Homilias JOÃO PAULO II 33

33 Ela é o refúgio dos pecadores ("refugium peccatorum"). O Povo de Deus tem consciência da própria condição de pecado. Por isso, sabendo que precisa duma purificação constante, "busca, sem cessar a penitência e a reconciliarão" (Ib. 8). Cada um de nós está, consciente disso: Jesus buscava os pecadores: Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos mas os pecadores que eu vim chamar ao arrependimento (Lc 5,31-32) . Ao paralítico, antes de o curar, disse-lhe: homem, os teus pecados estão perdoados (Lc 5,20); e a uma pecadora: Vai e doravante ode tornes a pecar ( Jo Jn 8,1 l ).

Se a consciência do pecado nos oprime, buscamos instintivamente Aquele que tem o poder de perdoar os pecados (Cfr. Lc 5,24) e buscamo-lo por meio de Maria, cujos Santuários são lugares de conversão, de penitência e de reconciliação com Deus.

Ela desperta em nós a esperança da emenda e da perseverança no bem, embora as vezes possa parecer humanamente impossível.

Ela permite-nos superar as múltiplas "estruturas de pecado" em que está envolvida a nossa vida pessoal, familiar e social. Permite-nos obter a graça da verdadeira libertação, com essa liberdade com que libertou Cristo a todos os homens.

4. Daqui parte também, como de sua verdadeira fonte, o compromisso autêntico tomado em favor dos demais homens, nossos irmãos, especialmente dos mais pobres e necessitados, e em favor da necessária transformação da sociedade. Porque isto é o que Deus quer de nós e a isto nos envia, com a voz e a força do seu Evangelho ao tornar-nos responsáveis uns pelos outros. Maria, como ensina o meu predecessor Paulo VI na Exortação Apostólica Marialis Cultus (Cfr. Exortação Apostólica Marialis Cultus, 37), é também, como fiel cumpridora da vontade de Deus, modelo para aqueles que não aceitam passivamente as circustâncias adversas da vida pessoal social, nem são vítimas da "alienação" como hoje se diz, mas proclamam com ela que Deus é exaltador dos humildes e, sendo caso disso, derruba os poderosos do seu trono, para citar de novo o Magnificat (Cfr. Lc 1,51-53). Porque ela é assim "modelo do perfeito discípulo de Cristo, discípulo que é artífice da cidade terrena e temporal, mas tende ao mesmo tempo para a celestial e eterna, discípulo que promove a justiça, liberta os necessitados, mas sobretudo é testemunha daquele amor activo que constrói Cristo nas almas" (Marialis Cultus, 37).

Isto é Maria Imaculada para nós neste santuário de Zapopán. Isto é o que viemos aprender hoje dela, a fim de que Maria seja sempre — para estes fiéis de Guadalajara, para a Nação Mexicana e para toda a América Latina, com o seu ser cristão e católico — a verdadeira "estrela da Evangelização".

5. Não queria porém acabar este colóquio sem acrescentar algumas palavras que julgo importantes no contexto do que ficou antes indicado.

Este santuário de Zapopán, e tantos outros disseminados por toda a geografia do México e da América Latina, aonde acodem anualmente milhões de peregrinos com profundo sentido de religiosidade, podem e devem ser lugares privilegiados para o encontro duma fé cada vez mais purificada, que os leve a Cristo.

Para isso, será necessário cultivar, com grande atenção e zelo, a pastoral nos Santuários marianos, mediante uma liturgia apropriada e viva, mediante a pregação assídua e de sólida catequese, mediante a preocupação pelo ministério do sacramento da Penitência e a depuração prudente de possíveis formas de religiosidade que apresentem elementos menos adequados.

É preciso aproveitar pastoralmente estas ocasiões, talvez esporádicas — do encontro com almas que nem sempre são fiéis a todo o programa duma vida cristã, mas que aparecem guiados por uma visão às vezes incompleta da fé — para tratar de conduzi-las ao centro de toda a piedade sólida, Cristo Jesus, Filho de Deus, Salvador.

Deste modo a religiosidade popular ir-se-á aperfeiçoando sendo necessário, e a devoção mariana adquirirá o seu significado pleno numa orientação trinitária, cristocêntrica e eclesial, como tão acertadamente ensina a Exortação Apostólica Marialis Cultus ( Cfr. Exortação Apostólica Marialis Cultus, 25-27).

34 Aos sacerdotes encarregados dos Santuários, aos que a eles conduzem peregrinações, convido-os a reflectir maduramente acerca do grande bem que podem fazer aos fiéis, se souberem pôr em execução um sistema de evangelização apropriado.

Não desaproveiteis nenhuma ocasião de pregar a Cristo, de esclarecer a fé do povo e robustecê-la, ajudando esse povo no seu caminho para a Trindade Santa. Seja Maria o caminho. Nisso vos ajude a Virgem Imaculada de Zapopán. Assim seja.

FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR

E BÊNÇÃO DOS CÍRIOS



2 de Fevereiro de 1979




1. «Lumen ad revelationem gentium» (Luz para iluminar os povos).

A liturgia da festa de hoje recorda-nos, antes de mais, as palavras do Profeta Malaquias: «E imediatamente virá ao Seu templo o Senhor que vós buscais ... Ei-lo, aí vem». De facto estas palavras verificam-se neste momento: entra pela primeira vez no seu templo Aquele que é o seu Senhor. Trata-se do templo da Antiga Aliança, que era a preparação para a Nova Aliança. Deus sela esta Nova Aliança com o Seu povo n'Aquele que «ungiu e enviou ao mundo», isto é, no seu Filho. O templo da Antiga Aliança espera o Ungido, o Messias. A razão, por assim dizer, da sua existência, é esta espera.

E eis que Ele chega. Trazido pelas mãos de Maria e de José. Entra como um Menino de quarenta dias a fim de cumprir as exigências da lei de Moisés. Levam-n'O ao templo como a tantos outros meninos israelitas: o menino de pobres pais. Entra, pois, sem ser notado e— quase em contraste com as palavras do profeta Malaquias — sem ser esperado por ninguém. «Deus absconditus» (Deus escondido) (Cfr. Is 45,15). Escondido na carne humana, nascido no estábulo, nas vizinhanças da cidade de Belém. Submetido à lei do resgate, como sua Mãe à da purificação.

Se bem que tudo pareça indicar que ninguém aqui, neste momento, O espere e que ninguém O descubra, na realidade não é assim. O velho Simeão vai ao encontro de Maria e de José, recebe o Menino nos braços e pronuncia as palavras que são um eco vivo das profecias de Isaías: Agora, Senhor, podes deixar o Teu servo partir em paz, segundo a Tua palavra, porque os meus olhos viram a Salvação, que preparaste em favor de todos os povos: Luz para iluminar as nações e glória de Israel Teu povo (Lc 2,29-32; cfr. Is 2,2-5 Is 25,7). Estas palavras são a síntese de toda a expectativa, a síntese da Antiga Aliança. O homem, que as pronuncia, não fala por si mesmo. É profeta: fala do profundo da Revelação e da fé de Israel. Anuncia o cumprimento do Antigo e o início do Novo.

2. A luz.

Hoje a Igreja abençoa os círios, fontes de luz. Estes círios são, ao mesmo tempo, símbolo da outra luz, da luz que é Cristo. Assim é desde o momento em que Ele nasceu. Revelou-se como luz aos olhos de Simeão no quadragésimo dia depois do seu nascimento. Como luz ficou, durante os trinta anos da sua vida oculta em Nazaré. Depois começou a ensinar, e o período do seu ensinamento foi breve. Disse: Eu sou a Luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jn 8,12). Quando foi crucificado, as trevas envolveram toda a terra (Mt 27,45 e par.), mas ao terceiro dia estas trevas cederam o lugar à luz da ressurreição.

Está connosco a luz!

O que é que ela ilumina?

35 Ilumina a escuridão das almas humanas. As trevas da existência. Perene e imenso é o esforço do homem para abrir o caminho e chegar à luz; luz do conhecimento e da existência. Quantos anos, em certos casos, o homem emprega para esclarecer a si mesmo algum facto, para encontrar a resposta a uma determinada pergunta. E quanto trabalho sobre nós mesmos para que possamos, através de tudo o que em nós é «obscuro», tenebroso, através de todo o nosso «eu pior», através do homem subjugado pela concupiscência da carne, dos olhos, e pela soberba da vida (Cfr. 1Jn 2,16), descobrir o que é luminoso: o homem de simplicidade, de humildade, de amor, de desinteressado sacrifício; os novos horizontes do pensamento, do coração, da vontade, do carácter.

As trevas passaram e já resplandece a verdadeira luz, escreve São João (1Jn 2,8).

É esta a resposta à pergunta: o que é que a luz reconhecida por Simeão no Menino de quarenta dias ilumina? É a resposta da experiência interior de tantos homens que decidiram seguir esta luz. É a resposta da vossa vida, meus queridos Irmãos e Irmãs, Religiosos e Religiosas, que hoje participais na Liturgia desta festa, tendo nas vossas mãos os círios acesos. É como saborear antecipadamente a vigília pascal quando a Igreja, isto é, cada um de nós, elevando o círio aceso, transpuser o limiar do templo, cantando «Lumen Christi». Cristo ilumina de modo especial, em profundidade, o mistério do homem. Particularmente e profundamente, e, ao mesmo tempo, com quanta delicadeza desce no mais secreto das almas e das consciências humanas. É o Mestre da vida, no sentido mais profundo. É o Mestre das nossas vocações. E, no entanto, precisamente Ele, é que revelou a cada um de nós e sempre revela a tantos homens, esta verdade: que «o homem, a única criatura na terra que Deus quis por si mesma, não pode realizar-se plenamente senão pelo dom sincero de si mesmo (cfr. Lc 17,33)» (Const. past. Gaudium et Spes GS 24).

