Homilias JOÃO PAULO II 258


«TE DEUM» DE ACÇÃO DE GRAÇAS




31 de Dezembro de 1979




1. «Meus filhos, esta é a última hora ...»; é com estas palavras que começa a liturgia da palavra de hoje, tirada da primeira carta de São João Apóstolo (1Jn 2,18). Esta leitura está marcada para 31 de Dezembro, o sétimo dia da oitava do Natal. Quão actuais são estas palavras! Quão eficazmente sentimos a sua eloquência, nós aqui reunidos na Igreja romana del Gesù, no momento em que soam as últimas horas deste ano que chega ao fim. Cada hora do tempo humano é, em certo sentido, a última, porque é sempre única e irrepetível. Em cada hora passa alguma parcela da nossa vida, parcela que não voltará. E todas essas parcelas — embora nem sempre disso nos demos conta — nos projectam para a eternidade.

Quem sabe se as últimas horas deste dia — quando o Ano do Senhor de 1979 e, com ele, o oitavo decénio do nosso século atingem o seu termo — nos não falam melhor do que qualquer outra hora. Por isso mesmo sentimos muito mais a necessidade de nos encontrarmos, nestas últimas horas do ano, diante de Nosso Senhor, diante de Deus que, com a sua eternidade, abrange e absorve o nosso tempo humano; a necessidade



de estar diante d'Ele, de Lhe falar com o próprio e mais profundo conteúdo da nossa existência. São estes os momentos propícios para uma profunda meditação sobre nós mesmos e sobre o mundo; os momentos para «fazermos contas» connosco próprios e com a geração a que pertencemos. É este o tempo propício para uma oração destinada a obter o perdão, oração de acção de graças e de súplica.

2. «O Verbo estava no mundo» (Cfr. Jo Jn 1,10). Voltou, precisamente agora, o período em que a Igreja toma consciência, de modo particular, da verdade que exprimem estas palavras do Evangelho de João. No mundo estava o Verbo — aquele Verbo que no princípio estava junto de Deus e tudo se fez por meio d'Ele, e, sem Ele, nada se fez (Jn 1,2-3). Este Verbo fez-se carne e habitou no meio de nós (Jn 1,14). Veio para habitar entre nós, mesmo se os Seus O não acolheram (Jn 1,11).

259 A contagem dos anos de que nos servimos quer testemunhar que passaram precisamente 1979 anos desde o momento em que isto aconteceu. O tempo testemunha não apenas o passar do mundo e o passar do homem no mundo; dá também testemunho de o Verbo eterno ter nascido da Virgem Maria, do nascimento que, como todo o nascimento do homem, é determinado pelo tempo: pelo ano, pelo dia e pela hora.

Todavia, no momento presente, durante este nosso encontro, a nossa atenção é atraída primeiramente pela seguinte frase do Evangelho de João: Foi da Sua plenitude que nós todos recebemos graça após graça (
Jn 1,16). Não estará aqui também uma chave para terminar? Não será preciso pensar na perspectiva de cada graça que recebemos da plenitude de Jesus Cristo, Deus e Homem? Não nos juntamos aqui para agradecer, ao mesmo tempo, todas e cada uma dessas graças?

De certo que sim.

A graça é realidade interior. É pulsação misteriosa da Vida Divina nas almas humanas. É ritmo interior da intimidade de Deus connosco e, por isso mesmo, também da nossa intimidade com Deus. É ela a fonte de todo o verdadeiro bem na nossa vida. É o fundamento do bem que não passa. Através da graça, nós vivemos já em Deus, na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, embora a nossa vida se desenrole sempre neste mundo. Ela dá valor sobrenatural a toda a vida, embora esta vida seja, sob o ponto de vista humano e segundo os critérios temporais, muito pobre, apagada e difícil.

É, por isso, necessário agradecer hoje toda a graça de Deus comunicada a qualquer homem: não apenas a cada um de nós aqui presentes, mas a cada um dos nossos irmãos e irmãs em toda a parte da terra.

O nosso hino de acção de graças, ligado ao último dia do ano que está para terminar, tornar-se-á, deste modo, quase uma grande síntese. Nesta síntese estará presente toda a Igreja, porque ela é, como nos ensina o Concílio, um sacramento da salvação humana (Cfr. Constituição Dogmática Lumen gentium, I, LG 1) Cristo, de cuja plenitude todos recebemos graça após graça, é precisamente o «Cristo da Igreja»; e a Igreja é o Corpo Místico que reveste constantemente o Verbo Eterno nascido no tempo, nascido da Virgem.

Sintonizando os nossos corações com este mistério, a liturgia de hoje torna-se fonte da nossa mais profunda oração de acção de graças.

