Homilias JOÃO PAULO II 333

333 Regressaram então ao cenáculo, esperando o ulterior desenrolar dos acontecimentos. Se o evangelista João, que participou activamente em tudo isto, escreve que "se encontravam" (no cenáculo) com as portas fechadas com medo dos Judeus, isto quer dizer que o medo, durante aquele dia, foi neles mais forte que qualquer outro sentimento. Certamente que não esperavam nada de bom pelo facto do túmulo estar vazio; esperavam talvez novos incómodos e vexações da parte dos representantes das autoridades hebraicas: Isto foi um simples receio humano, proveniente da ameaça imediata. Todavia, no fundo deste imediato medo-receio para si mesmos, havia um medo mais profundo, causado pelos acontecimentos dos últimos dias. Este medo, iniciado na noite de quinta-feira, atingira o seu auge durante a Sexta-feira Santa, e, depois da deposição de Jesus, perdurava ainda, paralisando todas as iniciativas.

Era o medo resultante da morte de Cristo.

De facto, uma vez, interrogados por Ele: "Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?" (
Mt 16,13), tinham respondido com diversos ditos e opiniões sobre Cristo; e depois interrogados directamente: "E vós quem dizeis que Eu sou?" (Mt 16,15) tinham ouvido e. aceitado em silêncio, como próprias, as palavras de Simão Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo!" (Mt 16,16).

Na cruz, portanto, morreu o Filho de Deus Vivo.

O medo, que se apoderou dos corações dos Apóstolos, tinha as suas raízes mais profundas nesta morte: foi o medo nascido, por assim dizer, da morte de Deus.

2. O medo atormenta ainda hoje os homens da geração contemporânea. Experimentam-no de modo acentuado. Talvez o sintam ainda mais profundamente aqueles que são mais conscientes da total situação do homem e os que simultaneamente aceitaram a morte de Deus no mundo humano.

Este medo não se encontra à superfície da vida humana. A superfície ele é compensado por meios diversos próprios , da civilização e da técnica moderna, que permitem ao homem libertar-se da sua profundidade e viver na dimensão do "homo oeconomicus",do "homo technicus", do "homo politicus" e, de certo modo, também na dimensão do "homo ludens".

De facto, permanece e cresce simultaneamente com suficiente motivação a consciência de um acelerado progresso do homem no campo do seu domínio sobre o mundo visível e sobre a natureza.

O homem, na sua dimensão planetária, nunca foi tão consciente de todas as forças que é capaz de utilizar e destinar ao próprio serviço e nunca se serviu delas nesta medida. Sob este ponto de vista e nesta dimensão, a convicção acerca do progresso da humanidade é plenamente justificada.

Nos países e nos ambientes de maior progresso técnico e de maior bem-estar material; esta convicção é acompanhada por uma atitude que se costuma chamar "consumística". Ela, todavia, testemunha que a convicção sobre o progresso do homem é justificada só em parte. Testemunha, aliás, que tal orientação do progresso pode matar no homem o que é mais profunda e essencialmente humano:

Se estivesse aqui presente a Madre Teresa de Calcutá — uma daquelas mulheres que não têm medo de descer, seguindo a Cristo, a todas as dimensões da humanidade, a todas as situações do homem no mundo contemporâneo — eladir-nos-ia que nas ruas de Calcutá e de outras cidades do mundo os homens morrem de fome...

334 A atitude consumística não toma em consideração toda a verdade sobra o homem — nem a verdade histórica, nem a social, nem a interior e metafísica. E antes uma fuga desta verdade. Não toma em consideração toda a verdade acerca do homem. O homem foi criado para a felicidade. Sim! Mas a felicidade do homem não se identifica de modo algum com o prazer! O homem orientado "consumisticamente" perde, neste prazer, a total dimensão da sua humanidade, perde a consciência do sentido mais profundo da vida. Portanto, tal orientação do progresso mata no homem aquilo que é mais profunda e essencialmente humano.

3. Mas o homem foge da morte.
O homem tem medo da morte.
O homem defende-se da morte.
E a sociedade procura defendê-lo da morte.

O progresso, que com tanta dificuldade, com o esbanjamento de tantas energias e com tantos gastos foi construído pelas gerações humanas, contém todavia no seu conjunto um poderoso coeficiente de morte. Esconde em si até mesmo um gigantesco potencial de morte. E necessário comprovar isto na sociedade, que bem sabe quantas possibilidades de destruição se encontram nos arsenais militares e nucleares contemporâneos?

Portanto, o homem contemporâneo tem medo. Têm medo as superpotências, que dispõem daqueles arsenais — e têm medo os outros: os continentes, as nações, as cidades...

