Homilias JOÃO PAULO II 233


VISITA DO SANTO PADRE À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO JOÃO EVANGELISTA


Domingo, 18 de Novembro de 1979




Caríssimos irmãos e irmãs

1. Vim hoje aqui para terminar a visita pastoral à paróquia, que o Bispo Auxiliar, Dom Clemente Riva, levou a efeito no inicio do passado mês de Outubro.

A visita a cada uma das comunidades do Povo de Deus faz parte dos deveres fundamentais de todo o Bispo. Deveres que nos são indicados, de modo particular a nós, pelos Apóstolos do Senhor, que visitaram particulares comunidades cristãs, sobretudo aquelas a que tinham dado início. Sobre este aspecto, é particularmente eloquente o testemunho de São Paulo. Também São João, Padroeiro da vossa paróquia, manifesta, de diversos modos, a sua solicitude apostólica pelas igrejas particulares, quer nas suas cartas, quer, de modo especial, no Apocalipse, quando, no início, se dirige às sete Igrejas da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiátira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia (Ap 1,11).

Como Bispo de Roma e convosco, Irmãos no Episcopado — Cardeal Vigário, Arcebispos e Bispos Auxiliares —, desejo continuar fiel a esta tradição apostólica.

Por ocasião da visita de hoje, dirijo uma saudação cordial a todos os caros paroquianos de São João Evangelista em Spinaceto; quero mencionar, especialmente os beneméritos sacerdotes que se dedicam à vossa cura espiritual, as Irmãzinhas da Assunção e as Servas do Amor Misericordioso, os Membros do Conselho Paroquial e os vários Movimentos eclesiais aqui representados. Chegue a todos vós a minha palavra de vivo encorajamento para prosseguirdes no caminho de um autêntico testemunho cristão.

2. Na liturgia deste domingo o Senhor dirige-nos, de modo particular, uma palavra: "Vigiai". Cristo pronunciou-a várias vezes e em diversas circunstâncias. Hoje a palavra "vigiai" está ligada à perspectiva escatológica, à perspectiva das últimas realidades: "vigiai e orai em todo o tempo, para que possais apresentar-vos diante do Filho do Homem" (Cfr. Mt Mt 24,42 Mt Mt 24,44).

A esta chamada de atenção correspondem já as palavras da leitura do Livro do Profeta Daniel. Mas correspondem-lhe, sobretudo, as palavras do Evangelho segundo São Marcos. Tais palavras afirmam que o céu e a terra passarão (Mc 13,31) e esboçam, ainda, o quadro deste passar, referindo-se ao fim do mundo.

Esta realidade é construída sobre a imagem do cosmos, própria de então. Desde há dois mil anos as nossas ciências naturais e cosmológicas deram passos em frente. O homem de hoje tem medo da destruição do seu planeta, e liga-a sobretudo ao conjunto de todos os meios de destruição que foram produzidos pela ciência e pela técnica modernas. Permito-me referir aqui as seguintes palavras da Encíclica Redemptor hominis: "O homem, portanto, cada vez vive mais com medo. Ele teme que os seus produtos, naturalmente não todos e não na maior parte, mas alguns e precisamente aqueles que encerram uma especial porção da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltados de maneira radical contra si mesmo; teme que eles possam tornar-se meios e instrumentos de uma inimaginável autodestruição, perante a qual todos os cataclismas e as catástrofes da história, que nós conhecemos, parecem ficara perder de vista" (Redemptor hominis, III, 15).

234 Tal destruição, ou melhor autodestruição do nosso mundo, cujo perigo acompanha a consciência do homem contemporâneo, apresenta-se, ao mesmo tempo, como uma consequência de prevalecer o ódio sobre o amor e sobre a justiça, ou seja o mal sobre o bem no sentido moral. O "vigiai" de Cristo adquire, neste contexto, clareza particular. Torna-se grande imperativo humano, com dimensão internacional e universal. Sentimos um dever profundo de pensar e agir segundo o espírito deste imperativo, repetindo incessantemente a chamada à justiça e à paz no mundo de hoje.

3. Muitas vezes se acusa o cristianismo de, ao dirigir o homem para as últimas e eternas realidades, lhe desviar a atenção das coisas temporais. Tal acusação supõe que se compreendeu erradamente esse "vigiar" recomendado por Cristo. É pronunciado numa perspectiva escatológica, mas abre-se, ao mesmo tempo, à totalidade dos problemas e dos deveres do homem que vive nesta terra. A existência temporal gera uma série de deveres que, por isso mesmo, constituem o conteúdo daquele "vigiai", segundo o Evangelho.