3. Porém, a mesma liturgia, apresenta-nos também a existência do mal na história do homem e da humanidade. E se cada bem modela esta história na forma do Corpo de Cristo, o mal, ao contrário, como contradição do bem, assume na linguagem da Carta de João o nome de «anticristo». Neste sentido escreve o Apóstolo: Pois agora têm aparecido muitos anticristos, pelo que sabemos que é a última hora (1Jn 2,18).

Sendo assim, esta última hora do ano não pode passar sem uma reflexão sobre o tema do mal, sobre o tema do pecado, em que cada um de nós se sente participante, já que a todos nos fala dele a própria consciência.

A última hora liga-se, de modo particular, com a perspectiva do juízo a ecoar na voz da consciência humana e, ao mesmo tempo, a ecoar na perspectiva do juízo de Deus, do Senhor que vem para julgar a terra, como o anuncia o salmo responsorial da liturgia de hoje (Cfr Ps 95 Ps 13). E acrescenta: «Ele julgará a terra com justiça e os povos com equidade» (Ibidem).

A mesma reflexão sobre o mal, que nos é proporcionada pela última hora do ano, requer de nós que ultrapassemos, em certo sentido, os limites da nossa consciência e da responsabilidade moral pessoal. O mal que existe no mundo, que nos rodeia e ameaça o homem, as nações e a humanidade, parece ser maior, muito maior do que o mal de que cada um de nós se sente pessoalmente responsável. É como se ele crescesse segundo a própria dinâmica imanente e superasse as intenções do homem; como se saísse de nós mas não fosse nosso, para utilizar uma vez mais a expressão do Apóstolo.

260 Será que a nossa vida nos não manifesta semelhantes dimensões do mal? Não nos terá o último ano demonstrado um grau de ameaça tal que, pensando nela, o homem é levado a perguntar-se se ela está ainda à medida do homem, à medida da sua vontade e da sua consciência?

Que dizer, além do mais, de todas as manifestações de ódio e crueldade que se camuflam sob o nome do terrorismo internacional? Ou sob a forma do terrorismo de que é vítima a Itália?

E que dizer dos gigantescos e ameaçadores arsenais militares que, especiamente na última parte deste ano, chamaram a atenção de todo o mundo e em particular da Europa, do Oriente ao Ocidente?

Viria a vontade de dizer, seguindo o Apóstolo, que o mal que se desenha no horizonte «saiu de nós, mas não era nosso», não é nosso. Justamente. Na história do homem não opera apenas Cristo, mas também o anticristo. Contudo é necessário que o homem, que cada homem, que se sente dalgum modo responsável por tal ameaça sobre-humana, que pesa sobre a humanidade, se ponha perante o juízo da próprio consciência; se ponha perante o juízo de Deus.

O Verbo estava no mundo ... N'Ele o que existe era Vida, e a Vida era a luz dos homens. A Luz brilha nas trevas, e as terras não o dominaram (
Jn 1,4-5).

Terminamos assim a nossa meditação nesta altura do final do Ano com uma afirmação do Evangelho de João. Afirmação que traz consigo a mensagem do Natal; que traz consigo a manifestação da esperança, a voz do optimismo cristão.

O Verbo está no mundo. A luz brilha nas trevas. É necessário apenas que nós demos ouvidos a este Verbo. É necessário aproximarmo-nos desta luz. É necessário que nós nos estreitemos a Cristo, que adiramos a Ele com toda a alma e com toda a vida.

Podemos, então, encaminhar-nos com confiança para qualquer tempo, por mais ameaçador que seja o seu aspecto. «A graça e a verdade que vieram, por meio de Jesus Cristo» (Cfr. Jo Jn 1,17) não deixam de ser a fonte da prevalência do homem sobre o mal. E até no nosso tempo é crescente a quantidade dos factos — dos factos concretos — que o confirmam. Factos que, por vezes, nos maravilham com a sua eloquência. Todos os anos terminam no esplendor da oitava do Natal e cada Ano Novo começa em tal esplendor.

É sinal evidente da imutável presença da graça e da verdade no nosso tempo humano.







1980



SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS

XIII DIA MUNDIAL DA PAZ



1º de Janeiro de 1980




1. Hoje, no horizonte da história da humanidade, apareceu nova data: 1980. Apareceu apenas há poucas horas e acompanhar-nos-á todos os dias que se vão seguir durante este ano, até 31 de Dezembro próximo. Saudamos este primeiro dia e o Ano novo inteiro, em todos os lugares da terra. Saudamo-lo aqui, na Basílica de São Pedro, no coração da Igreja, com toda a riqueza do conteúdo litúrgico, que traz consigo este primeiro dia do Ano novo.

261 Hoje decorre também o último dia da oitava do Natal. A grande festa da Encarnação do Verbo Eterno continua a estar presente nele e em certo sentido nele ressoa como último eco. O nascimento do homem encontra sempre ressonância mais profunda na mãe, e por isto o último dia da oitava do Natal, que é contemporaneamente o primeiro do Ano novo, é dedicado à Mãe do Filho de Deus. Neste dia veneramos a sua Divina Maternidade, assim como a venera toda a Igreja no Oriente e no Ocidente, alegrando-se com a certeza de tal verdade, em particular desde os tempos do Concílio de Éfeso, no ano de 431.