Este medo é justificado. Não só existem possibilidades de destruição e de morte antes desconhecidas, mas já hoje os homens matam em grande número outros homens! Matam nas casas, nos escritórios, nas Universidades. Os homens armados com as armas modernas matam homens indefesos e inocentes. Incidentes deste género sempre existiram, mas hoje isto tornou-se um sistema. Se os homens afirmam que é necessário matar outros homens para mudar e melhorar o homem e a sociedade, então devemos perguntar se, com o gigantesco progresso material, de que desfruta a nossa época, não chegámos ao mesmo tempo a fazer desaparecer precisamente o homem, um Valor tão fundamental e elementar! Não chegámos já à negação daquele princípio fundamental e elementar, que o antigo pensador cristão expressou com a frase: "E preciso que o homem viva"? (Ireneu).

É assim, portanto, que um medo justificado atormenta a geração dos homens contemporâneos. Esta orientação de um progresso gigantesco, que se tornou o expoente da nossa civilização, não se tornará o início da morte gigantesca e programada do homem?

Aqueles terríveis campos da morte, de que alguns dos nossos contemporâneos ainda trazem os sinais no seu corpo, não são, no nosso século, também um prenúncio e uma antecipação disto?

4. Os Apóstolos reunidos no cenáculo de Jerusalém encheram-se de medo: "Estando fechadas as portas... com medo". Morrera na cruz o Filho de Deus.

335 O medo, que atormenta os homens modernos, não nasceu talvez também ele, na sua raiz mais profunda, da "morte de Deus"?

Não daquela sobre a cruz, que se tomou o início da Ressurreição e a fonte de glorificação do Filho de Deus e, ao mesmo tempo, o fundamento da esperança humana e o sinal da salvação não dela.

Mas da morte, com a qual o homem faz morrer Deus dentro de si, e particularmente durante os últimos períodos da sua história, no seu pensamento, na sua consciência e no seu agir. Isto é como que um denominador comum de muitas iniciativas do pensamento e da vontade humana. O homem arranca Deus de dentro de si e do mundo. E chama a isto "libertação da alienação religiosa". O homem priva Deus de si mesmo e do mundo, pensando que só assim poderá alcançar a sua posse total, tomando-se senhor do mundo e do seu próprio ser. Por conseguinte o homem "faz morrer" Deus dentro de si e dos outros. Para isto serve-se de um conjunto de sistemas filosóficos, programas sociais, económicos e políticos. Vivemos, portanto, numa época de um gigantesco progresso material, que é também a época de uma negação de Deus antes desconhecida.

É esta a imagem da nossa civilização.

Mas porque é que o homem tem medo? Talvez porque exactamente, em consequência desta sua negação, em última análise, fica só: metafisicamente só... interiormente só.

Ou quem sabe?... talvez precisamente porque o homem, que faz morrer Deus, não encontrará nem sequer um freio decisivo para não matar o homem. Este freio decisivo está em Deus. A razão última para que o homem viva, respeite e proteja a vida do homem, está em Deus.

E o fundamento último do valor e da dignidade do homem, do sentido da sua vida, é o facto que ele é imagem e semelhança de Deus!

5. Na tarde daquele mesmo dia, o primeiro depois do sábado, estando os Apóstolos com as portas fechadas "com medo dos Judeus", Jesus veio ter com eles. Entrou, deteve-se entre eles e disse: "A paz esteja convosco!" (
Jn 20,19).

Mas então Ele vive! O túmulo vazio nada mais significava, a não ser que Ele ressuscitara como tinha predito. Vive — e eis que vem ter com eles, ao mesmo lugar que também com eles deixara na noite de quinta-feira depois da ceia pascal. Vive — no seu corpo. De facto, depois de os ter saudado, "mostrou-lhes as mãos e o lado» (Jn 20,20). Porquê? Certamente porque lhes tinham ficado os sinais da crucifixão. E portanto o mesmo Cristo que foi crucificado e morreu na cruz — e agora vive. É Cristo Ressuscitado! Na manhã do mesmo dia não se deixou deter por Madalena; e agora "mostra-lhes — aos apóstolos — as mãos e o lado".

"E os discípulos alegraram-se vendo o Senhor" (Jn 20,20). Alegraram-se! Esta expressão é simples e ao mesmo tempo profunda. Não se refere directamente à profundidade e ao poder da alegria, de que as testemunhas do Ressuscitado se tornaram participantes — mas permite-nos intuir. Se o seu medo tinha as raízes mais profundas no facto da morte do Filho de Deus — então a alegria do encontro com o Ressuscitado devia ser na medida desse medo.

Devia ser maior que o medo. Esta alegria era tanto maior quanto, humanamente, era mais difícil de aceitar. E quanto era difícil, testemunha-o o sucessivo comportamento de Tomé, que "não estava com eles quando veio Jesus" (Jn 20,24).

