Homilias JOÃO PAULO II 240

240 Na verdade, desde o instante em que a Virgem se torna Mãe do Verbo encarnado, a Igreja encontra-se constituída de maneira secreta, mas perfeita no seu germe, na sua essência de corpo místico: estão presentes, com efeito, o Redentor e a primeira dos remidos. Doravante, a incorporação em Cristo implicará relação filial não só com o Pai celeste, mas também com Maria, a Mãe terrestre do Filho de Deus.

4. Qualquer mãe transmite aos filhos a sua própria semelhança: também entre Maria e à Igreja existe relação de profunda semelhança. Maria é a figura ideal, a personificação e o arquétipo da Igreja. Nela efectua-se a passagem do antigo para o novo povo de Deus, de Israel para a Igreja. É a primeira entre esses humildes e pobres que se tinham conservado fiéis e esperavam a Redenção; é ainda a primeira entre os resgatados, que, na humildade e na obediência, recebem a vinda do Redentor. A teologia oriental muito insistiu na "katharsis" que se efectua em Maria no momento da Anunciação; baste recordar aqui o impressionante comentário que faz da "katharsis" São Gregório Palamas numa das suas homilias: "Tu és já santa e cheia de graça, ó Virgem, diz o Anjo a Maria. Mas o Espírito Santo virá de novo a ti, preparando-te, com um aumento de graça, para o mistério divino" (São Gregório Palamas, Homilia sobre a Anunciação: PG 151,178).

E com razão, na liturgia com que a Igreja oriental celebra os louvores da Virgem Santíssima, se reserva lugar especialíssimo para o cântico que Maria, irmã de Moisés, cantou na passagem do Mar Vermelho, como para significar que a Virgem Maria foi a primeira a atravessar as águas do pecado, à frente do novo povo de Deus, liberto por Cristo.

Maria Santíssima é o primeiro fruto e a imagem mais perfeita da Igreja: "parte nobilíssima, parte excelente, parte notável, parte completamente escolhida" (Ruperto, In Apoc., I, VII, 12). "Unida a todos os homens, que devem ser salvos", proclama ainda o Vaticano II, foi remida "do modo mais sublime em atenção aos méritos do seu Filho" (Const. dogm. Lumen Gentium
LG 53). Por isso, aparece Maria aos olhos de todos os crentes como a criatura toda pura, toda bela e toda santa, capaz "de ser Igreja" mais do que qualquer outra criatura o será nunca na terra.

5. Também nós hoje a contemplamos para aprender, do seu exemplo, a construir a Igreja. E, para isto, sabemos que precisamos, antes de tudo, de progredir sob a sua direcção no exercício da fé. Maria viveu a fé em atitude de aprofundamento contínuo e de descoberta progressiva, atravessando momentos difíceis de trevas, a começar dos primeiros dias da maternidade (Cfr. Mt ss.): momentos que ela venceu graças a uma atitude responsável de audição e de obediência para com a Palavra de Deus. Nós também devemos fazer todos os esforços por aprofundar e consolidar a nossa fé por meio da audição, do acolhimento, da proclamação e da veneração da Palavra de Deus, pelo exame atento dos sinais dos tempos à luz dessa Palavra, interpretando e vivendo os acontecimentos da história (Paulo VI, Exort. Ap. Marialis cultos, 17).

Maria Santíssima apresenta-se-nos como exemplo de esperança corajosa e caridade activa: caminhou na esperança com dócil prontidão, passando da esperança judaica à esperança cristã, e viveu a caridade, acolhendo em si própria todas as exigências da mesma, até ao dom mais total e ao maior dos sacrifícios. Fiéis ao seu exemplo, devemos também manter-nos firmes na esperança, mesmo quando nuvens carregadas de tempestades se amontoam sobre a Igreja, que avança como navio no meio das ondas muitas vezes contrárias dos acontecimentos deste mundo; de vemos, também nós, crescer na caridade, aumentando a humildade, a pobreza, a disponibilidade e a capacidade de escutar e atender, aceitando o que Ela nos ensinou pelo testemunho da vida inteira.

6. Há uma coisa, em particular, a que nós hoje queremos obrigar-nos aos pés daquela que é nossa Mãe comum: isto é, com toda a nossa energia e numa atitude de plena disponibilidade às inspirações do Espírito, obrigar-nos a fazer avançar na caminhada que levará à perfeita unidade de todos os cristãos. Sob o seu olhar materno, estamos prontos a reconhecer as nossas culpas recíprocas, os nossos egoísmos e as nossas lentidões: Ela gerou um Filho único, nós infelizmente apresentamos-lho dividido. É facto que provoca em nós mal-estar e sofrimento; mal-estar a que o meu venerado predecessor Paulo VI fazia alusão já no princípio do Breve que ab-rogava a excomunhão pronunciada, muito tempo antes, contra a Sé de Constantinopla: "Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo (Ep 5,2): estas palavras de exortação do Apóstolo das gentes dizem-nos respeito, a nós que somos chamados cristãos, nome que deriva do nosso Salvador, e incitam-nos, sobretudo neste tempo que mais fortemente nos solicita a que se dilatem os espaços da caridade" (Paulo VI, Breve de 7 de Dezembro de 1965).

