por vós representadas, deveis ser os primeiros a concretizar as esperanças dos vossos respectivos povos e do mundo em geral. As decisões que tomardes, no que diz respeito a vós mesmos e às vossas vocações no seio da sociedade, hão-de determinar as perspectivas para a paz, tanto no presente como no futuro.

Queridos jovens israelenses e palestinos, judeus, muçulmanos e cristãos: reitero-vos neste dia o convite que dirigi a todos os jovens por ocasião do Dia Mundial da Paz de 1985, na qual salientei o papel que a juventude é chamada a desempenhar nos esforços que visam a promoção da paz. No limiar de um novo milénio, deveis considerar de maneira mais clarividente que o futuro da paz e, por conseguinte, o porvir de toda a humanidade dependem das opções fundamentais que a vossa geração fizer. Daqui a poucos anos, a vossa geração será responsável pela formação do destino dos vossos povos, das vossas nações e do mundo inteiro. Trata-se de um imperativo moral que consiste em ajudardes a edificar uma nova sociedade e a construir uma renovada civilização, fundamentadas cada vez mais solidamente no respeito recíproco, na fraternidade e no espírito de cooperação. Nenhum de nós vive sozinho neste mundo; cada um de nós constitui um fragmento vital do grandioso mosaico da humanidade no seu conjunto.

Não tenhais medo do desafio que se vos apresenta: a vossa esperança e juventude ajudar-vos-ão nesta exigente tarefa. Contudo, só conseguireis levá-la a cabo se puderdes incutir nos vossos próprios corações aquela paz que desejais granjear aos vossos povos e ao mundo inteiro – não já uma paz baseada apenas sobre acordos e pactos, independentemente de quão nobres e necessários estes possam ser, mas uma paz que nasça do coração de cada indivíduo. Isto é essencial se se quiser que a paz seja estável e duradoura.

Como conclusão, digo-vos de maneira especial aquilo que disse ao mundo, na Mensagem acima mencionada: «O futuro da paz está nos vossos corações. Para construirdes a história, como vós podeis e deveis fazer, é preciso que a liberteis dos falsos caminhos que [agora] ela está a enveredar. E para conseguir isto, deveis ter uma profunda confiança no homem e uma profunda confiança na grandeza da vocação humana – uma vocação que deve ser realizada com respeito pela verdade, pela dignidade e pelos direitos invioláveis da pessoa humana» (n. 3).

Como é do vosso conhecimento, estou a programar uma viagem à Terra Santa, uma peregrinação ao longo dos estádios da história da salvação. Por conseguinte, se Deus quiser, teremos a oportunidade de nos encontrarmos de novo na vossa terra. Faço votos por que nessa ocasião já tenhais dado início à vossa aventura, e por que juntos sejamos capazes de recolher os seus primeiros frutos. Até à vista então, e que Deus abençoe abundantemente todos os vossos esforços.

Vaticano, 22 de Setembro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO 40° ANIVERSÁRIO DA


UNIÃO CATÓLICA DA IMPRENSA ITALIANA




Ao Senhor PAOLO SCANDALETTI
Presidente da União Católica da Imprensa Italiana

1. O 40° aniversário de fundação da União Católica da Imprensa Italiana (UCSI) proporciona-me a grata oportunidade de dirigir uma cordial saudação a Vossa Excelência e a quantos fazem parte desta Associação. Acrescento aqui de bom grado a expressão do meu apreço pelo serviço que a UCSI está a prestar à evangelização, através do compromisso de qualificados profissionais no vasto campo da comunicação social, de maneira especial no sector da imprensa.

A este propósito, bem sei com quanto cuidado ela procura oferecer o próprio contributo à difusão dos valores cristãos, mediante uma acção incisiva e pormenorizada nos jornais e nas publicações periódicas. Portanto, transmito o meu apreço aos profissionais católicos que trabalham neste campo, pela ansiedade apostólica que vivifica a sua obra de todos os dias: o corajoso testemunho de fé que cada um deles oferece no âmbito dos mass media constitui um precioso serviço a favor da tutela e da promoção do verdadeiro bem da pessoa e da comunidade.

2. O incessante progresso dos meios de comunicação social exerce uma crescente influência sobre as pessoas e a opinião pública, e isto faz aumentar a responsabilidade daqueles que actuam directamente neste sector, porque os induz a fazer opções inspiradas na busca da verdade e no serviço do bem comum.

A este propósito, deve-se salientar o facto de que, em vastos estratos da sociedade hodierna, existe um vigoroso desejo de bem, que nem sempre encontra uma adequada resposta nos jornais ou nos noticiários radiotelevisivos, onde os parâmetros de avaliação dos acontecimentos são com frequência caracterizados mais por critérios de tipo comercial do que de género social. Tende-se a privilegiar "aquilo que faz notícia", o que é "sensacional" em relação àquilo que, ao contrário, ajudaria a compreender melhor as vicissitudes do mundo. Desta forma, corre-se o perigo de deturpar a verdade. Para resolver esta problemática, é urgente que os cristãos comprometidos no campo da informação trabalhem, juntamente com todas as pessoas de boa vontade, em prol de um maior respeito pela verdade. Evidenciando temas como aqueles da paz, da honestidade, da vida, da família e não dando contudo excessivo relevo a factos negativos, poder-se-ia fomentar o nascimento de um novo humanismo que abra as portas à esperança.