336 É difícil descrever esta alegria.

E é difícil medi-la com o metro da psicologia humana. Ela é simples, com toda a simplicidade do Evangelho — e é ao mesmo tempo profunda, com toda a sua profundidade.

E a profundidade do Evangelho é tal que nele, de modo completo, está contido o homem todo. Está contido nele de modo superabundante: com toda a sua vontade, com toda a aspiração do seu espírito e com todos os desejos do seu "coração". Está contido também com toda a profundidade daquele seu medo, que nasce da "morte de Deus" — e que nasce também da perspectiva da "morte do homem".

Precisamente estes tempos, em que vivemos — tempos em que se verifica a perspectiva da "morte do homem" nascida da "morte de Deus" dentro do pensamento humano, na consciência humana e no agir humano — precisamente estes tempos exigem de modo particular, a verdade sobre a Ressurreição do Crucificado. Exigem também o testemunho da ressurreição, que seja mais eloquente do que nunca.

Não foi em vão, que o Vaticano II chamou a atenção de toda a Igreja para o "mysterium paschale".

6. Vivamos pois, hoje, este mistério com toda a Igreja que está aqui em Turim. Demos testemunho da Ressurreição de Cristo perante esta Cidade e a Sociedade. Turim inteiro torne-se um cenáculo deste encontro com o Ressuscitado, a quem nos conduz hoje a santa liturgia.

Disto existem ricas razões históricas, que remontam a tempos antigos. Mas, sobretudo, tais razões encontram-se na história recente da Vossa Cidade e da Vossa Igreja. O Mistério pascal encontrou aqui alguns dos seus esplêndidos testemunhos e apóstolos, em particular entre os séculos dezanove e vinte. Não podia, de resto, ser diferente na Cidade que conserva uma relíquia insólita e misteriosa como o santo Sudário, singular testemunho — se aceitamos os argumentos de tantos cientistas — da Páscoa: da Paixão, da Morte e da Ressurreição. Testemunho mudo, mas ao mesmo tempo surpreendentemente eloquente!

Por conseguinte, em todos aqueles homens que deixaram aqui, em Turim, um vestígio e uma semente, tão maravilhosos da santidade: Don Bosco, Cottolengo, Cafasso — nestes homens, repito, não terá agido aqui Cristo Crucificado e Ressuscitado?

Mas dirá alguém: isto é história de ontem. Hoje é diferente, radicalmente diferente. O "hoje" esmaga o "ontem". Já não existe o Turim dos Santos, mas apenas o Turim da grande indústria e da grande secularização, o Turim de uma quotidiana luta de classes e de uma incessante violência. Os Santos pertencem ao passado, já não são suficientes para os dias de hoje — dirá alguém.

Mas Cristo existe. E Ele é suficiente para cada tempo: "Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade" (
He 13,8). E mais ainda. Escutemos o Apocalipse do Apóstolo João. Dá um testemunho particular deste Cristo de ontem, de hoje e de amanhã: "Quando o vi, caí a seus pés como morto; e Ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo-me: 'Não temais: Eu sou o Primeiro e o Último, O que vive; conheci a morte, mas eis-me aqui vivo pelos séculos dos séculos.

E tenho as chaves da morte e do inferno'" (1, 17-18).

337 Tenho as chaves da morte...

Sim. A única chave contra a "morte do homem" tem-na Ele: o Filho de Deus Vivo. Ele, a Testemunha do Deus Vivo: "O Primeiro e o Último e o que Vive".

Isto foi-nos dito a nós homens da época de um progresso gigantesco — e da época de um medo que cresce lado a lado com os sucessos humanos e com as suas ameaças.

Isto foi dito para nós!

7. E serão hoje mais numerosos entre nós os não-crentes que os crentes? Talvez esteja morta a fé e coberta por uma camada de quotidianidade laica, ou até de negação e desprezo...

No acontecimento evangélico e litúrgico de hoje há também um apóstolo incrédulo e obstinado na sua não-fé: "Se eu não vir... não acreditarei" (
Jn 20,25).

Cristo diz: "Olha... verifica..., e não sejas incrédulo..." (Jn 20,27). Ou talvez — por baixo da não-fé exista nada menos que o pecado, o pecado inveterado, que os homens evoluídos não querem chamar pelo nome, para que o homem não o chame assim e não procure remir-se dele. Cristo diz: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jn 20,22-23). O homem pode chamar o pecado pelo nome, não é obrigado a falsificá-lo dentro de si mesmo, porque a Igreja recebeu de Cristo o poder e a força sobre o pecado para bem das consciências humanas.

Também estes são pormenores essenciais da mensagem pascal de hoje.

