Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 30 de Setembro de 1999

4. Ao reflectir sobre o vosso papel ao serviço da vida, não posso deixar de mencionar a importância do vosso profundo empenho, quando jovens mães são atingidas pelo cancro e devem enfrentar uma morte prematura. Certamente, quando isto acontece, o ginecologista ou o obstetra, mais habituado ao contacto com o nascimento de uma nova vida, experimenta um profundo sentido de participação no sofrimento de outrem e talvez também um sentimento de frustração ou de impotência.

Uma vida que está a terminar não é menos preciosa do que uma vida que está a iniciar. É por esta razão que a pessoa moribunda merece o máximo respeito e os cuidados mais amorosos. A nível mais profundo, a morte assemelha-se um pouco com o nascimento: ambos são momentos críticos e dolorosos de passagem, que introduzem numa vida mais rica em relação à precedente. A morte é um êxodo, após o qual é possível ver o rosto de Deus que é a fonte da vida e do amor, precisamente como uma criança, uma vez nascida, vê os rostos dos próprios pais. Por esta razão, a Igreja fala da morte como de um segundo nascimento.

Actualmente, discutem-se muitas questões relativas ao cuidado dos pacientes que sofrem de cancro. Tanto a razão como a fé nos pedem que resistamos a qualquer tentação de pôr fim à vida de um paciente, mediante um acto de omissão deliberado ou através de uma intervenção activa, pois "a eutanásia é uma violação grave da lei de Deus, enquanto morte deliberada moralmente inaceitável de uma pessoa humana" (Evangelium vitae EV 65). Nada, nem sequer o pedido do paciente - que muitas vezes é um pedido de ajuda - pode justificar a eliminação de uma vida, que é preciosa aos olhos de Deus e que pode ser um grande dom de amor para uma família, mesmo no sofrimento dos últimos dias.

Em vista das propostas, provenientes de diversos âmbitos, de estabelecer leis a favor da eutanásia e do suicídio assistido, permiti-me ressaltar que "compartilhar a intenção suicida de outrem e ajudar a realizá-la mediante o chamado "suicídio assistido", significa fazer-se colaborador e, por vezes, autor em primeira pessoa de uma injustiça que nunca pode ser justificada, nem sequer quando requerida" (Evangelium vitae EV 66). Nem mesmo se pode encorajar ou justificar a chamada "autodeterminação" da pessoa que é moribunda, quando na prática isto significa que um médico ajuda a pôr fim à vida, que está na base de todo o acto livre e responsável.

O que se torna hoje necessário no cuidado dos pacientes atingidos pelo cancro, é uma assistência que inclua formas de tratamento eficazes e acessíveis, alívio do sofrimento e formas de apoio comuns. Deve-se evitar um tratamento ineficaz ou que agrava o sofrimento, mas também a imposição de métodos terapêuticos não habituais e extraordinários. É de fundamental importância o apoio humano útil para a pessoa moribunda, pois "a súplica que brota do coração do homem no confronto supremo com o sofrimento e a morte, especialmente quando é tentado a fechar-se no desespero e como que a aniquilar-se nele, é sobretudo uma petição de companhia, solidariedade e apoio na prova" (Evangelium vitae EV 67).

5. Caros amigos, enquanto o século XX e o segundo milénio da era cristã estão a caminhar para o seu termo, viestes a Roma como homens e mulheres que estão a construir, baseando-se no magnífico trabalho dos seus predecessores neste século e neste milénio. O século XX teve as suas tragédias humanas, mas certamente entre os seus triunfos houve também o extraordinário progresso nas pesquisas e nos cuidados médicos (cf. Fides et ratio FR 106). À luz de tudo isto, e ainda mais se olharmos para mil anos atrás, como podemos deixar de enaltecer aqueles que abriram o caminho, e como podemos deixar de louvar a Deus, que é a fonte de toda a iluminação e de toda a cura? Olhar para trás significa compreender com humildade que estamos a progredir ao longo de um caminho traçado pelas intuições e pelo sacrifício de si aos outros; ao vermos até aonde chegámos, renovamos neste momento decisivo a nossa esperança no facto que a força da morte será vencida segundo a vontade de Deus.