Muito se caminhou desde esse dia; mas bastante fica ainda por andar. Confiamos a Maria a nossa resolução sincera de não aquietarmos enquanto não se chegar ao termo do caminho. Parece-nos ouvir dos seus lábios as palavras do Apóstolo: Não haja entre vós contendas nem invejas nem dissenções nem desordens (Cfr. 2Co 12,20). Recebamos com sinceridade esta advertência maternal e peçamos a Maria que se mantenha junto de nós para nos guiar, com mão delicada e firme, pelos caminhos da compreensão fraterna, total e duradoira. Assim se realizará a aspiração suprema expressa pelo Seu Filho quando estava prestes a derramar o próprio sangue pelo nosso resgate: Todos sejam uma só coisa! como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, estejam também eles em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste (Jn 17,21).



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE


À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO CLEMENTE




Domingo, 2 de Dezembro de 1979




1. Desejo saudar toda a vossa paróquia em nome daquele que é o seu Patrono: São Clemente, um dos primeiros sucessores de São Pedro Bispo de Roma. Viveu no final do primeiro século depois de Cristo, testemunhou a fé apostólica, foi exilado e foi mártir. Seja ele quem dirija os nossos passos e acompanhe esta visita que, depois de 19 séculos, o seu sucessor em Roma realiza na paróquia a ele dedicada. Interceda por nós e fale-nos com a eloquência do testemunho apostólico em que viveu esta cidade nos seus tempos; apenas algumas dezenas de anos depois de São Pedro e São Paulo.

A cidade que foi objecto de particular escolha da parte de Deus: oxalá merecêssemos sempre, com a nossa vida e o nosso proceder, esta escolha sem par! Oxalá concorra para tal fim também a visita de hoje à vossa Paróquia!

241 Em conformidade com a tradição apostólica inicio esta visita com uma saudação dirigida a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo que é, que era e que vem (Ap 1,8). E, ao mesmo tempo, com uma saudação dirigida a toda a vossa Comunidade em Cristo.

Antes de mais, uma cordial saudação ao vosso zeloso pároco, Monsenhor Vincenzo Pezzella, e aos sacerdotes que o ajudam na cura pastoral; às boas Irmãs do "Divino Amor" e a todas as Religiosas que vivem e trabalham no âmbito da paróquia; às seis mil famílias, aos pais, às mães, e a todos os vinte e quatro mil fiéis que formam a Igreja viva nesta zona de Roma, e que desde 1956, isto é há 23 anos, constituem esta Paróquia.

A minha paterna saudação vai também para as crianças, adolescentes, jovens, anciãos e doentes. Uma saudação de alegria e de encorajamento a todos aqueles que, sacrificando generosamente o seu tempo, se dedicam, segundo as próprias possibilidades e capacidades, a estar disponíveis para o vário e complexo trabalho que se realiza nesta comunidade, tão vivaz, activa e dinâmica. Um aplauso, em particular, a quantos se consagram com empenho à catequese paroquial a todos os níveis.

E acrescento, também, nesta alegre circunstância, os votos de que sejam depressa superadas todas as dificuldades e sejam encontrados os meios necessários para que possais ter um templo, não já provisório, mas adequado, belo e definitivo, como o sonhais e desejais, juntamente com os vossos sacerdotes, desde há tantos anos.

2. Advento: Primeiro domingo do Advento.

Eis que virão dias — oráculo do Senhor — nos quais eu realizarei as promessas... (Jr 33,14); lemos hoje estas palavras do livro do profeta Jeremias e sabemos que elas anunciam o início do novo ano litúrgico e; ao mesmo tempo, o momento iminente já nesta liturgia, da natividade do Filho de Deus nascido da Virgem Maria. Para tal momento do ano litúrgico da Igreja, para esta grande e alegre solenidade, nos preparamos cada ano. Desejo, também, que esta minha visita de hoje à paróquia de São Clemente sirva para esta preparação. De facto, o dia em que nasce Cristo deve trazer-nos (como anuncia o mesmo profeta Jeremias) esta alegre certeza de "o Senhor ser a nossa justiça" (Cfr. Jer Jr 33,16).

3. A Igreja prepara-se para o Natal de maneira muito particular. Recorda-nos o acontecimento que foi apresentado recentemente, no final quase do ano litúrgico. Recorda-nos, quero dizer, o dia da última vinda de Cristo. Nós viveremos adequadamente o Natal, isto é, a alegre primeira vinda do Salvador, quando estivermos conscientes da Sua última vinda com poder e glória grandes (Lc 21,27), como declara o Evangelho de hoje. Nesta passagem há uma frase para que desejo chamar a vossa atenção: Os homens morrerão de pavor na expectativa do que vai acontecer ao universo (Lc 21,26).

Chamo a atenção porque também na nossa época o pavor "do que vai acontecer ao universo" contagia os homens.