É, além disso, queremos dedicar este primeiro dia do Ano novo, que para a Igreja é festa tão grande, à grande causa da paz na terra. Permanecemos assim fiéis à verdade do Nascimento de Deus, porque de facto a ele pertence aquela primeira mensagem de paz, na história da Igreja, pronunciada em Belém: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado (
Lc 2,14). Na continuação dessa coloca-se também a mensagem de hoje, para a celebração do Dia Mundial da Paz, mensagem que a Igreja dirige a todos os homens de boa vontade, para demonstrar que a verdade é fundamento e força da paz no mundo.Juntos com esta mensagem de paz vão os fervorosos votos, que a Igreja dirige a todos os homens a cada um e a todos sem excepção usando as palavras da primeira leitura bíblica da liturgia de hoje.

O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor fava resplandecer a Sua face sobre ti e te seja benevolente. O Senhor dirija o Seu olhar para ti e te conceda a paz (Nb 6,24-26).

2. A verdade, para que apelamos na mensagem deste ano para o dia 1 de Janeiro, é primeiro que tudo verdade sobre o homem. O homem vive sempre em comunidade, pertence mesmo a diversas comunidades e sociedades. E filho ou filha da sua nação, herdeiro da sua cultura ou representante das suas aspirações, em vários modos depende de sistemas económicos, sociais e políticos. As vezes parece-nos que está comprometido neles tão profundamente, que há a impressão de ser impossível vê-lo e chegar a ele em pessoa, tantos são os condicionamentos e os determinismos da sua existência terrestre.

Todavia, é necessário fazê-lo, é necessário tentá-lo incessantemente. E necessário voltar sem descanso às verdades fundamentais sobre o homem, se queremos servir a grande causa da paz na terra. A liturgia de hoje alude precisamente a esta verdade fundamental sobre o homem, em particular por meio da leitura enérgica e concisa da carta aos Gálatas. Cada homem nasce duma mulher, assim como da Mulher nasceu o Filho de Deus, o homem Jesus Cristo.

E o homem nasce para viver.

A guerra é sempre feita para matar. É destruição de vidas concebidas no seio de mães. A guerra é contra a vida e contra o homem, O primeiro dia do ano, que com o seu conteúdo litúrgico concentra a nossa atenção na Maternidade de Maria, é, já por isso mesmo, anúncio de paz. A Maternidade revela, de facto, o desejo e a presença da vida; manifesta a santidade da vida. Pelo contrário, guerra significa destruição da vida. A guerra no futuro poderia ser obra de destruição, tal como não a podemos imaginar, da vida humana toda.

O primeiro dia do ano recorda-nos que o homem nasce para a vida, na dignidade que lhe é devida. E a primeira dignidade é a que deriva da sua humanidade mesma. Sobre esta base apoia-se também aquela dignidade que revelou e trouxe ao homem o Filho de Maria:...ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de Mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adopção de filhos. Portanto, já não és servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, pela graça de Deus (Ga 4,4-7).

A grande causa da paz no mundo entretece-se, nos seus fundamentos mesmos, com estas duas grandezas: o valor da vida e a dignidade do homem. Para elas devemos apelar incessantemente, ao servirmos esta causa.

3. O ano de 1980, que hoje começa, recordar-nos-á a figura de São Bento que Paulo VI proclamou padroeiro da Europa. Perfazem-se este ano quinze séculos sobre o seu nascimento. Será suficiente uma simples recordação, assim como se comemoram os diversos aniversários, mesmo importantes? Penso que não basta; esta data e esta Figura possuem tal eloquência que não bastará uma normal comemoração, mas será necessário reler e interpretar A. sua luz o mundo contemporâneo.

De que fala, de facto, São Bento de Nórcia? Fala do início do trabalho gigantesco de que nasceu a Europa. Ela nasceu, em certo sentido, depois do período do grande império romano. Nascendo das suas estruturas culturais, graças ao espírito beneditino, ela extraiu desse património e encarnou na herança da cultura europeia e universal tudo aquilo que, doutro modo, se teria perdido. O espírito beneditino está em antítese com qualquer programa de destruição. E espírito de recuperação e promoção, nascido da consciência do plano divino salvífico e educado na união quotidiana da oração com o trabalho.

262 Deste modo São Bento, que viveu no fim da antiguidade, salvaguardou a herança que esta deixou ao homem europeu e à humanidade. Simultaneamente, ele está no começo dos novos tempos, nos alvores da Europa que então nascia do cadinho das migrações de novos povos. Abrange, com o seu espírito, mesmo a Europa do futuro. Não só nascem e se conservam, no silêncio das bibliotecas beneditinas e nos «scriptoria», as obras da cultura espiritual, mas também se formam, à volta das Abadias, centros activos de trabalho, sobretudo trabalho dos campos; assim se desenvolvem o engenho e a capacidade humana, que constituem o fermento do grande processo da civilização.

