Homilias JOÃO PAULO II 448

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Praça da Catedral

Velletri, 7 de Setembro de 2009




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Desejo, antes de tudo, manifestar-vos a minha alegria por me ser dado encontrar-me. hoje no meio de vós, na vossa belíssima Velletri. Saúdo-vos a todos com particular efusão do coração e agradeço-vos vivamente o vosso caloroso acolhimento. A minha saudação vai, de modo particular, para o Senhor Cardeal Sebastiano Baggio, Prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos, titular desta gloriosa Igreja suburbicária; para o benemérito Bispo Dom Dante Bernini; para os membros do presbitério diocesano; para todos os representantes das Ordens religiosas masculinas e femininas; para os futuros sacerdotes; para aqueles que se preparam para o Diaconado permanente; para os matriculados na Escola de Teologia para Leigos; e para todos os que pertencem às várias Associações laicais. Este nosso encontro, nobilitado pelo contexto da Santa Missa que estamos a celebrar, é óptima ocasião para confessarmos juntas a nossa fé comum em Cristo Jesus, Senhor nosso, e para exprimirmos a nossa comunhão mútua.

Sei que me encontro numa Cidade com história antiga e ilustre, tanto na esfera civil como na eclesiástica; quanto à primeira, basta pensar nas origens do imperador Octaviano Augusto; quanto à segunda, sobressaem as figuras de não poucos Bispos de Velletri elevados à Cátedra de Pedro ou mesmo às honras dos Altares. Mas sei ainda, igualmente bem, que a vitalidade dos Velletrinos não se limita unicamente ao passado, mas constitui património fecundo no presente, graças ao qual a vossa Cidade se distingue pelo seu dinamismo a vários níveis. Disto vos dou testemunho e, ao mesmo tempo que me alegro, animo-vos paternalmente a que prossigais com igual empenho, procurando sobretudo manter sempre alto o nome cristão que vos distingue.

2. As Leituras Bíblicas, que a Liturgia deste Domingo nos propõe, centram-se à volta do conceito da sabedoria cristã, que é incitado cada um de nós a adquirir e profundar. Por isso, o versículo do Salmo responsorial é formulado nestas belas palavras: "Dai-nos, Senhor, a sabedoria do coração". De facto, sem ela como seria possível ordenar dignamente a nossa vida, enfrentar-lhe as várias dificuldades e mesmo conservar sempre urna profunda atitude de paz e serenidade interior? Mas para fazer isto, como ensina a Primeira Leitura, é necessária a humildade, ou seja o sentimento verdadeiro do próprio limite, unido ao desejo intenso de um dom do alto, que nos marca por dentro. O homem de hoje, de facto, por um lado acha difícil abraçar e compreender todas as leis que regulam o universo material, que são contudo objecto de observação científica, mas por outro presume legislar com segurança sobre as coisas do espírito, que por definição escapam às observações físicas: "E difícil calcularmos o que há sobre a Terra,... E quem descobriu o que há nos Céus,... sem que, do alto, lhe tivésseis enviado o Vosso santo Espírito?" (
Sg 9,16 Sg 9,17).

Nisto se vê a importância de sermos verdadeiros discípulos de Cristo, porque, mediante o Baptismo, Ele se tornou a nossa sabedoria (cf. 1Co 1,30) e por isso a medida de tudo o que forma o tecido concreto da nossa vida. O Evangelho que foi lido põe em evidência precisamente a centralidade necessária de Jesus Cristo na nossa existência. E fá-lo com três frases condicionais: se não o pomos a Ele acima das nossas coisas mais queridas, se não nos dispomos a ver as nossas cruzes à luz da Sua, e se não temos o sentido da relatividade dos bens materiais, então não podemos ser Seus discípulos, isto é, dizermo-nos cristãos. Trata-se de apelos essenciais à nossa identidade de Baptizados; sobre eles deveremos reflectir sempre muito, embora presentemente baste fazer-lhe uma breve alusão.

3. Caríssimos Velletrinos, é sobre estas sólidas bases evangélicas que se enxertam e adquirem, a um preço ainda mais alto, outros importantes valores humanos e cristãos. Sei que em Velletri se costuma dizer que se alimentam, em especial, três amores: a família, o trabalho e Nossa Senhora. Pois bem, se permitis, quero dizer-vos que os compartilho, e a cada um deles é-me agradável consagrar algumas breves palavras.