Demos graças, hoje, pela luz que está connosco. Demos graças por tudo o que, mediante Cristo, em nós se tornou luz; por tudo o que deixou de ser «o escuro e o desconhecido».

3. Ao fim, Simeão diz a Maria, primeiro a respeito de seu Filho: Este Menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição. Depois, referindo-se a Ela mesma: uma espada trespassará a tua alma, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações (Lc 2,34-35).

Este é o dia da sua festa: a festa de Jesus Cristo, no quadragésimo dia da sua vida, no templo de Jerusalém, segundo a prescrição da lei de Moisés (Cfr. Lc 2,22-24). E é também a festa de Maria Santíssima.

Maria tem nos braços o Menino. Também nas suas mãos o Menino é a luz das nossas almas, a luz que ilumina as trevas do conhecimento e da existência humana, da inteligência e do coração.

Os pensamentos de tantos corações são revelados quando as suas maternas mãos levam esta grande Luz Divina, quando A aproximam do homem.

Ave, Tu que te tornaste Mãe da nossa luz à custa do grande sacrifício do Teu Filho, à custa do materno sacrifício do Teu coração!

4. E, por fim, permite-me, hoje, no dia seguinte ao do meu regresso do México, que Te agradeça, ó Senhora de Guadalupe, esta Luz que o Teu Filho é para os filhos e filhas da terra Mexicana e também para os de toda a América Latina. A terceira Conferência Geral do Episcopado daquele Continente, que foi solenemente iniciada a Teus pés, Maria Santíssima, no Santuário de Guadalupe, e cujos trabalhos estão a decorrer em Puebla desde o dia 28 de Janeiro, sob o tema da evangelização no presente e no futuro da América Latina, esforça-se por mostrar os caminhos pelos quais a luz de Cristo deve chegar à geração contemporânea naquele grande e prometedor Continente.

Lembremos na oração esses trabalhos, com os olhos postos no Cristo reclinado nos braços de Sua Mãe, e ouvindo as palavras de Simeão: «Lumen ad revelationem gentium».



MISSA EM FRANCÊS NA VIGÍLIA DA FESTA


DE NOSSA SENHORA DE LOURDES




36
7 de Janeiro de 1979


Ave Maria ...

Desejaria estar hoje em espírito nesse canto da França, onde, há 121 anos, estas palavras não cessam de ser pronunciadas pelos lábios de milhares, de milhões de homens e mulheres, desde o dia em que, precisamente nesse lugar, elas foram pronunciadas por uma menina cheia de espanto. A menina chamava-se Bernadette Soubirous, tinha 14 anos, era filha de modestos trabalhadores de Lurdes.

Ave Maria ...

É com estas palavras que, sempre e em toda a parte, saudamos Aquela que as ouviu pela primeira vez em Nazaré. Recebendo esta saudação, foi chamada pelo seu nome; assim lhe chamavam a família e todos os que nas vizinhanças a conheciam; foi também com este nome que foi escolhida por Deus. O Eterno chamou-a por este nome: Maria! Myriam!

Quanto porém Bernadette lhe perguntou o nome, ela não respondeu «Maria», mas «Que soy era Immaculada Councepciou», «Eu sou a Imaculada Conceição». Assim, em Lurdes, ela chamou-se com o nome que Deus lhe dera de toda a eternidade; sim, de toda a eternidade, a escolheu com este nome destinou-a a ser a Mãe de seu Filho, o Verbo eterno. Este nome, «Imaculada Conceição», é afinal bem mais profundo e bem mais importante que aquele que usavam os seus pais ou as pessoas do seu conhecimento da Anunciação: «Ave Maria!».

Detenhamo-nos nesta saudação. Milhões de lábios humanos a repetem, cada dia, em toda a espécie de línguas e dialectos, em múltiplos locais do globo. Entre a gruta de Massabielle e a torrente do Gave, são também milhões de peregrinos que a repetem durante o ano. Hoje quero eu repetir esta «Ave Maria» com todos, fazendo-me peregrino pelo espírito e o coração, enquanto espero a oportunidade de me encontrar pessoalmente nesse local Desejo chamar à Mãe de Cristo este nome que ela tinha na terra; desejo saudá-la com esta saudação que podemos classificar como «histórica», neste sentido: anda ligada a um momento decisivo da história da salvação. Este momento decisivo é ao mesmo tempo o do seu acto de fé, da sua resposta de fé: Bem-aventurada tu que acreditaste (
Lc 1,45).

Sim, Maria; é este dia, é esta hora que conta, o momento em que tu ouviste esta saudação, com o teu nome: Myriam, Maria! Porque a história da Salvação está registada no tempo dos homens; marcado pelas horas, os dias e os anos. Esta história toma ainda uma dimensão de fé, na resposta dada ao Deus vivo pelo coração humano. Entre estas respostas, a que segue a «Ave Maria» da Anjo, em Nazaré, marca um cimo: Fiat! «Seja feito em mim segundo a tua palavra».