4. Recordando tudo isto já hoje, no primeiro dia do jubileu beneditino, devemos dirigir-nos com ardente mensagem a todos os homens e a todas as nações, sobretudo aos que habitam o nosso continente. Os assuntos que alertaram a opinião pública europeia no decorrer das últimas semanas do ano que agora terminou, requerem de nós que pensemos com solicitude no futuro.Constringem-nos a tal solicitude as notícias sobre tantos meios de destruição, de que poderiam ser vítimas os frutos desta rica civilização, elaborados com esforço por muitas gerações a começar da época de São Bento. Pensamos nas cidades e aldeias — no Ocidente e no Oriente — que, com os meios de destruição já conhecidos, poderiam ser completamente reduzidas a escombros. Em tal caso, quem é que poderia proteger os maravilhosos ninhos da história e os centros da vida e da cultura de cada Nação, que constituem a fonte e o suporte de inteiras populações no seu caminho, às vezes difícil, rumo ao futuro?

Recebi, recentemente, de alguns cientistas, uma previsão sintética das consequências imediatas e terríveis de uma guerra nuclear. Eis as principais:

— A morte, por acção directa ou retardada das explosões, de uma população que poderia ir de 50 a 200 milhões de pessoas;

— Uma drástica redução dos recursos alimentares, causada pela radioactividade depositada em largas extensões de terras utilizáveis para a agricultura;

- Mutações genéticas perigosas, que sobreviriam nos seres humanos, na fauna e na flora;

— Alterações consideráveis na camada de ozone da atmosfera que exporiam o homem a incógnitas maiores, prejudiciais à sua vida;

— Em qualquer cidade atingida por uma explosão nuclear, a destruição de todos os serviços urbanos e o terror provocado pela tragédia impediriam que se oferecessem os socorros mínimos aos habitantes, criando terrível pesadelo.

Bastariam apenas 200 das 50.000 bombas nucleares que se pensa existem já, para destruir a maior parte das grandes cidades do mundo. 1r urgente, dizem aqueles cientistas, que os povos não fechem os olhos sobre o que uma guerra nuclear pode representar para a humanidade.

5. Chegam estas poucas reflexões para nós fazermos a pergunta: podemos continuar neste caminho? A resposta é clara.

O Papa discute o tema do perigo da guerra e da necessidade de salvar a paz com muitos homens e em diversas ocasiões. O caminho para tutelar a paz passa através de colóquios e de negociações bilaterais ou multilaterais. Todavia, na sua base, devemos reencontrar e reconstruir um coeficiente principal, sem o qual elas por si sós não darão fruto e não assegurarão a paz. E necessário reencontrar e reconstruir a confiança recíproca! E este é um problema difícil. A confiança não se adquire por meio da força. Nem se obtém apenas com declarações. A confiança é preciso merecê-la com gestos e factos concretos.

263 «Paz aos homens de boa vontade». Estas palavras, uma vez pronunciadas no momento do nascimento de Cristo, já não deixam nunca de ser a chave da grande causa da paz no mundo. E necessário que as recordem sobretudo aqueles de quem depende a paz.

6. Hoje é dia de grande e universal oração pela paz no mundo. Unamos esta oração ao mistério da Maternidade da Mãe de Deus. E a Maternidade é uma mensagem incessante a favor da vida humana, pois se pronuncia, mesmo sem palavras, contra tudo o que a destrói e a ameaça. Não se pode encontrar nada, em maior oposição à guerra e ao homicídio, do que a própria maternidade.

Elevemos, portanto, a nossa grande oração universal pela paz na terra, inspirando-nos no mistério da Maternidade d'Aquela que deu a vida humana ao Filho de Deus.

E, finalmente, exprimamos esta oração servindo-nos das palavras da liturgia, que contêm um voto de verdade, de bem e de paz para todos os povos da terra:

«Deus tenha piedade de nós e nos abençoe, / e faça resplandecer sobre nós a luz da Sua face; / para que se conheçam na terra os Seus caminhos, / e entre as nações a Sua salvação. / Louvem- Vos, ó Deus, os povos, / todos os povos Vos glorifiquem. / Alegrem-se e exultem as nações, / porquanto regeis os povos com equidade, / e conduzis as nações sobre a terra. / Louvem- Vos, ó Deus, os povos, / todos os povos Vos glorifiquem. / A terra deu o seu fruto, / abençoou-nos o Senhor, nosso Deus. Sim, Deus nos abençoe e reverenciem-n'O todos os confins da terra (
Ps 66 (67) ».