Não estais sozinhos na grande tarefa de combater o cancro e de servir a vida. A inteira família humana está convosco: a Igreja no mundo inteiro olha para vós com respeito. Asseguro a todos vós a lembrança particular nas minhas orações, e confio o vosso nobre trabalho à intercessão da Mãe de Cristo, Salus infirmorum Saúde dos enfermos. Ao invocar sobre vós a graça e a paz de seu Filho, que curou os doentes e fez ressuscitar os mortos, confio-vos, a vós e aos vossos entes queridos, à amorosa protecção de Deus Omnipotente.



                                                                           Outubro de 1999

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO ARCEBISPO DE TRANI-BARLETTA-BISCEGLIE


POR OCASIÃO DO IX CENTENÁRIO DA CATEDRAL




Ao Venerado Irmão

D. CARMELO CASSATI

Arcebispo de Trani-Barletta-Bisceglie
Titular de Nazaré

1. Com alegria tive conhecimento de que a Arquidiocese de Trani-Barletta-Bisceglie se prepara para celebrar o IX centenário da Fundação da Basílica-Catedral, insigne edifício sagrado. A comemoração adquire particular relevo, uma vez que o Templo, meta contínua de visitantes, conserva os restos mortais daquele jovem grego de 17 anos, de nome Nicolau, peregrino rumo a Roma que, tendo chegado a Trani em 1094, morreu por causa do cansaço enquanto ao brado insistente de "Kyrie eleison" testemunhava a todos a necessidade de retornar a Deus. Os seus restos mortais, depositados provisoriamente na Catedral de Santa Maria da Escada, tornaram-se objecto de veneração para toda a população, que o quis Padroeiro da Cidade.

A vicissitude da actual Catedral românica começou em 1099, aquando o Arcebispo de Bizâncio proclamou santo o peregrino Nicolau, dando início à construção de uma igreja onde depor os seus restos mortais. A nova e grande Basílica conheceu intervenções sucessivas, sugeridas pouco a pouco por exigências de carácter litúrgico ou devocional, com acréscimos e enriquecimentos ornamentais, que lhe determinaram a fisionomia actual, diante da qual se detêm admirados peregrinos e turistas.

Na celebração desta efeméride desejo unir-me espiritualmente ao Povo de Trani, que dá ardentes graças ao Senhor pelos inúmeros benefícios recebidos no decurso da sua longa história de fé. Um deferente pensamento dirige-se, além disso, às Autoridades e a quantos participarem num evento tão significativo para a comunidade cristã dessa Cidade. Orgulhosa do tesouro de arte e de história que possui a sua antiga Catedral, dá graças a Deus pelo bem que, ao longo dos séculos, se irradiou do Templo e ao mesmo tempo sente-se estimulada a tomar renovada consciência do sempre premente dever de levar o anúncio de Cristo a quantos ainda não foram por ele alcançados. Nesta perspectiva, faço votos por que, por intercessão do jovem peregrino São Nicolau, numerosos jovens, acolhendo a vocação sacerdotal ou religiosa, ou empenhando-se nas fileiras do laicado católico, se ponham ao serviço do Evangelho, para oferecer também aos homens de hoje a possibilidade de descobrirem no Evangelho as respostas a que anela o seu coração.

2. "Saciar-nos-emos com os bens da Vossa casa e com o Vosso santo templo, ó Deus" (cf. Sl 65[64], 5). É este o sentimento que emerge na comunidade cristã quando se reúne na casa de Deus, para celebrar a própria fé e os mistérios do Senhor, testemunhando de maneira visível a própria identidade de família de Deus.

As estruturas exteriores do lugar sagrado são construídas para favorecer essa experiência e para ilustrar o esplendor do edifício espiritual, que se ergue sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, cuja "pedra angular é o próprio Cristo Jesus", no qual "toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor" (Ep 2,21).

