Homilias JOÃO PAULO II 881


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

AO ZIMBÁBUE, BOTSUANA, LESOTO,

SUAZILÂNDIA E MOÇAMBIQUE (10 A 19 DE SETEMBRO)



DURANTE A SANTA MISSA AOS FIÉIS


DA ARQUIDIOCESE DE NAMPULA


EM MOÇAMBIQUE


17 de Setembro de 1988




Meus amados irmãos e irmãs,

“HÁ DIVERSOS DONS espirituais, mas o Espírito é o mesmo” (1Co 12,14). Foi Ele que aqui nos congregou, no Senhor Jesus Cristo.

1. Deixai que vos manifeste, antes de mais, a alegria que sinto por estar entre vós. E recebei a saudação afectuosa do Bispo de Roma, sucessor de Pedro, que veio visitar-vos como peregrino do Evangelho e da Paz. Deus me é testemunha de quanto vos amo a todos, com a ternura de Jesus Cristo, como dizia São Paulo (Cfr. Fl Ph 1,8). Por estas palavras, já entendeis o meu desejo de vos ver, animar e abençoar a todos. Sei que vós mesmos desejáveis dar-me o testemunho da vossa Fé e da vossa devoção.

882 Aqui, bem perto do local onde nasceu o nome Moçambique, hoje Nação soberana, convosco dou graças a Deus, pelo crescimento da Igreja na vossa pátria: nesta Arquidiocese de Nampula, nas Dioceses vizinhas e em todo o território moçambicano. Saúdo, com todo o afecto, o Senhor Arcebispo que me acolhe, Dom Manuel Vieira Pinto, os outros Irmãos no Episcopado, as Excelentíssimas Autoridades e todas as forças vivas desta Comunidade eclesial e das Dioceses sufragâneas de Lichinga e Pemba; saúdo os queridos missionários e fiéis presentes, e quantos, por dificuldades várias, não puderam vir, mas nos estão unidos em espírito.

Quero ainda dirigir uma saudação particular aos seminaristas, que frequentam este Seminário interdiocesano e aos demais de todo o Moçambique: olhai, as vossas comunidades, os vossos Pastores e o Papa, queridos jovens, têm os olhos postos em vós, com muita esperança. Sede generosos e amigos de Cristo, que vos quis “fitar com amor” (Cfr. Mt
Mt 19, 36ss).

2. As primeiras Missões, aqui iniciadas há quase cinco séculos, deram a estas terras os primeiros cristãos. Com o andar do tempo, aos poucos nasceram as vossas comunidades.Neste momento, quero evocar, aqui convosco, os missionários que, generosa e abnegadamente, algumas vezes mesmo com o sacrifício da própria vida, foram lançando os alicerces da Igreja neste belo País. Os seus nomes, desconhecidos muitos deles, estão escritos no Livro da Vida. E os seus túmulos, ou os seus restos mortais sem túmulo, estarão nalgum recanto da vossa terra.

Ajoelho-me em espírito, diante de cada uma dessas sepulturas e sufrago esses missionários, engrandecidos pelo dom de si mesmos às missões. E por eles e por vós, cristãos de hoje, dou graças a Deus!

3. A minha visita missionária à vossa terra torna aqui presente de modo especial a Igreja que está em Roma. Na Igreja universal – como ouvimos na Palavra de Deus agora proclamada – todos os que fomos baptizados num só Espírito, constituímos um só Corpo (Cfr. 1Co 12,13); e no Romano Pontífice e nos Bispos em união com ele está o fundamento visível da verdadeira e única Igreja de Jesus Cristo. Esta é realidade viva na alma dos cristãos, nas comunidades, nas dioceses, enfim, na universalidade do Povo de Deus em toda a terra. Também as vossas comunidades são ramos desta grande árvore; e aí vão buscar a própria seiva, para viver; mesmo se espalhadas no interior e atravessando grandes dificuldades, elas são animadas por um só Espírito.

Ao receber os vossos Bispos em visita “ad Limina”, já por duas vezes, tive a consolação de congratular-me pela caminhada de evangelização, de amadurecimento na fé e de participação comunitária, que a Igreja em Moçambique tem feito. E hoje, a minha presença no meio de vós é também congratulação, ao celebrarmos juntos a comunhão de vida, aqui e agora, na Igreja.

4. Viver em comunhão, ao nível de comunidades locais, como Igreja viva e aberta aos desafios do momento em Moçambique, foi opção feita em Assembleia Nacional de Pastoral na Beira, em 1977. Dos relatórios constam alguns dos desafios que, na altura, se apresentavam à Igreja. Urgia providenciar para que se mantivessem vivas as comunidades cristãs, dada a falta de Sacerdotes.