O tempo do fim do mundo ninguém o conhece a não ser o Pai (Mc 13,32), e por isso, daquele medo, que se comunica aos homens do nosso tempo, não deduzimos nenhuma consequência no que diz respeito ao futuro do mundo. Ao contrário, é bem determo-nos nesta frase do Evangelho de hoje. Para bem viver a recordação da memória do nascimento de Cristo, é necessário ter bem presente a verdade sobre a última vinda de Cristo, sobre aquele último Advento. E quando o Senhor Jesus diz: Tende cuidado convosco... que esse dia não caia sobre vós subitamente, como um laço (Lc 21,34), assim não admira que sintamos que Ele fala aqui não só do último dia de toda a humanidade, mas também do último dia de cada homem.

Aquele dia, que fecha o tempo da nossa vida sobre a terra e abre diante de nós a dimensão da eternidade, é também o Advento. Naquele dia virá a nós o Senhor como Redentor e Juiz.

4. Assim pois, como vemos, é múltiplo o significado do Advento, que, como tempo litúrgico, tem início com o domingo de hoje. Parece, todavia, que sobretudo o primeiro destes quatro domingos deste período nos quer falar da verdade do "passar", a que são submetidos o mundo e o homem no mundo. A nossa vida terrena é um "passar" que inevitavelmente conduz ao termo. Todavia, a Igreja quer-nos dizer — e fá-lo com toda a perseverança — que este passar e aquele termo são, ao mesmo tempo, advento: nós não só passamos; mas simultaneamente nos preparamos! Preparamo-nos ao encontro com Ele.

242 A verdade fundamental sobre o Advento é, ao mesmo tempo, séria e alegre. É séria: ressoa nela o mesmo "vigiai" que ouvimos na liturgia dos últimos domingos do ano litúrgico. E é, ao mesmo tempo, alegre: o homem, de facto, não vive "no vazio" (a finalidade da vida do homem não é "o vazio"). A vida do homem não é apenas um aproximar-se do termo, que juntamente com a morte do corpo significaria o aniquilamento de todo o ser humano. O advento traz em si a certeza da indestrutibilidade deste ser. Se repete Vigiai e orai... (Lc 21,36), fá-lo para que possamos estar preparados a comparecer diante do Filho do homem (Lc 21,36).

5. Deste modo, o advento é também o primeiro e fundamental tempo de escolha: aceitando-o, participando nele, escolhemos o principal sentido de toda a vida. Tudo o que acontece entre o dia do nascimento e o da morte de cada um de nós, constitui, por assim dizer, uma grande prova: o exame da nossa humanidade.

E daí aquele ardente apelo de São Paulo na segunda leitura de hoje: o apelo a potenciarmos o amor, a tornarmos firmes e irrepreeensíveis os nossos corações na santidade; o convite a todo o nosso modo de nos comportarmos (em linguagem de hoje dir-se-ia "a todo o estilo de vida"), à observância dos mandamentos de Cristo. O Apóstolo ensina: se devemos agradar a Deus, não podemos ficar parados, devemos andar para a frente, isto é, para nos distinguirmos ainda mais (1Th 4,1). Assim é de facto. No Evangelho está um convite a progredir. Hoje o mundo está cheio de convites ao progresso. Ninguém quer ser "não progressista". Trata-se, todavia, de saber em que consiste o verdadeiro progresso. Não podemos passar tranquilamente por cima destas perguntas. O Advento traz em si o significado mais profundo do progresso. O Advento recorda-nos cada ano que a vida humana não pode ser paragem. Deve ser progresso. O Advento indica-nos em que está este progresso.

6. E, por isto, esperamos o momento do novo nascimento de Cristo na liturgia. Já que Ele é quem (segundo diz o hoje) indica o caminho aos pecadores; guia os humildes segundo a justiça, ensina aos pobres os seus, caminhos (Ps 24,8-9).

É, pois, para Aquele que virá — para Cristo — que nos voltamos com plena confiança e convicção. E dizemos-lhe: Guia! Guia-me na verdade! Guia-nos na verdade!

Guia, ó Cristo, na verdade os pais e as mães de família da paróquia: estimulados e fortificados pela graça sacramental do Matrimónio e conscientes de este ser na terra o sinal visível do teu indefectível amor pela Igreja, saibam estar serenos e decididos enfrentando com coerência evangélica as responsabilidades da vida conjugal e da educação cristã dos filhos.

Guia, ó Cristo, na verdade os jovens da paróquia: não se deixem atrair pelos novos ídolos, como o consumismo desenfreado, o bem-estar a todo o custo, o permissivismo moral e a violência protestatária, mas vivam com alegria a tua mensagem, que é mensagem das Bem-aventuranças, a mensagem do amor para com Deus e para com o próximo, a mensagem do compromisso moral para a transformação autêntica da sociedade.

Guia, ó Cristo, na verdade todos os fiéis da paróquia: anime a fé cristã toda a sua vida e faça-os ser, diante do mundo, corajosas testemunhas da tua missão de salvação, membros conscientes e dinâmicos da Igreja, contentes de serem filhos de Deus e irmãos, conTigo, de todos os homens!

