Homilias JOÃO PAULO II 706


SANTA MISSA PARA OS REPRESENTANTES DO SINDICATO «SOLIDARNOSC»


Capela do Apartamento Pontifício

Domingo, 18 de Janeiro de 1981




"Venho, Senhor, para fazer a Tua vontade".

Hoje a Igreja coloca estas palavras do profeta nos lábios de Cristo, que pára junto das margens do Jordão para iniciar a sua missão que consiste em fazer a vontade do Pai. A liturgia de hoje mais uma vez mostra-nos a manifestação de Jesus Cristo junto do Jordão. No momento em que, de facto, chega à margem daquele rio, onde João pregava o baptismo de penitência, convidava à conversão e baptizava em água, o mesmo João aponta-O dizendo: "Aí está o Cordeiro de Deus, que vai tirar o pecado do mundo!". Com estas palavras disse tudo: tudo aquilo que poderia dizer-se de Cristo hoje como no futuro; porque aquilo era só o inicio, Jesus tinha vindo ao Jordão desconhecido de todos. Como Cordeiro de Deus seria, revelado ao termo da sua missão; mas João, ao indicá-1'O com a mão, proclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". E precisamente naquele momento, ao vir Jesus ao rio para fazer a vontade do Pai, realiza-se a manifestação, ou melhor, a confirmação daquela revelação já contida no Nascimento: a confirmação daquela revelação do Menino que os "seus" não receberam, que ninguém reconheceu a não ser a Mãe, José, os pastores, e os Reis Magos vindos do Oriente; ninguém além deles; a manifestação do Menino; a revelação do Menino, nascido em Belém, como Messias, que chega ao Jordão para fazer a vontade do Pai. O próprio Pai, então, d'Ele dá testemunho: todos os que se reuniram nas margens do Jordão ouvem ,a voz: "Este é o Meu Filho muito amado, no Qual pus toda Minha complacência". E o Espírito Santo dá testemunho d'Ele. Aquele Espírito que tinha sido anunciado por João: "Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo", inserir-vos-á no Espírito Santo, no Deus vivo, como eu vos baptizo em água. Hoje, a liturgia unindo-nos ao tema principal da liturgia do domingo passado, confirma a manifestação de Jesus Cristo no Jordão e, ao mesmo tempo, anuncia-nos esta manifestação de Jesus Cristo.

Jesus Cristo veio para nos dar a força; deu a força para que nos tornássemos filhos de Deus. Cantámos estas palavras do Evangelho de João ao repetir por três vezes: Aleluia, Jesus Cristo vem para revelar o homem ao homem, para lhe mostrar a sua extraordinária dignidade e a sua grande vocação. Assim, pois, aquela manifestação de Jesus Cristo no Jordão, como interpreta a liturgia hodierna, é ao mesmo tempo o revelar-se da vocação do homem em Cristo Jesus. Eis as ideias contidas na liturgia da palavra.

707 E agora, meus caros irmãos e irmãs, iniciamos a liturgia eucarística, a liturgia do sacrifício e da união com Deus, no sacrifício do Cordeiro de Deus. Ao preparar-me para iniciar esta liturgia na vossa presença e com a vossa participação, vem-me à mente a Polónia inteira, a Polónia como um grande campo de trabalho; um campo de trabalho humano, de trabalho polaco, composto de muitos sectores produtivos. Refiro-me ao trabalho físico e ao trabalho mental, ao trabalho na fábrica e ao de todo o povo, ao trabalho profissional e familiar, ao trabalho dos pais e também das mães. É este trabalho sobre a matéria, transformada pelo homem para que ela sirva às suas necessidades, mas é também o trabalho sobre o homem, precisamente aquele que começa do coração da mãe e junto deste coração, e que perdura depois por toda a vida familiar e se desenvolve mediante a educação escolar; trabalho múltiplo. Aquele enorme campo de trabalho que é a nossa pátria, vem-me agora à mente, porque recebo hoje os distintos peregrinos provenientes da Polónia. Peregrinos que acolho frequentemente e, por isso, quando chegam, aproveito a ocasião de me encontrar com eles na Missa, sendo possível. Hoje recebo-vos, peregrinos representantes do "Solidamosc", e através de vós contemplo todo aquele enorme trabalho que está a desenvolver-se na nossa terra natal.