Ao longo dos séculos, o povo cristão empenhou-se sempre por fazer resplandecer de magnificência o lugar do encontro com Deus, embelezando-o com obras de arte e enriquecendo-o com ornamentos preciosos: com efeito, ele deve manifestar aos homens as insondáveis riquezas da misericórdia divina e as maravilhas que Ele não cessa de realizar entre eles. É quanto emerge também da história dessa Catedral. Faço votos por que a extraordinária síntese de fé e de beleza, entregue há tantos séculos por artistas inspirados de modo evangélico nas linhas arquitectónicas do templo e nas criações que o adornam, reavive em quantos o visitem o desejo de Deus e os incentive a testemunhá-lo, com a palavra e a vida, a exemplo do santo Padroeiro.

3. Venerado Irmão, as celebrações centenárias em programa inserem-se no itinerário de preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, evento para o qual olham com confiança todos os cristãos, chamados a um profundo caminho de conversão e reconciliação, para entrarem no novo milénio revigorados na adesão ao Redentor. A coincidência destes acontecimentos não pode deixar de constituir para a comunidade eclesial de Trani-Barletta-Bisceglie um convite a viver as próximas celebrações, como ocasião propícia para dar graças ao Senhor pelos dons com que foi enriquecida no decurso dos séculos. Possam os fiéis, recordando-se da sua milenária tradição cristã, sentir-se corroborados no empenho de infundir na sociedade o fermento do anúncio evangélico.

Guiá-los-á com o seu materno apoio Maria, Mãe da Igreja, modelo insuperável de fé, esperança e caridade. Ao seguirem-na com fidelidade e ao imitarem o exemplo de São Nicolau, o Peregrino, os membros dessa antiga e ilustre Igreja tornar-se-ão sinais esplendorosos do amoroso desígnio do Pai e contribuirão para edificar, com a força do Evangelho, a civilização do amor.

Com estes sentimentos, concedo-lhe, venerado Irmão, ao clero, aos religiosos, às religiosas e a quantos fazem parte dessa família diocesana uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 4 de Outubro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA CONFERÊNCIA


DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS CATÓLICAS




Ao Senhor Joseph PIRSON
Presidente da Conferência das Organizações internacionais católicas

1. "Damos sempre graças a Deus por todos vós, lembrando-nos sem cessar de vós nas nossas orações, recordando a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a constância da esperança que tendes em Nosso Senhor Jesus Cristo" (1Th 1,2-3). Retomando as palavras do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses, é-me grato saudá-lo e a todos os participantes na XXXIII Assembleia geral da Conferência das Organizações internacionais católicas e, através de vós, os membros das numerosas OIC espalhadas pelo mundo.

Esta assembleia constitui uma etapa importante no vosso caminho de preparação para o Grande Jubileu. Formulo votos por que ela seja para cada uma das vossas organizações a ocasião para reafirmar o seu empenho, precisamente em vista da evangelização e, para os seus membros, um tempo propício para fortalecer a sua fé e o seu testemunho.

Decidistes realizar o vosso encontro no Líbano. É um bem poderdes receber o testemunho dos cristãos desse País, chamados a viver com coragem a exortação de São Paulo: "Alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração, socorrendo os santos nas suas necessidades, exercendo a hospitalidade" (Rm 12,12-13). Mediante a descoberta da vida e dos empenhos das comunidades cristãs libanesas, faço votos por que possais também perceber a sua tradição milenária e, a partir disto, percorrer de novo as etapas da história da salvação.

2. O âmbito, em que se desenvolvem os vossos trabalhos, esclarece bem o tema que escolhestes: "Erradicação da pobreza: as nossas práticas e as nossas perspectivas". Em um mundo com frequência sob a influência da cobiça, da violência e da mentira, que deixam os próprios vestígios em múltiplas formas de alienação e de exploração, é urgente promover um novo impulso de solidariedade. De igual modo, convém mobilizar as consciências e os recursos éticos para procurar com audácia soluções mais humanas aos problemas de muitos povos, deixados à margem do processo da mundialização e cujos membros mais débeis estão excluídos dos benefícios do desenvolvimento.