SOLENIDADE DA EPIFANIA E ORDENAÇÃO EPISCOPAL




Domingo, 6 de Janeiro de 1980




1. «Ofereceram presentes...». Com este gesto os três Reis Magos do Oriente levam a termo a finalidade da viagem. Esta conduziu-os pelos caminhos daquelas terras, para as quais também os acontecimentos contemporâneos chamam muitas vezes a nossa atenção. O guia por esses caminhos, dado aos três Reis Magos, foi a misteriosa estrela que tinham visto no seu nascer (Mt 2,9) e ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou (Mt 2,9). Precisamente ao encontro deste Menino vieram aqueles homens nunca vistos, chamados de fora do círculo do Povo eleito para os caminhos da história deste Povo.

A história de Israel tinha-lhes dado ordem de parar em Jerusalém e apresentar — diante de Herodes — a pergunta: Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer? (Mt 2,2). De facto, os caminhos da história de Israel tinham sido traçados por Deus — e por isso era necessário procurá-los nos livros dos profetas: isto é, daqueles que em nome de Deus tinham falado ao Povo da sua especial vocação. E a vocação do Povo da Aliança foi precisamente Aquele a quem levava o caminho dos Reis Magos vindos do Oriente. Mal eles fizeram essa pergunta diante de Herodes, este não teve nenhuma dúvida de quem — e de que rei — se tratava, tanto assim que, segundo lemos, reunindo todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias (Mt 2,4).

Assim pois o caminho dos Reis Magos leva ao Messias, Aquele que o Pai consagrou e mandou ao mundo (Jn 10,36). O caminho deles é também o caminho do Espírito. É sobretudo o Caminho no Espírito Santo. Percorrendo este caminho — não tanto pelas estradas das regiões do Próximo Oriente, quanto de preferência pelos misteriosos caminhos da alma — o homem é conduzido pela luz espiritual proveniente de Deus, figurada por aquela estrela, que seguiam os três Reis Magos.

Os caminhos da alma humana, que levam a Deus, fazem que o homem encontre em si um tesouro interior. Assim lemos também dos três Reis Magos que, chegando a Belém, abriram os cofres (Mt 2,11). O homem toma consciência da enormidade dos dons de natureza e de graça com que Deus o cumulara, e então nasce nele a necessidade de oferecer-se, de restituir a Deus o que recebera, de fazer disso oferta como sinal da liberalidade divina. Esta dádiva toma uma forma tríplice assim como nas mãos dos três Reis Magos:

Abrindo os cofres ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mt 2,11).

264 2. O Episcopado, que hoje, venerados e amadíssimos Irmãos, recebereis das minhas mãos, é sacramento em que de modo especial se deve manifestar o dom. O Episcopado, com efeito, é a plenitude do sacramento da Ordem, mediante o qual a Igreja abre sempre diante de Deus o seu maior tesouro e tirando deste tesouro oferece-Lhe os dons de todo o Povo de Deus. O maior tesouro da Igreja é o seu Esposo: Cristo. Seja Cristo deitado no feno duma manjedoira, seja Cristo que morre na cruz. É tesouro inexaurível. A Igreja estende continuamente a mão a este tesouro para d'Ele tirar. E tirando não o diminui, mas aumenta-o.

Tais são os princípios da Economia Divina. Estenda a mão, portanto, a Igreja ao tesouro da Natividade e da Crucifixão, ao tesouro da Encarnação e da Redenção. Tirando dele, não empobrece aquele tesouro, multiplica-o.

O Bispo é o administrador, ao mesmo tempo, daquele ir buscar e daquele multiplicar.

É administrador dos mistérios de Deus. (
1Co 4,1). Não é só um Mago que percorre as estradas impraticáveis do mundo dirigidas para os umbrais do mistério. Está colocado no Seu mesmo coração. O seu encargo está em abrir este mistério e tirar dele. Quanto mais generosamente tira, mais abundantemente multiplica.

Recordai-vos, caríssimos, que o Espírito Santo vos coloca hoje no meio da Igreja para que, retirando abundantemente do tesouro da Natividade e da Redenção, o multipliqueis com a vossa vida e o vosso ministério.