A Igreja inteira anuncia hoje a todos os homens a alegria pascal, em que ressoa a vitória sobre o medo do homem. Sobre o medo das consciências humanas, nascido do pecado. Sobre o medo de toda a existência, nascido da "morte de Deus" no homem, e na qual se abrem as perspectivas de uma multíplice "morte do homem".

É esta a alegria dos Apóstolos reunidos no cenáculo de Jerusalém. É a alegria pascal da Igreja, que tem o seu início neste cenáculo. Teve o seu início no sepulcro vazio junto do Gólgota e nos corações daqueles homens simples, que "na tarde daquele mesmo dia, o primeiro depois do sábado", viram o Ressuscitado e ouviram da Sua boca a saudação: "A Paz esteja convosco!".

Que esta alegria, mais forte que qualquer medo do homem, seja partilhada por esta Igreja e por esta Cidade, "Augusta Taurinorum", à qual me foi concedido vir em peregrinação, a mim, indigno sucessor de Pedro.

Ámen!





VISITA PASTORAL À PARÓQUIA DE SANTA MARIA

RAINHA DA PAZ NA DIOCESE DE ÓSTIA


338
Domingo, 20 de Abril de 1980




1. "A paz esteja convosco"! Foi com estas palavras que, após a sua Ressurreição, Cristo saudou os Apóstolos reunidos no cenáculo, ao aparecer-lhes pela primeira vez. "A paz esteja convosco"! Isto aconteceu naquele dia, o primeiro depois do Sábado, em que as mulheres tinham ido ao sepulcro, de manhãzinha, não encontrando nele o corpo de Cristo — e, em seguida, Pedro e João, informados por elas, constataram a mesma coisa: a pedra removida, o túmulo vazio, as ligaduras, em que fora envolvido o corpo do Senhor, no chão; e o sudário, que lhe fora colocado em cima da cabeça, num lugar à parte. Na tarde daquele mesmo dia Jesus foi até junto deles, ao cenáculo, onde se encontravam, receando os Judeus — foi e entrou pela porta fechada, e saudou-os com as palavras: "A paz esteja convosco" (cfr. Jo
Jn 20).

Com as mesmas palavras desejo saudar a Paróquia dedicada à Mãe de Deus, Rainha da Paz, que me é dado visitar hoje, terceiro Domingo do tempo pascal. E pronuncio estas palavras da saudação de Cristo com grande alegria, porque a vossa Paróquia tem o nome da Rainha da Paz; as palavras "a paz esteja convosco" estão, por isso; particularmente ligadas ao espírito que vivifica a vossa Comunidade. Sob o padroado de Maria "Rainha da Paz" esta saudação de Cristo Ressuscitado ressoa com a força particular da fé, da esperança e da caridade. A paz é, de facto, um fruto particular daquela caridade que vivifica a fé. É a paz que o mundo não pode dar, a paz que só Cristo dá: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou" (Jn 14,27).

2. A minha saudação, portanto, dirige-se a todos vós, começando pelo Senhor Cardeal Carlo Confalonieri, do Título da Igreja suburbicária de Óstia e Decano do Sacro Colégio, que desejou estar presente nesta minha visita pastoral. Saúdo, em seguida, o Senhor Cardeal Vigário Ugo Poletti que, com a sua presença, quis testemunhar o afecto que o liga a esta ponta avançada da Cidade de Roma. Saúdo, ainda, o Bispo Auxiliar D. Clemente Riva, a cuja solicitude está confiada, de modo particular, a zona de que faz parte esta Paróquia: ele efectuou, durante o mês passado, a visita pastoral à vossa Comunidade, deu-se conta, pessoalmente, dos problemas que ela vive e estudou convosco um projecto concreto de compromisso cristão para o próximo futuro. Chegou agora o tempo de o pôr em prática. Saúdo o Pároco, Padre Giuseppe De Filippi, e os outros sacerdotes que se dedicam, humilde e generosamente, à cura pastoral desta porção do rebanho do Senhor.

Desejo dirigir uma especial palavra de saudação às Religiosas das quatro Congregações que trabalham no âmbito da Paróquia: ao apreço com que toda a Comunidade acompanha o seu serviço nas diversas actividades educativas e assistenciais, quero juntar também o meu aplauso, salientando, de modo especial a disponibilidade admirável que demonstram em colaborar nas iniciativas pastorais programadas pela Paróquia.

Não pode faltar, por fim, uma cordial saudação aos diversos Grupos, em que se realiza o compromisso do laicado católico: existe na Paróquia um numeroso grupo de catequistas que ajudam os Sacerdotes e as Irmãs na preparação das crianças para os sacramentos da Eucaristia e do Crisma, dois momentos fundamentais da vida cristã; há, além deste, outros grupos que, da oração e da reflexão comunitária sobre a Palavra de Deus, adquirem estimulo para uma adesão mais generosa às exigências da sua vocação pessoal, vivida numa dimensão decididamente eclesial; e há, finalmente, os que se dedicam a actividades de promoção humana entre as crianças, os jovens e os anciãos.