As questões ligadas à pobreza das pessoas e dos povos que nos nossos dias dominam o cenário internacional, são de importância decisiva. Elas não podem ser resolvidas com slogans fáceis ou com declarações estéreis. Como Organizações internacionais católicas, possuís uma grande experiência e uma vasta competência no âmbito da vida internacional. Conheceis as dificuldades encontradas e as pesquisas que a Comunidade das Nações realiza, para enfrentar o empobrecimento de uma parte sempre mais considerável da humanidade. Encorajo-vos a promover com vigor uma cultura da solidariedade e da cooperação entre os povos, na qual todos assumam a própria responsabilidade, a fim de fazer regredir de modo decisivo a extrema pobreza, fonte de violências, de rancores e de escândalos (cf. Bula de proclamação do Grande Jubileu Incarnationis mysterium, 12); participareis também no anúncio do Evangelho, fareis com que os homens descubram o rosto de Deus, Pai de toda a misericórdia, e contribuireis para a edificação de um mundo em que reinem a justiça e a paz. É portanto necessária e urgente uma mudança radical das mentalidades e das práticas internacionais, fundada sobre uma autêntica conversão do coração.

3. Com os cristãos que participam, sob outras formas, na vida internacional, e em colaboração com todos aqueles que procuram realmente o bem do homem, podeis oferecer um contributo particular à obra da comunidade humana. Para viverdes de modo sempre mais pleno este empenho, encorajo-vos a retornar constantemente às fontes da vossa identidade católica e a inspirar-vos no património da Doutrina Social da Igreja. Com efeito, é isto que torna a vossa presença originária, construtiva e portadora de esperança. A Igreja tem necessidade de vós e conta convosco. Oro a fim de que a graça do Grande Jubileu vos ajude a entrar no terceiro milénio, animados da preocupação de inventar modalidades novas e mais incisivas de presença e de acção no mundo. Encorajo-vos a prosseguir com determinação esta renovação, afirmando sem cessar a vossa pertença à Igreja, com o apoio do Pontifício Conselho para os Leigos, Dicastério da Cúria Romana com o qual mantendes um diálogo confiante e aprofundado, assim como com a Secretaria de Estado.

Confio a Cristo, Senhor da história, os trabalhos da vossa assembleia e concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva aos participantes neste encontro, assim como a todas as pessoas, que trabalham no âmbito das Organizações internacionais católicas, e às suas famílias.

Vaticano, 30 de Setembro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II


MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO BISPO DE CESENA-SARSINA


Ao Venerado Irmão

D. LINO GARAVAGLIA

Bispo de Cesena-Sarsina

Há duzentos anos, Cesena estava a viver um momento deveras extraordinário da sua história: com efeito, no dia 29 de Agosto de 1799 morria, em Valença, o Sumo Pontífice Pio VI, João Ângelo Braschi oriundo de Cesena, e a 14 de Março de 1800, como seu sucessor, era eleito Luís Barnaba Chiaramonti, também de Cesena, que quis chamar-se Pio VII.

Se se considera que o Pontificado de Pio VI iniciara quase vinte e cinco anos antes e que o de Pio VII superou os vinte e três, pode-se constatar como por quase cinquenta anos na Sede de Pedro permaneceu um filho dessa ilustre Cidade.

Portanto, é mais do que nunca oportuno, Venerado Irmão, e motivo de grande satisfação para mim que esse aniversário tão singular seja recordado em Cesena, com duas importantes iniciativas: um Congresso sobre os Pontificados de Pio VI e Pio VII, promovido pela Diocese; e uma Exposição, querida pela Instituição Biblioteca Malatestiana e acompanhada de uma publicação científica sobre os documentos referentes aos dois Papas, que são conservados na mesma Biblioteca Malatestiana e na Piancastelli.

Por ocasião dessas celebrações, desejo fazer chegar-lhe, bem como à querida Comunidade cristã de Cesena, a expressão do meu afecto cordial, enquanto asseguro a minha proximidade espiritual para atestar, a dois séculos de distância, o perene reconhecimento da Igreja universal por estes dois grandes cidadãos de Cesena.