Primeiramente, a família: é o primeiro ambiente vital, que o homem encontra ao vir ao mundo, e a experiência dela foca decisiva para sempre. Por isso é importante tratar dela e protegê-la, para conseguir desempenhar adequadamente os seus encargos próprios, que lhe são reconhecidos e confiados pela natureza e pela revelação cristã. É o lugar do amor e da vida, melhor o lugar em que o amor gera a vida, pois cada uma destas duas realidades não seria autêntica se não fosse acompanhada também pela outra. Eis o motivo por que desde sempre as defendem o Cristianismo e a Igreja, e as colocam em mútua correlação. A este propósito mantém-se verdadeiro o que o meu predecessor, o grande Papa Paulo VI, proclamava já na sua primeira radiomensagem natalícia de 1963: "Tentou-se por vezes recorrer a remédios que devem considerar-se piores que o mal, se consistem em atentar contra a fecundidade mesma da vida com meios que a ética humana e cristã deve qualificar de ilícitos: em vez de aumentar o pão na mesa da humanidade faminta como hoje o desenvolvimento produtivo moderno pode fazer, pensam alguns em diminuir, com processos contrários à honestidade, o número dos comensais. Isto não é digno da civilização" (Insegnamenti di Paolo VI, I, 1963, p. 419). Faço plenamente minhas estas palavras, e até desejaria insistir mais nelas, pois, desde que foram pronunciadas até hoje, a situação pode dizer-se agravada, e precisa do esforço responsável e prático de todos os homens honestos, a todos os níveis da convivência civil. Certamente sabeis que o próximo Sínodo dos Bispos tem, como tema dos seus estudos, exactamente a família; peçamos ao Senhor que ele seja fecundo em positivos e duradouros resultados para o bem da Igreja e até da sociedade humana.

4. Em segundo lugar, vós amais o trabalho. Sobre estas férteis colinas o vosso trabalho concretiza-se sem dúvida na imagem risonha e serena da vinha, que produz aquele típico e célebre vinho local, de que vos orgulhais e com razão. Mas não esqueço todos os outros tipos de actividade, a que se adapta cada um de vós para ganhar o pão quotidiano para si e para os que lhe são queridos.

A Igreja, como sabeis, dedica os seus cuidados mais atentos aos problemas do trabalho e dos trabalhadores. Nas minhas viagens apostólicas não deixei de traçar as linhas fundamentais desta, primária solicitude pastoral; e vós recordais-vos além disso como o Concílio Vaticano II afirmou que o trabalho "procede imediatamente da pessoa, que imprime na natureza quase o seu selo e a submete à sua vontade" (GS 67). Além disso, dada a sua importância social, o trabalho precisa de ser não só promovido, mas também protegido e defendido, de modo que os deveres dos trabalhadores se equilibrem de maneira justa com os direitos dos mesmos, reconhecidos e respeitados. Não será nunca lícito, do ponto de vista cristão, escravizar a pessoa humana nem a um indivíduo nem a um sistema, de modo que ela se torne puro instrumento de produção. Ela, pelo contrário, é sempre considerada superior a todos os ganhos e a todas as ideologias; nunca ao contrário.

449 Faço votos por que o vosso trabalho vos incuta fortes e experimentadas virtudes, vos torne cada vez mais amadurecidos e conscientes construtores do bem comum e realizadores daquela solidariedade que, tomando origem em Deus Criador, une e cimenta a vossa convivência. Mais, apraz-me ver no produto da vossa boa terra um símbolo eloquente de fraternidade e de recíproca comunhão, de maneira que os homens se transformem em outros tantos comensais, iguais e em festa, sentados no banquete desta vida, como prefiguração do futuro e eterno festim, partilhado connosco pelo nosso único Senhor.

Por último, vós amais a Mãe de Jesus. Sei que vos é particularmente querida Nossa Senhora das Graças, cuja imagem é filialmente guardada e venerada na vossa bela Catedral. Muito gosto tenho nisto e exorto-vos a perseverar nesta vossa devoção que, se rectamente entendida e vivida, conduz seguramente a penetrar cada vez mais no mistério de Cristo, nosso único Salvador. O coração da Sua Mãe é tão grande e terno que derrama o próprio amor sobre cada um de nós, necessitados como estamos todos os dias da sua protecção. E por isso também lhe recomendo a ela, meus caríssimos Velletrinos, todos vós aqui presentes, e todos os que não puderam participar neste maravilhoso encontro. De modo especial confio aos seus cuidados maternais os doentes, os anciãos, as crianças, e todos os que se sentem sozinhos e fracos ou se encontram em especiais necessidades. Todos temos lugar no seu coração, e, sob a sua guia, podemos enfrentar corajosamente as dificuldades da vida e sobretudo chegar a uma plena maturidade cristã.

São estes também os meus anseios vivíssimos, cordiais e portadores de bênção. Assim seja!



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À VELLETRI E FRASCATI (ITÁLIA)


Praça da Catedral

Frascati, 8 de Setembro de 2009




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Com intensa alegria venho hoje à vossa cidade, que se orgulha com bom direito, não só de uma longa e gloriosa tradição histórica e artística, mas também das suas belezas naturais e da bem conhecida cortesia dos seus habitantes, de maneira que se tornou, de há séculos, lugar buscado e privilegiado para o repouso do espírito, e também do corpo.