Bem-aventurada, tu que acreditaste!

É Isabel quem dirige a Maria este pedido de bênção. Não no momento da Anunciação, mas várias semanas depois, quando Maria chegou a Ain-Karin. E estas palavras de Isabel, que lhe era espiritualmente a pessoa mais próxima, provocaram em Maria nova resposta de fé: «Magnificat».

Estamos habituados aos termos deste cântico. A Igreja fê-los seus. Repete-os seguindo a Mãe de Cristo, para exprimir as suas maiores alegrias ou simplesmente para agradecer: O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. O seu amor estende-se de geração em geração ... Derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu-os de mãos vazias ... (Lc 1, 49-50, 52-53).

37 Ouvimos muitas vezes estas palavras. Repetimo-las tantas vezes! Procuremos um dia, ao menos uma vez (porque não hoje?), deter-nos diante da admirável transparência deste Coração de Maria: é nele e através dele que Deus fala. Fala a um nível que transcende as palavras quotidianas do homem, e talvez mesmo as palavras que serviam cada dia a Myriam, esta jovem de Nazaré, parenta de Isabel e de Zacarias, de há pouco noiva de José. Na realidade, não é Maria como que a esposa do Espírito Santo?

É com certeza o Espírito quem dá tal transparência ao seu coração — esse coração simples e humilde duma filha de Nazaré — graças às promessas que fizera a Abraão e à sua descendência para sempre (
Lc 1,55). Deus está tão misteriosamente presente a toda a história dos homens, das gerações que se sucedem e dos povos, que é capaz de suscitar nessa história, de maneira maravilhosa, uma transparência, uma esperança, um apelo à santidade, uma purificação, uma conversão. Neste sentido, está presente na história dos humildes ... e dos poderosos; sim, na história dos famintos, dos oprimidos, dos marginalizados, que sabem ser amados por Ele, e n'Ele encontram coragem, dignidade e esperança; também na história dos ricos, dos opressores, dos homens saciados de tudo, que não escapam ao juízo de Deus e são, eles também, convidados à humildade, à justiça e à partilha, para entrarem no seu Reino. Deus está presente na história dos responsáveis e das vítimas da civilização do consumo, que se vai espalhando: quer libertar o homem da escravidão das coisas e colocá-lo sem cessar no caminho do amor das pessoas — de Deus e dos próprios irmãos — com o espírito de pureza, de pobreza e de simplicidade.

Estas palavras admiráveis do Magnificat, quero hoje meditá-las com todos os que participam neste sacrifício eucarístico, com todos os peregrinos de Lurdes e com toda a Igreja.

Alguns interrogam-se hoje sobre a missão da Igreja. Mas não pode a Igreja do nosso tempo entrever, nas palavras de Maria, a verdade sobre a sua missão? Não contêm elas o que nós pode-mos, o que nós queremos, o que nós devemos anunciar, proclamar e realizar neste vasto campo em que estão ligadas «evangelização» e «promoção humana», em que a primeira chama a segunda? Não permite o Magnificat responder à questão de saber de que progresso, de que promoção se trata, saber também o que significa «evangelizar», anunciar a Boa Nova aos homens de hoje? Porque este «hoje», com as suas misérias e os seus sinais de esperança, constitui em todos os países um desafio à missão «profética» da Igreja e ao mesmo tempo à sua missão «maternal». Trata-se de abrir os corações e as mentalidades a Cristo, ao Evangelho, à sua escala de valores, para contribuir para a elevação do homem completo e de todos os homens, ordenar um mundo menos indigno do homem e do desígnio de Deus sobre este, e preparar ao mesmo tempo o Reino dos céus.

Caros Irmãos e Irmãs, é com profunda emoção que eu celebro hoje esta Missa em língua francesa, na Capela Sistina. Assim posso-me unir espiritualmente, na liturgia eucarística, com todos os que falam esta língua (e são em grande número!), espalhados por muitos países, e representados aqui em Roma e nesta assembleia. Posso, em especial, reunir em espírito os filhos e as filhas da Igreja desta grande nação francesa, cuja história está ligada, de maneira particular, à história do Evangelho na Europa e no mundo inteiro.

Temos a impressão de nos encontrarmos em Lurdes, a que afluem continuamente peregrinos da França e de todos os países:

— em Lurdes que festeja este ano, com Nevers, o centenário da morte de Bernadette;

— em Lurdes onde a mensagem de Maria, transmitida por Bernadette, convida sem cessar as almas à oração, à penitência, à conversão, à purificação, à alegria da assembleia cristã, numa palavra, a uma fé mais vigorosa;

— em Lurdes onde tantos doentes encontram, se não a cura corporal, pelo menos o sentido cristão para os próprios sofrimentos, a paz do amor de Deus e o acolhimento carinhoso dos próprios irmãos;

— em Lurdes onde cada ano se encontram em reunião plenária os Bispos franceses, que desta Sé do Apóstolo Pedro tenho o prazer de saudar muito cordialmente.