De facto, é reconhecido por todos que, no dificílimo período histórico em que a Providência os chamou a exercer o ministério petrino - a época revolucionária e napoleónica - Pio VI e Pio VII contribuíram de maneira determinante para defender o Povo de Deus e para garantir estabilidade às instituições eclesiásticas. Com o seu pessoal sofrimento nos momentos do exílio, que ambos tiveram de sofrer, eles mais do que nunca honraram a Cristo e à dignidade pontifícia, trabalhando de maneira eficaz pela autêntica edificação da Igreja, através de um corajoso testemunho evangélico, iluminado pela força vitoriosa da Cruz.

É-me grato aproveitar a presente circunstância para desejar à Diocese de Cesena-Sarsina que saiba haurir abundantes frutos da graça do Grande Jubileu já iminente, para entrar no terceiro milénio interiormente renovada. Ela poderá assim oferecer à Igreja e à sociedade homens e mulheres adultos na fé, prontos a participar activamente na obra da nova evangelização. É este o melhor modo de honrar a memória de quantos, antes de nós, trabalharam na vinha do Senhor. Esta é, do mesmo modo, a via para fazer com que a preciosa herança deixada pelos meus venerados predecessores, Pio VI e Pio VII, continue a frutificar na sua terra natal, na Itália e no mundo inteiro.

Ao formular os melhores votos para o Congresso e para a Exposição, dirijo o meu pensamento de felicitações a quantos tomarem parte nas celebrações aniversárias e envio-lhe, bem como à Comunidade diocesana, uma particular Bênção Apostólica.

Vaticano, 30 de Setembro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS BENEDITINAS REPARADORAS


DA SAGRADA FACE DE N. S. JESUS CRISTO


Quinta-feira, 14 de Outubro de 1999

Queridas Irmãs!

1. É-me grato encontrar-vos por ocasião do quarto Capítulo Geral electivo da vossa Congregação.

Dirijo a cada uma de vós a minha saudação cordial e faço-a extensiva com fraterno afecto ao Senhor Cardeal Fiorenzo Angelini, que quis acompanhar-vos como testemunho do profundo vínculo que o une às Irmãs Beneditinas Reparadoras da Sagrada Face de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esse vínculo remete para aquele que ele teve com o vosso Fundador, o Servo de Deus Abade Ildebrando Gregori, de venerada memória.

Uma especial saudação de bons votos dirige-se, depois, à Madre Maria Maurizia Biancucci, que a confiança das Coirmãs reconfirmou no cargo de Superiora-Geral.

2. Caríssimas, a vossa Família, nascida há quase cinquenta anos, caracteriza-se pela devoção à Sagrada Face de Cristo, em espírito de "reparação". Adorais a Face do Senhor na celebração da Eucaristia e no Tabernáculo; vós a contemplais, segundo o modelo da Virgem de Nazaré, meditando no silêncio orante do coração os mistérios da salvação; vós a honrais nos irmãos mais necessitados, doentes e pobres, aos quais se dirige o vosso apostolado na Itália, Índia, Roménia, Polónia, República Democrática do Congo; vós a reconheceis naquela das Irmãs com quem compartilhais a vida fraterna em comunidade, e dos Sacerdotes aos quais ofereceis a vossa preciosa colaboração.

A vossa generosa dedicação foi premiada com um abundante florescimento de vocações. Isto requer um forte empenho na formação, a qual será tanto mais sólida quanto mais profundamente estiver enraizada nos valores evangélicos próprios do vosso carisma.

3. Há dois anos, juntamente com o Cardeal Angelini, a vossa Congregação deu vida ao Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Face de Cristo, cujas iniciativas encontraram amplo acolhimento. A Face de Jesus, caríssimas Irmãs, que vos empenhais em fazer conhecer e reconhecer em quantos sofrem no espírito e no corpo, seja a constante referência da vossa vida espiritual e do vosso apostolado, a fim de que, com a intercessão da Virgem Santíssima, a vossa Família religiosa continue a produzir frutos sempre mais abundantes na Igreja.