3. Deste tesouro tira-se sempre ouro, incenso e mirra. De tal tríplice dom deve revestir-se a vossa vida, dado que sois chamados a oferecer a Deus, em Cristo e na Igreja, o vosso amor, a vossa oração e o vosso sofrimento. Todavia, sendo vós constituídos no meio do Povo de Deus como pastores e ao mesmo tempo como servos, o vosso dom pessoal deve crescer neste Povo. «Fecit eum Dominus crescere in plebem suam». A vossa vocação é o dom de todo o Povo. Cada um de vós deve ficar sendo o pastor e o servo deste amor, da oração e do sofrimento, que se elevam de todos os corações a Deus em Cristo. Tais dons não devem ser desperdiçados nem perdidos. Devem, ao invés, encontrar o caminho para Belém como os dons nas mãos dos Magos, que seguiram a estrela desde o Oriente. Cada Bispo é o administrador do Mistério e ó servo do dom que se prepara incessantemente nos corações humanos. Este dom provém das experiências da geração a que o Bispo mesmo pertence. Provém da vida de centenas, milhares e milhões de homens, seus irmãos e irmãs. Ele mesmo, Bispo, é o servo do dom. Aquele que guarda e multiplica. Deveis penetrar profundamente em toda a complexidade da vida dos homens nossos contemporâneos, para aquilo que a constitui não se descompor nas suas obras, nos corações, nas relações sociais e nas correntes de civilização, mas encontrar constantemente o próprio sentido como dom. O mesmo Cristo é Pastor e Bispo das nossas almas, de tudo o que é humano, e deseja fazer de nós um sacrifício permanente agradável a Deus (Cfr. III Oração Eucarística), um dom ao Pai.

O Bispo é quem guarda o dom, é quem desperta o dom nos corações, nas consciências, nas experiências difíceis da sua época, nas suas aspirações e nos seus desvarios, na sua civilização, na economia e na cultura.

4. Hoje chegam a Belém os três Magos do Oriente. Chegam pelo caminho da fé. Do episcopado não se pode acaso dizer que é um sacramento do caminho? Vós recebeis este sacramento para encontrar nele o caminho de tantos homens, para quem vos destina o Senhor; para encetar este caminho, juntamente com eles, seguindo, como os magos, atrás da estrela; e quantas vezes para fazer que eles vejam a estrela, que nalgum lugar cessou de brilhar, nalgum lugar se transviou... para lha mostrardes de novo!

Entrai também vós, caros Irmãos, neste grande caminho da Igreja, que é traçado pela sucessão apostólica em cada uma das Sés episcopais.

E que dizer agora da maravilhosa e rica sucessão na Sé de Santo Ambrósio e depois de São Carlos, em Milão? Ela remonta quase aos primeiros decénios do Cristianismo e é rica em Bispos mártires... e, só no nosso século, deu à Igreja dois Papas: Pio XI e Paulo VI. Está aqui presente o Cardeal Giovanni Colombo, que recebeu esta Sé de Milão precisamente a seguir a Paulo VI, o então Cardeal Giovanni Battista Montini. para hoje, por lhe terem enfraquecido as forças, a transmitir ao seu Sucessor. Com alegria a Igreja de Milão saúda este Sucessor, digno filho de Santo Inácio, estimado Reitor do «Biblicum» e depois da Universidade Gregoriana, em Roma. Com alegria e confiança a Igreja de Milão saúda aquele que deve ser o seu novo Bispo e Pastor, o novo administrador do dom de que falei e a nova testemunha da estrela, daquela estrela que leva infalivelmente a Belém.

Também a Santa Sé saúda com complacência o seu benemérito filho, primeiramente Oficial da Chancelaria e há longos anos dedicado ao serviço da Secretaria de Estado, como também zeloso ministro de Deus em muitas obras de apostolado, pessoa que hoje recebeu ordenação episcopal como Arcebispo Titular de Serta, para desempenhar as incumbências de Delegado para as Representações Pontifícias.

265 Saudamos depois o filho da África, novo Pastor da jovem e querida Igreja de Yagoua, nos Camarões, que até agora se dedicou, na sua diocese de origem, como Reitor do Seminário maior regional de Bambui e como colaborador generoso em variadas actividades pastorais; e falando dele dirigimos o nosso cordial pensamento ao Continente Africano inteiro.

5. O Episcopado é o sacramento do caminho. E o sacramento dos numerosos caminhos, que a Igreja percorre, seguindo a estrela de Belém, ao lado de cada homem.

Entrai nestes caminhos, venerados e caros Irmãos. Percorrendo-os levai ouro, incenso e mirra. Levai-os com humildade e confiança. Levai-os com prodigalidade e constância. Mediante o vosso serviço, abra-se o tesouro inexaurível a novos homens, a novos ambientes e a novos tempos, com a inefável riqueza do Mistério que se revelou aos olhos dos três Magos, vindos do Oriente até ao limiar do estábulo de Belém.





VISITA DO SANTO PADRE AO PONTIFÍCIO COLÉGIO IRLANDÊS DE ROMA


Domingo, 13 de Janeiro de 1980




Muito amados em Cristo

1. Hoje uma vez mais, de maneira muito especial, pertence o Papa à Irlanda.

Depois da minha visita à vossa terra, alegra-me vir ao Pontifício Colégio Irlandês e encontrar-me com todos quantos aqui vivem: os Sacerdotes e Seminaristas e as Irmãs de São João de Deus. A minha visita destina-se também às comunidades do Colégio Franciscano de Santo Isidoro e do Colégio Agostiniano de São Patrício. Com o Cardeal Primaz de toda a Irlanda e com os Irmãos no Episcopado, incluindo os antigos Reitores do Colégio Irlandês, estamos a celebrar juntos a nossa unidade em Jesus Cristo e na Sua Igreja.