Vai para todos a minha estima sincera e o mais caloroso encorajamento.

Uma Paróquia tem sempre problemas delicados para resolver; a vossa tem alguns particularmente complexos. Não é possível pensar em podê-los enfrentar eficazmente sem a colaboração de todos. Penso sobretudo nos problemas postos pelo crescimento vertiginoso da população; nos que derivam da diferente proveniência dos vários núcleos familiares, muitos dos quais têm atrás de si tradições, hábitos e mentalidades notavelmente distantes; nos problemas ligados com as dificuldades de inserção social dos jovens e com o consequente desvio de não poucos deles... Não é fácil, em semelhante contexto, construir uma Paróquia que seja verdadeiramente Igreja, isto é uma Paróquia na qual cada pessoa chegue a fazer uma experiência de autêntica comunhão e a experimentar a alegria que deriva do facto de compartilhar os mesmos bens espirituais na perspectiva de uma esperança comum. Para isto é necessário o empenhamento de todas as várias componentes da Comunidade e, em particular, o empenhamento das famílias, em cujo contributo na acção paroquial se insistiu bastante, e justamente, durante a visita pastoral. A Paróquia é um edifício para cuja construção cada um deve levar a própria pedra, isto é, o testemunho cristão dado nas palavras e na vida.

3. A esta luz, peço-vos agora, habitantes de Roma, a vós, cristãos de Roma, que vos detenhais com particular atenção sobre uma frase pronunciada pelo primeiro Bispo de Roma, o apóstolo Pedro. Ele pronunciou esta frase juntamente com os outros Apóstolos, com os quais tinha sido levado, como testemunham os Actos dos Apóstolos, diante do Conselho Supremo dos Judeus, ao sinédrio. O sumo sacerdote acusa os Apóstolos, impugnando-lhes uma contestação. Diz assim: "Proibimo-vos formalmente de ensinardes nesse nome. Enchestes Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem" (Ac 5,28). Muito significativas são especialmente as últimas palavras. De facto, recordamo-nos perfeitamente que, diante de Pilatos — o qual, quase para se justificar da sentença pronunciada contra Jesus, dissera:"Estou inocente do sangue deste homem" —, a multidão ali reunida, excitada pelo sinédrio, gritara: "Que o Seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos" (Mt 27,24-25).

E ouvindo agora semelhantes palavras da boca do sumo sacerdote, Pedro e os apóstolos respondem: "Importa mais obedecer a Deus do que aos homens" (Ac 5,29). E as palavras que se seguem explicam o significado desta resposta. De facto, enquanto os anciãos de Israel pedem aos Apóstolos silêncio sobre Cristo, Deus, pelo contrário, não lhes permite que se calem: "O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem matastes, suspendendo-O num madeiro. Foi a Ele que Deus elevou, com a Sua direita, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. E nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo, que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem" (Ac 5,30-33 Ac 5,

Nas poucas frases pronunciadas por Pedro encontramos um testemunho total e completo da ressurreição de Cristo - uma inteira e completa teologia pascal.

339 Esta verdade, de novo repetida no nosso tempo, com todo o ardor e toda a convicção da fé, pelo Concílio Vaticano II, encontramo-la já, em toda a sua profundidade e plenitude, naquela resposta dada por Pedro ao sinédrio.

4. É a esta verdade que se referem as palavras: "Deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens».

A verdade que confessamos mediante a fé, provém de Deus. É a palavra do Deus Vivo. Esta palavra, dirigida aos homens, pronunciou-a Deus muitas vezes por meio dos homens que Ele enviou — pronunciou-a sobretudo mediante o seu Filho que se fez homem. E quando se silenciaram as palavras do Filho, quando a sua cabeça se inclinou sobre a cruz no último espasmo da morte, quando a sua boca se fechou, foi então que Deus, por assim dizer, acima desta morte, pronunciou a palavra última e decisiva para a nossa fé, a palavra da ressurreição de Cristo. E esta palavra de Deus vivo obriga-nos mais do que qualquer ordem ou intenção humanas. Esta palavra traz em si a eloquência suprema da verdade, traz em si a autoridade do próprio Deus.

Deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens. É Ele a fonte da verdade indubitável e infalível enquanto que a verdade que o conhecimento humano e a inteligência, mesmo dos homens mais geniais; podem atingir traz em si a possibilidade de engano e de erro. De facto, a história do pensamento testemunha que as maiores autoridades no campo da filosofia e da ciência algumas vezes erraram — e os que lhes sucediam punham em relevo estes erros; fazendo avançar deste modo a obra do conhecimento humano, maravilhoso sem dúvida..., mas sempre humano.