O Concílio Vaticano II exprime esta ideia de muitos modos (particularmente na constituição Gaudium et Spes ), recordando que o dever dos cristãos, em conjunto com todos os homens de boa vontade, está em fazer, sim, que a vida do homem sobre a terra se torne cada vez mais "humana": isto em todas as esferas da existência terrena. Este dever da Igreja em toda a sua universalidade deve fazer-se sentir vivamente em todas as comunidades, em todas as paróquias, como em todas as partículas e células de um organismo vivo; a Igreja é, de facto, o Corpo de Cristo.

4. Ao mesmo tempo, aquele "vigiai" de Cristo, que, abarcando conteúdo tão denso, ecoa na liturgia de hoje, é dirigido a cada um de nós, a cada homem. Cada um de nós tem a sua parte na história do mundo e na história da salvação, participando na vida da própria sociedade, da nação e do ambiente familiar. Podemos e devemos consciencializar-nos de que estes círculos de relação, em que está presente cada um de nós, se alargam e se concentram: dos mais amplos, que por vezes se torna difícil abranger, até aos mais apertados e próximos. Não há dúvida, porém, que da forma como cada um de nós aceitar o evangélico "vigiai", no círculo mais apertado, dependem também os círculos mais afastados e toda a imagem da vida da humanidade.

Hoje, portanto, ao ouvirmos este apelo, aqui reunidos por ocasião da visita à paróquia de São João Evangelista, cada um de nós pense na sua vida pessoal. Pense na sua vida conjugal e familiar. O marido pense no seu comportamento em relação à esposa; a esposa pense no seu comportamento em relação ao marido; os pais em relação aos filhos e os filhos em relação aos pais. Os jovens pensem na sua relação com os adultos e com toda a sociedade, que tem o direito de ver neles o próprio futuro melhorado. Os saudáveis pensem nos doentes e nos que sofrem; os ricos nos pobres. Os pastores das almas, nestes irmãos e irmãs que constituem "o redil do Bom Pastor", etc.

Este modo de pensar, nascido do conteúdo profundo e universal do "vigiai" de Cristo, é fonte de verdadeira vida interior. É a prova da maturidade da consciência. É a manifestação da responsabilidade de cada um por si e pelos outros. Através de tal modo de pensar e de agir, cada um de nós como cristão participa na missão da Igreja.

5. O Bispo vem à Paróquia para tornar conscientes todos e cada um, do facto de os baptizados participarem na missão da Igreja. Mais: de participarem na obra da salvação, realizada uma vez para sempre por Cristo, e continuamente em vias de realização, no maior amor a Deus e aos homens. É disto que nos fala o autor da carta aos Hebreus, afirmando que Jesus Cristo, com uma só oblação, tornou perfeitos, para sempre, os que são santificados (
He 10,14). Nós, mediante a fé, vivemos na perspectiva deste Único Sacrifício, e realizamo-lo constantemente, cada um por conta própria e todos em comunidade, com a nossa vida, com a nossa vigilância.

Não podemos, caros irmãos e irmãs, fechar os olhos sobre as últimas realidades. Não podemos fechar os olhos sobre o significado definitivo da nossa existência terrena.

Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão-de passar (Mc 13,31) — diz o Senhor. Devemos viver com os olhos amplamente abertos.

Tal abertura dos olhos, favorecida pela luz da fé, traz consigo também a paz e a alegria, como testemunham as palavras do Salmo responsorial da liturgia de hoje. A alegria advém do facto de que o Senhor é a parte da minha herança e o meu cálice (Ps 16,5). Não vivemos no vazio, e não caminhamos para o vazio!

O Senhor é a parte da minha herança e o meu cálice; / está nas vossas mãos o meu destino. / O Senhor está sempre na minha presença; / com Ele a meu lado não vacilarei. / Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta (Ibid. 16, 5.8.9).

235 6. Portanto, não tenhamos medo de aceitar esta chamada de atenção: Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor; vigiai, porque, na hora em que não pensais, virá o Filho do Homem (Mt 24,42 Mt 24,44).

Esta chamada de atenção plasme a vossa vida desde os fundamentos. Permita-nos viver na exacta medida da dignidade do homem — isto é, na liberdade plena. Dê à vida de cada um de nós aquela dimensão brilhante, cuja fonte é Cristo.