Com estes votos, acompanhados da minha lembrança na oração, concedo de coração a Bênção Apostólica a vós aqui presentes, à inteira Congregação e a quantos são destinatários do vosso serviço quotidiano.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO EQUADOR


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 14 de Outubro de 1999

Senhor Embaixador
Sua Excelência Senhor José Ayala Lasso!

1. Tenho o grande prazer de lhe dar as boas-vindas e de receber neste solene acto as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Equador junto da Santa Sé. Estou-lhe muito grato pelas amáveis palavras que me dirigiu, assim como pela cordial e respeitosa saudação do Senhor Presidente Constitucional da República, Dr. Jamil Mahuad, e peço que lhe transmita os meus melhores desejos de paz e bem-estar, juntamente com os meus votos pela prosperidade e progresso integral da querida Nação equatoriana.

2. Nas suas palavras, Vossa Excelência referiu-se ao Acordo de Paz, assinado há pouco mais de um ano, entre o seu País e a República irmã do Peru, e em cuja negociação Vossa Excelência teve um papel importante. Tive a satisfação de comprovar como os meus apelos ao diálogo respeitoso e à negociação franca e digna entre os dois países foram acolhidos, abrindo-se assim uma nova etapa entre estes dois países latino-americanos, que têm em comum tantos valores. A capacidade de chegar à solução de um problema secular há-de fazer com que os equatorianos maturem no seu enraizamento na tradição pacífica naquela região, ao mesmo tempo que se hão-de sentir directamente comprometidos na luta contra o narcotráfico e a corrupção, chagas sociais que implicam em especial os jovens e que põem em perigo a paz social e a estabilidade. Neste sentido, é desejável que o Equador encontre na comunidade internacional todo o apoio e a ajuda financeira necessárias para o enfrentar.

3. Por outro lado, sei que a grave situação económica que atravessa o País, devido à forte dívida externa e interna, é enfrentada com seriedade por todos os protagonistas da vida política, económica e social. Em diversas ocasiões referi-me a esta grave situação, que em escala mundial apresenta muitos problemas e impede que tantos países saiam do subdesenvolvimento e alcancem desejáveis níveis de bem-estar. A este propósito, desejo reafirmar quanto expus na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente (cf. n. TMA 51), com a esperança de que se favoreça o conveniente desenvolvimento para todos.

É também importante que a sociedade equatoriana tome consciência disto e, com uma atitude verdadeiramente solidária, esteja disposta a suportar os necessários sacrifícios que, em nenhum caso, devem agravar as condições de pobreza das classes mais humildes. Seria bom que o Equador, no qual alguns territórios se viram gravemente atingidos por recentes calamidades naturais, pudesse beneficiar de uma particular consideração por parte dos organismos internacionais. Nestes momentos acompanho com atenção as notícias que estão a chegar sobre a actividade do vulcão Pichincha, com a esperança de que não se produzam ulteriores danos por este motivo.

4. É-me grato constatar que a Constituição do seu País contempla a importância da educação e ratifica o reconhecimento do direito dos pais de família na educação dos seus filhos. Isto significa um passo importante diante de um regime de estatismo típico de épocas passadas, que se pôs em relevo na lei de liberdade dos pais de pedir para os seus filhos a educação religiosa, segundo o próprio credo. Esta liberdade para se abrir ao transcendente não é um privilégio para nenhum sector social, mas uma condição indispensável para que as crianças e jovens recebam uma formação integral, que os capacite para forjar um mundo mais humano, digno e solidário.

A mencionada lei permite certamente às dioceses oferecer uma cooperação adequada, inclusive nas escolas estatais. É para desejar também que, a nível universitário, o princípio de liberdade religiosa presida à legislação correspondente, para que se respeite a peculiar forma de organização da Universidade Católica e, assim, sirva como demonstração de reconhecimento à legítima autonomia que deve ter a Universidade.

5. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, referiu-se também às relações Igreja-Estado no Equador, as quais se distinguiram pelo mútuo respeito e cordialidade. Respeito para não interferir no que é próprio de cada instituição, mas que leva a apoiar-se reciprocamente e a colaborar, a fim de obter o maior bem-estar para a comunidade nacional. Por isto, através do diálogo construtivo, é possível a promoção de valores fundamentais para o ordenamento e desenvolvimento da sociedade. A este respeito, ainda que a missão da Igreja seja de ordem espiritual e não política, o incentivo de cordiais relações entre a Igreja e o Estado contribui, sem dúvida, para a harmonia, progresso e bem-estar de todos, sem distinção alguma.

6. No momento em que Vossa Excelência inicia a alta função para a qual foi designado, desejo formular-lhe os meus votos pelo feliz e frutuoso desempenho da sua missão junto desta Sé Apostólica. Ao pedir-lhe que se digne transmitir estes sentimentos ao Senhor Presidente da República, ao seu Governo, às Autoridades e ao querido povo equatoriano, asseguro-lhe a minha oração ao Todo-poderoso para que, com os seus dons, assista sempre Vossa Excelência e a sua distinta família, os seus colaboradores, os governantes e cidadãos do seu nobre País, que recordo sempre com particular afecto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS ADORADORAS SERVAS


DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO E DA CARIDADE


Sexta-feira, 15 de Outubro de 1999



Queridas Irmãs!

1. É para mim uma grande alegria poder compartilhar este encontro convosco, Irmãs Adoradoras Servas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, que celebrais nestes dias o vosso XXVII Capítulo Geral, sob o lema "Comunidade de mulheres consagradas, radicadas em Cristo Eucaristia, chamadas a uma missão libertadora, diante dos desafios do novo milénio". Com esta frase recolheis a essência do carisma de fundação de Santa Maria Micaela do Santíssimo Sacramento e expressais o vosso propósito de o viver com fidelidade, diante das exigências dos anos vindouros que, como escrevi na Carta Tertio millennio adveniente, hão-de ser "uma nova Primavera de vida cristã" (n. TMA 18).

Saúdo a Madre Emília Orta, Superiora-Geral, e todas vós, querendo por vosso intermédio chegar a cada uma das vossas irmãs, que cumprem a missão própria do Instituto em diversos países da Europa, Ásia, África e América.

2. Para responder ao chamado a dedicar-se ao serviço da juventude socialmente inadaptada, a vossa Fundadora sabia quanto era necessária a força que vem do Alto, de Jesus Cristo presente na Eucaristia e, por isso, quis acompanhar o exercício da caridade com a adoração eucarística. Esta, como bem sabeis por experiência, fortalece a vida cristã e de modo muito particular a vida consagrada, pois nela se encontram o consolo, a firme esperança e o impulso para a caridade que vêm da presença misteriosa e oculta, mas também real, do Senhor. Ele, que prometeu estar connosco todos os dias até ao fim do mundo (cf. Mt Mt 28,20), neste admirável Sacramento faz-se presente na realidade mesma do seu Corpo ressuscitado, que os anjos e os santos contemplam na glória do Céu.

3. Animo-vos, pois, a prosseguir, a partir da fidelidade à vossa espiritualidade eucarística, nas obras de apostolado em que estais comprometidas, ajudando tantas jovens necessitadas no corpo e no espírito, escravas de diversos tipos de opressão, anunciando-lhes a verdade e proporcionando-lhes os meios para a vida nova que nos é trazida por Cristo, favorecendo ao mesmo tempo a sua promoção humana e cristã nos vossos centros de formação.

Sirva-vos de estímulo nesse empenho a Bênção Apostólica, que de bom grado vos concedo e que, com prazer, faço extensiva a todas as Religiosas da Congregação, aos vossos benfeitores e às pessoas por vós assistidas.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO CONGRESSO EUCARÍSTICO


REGIONAL DE LANCIANO (ITÁLIA)




Ao venerado Irmão

ENZIO D'ANTONIO

Arcebispo de Lanciano-Ortona

1. Com grande alegria tomei conhecimento de que a Conferência Episcopal da Região dos Abruzos-Molise proclamou a celebração de um Congresso Eucarístico Regional, que se realizará na cidade de Lanciano de 17 a 24 de Outubro. É uma etapa que antecipa e prepara o grande evento do Ano 2000, que no Congresso Eucarístico mundial terá um seu momento central. Com efeito, "no sacramento da Eucaristia o Salvador, que encarnou há vinte séculos no seio de Maria, continua a oferecer-Se à humanidade como fonte de vida divina" (Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, TMA 55). O significativo evento eclesial que se está a preparar quer propor, no tempo já breve que nos separa da abertura do Grande Jubileu, uma oportuna reflexão sobre a Eucaristia, profundo vínculo de caridade.