Pedro e os Apóstolos estão diante do sinédrio e têm plena consciência e absoluta certeza de que, em Cristo, falou o próprio Deus — falou definitivamente com a sua cruz e com a sua ressurreição. Portanto Pedro, e os outros Apóstolos, sendo aqueles a quem foi dada directamente esta verdade — sendo aqueles que, a seu tempo, receberam o Espírito Santo — devem dar testemunho dela.

5. Crer quer dizer aceitar a verdade que vem de Deus com toda a convicção da inteligência, apoiando-se na graça do Espírito Santo "que Deus concede àqueles que Lhe obedecem" (
Ac 5,32): aceitar o que Deus revelou, e que chega sempre até nós mediante a Igreja na sua viva "transmissão", isto é, na tradição. O órgão desta tradição é o ensino de Pedro e dos Apóstolos e dos seus Sucessores.

Crer significa aceitar o seu testemunho na Igreja, que guarda este testemunho de geração em geração, e depois — baseados neste testemunho — dar testemunho da mesma verdade, com a mesma certeza e convicção interior.

No decorrer dos séculos mudam os sinédrios que requerem o silêncio, o abandono ou mesmo a deformação desta verdade. Os sinédrios do mundo contemporâneo são totalmente diferentes — e são numerosos. Tais sinédrios são cada um dos indivíduos que recusam a verdade divina; são os sistemas do pensamento humano, do conhecimento humano são as diversas concepções do mundo e também os vários programas do comportamento humano, são ainda as várias formas de pressão da chamada opinião pública, da civilização de massa, dos meios de comunicação social de matiz materialista, laico, agnóstico e anti-religioso são, por fim e também, alguns sistemas de governo contemporâneos que — se não privam totalmente os cidadãos da possibilidade de confessarem a fé — limitam-na, pelo menos, de formas diversas, marginalizam os crentes e fazem deles quase cidadãos de categoria inferior... e perante todas estas formas modernas do sinédrio de então, a resposta da fé continua a ser sempre a mesma: "Deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem matastes, suspendendo-O num madeiro... E nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo..." (Ac 5,29-32).

"Importa mais obedecer a Deus do que aos homens...".

6. Pensemos, caros Irmãos e Irmãs, em todos aqueles homens, nossos irmãos em Cristo, que, no mundo, dão tal resposta de fé... por vezes em condições muito mais difíceis do que aquelas em que nós nos encontramos. Pensemos naqueles que pagam o preço mais alto por tal resposta: às vezes o preço da própria vida, outras vezes o da privação da liberdade, ou da marginalização social, ou do escárnio...

O Livro dos Actos diz que os Apóstolos "saíram da sala do sinédrio cheios de alegria por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do nome de Jesus" (Ac 5,41).

340 Não faltam, também hoje, semelhantes testemunhas. Com a própria força do Espírito frutificam nelas as palavras de Pedro, pronunciadas no início da história da Igreja:

"Importa mais obedecer a Deus do que aos homens" (
Ac 5,29).

Rezemos frequentemente por aqueles a quem a fé exige o preço desta grande e, por vezes, extrema prova — para que lhes não falte a força do Espírito.

E, por fim, olhemos para nós mesmos:

Qual é a nossa fé? a fé dos homens desta Roma, cujo primeiro Bispo foi o próprio Pedro?

E esta fé tão unívoca e clara como a confessada por Pedro diante do Sinédrio? Ou não será, por vezes, bastante equívoca? misturada com suspeitas e com dúvidas? mutilada? adaptada aos nossos pontos de vista humanos? aos critérios da moda, da sensação, da opinião pública?

Podemos verdadeiramente fazer nossas as palavras de Pedro: "Importa mais obedecer a Deus do que aos homens"?

E rezemos pela nossa fé.

Pela fé da nova geração. E pela fé da antiga geração. São diversas as provas que a fé atravessa em cada lugar da terra... nos homens.

Oxalá não nos falte nunca a contemplação daquela imagem que também a nós — como aos Apóstolos no lago — permita descobrir a presença de Cristo: "É o Senhor" (Jn 21,7), e navegar em direcção a Ele.

Queira Deus que não nos afastemos d'Ele.