SOLENIDADE DE CRISTO REI




Domingo, 25 de Novembro de 1979

1. Hoje a Basílica de São Pedro ecoa com a liturgia de uma insólita solenidade. No calendário litúrgico pós-conciliar ligou-se a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo com o último domingo do ano eclesiástico. E está bem assim. De facto a verdade da fé que queremos manifestar e o mistério que queremos viver encerram, em certo sentido, cada dimensão da história, cada etapa do tempo humano, e abrem, ao mesmo tempo, a perspectiva de um novo céu e de uma nova terra (Ap 21,1), a perspectiva de um reino que não é deste mundo (Jn 18,36). É possível que se entenda erradamente o significado das palavras sobre o «Reino» pronunciadas por Cristo diante de Pilatos — ou seja: sobre o reino que não é deste mundo. Todavia o contexto singular do acontecimento, em cujo âmbito elas foram pronunciadas, não permite compreendê-las assim. Devemos admitir que o Reino de Cristo, graças ao qual se abrem diante do homem as perspectivas extraterrestres, as perspectivas da eternidade, forma-se no mundo e no tempo. Portanto, forma-se no próprio homem através do testemunho da verdade (Ibid.18, 37). que Cristo deu naquele momento dramático da sua Missão messiânica: perante Pilatos, perante a morte na cruz, pedida ao juiz pelos seus acusadores. Portanto, a nossa atenção deve incidir não apenas sobre o momento litúrgico da solenidade de hoje, mas também sobre a surpreendente síntese de verdade que esta solenidade exprime e proclama. Por isso me permiti, com o Cardeal Vigário de Roma, convidar hoje os membros dos vários sectores do apostolado dos leigos de todas as paróquias da nossa Cidade — isto é, todos os que, com o Bispo de Roma e com os pastores de almas de cada paróquia, aceitam fazer próprio o testemunho de Cristo Rei e procuram abrir lugar ao Seu Reino nos seus corações e difundi-lo entre os homens.


2. Jesus Cristo é «a Testemunha fiel» (Cfr. Apoc Ap 1,5), como afirma o Autor do Apocalipse. É «a Testemunha fiel» do domínio de Deus na criação e, sobretudo, na história do homem. De facto Deus, como criador e, ao mesmo tempo, como Pai, formou o homem, desde o início. Por isso está Ele, como Criador e como Pai, sempre presente na sua história. Tornou-se não apenas o Princípio e o Fim de todo o criado, mas também o Senhor da história e o Deus da Aliança: Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do Universo (Ap 1,8).

Jesus Cristo — «Testemunha fiel» — veio ao mundo precisamente para dar testemunho desta verdade.

A Sua vinda no tempo! — quão concretamente e de modo sugestivo a preanunciaria o profeta Daniel na sua visão messiânica, falando na vinda de um filho de homem (Da 7,13) e delineando a dimensão espiritual do Seu reino nestes termos: Foi-Lhe entregue o domínio, a majestade e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram. O Seu domínio é domínio eterno, que não passará jamais, e a Sua realeza não será destruída (Ibid. 7, 14). É assim que o profeta Daniel, provavelmente no século VI, viu o reino de Cristo antes de Ele ter vindo ao mundo.

3. Aquilo que se passou diante de Pilatos na sexta-feira antes da Páscoa permite-nos expurgar a imagem profética de Daniel de qualquer associação imprópria. De facto o «Filho do homem» mesmo responde à pergunta que lhe fez o governador romano. Esta resposta manifesta-se deste modo: O Meu Reino não é deste mundo. Se o Meu Reino fosse deste mundo, os Meus guardas lutariam, para que eu não fosse entregue aos Judeus. Mas, de facto, o Meu Reino não é aqui (Jn 18,36).

Pilatos, representante do poder exercido em nome da poderosa Roma sobre o território da Palestina, homem que pensa segundo as categorias temporais e políticas, não entende tal resposta. Por isso pergunta pela segunda vez: Logo, Tu és Rei? (Ibid. Jn 18,37).

Também Cristo responde pela segunda vez. Como na primeira explicou em que sentido não era rei, assim agora, para responder totalmente à pergunta de Pilatos e, ao mesmo tempo, à pergunta de toda a história da humanidade, de todos os soberanos e de todos os políticos, responde assim: Sou Rei. Se nasci, se vim a este mundo, foi para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz (Cfr. ibid.).

Esta resposta, em ligação com a primeira, exprime toda a verdade sobre o Seu reino; toda a verdade sobre Cristo Rei.

236 4. Nesta verdade se encerram, igualmente, as ulteriores palavras do Apocalipse, com as quais o Discípulo amado completa, de certo modo e à luz do colóquio que teve lugar Sexta-feira Santa na residência de Pilatos em Jerusalém, o que, em tempos, tinha escrito o profeta Daniel. São João anota: Ei-1'O que vem entre as nuvens (assim se exprimira já Daniel). Todos o verão com os seus próprios olhos, até aqueles que O transpassaram ... Sim. Ámen! (Ap 1,7).