Para isso, era necessário que os cristãos leigos, bem escolhidos e bem preparados, se empenhassem a prestar às comunidades os serviços compatíveis com a própria condição eclesial; era necessário despertar neles a consciência de Igreja e a co-responsabilidade como baptizados.

Mesmo sem templos onde se reunir para rezar, impunha-se apoiar a vivência da fé de cada um, suscitando o sentido de comunhão: entre os cristãos, na própria comunidade; entre as diversas comunidades; e entre todos, a com um só coração e uma só alma” (Cfr . At Ac 4,4), na Igreja particular, presidida pelo Bispo; esta – sabemo-lo – nas dimensões locais e com as marcas africana e moçambicana, respira sempre pelos “pulmões” da Igreja universal, sustentada pelo mesmo Espírito.

5. Num ambiente como aquele em que vivíeis então, era muito importante a imagem e a missão da Igreja como factor de comunhão. Assim, as circunstâncias contribuíram para a vossa caminhada como Igreja, mediante a vivência da fé pelos seus membros, aos vários níveis em que o Senhor os colocou. Há um só depósito da fé, há para todos os mesmos Sacramentos e um idêntico vínculo da caridade, porque “o Senhor é o mesmo” (1Co 12,11). Há, pois, “um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança no chamamento que recebestes” (Ep 4,4). E, nesta comunhão, todos participamos, em grau diverso, da missão sacerdotal, profética e real de Jesus Cristo.

O Espírito distribui os seus dons “a cada um conforme lhe agrada” (1Co 12,11): alguns fiéis são chamados, por vontade de Cristo, para servirem os irmãos no ministério sacerdotal; outros, para darem testemunho da vida eterna e do absoluto de Deus, no estado de consagração, mormente na vida religiosa; mas, à grande maioria dos cristãos, Nosso Senhor confia-lhes o cumprimento da própria missão eclesial como leigos, no meio do mundo. Aí hão-de proceder de modo que a acção salvífica da Igreja chegue a todos os homens e impregne inteiramente o ambiente. Entretanto, São Paulo explica:

883 “Há diversos dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos”.

6. A realidade da Igreja-comunhão – uma comunhão orgânica, espiritual e hierárquica – está bem presente na perspectiva do Concílio Vaticano II, em particular na explanação doutrinal da Constituição “Lumen Gentium”: a Igreja é comunhão com o Pai, por Jesus Cristo, no Espírito Santo; e esta comunhão realiza-se pela Palavra e pelos Sacramentos. O Baptismo é a porta e o fundamento dessa comunhão: a Penitência é o meio sempre prestes de reconciliação; e a Eucaristia é a “fonte e convergência de toda a vida cristã” e da unidade: “formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo Pão” (
1Co 10,17).

Assim, a Igreja é para todo o crente objecto de fé e amor. Um dos sinais do real compromisso com a mesma Igreja é acatar sinceramente o seu Magistério, que cimenta a comunhão. Não é admissível a contraposição que se faz, por vezes, entre uma Igreja oficial, “institucional” e a Igreja-comunhão. Não são de facto, nem podem ser, realidades separadas. O verdadeiro cristão sabe que a Igreja é povo de Deus uno e único, por convocação de Jesus Cristo (Cfr. Lumen Gentium LG 13).

Este carácter de unidade católica do Povo de Deus, é dom do Senhor, graças ao qual a Igreja, prefigurando e promovendo a paz universal, tende, constante e eficazmente, a recapitular em Cristo a humanidade inteira, com tudo o que ela tem de bom. O mesmo Senhor a quis sociedade visível; e Ele próprio a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Pastores Cfr. Lumen Gentium, 14). Portanto, Igreja-comunhão é, antes de mais, comunhão na fé e nas obras, com a sagrada Hierarquia.

7. A fé assim vivida em comunhão fraterna, na unidade do mesmo Espírito e sob a orientação dos pastores, dá à comunidade um aspecto de família, a família dos filhos de Deus, reunida em nome de Cristo. Sei que a ideia de família é muito querida ao povo africano: é portanto bem compreensível que gosteis de ver as vossas comunidades cristãs a viverem à maneira de uma família unida, onde todos contam, na qual ninguém se sente estranho, onde todos fazem aquilo que podem e sabem, cada um segundo a própria condição e generosidade.

Ouçamos o que diz São Paulo: “A um é concedido, por meio do Espírito, a linguagem da sabedoria, a outro a linguagem da ciência... a outro o dom das curas... a outro o poder de operar milagres... todas essas coisas, porém, as produz o mesmo e único Espírito” (1Co 12,8-11). Transpondo esta variedade de carismas, sem anacronismos nem simplificações demasiadas, para o tempo hodierno da Igreja em Moçambique, sei que os vossos Bispos, nas suas cartas pastorais, têm tido a preocupação: de explicar-vos, no enquadramento devido, como cada um de vós há-de aproveitar e exercitar, ao serviço das comunidades, os “dons” recebidos de Deus (obviamente, diversos dos enumerados por São Paulo); e de vos instruir sobre a maneira de dar vida e coerência aos vários “ministérios” não constituídos.