O lugar da nossa celebração é importante pelo contributo que prestou à Igreja, pelo influxo que tem tido na maneira de viver dos irlandeses e pela responsabilidade que assume quanto às gerações futuras. E igualmente importante pelo testemunho cristão de amor que tem sido dado aqui; exemplo que bem conheço é a hospedagem oferecida pelo Colégio Irlandês aos refugiados da Polónia, depois da segunda guerra mundial. A este propósito, a presença na Missa de Monsenhor Denis MacDaid constitui elo vivo de ligação com as esplêndidas realizações do passado.

2. Assim, com a nossa história e as nossas esperanças, todos nós estamos aqui juntos, para buscar luz e força ao comemorarmos o Baptismo do Senhor. Como vem contado nos Evangelhos, o Baptismo de Jesus assinalou o princípio do Seu ministério público. João Baptista proclamou a necessidade da conversão, e foi então revelado o grande mistério da comunhão na vida divina: o Espírito Santo desceu sobre Cristo, e Deus Pai mostrou o Seu amado Filho ao mundo. Desde este momento, continuou Jesus resolutamente a Sua tarefa de salvação. A nossa cerimónia hoje convida-nos a reflectir pessoalmente nestes três elementos: conversão, comunhão e missão.

3. O papel de João consistiu em preparar para Cristo. Foi no contexto da conversão que a comunhão, existente na vida da Trindade Santíssima, foi revelada. O Baptista estava anunciando um convite ao regresso a Deus, à consciência do pecado, ao arrependimento e à vida dentro da verdadeira relação pessoal de cada um com Deus. Entretanto, o próprio Jesus submeteu-se ao rito penitenciai e foi durante a oração que a voz do Pai O proclamou como Filho: o único que é totus ad Patrem, o único que está totalmente dedicado ao Pai e a viver para Ele, o único totalmente abraçado pelo Seu amor. Nós somos também chamados a tomar a atitude de Jesus para com o Seu Pai. Todavia, isto está condicionado pela conversão: por um voltarmo-nos para Deus diário, repetido, constante e fervoroso. A conversão é necessária para exprimir a verdade da adopção de filhos, que é a nossa desde o Baptismo que recebemos. Porque no Baptismo fomos chamados à união com Cristo na Sua morte e ressurreição, e desde essa altura fomos chamados a morrer ao pecado e a viver para Deus. No Baptismo a acção vivificante do Espírito Santo estabeleceu-se em nós, e o Pai agora vê em nós o Seu Filho único, Jesus Cristo: Tu és o Meu Filho muito amado; em Ti pus todo o Meu enlevo (Lc 3,22).

4. A comunhão da Santíssima Trindade entra nas nossas vidas. Por meio de Jesus Cristo, realiza-se o mistério da adopção divina (Cfr. Ep 1,5 Ga 4,5), de maneira que Ele, que é o Unigenitus Dei Filius, torna-se o Primogenitus in multis fratribus (Rm 8,29). Um antigo aluno do Colégio Irlandês, o Servo de Deus Dom Columba Marmion, deixou-vos e deixou a toda a Igreja extensos escritos de profunda inteligência e grande valor sabre o mistério da filiação divina e sobre Jesus Cristo como centro do plano divino de santificação.

266 5. Na nossa vida de cada dia, o chamamento à conversão e à comunhão divina tem exigências práticas, se nós caminhamos dentro da verdade profunda da nossa vocação e na sinceridade das nossas relações com o Pai por meio de Cristo e no Espírito Santo. Na prática, deve haver abertura para o Pai e abertura duns para os outros. Lembrai-vos que Jesus é totus ad Patrem e que Ele expressou o desejo de que o mundo O ouvisse dizer: Eu amo o Pai (Jn 14,31). Precisamente nesta última semana, na minha audiência da quarta-feira, indiquei que o homem tem como característica essencial o "existir com outrem" — e ainda mais profunda e completamente o "existir para outrem" (Alocução de 9 de Janeiro de 1980). Estas palavras reflectem por sua vez a doutrina do Concílio Vaticano II sobre a natureza social do homem (Cfr. Gaudium et Spes GS 12,25).

Nós, que no nosso ministério somos chamados a formar comunidade sobre a base sobrenatural da comunhão divina, devemos primeiro nós mesmos experimentar a comunidade na fé e no amor. Esta experiência de comunidade radica-se nas mais antigas tradições da Igreja: nós devemos também ser um só coração e uma só alma, assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações (Cfr. Act Ac 4,32 Ac 2,42).