Vejo os trabalhadores, e, como devemos iniciar a liturgia eucarística, desejo, diante de vós e juntamente convosco, reunir ao redor deste altar todo o povo polaco, oferecer o pão e o vinho, tudo aquilo que comporta a sua vida de cada dia e todos os dias de trabalho na Polónia, "onde o sol nasce e onde se põe", como diz o nosso grande contemporâneo no título da sua obra; oferecer todo aquele grande trabalho polaco. Peço-vos que me ajudeis nisto, vós que representais o mundo do trabalho, o povo que trabalha. Peço que ofereçais aqui, no altar da Capela do Papa, este trabalho polaco sob os símbolos do pão e do vinho. O nosso sacrifício tornar-se-á o sacrifício de Jesus Cristo, do Cordeiro de Deus; repetir-se-á diante de nós, aqui reunidos, o mistério do Calvário; repetir-se-á também num certo sentido o mistério do Jordão. Ouviremos, graças à voz interior da fé, as palavras do Pai: "Este é o Meu Filho muito amado, no Qual pus toda a Minha complacência". Ele, o Filho predilecto, Filho de Deus, virá à nossa comunidade para nos baptizar no Espírito Santo, para nos inserir no Espírito Santo e na realidade divina, no elemento divino, e para quê? Para nos dar a força. Se oferecermos neste altar todo o trabalho polaco, mediante o sacrificio de Cristo e a Eucaristia, para nós, para todos aqueles que representamos e para todos os trabalhadores da Polónia, voltará a força que d'Ele provém. Força, graças à qual o homem se torna filho de Deus e, como filho adoptivo de Deus, recebe dignidade para toda a sua vida, para todo o seu trabalho, elevando-o ao nível de filho de Deus.

Caros irmãos e irmãs, oferecendo este sacrifício pediremos por que a vossa solidariedade, a de todos os trabalhadores da Polónia, esteja ao serviço desta grande causa. Eis tudo aquilo que desejava dizer-vos e queria pedir-vos. Se posso ainda acrescentar algo — antes de ouvirdes a saudação "Ide em paz, a Missa terminou" — quereria pedir-vos que levásseis convosco estas palavras do vosso compatriota, sucessor de Pedro na Sé Apostólica e as repetísseis aos trabalhadores da Polónia dizendo que o trabalho deles esteja ao serviço da dignidade humana e eleve o homem, as famílias e todo o povo. Aproxima-se o momento do vosso retorno à pátria, por isso vos peço: quando partirdes daqui, levai convosco este anúncio, esta Boa Nova que teve início em Belém, que foi confirmada às margens do Jordão, se realizou no mistério pascal e se actualiza novamente hoje na Eucaristia. A Boa Nova é actualizada de novo em cada, Eucaristia para que o homem se fortaleça com ela e durante o sou peregrinar terrestre repita: "Venho. Senhor, para fazer a Tua vontade". Amém.

VISITA AO PONTIFÍCIO COLÉGIO MISSIONÁRIO

INTERNACIONAL "SÃO PAULO APÓSTOLO"


Sábado, 24 de Janeiro de 1981




Caríssimos Sacerdotes!

1. É para mim uma grande alegria poder hoje encontrar-me convosco, neste Colégio dedicado a São Paulo Apóstolo, onde tendes a vossa moradia, enquanto frequentais a Universidade de "Propaganda Fide", para desenvolver e completar os vossos estudos filosóficos e teológicos e a vossa preparação pastoral. Nas visitas, que estou realizando aos vários Institutos e Ateneus da Cidade de Roma, não podia e não devia faltar, na circunstância tão singular da festa do Colégio, este encontro convosco, que vindes de todas as partes do mundo e trazeis aqui, ao centro da Cristandade, as características e as ansiedades dos vossos povos e das vossas culturas.

Acolhei, por isso, a minha saudação cordial e afectuosa, que se dirige antes de tudo ao Cardeal Prefeito e ao Secretário da Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos, aos Superiores e aos Responsáveis do Colégio, e se estende depois a cada um de vós pessoalmente, compreendendo também todos os que colaboram nas várias atribuições para o bom andamento da casa e da vida em comum.

É uma saudação que quer exprimir satisfação e apreço pela boa vontade que demonstrais no vosso empenho de estudo e de actualização, para um ministério eficaz adaptado às exigências da sociedade e para um contributo esclarecido e concreto às Comunidades eclesiais das vossas várias nações e das vossas dioceses. E é uma saudação que entende também manifestar o meu reconhecimento pela vossa fidelidade Sé Apostólica e pelas orações que ofereceis pela minha Pessoa e pela minha missão universal.

2. Desejo contudo que o encontro de hoje ao redor do altar, ao celebrar o Sacrifício eucarístico, se torne para todos vós também um estímulo a uma vida sacerdotal sempre mais santa e a um compromisso sempre mais responsável nos vossos estudos e ideais. E precisamente as leituras da Liturgia prestam-se a algumas reflexões de notável importância para este fim. Na primeira leitura ouvimos o que o Senhor diz mediante o profeta Isaías: "Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não voltam sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter executado a minha vontade e cumprido a sua missão" (Is 55,10-11). São expressões bem conhecidas, que fizeram reflectir os Padres e os Doutores da Igreja, os santos e os místicos de todas as épocas, e que impressionam também os nossos ânimos, porque afirmam a absoluta força e eficácia da Revelação de Deus: nenhum obstáculo ou recusa humana pode detê-la ou rejeitá-la. Nós sabemos que a "palavra de Deus", na plenitude dos tempos, se encarnou: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós" (Jn 1,1 Jn 1,14) e permanece presente na história humana por meio da Igreja: "Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo" (Mt 28,20). A "palavra de Deus" sempre eficaz, porque em primeiro lugar traz perturbação à razão humana: as filosofias simplesmente racionais e temporais, as interpretações somente humanísticas e históricas são transtornadas pela "palavra de Deus", que responde com suprema certeza e clareza aos interrogativos feitos ao coração do homem, e o esclarece a respeito do seu verdadeiro destino, sobrenatural e eterno, e lhe indica a conduta moral a ser praticada, como autêntico caminho de serenidade e de esperança. Não só: a "palavra de Deus" oferece "luz" e "caminho", faz-se vida de graça, participação da mesma vida divina, inserção no misterioso mas real dinamismo da redenção da humanidade. De facto, Jesus definiu-se "luz do mundo": "Eu vim como luz ao mundo; assim todo aquele que crer em Mim não ficará nas trevas" (Jn 12,46) e vida das almas.