CONSAGRAÇÃO DA IGREJA ROMANA DEDICADA AOS MÁRTIRES DO UGANDA


341
Sábado, 26 de Abril de 1980




Veneráveis Irmãos e Filhos caríssimos

1. Parece-me quase supérfluo manifestar a minha satisfação ao celebrar esta solene liturgia, tão evidentes são as razões de prazer e de alegria. Hoje, pela primeira vez, desde quando, por disposição da divina Providência, assumi a responsabilidade da Sé de Pedro, é-me dado presidir aqui em Roma ao rito da consagração de uma Igreja. É uma nova Igreja, uma Igreja paroquial, que se une à esplêndida coroa de edifícios sagrados que marcam o vulto cristão da Cidade, e colherá no seu interior o povo de Deus, que poderá receber — junto da mesa da Palavra, da mesa da Eucaristia, e de outras fontes sacramentais — o multiforme alimento necessário para o seu crescimento sobrenatural. Além disso, é erecta uma pública e monumental memória em honra dos Mártires Ugandeses e, também deste ponto de vista, pode-se dizer que uma nova fileira de testemunhas de Cristo se une ao "candidatus exercitus", ao qual a Igreja dedicou tão frequentemente um especial lugar de culto no solo Romano: do Uganda, de facto, veio-nos no século passado um estupendo testemunho de fé! Hoje, então, pode-se dizer que a Roma cristã contempla mais uma vez a África cristã mediante a página moderna e heróica que ela acrescentou ao seu martirológio e à sua história.

2. Ao dirigir a minha afectuosa saudação a todos os que aqui estão reunidos — o Senhor Cardeal Vigário Ugo Poletti e o Cardeal Arcebispo de Kampala Emmanuel Nsubuga, as Autoridades civis, o Pároco com os seus colaboradores e todos os fiéis da Paróquia — desejo fazer convergir a comum atenção da circunstância da consagração para as leituras litúrgicas, que foram escolhidas a propósito. Queria insistir, em particular, sobre a segunda leitura, e depois sobre o texto do evangelho.

Antes de tudo, deve-se realçar o que São Pedro nos disse, pois não só se adapta perfeitamente à circunstância de hoje, mas permite passar, segundo uma linha de simétrica coerência, da ideia de edifício material à de edifício espiritual, da Igreja-templo à Igreja-comunhão das almas. Na base de toda a obra — recorda-nos o Príncipe dos Apóstolos — está Cristo Senhor, pedra viva e angular, pedra escolhida e preciosa aos olhos de Deus; mas também as nossas almas são pedras vivas, e como tais são usadas na construção sobre o fundamento daquela mesma pedra, de modo a formarem uma casa espiritual, um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus (
1P 2,4-5).

Nunca se relevará bastante o profundo significado deste ensinamento apostólico: refiro-me ao mistério da nossa edificação sobre Cristo, isto é, do tornarmo-nos Igreja com Ele, n'Ele e por Ele! Recordai a este propósito, Irmãos e Filhos caríssimos, quanto nos foi dado a conhecer pelo Concílio Vaticano II na Constituição dogmática Lumen Gentium, que, entre as várias imagens da Igreja, não esqueceu aquela da construção (cfr. n. 6). Nós devemos estar edificados sobre Cristo, porque este e não outro é o fundamento que dá estabilidade e segurança à nossa vida. De facto, São Paulo explica, fazendo perfeitamente eco ao co-apóstolo Pedro: na Igreja "ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus Cristo (...). Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1Co 3,11 1Co 3,16).

Eis, então, a ideia da edificação desenvolvida até ao seu ponto terminal, de um templo completo em todas as suas partes. Cada um de nós neste templo é uma pedra viva, mas não isolada, não autónoma, nem auto-suficiente. Cada um de nós pode ser edificado somente em Cristo, pois sem Ele toda a construção estaria destinada a desabar: é a super-edificação. Cada um de nós deve edificar-se com os outros irmãos, por força da lei da comunhão eclesial, que é como o "cimento" que a todos nos une em Cristo; é a co-edificação. Somente nestas condições se torna majestoso o templo de Deus.

Todos formamos a Igreja de Deus, porque estamos solidamente alicerçados sobre Cristo, seu Filho, e estamos intimamente unidos aos nossos irmãos de fé. Precisamente tal consciência é um dos pontos qualificantes da profissão cristã: Credo unam, sanctam, catholicam et apostolicam Ecclesiam! Várias vezes recitamos este artigo da nossa fé, mas devemos também meditá-lo, pedindo ao Espírito que nos ilumine interiormente, a fim de que acenda a sua luz divina no místico templo da nossa alma, no qual ele próprio habita.

3. É indubitável, por outra parte, que também o templo material é necessário. Todos conhecemos as dificuldades que apresenta a construção de novos edifícios sagrados. É problema às vezes grave e de não fácil solução. Mas o edifício de pedra não é tudo: ele tem uma função claramente instrumental e simbólica em comparação com o outro superior edifício, do qual vos falei até agora.