Precisamente: Ámen. Esta única palavra autentica, por assim dizer, a verdade sobre Cristo Rei. Ele não é apenas «a Testemunha fiel», mas também o Primogénito dos mortos (Ibid. 1, 5). E se é o Soberano da terra e daqueles que a governam — o Soberano dos reis da terra (Ibid.) — é-o por isto, sobretudo por isto, e definitivamente por isto: porque nos ama e, pelo Seu Sangue, nos libertou do pecado e fez de nós um Reino de sacerdotes para o Seu Deus e Seu Pai (Ibid. 1, 5-6).

5. Eis a plena definição desse reino, eis toda a verdade sobre Cristo Rei. Viemos hoje a esta Basílica para aceitar esta verdade uma vez mais, com os olhos da fé inteiramente abertos e com o coração pronto a dar a resposta. Pois esta é verdade que exige, de modo particular, uma resposta. Não apenas a compreensão. Não apenas a aceitação por parte da inteligência, mas resposta que nasça de toda a vida.

Essa resposta foi pronunciada, de modo excelente, pelo Episcopado da Igreja contemporânea, no Concílio Vaticano II. Viria até, neste momento, a vontade de lançar mão desses textos da Constituição «Lumen Gentium», que deslumbram com a simples profundidade da verdade, dos textos cheios da plenitude da «praxis» cristã contidos na Constituição pastoral «Gaudium et Spes», e de tantos outros documentos que dos fundamentais tiram as conclusões concretas para os vários campos da vida eclesial. Penso, em particular, no decreto «Apostolicam actuositatem» sobre o apostolado dos Leigos. Se peço alguma coisa aos Leigos de Roma e do mundo, é que tenham sempre presentes estes excelentes documentos do ensino da Igreja contemporânea. Definem o sentido mais profundo do que é ser cristão. Estes documentos merecem bem mais do que ser estudados e meditados; se não se procura apoio neles, é quase impossível compreender e realizar a nossa vocação e, especialmente, a vocação dos leigos, o seu contributo particular para a construção daquele Reino que, embora não sendo deste mundo (Jn 18,36), existe todavia aqui, porque está em nós. E, em particular, está em Vós, leigos!

6. Cristo foi elevado na cruz como um Rei singular: como a eterna Testemunha da verdade. Se nasci, se vim a este mundo, foi para dar testemunho da verdade (Ibid.18, 37). Este testemunho é a medida das nossas obras. A medida da vida. A verdade por que Cristo deu a vida — e que confirmou com a ressurreição — é o princípio fundamental da dignidade do homem. O reino de Cristo manifesta-se, como ensina o Concílio, na «realeza» do homem. É necessário que, a esta luz, nós saibamos participar em todas as esferas da vida contemporânea e saibamos formá-la. Nos nossos tempos não faltam, de facto, propostas dirigidas ao homem, não faltam programas que se apregoa fomentarem o seu bem. Saibamos relê-los à luz da plena verdade sobre o homem, da verdade confirmada com as palavras e com a cruz de Cristo! Saibamos discerni-los bem! Concorda aquilo que declaram com a medida da verdadeira dignidade do homem? A liberdade que proclamam favorece a realeza do ser criado à imagem de Deus ou, pelo contrário, prepara a privação ou restrição dela? Por exemplo: servirão a verdadeira liberdade do homem ou exprimirão a sua dignidade, a infidelidade conjugal, mesmo que sancionada pelo divórcio, ou a inconsciência da responsabilidade pela vida concebida, embora a técnica moderna ensine como desembaraçar-se dela? Com certeza, nenhum permissivismo moral se baseia na dignidade do homem, nem educa o homem para ela.

Como não lembrar aqui o diagnóstico que, na vossa assembleia do passado dia 10 de Novembro, fez o Senhor Cardeal Vigário sobre o contexto sócio-religioso da nossa Cidade? Indicou os principais «sofrimentos» que angustiam a cidade de Roma: a insegurança social das famílias no que se refere à casa, ao trabalho e à educação dos filhos; o desnorteamento espiritual e social dos imigrados vindos das zonas rurais; a incomunicabilidade entre as famílias que vivem nos grandes condomínios populares sem se conhecerem e sem coragem de se tornarem solidárias; a delinquência organizada, particularmente ao serviço da droga; a violência alienante e sem motivo e o terrorismo político, a que se juntam as múltiplas manifestações de imoralidade e irreligiosidade na vida pessoal e social.