O que distingue algum dos membros no Corpo da Igreja, se for suplemento de dignidade, está subordinado à habilitação para a “obra do ministério”, à contribuição que cada um deve dar para o crescimento orgânico do Corpo inteiro (Cfr. Ef Ep 4,16).

8. O mais recente Sínodo dos Bispos, nas “propostas” finais, apelou para as pequenas comunidades vivas, exortando-as a serem cada vez mais verdadeiras expressões do rosto da Igreja evangelizada e evangelizadora. Com este lema parece processar-se entre vós a caminhada da Igreja “ministerial”. O esforço por animar e servir as vossas comunidades cristãs continua. E todos procuram adaptar-se às necessidades; também os pastores e missionários: os ministros ordenados.

Sei, amados irmãos, que o vosso contacto com numerosas comunidades, por vezes se torna impossível. Com generosidade e grandes sacrifícios,. fazeis o que podeis; e prestais relevantes serviços, no campo da evangelização, da vida sacramental, da assistência espiritual, do exercício da caridade pastoral. De quantos riscos ides ao encontro, para realizar estes serviços e os demais planos de pastoral, em regiões tão vastas e tão provadas pela guerra!

Essas dificuldades não vos fazem esmorecer; e estais decididos a não privar as comunidades do vosso ministério. Diante dos desafios prementes da actividade sócio-caritativa, não cedais por motivo nenhum, a glória e o primeiro lugar do Senhor em tudo e em todos; não abafeis a voz deste povo, com fome de Deus, que hoje, como os discípulos outrora, vos diz: “ensinai-nos a rezar” (Cfr. Lc Lc 11,1).

9. O trabalho apostólico e caritativo dos “animadores”, que se desenvolve em tantas comunidades cristãs, não substitui totalmente nem dispensa o “ministério hierárquico”. Este, sinal sacramental de Cristo Pastor e Cabeça da Igreja, é o principal responsável na edificação da mesma Igreja, na comunhão e na dinamização da sua actividade evangelizadora (Cfr. Puebla, 659).

884 Remontando às raízes da Igreja, sabemos que o “ministério ordenado” e hierárquico pertence à estrutura essencial da Igreja, por vontade do Senhor Jesus: pertence à sua configuração e visibilidade, com carácter perpétuo, garantindo a continuidade da “missão” e a ligação entre Cristo e a comunidade. E não esqueçamos que as estruturas ministeriais – destinadas a santificar, ensinar e governar – de per si, são estruturas de comunhão.

10. Mais uma breve palavra, ainda, sobre o papel importante do animador da Liturgia dominical, sem a presença do Sacerdote. Esta celebração constitui para muitos cristãos, o único meio de viverem a comunhão com Cristo pela Liturgia. Entretanto, é uma “forma de culto que não é destinada – repito-o aqui – a substituir a Missa: mas deve conduzir a ela” ( Cfr. Notitiae, 23 (1987) 1012).

Trata-se do modo melhor para celebrar o Dia do Senhor, de que dispõem os fiéis conscientes da importância do domingo, mas privados da presença do Sacerdote (Congr. Culto Divino Directorium, 2 de junho de 1988). Por isso, com os vossos Bispos, quero mostrar-vos muito apreço pela “acção generosa” que desenvolveis neste sentido, bem como em relação a outros Sacramentos e Sacramentais (Cfr. CEM, Vida cristã no momento presente, Maputo, 1980).

11. A Igreja, amados irmãos, é como um corpo vivo, com muitas funções (Cfr.
1Co 12,13). Para as exercer não é suficiente uma pessoa, mesmo que seja o Sacerdote; é necessária a intervenção de muitas que, sentindo-se parte integrante da família de Deus, em comunhão com os irmãos, ponham as próprias capacidades ao serviço de todos. Vós aqui tendes dado mostras de boa vontade neste sentido, com dedicação e sacrifício.

Mas é preciso continuar a pensar no Sacerdócio ministerial, sem o qual nenhuma comunidade pode ter tudo aquilo de que precisa, por natureza. É enorme a desproporção em Moçambique entre as necessidades dos cristãos e o exíguo número dos Sacerdotes ordenados e a ordenar nos próximos tempos. Quando teremos Sacerdotes moçambicanos, diocesanos e religiosos, em número suficiente?