Qual é então — podemos perguntar-nos — a relação entre os dois edifícios? É Jesus que a explica no Evangelho, na passagem do seu colóquio com a Samaritana. "Acredite-Me, mulher, vai chegar a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai (...) Vai chegar a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois sois esses adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito.." (Jn 4,21 Jn 4,23). Neste texto encontramos uma revelação, que nos ilumina sobre o que deve ser realmente a vida religiosa. É a "verdade", porque deve adequar-se àquilo que é Deus: sendo Deus puríssimo espírito, a adoração, como acto supremo do culto que Lhe prestamos, não pode deixar de ser em espírito. A realidade ontológica de Deus-espírito, corresponde a realidade psicológica do homem que adora em espírito: eis a verdade, como dimensão do culto querido por Cristo.

Por isso faço votos por que o templo, que hoje se inaugura publicamente, como centro propulsor da vida comunitária desta Paróquia, reúna e acolha sempre mais numerosos os adoradores que o Pai deseja (cfr. ibid.). Inseridos como pedras vivas no edifício eclesial, poderão eles seguir, sem hesitação e sem confusões, a Cristo que é o caminho seguro para chegar ao Pai (cfr. Jo Jn 14,6). Assim, na liturgia terrena, antegozando, participamos da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, de modo pleno e perfeito (cfr. Const. Sacrosanctum Concilium SC 8). Lá é que cantaremos ao Senhor o nosso hino de glória, com todos os Anjos e com os Santos.

342 4. O último pensamento que vos quero propor, caríssimos Filhos, inspira-se nesta visão do Céu, onde vivem, em Deus, os 22 Mártires do Uganda. E ainda mais de boa vontade dirijo-me a estes nossos Irmãos, como à sua terra de África, porque lá irei no próximo fim de semana. Assim como Paulo VI, depois de os ter canonizado (18 de Outubro de 1964), quis dirigir-se em peregrinação a Kampala para a consagração do altar do seu Santuário e para encerrar um importante Simpósio do Episcopado Africano, assim o seu humilde sucessor, por um indizível desígnio pastoral, decidiu uma nova peregrinação em outros diversos Países daquele mesmo Continente. Parece-me que presentemente se deve ter em conta o ligame, que a celebração desta tarde tem com ambas as peregrinações: é sempre a Igreja de Roma que, como no passado, se move agora para visitar porções eleitas do seu orgânico e indiviso corpo, para estabelecer, como outrora, um contacto mais estreito com as pedras vivas do seu edifício unitário e nele promover, além disso, a mútua edificação na caridade e na paz.

A minha viagem quer ser um alegre reconhecimento da afirmação de Paulo VI: Africa est nova patria Christi (Homilia na canonização dos Mártires Ugandeses: AAS LVI, 1964,
PP 907-908), e é igualmente uma celebração de unidade eclesial; de tal modo que o estarmos aqui reunidos, circundados pela presença fraterna dos fiéis Ugandeses, serve como um feliz auspício para a já próxima partida. Peço-vos, amados Filhos, que coloqueis entre as intenções da vossa oração também um pensamento para esta minha visita a África, para que o Senhor, seja somente o Senhor, o guia dos meus passos e queira ajudar-me no ministério, que especificamente me compete como sucessor de Pedro, de fortalecer os irmãos (cfr. Lc Lc 22,32). E desde agora agradeço-vos esta caridade.

5. E agora dirijo uma especial saudação à peregrinação do Uganda.

Caríssimos peregrinos do Uganda:

Já vos dei as boas-vindas. durante a última audiência geral de quarta-feira. Alegro-me ao ver-vos hoje aqui. Sois os herdeiros dos mártires, em cuja honra esta igreja foi dedicada.

Eles deixaram-vos em herança o tesouro da fé cristã. É um tesouro cujo valor é o que há de mais evidente, porque provém do testemunho que deram dela. Eles estavam mais preparados para morrer do que para a regenerar. Sabiam que ela vale mais do que todas as riquezas da terra, pois dá acesso às riquezas que são infinitamente superiores e permanecem para sempre, porque é a porta de entrada para uma vida com a qual a vida corporal não pode ser comparada.

Sede vós próprios merecedores da herança que recebestes. Mostrai que considerais a vossa fé cristã tão alta como fez São Carlos Lwanga e os seus companheiros. Vivei de acordo com o programa que o meu predecessor Paulo VI vos apresentou, quando foi visitar o vosso País: "primeiro; tende grande amor a Jesus Cristo; procurai conhecê-1'O bem, permanecei unidos a Ele, tende grande fé e grande confiança n'Ele. Segundo, sede fiéis à Igreja; rezai com ela, anunciai-a, tornai-a conhecida; estai sempre prontos, como estiveram os vossos mártires, a dar sincero testemunho dela. Terceiro, sede fortes e corajosos; permanecei tranquilos; sede sempre felizes e alegres. Porque, lembrai-vos sempre disto, a vida cristã é o que de mais belo existe!".



Homilias JOÃO PAULO II 333