Fortalecidos por esta certeza que vem de Deus, é preciso que tenhamos a coragem da sua Palavra! Nenhum medo da Verdade: a "palavra de Deus" é sempre eficaz, não é inerte, nunca é vencida, não volta para Deus humilhada e desiludida! E então, digo-vos com São Paulo: "Comportai-vos como filhos da verdadeira luz" (Ep 5,8). Certamente, a "palavra de Deus" o incomoda porque, diz o Senhor: "Os meus pensamentos não são os vossos, e os vossos modos de agir não são os meus" (Is 55,8); traz perturbação, porque é exigente, é afiada como espada de dois gumes, é baseada não em discursos persuasivos de humana sabedoria, mas na manifestação do Espírito e da sua força (cf. 1Co 2,4-5). "Ninguém se engane a si mesmo — escrevia São Paulo aos Coríntios — se alguém dentre vós se julga sábio aos olhos deste mundo, faça-se insensato para ser sábio; pois a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus... Portanto ninguém ponha a sua glória nos homens!" (1Co 3, 18-19, 21). Há com efeito uma falsa sabedoria que pode tentar e iludir, confundindo e fazendo que nos tornemos presunçosos. Comentando a afirmação: "Prestemos a Deus um culto agradável, repassado de piedade e de temor. Pois o nosso Deus é fogo devorador" (He 12,28-29), o Cardeal Newmann, um apaixonado de São Paulo, assim dizia: "O temor de Deus é o princípio da sabedoria; enquanto não virdes a Deus como um fogo consumidor, e d'Ele não vos aproximardes com reverência e santo temor; porque sois pecadores, não podereis nem mesmo dizer que estais à vista da porta estreita... O temor e o amor devem caminhar juntos; continuai a temer, continuai a amar até ao último dia da vossa vida. Isto é certo; deveis porém saber o que quer dizer semear em lágrimas aqui na terra, se quereis colher com alegria no céu" (Parochial and Plain Sermons, Vol. I, Serm. XXIV; cf. J. H. Newmann, La mente e cuore di un grande, Bari, 1962, p. 230).

3. Na segunda leitura, o célebre episódio da conversão de São Paulo, por ele mesmo narrado aos Hebreus de Jerusalém, é igualmente denso de ensinamentos para a vida sacerdotal. No caminho de Damasco, caído por terra, São Paulo é ofuscado pela luz fulgurante daquele Jesus que ele perseguia nos cristãos; segue-se a sua imediata e decisiva conversão, evidente obra miraculosa da graça de Deus, porque Paulo, divinamente inspirado, devia ser o primeiro autorizado intérprete da mensagem de Cristo. O Divino Mestre ordena-lhe que se levante e prossiga o caminho; e desde aquele momento, pode dizer-se, São Paulo torna-se o nosso mestre e guia no conhecer e amar Cristo.

708 Mas sobretudo as palavras do justo Ananias devem interessar-nos e fazer-nos meditar: "O Deus dos nossos pais predestinou-te para conheceres a Sua vontade, para veres o Justo e ouvires as palavras da Sua boca. Diante de todos os homens tu Lhe serás testemunha de tudo o que viste e ouviste" (Ac 22,14-15). Estas palavras podem ser aplicadas também a cada um dos sacerdotes, ministros de Cristo. Também vós fostes escolhidos, antes predestinados pelo Altíssimo a conhecer a "palavra de Deus", a encontrar-vos com Cristo e participar dos seus próprios poderes divinos, para anunciá-Lo e testemunhá-Lo diante de todos os homens. Como Paulo, convertido à verdade, se lançou com ardente fervor na sua missão de apóstolo e de testemunha, e nenhuma dificuldade jamais conseguiu detê-lo, assim fazei também vós.

O mundo tem necessidade de almas fervorosas e ousadas, humildes no comportamento, mas firmes na doutrina; generosas na caridade, mas seguras no anúncio; serenas e corajosas, como Paulo que, entre dificuldades e contrastes de todo o gênero, superabundava de alegria em todas as suas tribulações, porque para ele a vida é Cristo e morrer um lucro (cf. 2Co 7,4 Flp 2Co 1,21).