Destes males apontam-se as causas, além do mais, no decrescimento de interesse pelos problemas da educação e da escola entregue cada vez mais nas mãos de forças minoritárias, mas fortemente perturbadoras; e na desagregação da família, submetida à acção corrosiva de múltiplos factores ambientais e de costumes. A raiz mais profunda, porém, deve procurar-se, como disse o Senhor Cardeal, «no constante desprezo da pessoa humana, da sua dignidade, dos seus direitos e deveres» e do sentido religioso e moral da vida. O Cardeal Vigário solicitou ainda de todos vós urna corajosa aceitação de responsabilidades, propondo-vos algumas «perspectivas concretas de compromisso», entre elas: a construção de uma verdadeira comunidade cristã, capaz de anunciar, de modo crível, o Evangelho; o compromisso cultural de procura e de discernimento crítico, em constante fidelidade ao Magistério, em ordem a um diálogo concreto entre a Igreja e o mundo; o compromisso de contribuir para o incremento do sentido da responsabilidade social, estimulando no clero e nos fiéis a solidariedade pelo bem comum quer da Comunidade eclesial quer da civil; o compromisso, enfim, na pastoral vocacional, particularmente urgente hoje em dia, e na das comunicações sociais.

Eis diante de vós, irmãs e irmãos caríssimos, algumas linhas exactas de acção pastoral, sobre as quais cada um de vós é convidado a medir-se, numa adesão coerente e corajosa às exigências postas pelo Baptismo e pelo Crisma e confirmadas pela participação na Eucaristia. Peço a todos e a cada um que se não demita em face das próprias responsabilidades. Peço-o na solenidade litúrgica de Cristo Rei.

Cristo, num certo sentido, está sempre diante do tribunal das consciências humanas, como se encontrou uma vez diante do tribunal de Pilatos. Ele revela-nos sempre a verdade do seu reino. E sempre se enfrenta com a pergunta, vinda de muitos lados: Que é a verdade?(Ibid. 18, 38).

Por isso, esteja Ele ainda mais perto de nós. Esteja o seu reino cada vez mais em nós. Retribuamos-Lhe com o amor a que nos chamou — e n'Ele amemos cada vez mais a dignidade de cada homem!

Seremos então verdadeiros participantes da Sua missão. Tornar-nos-emos apóstolos do Seu reino.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À TURQUIA

CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

NA CATEDRAL DO ESPÍRITO SANTO EM ISTAMBUL


237
Quinta-feira, 29 de Novembro de 1979




Caríssimos irmãos no Senhor

Paz aos irmãos, bem como caridade, acompanhada de fé. da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo (Cfr. Ef
Ep 6,23).

Seja. esta saudação do Apóstolo Paulo, aos cristãos de Éfeso, a mesma que eu vos dirijo.

Dirijo-me, antes de mais, ao Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Dimítrios I, e ao Patriarca arménio, Sua Beatitude Shnorhk Kalustian, respeitáveis irmãos, que quiseram unir-se a esta celebração e honrar-nos, deste modo, a nós e a toda a nossa comunidade local. Exprimo-lhes a minha profunda gratidão.

1. Saúdo-vos cordialmente, irmãos e filhos da Igreja católica, bispos, padres, religiosos, religiosas e fiéis leigos, pertencentes às diversas comunidades católicas da cidade e aos diferentes ritos. Saúdo ainda, através de vós, todos os católicos deste grande pais. Agradeço-vos o vosso caloroso e filial acolhimento, bem como a alegria que me dais. Queria endereçar, de igual modo, os meus agradecimentos a todos os que tornaram possível esta viagem, e de maneira particular às Autoridades deste país, que me acolheram com tanta gentileza. O meu encontro convosco, irmãos e irmãs no Senhor, enche-me de alegria imensa. Aprecio a vossa presença activa nesta esplêndida e histórica cidade, rica de tantos e admiráveis testemunhos cristãos.

E como esquecer que os pontos essenciais da nossa fé encontraram a sua formulação dogmática nos Concílios ecuménicos havidos nesta cidade, ou nas cidades vizinhas, com cujo nome são designadas ainda: Niceia, Constantinopla, Éfeso, Calcedónia? Como não evocar com emoção os Padres da Igreja do Oriente, Pastores e Doutores, que nasceram nesta região e aqui exerceram um apostolado sem par, deixando-nos luminosos escritos que servem, ainda hoje, de alimento e ponto de referência para toda a Igreja, tanto no Ocidente como no Oriente? Penso especialmente em São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla, cuja coragem, clareza, profundidade e eloquência o tornaram o modelo do Pastor e do pregador. Penso em toda esta vida contemplativa que floresceu aqui no decorrer dos séculos, na escola dos mestres espirituais, penso na fidelidade da fé através de tantas provações. De certo modo, caros irmãos e irmãs, vós herdais hoje este tesouro e estes exemplos que devem frutificar nas vossas almas. Sinto-me feliz por ver-vos professar esta fé, com convicção, com perseverança e em espírito de sacrifício. Em diversos campos e de diversos modos, prestais um serviço apreciado à Igreja e a este país.