Guia-nos, ó Cristo, na verdade! Sempre!



VISITA DO SANTO PADRE


AO VENERÁVEL COLÉGIO INGLÊS DE ROMA




Quinta-feira, 6 de Dezembro de 1979




Irmãos e filhos em Cristo Jesus

243 Vim celebrar convosco o quarto centenário do Venerável Colégio Inglês, para comemorar convosco, e familiarmente com os vossos compatriotas, os quatro séculos durante os quais a fé católica foi vivida aqui por jovens que se preparavam para o sacerdócio. Deste edifício histórico na Cidade de Roma, partiram eles como padres com a intenção de comunicar a fé a gerações de fiéis na Inglaterra e em Gales.

Na moldura sagrada da Liturgia Eucarística, desejo prestar homenagem a esta fé salvadora em Jesus Cristo e honrar todos aqueles cujas vidas estiveram ancoradas nesta fé, aqueles que, mantendo os olhos fixos em Jesus, Filho de Deus, conservaram firmemente a profissão da própria fé (Cfr. Heb
He 12,2 He 4,14).

A fé viva em Jesus Cristo tem sido o sólido fundamento deste Colégio e de todas as suas actividades a partir do tempo da fundação pelo meu predecessor Gregório XIII, em 1579. Os homens de fé, que vos precederam aqui, continuam a inspirar-vos, com o exemplo das suas vidas. O que herdastes é muito: o princípio do vosso Colégio foi honrado por um completo martyrum candidatus exercitus, e abarca bem um século desde o tempo de São Ralph Sherwin, em 1581, até São David Lewis, em 1679. Como supremo testemunho de fé, estes Mártires falam-vos hoje desta capela e de cada recanto da casa. E a própria Igreja corrobora-lhes o testemunho e exorta-vos a considerar o êxito do seu proceder e a imitar a sua fé (He 13,7).

Assim, caros irmãos e filhos, este momento de alegre celebração e solene comemoração torna-se tempo de reflexão orante e dia de compromisso para o resto do vosso viver. Como os vossos predecessores, também vós mesmos sois chamados a ser sacerdotes de Jesus Cristo, servos do Seu Evangelho, e testemunho diante do vosso povo da pura fé católica como foi transmitida pelos Apóstolos, proclamada pelo Magistério da Igreja e defendida pelos mártires e confessores de todas as Idades. Pela palavra e pelo exemplo sois chamados a dar o vosso testemunho católico nesta circunstância da história. Deus está a chamar-vos aqui e agora, nas circunstâncias presentes da Igreja e do mundo. Cristo e a Sua Igreja ordenam-vos, todavia, que aceiteis o repto desta hora, contando não precisamente com a vossa habilidade própria ou com testemunho meramente humano, mas com o poder do Evangelho. Segundo diz São Paulo, deveis revestir-vos da armadura da fé, do capacete da salvação e da espada do Espírito, que é a palavra de Deus (Cfr. Ef Ep 5,10-17). O vosso testemunho individual e comunitário dado a fé não pode ser diferente na essência do testemunho dado pelos vossos Mártires: testemunho da fé da Igreja universal, testemunho que levará outros a Cristo, testemunho que não se dará por vencido quando — segundo nos diz Cristo no Evangelho — cair a chuva, engrossarem os rios, soprarem os ventos e se desmoronar a casa (Cfr. Mt Mt 7,27).

Precisamente por termos a armadura completa de Deus e estarmos enraizados na fé, sentimo-nos valentes no Senhor e na força do Seu poder, armados para proclamar todo o mistério do Evangelho e, no decurso desta geração, dar testemunho da plenitude da verdade católica.

Esta é a primeira parte do repto que vos é apresentado: serdes testemunhas da fé. Sois chamados por Cristo e sereis enviados pela Sua Igreja numa missão eclesial, para dar testemunho da fé talvez onde nunca tenhais sonhado vir a estar, dum modo em que nunca pensastes. E foi ainda abertura, prontidão e calma, aquilo que aprendestes na história do vosso Colégio e, em especial, nas vidas dos vossos Mártires., E hoje nesta liturgia, dirige Isaías a cada um de vós, jovens, esta exortação profética: confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene (Is 26,4). E eu repito-vos estas palavras: Confiai no Senhor; confiai no Senhor, para desempenhardes o vosso papel como testemunhas da fé — fé em Jesus Cristo.