E aqui, seja-me permitido acentuar: é sobretudo do clero local diocesano – e também da vida consagrada local – que dependem a consolidação e a garantia do futuro duma Igreja particular. Por isso, o ritmo e as perspectivas de Ordenações do clero diocesano em Moçambique não podem deixar-nos indiferentes. É preciso rezar mais pelas vocações e, deixando liberdade de opção aos vocacionados, criar-lhes ambiente favorável na família e nas comunidades.

12. Para concluir, queridos irmãos e irmãs, quero exortar-vos

– a empenhar-vos, como Povo de Deus peregrino, para que a Igreja aqui se torne, sempre mais, sinal de salvação, sendo e ajudando outros a serem adoradores de Deus “em espírito e verdade”;

– a anunciar a Boa Nova de Jesus, o Salvador, às comunidades, às famílias, aos jovens e às crianças, realçando a sua força santificadora e libertadora do pecado e do mal, para a comunhão com Deus;

– a constituir e ajudar a formar lares cristãos, onde reinem a paz, o amor e a alegria, com a glorificação de Deus e Senhor;

– a defender a dignidade e os direitos inalienáveis e sagrados de toda a pessoa humana, em todos os momentos da existência: homens e mulheres, crianças e velhinhos;

885 – a exercer com coragem e perseverança, mas sem violência e segundo o Evangelho das bem-aventuranças, a dimensão profética do vosso ser cristão, até à denúncia do que desintegra, desumaniza e degrada o homem-irmão (Cfr. Is Is 62,1-2);

– a promover a reconciliação e a unidade e a abrir por toda a parte espaços de esperança e de vida, no meio das atrocidades da violência e da guerra e diante do escândalo da miséria e da fome;

– a favorecer e contribuir para o diálogo, por um Moçambique cada vez mais digno do homem: diálogo pelo desenvolvimento na justiça e na paz;

– a envidar e conjugar esforços pela promoção da identidade cultural e nacional do vosso País, salvaguardando as “sementes do Verbo”, aqui colocadas pelo Senhor, e servindo o Reino de Deus e a sua justiça (Cfr. Mt Mt 6,33).

Em tudo isso, o Senhor Jesus quer continuar – através de nós, seu Corpo visível, através da Igreja que formamos – a sua missão de Redentor do homem: do homem todo e de todos os homens. Vim aqui para confirmar-vos na fé e no serviço dessa missão, pois “servir é reinar”!

Com Maria, Mãe de Jesus, o “Servo de Javé”,
com Maria, Mãe nossa, a “Serva do Senhor”,
com Maria, Rainha do mundo e Rainha da paz,
peçamos a paz para Moçambique.

Dou graças a Deus, Senhor nosso, por esta possibilidade de estar convosco aqui em Nampula; também dou graças a todos os presentes pela participação, pela oração de vida em comunhão de todos. Dou graças, também pela beleza deste encontro litúrgico, deste encontro de oração. Agradeço a todos, especialmente aos jovens, aos jovens, os cantos. Digo-me cheio de admiração pela beleza das vozes: cantaram com força, cantaram também com alegria. Pude também viver convosco este momento litúrgico de paz, alegria litúrgica de todos, e momento de compartilhar a paz. E desejo para toda esta região, para Moçambique inteiro, desejo de coração esta paz. Agradeço uma vez mais a todos, e estou convosco rezando pela paz, pela reconciliação, pelo progresso da vossa pátria, do vosso amado e querido País, Moçambique.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

AO ZIMBÁBUE, BOTSUANA, LESOTO,

SUAZILÂNDIA E MOÇAMBIQUE (10 A 19 DE SETEMBRO)



DURANTE A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO «ESTÁDIO DE MACHAVA» Maputo, 18 de Setembro de 1988

18988

Senhor, salvai-me pelo vosso nome, e com o vosso poder fazei-me justiça” (
Ps 54,3, 53, 3).

Amados irmãos e irmãs

REUNIDOS HOJE nesta cidade, que é a capital do vosso País, queremos rezar juntos pela Justiça e pela paz.

Todos suspiramos pela paz: a paz no nosso íntimo, a paz nas famílias, a paz na comunidade nacional e a paz no mundo exterior. Mas a paz, sendo um dom de Deus, é necessário implorá-la com a oração; por outro lado, é preciso tornar-nos receptivos em relação a ela, “merecê-la”, de certo modo, percorrendo os caminhos da justiça, e da participação activa no bem comum. Onde faltar a justiça, não subsiste o bem comum e a paz da sociedade passa a estar ameaçada de dentro.