Quero dirigir, primeiro que tudo, uma cordial saudação ao venerado Irmão o Cardeal Paolo Bertoli, Camerlengo da Santa Igreja Romana, que tem particulares laços de afecto convosco, pois lhe está confiado o Título da Igreja Suburbicária de Frascati; uma saudação afectuosa ao vosso zeloso Pastor, Dom Luigi Liverzani, que houve por bem convidar-me para esta celebração; e também ao Senhor Presidente da Câmara, que teve nobres expressões quanto à minha pessoa e ao meu serviço pastoral para a Igreja Universal.

Nem posso esquecer, nesta alegre e significativa circunstância, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os pais e as mães de família, os operários, os artesãos, os profissionais, os jovens, as jovens, os meninos, as crianças e, em particular, os pobres e os doentes.

A todos a minha saudação sincera.

Alguns de vós recordar-se-ão da visita que fez a esta cidade, há 17 anos, no domingo 1° de Setembro de 1963, o meu venerado Predecessor Paulo VI; veio aqui sobretudo para falar-vos de um Santo, tão caro ao vosso coração, São Vicente Pallotti, que nesta cidade celebrou a primeira Missa e escreveu as regras da sua benemérita Instituição.

450 Mas, ao mesmo tempo, o meu pensamento vela-se de tristeza ao recordar as pobres vítimas daquele triste e tremendo bombardeamento de 8 de Setembro de 1943, que atingiu e destruiu a vossa cidade, dando esta o seu contributo de dor, de lágrimas e de sangue ao trágico drama do segundo conflito mundial.

Ao recordarmos estes tristes acontecimentos, que pertencem agora à história de Frascati, estamos aqui reunidos para proclamar a alegre mensagem da esperança cristã pois como ouvimos da Liturgia nós hoje celebramos "com alegria a Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria: dela nasceu o sol da justiça, Cristo, nosso Deus".

Esta festividade mariana é toda um convite à alegria, exactamente porque, com o nascimento de Maria Santíssima, Deus deu ao mundo quase a garantia concreta de a salvação estar já iminente: a humanidade — que havia milénios, em formas mais ou menos conscientes, esperara alguma coisa ou alguém que a pudesse libertar da dor, do mal, da angústia e do desespero, e que no Povo eleito encontrara, especialmente nos Profetas, os porta-vozes da Palavra de Deus, pacificante e consoladora — podia finalmente olhar, comovida e vacilante, para Maria "Criancinha", que era o ponto de convergência e de chegada de um conjunto de promessas divinas, que tinham encontrado eco misteriosamente no coração mesmo da história.

É exactamente esta Criancinha, ainda pequenina e frágil, a "Mulher" do primeiro anúncio da Redenção futura, contraposta por Deus à serpente tentadora: "Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a sua descendência e a dela. Esta esmargar-te-á a cabeça ao tentares mordê-la no calcanhar" (
Gn 3,15).

É precisamente esta Criancinha a "Virgem" que "conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Emanuel, que significa Deus connosco" (cf. Is Is 7,14 Mt 1,23).

É precisamente esta Criancinha a "Mãe" que dará à luz em Belém "aquele que deve ser o dominador de Israel" (cf. Miq Mi 5,1 s.).

A Liturgia hodierna aplica a Maria, ao nascer, a passagem da Carta aos Romanos, em que São Paulo descreve o plano misericordioso de Deus relativamente aos eleitos: Maria é predestinada pela Trindade para uma altíssima missão; é chamada; é santificada; e é glorificada.

Deus predestinou-a para ser intimamente associada à vida e à obra do Seu Filho unigénito. Por isso a santificou, de maneira admirável e singular, desde o primeiro momento da sua conceição, constituindo-a "cheia de graça" (cf. Lc Lc 1,28); tornou-a conforme à imagem do Seu Filho: conformidade que, podemos dizer, foi única, porque Maria foi a primeira e a mais perfeita discípula do Filho.

O desígnio de Deus em Maria culminou depois naquela glorificação, que tornou o seu corpo mortal, conforme ao corpo glorioso de Jesus ressuscitado; a assunção de Maria ao céu, em alma e corpo, representa como que a última etapa da vida desta Criatura, na qual o Pai celeste manifestou, de maneira exaltante, a Sua divina complacência.

A Igreja toda, portanto, não pode hoje deixar de alegrar-se ao celebrar a Natividade da Maria Santíssima, que — segundo afirma com tons comovidos São João Damasceno — é aquela "porta virginal e divina, da qual e através da qual, Deus, que está acima de todas as coisas, está para fazer o Seu ingresso na terra corporalmente... Hoje brotou um rebento do tronco de Jessé, do qual nascerá para o mundo uma Flor substancialmente unida à divindade. Hoje, sobre a terra, da natureza terrestre, Aquele — que em tempos separou o firmamento e as águas e o elevou ao alto — criou um céu, e este céu é divinamente muito mais esplêndido que o primeiro" (Homilia sobre a Natividade de Maria: s.).