Bom é reflectirdes que sois igualmente chamados a dar testemunho a esta geração da vitalidade da juventude da Igreja — a ser testemunhos do poder, e da eficiência da graça de Cristo em cativar os corações da juventude actual. As necessidades concretas do mundo mostram o poder de Cristo em arrastar até Si tal juventude. E vós deveis mostrar ter compreendido o significado da vida no contexto do amor de Cristo e do Seu chamamento. Sois chamados a dar testemunho de que, entre as mil e uma atracções e opções que vos apresenta o mundo moderno, vós fostes "cativados" por Cristo, até ao ponto de renunciar a todo o resto, para vos tomardes seus companheiros e discípulos; para abraçar a sua missão e, por fim, a sua Cruz; e para experimentar o poder da sua Ressurreição. Considerarmos que somos testemunhas da força da graça de Cristo leva-nos naturalmente a alguma coisa que está no cimo do nosso ser verdadeiro: a nossa própria liberdade. Somente graças ao exercício desta liberdade — dom de Deus para nós — podemos corresponder adequadamente ao Seu convite, à chamada da Sua graça e ao amor que Ele nos oferece. Para cada um de vós o presente repto é este: entregar o coração e a vontade a Cristo sob a acção do Espírito Santo, para se dar livre, total e perseverantemente a Cristo. O Senhor Jesus pede a resposta da vossa escolha, a oblação da vossa liberdade. E as palavras do Salmo tornam-vos capazes de responder: o meu coração está firme, ó Deus; o meu coração está firme (Ps 56,8).

Caros irmãos e filhos: vós sois portanto chamados a dar testemunho da fé católica em toda a sua pureza; sois chamados a ser testemunhas da vitória do amor de Cristo, não como poder abstracto mas integrando as vossas mesmas vidas e consagrando nelas até a liberdade. Para todos vós, é esta verdadeiramente hora de grande responsabilidade. Ele que em vós começou a boa obra — e neste Colégio começou a boa obra há.. quatro séculos — é bem capaz, com a poder do Espírito Santo, de a completar (Cfr. Flp 1, 6), para glória do Seu nome, para honra do Seu Evangelho e para bem de toda a Sua Igreja. E Maria, Rainha dos Mártires, a Virgem Fiel, que esteve ao lado dos vossos Mártires e de todos os vossas predecessores, estará também junto a cada um de vós, de maneira que o vosso testemunho seja genuíno em doutrina e santidade. Ela vos acompanhará no desempenho do encargo que vos toca como verdadeiros discípulos do seu Filho, membros fiéis da Igreja, aplicados estudantes do Concílio Vaticano II e de todos os Concílios que o precederam. De maneira especial recomendo à sua intercessão o testemunho que estais chamados a dar, em verdade e amor, perante os vossos irmãos anglicanos, no diálogo providencial — que será sustentado pela oração e pela penitência —, destinado à restauração da perfeita unidade em Jesus Cristo e na Sua Igreja.

E assim, ancorados na fé e empenhados na santidade de vida, vislumbrai desde já com prazer nova era no vosso Colégio. Sacrifício e generosidade, oração e estudo, humildade e disciplina terão parte tão importante no vosso futuro como a tiveram naqueles que vos predecederam. Homens, mulheres e crianças olharão para vós em grande número para encontrar a Cristo. Das profundidades do próprio ser rogar-vos-ão com as palavras do Evangelho: Queremos ver Jesus (Jn 12,21). Como o Apóstolo Filipe vós deveis mostrar Jesus ao mundo — Jesus e não algum substituto, porque não há salvação em nenhum outro nome (Cfr. Act Ac 4,12). Assim podeis ver claramente que o destino da vossa Pátria está ligado ao bom êxito da missão deste instituto. O contributo que vós ofereceis ao mundo depende do modo como derdes testemunho da fé e do poder da graça de Cristo nas vossas vidas.

Meus caríssimos irmãos, filhos e amigos: ao cabo de 400 anos este Colégio está ainda, por graça de Deus, tão activo como esteve sempre, e aquilo que ele significa é mais importante do que nunca anteriormente. Assim se manterá, contanto que vós continueis a pôr em prática o que Jesus vos manifesta ao dizer: Pregai o meu Evangelho. Pregai a minha palavra. Renovai o meu Sacrifício. Sim, dai testemunho de Mim. Permanecei no Meu Amor, hoje e sempre. Ámen.



SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO




8 de Dezembro de 1979




244 1. Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais ... em Cristo. N'Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos (Ep 1,3-4).

Nestas palavras da carta aos Efésios, São Paulo delineia a imagem do Advento. E trata-se daquele Advento eterno cujo início se encontra em Deus mesmo, «antes da constituição do mundo», porque já a «constituição do mundo» foi o primeiro passo da Vinda de Deus ao homem, o primeiro acto do Advento. Todo o mundo visível, de facto, foi criado para o homem, como demonstra o livro do Génesis. O início do Advento em Deus é o Seu eterno projecto de criação do mundo e do homem, projecto nascido do amor. Este amor manifesta-se com a eterna opção do homem em Cristo, Verbo Encarnado.

«N'Ele escolheu-nos antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos».

Neste eterno Advento está presente Maria. Entre todos os homens, que o Pai escolheu em Cristo, Ela foi-o de modo particular e excepcional, porque foi escolhida em Cristo para ser Mãe de Cristo. E assim Ela, melhor do que qualquer outro entre os homens «predestinados pelo Pai» para a dignidade de seus filhos e filhas adoptivos, foi predestinada de modo especialíssimo «em louvor e glória da sua graça, que o Pai «nos deu» n'Ele, Filho dilecto (Cfr. Ef Ep 1,6).