O Evangelista São Marcos narra as últimas palavras de Jesus, categóricas e imperativas: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas. Aquele que crer e for baptizado será salvo. Aquele que não crer será, condenado" (Mc 16,15-16). Elas significam que é positiva vontade de Deus que a mensagem evangélica seja anunciada ao mundo inteiro e que se creia na, "palavra de Deus". Ser sacerdote é indubitavelmente uma dignidade imensa e excelsa; mas é também. uma grande responsabilidade. Sede sempre conscientes da vossa grandeza e dignos da confiança que Deus depositou em vós!

Caríssimos, vos ilumine nos vossos estudos e vos conforte nos vossos propósitos Maria Santíssima, a quem nestes dias rezamos como "Mãe da Unidade da Igreja", e que sempre invocamos como "Sede de Sabedoria,", "Causa da nossa alegria".



VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SANTA GALLA

NO BAIRRO GARBATELLA


Domingo, 25 de Janeiro de 1981




1. "O Senhor é a minha luz e a minha salvação" (Sl 26/27, 1)

Estas palavras do Salmo responsorial são ao mesmo tempo confissão de fé e expressão de júbilo: fé no Senhor e naquilo que de luminoso Ele representa para a nossa vida; júbilo pelo facto que Ele é esta luz e esta salvação, em que nós podemos encontrar segurança e estímulo para o nosso caminho quotidiano.

Podemos perguntar-nos: de que modo o Senhor é a nossa luz e a nossa salvação? Pois bem, Ele é-o a partir do nosso Baptismo, em que se destinam a nós os frutos infinitos da sua bem-aventurada morte na cruz: então Ele torna-se "para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção" (1Co 1,30). Precisamente para os baptizados, conscientes da sua vocação de salvos, valem em plenitude as palavras da Carta aos Efésios: "Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste na bondade, na justiça e na verdade" (Ep 5,8-9).

Mas a vida cristã, caros Irmãos e Irmãs, não é só um facto individual e particular. Tem necessidade de se desenrolar a nível comunitário e também público, porque a salvação do Senhor é "preparada em favor de todos os povos: Luz para iluminar as nações" (Lc 2,31-32). Pois bem, a Paróquia é a comunidade em que o Senhor se torna luz e salvação de cada um e de todos para um testemunho comum à sociedade.

Quero, portanto, dirigir aqui a minha cordial saudação a todos vós da Paróquia de Santa Galla na Garbatella, que sois parte viva da grande família diocesana de Roma. Ao mesmo tempo que saúdo o Cardeal Vigário e o Bispo da Zona, D. Clemente Riva, saúdo os zelosos Pastores das vossas almas: o Pároco e os seus Colaboradores. A eles junto os beneméritos componentes das Famílias Religiosas, masculinas e femininas, presentes e activas na Paróquia. De modo particular desejo mencionar os membros de todas as Associações Católicas, empenhados no cuidado pastoral e no crescimento espiritual da Comunidade inteira: as mulheres, os homens e os jovens. Estes últimos, sobretudo, saibam quanto o Papa espera sempre deles: do seu entusiasmo, da sua generosidade e da sua inteligência. A Paróquia de Santa Galla é muito numerosa; por conseguinte há espaço para o compromisso de todos, especialmente dos mais disponíveis a conformarem-se maiormente a Cristo Senhor, que é luz e salvação para todos os homens. Portanto, ao congratular-me pelas vossas várias actividades, encorajo-vos também paternalmente a continuardes com grande fraternidade e perseverança na realização das mesmas em beneficio comum.

2. O Evangelho deste Domingo manifesta-nos como Cristo se tornou, historicamente, no início da sua vida pública, a luz e a salvação do povo ao qual foi enviado. Citando o profeta Isaías (Is 9,1), o evangelista Mateus diz-nos que este povo "jazia, nas trevas... na sombria região da morte"; mas finalmente "viu uma grande luz". Depois de a glória do Senhor, já em Belém, ter refulgido durante a noite em volta dos pastores (cf. Lc Lc 2,9), por ocasião do nascimento de Jesus, esta é a primeira vez que o Evangelho fala de uma luz manifestada a todos. De facto, quando Jesus, depois de ter deixado Nazaré e ter sido baptizado no Jordão, se dirige para Cafarnaum a fim de iniciar o seu ministério público, é como se se verificasse um segundo nascimento, consistindo no abandono da vida privada e oculta para se entregar ao compromisso total e irrevogável de uma vida consumada por todos, até ao supremo sacrifício de si. E Jesus, neste momento, encontra-se num ambiente de trevas, que de novo desceram sobre Israel devido à prisão de João Baptista, o precursor.