Quer trabalheis directamente no campo eclesial quer vos empenheis em actividades de cultura mais gerais, seja na educação da juventude seja nas obras de caridade, vós quereis expressar a vossa fé servindo sempre o homem, criado à imagem e semelhança de Deus (Cfr. Gén Gn 1,26-27) e contribuindo para a construção da Igreja de Deus, edificada sobre o alicerce dos apóstolos e sobre a pedra angular que é Cristo (Cfr. Ef Ep 2,20).

2. Irmãos e irmãs, desejei celebrar convosco esta Santa Liturgia, particularmente nesta feliz circunstância da festa do apóstolo Santo André. André foi o primeiro chamado a seguir Jesus. "Vinde ver", dissera o Senhor (Jn 1,39). E André pôs-se a caminho, seguiu-o e ficou "junto dele nesse dia". E não apenas "nesse dia"; seguiu-o durante toda a vida; viu-o realizar milagres, curar os doentes, perdoar os pecados, dar a vista aos cegos, ressuscitar os mortos; conheceu a Sua dolorosa paixão e a Sua morte, e viu-O ressuscitado. E continuou a acreditar nele até ao testemunho final do martírio.

A celebração da festa de um santo recorda-nos a nossa própria vocação à santidade. São Pedro, o irmão de Santo André, lembra-no-lo, de modo estimulante, na sua carta escrita precisamente aos cristãos da Ásia Menor: Assim como Aquele que vos chamou é santo, sede também vós santos em todas as vossas acções (1P 1,13).

A vocação cristã é sublime e exigente, e não seríamos capazes de a seguir se o Espírito de Deus nos não desse a luz para compreender e a força necessária para agir. Mas Cristo assegurou-nos a sua assistência: Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo (Mt 28,20).

238 Sim, a vocação cristã é vocação à perfeição, para edificar o Corpo de Cristo até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado do homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ep 4,13). Firmes na fé, oxalá cresçamos de todos os modos praticando a verdade na caridade (Ep 4,15).

3. Alarguemos agora a nossa meditação ao mistério da Igreja. Santo André, o primeiro chamado, Padroeiro da Igreja de Constantinopla, é o irmão de São Pedro, corifeu dos apóstolos, Fundador com São Paulo da Igreja de Roma e seu primeiro Bispo. Este facto recorda-nos, por um lado, um drama do cristianismo, a divisão entre o Oriente e o Ocidente. Mas lembra-nos também a realidade profunda da comunhão que existe, apesar de todas as divergências, entre as duas Igrejas.

Quão necessário é agradecer ao Senhor ter feito surgir, no decorrer dos últimos decénios, pioneiros esclarecidos e obreiros infatigáveis da unidade, tais como o Patriarca Atenágoras, de venerada memória, e os meus grandes predecessores, o Papa João XXIII — de quem esta cidade e esta Igreja conservam honrosa recordação —, e o Papa Paulo VI, que veio encontrar-se convosco antes de mim! A acção de ambos foi fecunda para a vida da Igreja e para a busca da unidade plena entre as nossas Igrejas, que se apoiam sabre a única pedra angular que é Cristo e estão edificadas sobre o fundamento dos apóstolos.

Os contactos, cada vez mais intensos, destes últimos anos, fizeram redescobrir a fraternidade entre as nossas duas Igrejas e a realidade de uma comunhão entre elas, embora não perfeita. O Espírito de Deus mostrou-nos ainda, de maneira cada vez mais clara, a exigência que se impõe em realizar a plena ,unidade, a fim de se dar um testemunho mais eficaz ao nosso tempo.

A minha visita ao Patriarca ecuménico e a minha peregrinação a Éfeso, onde Maria foi proclamada "Theotókos" — Mãe de Deus —, têm por finalidade servir — na medida que posso e quanto o Senhor permitir — esta causa. Agradeço à Providência ter guiado os meus passos até estes lugares.

Estamos na vigília da abertura do diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa no seu conjunto. Trata-se de outra fase importante do processo rumo à unidade. Este diálogo tratará, partindo do que temos em comum, de identificar, enfrentar e resolver todas as dificuldades que nos impedem ainda a unidade total. Amanhã participarei na celebração da festa de Santo André na Igreja do Patriarcado ecuménico. Não poderemos concelebrar. Está nisto o mais doloroso sinal da infelicidade introduzida pela divisão na única Igreja de Cristo. Mas, graças a Deus, celebramos já em conjunto, de há alguns anos a esta parte, as festas dos padroeiros das nossas Igrejas, como penhor e vontade efectiva da plena concelebração; em Roma, celebramos a festa de São Pedro e São Paulo na presença de uma delegação ortodoxa; no Patriarcado ecuménico, a festa de Santo André com uma presença católica.