Ao saudá-lo, Venerado Irmão, em cuja Diocese tem lugar o desenvolvimento dos trabalhos, desejo dirigir-me também aos caros Prelados das Igrejas dessa Região eclesiástica, aos amados sacerdotes, aos consagrados e consagradas, aos fiéis leigos e a quantos, de vários modos, participarão com as suas reflexões e a sua oração em tão intensa experiência eclesial. A ninguém passa despercebida a feliz coincidência do desenvolvimento dos trabalhos na mesma Cidade onde, no século VIII, na igreja de São Legonciano, ocorreu o primeiro milagre eucarístico, cujos testemunhos estão hoje conservados numa artística Basílica.

2. A promessa de Cristo de permanecer com os seus discípulos até ao fim do mundo (cf. Mt Mt 28,20) realiza-se de modo singular na Igreja, quando a comunidade se reúne para "fazer memória" do Sacrifício pascal. É no momento da Eucaristia, isto é, quando o Ressuscitado está realmente presente entre os seus, que se exprime plenamente a própria identidade da Igreja, Corpo místico de Cristo, formado de "homens de toda a tribo, língua, povo e nação" (Ap 5,9).

Cristo, elevado ao altar da Cruz, continua a atrair quantos Lhe dirigem o olhar, enquanto Se oferece a Si mesmo até ao fim do mundo para a salvação de todos. Vítima imolada sobre o altar do amor, Ele forma com os seus discípulos uma inseparável unidade, à imagem do vínculo que une a Santíssima Trindade. A eles deixa uma advertência que vale para sempre: "Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer" (Jn 15,5).

A assembleia reunida em torno do altar e presidida pelo Sacerdote que age in persona Christi, perpetua no tempo a imagem da primeira comunidade cristã, congregada à volta dos Apóstolos. Os novos baptizados, segundo quanto refere São Lucas, eram assíduos na escuta do ensinamento dos Apóstolos e na união fraterna, na fracção do pão e nas orações (cf. Act Ac 2,42).

Da comunidade eucarística brota, por isso, uma intensa experiência de acolhimento. Assim como o Pai acolhe com amor os seus filhos que, sem distinção e movidos pelo Espírito Santo, se dirigem a Ele no nome do Filho, assim também cada um deve estar disposto a acolher o irmão como dom de Deus, para juntos fazerem memória dos eventos salvíficos da Páscoa, até ao dia em que o Senhor há-de vir. Deste modo, na família de Deus, reunida para se nutrir do pão eucarístico, vem-se a manifestar a solicitude de cada um para com o outro, pois todos são um só em Cristo (cf. Gl Ga 3,28).

3. Esta experiência de unidade, vivida na Eucaristia, não pode deixar de se prolongar em atitudes responsáveis de fraternidade, pois "a renovação da aliança de Deus com os homens na Eucaristia introduz e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo" (Sacrosanctum concilium SC 10). Por conseguinte, todos os que se aproximam do Pão da vida reconhecem ser devedores não só para com Deus, mas também reciprocamente, um em relação ao outro, de um amor sincero e efectivo, que se traduz em acção de apoio fraterno e de diálogo frutuoso para a edificação mútua. Disto brota a alegria de testemunhar no mundo o amor misericordioso de Deus. Naqueles que vivem da Eucaristia não pode dominar o egoísmo, porque neles vive Cristo (cf. Gl Ga 2,20).


Discursos João Paulo II 1999 - Quinta-feira, 30 de Setembro de 1999