709 Mas Mateus diz-nos também que Jesus logo iluminou eficazmente alguns homens, "caminhando ao longo do mar da Galileia", isto é na margem do Lago de Genesaré. É a chamada dos primeiros discípulos, os irmãos Simão e André, e depois dos outros dois irmãos, Tiago e João, todos eles pescadores. "Eles deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-n'O". Certamente sentiram logo o fascínio da luz secreta que emanava d'Ele, e sem demora seguiram-na para ela iluminar com o seu fulgor o caminho da própria vida. Mas a luz de Jesus resplandece para todos. De facto, Ele dá-se a conhecer aos seus conterrâneos da Galileia, como diz o evangelista, "ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino, e curando todas as doenças e enfermidades". Como se vê, é uma luz, a sua, que ilumina e também aquece, porque não se limita a esclarecer as mentes mas também intervém para aliviar situações de necessidade material. "Andou de lugar em lugar fazendo o bem e curando" (Ac 10,38).

3. Uma das maiores conquistas desta luz foi a de Saulo de Tarso, o Apóstolo Paulo, cuja conversão a Liturgia comemora precisamente hoje, 25 de Janeiro. Tendo em mente o próprio caso pessoal, ele escreveu aos Coríntios deste modo: "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é que brilhou nos nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento da glória de Deus, que se reflecte na face de Cristo" (2 Col 4, 6; cf. Act Ac 9,3). Esta luz, diria, resplandece particularmente no rosto de Cristo crucificado, "Senhor da glória" (1Co 2,8), por quem o Apóstolo foi precisamente enviado a pregar o Evangelho da Cruz (cf. ibid. 1, 17; 2, 2). Isto diz-nos o que é uma conversão: uma especial iluminação que nos faz ver de modo nova Deus, nós mesmos e os nossos irmãos. Assim, de modos diversos, Jesus Cristo dá-se a conhecer aos vários homens e às sociedades no decurso dos tempos e nos diversos lugares. Aqueles que O seguem, fazem-no porque n'Ele encontraram a, luz e a salvação: "O Senhor é a minha luz e a minha salvação".

E também vós, caros Irmãos e Irmãs, seguis a Cristo? Conheceste-1'O verdadeiramente? Sabeis e estais profundamente convencidos que Ele é a luz e a salvação nossa e de todos? É um conhecimento, este, que não se improvisa; é necessário exercitar-se nele todos os dias, nas situações concretas que se apresentam a cada um de vós. Pode-se pelo menos experimentar a levar esta luz ao próprio ambiente de vida e de trabalho e deixar que ela ilumine todas as coisas, e olhar para cada coisa servindo-se dela. Isto é válido de modo particular para os doentes e os que sofrem, porque, se é verdade que sofrimento faz cair na escuridão, então mais do que nunca se confirma a verdade da alegre confissão do Salmista: "Vós, Senhor, fazeis brilhar a minha lâmpada; Vós, meu Deus, iluminais as minhas trevas" (Sl 18/17, 29). Mas isto é válido para, todos: Cristo, de facto, é luz e salvação das famílias, dos cônjuges, da juventude, das crianças, e também de todos aqueles que exercem profissões várias: os médicos, os empregados e os operários; cada uma destas categorias, seja embora de modos diversos, exerce um serviço para com os outros e do conjunto resulta uma sociedade bem ordenada e harmoniosa. Mas para que tudo tenha bom êxito, sem atritos ou conflitos, é necessário que cada um saiba dizer ao Senhor com humildade e com desejo: "A Vossa palavra é uma lâmpada para os meus passos, e uma luz para os meus caminhos" (Sl 119/118, 105). Isto é possível se em conjunto e profundamente é vivida a vida paroquial, onde cada um recebe alimento de todos e todos concorrem para o crescimento de cada um.

4. Voltamos mais uma vez ao Salmo responsorial da Missa, para fazer uma análise aprofundada sobre o seu conteúdo.

Das primeiras palavras aprendemos que a luz e a salvação estão em contraste com o temor e o espavento.

"O Senhor é o baluarte da minha vida, / de quem terei medo? / Na adversidade, / Ele me esconderá na Sua tenda".

E mesmo assim, quanto medo pesa sobre os homens do nosso tempo! É uma inquietação multíplice, caracterizada, precisamente pelo medo do futuro, de uma possível autodestruição da humanidade, e depois também, mais em geral, por um certo tipo de civilização materialista, que aceita o primado das coisas sobre as pessoas, e ainda pelo receio de serem vítimas de abusos e opressões que privam o homem da sua liberdade interior e exterior. Pois bem, só Cristo nos liberta de tudo isto e nos permite elevarmo-nos espiritualmente, encontrar a esperança, confiar em nós mesmos na medida em que confiamos n'Ele: "Olhai para Ele, a fins de vos alegrardes" (Sl 34/33, 6).

Juntamente com isto, como nos sugere a segunda estrofe, nasce o desejo de poder "habitar na casa do Senhor" (Sl 26/27, 4).

"Uma só coisa peço ao Senhor e ardentemente a desejo: / é habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e admirar o Seu templo".