Sinto uma grande alegria por estar hoje convosco, nesta aprazível cidade de Maputo. Saúdo, com afecto fraterno, o Senhor Cardeal Arcebispo que me acolhe, Dom Alexandre José Maria dos Santos – o primeiro Cardeal nativo de Moçambique – os demais Cardeais, Arcebispos e Bispos presentes, em especial os das Dioceses sufragâneas de Xai Xai e Inhambane; saúdo as Excelentíssimas Autoridades e as forças vivas da Igreja – Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, Seminaristas e Leigos – e todos os moradores de Maputo. Sei que se encontram aqui populações provenientes de todas as províncias do País, por motivos de trabalho, de estudo ou de sobrevivência. A todos desejo “graça e paz”: “o fruto da justiça é produzido na paz”(Jc 3,18).

2. Elevemos a Deus o nosso brado, com as palavras do Salmista usadas na Liturgia de hoje:

Ouvi, ó Deus, a minha oração.Atendei às palavras da minha boca. Levantaram-se contra mim os arrogantes e os violentos atentaram contra a minha vida, não têm Deus em sua presença” (Ps 54,4-5).

Nestas palavras do Salmista está expressa uma convicção: a convicção de que a justiça e a paz só podem habitar no coração do homem, se ele tiver a Deus diante de si. E as mesmas realidades – a justiça e a paz – só poderão desenvolver-se entre os homens e entre as nações, quando os homens e as nações puserem diante de si Deus, “que criou o mundo e tudo o que nele se encontra, e é o Senhor do céu e da terra” (Ac 17,24).

3. Esta verdade encontra a sua confirmação, em primeiro lugar, no próprio Jesus Cristo.

Cristo sofreu a injustiça humana. Aquele que anunciava a Boa Nova e que fazia o bem a todos, foi condenado à morte de cruz; e essa morte foi infamante e cruel.

Essa morte injusta tornou-se uma prova definitiva da sua justiça, da sua santidade. E constituem um testemunho para esta prova as palavras já contidas no Livro da Sabedoria.

Ouçamos, de novo, o que aí se lê:

“Vejamos se as suas palavras são verdadeiras; verifiquemos como vai sair-se com as suas atitudes. Se esse justo é filho de Deus, Deus estará a seu lado e o livrará das mãos dos seus adversários. Experimentemo-lo com ultrajes e torturas, para conhecermos a sua mansidão e apreciarmos a sua paciência. Condenemo-lo à morte infamante, pois ele diz que será socorrido” (Sg 2,17-20).

Jesus Cristo estava bem consciente desta provação definitiva, à qual iria ser submetido pelos homens, aos quais tinha sido enviado. Com efeito, Ele próprio disse alguma vez aos discípulos: “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Estes hão-de matá-lo; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará (Mc 9,31).

4. A Igreja reza pela justiça e pela paz, em toda a parte e para todos; e fá-lo com os olhos fixados na Cruz e na Ressurreição de Cristo. Mas a Igreja não se limita a rezar, com este espírito; ela também procura ensinar e agir em favor da justiça e da paz.

A prova, aquela prova vitoriosa a que o próprio Cristo se submeteu, oferecendo a própria vida em sacrifício pelos pecados do mundo, é algo que sempre e em toda a parte, em todas as épocas e em todos os países, nos induz a esperar que poderá ser vencido o mal multiforme que se opõe à justiça e à paz, no homem e entre os homens, com diversas dimensões e em diversos âmbitos sociais.

A provação que foi aceita por Cristo – a injustiça de que se tornou Vítima e a vitória por Ele alcançada pelo poder de Deus – leva-nos a esperar que, com o mesmo Poder, os homens e as sociedades, podem construir e reconstruir a justiça e a paz na sua vida e na terra.

5. Estamos, todavia, diante de uma realidade que exige um esforço constante. É preciso vigiar sobre aquilo que se esconde no coração do homem, corrompido pela concupiscência que o leva ao pecado.

Um exemplo disto é-nos apresentado na passagem do Evangelho de São Marcos lida hoje: aqueles homens que viviam mais perto de Jesus, os Apóstolos, discutem “entre si, sobre qual deles seria o maior” (Mc 9,34) no “reino” que Ele viera anunciar.

Partindo dessa discussão, Cristo ensina aos discípulos o modo de exercitar a autoridade na Igreja e também o modo de ser Igreja: não como quem domina, mas como quem serve. Apresenta-se a si proprio como modelo, na missão de instaurar o Reino de Deus, de fundar a Igreja, de que é o Chefe e Legislador supremo: Ele veio servir e não ser servido (Cfr. Mt Mt 20,28); não se impõe, mas serve por amor, até ao ponto de der a vida (Cfr. Jo Jn 15,3). É esta a sua forma de ser o primeiro.

Assim o entenderam, depois, São Pedro, com palavras (Cfr. 1P 5,1) e com o exemplo; e São Paulo que, “não estando submetido a ninguém, faz-se servo de todos... por amor de Jesus (Cfr. 1Co 8,19 ss); e os demais Apóstolos. Quem não toma esta atitude de serviço abnegado, além de carecer de uma das disposições essenciais para o exercício da autoridade, expõe-se a ser arrastado pela ambição do poder, pela soberba e pela tirania.