A glória sublime da Sua especialíssima graça havia de ser a Maternidade do Verbo Eterno. Em consideração desta Maternidade, Ela obteve em Cristo também a graça da Imaculada Conceição. Deste modo, Maria insere-se naquele primeiro eterno Advento da Palavra, predisposto pelo Amor do Pai para a criação e para o homem.

2. O segundo Advento tem carácter histórico. Realiza-se no tempo entre a queda do primeiro homem e a Vinda do Redentor. A liturgia de hoje fala-nos também deste Advento e mostra como Maria está inserida nele desde o início. Quando, de facto, se manifestou o primeiro pecado, com inesperada vergonha dos progenitores, então revelou também Deus pela primeira vez o Redentor do mundo, prenunciando também a Sua Mãe. Isto aconteceu mediante as palavras, em que a tradição vê «o proto-Evangelho» isto é, quase o embrião e o prenúncio do próprio Evangelho, da Boa Nova.

Eis as palavras: Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar (Gn 3,15).

São palavras misteriosas. Todavia, com o seu carácter arcaico, revelam o futuro da humanidade e da Igreja. Tal futuro é visto na perspectiva de uma luta entre o Espírito das Trevas, aquele que é mentiroso e pai da mentira (Jn 8,44), e o Filho da Mulher, que deve vir ao meio dos homens como o caminho, a verdade e a vida (Jn 14,6).

Deste modo, Maria está presente naquele segundo advento histórico desde o princípio. É prometida juntamente com o Seu Filho, Redentor do mundo. E é também esperada com Ele. O Messias-Emanuel («Deus connosco») é esperado como Filho da Mulher, Filho da Imaculada.

3. A vinda de Cristo constitui não só a realização do segundo Advento, mas contemporaneamente também a revelação do terceiro e definitivo Advento. Da boca do Anjo Gabriel, que Deus envia a Maria, em Nazaré, Ela escuta as seguintes palavras:

Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo ... e reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o Seu reinado não terá fim ... (Lc 1,31-33).

245 Maria é o início do terceiro Advento, porque d'Ela vem ao mundo Aquele que efectivará essa escolha eterna, que lemos na carta aos Efésios. Efectivando-a, fará dela o facto culminante da história da humanidade. Dar-lhe-á a forma concreta do Evangelho, da Eucaristia, da Palavra e dos Sacramentos. Assim, aquela escolha eterna penetrará a vida das almas humanas e a vida desta particular comunidade, que se chama Igreja.

A história da família humana e a história de cada homem amadurecerão segundo a medida dos filhos e das filhas de adopção por obra de Jesus. N'Ele é que fomos escolhidos, predestinados, segundo o desígnio d'Aquele que tudo opera segundo a decisão da Sua Vontade (
Ep 1,11).

Maria é o início daquele terceiro Advento e permanece continuamente nele, sempre presente (como maravilhosamente se exprimiu o Concílio Vaticano II no oitavo capítulo da Constituição sobre a Igreja «Lumen Gentium»). Tal como o segundo Advento nos aproxima d'Aquela cujo Filho havia de «esmagar a cabeça da Serpente», assim também o terceiro Advento não nos afasta d'Ela mas permite-nos continuamente permanecer na Sua presença, perto d'Ela. Aquele Advento é só a expectativa da realização definitiva dos tempos, e é contemporaneamente o tempo da luta e dos contrastes, em continuação daquela previsão original: Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher ... (Gn 3,15).

A diferença consiste em a Mulher nos ser já conhecida pelo nome. É a Imaculada Conceição. É conhecida pela sua virgindade e pela sua maternidade. É a Mãe de Cristo e da Igreja, Mãe de Deus e dos homens: Maria do nosso Advento.

4. Durante o encontro com os Cardeais, que se realizou no princípio de Novembro passado, foi expresso o desejo de confiar à Mãe de Deus o Sacro Colégio e toda a Igreja, colocando-os sob a sua protecção.

De bom grado acolho e me uno àquele voto que foi manifestado, interpretando os sentimentos gerais. Eu mesmo sinto profunda necessidade de ser obediente ao convite implícito já desde o início no próprio Proto-Evangelho: «Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher». Na nossa difícil época não somos porventura testemunhas daquela «inimizade»? Que mais podemos fazer, que mais podemos desejar, senão tudo aquilo que ainda mais nos une a Cristo, ao Filho da Mulher?

A Imaculada é a Mãe do Filho do Homem. O Mãe do nosso Advento, fica connosco e faz que Ele permaneça connosco neste difícil Advento das lutas pela verdade e pela esperança, pela justiça e pela paz: só Ele, o Emanuel!



VISITA DO SANTO PADRE À PARÓQUIA ROMANA

DE NOSSA SENHORA DAS DORES NO BAIRRO "VILLA GORDIANI"


Domingo, 9 de Dezembro de 1979




Fiéis caríssimos!

1. Estou contente por encontrar-me no meio de vós neste segundo Domingo do Advento, e por poder manifestar-vos pessoalmente o meu afecto.