— em Lurdes que prepara o Congresso Eucarístico de 1981. Já começámos a preparar juntos a celebração deste centenário do primeiro Congresso eucarístico internacional que se realizou em Lille em 1881.

38 Desejaria sobretudo repetir, voltando-me para a terra de França, para toda a Igreja que está na França: bem-aventurada és tu por teres recebido a fé desde as origens. Não permitas que a fé diminua ou se dissolva. Fortifica a tua fé.

Neste espírito de fé, aproximamo-nos agora do altar para celebrar o Sacrifício de Cristo: o Sacrifício do Pão que nós consagramos e que partimos para a vida do mundo(
1Co 10,16 Jn 6,51). É o tema do Congresso eucarístico para o qual nos preparamos juntos: Para a vida do mundo, para a salvação do mundo. Amen.





MISSA PARA OS DOENTES E PARA OS PEREGRINOS


DA OBRA ROMANA DAS PEREGRINAÇÕES


ORGANIZADA PELA UNITALSI




11 de Fevereiro de 1979




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Saúdo a todos vós aqui presentes. Saúdo-vos de modo particularmente cordial e com grande emoção. Precisamente hoje, 11 de Fevereiro, dia em que a liturgia da Igreja cada ano recorda a aparição de Nossa Senhora em Lurdes, saúdo-vos, a vós que habitualmente ides em peregrinação àquele santuário, e, vós, que ajudais os peregrinos doentes: sacerdotes, médicos, enfermeiras, membros do serviço de saúde, de transporte e de assistência. Agradeço-vos terdes hoje enchido a Basílica de São Pedro e, com a vossa presença, honrardes o Papa, tornando-o quase participante das vossas peregrinações anuais a Lurdes, da vossa vida em comum, da vossa oração, da vossa esperança e também de todas as vossas renúncias pessoais e ainda daquela recíproca doação e sacrifício, que são característica da vossa amizade e solidariedade. Esta Basílica e a Cátedra de São Pedro precisam da vossa presença. Esta vossa presença é necessária a toda a Igreja, a toda a humanidade. O Papa está-vos agradecido, imensamente agradecido. Na verdade, o encontro de hoje está sem dúvida unido à alegria, que brota duma fé viva, mas unido também a não leve fadiga e sacrifício.

2. O Senhor Jesus, no Evangelho de hoje, encontra um homem gravemente doente. Um leproso que lhe pede: Se queres, podes curar-me (Mc 1,41). E logo a seguir Jesus proíbe-lhe divulgar o milagre realizado, isto é, falar da sua cura. E ainda que saibamos que Jesus andava ... pregando o Evangelho do reino e curando todas as enfermidades e moléstias (Mt 9,35), todavia a restrição, «a reserva» de Cristo, quanto à cura por ele efectuada, é significativa. Está talvez aqui uma longínqua previsão daquela «reserva», daquela cautela com que a Igreja examina todas as pretensas curas milagrosas, por exemplo, as que há mais de cem anos se têm verificado em Lurdes. É sabido a que severas verificações médicas é sujeita cada uma delas.

A Igreja ora pela saúde de todos os doentes, de todos os que sofrem, de todos os incuráveis, humanamente condenados a uma invalidez irreversível. Pede pelos doentes e pede com os doentes. Com o maior reconhecimento acolhe qualquer cura, mesmo parcial e gradual. E ao mesmo tempo, com toda a sua atitude faz compreender — como Cristo — que a cura é alguma coisa de excepcional que, do ponto de vista da «economia» divina da salvação, é um facto extraordinário e quase «suplementar».

3. Esta economia divina da salvação — como a revelou Cristo — manifesta-se indubitavelmente na libertação do homem daquele mal que é o sofrimento físico. Ainda mais se manifesta porém na transformação interior do mal, que é o sofrimento espiritual, no bem «salvífico», no bem que santifica aquele que sofre e também os outros por seu meio. Por isso, o texto da liturgia de hoje, na qual devemos sobretudo deter-nos, não são as palavras «Quero, fica limpo», fica purificado, mas as palavras «Sê meu imitador». É São Paulo que se dirige com estas palavras aos Coríntios: Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1Co 11,1). Antes dele o próprio Cristo muitas vezes dissera: «Vem e segue-me» (Cfr. Mt 8,22 Mt 19,21 Mc 2,14 Lc 18,22 Jn 21,22).

Estas palavras não têm a virtude de curar, não livram do sofrimento. Têm contudo uma força transformadora. São chamada a tornarmo-nos homens novos, a tornarmo-nos especialmente semelhantes a Cristo, para encontrarmos em tal semelhança, por meio da graça, todo o bem interior naquilo que de per si só é um mal, que faz sofrer, que limita, que talvez humilhe ou incomode. Cristo, que diz ao homem que sofre «vem e segue-me», é o mesmo Cristo que sofre: Cristo do Getsémani, Cristo flagelado, Cristo coroado de espinhos, Cristo no caminho da cruz, Cristo já na cruz. É o mesmo Cristo, que até ao fundo bebeu o cálix do sofrimento humano «que lhe foi dado pelo Pai» (Cfr. Jn 18,11). O mesmo Cristo, que assumiu todo o mal da condição humana sobre a terra excepto o pecado, para tirar dele o bem salvífico: o bem da redenção, o bem da purificação e da reconciliação com Deus, o bem da graça.