Que quer isto dizer? Significa antes de tudo a condição interior da alma na graça santificante, mediante a qual o Espírito Santo habita no homem; e significa também permanecer na comunidade da Igreja e participar na sua vida. Precisamente aqui, de facto, se exerce em abundância aquela "misericórdia" de que fala o Salmo e que foi o tema da minha última Carta Encíclica; aqui cada homem pode repetir com o Salmista, certo de ser ouvido: "Lembrai-vos de mim, segundo a Vossa misericórdia, por causa da Vossa bondade, Senhor" (Sl 25/24, 7).

Por fim, somos orientados para a esperança derradeira, que dá a toda a existência do cristão a sua plena dimensão.

710 "Sei que verei os benefícios do Senhor na terra dos viventes. Espera no Senhor e sê forte! / Fortifique-se o teu coração / e espera no Senhor!".

O cristão é homem de grande esperança, e precisamente nela reflecte-se aquela luz e realiza-se aquela salvação, que é Cristo. Ele, de facto, "dirige os humildes na justiça e ensina-lhes a sua via" (Sl 25/24, 9).

5. Caros Irmãos e Irmãs, hoje conclui-se também a Semana de orações pela unidade dos cristãos. Nestes dias rezámos pela recomposição de todas as denominações cristãs, que se dividiram no curso dos séculos. Nós sabemos que Cristo é um, é "indivisível", como proclama São Paulo na primeira Carta aos Coríntios: "... Rogo-vos, pois, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos o mesmo, e que entre vós não haja divisões; sede perfeitos no mesmo espírito e no mesmo parecer" (
1Co 1,10). São palavras particularmente dirigidas a nós para o dia em que se conclui este oitavário de orações. E devemos pô-las em prática antes de todos, nós próprios. Mas é necessário que todas as Comunidades e as Paróquias rezem sempre juntas coda fervor, neste espírito — todas e cada uma! Segundo o Evangelho de João, a oração de Jesus na Última Ceia tem esta invocação central: "Para que todos sejam um só; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia, que Tu Me enviaste" (Jn 17,21). Devemos reconhecer que os cristãos no decorrer dos tempos, não respeitaram este supremo desejo do Senhor, e ainda agora perduram aquelas divisões que Jesus temia e que não dão bom testemunho ao mundo. A intenção das orações da Semana passada é formulada com palavras do Apóstolo Paulo: "Um só Espírito, diversos dons e una mesmo Corpo" (cf. 1Co 12,3-13). Foi-nos assim reproposto o ideal a seguir incessantemente no concreto de cada dia: o de formarmos juntos o único Corpo de Cristo, que é ao mesmo tempo uno e multíplice, variadamente composto e apesar disso harmonicamente ordenado. Uma coisa é certa: a realização desta obra pode manifestar melhor a todos a verdade das palavras do Salmo da liturgia hodierna: "O Senhor é a minha luz e a minha salvação". Só n'Ele pode a Igreja encontrar a própria unidade e, de certo modo, permanecer indivisa apesar de todas as suas divisões históricas.

Caríssimos, isto vos desejo antes de tudo: que a vossa Comunidade paroquial de Santa Galla realize no próprio interior uma tal comunhão recíproca, feita de fraternidade e de compromisso dinâmico, de modo a experimentar a beleza de formar uma família para oferecer um autêntico e eficaz testemunho cristão. Amém



VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO JOSÉ CAFASSO,

NO BAIRRO TUSCOLANO


Domingo, 1 de Fevereiro de 1981




1. "Bem-aventurados..." (Mt 5,11). Com estas palavras, que acabamos de ouvir, desejo saudar todos vós, que estais aqui reunidos; desejo saudar toda a paróquia de São José Cafasso.

"Bem-aventurados..." São as palavras do "sermão da montanha", com as quais Jesus quis delinear a essência da sua mensagem. Houve alguém que as qualificou como a "magna carta" do Reino de Cristo. São palavras revolucionárias, porque propõem uma inversão radical dos "valores", em que se inspira a mentalidade corrente: a dos tempos de Jesus não menos que a dos nossos tempos. A gente, de facto, teve sempre em grande conta o dinheiro, o poder nas suas várias formas, os prazeres sensuais, a vitória sobre o outro custe o que custar, o êxito e as honras do mundo. São "valores" que estão situados, como se vê claramente, no horizonte circunscrito das realidades terrenas.

Jesus quebra este círculo limitado e limitador: dirige o seu olhar para as realidades que passam despercebidas à verificação dos sentidos, porque transcendem a matéria e se colocam, para além do tempo, no âmbito do eterno. Ele fala de "reino dos céus", de "terra prometida", de "filiação divina", de "recompensa celeste", e em tal perspectiva afirma a preeminência da "pobreza de espírito", da "mansidão", da "pureza de coração", da "fome de justiça" que não se exprime na violência, mas em suportar corajosamente a "perseguição".