Caminhar dentro da verdade da nossa vocação significa esforçarmo-nos por agradar a Deus, mais do que aos homens, sermos justos aos olhos de Deus. Significa um estilo de vida correspondente à realidade do nosso papel na Igreja de hoje, estilo de vida que atenda às necessidades dos nossos irmãos e ao ministério que nós havemos de exercer amanhã. Viver a verdade no amor é apelo à simplicidade das nossas vidas, a um domínio próprio que se manifeste na diligência no trabalho e no estudo — preparando-nos muito responsável e diligentemente para a nossa missão de serviço junto do povo de Deus.

De maneira especial, viver a verdade das nossas vidas aqui e agora em Roma no ano de 1980 — significa fidelidade à oração, ao trato com Jesus e à comunhão com a Santíssima Trindade. O evangelista encarece que foi, quando Jesus estava em oração, que o mistério do amor do Pai foi manifestado e a comunhão das Três Pessoas Divinas se revelou. É na oração que nós aprendemos o mistério de Cristo e a sabedoria da Cruz. Na oração compreendemos, em todas as suas dimensões, as necessidades reais dos nossos irmãos e irmãs que vivem pelo mundo todo; na oração somos reforçados para bem escolher o que se nos apresenta; na oração somos fortificados para a missão repartida por Cristo connosco: levar às nações a justiça... para servir a causa do direito (Is 42,1 Is 42,6).

Por isso, esta casa e todas as casas religiosas e seminários de Roma destinam-se a ser casas de oração, em que seja formado Cristo em cada geração. Como estais a viver em Roma, na Diocese pela qual eu pessoalmente tenho de dar especiais contas ao Senhor, compreendereis quão ardentemente eu desejo que seja formado Cristo em vós (Cfr. Gál Ga 4,19).

Mas para tal meta vós não podeis caminhar sozinhos. Numa comunidade de irmãos, que mantêm vivos e puros os mesmos altos ideais do sacerdócio de Cristo, encontrareis força e apoio. Na comunhão da Igreja encontrareis alegria. Guiados por directores espirituais competentes, sentireis ânimo e evitareis enganar-vos a vós mesmos; recorrendo a eles, sobretudo prestareis homenagem à humanidade da Palavra de Deus encarnada, que vai continuando a sustentar e guiar a Igreja usando homens como instrumentos.

6. E como vos esforçais por aceitar plenamente a chamada à conversão e à comunhão — chamada à vida plena em Cristo — a consciência da vossa missão deve crescer mais e tornar-se mais aguda. Tranquila e confiadamente deveis começar a experimentar cada vez mais uma sensação de urgência: a urgência de comunicar Cristo e o Seu Evangelho de salvação.

Por graça de Deus está-se vivendo na Irlanda um período de intensa renovação espiritual. E todos vós haveis de encontrar-vos comprometidos nela. Deveis preparar-vos para tal missão por meio do trabalho e do estudo, e especialmente da oração. Neste capítulo peço para atenderdes uma vez mais às palavras que dirigi aos seminaristas em Maynooth: "O que verdadeiramente desejo que entendais é o seguinte: que Deus conta convosco; e os Seus planos, em certo sentido, dependem da vossa livre colaboração, da oferta das vossas vidas, e da generosidade com que seguis a inspiração do Espírito Santo no íntimo dos vossos corações. A fé católica da Irlanda está ligada hoje, no plano de Deus, à fidelidade de São Patrício. E amanhã, sim amanhã, uma parte do plano de Deus estará ligada à vossa fidelidade, ao fervor com que digais 'sim' à palavra de Deus nas vossas vidas".

7. A juventude da Irlanda compreendeu e respondeu muito bem ao meu apelo, ao apelo a dirigir-se para Cristo "caminho, verdade e vida". Mas essa juventude necessita da vossa especial oferta, da vossa ajuda, do vosso ministério e do vosso sacerdócio, de maneira que. possa viver com êxito a verdade da sua vocação cristã. Não a desiludais. Ide para o meio dela e dai-vos a conhecer, como os Apóstolos, como homens que estiveram com Jesus (Cfr. Act Ac 4,13), homens que se impregnaram da Sua palavra e estão inflamados do Seu zelo: Tenho de anunciar a Boa Nova do Reino de Deus... pois para isso é que fui enviado (Lc 4,43). Mas o êxito desta vossa missão depende da autenticidade da vossa conversão, do grau em que estejais configurados com Jesus Cristo, o amado Filho do Eterno Pai, o Filho de Maria. Voltai-vos para Ela e pedi-lhe a sua ajuda.

Na Eucaristia que estou hoje a celebrar convosco e por vós, tenho presentes no meu coração as vossas famílias e amigos, e a Nação Irlandesa inteira. De maneira especial estou a pedir pela juventude da Irlanda. E hoje, a vós e por vosso meio a ela toda, desejo eu dizer uma vez mais: "Juventude da Irlanda, eu amo-te! Juventude da Irlanda, abençoo-te! Abençoo-te em nome de nosso Senhor Jesus Cristo". Amen.



Homilias JOÃO PAULO II 258