3. Olharmos para Maria significa copiarmo-nos num modelo que o próprio Deus nos deu para a nossa elevação e nossa santificação.

451 E Maria hoje ensina-nos, primeiro que tudo, a conservar intacta a fé em Deus, aquela fé que nos foi dada no Baptismo, e deve continuamente crescer e chegar à maturidade em nós, nas várias etapas da nossa vida cristã. Comentando as palavras de São Lucas (Lc 2,19), Santo Ambrósio assim se exprime: "Reconheçamos em tudo o pudor da Virgem Santa, que, intemerata no corpo não menos que nas palavras, meditava no seu coração os argumentos da fé" (Expos. Evang. sec. Lucam, II, 54: CCL, XIV, p. 54). Também nós, Irmãos e Irmãs caríssimos, devemos continuamente meditar no nosso coração "os argumentos da fé", isto é, devemos. estar abertos e disponíveis à Palavra de Deus, para fazer que a nossa vida quotidiana — a nível pessoal, familiar e profissional — esteja sempre em perfeita sintonia e em harmoniosa coerência com a mensagem de Jesus, com o ensinamento da Igreja e com os exemplos dos Santos.

Maria, a Virgem-Mãe, reafirma hoje, a nós todos, o valor altíssimo da maternidade, glória e alegria da mulher, e também o da virgindade cristã, professada e acolhida "em vista do Reino dos Céus" (cf. Mt Mt 19,12), isto é como um testemunho, neste mundo caduco, daquele mundo final, em que os salvos serão "como os anjos de Deus" (cf. Mt Mt 22,30).

4. A hodierna festividade sugere-nos ainda outro ponto para a nossa reflexão, ligado com um acontecimento eclesial de particular importância, que interessará por vários meses a diocese de Frascati. No ano próximo celebrareis solenemente o terceiro centenário da consagração da vossa artística Catedral, isto é do Templo principal, o mais importante da diocese.

Mas o templo de pedras leva-nos a um Tabernáculo vivo, ao verdadeiro Templo santo do Altíssimo, qual foi Maria, que no seu ventre virginal concebeu e gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo encarnado. E, segundo a Palavra de Deus, cada cristão, mediante o Baptismo, torna-se templo de Deus (1Co 3,16 1Co 3,17 2Co 6,16); é uma pedra viva para a construção de um edifício espiritual (cf. 1P 2,5), isto é, deve, com a sua exemplar vida cristã, contribuir para o crescimento e para a edificação da Igreja, Corpo místico de Cristo, Povo de Deus e Família de Deus.

O próximo terceiro centenário da consagração da vossa Catedral deve incitar-vos e empenhar-vos, Irmãos e Filhos caríssimos, a um testemunho de vida cristã cada vez mais concreto, constante e generoso, em filial união com os vossos Pastores. As minhas palavras de exortação dirigem-se, em primeiro lugar, aos sacerdotes e religiosos, que escolheram uma vida de completa doação e dedicação para dilatarem o Reino de Deus. Mas nesta circunstância dirijo-me, de modo particularíssimo aos Leigos — isto é, aos homens, às mulheres, pais e mães, profissionais, operários, jovens, meninas e estudantes recordando as palavras, que há 17 anos dirigia precisamente a vós, fiéis de Frascati, Paulo VI, falando da maturação da consciência do laicado católico quanto ao apostolado. Esta consciência — afirmava ele — "não é dada... só pela necessidade de alongar os braços do Sacerdote que não chega a todos os ambientes e não consegue suportar todas as fadigas. É dada por alguma coisa mais profunda e mais essencial, isto é pelo facto de que também o laicado é cristão. Do interior da sua consciência ressoa uma voz: Se sou cristão, não devo ser elemento negativo, passivo e neutro, e talvez adversário, da onda de espírito que põe nas almas o Cristianismo" (Insegnamenti di Paolo VI, I [1963], p. 570).

Criando eco a estas palavras do meu grande Predecessor, eu digo-vos, fiéis de Frascati: Cristo Cabeça tem necessidade de vós, porque vós sois os Seus membros. A Igreja precisa de vós, porque a formais. Não vos deixeis desanimar pelas dificuldades nem, menos ainda, fascinar ou intimidar por concepções ou ideologias em contraste com a mensagem cristã. "Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (1Jn 5,4),assegura-nos São João Evangelista; esta fé seja sempre sólida, profunda, simples, operosa e dinâmica.

ó Virgem nascente,
esperança e aurora de salvação para o mundo inteiro, / volve benigna o teu olhar materno para nós todos, / aqui reunidos para celebrar e proclamar as tuas glórias.