Quero, primeiro que tudo e publicamente, saudar e agradecer ao Bispo Auxiliar deste sector da Diocese de Roma, D. Giulio Salimei, ao Pároco, Padre Angelo Emerico Gagliarducci, e aos seus colaboradores, religiosos da Ordem dos Servos de Maria que, desde a constituição da Paróquia, em Janeiro de 1958, se dedicam, com infatigável ardor, à cura desta vasta e numerosa Comunidade.

246 Saúdo, depois, quantos trabalham e se dedicam ao anúncio do Evangelho, à salvação e santificação das almas, à ajuda de caridade aos necessitados de pão e de conforto: as Reverendas Irmãs "Pias Operárias da Imaculada Conceição" que, com generosa dedicação, assistem as crianças do asilo e os rapazes das Escolas Elementares; o Conselho Pastoral; os numerosos Catequistas, jovens e adultos; os diversos grupos de Acção Católica e doutras experiências eclesiais; os homens e as senhoras da Conferência vicentina; os grupos desportivos e os membros do movimento "terceira idade", que se ocupa e acolhe pessoas idosas.

Estendo a minha saudação afectuosa a toda a grande família paroquial, composta por mais de 35.000 pessoas! A todos quero apertar ao meu coração, em nome de Cristo! Desejo que todos saibam que são amados pelo Papa, particularmente os doentes, os que sofrem, os desempregados, os jovens que vivem afastados da Igreja e da graça, os pais preocupados com tantos e tão complicados problemas da vida moderna e todos os que, por qualquer motivo, estão marginalizados da vida paroquial.

A minha saudação está intimamente ligada à oração. Pensando em todos os habitantes da paróquia, em particular nos mais empenhados no trabalho apostólico, posso repetir as palavras de São Paulo aos Filipenses: Meus irmãos, sempre me recordo de vós, em todas as minhas orações, pela ajuda que destes à causa do Evangelho, desde o primeiro dia até ao presente... (Flp 1, 4-5).

Com efeito, o primeiro dever do Bispo é a oração por todos aqueles que Deus lhe confiou nesta Igreja. Por cada paróquia. Antes de vir visitá-la, ele está, através da oração, em contacto espiritual com ela. E, depois de terminar a visita, este contacto continua de modo ainda mais cordial.

E seja-me permitido aqui lembrar, de novo, as palavras do Apóstolo: Deus é testemunha de que sinto saudades de vós todos, com os sentimentos de Jesus Cristo (Flp 1, 8) ). Estas palavras, transpostas para o contexto do nosso encontro de hoje, testemunham que esta visita não é apenas uma obrigação e um dever do serviço pastoral, mas é, sobretudo, uma verdadeira necessidade do coração.

2. Na liturgia deste domingo do Advento, o segundo deste período, repete-se com frequência a mesma palavra, convidando, por assim dizer, a concentrar nela a nossa atenção. E a palavra: "preparai". Preparai o caminho do Senhor, endireitai-lhe as veredas... e toda a criatura verá a salvação de Deus (
Lc 3 Lc 4 Lc 6). Ouvimo-la, há pouco, no Evangelho segundo São Lucas e, antes ainda, no solene cântico de Aleluia.

A Igreja retoma hoje esta palavra da boca de João Baptista. Foi ele que assim ensinou, que anunciou deste modo quando, no deserto, desceu sobre ele a palavra de Deus (Cfr. Lc Lc 3,2). Acolheu-a e foi a toda a zona do Jordão, a pregar um baptismo de penitência (Lc 3,3), A palavra "preparai" é a palavra da conversão — em grego corresponde-lhe a expressão "metanoia". Daqui se conclui que esta expressão se dirige ao homem interior, ao espírito humano.

Deste modo é necessário compreender a palavra "preparai". A linguagem do Precursor de Cristo é metafórica. Ele fala dos caminhos, das veredas que é preciso "endireitar", dos montes e dos outeiros que devem ser "aplanados", dos vales que é necessário "preencher", isto é, terraplanar para os elevar a um nível adequadamente mais alto; fala, enfim, dos lugares 'acidentados que se devem tornar planos.

Tudo isto é dito em metáfora tal como se se tratasse de preparar o acolhimento de um hóspede importante, a quem se deve facilitar o caminho, tornando a povoação acessível, atraente e digna de ser visitada. Assim como, por exemplo, os Italianos que tornaram atraentes, e dignas de ser visitadas pelos turistas e peregrinos de todo o mundo, as regiões montanhosas e rochosas do seu país.

Ora, esta esplêndida metáfora de João, em que ecoam as palavras do grande profeta Isaias que se referia r à paisagem da Palestina, exprime o que é preciso fazer na alma, no coração, na consciência, para torná-los acessíveis ao Hóspede Supremo: a Deus que deve chegar na noite de Natal, deve permanecer continuamente no homem e, por fim, chegar em cada um ao fim da vida e, em todos, ao fim do inundo.