888 No fundo, toda a autoridade, porque baseada na natureza humana, pertence à ordem estabelecida por Deus (Cfr. Gaudium et Spes GS 74), pertence, por conseguinte, à ordem querida por Jesus Cristo: “Se alguém quer ser o primeiro, há-de ser... o servo de todos” (Mc 9,35).

6. Refere-se ao mesmo assunto também a segunda Leitura, tirada da Carta do Apóstolo São Tiago. Nela se contém uma apresentação sucinta, mas completa, de dois tipos de sabedoria: uma capaz de tornar o homem dócil a Deus e benévolo para com o próximo; e outra, no pólo oposto, que fecha o coração humano a Deus e aos outros homens.

Estes dois tipos de sabedoria, naturalmente, têm origem diversa, como diversas são também as suas manifestações e os seus frutos. De alguma forma, Santo Agostinho quis sintetizar isto mesmo, com a apologia dos dois amores: o amor de si mesmo, levado até ao desprezo de Deus, que constrói a “cidade” da terra; e o amor de Deus levado até ao esquecimento de si próprio, que constrói a “cidade” do céu (Sto. Agostinho, De Civitate Dei, XIV, 28: PL 41, 436).

7. Um “zelo intolerante”, proveniente do apego às próprias ideias, até ao facciosismo, que se manifesta em aspereza de modos, intolerância e “espirito de discórdia”, é sinal de ambição, que gera os contrastes, procurando impor-se aos demais. Criando as divisões, opõe-se à verdade: não atende às exigências da verdade de Deus, que é Deus de paz e não de aflição, com desígnios de prosperidade e de um futuro de esperança para todos (Cfr. Jr Jr 29,11); aliás, como escreviam a seu tempo os Senhores Bispos moçambicanos, “Deus é a verdadeira Paz e fonte da Paz”. Eliminar Deus e o mundo sobrenatural é “passar por cima daquilo que constitui um dos elementos fundamentais da cultura dos povos africanos” (CEM, Viver a fé no Moçambique de hoje, 1976).

As divisões e os contrastes são frutos produzidos pelo homem “terreno”, ainda sob o domínio da tríplice concupiscência, que o impele para o mal: homem ainda não transformado pelo Espírito (Cfr. 1Co 2,14 Rm 8,7), que ainda não se firmou na “liberdade para a qual Cristo nos libertou” (Cfr. Gl Ga 5,1). E por isso desobedece a Deus, continua a voltar as costas a Deus, aceitando o domínio do “pai da mentira” (Cfr. Jo Jn 8,44), o demónio que, como “príncipe das trevas” (Cfr. Cl Col 1,13), se tornou por meio do pecado (e continua a tornar-se cada vez mais) o “príncipe deste mundo” (Cfr. Jo Jn 12,31 Jn 14,30 Jn 16,11).

E quando o homem “desobedece a Deus e recusa submeter-se ao seu poder, a natureza rebela-se contra ele; e já não o reconhece como “senhor”, porque ele ofuscou em si a imagem divina” (Sollicitudo Rei Socialis SRS 30). E torna-se joguete das paixões desordenadas.

8. O mesmo Autor sagrado enumera algumas destas paixões desordenadas, fonte de divisões e de contrastes:

– a “cobiça”, que leva muitas vezes ao crime, é obstáculo à comunhão fraterna e à eficácia da oração;

– a “insatisfação” dos apetites desgregados, que leva ao ódio, que pode ser mortal (Cfr. 1Jn 3,15), ou à “inveja”, que faz sofrer diante do bem alheio e provoca contendas violentas;

– as “guerras” e os “conflitos

– que nesta passagem parecem referir-se directamente às desavenças entre os fiéis, como reflexo de factos sociais, em conexão com a vida eclesial (Cfr. Gl Ga 5,15)– estão num contexto de doutrina cujo conteúdo é válido para as relações no seio de uma comunidade nacional e também em âmbito internacional.

889 Os desequilíbrios, o mal-estar e os conflitos que afligem o mundo moderno, estão relacionados com um desequilíbrio íntimo, que se enraíza no coração dos homens (Cfr. Gaudium et Spes GS 10). À luz da fé, este desequilíbrio chama-se pecado, abuso da própria liberdade, a partir do pecado original. No plano das relações interpessoais o pecado, que é ruptura com Deus, segundo a Sagrada Escritura coincide sempre com atitudes de egoísmo, orgulho, ambição, inveja e ódio; estas geram, por sua vez, a corrupção, o hedonismo e a superficialidade no relacionamento mútuo; e daí, as injustiças, as dominações, e as violências, a todos os níveis, e as situações conflituosas entre os indivíduos, os grupos sociais e os povos (Cfr. Gl Ga 5,14-21).