Se diz a cada um de vós, caros Irmãos e Irmãs, «vem e segue-me», convida-vos e chama-vos a participar da mesma transformação, da mesma transmutação do mal do sofrimento em bem salvífico: da redenção, da graça, da purificação, da conversão ... para si e para os outros.

Precisamente por isto, São Paulo, que desejava ser tão apaixonadamente imitador de Cristo, afirma noutra passagem: completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo (Col 1,24).

39 Cada um de vós pode fazer destas palavras a essência da própria vida e da própria vocação.

Desejo-vos esta transformação que é um «milagre interior», ainda maior que o milagre da cura: esta transformação, que está dentro do caminho normal da economia salvífica de Deus, como no-la apresentou Jesus Cristo. Desejo-vos esta graça e imploro-a para cada um de vós, caros Irmãos e Irmãs.

4. Estava doente — diz Jesus de si mesmo — e visitastes-me (
Mt 25,36). Segundo a lógica da mesma economia da salvação, Ele que se identifica com cada pessoa que sofre, espera — neste homem — outros homens que «venham visitá-lo». Espera que se desprenda a compaixão humana, a solidariedade, a bondade, o amor, a paciência e a solicitude, em todas as várias formas. Espera o desprendimento do que há de nobre, de elevado no coração humano: «visitastes-me».

Jesus, que está presente no nosso próximo que sofre, quer estar presente em cada acto nosso de caridade e de serviço, que se exprime também em cada copo de água que damos «em seu nome» (Cfr. Mc 9,41 Mc 9,9). Jesus quer que do sofrimento, e à volta do sofrimento, cresça o amor, a solidariedade do amor, isto é, a soma daquele bem que é possível no nosso mundo humano. Bem que não se extingue nunca.

O Papa, que deseja ser servo deste amor, beija a fronte e beija as mãos de todos quantos contribuem para a presença deste amor e para o crescimento dele no nosso mundo. Ele sabe, de facto, e crê que beija as mãos e a fronte do próprio Cristo, que está misticamente presente naqueles que sofrem e naqueles que, por amor, servem a quem sofre.

Com este «beijo espiritual» de Cristo preparemo-nos, caros Irmãos e Irmãs, para celebrar este sacrifício e nele participar, neste em que, desde a eternidade, está inserido o sacrifício de cada um de vós. E convém talvez hoje recordar de maneira especial que, segundo a Carta aos Hebreus, celebrando este sacrifício e orando «cum clamore valido» (He 5,7),

Cristo é ouvido pelo Pai:
Cristo dos nossos sofrimentos,
Cristo dos nossos sacrifícios,
Cristo do nosso Getsémani,
Cristo das nossas difíceis transformações,
40 Cristo do nosso serviço fiel ao próximo,
Cristo das nossas peregrinações a Lurdes,
Cristo da nossa comunidade, hoje, na Basílica de São Pedro,
Cristo nosso Redentor,
Cristo nosso Irmão!

Ámen.



HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

NA PARÓQUIA ROMANA

DE SÃO GREGÓRIO MAGNO


NO BAIRRO MAGLIANA


Domingo, 18 de Fevereiro de 1979




1. No Evangelho de hoje lemos que em Cafarnaum, na casa em que Jesus habitava, juntaram-se muitas pessoas (Mc 2,2). A casa não podia contê-las todas, tão grande era o número dos que desejavam ouvir a palavra que Ele anunciava, e ver o que fazia.

E eis que, no meio desta multidão Jesus fez uma coisa muito significativa, quando Lhe colocaram em frente um paralítico, o qual, por falta de outro espaço tinha sido descido por uma abertura do tecto. Jesus primeiro que tudo disse àquele homem: Meu filho, os teus pecados te são perdoados (Mc 2,5). A estas palavras levantou-se um sussurro entre os que tinham seguido a acção de Cristo com desconfiança. Eram escribas que, (aliás justamente) afirmavam: quem pode perdoar os pecados senão Deus? (Mc 2,7). Fora, porém, só a aversão a Cristo que lhes tinha ditado esta objecção: Porque fala assim? Ele blasfema! (Mc 2,7). Jesus, em certo sentido, leu os seus pensamentos e respondeu: O que é mais fácil?, dizer ao paralítico: Os teus pecados te são perdoados, ou dizer-lhe: Levanta-te, torna o teu catre e anda? (Mc 2,9). Pois bem, para que saibais que o Filho do 13omem tem na terra poder de perdoar os pecados, ordeno-te — disse ao paralítico — levanta-te, toma o teu catre e vai para tua casa (Mc 2,10-11).