ó Virgem fiel,
que sempre estiveste pronta e solicita para acolher, conservar e meditar a Palavra de Deus, / faz que também nós, no meio das dramáticas alternativas da história, saibamos manter sempre intacta a nossa fé cristã, / tesouro que nos foi transmitido pelos Antepassados.

ó Virgem poderosa,
452 que esmagas com o teu pé a cabeça da serpente tentadora, / faz que, dia após dia, cumpramos as nossas promessas baptismais, renunciando a Satanás, às suas obras e às suas seduções, / e saibamos dar ao mundo alegre testemunho da esperança cristã.

ó Virgem clemente,
que sempre abriste o teu coração maternal às invocações da humanidade, às vezes dividida pelo desamor e também, infelizmente, pelo ódio e pela guerra, faz que saibamos sempre crescer todas, segundo o ensinamento do teu Filho, na unidade e na paz, para sermos dignos filhos do único Pai celestial.

Amém!



CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


NO INSTITUTO MISSIONÁRIO INTERNACIONAL


DE CATEQUESE «MATER ECCLESIAE»




Castel Gandolfo, 12 de Setembro de 1980




Sinto-me particularmente feliz ao celebrar esta manhã a Santa Missa convosco, caríssimos Catequistas. Sei que estais subdivididos em três grupos: encontram-se entre vós os hóspedes da Propaganda Fide, provenientes de diversos Países do mundo; há depois o grupo de mais perto, isto é o da Paróquia de Castel Gandolfo; e também o grupo da arquidiocese de Florença.

Filhos dilectíssimos, deveis saber que a Igreja e, de modo particular, o Papa esperam muito de vós. De facto, estais inseridos na estrutura portadora da evangelização, que é o primeiro e fundamental factor para tornar Jesus Cristo conhecido ao mundo. Ouvimos São Paulo, na primeira leitura, exclamar: «Ai de mim se não evangelizar» (1Co 9,16). 0 anúncio oral é o meio essencial da missão cristã, e é ainda o Apóstolo que nos recorda um princípio primeiro do cristianismo: «A fé vem da pregação » (Rm 10,7). Mas «como hão-de acreditar n'Aquele que não ouviram? E como ouvirão se ninguém lhes prega?» (Rm 10 Rm 14). Daqui se avalia todo o alcance e a importância do vosso dever. É um dever de que a Igreja não pode eximir-se, porque dele depende não só a maturidade, mas também a própria identidade cristã. Com efeito, como escrevia na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, este «visa o duplo objectivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e mais sistemático da Pessoa e da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo» (n. 19).

Estou certo, de que se trata de coisas já muito conhecidas por vós. A minha palavra, então, serve de paterno encorajamento a um zeloso e inteligente desenvolvimento da vossa preciosíssima actividade. Cultivai primeiramente em vós e vivei aquela fé, cujo conteúdo transmitis aos outros; e também tende sempre um enraizado e responsável sentido de pertença eclesial.

Esta Missa, que estamos a celebrar, seja ocasião propícia para pedir ao Senhor as suas graças copiosas e fecundas. Seja Ele a iluminar-vos, dirijir-vos e sustentar-vos. E que também vos conceda a verdadeira recompensa, prometida a quem se faz fiel ministro da Palavra. Assim Seja!



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE A SENA (ITÁLIA)

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

EM HONRA DE SANTA CATARINA DE SENA




Praça do Campo, 14 de Setembro de 1980




1. Não esqueçamos as grandes obras de Deus!

453 Vimos hoje a Sena para recordar, passados 600 anos, aquela particular obra de Deus que teve aqui o seu inicio: Catarina de Sena. Vimos não só para recordá-la nesta Cidade, mas também para bendizer a Deus nela e por ela; para dar graças a Deus pela obra que desejou realizar nela e, mediante ela, na história da Igreja e na história da Itália. Passados seis séculos, esta obra está ainda viva e tem ainda a sua particular eloquência. Catarina de Sena vive em Deus aquela Vida, cujo inicio foi enxertado nela mediante o Baptismo, recebido aqui em Sena, logo depois do nascimento, acontecido este, segundo a tradição, a 25 de Março do ano de 1347. E esta sua vida em Deus, no tabernáculo da Santíssima Trindade, confirma de modo definitivo a verdade das palavras pronunciadas em tempos por Santo Ireneu, Padre da Igreja, no século II: "glória de Deus é o homem que vive".

2. Contemporaneamente Santa Catarina, cuja graça baptismal maturou até aos mais altos vértices no mistério da Comunhão dos Santos, vive também nova vida na memória e veneração da Igreja. O testemunho que ela deu a Cristo, Filho do Pai, Verbo Eterno e Esposo das almas imortais, não só permanece na Igreja mas assume, diria eu, significado sempre novo. Disso é prova o facto de uma das duas mulheres, honradas por Paulo VI com o título de Doutoras da Igreja — ao lado de Santa Teresa de Ávila — ser exactamente ela: Catarina de Sena.