A comunhão na oração há-de conduzir-nos à plena comunhão na Eucaristia. Ouso esperar que esteja próximo esse dia. Pessoalmente, desejá-lo-ia muito próximo. Não temos já em comum a mesma fé eucarística e os verdadeiros sacramentos, em virtude da sucessão apostólica? Esperemos que a comunhão total na fé, em particular no domínio eclesiológico, permita bem depressa esta plena "communicatio in sacris". Já o meu venerado predecessor, o Papa Paulo VI, desejara ver esse dia, bem como o Patriarca Atenágoras I; assim o expressava, falando deste último, logo depois da sua morte: "Resumia sempre os seus sentimentos numa única e suprema esperança: a de poder 'beber do mesmo cálice' connosco, isto é, de podermos celebrar juntos o sacrifício eucarístico, síntese e coroa da comum identificação eclesial com Cristo. Nós próprio quanto o desejámos! Agora este seu desejo irrealizado deve ser a nossa herança dele recebida e o nosso empenho! (Angelus de 9 de Julho de 1972). Retomando, por minha parte, esta herança, partilho ardentemente esse desejo que o tempo e os progressos na união não fazem mais que avivar.

4. Sei que também vós, católicos desta cidade e de toda a Turquia, estais conscientes da importância que reveste a procura da plena unidade entre os cristãos. Sei que rezais e trabalhais neste sentido, e que tendes contactos fraternos com a Igreja ortodoxa e com os demais cristãos da vossa cidade e do vosso país. Estou-vos, por isso, profundamente reconhecido.

Sei também que procurais estabelecer contactos de amizade com os outros crentes que invocam o Nome do Deus único, e que sois cidadãos activos e leais deste país, em que formais uma minoria. A isso vos animo de todo o coração.

Deus vos abençoe! Abençoe as vossas comunidades, as vossas famílias, as vossas pessoas, especialmente os que sofrem, pelos quais terei uma intenção particular. E conceda-vos sempre aquilo de que tenhais necessidade para, na vida, dardes dele um testemunho cada vez mais fiel.

5. E agora convido-vos a rezar com fervor, durante este sacrifício eucarístico, pela comunhão total das nossas Igrejas. O progresso na unidade apoiar-se-á nos nossos esforços, nos nossos trabalhos teológicos, nas nossas tentativas repetidas, e especialmente na nossa mútua caridade; mas é, ao mesmo tempo, graça do Senhor. Supliquemos-lhe que aplane os obstáculos que retardaram, até agora, o caminho da plena unidade. Supliquemos que, a todos quantos colaboram na aproximação, lhes conceda o seu Espírito Santo, que os levará até à verdade total, lhes alargará a caridade e os tornará impacientes pela unidade. Suplicai-lhe que nós próprios, pastores das Igrejas irmãs, sejamos os melhores instrumentos do seu desígnio, nós que a Providência escolheu, neste momento da história, para dirigir as Igrejas, isto é, para as servir como quer o Senhor, e servir assim a única Igreja que é o seu Corpo. No decurso do segundo milénio, as nossas Igrejas como que se tinham fixado na sua separação. Mas eis que temos à porta o terceiro milénio do cristianismo. Oxalá o dealbar deste novo milénio ilumine uma Igreja que tenha reencontrado a sua plena unidade, para melhor testemunhar, no meio das exacerbadas tensões deste mundo, o amor transcendente de Deus, manifestado em seu Filho Jesus Cristo.

239 Só Deus conhece os tempos e os momentos. Pela nossa parte vigiemos e rezemos, com a Virgem Maria. Mãe de Deus, que não cessa de velar pela Igreja de seu Filho, como velou pelos próprios apóstolos. Amen.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À TURQUIA

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

NA CASA DA SANTÍSSIMA VIRGEM EM ÉFESO


Éfeso, 30 de Novembro de 1979




1. É com o peito a transbordar de comoção que tomo a palavra nesta liturgia solene, que nos reúne à volta da Mesa eucarística para celebrar, à luz de Cristo Redentor, a gloriosa memória da Sua Mãe santíssima. O espírito sente-se como invadido pelo pensamento de que, precisamente nesta cidade, a Igreja unida em Concílio — o terceiro Concílio ecuménico — reconheceu oficialmente à Virgem Maria o título de "Theotókos" que lhe era já atribuído pelo povo cristão, mas começara pouco antes a ser contestado nalguns meios, sobretudo influenciados por Nestório. O júbilo com que, nesse ano de 431 já bem longínquo, o povo de Éfeso acolheu os Padres — ao saírem da sala do Concílio, em que a verdadeira fé da Igreja fora reafirmada — propagou-se num instante por todas as partes do mundo cristão. Nem parou de ressoar através das gerações sucessivas que, no decurso dos séculos, continuaram a voltar-se confiadamente para Maria, como para aquela que deu vida ao Filho de Deus.