Tudo sucedeu como Jesus ordenou.

Jesus cura um incurável.

41 Faz um milagre. Com isto prova que existe sobre a terra o poder de perdoar os pecados. E como os escribas afirmaram que tal poder só Deus o tem, deveriam agora tirar a conclusão daquilo que eles mesmos haviam verbalmente sustentado.

Jesus reafirma a presença de Deus entre a multidão. Jesus reafirma o poder divino, que Lhe é próprio, de perdoar os pecados.

Jesus mostra, ao mesmo tempo, que mais perigoso e preocupante do que o mal físico (neste caso, a doença grave e crónica) é o mal do pecado. Ele é o Salvador vindo antes de mais para curar este grave mal.

2. Que nos diz, a nós que estamos aqui reunidos, este passo do Evangelho?

Juntaram-se tantas pessoas, então. E também hoje aqui estão reunidas muitas. E não penso só nas pessoas presentes agora, nesta Igreja, mas penso em todos os habitantes da zona da Magliana. Desde há um certo tempo que aqui se reúnem pessoas que, provenientes de diversas partes, vêm para Roma. Surgiu assim um grande bairro; ao mesmo tempo nasceu uma nova paróquia, que agora conta quarenta e cinco mil pessoas. É uma paróquia muito grande.

Que significa "paróquia"?

Paróquia quer dizer: a presença de Cristo entre os homens. Paróquia quer dizer um conjunto de pessoas, quer dizer uma comunidade na qual e com a qual Jesus Cristo reconfirma a presença de Deus. A paróquia é uma parte viva do Povo de Deus.

Enquanto eu digo estas coisas, o vosso pensamento corre instintivamente para a experiência que fazeis dia após dia, aqui, no contexto concreto da vossa paróquia. Muitos de vós, a começar pelo pároco, Don Pietro Cecchelani, viram esta paróquia, por assim dizer, menina, quando a comunidade se reunia numa pequena capela que tinha lugar ao máximo para duzentas pessoas. Não é preciso tornar muito atrás nos anos: o acto de constituição da paróquia tem, de facto, a data de 13 de Dezembro de 1963.

Que longo caminho foi percorrido desde então! O bairro cresceu vertiginosamente, passando dos quatro mil e quinhentos habitantes do início aos mais de quarenta e cinco mil actuais. Mas, contemporaneamente, cresceu também, e não só em número, a comunidade cristã: em torno da palavra de Deus, anunciada pelos sacerdotes, repetida pelos catequistas, testemunhada pelos fiéis na vida de cada dia, foi-se formando uma comunidade de pessoas que se conhecem, se ajudam e se amam. Uma comunidade aberta, viva, consciente da imensa riqueza constituída pelo Evangelho de Cristo, e por isso dedicada a levas o anúncio do mesmo Evangelho à massa dos indiferentes, dos "que estão longe".

A evangelização — justamente sentida como empenho primário — ocupa os sacerdotes, as religiosas das duas comunidades presentes na paróquia, os grupos juvenis dos catequistas, e desenvolve-se não só nas formas ordinárias, mas também mediante novas tentativas de aproximação, como a leitura e a meditação do Evangelho nas casas, nos chamados "grupos de condómino", em que várias famílias se reúnem para um momento de reflexão e de união.

Do contacto com o Evangelho brota o empenho concreto de caridade para com os irmãos, quer nas múltiplas iniciativas em favor dos anciãos, dos doentes, dos marginalizados, aos quais se dedicam numerosos jovens, quer na participação solidária dos problemas do bairro que, tendo "explodido" quase caoticamente nestes anos, tem as marcas de não poucas carências quanto a serviços sociais primários e sofre os inconvenientes próprios dos aglomerados de periferia de recente formação.

42 Obviamente, muito há ainda que fazer, para que a comunidade eclesial cheguei sua plena maturidade cristã. Contudo, o que já se fez, e o intenso pulsar da vida litúrgica dentro das paredes da vossa nova igreja, consagrada há pouco mais de um ano, dão-nos boas esperanças para o futuro da vossa paróquia. Ao reconhecer o trabalho que realizastes nestes anos, o Papa deseja encorajar-vos a perseverar com renovado impulso no vosso testemunho cristão dentro do bairro: vós deveis sentir a responsabilidade e o orgulho de serdes, nele, fermento (Cfr. Mt 13,33), para nele fomentardes a abertura a Cristo, e, ao mesmo tempo, a promoção humana, contribuindo assim para a instauração, no mesmo bairro, de uma convivência mais justa e mais fraterna.