É difícil deixarmos de nos admirar com isto. Ela foi na verdade uma simples jovem; não recebeu qualquer instrução particular (aprendeu a escrever quando estava já adiantada nos anos) e passou pela vida rapidamente, como se tivesse pressa de chegar ao eterno tabernáculo da Santíssima Trindade. Tudo isto que ela foi, tudo o que realizou no decurso da vida de apenas 33 anos, foi obra admirável do próprio Deus. Foi obra do Espírito Santo, a quem a virgem senense esteve submetida e obediente, à semelhança daquela Mulher excelsa, que prossegue sendo para nós modelo inacessível: a Mãe do Salvador.

Favorecida com visões celestiais desde a primeira infância, Catarina de facto cultivou constantemente uma união profunda com o Esposo divino, embora no meio das ocupações absorventes da sua existência movimentada. Conseguiu-o graças à "cela interior", que tinha conseguido construir no seu intimo. "Fazei para vós uma cela no espírito, da qual não possais nunca sair", aconselhará mais tarde aos discípulos, baseada na experiência pessoal (Legenda maior, I, IV). Nela, de facto, "encontramos nós o alimento angélico do ardente desejo de Deus para connosco" (Carta 26).

É em tal contemplação apaixonada dos mistérios de Cristo, unida à consciência da própria nulidade ("Tu és aquilo que não é; Eu, pelo contrário, Aquele que sou": Legenda maior, I, X), que deve procurar-se o segredo de uma acção, de cuja amplitude e penetração ficamos ainda hoje pasmados. É segredo que ela mesma desvela nas recomendações que não se cansa de dirigir aos filhos espirituais: "Ponde, ponde a boca no peito do Filho de Deus; mas que é uma boca, que lança fogo de caridade e jorra sangue, para lavar as vossas iniquidades. Digo que a alma que nele repousa e para ele olha, com a vista da inteligência, o coração consumado e aberto por amor, recebe em si tanta conformidade com Ele, vendo que tanto ama, que não pode deixar de amar" (Carta, 97). É necessário subir a tal interior comunhão de vida com Cristo, selada pelo dom místico dos estigmas, para compreender o ascendente que esta frágil e inerme donzela pôde exercer sobre toda a espécie de pessoas, sobre nobres e plebeus, sobre homens da Igreja como sobre aventureiros afastados de Deus e capazes de toda a violência.

3. É necessário apelarmos para este fogo de amor para termos também a chave da fascinação que a Santa senense continua a exercer também sobre nós, homens do século XX. Catarina vive ainda, com efeito, quase uma nova vida, aqui na terra, na memória e na veneração da Igreja. Vive, em particular, na memória e na veneração da sua Pátria, a Itália, que vê nela, ao lado de São Francisco de Assis, a sua principal Patrona.

E com toda a razão. Catarina, de facto, amou a Itália e gastou sem poupar as próprias energias para enfrentar tantos males que a afligiam: foi enfermeira à cabeceira dos empestados; foi despenseira de auxílios para os indigentes; foi mantenedora de iniciativas de caridade para os necessitados de toda a espécie; e sobretudo foi embaixatriz de paz entre os particulares, as famílias e os Estados.

É este um lado característico da missão da Santa: soube fazer ressoar eficazmente a palavra da paz precisamente onde grassava a febre da discórdia. E discórdias não faltavam na verdade na sociedade agitada daqueles tempos. Ódios e rixas constituíam o pão quotidiano dos soberbos grupos familiares, transformados em conluios de armas e morticínios. Suspeitas, tensões e guerras rebentavam frequentemente entre os vários Estados, nos quais estava então dividida a península. Urgia a obra medianeira de uma pessoa, que se encontrasse seguramente acima das partes em litígio, mas suficientemente perto do coração de cada um para poder nele fazer brecha, despertando a audição e o consentimento. Catarina tomou esta missão. Forte unicamente com o nome de Cristo, animada de um amor ardente pelos irmãos, a frágil donzela enfrentou as facções opostas: com a invocação nos Lábios "Paz, paz, paz", interpôs-se entre os Governos das várias cidades, interveio junto dos cidadãos isolados, chamou todos ao sentido das responsabilidades de homens e de cristãos.

Com acentos amargurados, e sobretudo com a força irresistível da graça, conseguida mediante a oferta de si a Deus na oração e nas lágrimas, Catarina obteve conversões e reconciliações, que têm alguma coisa de milagroso.