Hoje, também nós, e com o mesmo entusiasmo filial e a mesma confiança profunda, recorremos à Virgem santa, saudando nela a "Mãe de Deus" e confiando-lhe os destinos da Igreja, submetida no nosso tempo a provações especialmente duras e insidiosas, mas impelida ao mesmo tempo pela acção do Espírito Santo para caminhos, abertos às esperanças mais prometedoras.

2. "Mãe de Deus". Repetindo hoje esta expressão carregada de mistério, voltamos em espírito ao momenta inefável da Encarnação e afirmamos com a Igreja inteira que a Virgem se tornou Mãe de Deus por ter concebido segundo a carne um Filho que era pessoalmente o Verbo de Deus. Que profundo abismo de condescendência divina se abre diante de nós!

Ocorre imediatamente ao espírito uma pergunta: por que motivo preferiu o Verbo de Deus nascer duma mulher (Cfr. Gál Ga 4,4), em vez de baixar do céu um corpo já adulto, formado pela mão de Deus (Cfr. Gén Gn 2,7)? Não seria mais digno d'Ele? Mais adequado à Sua missão de Senhor e Salvador da humanidade? Sabemos que, nos primeiros séculos sobretudo, muitos cristãos (os docetas, os gnósticos, etc.) teriam preferido que as coisas se passassem deste modo. O Verbo tomou, porém, outro caminho. Porquê?

A resposta chega-nos com a simplicidade transparente e convincente das obras de Deus. Cristo desejava ser verdadeira vara (Cfr. Is Is 11,1) do tronco que vinha salvar. Queria que a redenção brotasse, por assim dizer, do interior da humanidade, como alguma coisa dela mesma. Cristo queria socorrer o homem, não sendo estranho mas irmão, fazendo-se em tudo semelhante ao homem excepto no pecado (Cfr. Heb He 4,15). Por isso, quis uma mãe e encontrou-a na pessoa de Maria. A missão fundamental da donzela de Nazaré foi portanto a de ser o traço de união entre o Salvador e o género humano.

Contudo, na história da salvação, a obra de Deus não se realiza sem apelar para a colaboração dos homens: Deus não impõe a salvação. Nem sequer a impôs a Maria. No facto da Anunciação, volta-Se para ela de maneira pessoal, solicita-lhe a vontade e espera resposta que brote da fé. Os Santos Padres aprofundaram muito bem este aspecto, insistindo em que "a bem-aventurada Maria, acreditando n'Aquele que gerou, concebeu-o também num acto de fé" (Santo Agostinho, Sermo 215, 4; cfr. São Leão, Sermo I in Nativitate, 1; etc.). O recente Concílio Vaticano II sublinhou a mesma coisa, afirmando que a Virgem "na Anunciação do Anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo" (Const. dogm. Lumen Gentium LG 53).

O "fiat" da Anunciação inaugurou assim a Nova Aliança entre Deus e a criatura: ao mesmo tempo que este "fiat" incorporou Jesus na nossa linhagem segundo a natureza humana, incorporou Maria em Jesus segundo a ordem da graça. O laço entre Deus e a humanidade, cortado pelo pecado, é agora felizmente restaurado.

3. O consentimento total e incondicional da escrava do Senhor (Lc 1,38) aceitando o desígnio de Deus foi, por conseguinte, adesão livre e consciente. Maria concordou em tornar-se a Mãe do Messias, chegado para salvar o seu povo dos pecados (Mt 1,21 cfr. Lc Lc 1,31). Não foi de maneira nenhuma um simples consentir no nascimento de Jesus, mas sim aceitação bem responsável, em participar na obra de salvação que Ele vinha realizar. As palavras do "Magnificat" apresentam confirmação bem clara desta consciência lúcida: Tomou a seu cuidado Israel, Seu servo — diz Maria — recordando a Sua misericórdia, conforme tinha dito a nossos pais, em favor de Abraão e sua descendência para sempre (Lc 1,54-55).

Pronunciando o seu "fiat", Maria não se torna simplesmente Mãe do Cristo histórico; o seu gesto coloca-a como Mãe do Cristo total, como "Mãe da Igreja". "Desde o instante do 'fiat' — nota Santo Anselmo — Maria começou a trazer-nos todos no seu seio"; por isso, "o nascimento da Cabeça é também nascimento do Corpo", exclama São Leão Magno. Por sua vez, Santo Efrém encontrou uma expressão belíssima a este respeito: Maria, diz ele, é "a terra em que foi semeada a Igreja".


Homilias JOÃO PAULO II 233