3. Jesus Cristo está presente entre vós todos para confirmar assim todos os dias a presença salvífica de Deus. Aqui, há, sem dúvida, imensas necessidades materiais, económicas, sociais; mas, sobretudo, existe a necessidade desta força salvífica que está em Deus e que só Cristo possui. É esta força que liberta o homem do pecado e o encaminha para o bem, a fim de que conduza uma vida verdadeiramente digna do homem: a fim de que os esposos, os pais, dêm a seus filhos não só a vida, mas também a educação, ó bom exemplo; a fim de que aqui floresça a verdadeira vida cristã; a fim de que o ódio, a falta de instrução, a desonestidade, o escândalo não prevaleçam; a fim de que seja respeitado o trabalho dos pais e também o das mães, e de que o trabalho crie as condições indispensáveis para manter a família; a fim de que sejam respeitadas as exigências fundamentais da justiça social; a fim ele que seja promovida a verdadeira cultura, começando pela cultura da vida quotidiana.

Para realizar tudo isto são necessários muito trabalho humano, muitas iniciativas, diligência e boa vontade. Mas, acima de tudo, é necessária a presença de Cristo, que a cada. uma destas quarenta e cinco mil pessoas pode dizer: são-te perdoados os teus pecados, isto é, que pode libertar cada um do mal interior e dirigir-lhe por dentro, a mente e o coração para o bem.Efectivamente, o homem, a vida humana e tudo o que é humano formam-se primeiro, por dentro. E é segundo aquilo que está "no homem", na sua consciência, no seu coração, que se modelam depois toda a sua vida exterior e a convivência com os outros homens. Se, dentro do homem, está o bem, o sentido da justiça, o amor, a castidade, a benevolência para com os outros, um são desejo de dignidade, então o bem irradia para o exterior e modela o perfil das famílias, dos ambientes, das instituições.

A paróquia de São Gregório Magno na Magliana existe para que este bem se encontre em cada um dos homens que habitam neste vasto bairro, e para que o mesmo bem irradie sobre a vossa vida familiar, profissional, social, sabre as vossas mesas de trabalho, sobre as instituições educativas, sobre os lugares de desporto e de distracção.

São Paulo diz-nos hoje na passagem da sua Carta aos Coríntios que através dele (Cristo) sobe até Deus o nosso "Amen" para Sua glória (2Co 1,20). Trata-se precisamente disto: dizer a Deus "ámen", que quer dizer "sim", e nunca dizer a Deus "não". Esta é a tarefa da paróquia. Desejo a todos vós, unidos aos nossos pastores, que toda a vossa paróquia, cada vez mais coerentemente e em uníssono diga a Cristo, e juntamente com Cristo-Redentor, diga ao mesmo Deus: "sim". Para que o "não", a negação de Deus e daquilo que corresponde ã sua santa vontade na nossa vida humana, seja pronunciado aqui, nas palavras e nos factos, cada vez menos,

4. A vossa paróquia, pelo que se refere ao número dos habitantes, cresceu notavelmente. Alguns edifíelos são tão grandes que cada um deles poderia constituir uma "paróquia" a se dentro da vasta paróquia. Pensai nisto, para procurar tirar lições práticas e eficazes. Ouvimos no Evangelho de hoje que o Senhor ensinava numa casa. Parece-me que nisto tendes um encorajamento a prosseguir nas tentativas que já iniciastes e às quais acima me referi.

Para todos vós e para os vossos pastores em particular, seja exemplo e guia São Gregório Papa, que era um grande mestre na arte pastoral.

Ele recordava que o pastor de almas "deve estar perto de cada um com a linguagem da compaixão e da compreensão" mas advertia ao mesmo tempo que, para assim fazer, ele "deve, de modo singular, ser capaz de elevar-se sobre todos os outros pela oração e a contemplação" (Cfr. Reg. Past., II, 5). Na intimidade cio colóquio com Deus e no contacto regenerador com a sua graça, ele pode encontrar a luz e a sabedoria necessárias para "adaptar a sua palavra ao público que o ouve, de modo que esta possa ser recebida pela mente de cada um, sem perder a força de ser edificante para todos" (Ibid., III, pról.). Oxalá que isto aconteça na vossa paróquia! Então se realizará entre vós aquilo que, com uma imagem poética, São Gregório indicava como sendo o ideal de todas as comunidades cristãs: serem elas como uma "cítara bem afinada" que, sabiamente tocada pelo artista, eleva para Deus o som harmonioso da sua melodia (Cfr. ibid.).

Antes de concluir, quero dizer-vos da minha alegria em saber que ria vossa paróquia se encontra uma capela dedicada ao Beato Maximiliano Kolbe, o grande apóstolo do nosso século. Juntamente com ele e com São Gregório Papa, confio-vos todos a Nossa Senhora que é a Mãe da Igreja, e que é invocada confiadamente pelos habitantes desta nossa Cidade como Salus Populi RomaniSalvação do Povo Romano.

Na liturgia de hoje o Profeta Isaías diz:

Eis que vou realizar uma obra nova... não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, e fazer correr rios na solidão. O povo que formei para mim, cantará os meus louvores (Is 43,19-21).

43 Que tudo isto se realize entre vós. Isto deseja, por ocasião da visita hodierna, o Bispo de Roma, Papa João Paulo II, à paróquia de São Gregório, na Magliana.





Homilias JOÃO PAULO II 33