4. Todavia o aspecto, que na acção de Catarina tem maior relevo e parece decidir do seu especial lugar na memória e na veneração de toda a Itália, é o estreitamente ligado com o papel por ela desempenhado junto dos Papas, papel que Roma e a Sé de Pedro não podem esquecer. Foi exactamente por obra de Santa Catarina que os Sucessores de Pedro voltaram de Avinhão à Sé, a eles destinada pela Providência mesma, no princípio da história da Igreja, precisamente a Roma, onde os apóstolos Pedro e Paulo tinham lançado os fundamentos da fé, não só com as palavras da pregação mas também com o testemunho da morte arrostada por amor de Cristo.

Os Papas tinham-se transferido para Avinhão, na França, nos primeiros anos do século e numerosos obstáculos se opunham agora ao regresso. Catarina não se rendeu. Com a coragem que lhe vinha da fé, falou, escreveu, insistiu; pediu e por fim obteve: a 17 de Janeiro de 1377 o Papa Gregório XI regressava a Roma, acolhido com o entusiasmo festivo da população inteira. Chegava assim à conclusão um capítulo não alegre da história do Papado.

454 Por este motivo, desde os primeiros dias do meu serviço na Sé de Pedro, depois da visita à basílica de "Santa Maria sopra Minerva", desejei muito vir a Sena (assim como ir a Assis), para "ligar na terra o que estava ligado nos céus" com o sinal desta visita. E hoje que me é dado cumprir este desejo, pronuncio, elevando o meu espírito, as palavras da liturgia: "Não esqueçamos as grandes obras de Deus". Santa Catarina de Sena é grande obra de Deus.

5. Esta visita e a solenidade inteira ocorrem no dia em que a Igreja festeja a Exaltação da Santa Cruz.

Escutemos portanto no Evangelho as palavras por Cristo dirigidas a Nicodemos durante aquele colóquio nocturno, em que o Filho do Homem revela ao Escriba, e ao mesmo tempo cidadão respeitável, a verdade central da economia divina na história do homem: "Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, também assim tem de ser levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que n'Ele crer tenha a vida eterna" (
Jn 3,14-15).

E escutemos também na segunda leitura as palavras de Paulo sobre Cristo Jesus que "se humilhou a Si mesmo fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz" (Flp 2, 8) — e precisamente por isto "Deus O exaltou e Lhe deu o nome que está acima de todo o outro nome; para ao nome de Jesus todo o joelho se dobrar nos céus, na terra e debaixo da terra; e toda a língua proclamar que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai" (Flp 2, 9-11).

E pensemos, reflectindo e em certo modo assimilando com toda a alma estas palavras (tão óbvias para a certeza da fé e ao mesmo tempo tão imperscrutáveis para a grandeza do Mistério)... pensemos em que modo particular foi "exaltada" a cruz de Cristo no coração da vossa concidadã, Santa Catarina. E reflictamos como esta mesma foi exaltada na cruz.

Porque ainda que tenha sido sinal, a cruz, da ignomínia do homem, é ao mesmo tempo verdade que nesta cruz o mais "exaltado" foi o homem. Cada homem. O homem de todos os tempos. Quis testemunhá-lo logo no princípio do meu serviço na Sé romana mediante a encíclica Redemptor Hominis.Hoje alegro-me de que o dia, em que me é dado honrar de modo particular Santa Catarina de Sena, juntamente com toda a Igreja e de modo especial com toda a Itália, coincida precisamente com a festa da Exaltação da Cruz.

Catarina teve a intuição claríssima do papel confiado à cruz na libertação e "exaltação" do homem: "O Cordeiro imaculado — escreve ela — para restituir á liberdade ao homem e fazê-lo livre, entregou-se a Si mesmo à oprobriosa morte da santíssima cruz. Vedes o amor inefável, que nos deu a vida com a morte; suportando opróbrios e vitupérios, restituiu-nos a honra; com as mãos cravadas e trespassadas na cruz, libertou-nos do laço do pecado" (Carta 28). "Ó dulcissimo amor, Jesus — ora ela ainda — tu jogaste com a morte sobre a cruz nos braços dela" (Carta 97), "pacificaste, com a morte tua, o homem com Deus: pois os cravos foram feitos para nós chave, que abriu a vida eterna" (Carta 184).

6. Jesus Cristo continua a falar a Nicodemos; "Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça mas tenha a vida eterna" (Jn 3,16).

O Evangelho é mensagem de vida. O Cristianismo leva profundamente, em todo o seu conteúdo, o sentido do valor da vida e do respeito pela vida. O amor de Deus como Criador manifesta-se nisto, em que Ele é Dador da vida. O amor de Deus, como Criador e Pai, manifesta-se nisto, em que o homem, criado à Sua imagem e semelhança como homem e mulher, é tornado por Ele desde o início Seu colaborador, colaborador do Criador na obra de dar a vida. Com tal encargo anda junta uma particular dignidade do homem: a dignidade generativa, a dignidade do pai e da mãe, dignidade fundamental e insubstituível em toda a ordem da vida humana: individual e social juntamente.