Inúmeros cristãos, de geração em geração, subiram idealmente àquela montanha, para se porem a escutar o Mestre divino. Assim as ouviu e pôs em prática o Padroeiro da vossa paróquia, São José Cafasso, cujo túmulo visitei não muito tempo, na minha peregrinação a Turim. Ele, em tempos não distantes dos nossos, fez destas palavras programa concreto de vida, inspirando nelas o seu comportamento, no desprendimento dos bens da terra, na audição dócil e paciente dos penitentes no confissionário, na assistência delicada e amorosa aos necessitados e especialmente aos presos e aos condenados à morte.

Estas palavras das Bem-aventuranças repito-as a vós, no início deste nosso encontro; e faço-o não para venerar o vosso Padroeiro, mas também para vos comprometer nelas, como indivíduos e como comunidade paroquial: voltai a ler estas palavras, aprendei-as de cor, procurai "medir" por elas a vossa vida. Este é o primeiro voto que vos faço.

2. À luz das Bem-aventuranças evangélicas é-me grato renovar-vos a minha saudação nesta visita hodierna, que aguardei com intenso desejo e para a qual me preparei também com um encontro especial com os vossos Pastores.

711 Seja-me permitido, por conseguinte, saudar antes de mais o Senhor Cardeal Vigário, a cuja solicitude está confiada a família diocesana inteira; o Auxiliar D. Giulio Salimei, que coordena o compromisso apostólico nesta zona e que recentemente esteve entre vós em visita pastoral; e ainda os Padres Oblatos de São José, os "Josefinos de Asti", o Padre Giorgio Spadoni, pároco, e os dois vice-párocos, Padre Paladino e Padre Ciavarro, os quais se entregam com incansável dedicação ao serviço da paróquia.

Com eles saúdo os outros Sacerdotes, que prestam a sua colaboração ao domingo, e saúdo também as Religiosas do Instituto da Caridade de Namur, que já desde muitos anos estão presentes neste Bairro, no qual desempenham uma acção de assistência e de formação tão humilde quanto valiosa, coadjuvadas pelas Missionárias da Caridade, da Madre Teresa.

Não pode faltar, por fim, uma palavra de saudação e apreço para todos os leigos comprometidos nas várias actividades de apostolado e de promoção humana, Entre eles, o meu pensamento vai sobretudo para o grupo dos catequistas que nestes últimos anos se ampliou consideravelmente, consentindo a organização de uma catequese sistemática, que atinge grande parte das crianças. Aproveito de bom grado a presente circunstancia para encorajar este aspecto da actividade pastoral, dado que toda a esperança de vida cristã responsável tem o seu pressuposto numa adequada instrução religiosa, que leve à compreensão dos conteúdos fundamentais da Revelação.

3. "Considerai, irmãos, a vossa vocação", repetiu-nos oportunamente São Paulo (
1Co 1,26). São palavras que devemos ouvir como se nos fossem dirigidas, hoje, nesta nossa assembleia litúrgica. Elas convidam-nos a reflectir sobre uma dimensão fundamental da nossa existência: a nossa vida faz parte dó desígnio amoroso de Deus. São Paulo é explícito a este respeito. Par três vezes, na leitura hodierna, ele afirma que "Deus escolheu" cada um de nós, de modo que nós "estamos em Cristo Jesus", o qual "para nós foi feito sabedoria, justiça, santificação e redenção" (cfr. 1Co 27-30).

Esta é, com efeito, a maravilhosa mensagem da fé: nas origens da nossa vida está um acto de amor de Deus, uma eleição eterna, livre e gratuita, mediante a qual Ele, chamando-nos à existência, fez de cada um de nós um próprio interlocutor: "O aspecto mais sublime da dignidade humana — recordou o Concílio — encontra-se na vocação do homem à união com Deus. Começa com a existência o convite que Deus dirige ao homem para dialogar com Ele" (Const. Gaudium et Spes, GS 19).

Este diálogo, como é sabido, foi interrompido pelo homem com o pecado. Deus, na sua misericórdia, quis reabri-lo, dirigindo-se novamente a nós com a Palavra mesma do seu amor eterno, o Verbo consubstancial, que, fazendo-se homem e morrendo por nós, nos voltou a pôr em comunicação com o Pai. Eis porque São Paulo diz que somos chamados "em Cristo Jesus": a essência da vocação cristã está precisamente nisto "estar em Cristo".

Ele é obra de Deus mesmo, é dom do seu amor e da sua graça, Justamente por isto São Paulo conclui que cada um de nós pode "gloriar-se no Senhor" (cfr. 1Co 1,31).

Ao chamamento de Deus deve, todavia, corresponder da nossa parte uma resposta adequada. Que resposta? Aquela que tem o seu projecto fundamental no baptismo e que se torna consciente e responsável no acto de fé pessoal, suscitado pela audição da Palavra, alimentado pela participação dos Sacramentos, testemunhado por uma vida que se inspira nas Bem-aventuranças em Cristo e se debruça sobre o cumprimento generoso dos seus mandamentos, maior dos quais é o mandamento do amor.