3. este, na liturgia de hoje, o significado da palavra "preparai". O homem, durante a sua vida, prepara-se constantemente para alguma coisa. A mãe que se prepara para dar à luz uma criança prepara-lhe as coisas necessárias, desde o berço até às fraldas; os meninos e meninas, quando começam a frequentar a escola, sabem que necessitam de preparar diariamente as lições. Os próprios professores devem preparar-se. para as dar bem. O estudante prepara-se para os exames. Os noivos preparam o matrimónio. O seminarista prepara-se para a ordenação sacerdotal. O atleta prepara-se para as suas competições. O cirurgião prepara-se para a operação. E o homem gravemente doente prepara-se para a morte.

247 Daqui se conclui que nós vivemos, preparando-nos sempre para alguma coisa. Toda a nossa vida € preparação de etapa em etapa, dia após dia, de um dever a outro.

Quando a Igreja, nesta liturgia de Advento, nos repete o brado de João Baptista pronunciado no Jordão, quer que todo este "preparar-se" dia após dia, de etapa em etapa, que forma o enredo da nossa vida, o façamos com os olhos em Deus. Porque, no fim de contas, preparamo-nos para o encontro com Ele. E a nossa vida sobre a terra só tem o seu sentido e valor definitivos quando nos preparamos constante e coerentemente para esse encontro.

Ë nisto que estou confiado — escreve São Paulo aos Filipenses que Aquele que começou em v6s obra tão boa, há-de levá-la a bom termo, até ao dia de Cristo Jesus (Flp 1, 6). Esta "obra boa" iniciou-se em cada um de nós no momento da concepção, no instante do nascimento, porque trouxemos connosco ao mundo a nossa humanidade e todos os "dons da natureza" que a ela pertencem. Mais: esta "obra boa" começou em cada um de nós pelo Baptismo, quando nos tornámos filhos de Deus e herdeiros do Seu Reino. É necessário desenvolver, com constância e com confiança, esta "obra boa", dia a dia, até ao fim, "até ao dia de Cristo". Deste modo toda a vida se torna cooperação com a Graça, se torna maturação a esta plenitude que o próprio Deus espera de nós.

Cada um de nós, de facto, se assemelha àquele agricultor de que fala o salmo responsorial de hoje:

Os que semeiam com lágrimas / ao som de cânticos farão a sua colheita. / Saiam, embora, chorando, / carregando a semente, / contanto que voltem alegres, / trazendo o seu fruto (
Ps 125, (126), 5-6).

4. Esforcemo-nos por ver assim toda a nossa vida. Toda ela é um advento. Por isso mesmo é que ela é "interessante" e vale a pena ser. vivida em plenitude, é digna dum ser criado à imagem e semelhança de Deus: em qualquer vocação, em qualquer situação, em qualquer experiência.

Por isso as palavras do Apóstolo, na segunda leitura da liturgia de hoje, adquirem particular eloquência e actualidade:

Sempre me recordo de vós, em todas as minhas orações, pela ajuda que destes à causa do Evangelho, desde o primeiro dia até ao presente. E é nisto que eu estou confiado: Aquele que começou; em vós obra tão boa há-de levá-la a bom termo, até ao dia de Cristo Jesus. Deus é testemunha de que sinto saudades de vós, todos, com os sentimentos de Jesus Cristo. E a minha prece é que a vossa caridade se enriqueça cada vez mais de ciência e de um perfeito sentido das realidades. Podereis assim apreciar os melhores: valores, e tornar-vos firmes e irrepreensíveis para o dia de Cristo. Chegareis à plenitude desse fruto de justiça que vem por Cristo Jesus, para glória e louvor de Deus (Flp 1, 46).

É assim. Por isto rezo e por isto continuarei a rezar, depois da visita, por cada um de vós, caros Irmãos e Irmãs, e por todos, por toda a Paróquia de Santa Maria das Dores no Bairro Gordiani.

Desejo, porém, recomendar às vossas orações três intenções em particular:

— Recomendo-vos a participação na Santa Missa dominical. Sois cristãos. Por isso nunca deixeis a Santa Missa. O encontro com Jesus e com a comunidade paroquial é dever, e deve ser também alegria e verdadeira consolação. Completai essa participação com a sagrada comunhão!

248 E peçamos ainda a graça de termos uma igreja digna e suficiente para as necessidades da Paróquia.

— Recomendo-vos a instrução religiosa. Alegra-me vivamente que a catequese esteja tão bem organizada, com método e seriedade, e encorajo o trabalho inteligente e incansável dos vossos sacerdotes para com todas as categorias de pessoas. Torne-se a instrução religiosa, cada vez mais motivo dos vossos cuidados.

— Recomendo, finalmente, os jovens. Fazei que eles possam ser seguidos, ajudados, esclarecidos, interessados, amados e lançados rumo aos grandes ideais, entre eles o da Vocação sacerdotal, religiosa e missionária. Ofereçamos as nossas orações e as nossas intenções a Nossa Senhora das Dores, aqui venerada com tanta devoção; e peçamos-Lhe força, coragem e ajuda para sermos sempre cristãos convictos e coerentes.

Desejo-vos uma boa preparação para a Festa do Natal.

Desejo-vos todo o bem da alma e do corpo.

Desejo-vos a paz da consciência.

Desejo-vos a graça do Advento. O Senhor está próximo.



Homilias JOÃO PAULO II 240