O problema da afirmação da vida humana desde o primeiro instante da conceição e, em caso de necessidade, também o problema da defesa desta vida, estão unidos de modo estreitíssimo com a ordem mais profunda da existência do homem, como ser individual e como ser social, porque o ambiente primeiro e fundamental não pode ser senão o de uma autêntica família humana.

É necessária, por isso, a explícita afirmação da vida humana desde o primeiro instante da sua concepção sob o coração da mãe, é necessária também a defesa desta vida quando ela está de algum modo ameaçada (ameaçada também socialmente), é necessária e indispensável, porque no fim de contas trata-se aqui da fidelidade à humanidade mesma, da fidelidade à dignidade do homem.

455 Deve aceitar-se esta dignidade desde o princípio. Se ela é destruída no seio da mulher, no seio da mãe, será difícil defendê-la, depois, em muitos campos e âmbitos da vida e da convivência humana. Como é possível, de facto, falar de direitos humanos, quando se viola este direito primitivo? Muitos dissertam, hoje, sobre a dignidade do homem, mas não hesitam, depois, em esmagar o ser humano, quando este se apresenta, débil e indefeso, no limiar da vida. Não há contradição patente em tudo isto? Não devemos cansar-nos de reafirmar: o direito à vida é o direito fundamental do ser humano, direito da pessoa, que obriga desde o princípio.

Deus, de facto, tanto amou o mundo até dar o Seu Filho unigénito, para o crente n'Ele ter a vida!...

E Deus tanto amou a maternidade humana, a maternidade de uma Mulher — da Virgem de Nazaré, mediante a qual pôde dar ao mundo o Seu Filho Unigénito —, que a esta luz toda a maternidade humana adquire extraordinária dimensão. É sagrada.

Sagrada é a vida. E sagrada é a maternidade de cada mãe.

Daqui o problema da afirmação da vida. O problema da defesa da vida já no seio da mãe é, para todos aqueles que confessam Cristo, problema de fé e problema de consciência.

E problema de consciência é também para os outros, para todos os homens sem excepção: é-o em virtude da sua mesma humanidade.

Aqui, diante de Santa Catarina de Sena, Padroeira da Itália, apresento a Deus, juntamente convosco, uma fervorosa súplica para que estas forças de fé e estas forças de consciência se encontrem e se exprimam no meio desta Nação, que sempre se distinguiu pelo seu grande amor à família e à criança. Peço a Deus que esta Nação não dissipe a sua herança fundamental: herança de vida e herança de amor responsável que, servindo a vida, se exprime a si mesmo, diante de Deus e dos homens. Não dissipe a Itália esta herança, mas pelo contrário exalte-a numa afectiva promoção do ser humano a todos os níveis, e a traduza numa positiva e plena tutela, mesmo jurídica, dos seus direitos inalienáveis, sendo e continuando a ser o primeiro, o direito à vida. "Não nos esqueçamos das grandes obras de Deus".

7. As obras de Deus vivo são maiores que o homem e o mundo. Maior que o homem e o mundo é aquele amor com que Deus amou o mundo, dando-lhe o Seu Filho: "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (
Jn 3,16).

Catarina de Sena tornou-se, para a geração de então e para as futuras, testemunha insuperável daquele amor, porque estava de modo extraordinário imersa em Deus e nos Seus "grandes problemas" (magnalia).

Não faltam também na nossa geração os homens, não faltam os jovens, que procuram com ardor a Deus e, estando em relação com Ele, descobrem a profunda beleza do mundo e o sentido transcendente da própria humanidade. Porque o mundo, por si mesmo, não afasta o homem de Deus, mas o conduz a Ele. Não nas criaturas, mas no coração humano, se devem procurar as causas do afastamento quanto a Deus, da indiferença espiritual e daquele estar tão absorvido pelo mundo, como se este constituísse a única dimensão do ser humano.

Encontrado-nos aqui diante de Santa Catarina, a donzela extraordinária que nasceu nesta Cidade e se distinguiu pelo encargo particular que a Providência lhe confiou para com a Igreja e para com a Itália, devemos pedir a renovação do espírito, isto é a capacidade de nos voltarmos para Deus e nos "mergulharmos" n'Ele, como exige o nosso contemporâneo conhecimento do mundo e do homem no mundo.

456 Pois disto se trata: de que o homem "não pereça", completamente absorvido pelo mundo, mas "tenha a vida eterna".

Esta Vida não vem do mundo mas de Deus: disto dá testemunho, de modo irrefutável, Santa Catarina de Sena.

A glória de Deus é o homem vivo, que vive a plenitude de Vida, que vem de Deus! Amém.



Homilias JOÃO PAULO II 448