4. No âmbito desta vocação comum, que Deus destina a cada homem, salientam-se as vocações específicas, mediante as quais Deus "escolhe" as pessoas individualmente para uma tarefa particular. São, estas, como é óbvio, vocações multíplices e entre si complementares, idênticas pelo fim, a comunhão com Deus, mas diversas quanto aos caminhos e aos meios necessários para a alcançar.

Penso, por exemplo, sob o ponto de vista da profissão, na escolha de um certo tipo de estudo e de especialização, na perspectiva de um determinado trabalho, do qual se espera, sim, um ganho para nós mesmos, mas também a possibilidade de levar um contributo pessoal à construção de um mundo melhor. Penso sobretudo, sob o ponto de vista do estado de vida, na escolha do matrimónio, na de dar a vida a um novo ser humano ou de adoptar uma criança que ficou sozinha no mundo, etc. E penso, ainda, noutras situações: por exemplo, do cônjuge que ficou viúvo, do cônjuge abandonado, do órfão. Penso na condição dos doentes, dos anciãos enfermos e sozinhos, dos pobres: "Deus escolheu o que no mundo é fraco — recordou-nos São Paulo — para confundir os fortes". No misterioso desígnio de Deus, a acção renovadora da graça passa através da fraqueza humana: passa portanto de modo particular através destas situações de sofrimento e de abandono.

Uma palavra à parte quero reservar à vocação sacerdotal e religiosa. A Igreja tem necessidade de almas generosas que, consagrando-se totalmente a Cristo e ao seu Reino, aceitem despender as suas energias ao serviço do Evangelho. Tem necessidade delas em particular a nossa Igreja de Roma, que nos últimos decénios conheceu fortíssimo aumento demográfico, o qual infelizmente não foi acompanhado por um proporcional aumento de sacerdotes e de religiosos. É um problema grave que envolve a Comunidade inteira, porque é sobretudo da presença destas almas consagradas que depende a animação cristã da Cidade. Como Bispo de Roma, faço apelo à oração, ao testemunho, ao apoio de todos os fiéis da diocese: o florescimento das vocações depende do empenho de cada um. Não o esqueçamos!

712 "Vós estais em Cristo Jesus", escreve o Apóstolo. Desta vez dirijo-me não já a cada um individualmente, mas à comunidade, à paróquia inteira. Se alguém vos perguntasse, a vós paróquia de São José Cafasso, quem sois, sabeis qual era a resposta que deveríeis dar? A que vos sugere São Paulo: "Nós estamos em Cristo Jesus", como comunidade da sua Igreja. O nosso "nós" de cristãos é Ele, Cristo.

Mas se, como paróquia, sois chamados a formar uma coisa só em Cristo, tendes o dever de testemunhar na vida esta vossa vocação comunitária. Por outras palavras, deveis empenhar-vos a crescer em Cristo não só como indivíduos, mas também como paróquia. Quereis saber como se forma e como se desenvolve uma comunidade paroquial? A comunidade forma-se antes de tudo à volta da Palavra de Deus. Eis portanto a importância da catequese, mediante a qual nos encaminhamos para um conhecimento cada vez mais profundo das riquezas de verdade contidas na Escritura. A comunidade, depois, desenvolve-se na participação nas celebrações litúrgicas, especialmente na participação da Eucaristia. Sei que na vossa paróquia a liturgia é particularmente cuidada e regozijo-me com isto: é um sinal de vitalidade, que motivo de esperança.

A comunidade, além disso, cresce e consolida-se graças ao testemunho de vida cristã que os seus membros sabem oferecer. Fundamental, a este respeito, é o comportamento de corajosa coerência que os pais devem ter nas suas famílias e os membros dos vários Grupos organizados sabem assumir perante aqueles que ainda se mostram refractários à mensagem cristã. Elemento particular de crescimento comunitário é, enfim, constituído pelo compromisso de caridade para com as pessoas que, por uma razão ou outra, se encontram em necessidade: na vossa paróquia não faltam os pobres, as pessoas doentes, os anciãos; tendes também um Instituto para a reabilitação dos deficientes. As ocasiões são, portanto, numerosas e estimulantes. Representam também elas outras tantas "chamadas" com que Deus bate à porta do vosso coração. Ele vos conceda a generosidade necessária para, responderdes com impulso e nos modos adequados.

6. Concluindo agora esta meditação sobre o tema da vocação cristã, sobre a qual a liturgia de hoje nos convidou a deter, desejo fazer-vos dois votos. O primeiro é tirado do profeta: "Buscai o Senhor, vós todos os humildes da terra; cumpri a Sua lei, praticai a justiça, buscai a humildade" (
So 2,3).

Se vós vos empenhardes a procurar, tal como diz o profeta, ou, melhor ainda, como diz Cristo no "sermão da montanha", então poderá realizar-se em vós o segundo voto: "Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa nos Céus" (Mt 5,12).

Aceitai, caros Irmãos e Irmãs, estes dois votos como fruto particular da hodierna visita do vosso Bispo. Reavivem eles a participação nesta Eucaristia. Tornem-se eles a fonte e o caminho de toda a vossa vida.



Homilias JOÃO PAULO II 706