Nesta linha de pensamento, insere-se o que tive ocasião de explanar na Exortação “Reconciliatio et Paenitentia” (n. 16) e reassumia na recente Encíclica “Sollicitudo Rei Socialis” (SRS 36), sobre situações que a Igreja denuncia como situações de “pecado social”, enquanto envolvem comportamentos colectivos.

9. Estamos aqui reunidos a rezar, para que também em Moçambique a “justiça seja um fruto produzido na paz”; a rezar, para que o mal-estar que se ausculta nesta comunidade nacional, ceda o lugar ao empenho pelo desenvolvimento “do homem todo e de todos os homens”.

Chegam-nos ecos, efectivamente, de uma situação que, reconhecendo embora esforços feitos e prenúncios de melhoria, se apresenta alarmante no aspecto económico, cujas causas não estarão, por certo, só em deficiências de administração, onde se apontam, aliás, sinais positivos de retomada; há também as calamidades naturais e, nalgumas zonas, o flagelo da guerra. E a sofrer as consequências, mais dolorosamente, são os desprotegidos; as suas necessidades e miséria crescente podem der azo ao “sentimento de desespero, que predispõe para o desinteresse pela vida nacional, impelindo muitos para uma espécie de “emigração” psicológica” (Sollicitudo Rei Socialis SRS 15).

No aspecto social, parece continuar em aberto a questão da instrução e educação das gerações que sobem na vida; e é sempre aí que se joga o futuro da Nação e da Igreja. Depois, a indigência, o desemprego, o medo que paralisa a vontade e a inteligência das pessoas e a desolação, sempre maus conselheiros, e que tão gravemente atingem este Povo moçambicano, incidirão negativamente, por certo, nos comportamentos humanos. E o facto de não se poder trabalhar tranquilamente, para granjear o sustento, e as sérias dificuldades com que se embate a distribuição dos escassos víveres e produtos, são índices de que com a violência nada se constrói e muito se perde.

A família desagregada e ameaçada nas suas estruturas de base, por causa da guerra, das deslocações forçadas e da necessidade de buscar refúgio noutros lugares e noutros países, sofre um impacto devastador, que arresta consigo outros males: alcoolismo, criminalidade e amoralidade.

10. Ora isto pesa negativamente numa jovem Nação, em que é normal sentirem-se problemas de crescimento e a carência da ainda não aprimorada educação civil e política. O Concílio Vaticano II insistiu na importância de “cuidar-se muito da educação cívica e política, hoje tão necessária, quer para o conjunto da população, quer sobretudo para os jovens” (Gaudium et Spes GS 75). São estes o futuro da Nação. São estes que podem construir e consolidar algo que a Igreja considera muito importante: estruturas mais humanas, mais justas e mais respeitadoras dos direitos das pessoas, em que assente a solidez duma Nação. No entanto, “a Igreja está consciente de que ainda as melhores estruturas, ou os sistemas melhor idealizados, depressa se tornam desumanos, se as tendências inumanas do coração das pessoas não forem sanadas, se não houver a conversão do coração e da mente da parte daqueles que vivem nessas estruturas ou as dirigem” (Evangelii Nuntiandi EN 36).

11. Educação política e conversão, no sentido indicado, sugerirão, certamente, programas de renovamento; mas estes precisam de referir-se a algum programa político, o qual seja nítido e favoreça a elevação social da população. E para se chegar à clareza de programas políticos, parece impor-se enveredar pelo caminho do diálogo para a reconciliação, que faça cessar o espargimento de sangue de irmãos e purifique o ambiente do ódio e do desamor. Não deixo de incentivar, com todo o respeito, os esforços que forem envidados neste sentido.

O homem consegue suportar com firmeza a dor, as privações e até, temporariamente, a miséria, enquanto isso é acompanhado pela esperança; mas não quando se lhe apresenta uma situação sem saída para soluções eficazes. Nesta Santa Missa, reunidos para rezar, imploremos de Deus, Pai bondoso, que se apresentem essas soluções, a fim de se prover a multidões de crianças sem alimento, sem instrução e educação; de jovens desesperados ou alienados; de camponeses sem terra ou sem segurança para a cultivar; de braços prontos para o trabalho, mas sem emprego, sem salário e sem futuro; de famílias dispersas ou sem capacidade de acolher todos os seus membros; de pessoas que não podem encontrar reparo nas leis, de per si protecção para todos. E podemos esperar que tais soluções eficazes aparecerão, quando os homens forem mais homens, pelos homens e para os homens, iluminados pela “justiça, como fruto produzido na paz, para aqueles que praticam a paz” (Jc 3,18).