Como eu escrevia na Mensagem para a XXXIII Jornada Mundial das Comunicações Sociais: "A cultura da sabedoria própria da Igreja pode evitar que a cultura da informação dos meios de comunicação se torne um acumular-se de factos sem sentido, enquanto que os meios de comunicação social podem ajudar a sabedoria da Igreja a estar atenta diante dos sempre novos conhecimentos que emergem no tempo presente" (n. 4). Nesta perspectiva, a informação parece ser cada vez mais um valor irrenunciável, que constitui um bem social do qual é indispensável garantir a equitativa distribuição entre todos os usuários.

3. A revolução digital, que caracteriza o mundo da informação do final deste milénio, introduz um novo modo de compreender a comunicação. Os paradigmas até agora conhecidos foram modificados: já não subsistem apenas fontes capazes de difundir informações e bacias de receptores, capazes de recolher as mensagens. Uma rede de computadores interligados consente a igualdade hierárquica entre as pessoas que emitem as mensagens e aquelas que as recebem, com reciprocidade de emissão. Esta extraordinária oportunidade é dotada de um potencial cultural sem precedentes, com reflexos nas ordens social e política, em vantagem dos mais frágeis e dos menos abastados. Porém, ela corre o risco de não expressar plenamente cada uma das suas potencialidades, se aos usuários não forem oferecidas iguais oportunidades de acesso às redes informáticas.

Os fluxos de comunicação são capazes de abater as tradicionais barreiras do espaço e do tempo, atravessando as fronteiras e evitando praticamente todos os géneros de censura. A impossibilidade de controle cria autênticas inundações de notícias sobre as quais quase não se oferece ao indivíduo a oportunidade de exercer qualquer tipo de verificação. Desta forma, subsiste o perigo de que nasça um sistema baseado nas grandes concentrações informativas que, a níveis nacional e internacional, são capazes de agir na total "desregulamentação", recriando condições de superioridade e, por conseguinte, de sujeição cultural.

4. Unicamente o apelo à responsabilidade individual dos operadores no campo das comunicações sociais não é suficiente para assegurar a gestão deste complexo processo de transformação. É necessário um compromisso por parte das Autoridades governamentais. Em particular, é preciso uma tomada de consciência generalizada por parte dos usuários, os quais devem ser colocados em condições de rejeitar a situação de receptores passivos das mensagens que inundam as casas, envolvendo as suas próprias famílias. Com frequência, os mass media correm o risco de substituir as agências educativas, indicando modelos culturais e comportamentais nem sempre positivos, perante os quais sobretudo os mais jovens permanecem indefesos. Por conseguinte, é indispensável fornecer a todos instrumentos culturais adequados, a fim de que possam dialogar com os meios de comunicação social, em vista de orientar em sentido positivo as suas escolhas informativas, no respeito do homem e da sua consciência.

Estes problemas de elevada relevância moral interpelam a Igreja e as agregações laicais, tanto a nível central como nas articulações territoriais, diocesanas e paroquiais. A pastoral das comunicações revela-se cada vez mais importante como ponto de referência quer para os operadores dos mass media, quer para os fruidores destes meios. Assim, encorajo-vos a intensificar a vossa acção apostólica, na consciência da vossa responsabilidade no seio da Igreja e da sociedade.

5. Os quarenta anos de história da União Católica da Imprensa Italiana demonstram que a cooperação dos leigos, também neste especial sector de intervenção cultural, deve ser buscada e alimentada mediante uma renovada atenção pastoral. A tradição do jornalismo católico na Itália teve uma inquestionável influência sobre a formação de gerações de crentes animados por uma fé viva. Quantos jornalistas deixaram um sinal profundo, e quantos deles continuam a trabalhar com espírito de sacrifício e competência no sector dos mass media!

Diante do desenvolvimento da chamada "cultura mediática", a ideia relançada ainda recentemente por uma Comissão de ética dos mass media, que vigie sobre as possíveis manipulações da informação, insere-se na tradição cultural da doutrina social da Igreja e reafirma o princípio segundo o qual, inclusive no mundo da comunicação social, nem tudo aquilo que é tecnicamente possível é lícito sob o ponto de vista moral.

Encaminhamo-nos rumo ao Grande Jubileu do Ano 2000. Sei que, em preparação para este extraordinário evento, sob a orientação dos pastores diocesanos, vós estais a reler as cartas de São Paulo, enquanto reflectis sobre as passagens mais significativas da Sagrada Escritura. É a maneira mais oportuna para vos preparardes e entrardes no novo milénio com a profunda convicção de que cada operador da comunicação social, quando desempenha com seriedade e consciência a própria missão, participa activamente no grandioso desígnio salvífico que o Jubileu repropõe na sua realidade mais incisiva. Oxalá o próximo Ano Santo desperte novamente em todos os membros desta Associação um renovado desejo de servir a Cristo e o seu Reino.
Com estes bons votos, invoco sobre cada um de vós a materna protecção de Maria e concedo-lhe, Senhor Presidente, assim como a todos os membros deste benemérito Sodalício, a Bênção Apostólica em penhor das abundantes graças celestiais.

Castel Gandolfo, 22 de Setembro de 1999.




Discursos João Paulo II 1999 - Sexta-feira, 17 de Setembro de 1999