Desde o início da nova situação que se seguiu à independência, os Senhores Bispos moçambicanos, preocupados com as codições do País e desejosos de pôr ao serviço da comunidade a experiência da Igreja católica, com documentos e contactos, diligenciaram por demonstrar a própria disponibilidade e dar a contribuição que está ao seu alcance, para o bem comum. Estou certo de que, atentos à sorte da Nação, continuarão, com humildade e simplicidade, a percorrer o mesmo caminho, mentendo um diálogo construtivo, entre si e com os demais igualmente empenhados pelo bem comum e pelo progresso moral e civil.

12. Pedindo a Deus que continuem a abrir-se aqui horizontes à esperança penso também na comunidade internacional. A consciência crescente da interdependência entre os homens e os povos, como valor positivo e moral, terá de superar os obstáculos à solidariedade, que não são apenas de ordem económico-política; dependem de atitudes mais profundas que, para o ser humano, se configuram em valores absolutos.

890 Mas que todos aqueles que, em relação aos seus semelhantes, são responsáveis, duma maneira ou doutra, por uma “vida mais humana”, inspirados ou não por uma fé religiosa, se dêem conta: da necessidade de uma mudança de atitudes espirituais; da urgência de tornar efectiva a interdependéncia, como categoria ética, a ditar a solidariedade: e de que essa, a solidariedade, mais do que um sentimento de vaga compaixão, é “determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum. Todos nós, verdadeiramente, somos responsáveis por todos” (Sollicitudo Rei Socialis SRS 38) .

E aqui renovo o meu apelo à solidariedade mundial para com Moçambique: solidariedade que terá de começar pela “paz de fora”, ideológica, militar e económica, porque, hoje em dia, também a paz ou é de todos ou não é de ninguém. E isto exige a convergência de intentos; exige, enfim, que uma nova filosofia se instaure nas relações internacionais, inspirada na solidariedade e na esperança, para que o desenvolvimento, na justiça e na paz, seja realidade.

13. Prosseguindo a nossa oração, vamos pedir que seja concedido aos homens comportarem-se segundo a sabedoria que vem de Deus (Cfr. 1Co 1,4), a qual exclui a desordem moral e toda a espécie de desordem social. Aberta à transcendência e à dignidade do homem, ela exprime-se em atitudes de justiça e de benevolência para com todos: “é antes de tudo recta nas intenções; em seguida, portadora de paz, compreensiva, condescendente, cheia de compaixão e de benefícios, imparcial e sem hipocrisia” (Jc 3,17).

Esta sabedoria já foi descrita no Antigo Testamento (Cfr. Sb Sg 7,22) , explicitada nas bem-aventuranças (Cfr Mt 5, 1ss) e nos escritos de São Paulo (Cfr. 1Co 13,4 ss). É a sabedoria dos pacíficos, que se empenham por estabelecer e consolidar a paz, promovendo a justiça, o antídoto da desordem moral e social: “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,7).

14. Ouvimos no Evangelho de hoje as palavras de Cristo, a que desejo referir-me no final desta meditação. O divino Salvador “pegando numa criança”, colocou-a no meio deles – no meio dos seus discípulos que tinham estado a discutir – abraçou-a e disse-lhes: “Quem acolher em meu nome uma criança como esta, acolhe-me a mim. E quem me acolher, não me acolhe a mim, mas Aquele que me enviou”(Mc 9,36-37).

Também eu, neste momento, desejo abraçar com o olhar e com o coração, todas as crianças, aqui presentes, e as demais que se encontram no inteiro terrítorio de Moçambique.

Em particular, quero abraçar aquelas que – por diversas causas e em diversas circunstâncias – sofrem; quantas se tornaram vítimas da situação penosa do País e da sociedade.

E, à semelhança de Cristo, desejo dizer a todos:

Olhai para estes seres inocentes! Olhai para os vossos próprios filhos! Acolhei-os em nome de Cristo! Em nome de Cristo, empenhai-vos em favor da justiça e da paz, para que estas crianças não mais se tornem vítimas da injustiça e do ódio! Trabalhai em favor da justiça e da paz, a fim de preparardes um futuro melhor para os vossos próprios filhos! Para as crianças em todo o Moçambique!

Sim, acolhei estas crianças em nome de Cristo! Ou melhor: nelas, acolhei o próprio Cristo! Acolhei Aquele que Deus-Pai enviou ao mundo, para que o mundo fosse salvo por Ele. Acolhei Cristo! E que Ele se torne para vós a Verdade e a Vida, que conduzem pelos caminhos da justiça e da paz todos aqueles que O acolhem de coração sincero.

Abri, de par em par, as portas do coração a Cristo!

Amém!





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